Lamentavelmente, esse apelo estético não encontra correspondência com a história que se pretende contar. Mesmo que o roteiro se aproprie livremente de dois contos de Hilda Hilst, “O Unicórnio” e “Matamoros”, o estofo aqui comportaria não mais que um curta-metragem. Do jeito que nos é apresentado, temos o típico caso de belo papel de presente para o embrulho de algo oco, sensação que Bárbara Luz ainda enfatiza com uma interpretação aborrecida, nada cativante.
Curioso perceber como o longa de Julia Rezende encontra correspondência com “Um Homem Só“, trabalho de sua colega Cláudia Jouvin. Evidentemente, o seu “Como é Cruel Viver Assim” de nada tem de ficção científica. Entretanto, o cinza da fotografia de Dante Belluti encontra nos cenários periféricos e nas faces que os habitam um sentimento de conformidade diante de existências sem perspectivas de um futuro além do cruel que dão ao todo uma singularidade inesperada.
Alguns depoimentos em particular se sobressaem aos demais. Como o de Rodrigo Barbosa, que encerrou o relacionamento com uma mulher após toda uma vida “aprisionado” e que hoje tem a guarda de uma criança com um parceiro. Ou o de Artur Francischi, que relata a sua primeira experiência homossexual com todas aquelas dores que geralmente encurralam a maioria dos jovens na mesma situação.
Tedioso, “Medo Viral” ainda demonstra a incapacidade dos Vang em estabelecerem uma atmosfera de horror. A paciência que o espectador empregará ao acompanhar o fiapo de história jamais é recompensado: os jump scares são aquelas velhas batidinhas no ombro do amigo que surge sem aviso prévio, as mortes sempre são em off screen e as ameaças que se materializam desaparecem do campo de visão dos personagens desobedecendo qualquer lógica. Eis mais um filme a figurar com facilidade em uma lista de piores do ano.
Contra todas as expectativas negativas, Tyler Perry conduz essa história contada em flashbacks de modo envolvente. O elenco dá conta do recado e as divergências do que é narrado dentro daquilo que se vê ampliam o jogo de aparências e nos faz relevar deslizes primários, das coincidências do roteiro ao green screen gritante de “tomadas externas”.
Uma pena que tudo sucumba em seu ato final a algo digno de um Supercine de quinta categoria, encenando um enfrentamento físico esperado, mas patético. Pode até ser uma boa notícia para quem abraça com facilidade o humor involuntário, mas definitivamente não ajudará Tyler Perry a ser levado a sério.
O que a princípio se apresenta quase como um exercício de estilo, vai rumando para territórios confusos. Na exposição de instintos primitivos, enfrentamentos com indivíduos que detêm alguma autoridade e até o flerte com questões antropológicas de um estado marcado pela colonização, “Os Incontestáveis” logo se converte em aborrecimento, especialmente por sua sonoplastia estridente.
Após um primeiro ato em que estabelece um cenário, os seus personagens e um contexto para mantê-los unidos, Gabriela Amaral Almeida, que também assina o roteiro, se compromete com um ponto de virada arriscado para tecer um comentário interessante. Trata-se das divergências que acontecem quando representantes de grupos sociais tão distintos se veem enclausurados em uma espécie de limbo.
Essas chantagens emocionais que Ramsay tenta camuflar com frieza só corroboram não somente para uma indiferença com esse protagonista, mas também com todas as intervenções externas que buscam humanizá-lo a partir da missão de resgatar a filha (Ekaterina Samsonov) de uma figura política, sequestrada para servir ao tráfico sexual.
Se isso tudo ainda não te convencer, não se preocupe. "Você Nunca Esteve Realmente Aqui" está infestado de flashbacks de infância abusiva para clamar por empatia para o velho Joe. Até papo mole com capenga prestes a morrer está presente na cartela de bingo manipulador de Ramsay.
Jason Statham + um tubarão digital com mais de 20 metros de comprimento. Às vezes um projeto tem a fórmula perfeita para proporcionar o que não se vê com muita frequência no cinema americano, sendo a bobagem tipo b que não tem vergonha de se assumir como tal.
É exatamente o que se espera de “Megatubarão”, mas eis que as expectativas não batem. Lembra muito o que aconteceu há 12 anos com “Serpentes a Bordo”, com a oferta de produto por um grande estúdio com espírito trash que, na prática, está longe de chutar o pau da barraca.
No baralho, o canastra suja é a mão formado por uma sequência finalizada com um curinga. Mesmo quem nada entende de jogos de azar, compreenderá o termo durante a costura de Caio Sóh para o seu quarto longa-metragem. Como faz questão de ilustrar, é um jogo de cartas o que encena, em que os componentes de uma família se movem em um tabuleiro de dissimulações, interpretações equivocadas dos fatos e golpes do acaso.
Em seu segundo longa-metragem, Laura Schroeder tem como seu braço direito a britânica Petra Jean Phillipson, que assina uma trilha musical que exerce um papel dramático essencial para a narrativa. “Barreiras” é também bem fotografado por Hélène Louvart, apresentando uma textura de lodo verde em imagens emolduradas quase como retratos de Polaroid. Falta um texto mais consistente, ao qual coassina com a veterana Marie Nimier.
Em tempos em que o abuso contra a mulher tem sido uma pauta central de discussão na sociedade, “Custódia” é lançado em um momento oportuno, ainda mais por flagrar o crime dentro do contexto doméstico, talvez o mais ignorado pelas portas que terceiros fecham e trancam como medida para não intervir em crises que acontecem no vizinho na casa do vizinho.
Há um interesse por um ponto de partida que descarta as convenções da cinebiografia com maior interesse em compreender a dinâmica que dita hoje os amores e desilusões entre os jovens. No contexto contemporâneo de Ana e Vitória (e nosso), a rotulação da sexualidade não importa e os relacionamentos abertos não parecem ser a resposta ideal contra os monogâmicos. Falta, no entanto, um acabamento mais consistente ao todo.
“Sem Amor” vai avaliando um estado de indiferença que parece contaminar uma nação, comentário que explicita principalmente com o modo como os seus personagens seguem com o seu cotidiano sendo alheios às pequenas tragédias ao fundo noticiadas em rádios. Indiferença essa que é inclusive capaz de deletar de todo um contexto uma presença humana indesejada que por um período ali habitou.
Acertando ao fazer uma coleta mais descontraída dos depoimentos, “78/52” tem aquele poder de aumentar a percepção diante da contemplação de uma obra fílmica, confirmando que cada segundo é rico de informações quando se trata do audiovisual. Em 91 minutos, O. Philippe ministra uma aula que vale muito mais que um semestre todo de escola de cinema.
A sensação para alguns será a de teatro filmado, mas há certa informalidade na operação da câmera de Sally Potter mais condizente com a linguagem cinematográfica e o elenco se apropria do espaço restrito com uma liberdade oposta ao engessamento das marcações. São virtudes que colaboram para a fluência da narrativa, dessas que literalmente nos pregam surpresas até o seu último segundo.
O melhor de “50 São os Novos 30” é a ternura com o qual tece o encontro de duas pessoas de idade avançada sem a independência plena conquistada, extraindo graça não pela situação mal sucedida que se encontram, mas sim de como se fortalecem quando abraçam as suas inadequações e assim se refortalecerem. Definitivamente, não há nada mais romântico do que anotar em um limão o número de telefone para a pessoa com a qual se teve uma tarde agradável.
Mesmo ciente do jogo comercial envolvendo cinema, como o de promover o projeto que participa e o de oferecer o seu nome e face para uma campanha promocional, um verdadeiro intérprete é aquele que reconhece que é apenas um dos vários mecanismos de um filme, sempre a disposição para atender à visão de seu realizador. No entanto, é impossível não afirmar que é na presença da veterana Charlotte Rampling que orbita todas as engrenagens de “Hannah”.
As reações serão as mais opostas possíveis. Por um lado, há quem defenderá que a junção de bizarrices eleva “O Amante Duplo” a patamares provocativos e refrescantes. Outros talvez se sintam insultados com algo que parece ter em sua essência um tom de ridicularização. É um ame ou odeie com inegável poder de penetração.
O tema é daqueles fáceis de cair e de se encerrar na vulgaridade. Ainda mais em um país com nomes como Danilo Gentili (“Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola“) e Rafinha Bastos (“Internet: O Filme“) que vê adolescentes como imbecis. Zeca Brito tem repertório mais denso e ao menos consegue fazer com que estabelecemos uma empatia razoável com os seus personagens.
O problema é a limitação da proposta, reforçada pelo texto de Leo Garcia. O sexo é uma parte essencial para a formação de nossa identidade, mas “Em 97 Era Assim” não há nada de muito substancial além disso. Seria interessante outros conflitos para estabelecer maior senso de amizade, bem como privilegiar mais as presenças femininas.
Muito além da brutalidade com a qual encenava o plano de derrocada dos cartéis de drogas entre a fronteira do México com os Estados Unidos, “Sicario: Terra de Ninguém” encontrou na protagonista de Emily Blunt os olhos da plateia e o centro moral de todos os dilemas. Era em Kate Macer, uma agente do FBI, que se concentrava a ponta final de um ciclo de desolação permanente.
Em “Sicario: Dia do Soldado”, não há mesmo razão para o retorno de Kate. A sua jornada se encerrou em “Terra de Ninguém”, sem perspectiva positiva de resolução. Mas talvez falte nesta continuação também escrita por Taylor Sheridan uma nova adição de personagem que se corrompa no processo.
Trata-se de um filme não apenas oportuno em um tempo em que os autos de resistência atingem números recordes, como também para contribuir aos debates sobre a violência policial com a falta de resolução quanto a execução em 14 de março deste ano de Marielle Franco.
Verdade que Allan Fiterman, com base no texto de Flávia Guimarães e José Carvalho, não é um Guilherme de Almeida Prado ao assumir as rédeas de um thriller, pois não há muitos personagens para se apontar os dedos em “Berenice Procura” e a vocação detetivesca da protagonista toma um tempo muito breve na narrativa. Incomoda também a inserção de Russo, personagem que Emilio Dantas vive com todos os trejeitos de seu Rubinho da novela “A Força do Querer”.
Por outro lado, é a evolução surpreendente de um cineasta cujo filme anterior foi a comédia “Embarque Imediato”, com domínio perceptível da mise-en-scène (há um jogo de luzes que reparte a tela como se fosse um split-screen) e o entendimento das consequências dos crimes passionais, principalmente no contexto do universo LGBT – diretor de “Tatuagem”, Hilton Lacerda supervisionou o roteiro. Está quase tudo no lugar em “Berenice Procura” e a sua conclusão, mesmo previsível para alguns, é particularmente impactante.
A péssima ideia envolvendo “Baronesa” é a opção por um cinema híbrido, em que a veracidade da vida se mistura com cenas ficcionais. É um vício que anda predominando mais do que deveria a cinematografia brasileira independente, que apresenta uma defesa de protagonismo de uma minoria invisível/marginalizada para ressaltar discursos.
É um trabalho de observação quase desonesto, pois a encenação parece existir porque não se consegue com a espera alguma ocorrência de risco, a exemplo de uma em que se brinca com uma arma.
Unicórnio
3.0 50Lamentavelmente, esse apelo estético não encontra correspondência com a história que se pretende contar. Mesmo que o roteiro se aproprie livremente de dois contos de Hilda Hilst, “O Unicórnio” e “Matamoros”, o estofo aqui comportaria não mais que um curta-metragem. Do jeito que nos é apresentado, temos o típico caso de belo papel de presente para o embrulho de algo oco, sensação que Bárbara Luz ainda enfatiza com uma interpretação aborrecida, nada cativante.
+ www.goo.gl/cHyA5f
Como é Cruel Viver Assim
2.7 24Curioso perceber como o longa de Julia Rezende encontra correspondência com “Um Homem Só“, trabalho de sua colega Cláudia Jouvin. Evidentemente, o seu “Como é Cruel Viver Assim” de nada tem de ficção científica. Entretanto, o cinza da fotografia de Dante Belluti encontra nos cenários periféricos e nas faces que os habitam um sentimento de conformidade diante de existências sem perspectivas de um futuro além do cruel que dão ao todo uma singularidade inesperada.
+ www.goo.gl/ZSKZte
Abrindo o Armário
3.7 8Alguns depoimentos em particular se sobressaem aos demais. Como o de Rodrigo Barbosa, que encerrou o relacionamento com uma mulher após toda uma vida “aprisionado” e que hoje tem a guarda de uma criança com um parceiro. Ou o de Artur Francischi, que relata a sua primeira experiência homossexual com todas aquelas dores que geralmente encurralam a maioria dos jovens na mesma situação.
+ www.goo.gl/A2eU4P
Medo Viral
1.9 41 Assista AgoraTedioso, “Medo Viral” ainda demonstra a incapacidade dos Vang em estabelecerem uma atmosfera de horror. A paciência que o espectador empregará ao acompanhar o fiapo de história jamais é recompensado: os jump scares são aquelas velhas batidinhas no ombro do amigo que surge sem aviso prévio, as mortes sempre são em off screen e as ameaças que se materializam desaparecem do campo de visão dos personagens desobedecendo qualquer lógica. Eis mais um filme a figurar com facilidade em uma lista de piores do ano.
+ www.goo.gl/rRYy3T
Acrimônia
3.2 127 Assista AgoraContra todas as expectativas negativas, Tyler Perry conduz essa história contada em flashbacks de modo envolvente. O elenco dá conta do recado e as divergências do que é narrado dentro daquilo que se vê ampliam o jogo de aparências e nos faz relevar deslizes primários, das coincidências do roteiro ao green screen gritante de “tomadas externas”.
Uma pena que tudo sucumba em seu ato final a algo digno de um Supercine de quinta categoria, encenando um enfrentamento físico esperado, mas patético. Pode até ser uma boa notícia para quem abraça com facilidade o humor involuntário, mas definitivamente não ajudará Tyler Perry a ser levado a sério.
+ www.goo.gl/4dBUuA
Os Incontestáveis
2.3 8 Assista AgoraO que a princípio se apresenta quase como um exercício de estilo, vai rumando para territórios confusos. Na exposição de instintos primitivos, enfrentamentos com indivíduos que detêm alguma autoridade e até o flerte com questões antropológicas de um estado marcado pela colonização, “Os Incontestáveis” logo se converte em aborrecimento, especialmente por sua sonoplastia estridente.
+ www.oo.gl/9ubbD7
O Animal Cordial
3.4 617 Assista AgoraApós um primeiro ato em que estabelece um cenário, os seus personagens e um contexto para mantê-los unidos, Gabriela Amaral Almeida, que também assina o roteiro, se compromete com um ponto de virada arriscado para tecer um comentário interessante. Trata-se das divergências que acontecem quando representantes de grupos sociais tão distintos se veem enclausurados em uma espécie de limbo.
+ www.goo.gl/2vZWia
Você Nunca Esteve Realmente Aqui
3.6 521 Assista AgoraEssas chantagens emocionais que Ramsay tenta camuflar com frieza só corroboram não somente para uma indiferença com esse protagonista, mas também com todas as intervenções externas que buscam humanizá-lo a partir da missão de resgatar a filha (Ekaterina Samsonov) de uma figura política, sequestrada para servir ao tráfico sexual.
Se isso tudo ainda não te convencer, não se preocupe. "Você Nunca Esteve Realmente Aqui" está infestado de flashbacks de infância abusiva para clamar por empatia para o velho Joe. Até papo mole com capenga prestes a morrer está presente na cartela de bingo manipulador de Ramsay.
+ www.goo.gl/VY8jY1
Megatubarão
2.8 842Jason Statham + um tubarão digital com mais de 20 metros de comprimento. Às vezes um projeto tem a fórmula perfeita para proporcionar o que não se vê com muita frequência no cinema americano, sendo a bobagem tipo b que não tem vergonha de se assumir como tal.
É exatamente o que se espera de “Megatubarão”, mas eis que as expectativas não batem. Lembra muito o que aconteceu há 12 anos com “Serpentes a Bordo”, com a oferta de produto por um grande estúdio com espírito trash que, na prática, está longe de chutar o pau da barraca.
+ www.goo.gl/Zh62kk
Canastra Suja
3.8 117No baralho, o canastra suja é a mão formado por uma sequência finalizada com um curinga. Mesmo quem nada entende de jogos de azar, compreenderá o termo durante a costura de Caio Sóh para o seu quarto longa-metragem. Como faz questão de ilustrar, é um jogo de cartas o que encena, em que os componentes de uma família se movem em um tabuleiro de dissimulações, interpretações equivocadas dos fatos e golpes do acaso.
+ www.goo.gl/kcp7W8
Barreiras
3.2 8 Assista AgoraEm seu segundo longa-metragem, Laura Schroeder tem como seu braço direito a britânica Petra Jean Phillipson, que assina uma trilha musical que exerce um papel dramático essencial para a narrativa. “Barreiras” é também bem fotografado por Hélène Louvart, apresentando uma textura de lodo verde em imagens emolduradas quase como retratos de Polaroid. Falta um texto mais consistente, ao qual coassina com a veterana Marie Nimier.
+ www.goo.gl/DUK3dM
Custódia
4.2 157Em tempos em que o abuso contra a mulher tem sido uma pauta central de discussão na sociedade, “Custódia” é lançado em um momento oportuno, ainda mais por flagrar o crime dentro do contexto doméstico, talvez o mais ignorado pelas portas que terceiros fecham e trancam como medida para não intervir em crises que acontecem no vizinho na casa do vizinho.
+ www.goo.gl/ae2GDo
Ana e Vitória
3.2 357Há um interesse por um ponto de partida que descarta as convenções da cinebiografia com maior interesse em compreender a dinâmica que dita hoje os amores e desilusões entre os jovens. No contexto contemporâneo de Ana e Vitória (e nosso), a rotulação da sexualidade não importa e os relacionamentos abertos não parecem ser a resposta ideal contra os monogâmicos. Falta, no entanto, um acabamento mais consistente ao todo.
+ www.goo.gl/habgjc
Sem Amor
3.8 319 Assista Agora“Sem Amor” vai avaliando um estado de indiferença que parece contaminar uma nação, comentário que explicita principalmente com o modo como os seus personagens seguem com o seu cotidiano sendo alheios às pequenas tragédias ao fundo noticiadas em rádios. Indiferença essa que é inclusive capaz de deletar de todo um contexto uma presença humana indesejada que por um período ali habitou.
+ www.goo.gl/5NwL58
78/52: A Cena do Chuveiro de Hitchcock
4.2 19Acertando ao fazer uma coleta mais descontraída dos depoimentos, “78/52” tem aquele poder de aumentar a percepção diante da contemplação de uma obra fílmica, confirmando que cada segundo é rico de informações quando se trata do audiovisual. Em 91 minutos, O. Philippe ministra uma aula que vale muito mais que um semestre todo de escola de cinema.
+ www.goo.gl/JG4J2v
A Festa
3.7 64A sensação para alguns será a de teatro filmado, mas há certa informalidade na operação da câmera de Sally Potter mais condizente com a linguagem cinematográfica e o elenco se apropria do espaço restrito com uma liberdade oposta ao engessamento das marcações. São virtudes que colaboram para a fluência da narrativa, dessas que literalmente nos pregam surpresas até o seu último segundo.
+ www.goo.gl/h5Mn5S
50 São os Novos 30
3.4 13O melhor de “50 São os Novos 30” é a ternura com o qual tece o encontro de duas pessoas de idade avançada sem a independência plena conquistada, extraindo graça não pela situação mal sucedida que se encontram, mas sim de como se fortalecem quando abraçam as suas inadequações e assim se refortalecerem. Definitivamente, não há nada mais romântico do que anotar em um limão o número de telefone para a pessoa com a qual se teve uma tarde agradável.
+ www.goo.gl/7KMXGV
Hannah
3.4 48Mesmo ciente do jogo comercial envolvendo cinema, como o de promover o projeto que participa e o de oferecer o seu nome e face para uma campanha promocional, um verdadeiro intérprete é aquele que reconhece que é apenas um dos vários mecanismos de um filme, sempre a disposição para atender à visão de seu realizador. No entanto, é impossível não afirmar que é na presença da veterana Charlotte Rampling que orbita todas as engrenagens de “Hannah”.
+ www.goo.gl/KZrLJK
O Amante Duplo
3.3 107As reações serão as mais opostas possíveis. Por um lado, há quem defenderá que a junção de bizarrices eleva “O Amante Duplo” a patamares provocativos e refrescantes. Outros talvez se sintam insultados com algo que parece ter em sua essência um tom de ridicularização. É um ame ou odeie com inegável poder de penetração.
+ www.goo.gl/ipr3zE
Em 97 Era Assim
2.7 24O tema é daqueles fáceis de cair e de se encerrar na vulgaridade. Ainda mais em um país com nomes como Danilo Gentili (“Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola“) e Rafinha Bastos (“Internet: O Filme“) que vê adolescentes como imbecis. Zeca Brito tem repertório mais denso e ao menos consegue fazer com que estabelecemos uma empatia razoável com os seus personagens.
O problema é a limitação da proposta, reforçada pelo texto de Leo Garcia. O sexo é uma parte essencial para a formação de nossa identidade, mas “Em 97 Era Assim” não há nada de muito substancial além disso. Seria interessante outros conflitos para estabelecer maior senso de amizade, bem como privilegiar mais as presenças femininas.
+ www.goo.gl/Qni2Qw
Sicario: Dia do Soldado
3.5 234 Assista AgoraMuito além da brutalidade com a qual encenava o plano de derrocada dos cartéis de drogas entre a fronteira do México com os Estados Unidos, “Sicario: Terra de Ninguém” encontrou na protagonista de Emily Blunt os olhos da plateia e o centro moral de todos os dilemas. Era em Kate Macer, uma agente do FBI, que se concentrava a ponta final de um ciclo de desolação permanente.
Em “Sicario: Dia do Soldado”, não há mesmo razão para o retorno de Kate. A sua jornada se encerrou em “Terra de Ninguém”, sem perspectiva positiva de resolução. Mas talvez falte nesta continuação também escrita por Taylor Sheridan uma nova adição de personagem que se corrompa no processo.
+ www.goo.gl/SFMTjN
Auto de Resistência
4.5 26Trata-se de um filme não apenas oportuno em um tempo em que os autos de resistência atingem números recordes, como também para contribuir aos debates sobre a violência policial com a falta de resolução quanto a execução em 14 de março deste ano de Marielle Franco.
+ www.goo.gl/x6nPEy
Berenice Procura
3.2 43Verdade que Allan Fiterman, com base no texto de Flávia Guimarães e José Carvalho, não é um Guilherme de Almeida Prado ao assumir as rédeas de um thriller, pois não há muitos personagens para se apontar os dedos em “Berenice Procura” e a vocação detetivesca da protagonista toma um tempo muito breve na narrativa. Incomoda também a inserção de Russo, personagem que Emilio Dantas vive com todos os trejeitos de seu Rubinho da novela “A Força do Querer”.
Por outro lado, é a evolução surpreendente de um cineasta cujo filme anterior foi a comédia “Embarque Imediato”, com domínio perceptível da mise-en-scène (há um jogo de luzes que reparte a tela como se fosse um split-screen) e o entendimento das consequências dos crimes passionais, principalmente no contexto do universo LGBT – diretor de “Tatuagem”, Hilton Lacerda supervisionou o roteiro. Está quase tudo no lugar em “Berenice Procura” e a sua conclusão, mesmo previsível para alguns, é particularmente impactante.
+ www.goo.gl/ZzWupa
Baronesa
4.2 58 Assista AgoraA péssima ideia envolvendo “Baronesa” é a opção por um cinema híbrido, em que a veracidade da vida se mistura com cenas ficcionais. É um vício que anda predominando mais do que deveria a cinematografia brasileira independente, que apresenta uma defesa de protagonismo de uma minoria invisível/marginalizada para ressaltar discursos.
É um trabalho de observação quase desonesto, pois a encenação parece existir porque não se consegue com a espera alguma ocorrência de risco, a exemplo de uma em que se brinca com uma arma.
+ www.goo.gl/in6yEh