Um monstro emerge do rio Han em Seul e ataca todos em seu caminho. Hyung-Seo é levada pela criatura, então seu pai e outros membros de sua família iniciam uma busca para encontrá-la. O roteiro do filme é bem simples (não há grandes especulações sobre a origem do monstro) e conta até com muitos clichês (relação familiar disfuncional, por exemplo), mas é incrível como o filme evolui ao longo de suas duas horas. A empatia pelos integrantes da família de Hyung-Seo é construída lentamente, mostrando suas falhas e as relações entre eles usando uma enorme dose de humor. Humor que é muito bem usado durante todo o filme e torna a parte final ainda mais surpreendente e inesperada, pois é impossível para o espectador descobrir onde o clima engraçado deu lugar ao drama e horror. Além disso, o filme explora o papel e utilidade do governo em tempos de crise, cuja ineficácia no filme poderia ser considerada surreal, não fossem os vários exemplos reais que nos provam o contrário.
O filme retoma a história da vida de Jodorowsky de onde o filme “A Dança da Realidade” terminou. Deixando a pequena cidade de Tocopilla, Alejandro passa sua adolescência desejando tornar-se poeta. Já adulto, seu horizonte se expande quando ele entra em contato com a vida boêmia do Chile nos anos 40, onde conheceu os poetas Nicanor Parra, Stella Díaz Varín e Enrique Lihn. Junto com seu antecessor esse é o filme mais acessível do diretor, mas nem por isso deixa de flertar com o surrealismo e se inspirar no teatro e circo para criar um espetáculo visual e cheio de significados, que foge do cinema padrão. Jodorowsky, hoje com 88 anos, dialoga com sua versão mais jovem, guiando a si mesmo e ao espectador em uma viagem pela constante evolução de sua mente e seu coração. Isso torna “Poesia Sem Fim” um retrato muito pessoal do diretor, que acredita no poder que sua arte tem de curar, reinventando seu passado. As melhores cenas do filme envolvem seu pai e a reconciliação imaginária entre os dois. Se você ler o livro “A Dança da Realidade” (a autobiografia de Jodorowsky) verá que ele tem uma história de vida tão impressionante que renderia inúmeros filmes. “Poesia Sem Fim” teve a ajuda de fãs pelo site Kickstarter em seu financiamento e o resultado é tão belo que acredito que os apoiadores ajudariam em infinitas sequências, e o diretor, que tem tanta paixão por sua arte, entregaria filmes incríveis.
A nave colonizadora Covenant viaja para o planeta Origae-6, mas um acidente faz com que dezessete tripulantes acordem. Ao encontrarem um planeta próximo propício para colonização, eles decidem investigar, mas há um motivo para o planeta não estar na rota estabelecida pela corporação Weyland-Yutani. Covenant traz personagens reais e cheios de falhas. Pois uma tripulação treinada especialmente para colonizar um planeta com condições semelhantes as da Terra não está nem um pouco qualificada para enfrentar uma criatura extraterrestre desconhecida que é a mais mortal de toda a ficção científica. Quando eles encontram o xenomorfo, cometem equívocos que são resultado da ignorância sobre as características do inimigo e da eterna confiança na soberania da raça humana no universo. Os androides, que sempre foram um mistério em suas relações com a grande corporação Weyland-Yutani, desenvolvem toda uma camada filosófica, que contém a questão principal da série de filmes: “Quem criou os humanos/xenomorfos/engenheiros?”. Enquanto Prometheus foi sobre encontrar seu criador, Covenant é sobre se tornar o criador, com isso o filme cria conexões com o primeiro Alien, mostrando como se deu a evolução do xenomorfo como uma arma perfeita. O filme tem um bom ritmo e não se deixa apressar na hora de começar o terror, colocando a cena inicial de David conversando com Weyland, que ajuda a estabelecer o clima e dar significado a história, e também as cenas da tripulação, que ajudam a nos conectar com ela, que é composta em sua maioria por casais em busca de um novo lar. A trilha composta por Jed Kurzel ajuda a criar a atmosfera de ficção científica retrô com um toque perturbador. Quando a carnificina começa, a impotência dos humanos para lutar é óbvia e a única opção que resta é fugir. O único ponto negativo do filme é o salto temporal que ele dá em relação à Prometheus, um período de dez anos que daria um ótimo filme e poderia trazer explicações sobre a história dos Engenheiros. Mas todo bom suspense evita responder todas as perguntas, deixando a história sempre aberta para novas teorias e filmes.
Três garotas são sequestradas por um homem diagnosticado com vinte e três personalidades diferentes e devem lutar para escapar antes que uma perigosa vigésima quarta personalidade assuma o controle. A premissa do filme é ótima, tinha tudo para ser tenso e sombrio. Mas possui muitos problemas. Apesar de abordar toda a história de Casey, uma das jovens raptadas, a personagem permanece apática durante maior parte do filme, e apesar de justificada, essa apatia não contribui para tornar o filme mais interessante. A Dra. Fletcher é uma personagem pouco crível, afinal ela trata Kevin porém parece não se importar com o fato do mesmo não ter controle algum sobre seu corpo. Além disso seus discursos sobre as personalidades de Kevin são romantizados e delirantes. Como suspense o filme deixa muito a desejar, o excesso de cenas em outros ambientes prejudica a sensação de isolamento do cativeiro. As personalidades amigáveis de Kevin, apesar de mostrar o talento de McAvoy, contribuem para deixar a tensão acumulada somente para o final do filme. O único ponto forte, a atuação de McAvoy, podia ser mais aproveitada, afinal somente algumas de suas personalidades são mostradas e o foco continua sendo desviado para Casey e a Dra. Fletcher, com a única intenção de justificar as revelações nada surpreendentes do final. A referência presente sobre outro filme do diretor também foi aleatória, algo que somente será aproveitado pelos fãs do filme citado, não agregando nada de novo.
Em um futuro próximo, Logan se torna um foragido com Charles Xavier, mas sua tentativa de se esconder fracassa com a aparição de uma jovem mutante, perseguida por poderosos inimigos. Finalmente o X-Man mais famoso conseguiu o filme que merece. Em todos os outros filmes dos X-Men o maior problema é a tentativa de inserir inúmeros personagens conhecidos dos fãs, o que acaba tornando a maioria dos personagens rasos. Também temos cenas mirabolantes de ação que acabam prejudicando o andamento da história. Logan quebra essa limitação, com um número de personagens reduzido e focando nas personalidades e conflitos de cada um e com cenas de ação simples e violentas, que contribuem para demonstrar o temperamento problemático de Wolverine, essas cenas também estão bem distribuídas ao longo do filme o que abre espaço para diálogos e cenas com um significado mais profundo. Logan consegue ser épico e emocionar, sem se prender às fórmulas dos blockbusters de super-heróis, se tornando um filme bom mesmo fora desse universo.
O magizoologista Newt Scamander entra nos EUA com sua maleta cheia de criaturas mágicas que ele resgatou durante suas viagens. Obviamente é complicado lançar um filme sobre um universo tão venerado como o de Harry Potter, e mesmo assim criar um trabalho independente que possa ser apreciado individualmente. J.K. Rowling e David Yates conseguem fazer isso com perfeição, criando ótimos personagens, uma história principal emocionante, dando detalhes que os fãs dos livros vão se lembrar durante a história e ainda criando um plano de fundo para os próximos filmes, que prometem ser ainda melhores. O único defeito do filme foi não abordar mais o passado de Scamander, mas o roteiro compensa com o personagem Kowalski, que parece ser uma homenagem a todos os fãs trouxas de J.K. Rowling e que muitas vezes rouba a cena no filme junto com a bruxa Queenie.
O filme acompanha Ranaa e Emad, forçados a deixar o lugar onde vivem, pois ele pode desmoronar a qualquer momento, eles se mudam para o apartamento de uma mulher que tinha “má reputação” e um incidente violento contra Ranaa ameaça o relacionamento do casal. O filme tem atuações sólidas e uma trama bem construída, com detalhes que o relacionam a peça “Morte de um Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller, mantendo a história interessante. A sensação de perigo iminente é muito bem construída logo no começo do filme, na cena em que eles deixam seu antigo apartamento, e ainda mais na cena em que Ranaa é atacada, mesmo sendo apenas sugerida, a imagem da porta aberta e da personagem indo tomar banho criam um sentimento de vulnerabilidade poderoso. Porém no final o filme é pouco pretensioso, apesar de ser um drama forte, eu esperava uma mensagem mais concisa sobre o comportamento de Ranaa, afinal o Irã é um país onde perante a lei, a palavra de uma mulher vale metade da palavra de um homem. As sugestões de estupro e do conflito interno da personagem estão por toda a parte, mas parece uma mensagem tão subliminar que você se pergunta se foi genial ou covarde passá-la de forma tão camuflada.
Courgette é um menino de nove anos. Após problemas com sua mãe, ele é levado para um lar temporário cheio de órfãos de sua idade. Tentando se adaptar ao ambiente estranho e às vezes hostil. Courgette faz novos amigos e aprende sobre o amor. Uma animação lindíssima, que mostra temas pesados como solidão, violência doméstica e abandono infantil, mas que os trata de maneira leve, deixando a reflexão para momentos cheios de significados, onde não é preciso uma palavra dos personagens para você entender e se identificar com os conflitos pelos quais cada um deles passa. O humor também é ótimo, em grande parte devido à inocência e excentricidade das crianças. Os personagens são cativantes e cada um possui uma personalidade única, que conhecemos através de seu passado e até mesmo de seus traços físicos e de seus objetos pessoais, é impressionante a atenção que foi dada aos detalhes, que tornam a história coesa. Difícil não se apaixonar por um filme tão excêntrico e tocante como esse.
Contando uma história real e estrelado pela tribo Yakel, o filme acompanha Wawa, uma jovem mulher que se apaixona por Dain, mas circunstâncias envolvendo tradições da tribo proíbem o relacionamento. O filme mostra com riqueza a simplicidade e sabedoria da cultura da tribo Yakel, incluindo suas belas canções, tudo isso faz você se conectar com Wawa, uma garota simples com sonhos modestos, que só quer viver em paz com Dain. No meio do filme é abordado o lado inverso da cultura Yakel, que usa casamentos arranjados como moeda de troca para resolver as desavenças com outras tribos. O filme tem momentos tristes e angustiantes que não ficam devendo nada aos maiores suspenses hollywoodianos. Ele aborda como devemos proteger a cultura, mas sempre revendo seus conceitos que não são justos e aplicáveis na vida moderna, não devemos segui-los cegamente só porque é o hábito de um povo. Se uma pequena tribo da ilha de Tanna, que leva uma vida relativamente primitiva consegue rever suas tradições, o que impede que o resto do mundo faça o mesmo?
Winfried, um homem com senso de humor peculiar, tenta se reconectar com sua filha, a viciada em trabalho Ines, para isso ele invade a vida dela, criando situações constrangedoras. O filme explora o abismo que existe entre Winfried e Ines, com cenas desconfortáveis desde o início. Ele tenta se aproximar da filha porque se preocupa se, em sua busca pela ascensão em sua carreira, ela está se esquecendo de viver. Alfinetadas são trocadas nas entrelinhas todo o tempo. A diretora explora o constrangimento que às vezes sentimos perto de nossa família, um sentimento infantil de que ela nos envergonhe, talvez porque isso crie um conflito entre quem somos e quem fingimos ser. Seu pai, usando seu humor como arma, cria um alter ego com o qual provoca e ironiza as atitudes de sua filha, tentando fazê-la parar para reavaliar suas prioridades. O filme é longo e lento, mas a diretora, que gravou mais de cento e vinte horas de filme e passou um ano editando, provavelmente o queria assim, interessante, porém incômodo, algo que nos obrigue a refletir sobre o quanto sacrificamos de nossa vida para atingir um objetivo.
Essa animação mostra a vida de um náufrago em ilha tropical habitada por pássaros, caranguejos e tartarugas. Produzido pelo estúdio Ghibli, responsável por “A Viagem de Chihiro”, “A Tartaruga Vermelha” é um filme sem diálogos, com belas imagens e um tom poético. Ele ilustra o papel do ser humano na natureza, mostrando sempre a fragilidade de um minúsculo ser humano diante de uma imponente paisagem. Ele requer uma interpretação que vá além do literal e evoca sentimentos de alegria, tristeza e culpa diante da vida e morte, tudo mostrado de forma elegante e sutil. Conseguir transmitir tantos significados sem usar nenhum diálogo torna esse filme uma obra de arte.
Baseado na história real de um grupo de soldados contratados para proteger uma base secreta da CIA em Benghazi, na Líbia. O filme acompanha a luta deles para resgatar o embaixador americano após um ataque à base em setembro de 2012. O filme não tem uma ideia central, ele inicia tentando mostrar o drama pessoal dos soldados, depois tenta explicar a situação na Líbia, dizendo que os rebeldes conseguiram armas dos depósitos do ditador Muammar Al-Gaddafi, evitando mencionar os armamentos fornecidos pelos EUA que acabaram com o Estado Islâmico. Por fim ainda mostra o governo e a CIA como carrascos que dificultam a vida dos soldados e hesitam em mandar ajuda. Mas ele não leva nenhuma dessas discussões adiante. Assim que os tiros começam a única mensagem que o filme consegue passar é a de que os EUA não faziam a menor ideia do que estavam fazendo na Líbia. As cenas de ação são tão rápidas que parecem um jogo de vídeo game, onde hordas de inimigos aparecem para serem eliminadas, o que torna as duas horas e meia do filme muito cansativas. Então, quase no final o filme tenta emocionar o espectador, e falha miseravelmente, cortando as cenas de ação de forma abrupta para tentar alcançar alguma catarse com diálogos mal escritos e péssimas atuações.
Após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, um grupo de jovens soldados sapadores alemães é forçado a trabalhar nas praias da Dinamarca removendo minas terrestres. É admirável quando um diretor decide retratar os horrores cometidos por seu próprio país em tempos de guerra. A maioria dos filmes que se dizem realistas, como por exemplo “Até o Último Homem” tem a tendência de vangloriar os feitos de seu povo, minimizando as controvérsias. Em “Terra de Minas”, Martin Zandvliet não tem medo de mostrar um dos piores crimes de guerra cometidos pela Dinamarca, a uso de adolescentes como prisioneiros. A história é triste e perturbadora. Com a justificativa de que os garotos seriam nazistas, eles são submetidos a vários maus tratos, inanição e recebem uma vaga promessa de que retornarão para a Alemanha após retirarem todas as minas da praia, algo praticamente impossível de acontecer. O filme traz uma reflexão sobre como o ser humano tende a justificar seus atos de violência e sobre a importância dos direitos humanos, como garantia de julgamento e punições justas, e não um show de horrores produzido por uma população enfurecida. Um drama impactante e comovente que, com certeza, não é para qualquer um.
O filme conta a história real do desastre na estação “Deepwater Horizon”, que causou o maior vazamento de óleo na história dos EUA e matou onze pessoas. Como o filme retrata fatos, a história é bem sólida e interessante, com alguns detalhes da vida pessoal de alguns personagens para cativar o espectador. Mas o destaque fica por conta de sua grandiosidade e pela atenção aos detalhes, com uma explicação, mesmo que superficial, sobre os detalhes técnicos envolvendo o acidente e com incríveis efeitos visuais que recriaram o terror que os trabalhadores tiveram que enfrentar para escapar com vida. Também é explorado como grandes corporações lidam em situações que há um impasse entre risco versus lucro. Um dos maiores defeitos do filme é que ele foca demais no acidente, e as consequências que se seguiram são mostradas em menos de três minutos, o que me fez questionar se o filme vai além do interesse mórbido por um terrível acidente.
Um garoto chamado Kubo deve encontrar uma armadura mágica que pertenceu a seu falecido pai para derrotar espíritos que o perseguem em busca de vingança. A história é épica, Kubo encara uma jornada para se tornar um herói e conta com a ajuda de Macaca e do Besouro, que são responsáveis pelo humor do filme, ajudando a balancear os momentos mais tristes da história. Visualmente o filme é incrível, o estúdio Laika, que produziu o filme, utilizou stop-motion, CGI e impressoras 3D misturando técnicas novas e antigas criando belas imagens. As cenas com origamis são incríveis. A trilha sonora de Dario Marianelli representa a cultura oriental perfeitamente, afinal é uma parte importante do filme, pois Kubo usa um shamisen, instrumento de três cordas japonês, para canalizar sua magia. O filme concorre ao Oscar nas categorias de melhor animação e melhores efeitos visuais (a segunda animação na história do Oscar a ser indicada nessa categoria).
A imensa nave espacial Avalon viaja para um planeta distante com cinco mil pessoas em hibernação, numa viagem que durará cento e vinte anos. Meteoros atingem a nave e causam seu mau funcionamento, o que leva dois passageiros a acordarem noventa anos antes da chegada. Eu estava meio apreensivo com esse filme, pois gosto de ficção científica e ele foi divulgado mais como um romance. Mas não foi tão ruim quanto eu esperava. O roteiro tem sim muitos erros, tanto científicos quanto de puro pensamento lógico, por exemplo, é absurdo colocar tantas pessoas em uma nave para dormir por cento e vinte anos sem supervisão humana, principalmente com a inteligência artificial falha retratada aqui. Isso torna toda a situação em que os personagens se encontram improvável. Os acertos do filme foram explorar o drama de Jim sozinho no começo, uma das melhores partes do filme. Toda a parte visual é muito boa, a nave é impressionante e os efeitos são ótimos. A trilha sonora composta por Thomas Newman, misturando piano e orquestra com sintetizadores ajuda a construir o clima do filme. Se você ignorar os problemas no roteiro ele é um filme divertido e pode trazer novos fãs para o gênero da ficção científica, mas se não conseguir relevá-los, mantenha distância desse filme, pois eles são muitos.
Este documentário faz uma análise profunda do sistema prisional americano até as suas raízes, revelando o papel da desigualdade racial no país que mais prende no mundo. O destaque é o grande número de especialistas que foram entrevistados, a diretora não busca somente mostrar os fatos, mas também trazer evidências e analisar a questão do racismo nos EUA. E consegue com êxito dar uma aula de história, mostrando como a escravidão foi substituída pelas Leis segregacionistas e como uma brecha na 13° emenda possibilitou que o encarceramento em massa se tornasse uma atividade econômica. Com um discurso conciso e repleto de informações, esse documentário é obrigatório para qualquer um que tente esboçar algum comentário sobre o sistema judiciário, seja o americano ou até mesmo o brasileiro (afinal alguns já pedem a total privatização do sistema penitenciário por aqui). E a mensagem mais importante que o documentário passa é de que a luta nunca termina, as classes dominantes sempre vão tentar achar novas formas de oprimir, por isso devemos estar sempre atentos. A América que atualmente idolatra filmes como “La La Land: Cantando Estações”, precisa assistir filmes como “A 13° Emenda”.
Este documentário mostra a história de Owen Suskind, um jovem autista que aprendeu a se comunicar com sua família usando sua maior paixão, os filmes animados da Disney. Ele aborda bem as dificuldades que a família enfrentou quando receberam o diagnóstico nos anos 90, os anseios e a preocupação com o bem-estar e a autonomia do filho são mostrados em relatos emocionantes dos pais e do irmão de Owen. Também vemos o poder que qualquer forma de arte tem em ajudar as pessoas a comunicar seus sentimentos, no caso de Owen ele expressa suas emoções por uma história criada por ele usando os personagens da Disney, ela é mostrada em cenas animadas que são comoventes e ajudam a entender a personalidade dele. O único ponto negativo é que ele aborda somente o aspecto social do autismo, e não informa muito sobre a condição em si.
A história mostra o piloto Chelsey Sullenberger, que se tornou um herói ao pousar um avião danificado no rio Hudson, salvando a vida dos passageiros. Ignorando as declarações controversas, Clint Eastwood ainda consegue realizar um despretensioso porém bom filme, em grande parte porque ele escolhe bem quais roteiros dirigir. Foi assim com todos os seus filmes, esse não foge à regra, o roteiro é de Todd Komarnicki e foi adaptado do livro que conta a história real de Chelsey. A história em si já é impressionante, e Eastwood consegue manter o ritmo do filme mostrando o clímax, que é o pouso do avião, em cenas intercaladas, o que mantém o interesse do espectador até o final. Tom Hanks faz um bom trabalho e dá credibilidade à história em um nível mais pessoal, mostrando o estado inquieto de Sully diante da situação e das consequências do incidente. Mesmo não sendo um drama profundo, é uma boa opção de entretenimento.
O filme acompanha a história de três mulheres e suas vidas no sul da Califórnia no fim dos anos 70. Desde 2005, quando Mike Mills dirigiu uma adaptação do livro “Impulsividade”, sobre um garoto que lida com sua adolescência e com o vício de chupar seu polegar, ficou claro que ele tinha uma habilidade especial ao retratar personagens interessantes e imperfeitos, cativantes e ao mesmo tempo frustrantes. “Mulheres do Século XX” traz seu roteiro original, onde ele mostra que evoluiu muito, criando personagens únicos, imersos em conflitos, tentando se relacionar e descobrir como conviver sendo sinceros sobre suas personalidades e intenções. O diretor baseou os personagens em pessoas reais e próximas, segundo ele “mulheres que o ajudaram e ao mesmo tempo o confundiram em sua vida”. Annette Bening entrega uma atuação que merecia uma indicação ao Oscar, interpretando Dorothea, personagem baseada na mãe do diretor, uma mulher cheia de contradições, que ao mesmo tempo em que quer se comunicar com o filho, cria barreiras a fim de evitar uma comunicação direta. Com um elenco ótimo, personagens bem desenvolvidos, diálogos incríveis, momentos divertidos e de reflexão sobre relacionamentos esse filme é um daqueles que fez você refletir sobre suas próprias ações e os personagens ficam na sua cabeça por muito tempo depois dos créditos.
O Hospedeiro
3.6 550 Assista AgoraUm monstro emerge do rio Han em Seul e ataca todos em seu caminho. Hyung-Seo é levada pela criatura, então seu pai e outros membros de sua família iniciam uma busca para encontrá-la.
O roteiro do filme é bem simples (não há grandes especulações sobre a origem do monstro) e conta até com muitos clichês (relação familiar disfuncional, por exemplo), mas é incrível como o filme evolui ao longo de suas duas horas.
A empatia pelos integrantes da família de Hyung-Seo é construída lentamente, mostrando suas falhas e as relações entre eles usando uma enorme dose de humor. Humor que é muito bem usado durante todo o filme e torna a parte final ainda mais surpreendente e inesperada, pois é impossível para o espectador descobrir onde o clima engraçado deu lugar ao drama e horror.
Além disso, o filme explora o papel e utilidade do governo em tempos de crise, cuja ineficácia no filme poderia ser considerada surreal, não fossem os vários exemplos reais que nos provam o contrário.
Poesia Sem Fim
4.3 89O filme retoma a história da vida de Jodorowsky de onde o filme “A Dança da Realidade” terminou. Deixando a pequena cidade de Tocopilla, Alejandro passa sua adolescência desejando tornar-se poeta. Já adulto, seu horizonte se expande quando ele entra em contato com a vida boêmia do Chile nos anos 40, onde conheceu os poetas Nicanor Parra, Stella Díaz Varín e Enrique Lihn.
Junto com seu antecessor esse é o filme mais acessível do diretor, mas nem por isso deixa de flertar com o surrealismo e se inspirar no teatro e circo para criar um espetáculo visual e cheio de significados, que foge do cinema padrão.
Jodorowsky, hoje com 88 anos, dialoga com sua versão mais jovem, guiando a si mesmo e ao espectador em uma viagem pela constante evolução de sua mente e seu coração. Isso torna “Poesia Sem Fim” um retrato muito pessoal do diretor, que acredita no poder que sua arte tem de curar, reinventando seu passado. As melhores cenas do filme envolvem seu pai e a reconciliação imaginária entre os dois.
Se você ler o livro “A Dança da Realidade” (a autobiografia de Jodorowsky) verá que ele tem uma história de vida tão impressionante que renderia inúmeros filmes. “Poesia Sem Fim” teve a ajuda de fãs pelo site Kickstarter em seu financiamento e o resultado é tão belo que acredito que os apoiadores ajudariam em infinitas sequências, e o diretor, que tem tanta paixão por sua arte, entregaria filmes incríveis.
Alien: Covenant
3.0 1,2K Assista AgoraA nave colonizadora Covenant viaja para o planeta Origae-6, mas um acidente faz com que dezessete tripulantes acordem. Ao encontrarem um planeta próximo propício para colonização, eles decidem investigar, mas há um motivo para o planeta não estar na rota estabelecida pela corporação Weyland-Yutani.
Covenant traz personagens reais e cheios de falhas. Pois uma tripulação treinada especialmente para colonizar um planeta com condições semelhantes as da Terra não está nem um pouco qualificada para enfrentar uma criatura extraterrestre desconhecida que é a mais mortal de toda a ficção científica. Quando eles encontram o xenomorfo, cometem equívocos que são resultado da ignorância sobre as características do inimigo e da eterna confiança na soberania da raça humana no universo.
Os androides, que sempre foram um mistério em suas relações com a grande corporação Weyland-Yutani, desenvolvem toda uma camada filosófica, que contém a questão principal da série de filmes: “Quem criou os humanos/xenomorfos/engenheiros?”. Enquanto Prometheus foi sobre encontrar seu criador, Covenant é sobre se tornar o criador, com isso o filme cria conexões com o primeiro Alien, mostrando como se deu a evolução do xenomorfo como uma arma perfeita.
O filme tem um bom ritmo e não se deixa apressar na hora de começar o terror, colocando a cena inicial de David conversando com Weyland, que ajuda a estabelecer o clima e dar significado a história, e também as cenas da tripulação, que ajudam a nos conectar com ela, que é composta em sua maioria por casais em busca de um novo lar. A trilha composta por Jed Kurzel ajuda a criar a atmosfera de ficção científica retrô com um toque perturbador. Quando a carnificina começa, a impotência dos humanos para lutar é óbvia e a única opção que resta é fugir.
O único ponto negativo do filme é o salto temporal que ele dá em relação à Prometheus, um período de dez anos que daria um ótimo filme e poderia trazer explicações sobre a história dos Engenheiros. Mas todo bom suspense evita responder todas as perguntas, deixando a história sempre aberta para novas teorias e filmes.
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraTrês garotas são sequestradas por um homem diagnosticado com vinte e três personalidades diferentes e devem lutar para escapar antes que uma perigosa vigésima quarta personalidade assuma o controle.
A premissa do filme é ótima, tinha tudo para ser tenso e sombrio. Mas possui muitos problemas.
Apesar de abordar toda a história de Casey, uma das jovens raptadas, a personagem permanece apática durante maior parte do filme, e apesar de justificada, essa apatia não contribui para tornar o filme mais interessante.
A Dra. Fletcher é uma personagem pouco crível, afinal ela trata Kevin porém parece não se importar com o fato do mesmo não ter controle algum sobre seu corpo. Além disso seus discursos sobre as personalidades de Kevin são romantizados e delirantes.
Como suspense o filme deixa muito a desejar, o excesso de cenas em outros ambientes prejudica a sensação de isolamento do cativeiro.
As personalidades amigáveis de Kevin, apesar de mostrar o talento de McAvoy, contribuem para deixar a tensão acumulada somente para o final do filme.
O único ponto forte, a atuação de McAvoy, podia ser mais aproveitada, afinal somente algumas de suas personalidades são mostradas e o foco continua sendo desviado para Casey e a Dra. Fletcher, com a única intenção de justificar as revelações nada surpreendentes do final.
A referência presente sobre outro filme do diretor também foi aleatória, algo que somente será aproveitado pelos fãs do filme citado, não agregando nada de novo.
Veludo Azul
3.9 776 Assista AgoraFiz um vídeo sobre esse filme para o meu canal no Youtube!
https://www.youtube.com/edit?o=U&video_id=3fBG9a_me7I
Santa Sangre
4.2 150Fiz um vídeo sobre esse filme para o meu canal no Youtube. Caso interesse, agradeço a visita!
https://www.youtube.com/watch?v=KrJu2l5C43I
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraEm um futuro próximo, Logan se torna um foragido com Charles Xavier, mas sua tentativa de se esconder fracassa com a aparição de uma jovem mutante, perseguida por poderosos inimigos.
Finalmente o X-Man mais famoso conseguiu o filme que merece. Em todos os outros filmes dos X-Men o maior problema é a tentativa de inserir inúmeros personagens conhecidos dos fãs, o que acaba tornando a maioria dos personagens rasos. Também temos cenas mirabolantes de ação que acabam prejudicando o andamento da história.
Logan quebra essa limitação, com um número de personagens reduzido e focando nas personalidades e conflitos de cada um e com cenas de ação simples e violentas, que contribuem para demonstrar o temperamento problemático de Wolverine, essas cenas também estão bem distribuídas ao longo do filme o que abre espaço para diálogos e cenas com um significado mais profundo.
Logan consegue ser épico e emocionar, sem se prender às fórmulas dos blockbusters de super-heróis, se tornando um filme bom mesmo fora desse universo.
Animais Fantásticos e Onde Habitam
4.0 2,2K Assista AgoraO magizoologista Newt Scamander entra nos EUA com sua maleta cheia de criaturas mágicas que ele resgatou durante suas viagens.
Obviamente é complicado lançar um filme sobre um universo tão venerado como o de Harry Potter, e mesmo assim criar um trabalho independente que possa ser apreciado individualmente.
J.K. Rowling e David Yates conseguem fazer isso com perfeição, criando ótimos personagens, uma história principal emocionante, dando detalhes que os fãs dos livros vão se lembrar durante a história e ainda criando um plano de fundo para os próximos filmes, que prometem ser ainda melhores.
O único defeito do filme foi não abordar mais o passado de Scamander, mas o roteiro compensa com o personagem Kowalski, que parece ser uma homenagem a todos os fãs trouxas de J.K. Rowling e que muitas vezes rouba a cena no filme junto com a bruxa Queenie.
Ninfomaníaca: Volume 2
3.6 1,6K Assista AgoraNo meu canal do Youtube tem um vídeo sobre esse filme:
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=WncFiaZjFK8
Ninfomaníaca: Volume 1
3.7 2,7K Assista AgoraFiz um vídeo sobre esse filme no meu canal do Youtube.
https://www.youtube.com/watch?v=WncFiaZjFK8
O Apartamento
3.9 258 Assista AgoraO filme acompanha Ranaa e Emad, forçados a deixar o lugar onde vivem, pois ele pode desmoronar a qualquer momento, eles se mudam para o apartamento de uma mulher que tinha “má reputação” e um incidente violento contra Ranaa ameaça o relacionamento do casal.
O filme tem atuações sólidas e uma trama bem construída, com detalhes que o relacionam a peça “Morte de um Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller, mantendo a história interessante. A sensação de perigo iminente é muito bem construída logo no começo do filme, na cena em que eles deixam seu antigo apartamento, e ainda mais na cena em que Ranaa é atacada, mesmo sendo apenas sugerida, a imagem da porta aberta e da personagem indo tomar banho criam um sentimento de vulnerabilidade poderoso.
Porém no final o filme é pouco pretensioso, apesar de ser um drama forte, eu esperava uma mensagem mais concisa sobre o comportamento de Ranaa, afinal o Irã é um país onde perante a lei, a palavra de uma mulher vale metade da palavra de um homem. As sugestões de estupro e do conflito interno da personagem estão por toda a parte, mas parece uma mensagem tão subliminar que você se pergunta se foi genial ou covarde passá-la de forma tão camuflada.
Minha Vida de Abobrinha
4.2 287 Assista AgoraCourgette é um menino de nove anos. Após problemas com sua mãe, ele é levado para um lar temporário cheio de órfãos de sua idade. Tentando se adaptar ao ambiente estranho e às vezes hostil. Courgette faz novos amigos e aprende sobre o amor.
Uma animação lindíssima, que mostra temas pesados como solidão, violência doméstica e abandono infantil, mas que os trata de maneira leve, deixando a reflexão para momentos cheios de significados, onde não é preciso uma palavra dos personagens para você entender e se identificar com os conflitos pelos quais cada um deles passa.
O humor também é ótimo, em grande parte devido à inocência e excentricidade das crianças.
Os personagens são cativantes e cada um possui uma personalidade única, que conhecemos através de seu passado e até mesmo de seus traços físicos e de seus objetos pessoais, é impressionante a atenção que foi dada aos detalhes, que tornam a história coesa.
Difícil não se apaixonar por um filme tão excêntrico e tocante como esse.
Tanna
3.3 73 Assista AgoraContando uma história real e estrelado pela tribo Yakel, o filme acompanha Wawa, uma jovem mulher que se apaixona por Dain, mas circunstâncias envolvendo tradições da tribo proíbem o relacionamento.
O filme mostra com riqueza a simplicidade e sabedoria da cultura da tribo Yakel, incluindo suas belas canções, tudo isso faz você se conectar com Wawa, uma garota simples com sonhos modestos, que só quer viver em paz com Dain.
No meio do filme é abordado o lado inverso da cultura Yakel, que usa casamentos arranjados como moeda de troca para resolver as desavenças com outras tribos. O filme tem momentos tristes e angustiantes que não ficam devendo nada aos maiores suspenses hollywoodianos.
Ele aborda como devemos proteger a cultura, mas sempre revendo seus conceitos que não são justos e aplicáveis na vida moderna, não devemos segui-los cegamente só porque é o hábito de um povo. Se uma pequena tribo da ilha de Tanna, que leva uma vida relativamente primitiva consegue rever suas tradições, o que impede que o resto do mundo faça o mesmo?
As Faces de Toni Erdmann
3.8 257 Assista AgoraWinfried, um homem com senso de humor peculiar, tenta se reconectar com sua filha, a viciada em trabalho Ines, para isso ele invade a vida dela, criando situações constrangedoras.
O filme explora o abismo que existe entre Winfried e Ines, com cenas desconfortáveis desde o início. Ele tenta se aproximar da filha porque se preocupa se, em sua busca pela ascensão em sua carreira, ela está se esquecendo de viver. Alfinetadas são trocadas nas entrelinhas todo o tempo. A diretora explora o constrangimento que às vezes sentimos perto de nossa família, um sentimento infantil de que ela nos envergonhe, talvez porque isso crie um conflito entre quem somos e quem fingimos ser.
Seu pai, usando seu humor como arma, cria um alter ego com o qual provoca e ironiza as atitudes de sua filha, tentando fazê-la parar para reavaliar suas prioridades.
O filme é longo e lento, mas a diretora, que gravou mais de cento e vinte horas de filme e passou um ano editando, provavelmente o queria assim, interessante, porém incômodo, algo que nos obrigue a refletir sobre o quanto sacrificamos de nossa vida para atingir um objetivo.
A Tartaruga Vermelha
4.1 392 Assista AgoraEssa animação mostra a vida de um náufrago em ilha tropical habitada por pássaros, caranguejos e tartarugas.
Produzido pelo estúdio Ghibli, responsável por “A Viagem de Chihiro”, “A Tartaruga Vermelha” é um filme sem diálogos, com belas imagens e um tom poético.
Ele ilustra o papel do ser humano na natureza, mostrando sempre a fragilidade de um minúsculo ser humano diante de uma imponente paisagem. Ele requer uma interpretação que vá além do literal e evoca sentimentos de alegria, tristeza e culpa diante da vida e morte, tudo mostrado de forma elegante e sutil. Conseguir transmitir tantos significados sem usar nenhum diálogo torna esse filme uma obra de arte.
13 Horas - Os Soldados Secretos de Benghazi
3.5 310Baseado na história real de um grupo de soldados contratados para proteger uma base secreta da CIA em Benghazi, na Líbia. O filme acompanha a luta deles para resgatar o embaixador americano após um ataque à base em setembro de 2012.
O filme não tem uma ideia central, ele inicia tentando mostrar o drama pessoal dos soldados, depois tenta explicar a situação na Líbia, dizendo que os rebeldes conseguiram armas dos depósitos do ditador Muammar Al-Gaddafi, evitando mencionar os armamentos fornecidos pelos EUA que acabaram com o Estado Islâmico. Por fim ainda mostra o governo e a CIA como carrascos que dificultam a vida dos soldados e hesitam em mandar ajuda. Mas ele não leva nenhuma dessas discussões adiante.
Assim que os tiros começam a única mensagem que o filme consegue passar é a de que os EUA não faziam a menor ideia do que estavam fazendo na Líbia. As cenas de ação são tão rápidas que parecem um jogo de vídeo game, onde hordas de inimigos aparecem para serem eliminadas, o que torna as duas horas e meia do filme muito cansativas.
Então, quase no final o filme tenta emocionar o espectador, e falha miseravelmente, cortando as cenas de ação de forma abrupta para tentar alcançar alguma catarse com diálogos mal escritos e péssimas atuações.
Terra de Minas
4.2 260 Assista AgoraApós a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, um grupo de jovens soldados sapadores alemães é forçado a trabalhar nas praias da Dinamarca removendo minas terrestres.
É admirável quando um diretor decide retratar os horrores cometidos por seu próprio país em tempos de guerra. A maioria dos filmes que se dizem realistas, como por exemplo “Até o Último Homem” tem a tendência de vangloriar os feitos de seu povo, minimizando as controvérsias. Em “Terra de Minas”, Martin Zandvliet não tem medo de mostrar um dos piores crimes de guerra cometidos pela Dinamarca, a uso de adolescentes como prisioneiros.
A história é triste e perturbadora. Com a justificativa de que os garotos seriam nazistas, eles são submetidos a vários maus tratos, inanição e recebem uma vaga promessa de que retornarão para a Alemanha após retirarem todas as minas da praia, algo praticamente impossível de acontecer.
O filme traz uma reflexão sobre como o ser humano tende a justificar seus atos de violência e sobre a importância dos direitos humanos, como garantia de julgamento e punições justas, e não um show de horrores produzido por uma população enfurecida. Um drama impactante e comovente que, com certeza, não é para qualquer um.
Horizonte Profundo: Desastre no Golfo
3.5 330 Assista AgoraO filme conta a história real do desastre na estação “Deepwater Horizon”, que causou o maior vazamento de óleo na história dos EUA e matou onze pessoas.
Como o filme retrata fatos, a história é bem sólida e interessante, com alguns detalhes da vida pessoal de alguns personagens para cativar o espectador. Mas o destaque fica por conta de sua grandiosidade e pela atenção aos detalhes, com uma explicação, mesmo que superficial, sobre os detalhes técnicos envolvendo o acidente e com incríveis efeitos visuais que recriaram o terror que os trabalhadores tiveram que enfrentar para escapar com vida. Também é explorado como grandes corporações lidam em situações que há um impasse entre risco versus lucro.
Um dos maiores defeitos do filme é que ele foca demais no acidente, e as consequências que se seguiram são mostradas em menos de três minutos, o que me fez questionar se o filme vai além do interesse mórbido por um terrível acidente.
Kubo e as Cordas Mágicas
4.2 635 Assista AgoraUm garoto chamado Kubo deve encontrar uma armadura mágica que pertenceu a seu falecido pai para derrotar espíritos que o perseguem em busca de vingança.
A história é épica, Kubo encara uma jornada para se tornar um herói e conta com a ajuda de Macaca e do Besouro, que são responsáveis pelo humor do filme, ajudando a balancear os momentos mais tristes da história.
Visualmente o filme é incrível, o estúdio Laika, que produziu o filme, utilizou stop-motion, CGI e impressoras 3D misturando técnicas novas e antigas criando belas imagens. As cenas com origamis são incríveis.
A trilha sonora de Dario Marianelli representa a cultura oriental perfeitamente, afinal é uma parte importante do filme, pois Kubo usa um shamisen, instrumento de três cordas japonês, para canalizar sua magia.
O filme concorre ao Oscar nas categorias de melhor animação e melhores efeitos visuais (a segunda animação na história do Oscar a ser indicada nessa categoria).
Passageiros
3.3 1,5K Assista AgoraA imensa nave espacial Avalon viaja para um planeta distante com cinco mil pessoas em hibernação, numa viagem que durará cento e vinte anos. Meteoros atingem a nave e causam seu mau funcionamento, o que leva dois passageiros a acordarem noventa anos antes da chegada.
Eu estava meio apreensivo com esse filme, pois gosto de ficção científica e ele foi divulgado mais como um romance. Mas não foi tão ruim quanto eu esperava. O roteiro tem sim muitos erros, tanto científicos quanto de puro pensamento lógico, por exemplo, é absurdo colocar tantas pessoas em uma nave para dormir por cento e vinte anos sem supervisão humana, principalmente com a inteligência artificial falha retratada aqui. Isso torna toda a situação em que os personagens se encontram improvável.
Os acertos do filme foram explorar o drama de Jim sozinho no começo, uma das melhores partes do filme. Toda a parte visual é muito boa, a nave é impressionante e os efeitos são ótimos. A trilha sonora composta por Thomas Newman, misturando piano e orquestra com sintetizadores ajuda a construir o clima do filme.
Se você ignorar os problemas no roteiro ele é um filme divertido e pode trazer novos fãs para o gênero da ficção científica, mas se não conseguir relevá-los, mantenha distância desse filme, pois eles são muitos.
A 13ª Emenda
4.6 354 Assista AgoraEste documentário faz uma análise profunda do sistema prisional americano até as suas raízes, revelando o papel da desigualdade racial no país que mais prende no mundo.
O destaque é o grande número de especialistas que foram entrevistados, a diretora não busca somente mostrar os fatos, mas também trazer evidências e analisar a questão do racismo nos EUA. E consegue com êxito dar uma aula de história, mostrando como a escravidão foi substituída pelas Leis segregacionistas e como uma brecha na 13° emenda possibilitou que o encarceramento em massa se tornasse uma atividade econômica.
Com um discurso conciso e repleto de informações, esse documentário é obrigatório para qualquer um que tente esboçar algum comentário sobre o sistema judiciário, seja o americano ou até mesmo o brasileiro (afinal alguns já pedem a total privatização do sistema penitenciário por aqui). E a mensagem mais importante que o documentário passa é de que a luta nunca termina, as classes dominantes sempre vão tentar achar novas formas de oprimir, por isso devemos estar sempre atentos.
A América que atualmente idolatra filmes como “La La Land: Cantando Estações”, precisa assistir filmes como “A 13° Emenda”.
Vida, Animada
3.9 59Este documentário mostra a história de Owen Suskind, um jovem autista que aprendeu a se comunicar com sua família usando sua maior paixão, os filmes animados da Disney.
Ele aborda bem as dificuldades que a família enfrentou quando receberam o diagnóstico nos anos 90, os anseios e a preocupação com o bem-estar e a autonomia do filho são mostrados em relatos emocionantes dos pais e do irmão de Owen.
Também vemos o poder que qualquer forma de arte tem em ajudar as pessoas a comunicar seus sentimentos, no caso de Owen ele expressa suas emoções por uma história criada por ele usando os personagens da Disney, ela é mostrada em cenas animadas que são comoventes e ajudam a entender a personalidade dele.
O único ponto negativo é que ele aborda somente o aspecto social do autismo, e não informa muito sobre a condição em si.
Sully: O Herói do Rio Hudson
3.6 577 Assista AgoraA história mostra o piloto Chelsey Sullenberger, que se tornou um herói ao pousar um avião danificado no rio Hudson, salvando a vida dos passageiros.
Ignorando as declarações controversas, Clint Eastwood ainda consegue realizar um despretensioso porém bom filme, em grande parte porque ele escolhe bem quais roteiros dirigir. Foi assim com todos os seus filmes, esse não foge à regra, o roteiro é de Todd Komarnicki e foi adaptado do livro que conta a história real de Chelsey.
A história em si já é impressionante, e Eastwood consegue manter o ritmo do filme mostrando o clímax, que é o pouso do avião, em cenas intercaladas, o que mantém o interesse do espectador até o final.
Tom Hanks faz um bom trabalho e dá credibilidade à história em um nível mais pessoal, mostrando o estado inquieto de Sully diante da situação e das consequências do incidente. Mesmo não sendo um drama profundo, é uma boa opção de entretenimento.
Mulheres do Século XX
4.0 415 Assista AgoraO filme acompanha a história de três mulheres e suas vidas no sul da Califórnia no fim dos anos 70.
Desde 2005, quando Mike Mills dirigiu uma adaptação do livro “Impulsividade”, sobre um garoto que lida com sua adolescência e com o vício de chupar seu polegar, ficou claro que ele tinha uma habilidade especial ao retratar personagens interessantes e imperfeitos, cativantes e ao mesmo tempo frustrantes. “Mulheres do Século XX” traz seu roteiro original, onde ele mostra que evoluiu muito, criando personagens únicos, imersos em conflitos, tentando se relacionar e descobrir como conviver sendo sinceros sobre suas personalidades e intenções.
O diretor baseou os personagens em pessoas reais e próximas, segundo ele “mulheres que o ajudaram e ao mesmo tempo o confundiram em sua vida”.
Annette Bening entrega uma atuação que merecia uma indicação ao Oscar, interpretando Dorothea, personagem baseada na mãe do diretor, uma mulher cheia de contradições, que ao mesmo tempo em que quer se comunicar com o filho, cria barreiras a fim de evitar uma comunicação direta.
Com um elenco ótimo, personagens bem desenvolvidos, diálogos incríveis, momentos divertidos e de reflexão sobre relacionamentos esse filme é um daqueles que fez você refletir sobre suas próprias ações e os personagens ficam na sua cabeça por muito tempo depois dos créditos.