Ana Laura Corrêa Porto

A impressão é a de que vI um produto, nem melhor, nem pior, que o julgamento Depp vs. Heard, com comentários daquelas senhoras limitadas, metidas a conservadoras, que pensam que o mundo artístico é degenerado mesmo, as pessoas são todas loucas e drogadas e que tudo sempre vai acabar mal.
Fora isso, o filme deixa bem claro que minorias deviam ficar longe da indústria de Hollywood e que só vale a pena mostrar relações LGBT+ abertamente na tela se for com ar de reprovação, as "aceitáveis" ficam subentendidas, interrompidas tragicamente, como tantas outras obras da Hollywood Clássica.
Nem o design de produção inspirado, nem a ótima trilha (esses até os óscares merecem ganhar) ou algumas cenas interessantes sobre o processo de filmagem das películas, conseguem dar a um roteiro tão presunçoso e determinista, repleto de arquétipos rasos, alguma salvação. É um Cautionary Tale, dos mais baratos e sensacionalistas, em uma embalagem de luxo.
Dentre esses arquétipos, estão a personagem da Margot Robbie (em uma atuação bem digna) que durante sua saga ininterrupta de sofrimento parece ser uma vítima quase que apenas dela mesma e de suas origens, como se a pressão estética e da indústria da época não tivesse um peso avassalador na saúde física e mental das atrizes aspirantes. Um galã de filmes mudos, (um Brad Pitti bem pouco inspirado) alcoólatra e cercado de representações estereotipadas e misóginas de mulheres más, interesseiras e neuróticas e o nada carismático Diego Calva, que apesar de protagonista possui um arco medíocre.
Outra coisa que me chamou a atenção, foi o fato de um filme claramente inspirado nos livros do Kenneth Anger (aqueles que ficam defendendo essa suposta "carta de amor ao cinema" deviam procurar saber a origem do roteiro, que de homenageadora não tem nada!) não fazer nenhuma referência ao satanismo. Parece que o Chazelle queria chocar as plateias com sexo grupal e drogas, mas ele tem lá seus limites. Isso ficou muito evidente na cena com o Tobey Maguire, quando eles criam toda uma expectativa para o que teria no último nível do "cu de Hollywood" e é só um bodybuilder hormonizado (anacronismo imperdoável, assim como alguns figurinos da Margot Robbie) comendo um rato. Poxa, onde foram parar os seguidores da Thelema e os rituais do Anton LaVey?
Existem tantas homenagens genuínas ao cinema que passam longe de disseminar maniqueísmos rasos... Crepúsculo dos Deuses, Cinema Paradíso, A Noite americana, Ed Wood, A Sombra do Vampiro, Hugo Cabret, Era uma vez em Hollywood e até mesmo Os Fabemans...