Bong sempre busca retratar em seus filmes as várias realidades de cada classe social, com problemas específicos que acabam dando sentido as ações moralmente questionáveis. O humor está sempre presente, porém aqui ele tem dificuldade de se estabelecer, pois mesmo caricata e precedida de um aviso no início do filme, a violência contra animais é naturalmente repulsiva. Indico para fãs do diretor, que podem ver aqui elementos que ele aperfeiçoou e utilizou em Okja e Parasita.
No início o filme mostra todo o processo caótico do diretor, suas crises e sua "personalidade difícil" e questiona a necessidade de um remake de um filme mudo que fascina justamente pelo tom criptico que adquiriu ao longo dos anos que acentuam sua aura surrealista. Além de atuar como análise/sátira do cinema francês, o filme também apresenta a ideia de uma musa, seja Musidora no clássico ou Maggie, onde todos projetam seus próprios desejos e anseios ignorando a pessoa por trás do traje negro. Assayas desenvolve a trajetória da protagonista de forma imprevisível e divertida, entregando um final fascinante, ainda que modesto. A cena onde Maggie se aventura pelo hotel encarnando a personagem é carregada de uma espécie de sensualidade criminosa e traz de volta a questão central que pode ser feita sobre tudo na vida: "Qual a motivação?" Só nos resta nos projetar na protagonista, como hipócritas egocêntricos que somos.
Wes Anderson se inspirou no editor da revista New Yorker e em seus repórteres para criar esse cativante filme que contém todos os elementos que os fãs adoram nos trabalhos do diretor, seja o enquadramento, a fotografia ou o elenco cheio de talentos queridos do público. A história é dividida em matérias da Crônica Francesa, que extrapolam seu objetivo inicial como partes de seções da publicação e mostram o amor por contar histórias, sejam elas sobre um tour pelo que a cidade tem de pior, uma tragédia que se torna arte, uma cobertura política que leva em conta as paixões envolvidas ou uma seção culinária transformada em cobertura criminal envolvendo a máfia. O ritmo acelerado, os elementos gráficos que remetem à publicações jornalísticas e especialmente as partes animadas, ajudam a dar uma identidade visual consistente à Crônica Francesa.
Um mistério no melhor estilo Agatha Christie, com vários personagens, cada qual com seu motivo para cometer o crime e um detetive excêntrico porém extremamente habilidoso. O humor presente durante todo o filme torna os desdobramentos absurdos da história aceitáveis e os absorve como parte fundamental para o desenvolvimento do final. O roteiro também inverte a ordem do estilo "quem matou?" ao revelar antecipadamente o autor do crime e desenvolver as consequências a partir do ponto de vista do culpado. Ótima opção para fãs de mistério e comédia.
Ao mesmo tempo que X possui todos os elementos de um slasher setentista clássico, prestando suas homenagens em diversas cenas, ele também brinca com alguns conceitos do terror, como a própria indústria cinematográfica que nivela o horror e a pornografia como arte profana. O uso da sexualidade reprimida como força motora que culmina em fúria homicida foi algo que me agradou e que rendeu as melhores cenas do filme. A fotografia é belíssima e junto com a trilha sonora de Tyler Bates e Chelsea Wolfe ajuda a nos transportar para o fim dos anos 70. O elenco é ótimo e o destaque vai para Mia Goth que interpreta dois papéis (irreconhecível em um deles) e se destaca em ambos. Com a prequela "Pearl" em pós produção, aguardo ansiosamente o novo trabalho de Ti West.
Linklater criou um misto de recordações nostálgicas da infância com uma trama fantástica onde a NASA recruta Stan para uma viagem secreta até a lua. A história consegue estabelecer bem o sentimento de crescer nos anos 60 e nos introduz na vida de Stan de forma muito envolvente, utilizando a trilha sonora, os diversos personagens e a narração de Jack Black que na minha opinião é a melhor parte do filme. O problema é que quando essa apresentação termina, talvez por evitar cruzar a linha da infância, voltamos à fantasia da viagem à lua, que não é bem desenvolvida e quebra o clímax do final. O principal trunfo do roteiro é mostrar como a infância é moldada pelo ambiente em que a criança está inserida, incluindo o contexto histórico e cultural.
Vinte e cinco anos após o massacre de Billy Loomis e Stu Macher, Woodsboro tem um novo ghostface. A metalinguagem que sempre foi marca da franquia está afiada nessa sequência, usando os filmes fictícios "Stab" para tecer comentários sobre o significados de sequencias de terror e suas consequências. Os roteiristas reconhecem que nada pode superar o original, então investem em uma relação de afeto em uma história paralela que homenageia as origens, sem perder a imprevisibilidade característica. Violento e divertido, esse novo capítulo consegue prestar sua homenagem a Wes Craven, que revolucionou o terror slasher com um filme que mora no meu coração desde os 11 anos.
Um thriller de tirar o fôlego, os irmãos Safdie introduzem os personagens e suas histórias em meio a diálogos apressados, conflitos e perseguições. Não há introdução moderada ou flashbacks informativos, a única pausa é quando o filme acaba. Connie é um personagem interessante, pois toma todas as decisões erradas e moralmente condenáveis, sem parar para se questionar se é o melhor para si ou seu irmão, movido por um instinto de sobrevivência criminoso. Cada erro seu é um deleite para o espectador, que vê a trama se complicando cada vez mais, tudo isso com a ótima trilha sonora eletrônica de Oneohtrix Point Never, acompanhando o ritmo frenético do roteiro. A imersão na história é garantida e a torcida pelo protagonista é inevitável.
Primeiramente devo deixar claro que já trago a bagagem de AMAR o musical "Rent", que conheci pelo filme de 2005 dirigido por Chris Columbus. Confesso que não sabia muito sobre a história de seu autor, Jonathan Larson. Aqui temos um auto-retrato musical, além de vermos sua vida como artista, também notamos como muitos dos temas presentes em Rent são coisas com as quais ele teve que lidar em sua vida pessoal, como o estilo de vida miserável porém feliz da classe artística amadora e a epidemia de HIV/Aids nos anos 80 e início dos 90. O elenco é muito talentoso e a história flui como o incrível show que ela é. Só me fez amar ainda mais Rent e tudo o que ele representou para esse grande compositor.
Satoshi Kon constrói desde o início uma personagem complexa. Sofrendo com o assédio da mídia e perseguida por um stalker, Mima fica confusa entre o que faz parte dos filmes que estrela e o que é sua vida real. Além de trazer temas como culto de celebridades, assédio e perseguição lá nos primórdios da internet, o filme é uma experiência sensorial absurda, somos manipulados diversas vezes com ficção dentro da ficção, isso torna as reviravoltas na história incríveis. A animação é por vezes tão angustiante e violenta que deixa para trás muitos filmes bons de suspense. O final tem um plot twist que é tanto uma solução quanto uma armadilha, afinal como podemos definir a realidade se a ilusão é tão perfeita?
Além de vermos o impacto da guerra na infância de Amin e como ela dividiu a família, também acompanhamos a luta da família para encontrar um lugar seguro e todo o impacto psicológico que a condição de refugiado impõe sobre Amin, que ainda tem que lidar com a pressão cultural de seu país natal sobre sua homossexualidade. O tema é pesado e é difícil segurar as lágrimas em boa parte do filme, mas a luta de Amin para encontrar seu lugar já com trinta anos e com um relacionamento estável dá um final agridoce apesar da dura realidade que sabemos atingir milhões de pessoas que podem até ser contadas mas nunca poderemos mensurar a imensidão da história de cada uma delas. O filme já fez história sendo o primeiro a ser indicado ao Oscar nas categorias, melhor documentário, animação e também filme estrangeiro. Merece o prêmio pelo tema infelizmente sempre relevante e urgente para abrir os olhos das pessoas para que os refugiados se tornem mais do que rostos vazios acumulados nas fronteiras.
Apesar da maioria das cenas do filme serem fictícias, no início o diretor já deixa claro se tratar de uma "fábula de uma tragédia real", vemos vários fatos já conhecidos pelo público, como a bulimia, o caso extraconjugal de Charles e as relações complexas de Diana com a família real e a obsessiva imprensa britânica. A fotografia nos transporta para o mundo de opulência da família real e a trilha sonora macula toda a beleza com um sentimento de isolamento e incômodo, que transforma o que seria um sonho em um opressivo pesadelo. A atuação de Kristen Stewart está perfeita, consegue nos passar não só a vulnerabilidade mas também o desespero de Diana para achar uma saída e sua própria felicidade. Um dos melhores filmes na seleção do Oscar, infelizmente só foi indicado na categoria de melhor atriz.
Com dezenas de adaptações ao longo dos anos, essa versão é absolutamente fantástica. A fotografia e os cenários minimalistas e as atuações tanto de Denzel Washington quanto de Frances McDormand ajudam a criar o clima de decadência moral e psicológica dos personagens. Kathryn Hunter, atriz britânica de 64 anos, rouba a cena interpretando as bruxas e mesclando o uso rítmico de suas falas com um fantástico trabalho corporal, o que não é surpresa pois ela tem décadas de trabalho no teatro. Merecia muito uma indicação ao Oscar, que infelizmente não veio.
O documentário aborda todos os aspectos da importância do festival, discutindo política, com o movimento dos direitos civis dos negros, passa pela história de inúmeros artistas como Stevie Wonder e Nina Simone e até a ascensão do afrocentrismo na moda da época, tudo se juntando na importância da expressão artística para refletir a história. Porém o foco principal do filme é questionar porque filmagens tão preciosas ficaram esquecidas em um porão por tanto tempo. Imperdível!
O filme é a biografia de Tammy Faye e seu marido Jim Bakker, ambos se tornaram os maiores televangelistas dos EUA nos anos 70 e 80 e após (veja que surpresa) escândalos de desvio de dinheiro e assédio sexual viram seu império multimilionário desmoronar. O filme é muito bom, Jéssica Chastain está tão boa que fica difícil enxergá-la por trás dos trejeitos e caracterização da personagem. A história é envolvente porém o foco excessivo no sofrimento de Faye e a suavização de tudo o que o casal fez é desconcertante. A apologia por vezes dramática demais é totalmente ineficaz, ou deveria ser, a todos os brasileiros, pois pessoas enriquecendo sugando até a medula dos ignorantes em nome de uma suposta divindade é real demais por aqui para atrair minha simpatia pela "inocente" Faye (porra ela é o RR Soares com cílios postiços) , apesar de nos fazer entender um pouco mais essa interessante personagem da cultura religiosa e midiática norte americana. Caso estivéssemos nos anos 90, o filme seria ousado e com certeza teria o destaque merecido.
O filme acompanha a vida de uma família, especialmente seu filho mais novo, na Irlanda do Norte nos anos 60. A vida deles é afetada pelos conflitos entre protestantes e católicos conhecidos como "The Troubles" que duraram 30 anos e só terminaram em 1998 com a assinatura do acordo de Belfast. Inspirado por lembranças da sua infância, o diretor consegue contar uma história pesada e triste pelo olhar de uma criança, o que dá um toque de humor mas torna as cenas mais tensas ainda mais angustiantes. Merece todas as indicações ao Oscar que teve, especialmente para as atuações de Judi Dench e Ciarán Hinds que interpretam os cativantes avós do garoto. Uma curiosidade interessante é que a música "Zombie" dos Cranberries é justamente sobre esses conflitos, a vocalista escreveu a canção quando recebeu a notícia sobre um atentado do IRA que matou duas crianças.
Chocante, com imagens do massacre ocorrido, aborda bem o descaso das autoridades que além de incapazes de evitar o confronto, transformaram a prisão em um campo de guerra. Importante para entender um dos inúmeros episódios que contribuíram para tornar o sistema policial norte americano o que é hoje.
Mais uma vez James Bond precisa arriscar sua vida se envolvendo em uma conspiração que pode destruir o mundo. A cena inicial mostra a maestria de Fukunaga em criar um clima de tensão macabro, algo que não é novidade para quem assistiu a série True Detective, que ele dirigiu em 2014. Esse é o primeiro filme do 007 que assisto, nunca entendi muito bem a fascinação pelo personagem, que sempre foi conhecido por ser invencível, sofisticado e cercado de mulheres e paisagens exóticas, não há pessoa viva que possa se identificar com o personagem. Porém percebi que o papel desse tipo de ficção é justamente esse, nos mostrar heróis invencíveis que nos façam esquecer por poucas horas o fracasso que somos na vida real. Me surpreendi com o filme, personagens interessantes, cenas de ação bem orquestradas e a história de Bond com Madeleine, apesar de ter alguns clichês é envolvente. Senti vontade de assistir os outros, pelo menos os protagonizado por Craig, não tenho pretensões de assistir mais 24 filmes. Sobre suas indicações ao Oscar, os efeitos visuais são ótimos e a música de Billie Eilish é muito boa, já é a sexta música presente nos filmes da série a ser indicada.
É impossível entender o impacto dos filmes Matrix se você não os assistiu na época. Quando assisti "Blade Runner", por exemplo, não achei nada demais, apesar das opiniões contrárias de milhares de fãs do clássico dos anos 80. Matrix reflete uma visão distópica de uma geração que ao mesmo tempo que ficava maravilhada com as possibilidades da internet, temia ser escravizada pela tecnologia. Como trazer uma sequência da história para um novo público que já não teme ser escravizado, mas está acostumado com isso? A primeira metade do filme faz piada com sua própria história e reinvenção. Porém somos surpreendidos com uma aventura sólida com todos os desdobramentos dos eventos de Matrix Revolutions. As relações entre humanos e máquinas também tem novas dinâmicas que refletem melhor os dias atuais.
Baseado no livro de Savannah Knoop, que passou seis anos de sua vida fingindo ser o escritor JT LeRoy, um personagem criado pela sua cunhada, Laura Albert. Ao emprestar seu corpo ao escritor/personagem, Savannah entrou em um universo de fama e um complexo triângulo amoroso entre sua versão de JT, o JT de Laura e "Eva", uma famosa atriz/diretora (versão cinematográfica da atriz Asia Argento, com o nome trocado para evitar processos). Mesmo com a história absurda que foi um grande escândalo na mídia, o filme foca na maneira como essa experiência afetou a vida de Savannah e Laura. Por isso o melhor são as atuações de Kristen Stewart e Laura Dern (que encarnou Albert nos mínimos detalhes). Albert nos ensina que a arte não deve se limitar por formas, gêneros ou até mesmo a realidade.
Inspirado pelo criador da cientologia, o diretor consegue mostrar com sutileza como o culto isola e anula os interesses de Freddie que são conflitantes com os da organização. A sexualidade é animalesca e serve como contraponto à fantasia religiosa de Lancaster. Este é um filme extremamente bem feito e muito depressivo. Percebemos que qualquer ideia ou crença parece boa se você estiver desesperado o suficiente.
Um misto de quebra de expectativa, horror corporal e desconforto, uma sinopse só estragaria a experiência. Titane pode ser um retrato sobre mentes perturbadas, uma ficção científica fetichista ou até mesmo um filme sobre o desejo de transcender nossa forma humana. A forma como os personagens abandonam o bom senso para atender aos seus impulsos desafia a moral e torna mais fácil nos identificarmos com eles. Apesar do constante desconforto que o filme causa (principalmente pela intenção da diretora de fazer um "body horror"), ele tem belas cenas e um desfecho que pode ser encarado como um distorcido final feliz. Afinal, a diferença entre um sonho e um pesadelo é o desejo de que ele se concretize.
Shyamalan é conhecido por sua criatividade e suas reviravoltas, nem sempre resultando em um bom filme. "Tempo" parte de uma ideia criativa, ao usar o tempo como vilão, além de cenários paradisíacos contrastando aos momentos sombrios. Porém a execução é péssima, não há uma cena onde o suspense não seja arruinado por clichês que o próprio diretor já usou em seus filmes. Já se passaram quase 20 anos desde o lançamento do excelente "Sinais", mas Shyamalan ainda tenta nos mostrar um suspense com crises familiares de pano de fundo. Chega a ser irônico o quanto o filme é "ultrapassado" .
Um épico intergaláctico baseado no livro de Frank Herbert, que inspirou inúmeros trabalhos de ficção científica, além da (péssima) adaptação de David Lynch e o (surreal) projeto cinematográfico arruinado de Jodorowsky. Sou suspeito para falar de Duna, pois tenho até uma tatuagem da pintura "Pirate Spaceship, spilling spice" de Chris Foss. Mas creio que Villeneuve conseguiu fazer uma adaptação impressionante, todos os elementos que fascinam no livro estão lá: o fanatismo religioso, a imensidão do universo controlado pelo império, os cultos obscuros e até mesmo um pouco da complicada política e história envolvidos no livro. Com uma história tão complexa e com um início tão obscuro, o diretor usa momentos de pura simbologia para evocar os mesmos sentimentos que o material original passa ao leitor. Aguardando ansiosamente a parte dois que promete ser ainda melhor!
Cão que Ladra não Morde
3.6 31Bong sempre busca retratar em seus filmes as várias realidades de cada classe social, com problemas específicos que acabam dando sentido as ações moralmente questionáveis.
O humor está sempre presente, porém aqui ele tem dificuldade de se estabelecer, pois mesmo caricata e precedida de um aviso no início do filme, a violência contra animais é naturalmente repulsiva.
Indico para fãs do diretor, que podem ver aqui elementos que ele aperfeiçoou e utilizou em Okja e Parasita.
Irma Vep
3.8 47No início o filme mostra todo o processo caótico do diretor, suas crises e sua "personalidade difícil" e questiona a necessidade de um remake de um filme mudo que fascina justamente pelo tom criptico que adquiriu ao longo dos anos que acentuam sua aura surrealista.
Além de atuar como análise/sátira do cinema francês, o filme também apresenta a ideia de uma musa, seja Musidora no clássico ou Maggie, onde todos projetam seus próprios desejos e anseios ignorando a pessoa por trás do traje negro.
Assayas desenvolve a trajetória da protagonista de forma imprevisível e divertida, entregando um final fascinante, ainda que modesto.
A cena onde Maggie se aventura pelo hotel encarnando a personagem é carregada de uma espécie de sensualidade criminosa e traz de volta a questão central que pode ser feita sobre tudo na vida: "Qual a motivação?"
Só nos resta nos projetar na protagonista, como hipócritas egocêntricos que somos.
A Crônica Francesa
3.5 287 Assista AgoraWes Anderson se inspirou no editor da revista New Yorker e em seus repórteres para criar esse cativante filme que contém todos os elementos que os fãs adoram nos trabalhos do diretor, seja o enquadramento, a fotografia ou o elenco cheio de talentos queridos do público.
A história é dividida em matérias da Crônica Francesa, que extrapolam seu objetivo inicial como partes de seções da publicação e mostram o amor por contar histórias, sejam elas sobre um tour pelo que a cidade tem de pior, uma tragédia que se torna arte, uma cobertura política que leva em conta as paixões envolvidas ou uma seção culinária transformada em cobertura criminal envolvendo a máfia.
O ritmo acelerado, os elementos gráficos que remetem à publicações jornalísticas e especialmente as partes animadas, ajudam a dar uma identidade visual consistente à Crônica Francesa.
Entre Facas e Segredos
4.0 1,5K Assista AgoraUm mistério no melhor estilo Agatha Christie, com vários personagens, cada qual com seu motivo para cometer o crime e um detetive excêntrico porém extremamente habilidoso.
O humor presente durante todo o filme torna os desdobramentos absurdos da história aceitáveis e os absorve como parte fundamental para o desenvolvimento do final.
O roteiro também inverte a ordem do estilo "quem matou?" ao revelar antecipadamente o autor do crime e desenvolver as consequências a partir do ponto de vista do culpado.
Ótima opção para fãs de mistério e comédia.
X: A Marca da Morte
3.4 1,2K Assista AgoraAo mesmo tempo que X possui todos os elementos de um slasher setentista clássico, prestando suas homenagens em diversas cenas, ele também brinca com alguns conceitos do terror, como a própria indústria cinematográfica que nivela o horror e a pornografia como arte profana.
O uso da sexualidade reprimida como força motora que culmina em fúria homicida foi algo que me agradou e que rendeu as melhores cenas do filme.
A fotografia é belíssima e junto com a trilha sonora de Tyler Bates e Chelsea Wolfe ajuda a nos transportar para o fim dos anos 70.
O elenco é ótimo e o destaque vai para Mia Goth que interpreta dois papéis (irreconhecível em um deles) e se destaca em ambos.
Com a prequela "Pearl" em pós produção, aguardo ansiosamente o novo trabalho de Ti West.
Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial
3.7 56 Assista AgoraLinklater criou um misto de recordações nostálgicas da infância com uma trama fantástica onde a NASA recruta Stan para uma viagem secreta até a lua.
A história consegue estabelecer bem o sentimento de crescer nos anos 60 e nos introduz na vida de Stan de forma muito envolvente, utilizando a trilha sonora, os diversos personagens e a narração de Jack Black que na minha opinião é a melhor parte do filme.
O problema é que quando essa apresentação termina, talvez por evitar cruzar a linha da infância, voltamos à fantasia da viagem à lua, que não é bem desenvolvida e quebra o clímax do final.
O principal trunfo do roteiro é mostrar como a infância é moldada pelo ambiente em que a criança está inserida, incluindo o contexto histórico e cultural.
Pânico
3.4 1,1K Assista AgoraVinte e cinco anos após o massacre de Billy Loomis e Stu Macher, Woodsboro tem um novo ghostface.
A metalinguagem que sempre foi marca da franquia está afiada nessa sequência, usando os filmes fictícios "Stab" para tecer comentários sobre o significados de sequencias de terror e suas consequências.
Os roteiristas reconhecem que nada pode superar o original, então investem em uma relação de afeto em uma história paralela que homenageia as origens, sem perder a imprevisibilidade característica.
Violento e divertido, esse novo capítulo consegue prestar sua homenagem a Wes Craven, que revolucionou o terror slasher com um filme que mora no meu coração desde os 11 anos.
Bom Comportamento
3.8 392Um thriller de tirar o fôlego, os irmãos Safdie introduzem os personagens e suas histórias em meio a diálogos apressados, conflitos e perseguições. Não há introdução moderada ou flashbacks informativos, a única pausa é quando o filme acaba.
Connie é um personagem interessante, pois toma todas as decisões erradas e moralmente condenáveis, sem parar para se questionar se é o melhor para si ou seu irmão, movido por um instinto de sobrevivência criminoso.
Cada erro seu é um deleite para o espectador, que vê a trama se complicando cada vez mais, tudo isso com a ótima trilha sonora eletrônica de Oneohtrix Point Never, acompanhando o ritmo frenético do roteiro. A imersão na história é garantida e a torcida pelo protagonista é inevitável.
tick, tick... BOOM!
3.8 450Primeiramente devo deixar claro que já trago a bagagem de AMAR o musical "Rent", que conheci pelo filme de 2005 dirigido por Chris Columbus. Confesso que não sabia muito sobre a história de seu autor, Jonathan Larson. Aqui temos um auto-retrato musical, além de vermos sua vida como artista, também notamos como muitos dos temas presentes em Rent são coisas com as quais ele teve que lidar em sua vida pessoal, como o estilo de vida miserável porém feliz da classe artística amadora e a epidemia de HIV/Aids nos anos 80 e início dos 90.
O elenco é muito talentoso e a história flui como o incrível show que ela é.
Só me fez amar ainda mais Rent e tudo o que ele representou para esse grande compositor.
Perfect Blue
4.3 815Satoshi Kon constrói desde o início uma personagem complexa. Sofrendo com o assédio da mídia e perseguida por um stalker, Mima fica confusa entre o que faz parte dos filmes que estrela e o que é sua vida real.
Além de trazer temas como culto de celebridades, assédio e perseguição lá nos primórdios da internet, o filme é uma experiência sensorial absurda, somos manipulados diversas vezes com ficção dentro da ficção, isso torna as reviravoltas na história incríveis. A animação é por vezes tão angustiante e violenta que deixa para trás muitos filmes bons de suspense.
O final tem um plot twist que é tanto uma solução quanto uma armadilha, afinal como podemos definir a realidade se a ilusão é tão perfeita?
Flee: Nenhum Lugar Para Chamar de Lar
4.3 129 Assista AgoraAlém de vermos o impacto da guerra na infância de Amin e como ela dividiu a família, também acompanhamos a luta da família para encontrar um lugar seguro e todo o impacto psicológico que a condição de refugiado impõe sobre Amin, que ainda tem que lidar com a pressão cultural de seu país natal sobre sua homossexualidade.
O tema é pesado e é difícil segurar as lágrimas em boa parte do filme, mas a luta de Amin para encontrar seu lugar já com trinta anos e com um relacionamento estável dá um final agridoce apesar da dura realidade que sabemos atingir milhões de pessoas que podem até ser contadas mas nunca poderemos mensurar a imensidão da história de cada uma delas.
O filme já fez história sendo o primeiro a ser indicado ao Oscar nas categorias, melhor documentário, animação e também filme estrangeiro. Merece o prêmio pelo tema infelizmente sempre relevante e urgente para abrir os olhos das pessoas para que os refugiados se tornem mais do que rostos vazios acumulados nas fronteiras.
Spencer
3.7 569 Assista AgoraApesar da maioria das cenas do filme serem fictícias, no início o diretor já deixa claro se tratar de uma "fábula de uma tragédia real", vemos vários fatos já conhecidos pelo público, como a bulimia, o caso extraconjugal de Charles e as relações complexas de Diana com a família real e a obsessiva imprensa britânica.
A fotografia nos transporta para o mundo de opulência da família real e a trilha sonora macula toda a beleza com um sentimento de isolamento e incômodo, que transforma o que seria um sonho em um opressivo pesadelo.
A atuação de Kristen Stewart está perfeita, consegue nos passar não só a vulnerabilidade mas também o desespero de Diana para achar uma saída e sua própria felicidade.
Um dos melhores filmes na seleção do Oscar, infelizmente só foi indicado na categoria de melhor atriz.
A Tragédia de Macbeth
3.7 191 Assista AgoraCom dezenas de adaptações ao longo dos anos, essa versão é absolutamente fantástica.
A fotografia e os cenários minimalistas e as atuações tanto de Denzel Washington quanto de Frances McDormand ajudam a criar o clima de decadência moral e psicológica dos personagens.
Kathryn Hunter, atriz britânica de 64 anos, rouba a cena interpretando as bruxas e mesclando o uso rítmico de suas falas com um fantástico trabalho corporal, o que não é surpresa pois ela tem décadas de trabalho no teatro. Merecia muito uma indicação ao Oscar, que infelizmente não veio.
Summer of Soul (...ou, Quando A Revolução Não Pôde Ser …
4.3 61 Assista AgoraO documentário aborda todos os aspectos da importância do festival, discutindo política, com o movimento dos direitos civis dos negros, passa pela história de inúmeros artistas como Stevie Wonder e Nina Simone e até a ascensão do afrocentrismo na moda da época, tudo se juntando na importância da expressão artística para refletir a história.
Porém o foco principal do filme é questionar porque filmagens tão preciosas ficaram esquecidas em um porão por tanto tempo. Imperdível!
Os Olhos de Tammy Faye
3.3 177 Assista AgoraO filme é a biografia de Tammy Faye e seu marido Jim Bakker, ambos se tornaram os maiores televangelistas dos EUA nos anos 70 e 80 e após (veja que surpresa) escândalos de desvio de dinheiro e assédio sexual viram seu império multimilionário desmoronar.
O filme é muito bom, Jéssica Chastain está tão boa que fica difícil enxergá-la por trás dos trejeitos e caracterização da personagem.
A história é envolvente porém o foco excessivo no sofrimento de Faye e a suavização de tudo o que o casal fez é desconcertante. A apologia por vezes dramática demais é totalmente ineficaz, ou deveria ser, a todos os brasileiros, pois pessoas enriquecendo sugando até a medula dos ignorantes em nome de uma suposta divindade é real demais por aqui para atrair minha simpatia pela "inocente" Faye (porra ela é o RR Soares com cílios postiços) , apesar de nos fazer entender um pouco mais essa interessante personagem da cultura religiosa e midiática norte americana.
Caso estivéssemos nos anos 90, o filme seria ousado e com certeza teria o destaque merecido.
Belfast
3.5 291 Assista AgoraO filme acompanha a vida de uma família, especialmente seu filho mais novo, na Irlanda do Norte nos anos 60.
A vida deles é afetada pelos conflitos entre protestantes e católicos conhecidos como "The Troubles" que duraram 30 anos e só terminaram em 1998 com a assinatura do acordo de Belfast.
Inspirado por lembranças da sua infância, o diretor consegue contar uma história pesada e triste pelo olhar de uma criança, o que dá um toque de humor mas torna as cenas mais tensas ainda mais angustiantes.
Merece todas as indicações ao Oscar que teve, especialmente para as atuações de Judi Dench e
Ciarán Hinds que interpretam os cativantes avós do garoto.
Uma curiosidade interessante é que a música "Zombie" dos Cranberries é justamente sobre esses conflitos, a vocalista escreveu a canção quando recebeu a notícia sobre um atentado do IRA que matou duas crianças.
Attica
3.5 23Chocante, com imagens do massacre ocorrido, aborda bem o descaso das autoridades que além de incapazes de evitar o confronto, transformaram a prisão em um campo de guerra.
Importante para entender um dos inúmeros episódios que contribuíram para tornar o sistema policial norte americano o que é hoje.
007: Sem Tempo para Morrer
3.6 564 Assista AgoraMais uma vez James Bond precisa arriscar sua vida se envolvendo em uma conspiração que pode destruir o mundo.
A cena inicial mostra a maestria de Fukunaga em criar um clima de tensão macabro, algo que não é novidade para quem assistiu a série True Detective, que ele dirigiu em 2014.
Esse é o primeiro filme do 007 que assisto, nunca entendi muito bem a fascinação pelo personagem, que sempre foi conhecido por ser invencível, sofisticado e cercado de mulheres e paisagens exóticas, não há pessoa viva que possa se identificar com o personagem. Porém percebi que o papel desse tipo de ficção é justamente esse, nos mostrar heróis invencíveis que nos façam esquecer por poucas horas o fracasso que somos na vida real.
Me surpreendi com o filme, personagens interessantes, cenas de ação bem orquestradas e a história de Bond com Madeleine, apesar de ter alguns clichês é envolvente.
Senti vontade de assistir os outros, pelo menos os protagonizado por Craig, não tenho pretensões de assistir mais 24 filmes.
Sobre suas indicações ao Oscar, os efeitos visuais são ótimos e a música de Billie Eilish é muito boa, já é a sexta música presente nos filmes da série a ser indicada.
Matrix Resurrections
2.8 1,3K Assista AgoraÉ impossível entender o impacto dos filmes Matrix se você não os assistiu na época. Quando assisti "Blade Runner", por exemplo, não achei nada demais, apesar das opiniões contrárias de milhares de fãs do clássico dos anos 80.
Matrix reflete uma visão distópica de uma geração que ao mesmo tempo que ficava maravilhada com as possibilidades da internet, temia ser escravizada pela tecnologia.
Como trazer uma sequência da história para um novo público que já não teme ser escravizado, mas está acostumado com isso?
A primeira metade do filme faz piada com sua própria história e reinvenção. Porém somos surpreendidos com uma aventura sólida com todos os desdobramentos dos eventos de Matrix Revolutions.
As relações entre humanos e máquinas também tem novas dinâmicas que refletem melhor os dias atuais.
JT Leroy - Escritor Fantasma
3.1 21 Assista AgoraBaseado no livro de Savannah Knoop, que passou seis anos de sua vida fingindo ser o escritor JT LeRoy, um personagem criado pela sua cunhada, Laura Albert.
Ao emprestar seu corpo ao escritor/personagem, Savannah entrou em um universo de fama e um complexo triângulo amoroso entre sua versão de JT, o JT de Laura e "Eva", uma famosa atriz/diretora (versão cinematográfica da atriz Asia Argento, com o nome trocado para evitar processos).
Mesmo com a história absurda que foi um grande escândalo na mídia, o filme foca na maneira como essa experiência afetou a vida de Savannah e Laura. Por isso o melhor são as atuações de Kristen Stewart e Laura Dern (que encarnou Albert nos mínimos detalhes).
Albert nos ensina que a arte não deve se limitar por formas, gêneros ou até mesmo a realidade.
O Mestre
3.7 1,0K Assista AgoraInspirado pelo criador da cientologia, o diretor consegue mostrar com sutileza como o culto isola e anula os interesses de Freddie que são conflitantes com os da organização. A sexualidade é animalesca e serve como contraponto à fantasia religiosa de Lancaster.
Este é um filme extremamente bem feito e muito depressivo. Percebemos que qualquer ideia ou crença parece boa se você estiver desesperado o suficiente.
Titane
3.5 390 Assista AgoraUm misto de quebra de expectativa, horror corporal e desconforto, uma sinopse só estragaria a experiência.
Titane pode ser um retrato sobre mentes perturbadas, uma ficção científica fetichista ou até mesmo um filme sobre o desejo de transcender nossa forma humana.
A forma como os personagens abandonam o bom senso para atender aos seus impulsos desafia a moral e torna mais fácil nos identificarmos com eles.
Apesar do constante desconforto que o filme causa (principalmente pela intenção da diretora de fazer um "body horror"), ele tem belas cenas e um desfecho que pode ser encarado como um distorcido final feliz. Afinal, a diferença entre um sonho e um pesadelo é o desejo de que ele se concretize.
Tempo
3.1 1,1K Assista AgoraShyamalan é conhecido por sua criatividade e suas reviravoltas, nem sempre resultando em um bom filme. "Tempo" parte de uma ideia criativa, ao usar o tempo como vilão, além de cenários paradisíacos contrastando aos momentos sombrios.
Porém a execução é péssima, não há uma cena onde o suspense não seja arruinado por clichês que o próprio diretor já usou em seus filmes.
Já se passaram quase 20 anos desde o lançamento do excelente "Sinais", mas Shyamalan ainda tenta nos mostrar um suspense com crises familiares de pano de fundo.
Chega a ser irônico o quanto o filme é "ultrapassado" .
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraUm épico intergaláctico baseado no livro de Frank Herbert, que inspirou inúmeros trabalhos de ficção científica, além da (péssima) adaptação de David Lynch e o (surreal) projeto cinematográfico arruinado de Jodorowsky.
Sou suspeito para falar de Duna, pois tenho até uma tatuagem da pintura "Pirate Spaceship, spilling spice" de Chris Foss. Mas creio que Villeneuve conseguiu fazer uma adaptação impressionante, todos os elementos que fascinam no livro estão lá: o fanatismo religioso, a imensidão do universo controlado pelo império, os cultos obscuros e até mesmo um pouco da complicada política e história envolvidos no livro.
Com uma história tão complexa e com um início tão obscuro, o diretor usa momentos de pura simbologia para evocar os mesmos sentimentos que o material original passa ao leitor.
Aguardando ansiosamente a parte dois que promete ser ainda melhor!