é digna de nota a capacidade majestosa desse filme-documento de construir um ambiente com tensão cinematográfica, dramaticidade e alguma lineariedade narrativa, mesmo sendo todo ele um mosaico de filmagens reais de arquivo; não achei uma obra enfadonha ou demasiadamente demorada, aliás, penso que a cautela e a morosidade foram fundamentais para o deleite; a matemática descida à lua e a angústia em descobrir as condições do solo, e mesmo o cálculo pormenorizado do possível buraco que um passo poderia marcar no chão lunar; essas agonias astronômicas foram melhor fruídas sentindo o mesmo senso de prudência dos astronautas
eu sempre suspeitei que houvesse uma pitada de sensualidade nisso que se chama de "con artist", nesses perfeitos caçoadores das expertises e nos solenes deboches à ingenuidade feitos com tanta petulância; ah! como é bom enganar um períto; aqui a zombaria e a forja são artes completas, um filme dentro de um filme, uma ESTÓRIA sobre outra ESTÓRIA; tudo é teatralmente fraudado, estilisticamente calunioso... e a qual "verdade" serve a arte? verdade pra que? não é a arte uma grande fábrica de delírios e pontos de vista forjados? apesar de tudo, tão real e viva... arte, afinal de contas... que grandiosa cerimônia de ilusões nos concedeu welles
uma garotinha precoce fumando e um homem caloteiro e vigarista atravessam a duração desse road movie ambientado nos anos 30, da época da grande depressão e dos airosos cadillacs característicos; devo dizer que esse arranjo agradou-me muito, tão aliciante quanto subversivo; o preto e branco e os figurinos contribuiram para erguer a estética da época; addie e moses logo se tornam uma dupla-arquétipo tão próxima e compassada quanto mathilda e léon em the professional; ah! a criança nunca tem escrúpulos morais, que belíssima, incômoda e certeira é a insubordinação da garot(a), mais garota do que nunca, "I ain't a boy!"
a câmera da varda é tão transparente e sossegada: os gatinhos, as pescas e os costumes, tantas cenas terapêuticas; e que belíssima composição entre uma poética geográfica e essa espécie de antropologia-etnológica documental da cultura da pequena vila e da cotidianidade das cabaninhas simples; tenho certeza de que a agnès varda encantou-se com todo aquele universo imagético... certamente pensou em uma nostalgia de paraíso inédita; por outro lado, o casal, tecendo uma narrativa cruzada, conversa com uma petulância bonançosa sobre todas aquelas interrogações amorosas-existenciais-vitais, numa crise poética de esclarecimento do amor em meio a esta costa paradisíaca de ingenuidade
terror paraguaio, terror paraguaio... repeti essas duas palavrinhas uma ou duas dezenas de vezes e dei-me conta de que se trata de uma enorme novidade para mim; terror paraguaio, primeiro terror paraguaio, primeiríssimo que vejo.. terror paraguaio; é um filme breve, sucinto.. brevíssimo, mas tão poderoso em sua ambientação sobrenatural, vigoroso e robusto na construção de um thriller recheado de tensão e desassossego; me pergunto a razão para que eu nunca tivesse fantasiado sobre os horrores da profissão de segurança de um necrotério... um cuidador de cadáveres, zelador de corpos pálidos e gelados; a experiência é ótima, daquelas histórias lacônicas, de ligação emocional com uma só geografia... o necrotério se torna nossa morada e nossa única referência; ficamos presos junto ao protagonista; que belo terror paraguaio! terror paraguaio
a narrativa é bastante simplificada, mas liricamente muito eficaz na sua intenção de expressar os dramas e as inconformações das mulheres do irã; uma câmera, um carro e moças-passageiras confessando todos os seus desconfortos culturais e seus desalentos familiares e amorosos; nesse sentido, esse cinema é tão fértil, há tantos brotos aqui florescendo de cultura, de sentimentos controversos e de mal-estar civilizatório; essa obra é um mosaico esplendoroso da feminilidade iraniana, desde uma prostituta que ri, até outra mulher que chora, mas que essencialmente falam do mesmo assunto
um drama policial noir na excelência do melhor estilo dostoiévskiano: um machado trocado por uma tesoura; um homicídio acompanhado de uma irrupção assaltante de sentimentos de culpa, suor frio e náuseas; o mais interessante é a extrema acurácia durante a exploração psicológica... as personagens cercando e vigiando as suas palavras de confissão inchadas, lidando e não-lidando com essa interioridade transbordante e manchada de temor; o filme todo é emoldurado por essa atmosfera febril de um raskólnikov de alta classe
a arte de falar sobre si mesmo é a mais difícil das artes, e aqui as imagens caprichosamente restauradas e acompanhadas pela própria maria callas são feitas com extrema maestria; eu nunca fui um grande admirador das nobres óperas, dessas mulheres-soprano e daquilo que eu denominava a mim mesmo como um tipo de grito desarmonioso; há pouco que fui convertido à beatitude celestial destas composições dramáticas; inicialmente me peguei tentando acompanhar o que as óperas estavam comunicando, ah! que grande engano meu, o fundamental mesmo é sentir-se tolhido pelo drama e arrebatado pelo espetáculo da voz e das sinfonias e dos coros
entre campainhas e telefones tocando formalmente com uma insistência institucional é que se desenrola toda a angústia silenciosa e amena da jovem médica; não se sabe muito sobre suas intimidades; porém, em contrapartida, seus dramas são escancaradamente públicos, frieza de médico que dissolve-se na obsessão culposa pela fatalidade de um caso de descuido; não apetece ao médico uma ligação demasiadamente emocional com todos os seus pacientes, foi o conselho profissional da própria protagonista ao companheiro de trabalho; conselho esse que se tornou matéria de exploração nessa obra profundamente existencial que manipula as fronteiras entre público e privado
certa vez eu li um texto sobre adolescência, sobre os seus portões ocultos e todos os conflitos que acompanham esse suposto rito de passagem que antecipa a vida adulta; era uma denúncia com d maiúsculo do hermetismo da condição de "ser adulto"; a história que envolve o garoto doinel é um desses ricos contos acerca de jovenzinhos incompreendidos e negligenciados pelos pais, que precisam envelhecer urgentemente, digo... tornarem-se adultos ou maduros, mergulharem de vez nas águas da vida séria - os termos-chave da vida adulta - apesar de estarem sem orientação alguma; doinel e seu amigo até fumam charutos e bebem, num ato cívico para parecem "crescidos" e terem atenção devida destas criaturas esquisitas que chamamos de adultos
o hipopótamo como um animal imenso e que, mesmo na dinâmica do seu movimento vagaroso pelas águas turvas, consegue espalhar e agitar grandes porções de água; uma belíssima metáfora que marcuse fez questão de brincar referindo-se à petulância da filosofia; inclusive, ele era o mais subversivo dos carinhas da escola de frankfurt, o marcuse não fugia duma baguncinha
estou certo de que foi uma das minhas descobertas musicais mais viscerais; os sons transbordam de onirismo, parecem habitar alguma sombra do inconsciente; a voz da fraser parece querer se perder a todo momento numa náusea etérea; é introspectiva, mas também intensa e ousada... as letras são um universo esotérico; cocteau twins tem propriedades narcóticas
"Todas as práticas zen (o zen é - sobretudo - uma prática) visam atingir o ponto de fusão corpo/mente, aquele lugar alfa onde essa distinção (vista como erro e ilusão) não seja mais possível.
Visariam, de certa maneira, uma espiritualização de corpo e uma corporificação da mente e do espírito.
Isso é muito visível nas artes marciais, judô, kendô, caratê, aikidô, todas empapadas do zen.Quem pratica artes marciais, aprende logo que o corpo não é urna máquina governada por um comandante genial chamado mente. Na hora de aplicar um golpe, sente-se claramente que o corpo pensa." (Paulo Leminski)
é um protesto político, é uma "atitude estética", é uma ode à insconsciência, é uma transa vigorosa com a irracionalidade, não é sobre absurdo, absurdo chamo os corpos comidos pelas larvas sobre as valas..."morality of fools"; os mantras surrealistas e as apresentações kafkianas são categorias elevadas de deboches, modo de ser natureza;
o cabaret voltaire é, sem dúvida, um dos clubes mais avant-garde que eu conheço... é tão charmoso quando o hugo ball, com um ar de seriedade "política" (risos), começa sua apresentação karawane, ou então, a coletânea de disparates que é ghosts before breakfast
longe de ser uma biografia trivial ou apenas um retrato historiográfico... essa obra é uma composição de teatralidade e pomposidade; é realmente estiloso na representação das pessoalidades e nas idiossincrasias do querido ludwig
carrego meu tractatus debaixo do braço e nenhum mal poderá cair sobre minha pobre alma, no meu mundo não existem imprevisibilidades nem surpresas
sim, eu parti da musica do gorillaz anos atrás e hoje, num dia de muito calor, que lembra o clima desses desertos mexicanos de 1870, cheguei até essa preciosidade do genero western; preciso tirar o atrasado e me embrenhar na filmografia do eastwood
eastwood se filia ao piripero, um senhorzinho que fabrica caixões e que é a figuração da própria Morte; ele vende sua alma ao velho quieto, que o acompanha no acerto de contas final e observa a cena como uma força invisível, retirada do plano; o colete improvisado é a própria representação do assenhoramento do clint com sua finitude
além da elegância visual e da bonita representação da fervura cultural dos anos sessenta, blow up é também um ensaio sobre as maneiras de se CAPTURAR a realidade; o crime, mero artificio ilustrativo, e as formas de se investigá-lo: a câmera, a lente OBJETIVA, o olhar frio do cientista...AMPLIA-SE a foto, mas o que se vê é só uma imagem mais opaca e menos nítida; ele mesmo, que depois, engavetando sua frieza matemática.. joga uma partida de tênis invisível; brinco de ver aí uma relação entre um olhar científico e outro artístico-imaginativo sobre o real; o primeiro um raciocínio plástico, desnaturalizado; o segundo um pensamento orgânico, inventivo; a hegemonia da racionalidade, por vezes, também é um não-ver.
há uma certa beleza no ponto de vista, no olhar do voyeur através da janela; a estreiteza da perspectiva do espectador é uma janela grande que se abre para um largo universo de outras pequenas janelas-quadros... cada uma delas um retrato, recortes de vida
achei lindo demais a composição da vizinhança, certamente uma paisagem digna ao trabalho de um fotógrafo ocioso e curioso
o trash existe porque o feio e o tosco também precisam de narrativas: basket case é um desses contos sobre o cuidadosamente malfeito e sobre toda a feiura que há; não é uma história nada suntuosa, nem uma grande epopeia... mesmo seu enredo é um retrato de sujeira e exagero real
hoje aprendi que não podemos brincar com lixo hospitalar
cenas de luta ainda mais extravagantes e o sexo claramente mais kafkiano; declaro que a partir de hoje passarei a usar o melodioso insulto dolamiteano: "rat-soup-eatin, born-insecure"; a trasheira fica ainda melhor sabendo que o xerife é basicamente o karl marx só mais lesado
a sublime competência de um psicopata em conciliar uma porção de outras vidas e - esqueçamos de todo o ritualismo sádico e tirânico - acho bonita a estreiteza entre uma existência e outra, o vão que se abre naquele banheiro, por exemplo; o manusear desse tecido fino, e nunca de fato se fixar, sendo acossado outra vez pela antiga "liturgia" sangrenta
Apollo 11
3.9 54é digna de nota a capacidade majestosa desse filme-documento de construir um ambiente com tensão cinematográfica, dramaticidade e alguma lineariedade narrativa, mesmo sendo todo ele um mosaico de filmagens reais de arquivo; não achei uma obra enfadonha ou demasiadamente demorada, aliás, penso que a cautela e a morosidade foram fundamentais para o deleite; a matemática descida à lua e a angústia em descobrir as condições do solo, e mesmo o cálculo pormenorizado do possível buraco que um passo poderia marcar no chão lunar; essas agonias astronômicas foram melhor fruídas sentindo o mesmo senso de prudência dos astronautas
Verdades e Mentiras
4.3 69eu sempre suspeitei que houvesse uma pitada de sensualidade nisso que se chama de "con artist", nesses perfeitos caçoadores das expertises e nos solenes deboches à ingenuidade feitos com tanta petulância; ah! como é bom enganar um períto; aqui a zombaria e a forja são artes completas, um filme dentro de um filme, uma ESTÓRIA sobre outra ESTÓRIA; tudo é teatralmente fraudado, estilisticamente calunioso... e a qual "verdade" serve a arte? verdade pra que? não é a arte uma grande fábrica de delírios e pontos de vista forjados? apesar de tudo, tão real e viva... arte, afinal de contas... que grandiosa cerimônia de ilusões nos concedeu welles
Lua de Papel
4.3 156 Assista Agorauma garotinha precoce fumando e um homem caloteiro e vigarista atravessam a duração desse road movie ambientado nos anos 30, da época da grande depressão e dos airosos cadillacs característicos; devo dizer que esse arranjo agradou-me muito, tão aliciante quanto subversivo; o preto e branco e os figurinos contribuiram para erguer a estética da época; addie e moses logo se tornam uma dupla-arquétipo tão próxima e compassada quanto mathilda e léon em the professional; ah! a criança nunca tem escrúpulos morais, que belíssima, incômoda e certeira é a insubordinação da garot(a), mais garota do que nunca, "I ain't a boy!"
La Pointe Courte
3.9 34 Assista Agoraa câmera da varda é tão transparente e sossegada: os gatinhos, as pescas e os costumes, tantas cenas terapêuticas; e que belíssima composição entre uma poética geográfica e essa espécie de antropologia-etnológica documental da cultura da pequena vila e da cotidianidade das cabaninhas simples; tenho certeza de que a agnès varda encantou-se com todo aquele universo imagético... certamente pensou em uma nostalgia de paraíso inédita; por outro lado, o casal, tecendo uma narrativa cruzada, conversa com uma petulância bonançosa sobre todas aquelas interrogações amorosas-existenciais-vitais, numa crise poética de esclarecimento do amor em meio a esta costa paradisíaca de ingenuidade
Necrotério
2.7 39 Assista Agoraterror paraguaio, terror paraguaio... repeti essas duas palavrinhas uma ou duas dezenas de vezes e dei-me conta de que se trata de uma enorme novidade para mim; terror paraguaio, primeiro terror paraguaio, primeiríssimo que vejo.. terror paraguaio; é um filme breve, sucinto.. brevíssimo, mas tão poderoso em sua ambientação sobrenatural, vigoroso e robusto na construção de um thriller recheado de tensão e desassossego; me pergunto a razão para que eu nunca tivesse fantasiado sobre os horrores da profissão de segurança de um necrotério... um cuidador de cadáveres, zelador de corpos pálidos e gelados; a experiência é ótima, daquelas histórias lacônicas, de ligação emocional com uma só geografia... o necrotério se torna nossa morada e nossa única referência; ficamos presos junto ao protagonista; que belo terror paraguaio! terror paraguaio
Dez
4.1 54 Assista Agoraa narrativa é bastante simplificada, mas liricamente muito eficaz na sua intenção de expressar os dramas e as inconformações das mulheres do irã; uma câmera, um carro e moças-passageiras confessando todos os seus desconfortos culturais e seus desalentos familiares e amorosos; nesse sentido, esse cinema é tão fértil, há tantos brotos aqui florescendo de cultura, de sentimentos controversos e de mal-estar civilizatório; essa obra é um mosaico esplendoroso da feminilidade iraniana, desde uma prostituta que ri, até outra mulher que chora, mas que essencialmente falam do mesmo assunto
Um Retrato de Mulher
4.1 97um drama policial noir na excelência do melhor estilo dostoiévskiano: um machado trocado por uma tesoura; um homicídio acompanhado de uma irrupção assaltante de sentimentos de culpa, suor frio e náuseas; o mais interessante é a extrema acurácia durante a exploração psicológica... as personagens cercando e vigiando as suas palavras de confissão inchadas, lidando e não-lidando com essa interioridade transbordante e manchada de temor; o filme todo é emoldurado por essa atmosfera febril de um raskólnikov de alta classe
Maria Callas: Em Suas Próprias Palavras
4.0 9 Assista Agoraa arte de falar sobre si mesmo é a mais difícil das artes, e aqui as imagens caprichosamente restauradas e acompanhadas pela própria maria callas são feitas com extrema maestria; eu nunca fui um grande admirador das nobres óperas, dessas mulheres-soprano e daquilo que eu denominava a mim mesmo como um tipo de grito desarmonioso; há pouco que fui convertido à beatitude celestial destas composições dramáticas; inicialmente me peguei tentando acompanhar o que as óperas estavam comunicando, ah! que grande engano meu, o fundamental mesmo é sentir-se tolhido pelo drama e arrebatado pelo espetáculo da voz e das sinfonias e dos coros
A Garota Desconhecida
3.2 112 Assista Agoraentre campainhas e telefones tocando formalmente com uma insistência institucional é que se desenrola toda a angústia silenciosa e amena da jovem médica; não se sabe muito sobre suas intimidades; porém, em contrapartida, seus dramas são escancaradamente públicos, frieza de médico que dissolve-se na obsessão culposa pela fatalidade de um caso de descuido; não apetece ao médico uma ligação demasiadamente emocional com todos os seus pacientes, foi o conselho profissional da própria protagonista ao companheiro de trabalho; conselho esse que se tornou matéria de exploração nessa obra profundamente existencial que manipula as fronteiras entre público e privado
Os Incompreendidos
4.4 645certa vez eu li um texto sobre adolescência, sobre os seus portões ocultos e todos os conflitos que acompanham esse suposto rito de passagem que antecipa a vida adulta; era uma denúncia com d maiúsculo do hermetismo da condição de "ser adulto"; a história que envolve o garoto doinel é um desses ricos contos acerca de jovenzinhos incompreendidos e negligenciados pelos pais, que precisam envelhecer urgentemente, digo... tornarem-se adultos ou maduros, mergulharem de vez nas águas da vida séria - os termos-chave da vida adulta - apesar de estarem sem orientação alguma; doinel e seu amigo até fumam charutos e bebem, num ato cívico para parecem "crescidos" e terem atenção devida destas criaturas esquisitas que chamamos de adultos
Eat That Question - Frank Zappa Por Ele Mesmo
4.4 4 Assista Agoraeu só queria ter ido bêbado de brahma num show do zappa pra surtar num jazz-progressivo-experimental
O Hipopótamo de Marcuse
4.1 2o hipopótamo como um animal imenso e que, mesmo na dinâmica do seu movimento vagaroso pelas águas turvas, consegue espalhar e agitar grandes porções de água; uma belíssima metáfora que marcuse fez questão de brincar referindo-se à petulância da filosofia; inclusive, ele era o mais subversivo dos carinhas da escola de frankfurt, o marcuse não fugia duma baguncinha
Cocteau Twins - Live In Cambridge
4.5 2estou certo de que foi uma das minhas descobertas musicais mais viscerais; os sons transbordam de onirismo, parecem habitar alguma sombra do inconsciente; a voz da fraser parece querer se perder a todo momento numa náusea etérea; é introspectiva, mas também intensa e ousada... as letras são um universo esotérico; cocteau twins tem propriedades narcóticas
Cães de Aluguel
4.2 1,9K Assista Agoramas por que eu tenho que ser o rosa?
O Homem do Tai Chi
3.2 254 Assista Agora"Todas as práticas zen (o zen é - sobretudo - uma prática) visam atingir o ponto de fusão corpo/mente, aquele lugar alfa onde essa distinção (vista como erro e ilusão) não seja mais possível.
Visariam, de certa maneira, uma espiritualização de corpo e uma corporificação da mente e do espírito.
Isso é muito visível nas artes marciais, judô, kendô, caratê, aikidô, todas empapadas do zen.Quem pratica artes marciais, aprende logo que o corpo não é urna máquina governada por um comandante genial chamado mente. Na hora de aplicar um golpe, sente-se claramente que o corpo pensa." (Paulo Leminski)
Germany-DADA: An Alphabet of German Dadaism
4.5 1é um protesto político, é uma "atitude estética", é uma ode à insconsciência, é uma transa vigorosa com a irracionalidade, não é sobre absurdo, absurdo chamo os corpos comidos pelas larvas sobre as valas..."morality of fools"; os mantras surrealistas e as apresentações kafkianas são categorias elevadas de deboches, modo de ser natureza;
o cabaret voltaire é, sem dúvida, um dos clubes mais avant-garde que eu conheço... é tão charmoso quando o hugo ball, com um ar de seriedade "política" (risos), começa sua apresentação karawane, ou então, a coletânea de disparates que é ghosts before breakfast
http://www.openculture.com/2016/02/hear-the-experimental-music-of-the-dada-movement.html
Wittgenstein
4.1 39longe de ser uma biografia trivial ou apenas um retrato historiográfico... essa obra é uma composição de teatralidade e pomposidade; é realmente estiloso na representação das pessoalidades e nas idiossincrasias do querido ludwig
carrego meu tractatus debaixo do braço e nenhum mal poderá cair sobre minha pobre alma, no meu mundo não existem imprevisibilidades nem surpresas
Skylab IX - Ao Vivo
4.4 1NÃO! ANESTESIA NÃO!
AH, LÁ!
ELE TÁ COÇANDO O CU COM A MÃO!
DÁ UM BEIJO NA BOCA DELE!
POESIA É O CARALHO!
Por um Punhado de Dólares
4.2 421 Assista Agorasim, eu parti da musica do gorillaz anos atrás e hoje, num dia de muito calor, que lembra o clima desses desertos mexicanos de 1870, cheguei até essa preciosidade do genero western; preciso tirar o atrasado e me embrenhar na filmografia do eastwood
eastwood se filia ao piripero, um senhorzinho que fabrica caixões e que é a figuração da própria Morte; ele vende sua alma ao velho quieto, que o acompanha no acerto de contas final e observa a cena como uma força invisível, retirada do plano; o colete improvisado é a própria representação do assenhoramento do clint com sua finitude
Blow-Up: Depois Daquele Beijo
3.9 370 Assista Agoraalém da elegância visual e da bonita representação da fervura cultural dos anos sessenta, blow up é também um ensaio sobre as maneiras de se CAPTURAR a realidade; o crime, mero artificio ilustrativo, e as formas de se investigá-lo: a câmera, a lente OBJETIVA, o olhar frio do cientista...AMPLIA-SE a foto, mas o que se vê é só uma imagem mais opaca e menos nítida; ele mesmo, que depois, engavetando sua frieza matemática.. joga uma partida de tênis invisível; brinco de ver aí uma relação entre um olhar científico e outro artístico-imaginativo sobre o real; o primeiro um raciocínio plástico, desnaturalizado; o segundo um pensamento orgânico, inventivo; a hegemonia da racionalidade, por vezes, também é um não-ver.
Janela Indiscreta
4.3 1,2K Assista Agorahá uma certa beleza no ponto de vista, no olhar do voyeur através da janela; a estreiteza da perspectiva do espectador é uma janela grande que se abre para um largo universo de outras pequenas janelas-quadros... cada uma delas um retrato, recortes de vida
achei lindo demais a composição da vizinhança, certamente uma paisagem digna ao trabalho de um fotógrafo ocioso e curioso
O Mistério do Cesto
3.5 146 Assista Agorao trash existe porque o feio e o tosco também precisam de narrativas: basket case é um desses contos sobre o cuidadosamente malfeito e sobre toda a feiura que há; não é uma história nada suntuosa, nem uma grande epopeia... mesmo seu enredo é um retrato de sujeira e exagero real
hoje aprendi que não podemos brincar com lixo hospitalar
O Tornado Humano
3.2 10 Assista Agoracenas de luta ainda mais extravagantes e o sexo claramente mais kafkiano; declaro que a partir de hoje passarei a usar o melodioso insulto dolamiteano: "rat-soup-eatin, born-insecure"; a trasheira fica ainda melhor sabendo que o xerife é basicamente o karl marx só mais lesado
O Padrasto
3.4 84 Assista Agoraa sublime competência de um psicopata em conciliar uma porção de outras vidas e - esqueçamos de todo o ritualismo sádico e tirânico - acho bonita a estreiteza entre uma existência e outra, o vão que se abre naquele banheiro, por exemplo; o manusear desse tecido fino, e nunca de fato se fixar, sendo acossado outra vez pela antiga "liturgia" sangrenta