No momento do teatro, a peça se inicia quando é tempo de se iniciar a peça, e ela acaba quando é tempo de acabar. Supomos que esses tempos encerrem determinada estrutura: entramos no teatro, sentamos na cadeira, esperamos as luzes se apagarem e os atores iniciarem seu papel. Tem-se aí a linha de início temporal. Tem-se o primeiro ato, o segundo, o terceiro, e uma conclusão catártica. Luzes se acendem, atores agradecem à salva de palmas, você pondera, estica, levanta e vai embora. Tem-se aí a linha temporal que traz de volta a realidade (ou te traz de volta a ela). Ocasionou-se, também, de fazermos ficção no teatro, sobretudo no palco. Em toda ocasião, elegemos dado espaço, alguns metros à nossa frente, como nova fenda na realidade, e o que então acontece ali não é mais real, mas ficção.
Dentro dessa bolsa imaginária, quase tudo é permitido, e há apenas uma condição de entrada: a suspensão do juízo, epoché, descrença simbólica. Não tomamos como real e, de repente, aquilo não é mais real. Suspende-se a linha fundamental num simples ato de arbítrio coletivo e se aprecia a desordem ficcional em sua jaula espaço-temporal. Caso a jaula se rompa, a desordem rompe junto? Cessa o mito? Retorna o juízo? Não. O juízo já está muito longe, foi consumido no momento de sua concepção. Talvez ele já tenha retornado e esteja disfarçado entre os figurantes. Talvez não esteja em nosso controle, e não passe de uma convenção tão arbitrária quanto (im)possível. Quando se percebe o peso dessa distinção (ou sua leveza), tem-se o enjôo da ambiguidade. Sem qualquer linha, não há determinação de tempo ou espaço. Sem isso, não há determinação do que pode e do que não pode, do que existe e do que não existe, do lugar e do não-lugar ou do tempo e do não-tempo. Tampocou do que é o que não é.
Ficção e realidade se mostram ambíguas por si só pois são fundadas num mesmo ato de volição, que não pode nascer de um grande consenso racional, mas de um encontro casual. A razão, aí, tem a mesma força que qualquer outro símbolo: cumprir seu (restrito) papel como peça da estrutura, não maior nem menor que qualquer outra, e de mesma importância para o funcionamento do todo. Razão e absurdo. Lógica e mentira. Realidade e ficção. Emoção e akrasia. Tudo opera em valor equivalente, e quando a tensão é entre forças iguais, prevalece sempre a mais forte. A força que sutura o tecido do real novamente não poderia ser outra: a catarse. A transformação foi exitosa, a operação foi um sucesso. Acendem as luzes, você pondera, estica, levanta e vai embora.
Sério, agora, curti demais. Gosto muito dessas metanarrativas que quebram todos os parâmetros. É algo bem delicado e fácil de fazer caquinha, mas quando é bem feito, é MUITO bem feito.
Ao choque do encontro inesperado, sucede a inefável emoção da forma inusitada.
inegavelmente bonito, profundamente poético e intimista, mas de alguma forma despolitizado pela romantização do que o diretor identifica como o "intenso agora" de sua juventude (bem como a de sua mãe e de uma juventude em construção em Paris, Praga, Shanghai e Rio). dá pra dizer que ele não está tão preocupado com essa construção e suas transformações sociais quanto está com recordar o retrato lírico desse momento.
fui pesquisar mais sobre o filme e acabei assistindo a uma entrevista que o diretor, o produtor/roteirista e o escritor do romance no qual o filme é adaptado deram assim que o filme saiu, e ainda bem que o fiz. em '73, a moral americana estava bem baixa por causa de Watergate e da derrota no Vietnã, então havia um sentimento generalizado de vergonha com um misto de impotência. ao mesmo tempo, a revolução sexual da década de 60 estava finalmente chegando nos subúrbios mais afastados dos centros demográficos (que acabavam por ser culturais também), trazendo toda uma gama de novas ideias e conceitos sobre como se relacionar com o outro e como organizar sua vida sexual, social e amorosa. a família é um microcosmo do encontro dessas duas forças, uma libertadora e outra desmoralizante, e o que se desenrola são construções em cima disso: a ansiedade da liberdade, a descoberta do novo sexual, o apego pelo familiar e reconfortante.
gostei muito da atmosfera, da atuação, da trilha sonora... enfim. pacote completo este daqui.
edit: estou pensando sobre esse final. acho que o pai desaba quando o filho entra no carro porque aquele sorriso inocente só pode nascer numa existência exterior à tragédia pessoal de um mundo congelado na melancolia. só pode existir nesse momento inquisitivo e despretensioso quando se retorna ao núcleo familiar e, com um olhar honesto, busca entender o que está acontecendo, só pra perceber que não há núcleo, só vazio. a tempestade havia congelado o desmoronamento num retrato frágil e intocável como um floco de neve ou um cristal recém formado e um sorriso como aquele é real demais pra que não se quebre o estático.
Não sei... fiquei os dois primeiros atos pensando até que ponto o filme estava comprometido a arcar com as consequências as quais um discurso meritocrático pode levar.
Esse discurso de "você pode chegar aonde quiser, independente de onde você veio (no caso do filme, de sua herança genética), basta querer muito, trabalhar duro e estar disposto a (quase) morrer por isso" é perigoso e vacilante, quando não deslavadamente fdp. O filme vai se valendo de tropos clássicos na justificativa desse discurso, o "zé ninguém" que estuda bastante e, mesmo trabalhando como zelador, consegue subir na vida e alcançar seu sonho, apesar das injustiças sistêmicas que exercem força contra ele (o "genoísmo"). O próprio "agir conforme a justiça através da ilegalidade do sistema injusto" não figura como uma exceção à meritocracia, mas é também uma estratégia de defesa desta: a fraude legal cometida por Vincent é redimida por sua inocência de não ter, de fato, matado ninguém. Eu vejo isso mais como uma defesa de uma certa "moral do trabalho" (na medida em que desvia o foco para as ações do indivíduo dentro do sistema) que uma crítica à injustiça do próprio sistema, o que é uma estratégia tão esperta quanto canalha.
Conforme o terceiro ato foi chegando, contudo, fui percebendo que o filme também pode ser lido noutra chave, como se desenvolvendo em outro plano de fundo, não esse das injustiças e prerrogativas sociais, mas o lugar do ser humano no universo e o que ele decide fazer com a própria existência. Este pano de fundo sim, por sua vez, tem todo direito de ecoar um apelo ao mérito: na natureza, quem persevera é quem melhor se adapta. Independente de sistemas e forças extrínsecas, contemos dentro de nós toda a força que carrega a própria vida, e basta levantarmos a cancela da morte para que essa força transborde por todo canto.
Não sei se o final redime o começo e o meio, vou ver se vejo mais uma vez pra ter uma opinião mais bem fundamentada (ou não, sei lá). Mas dá pra achar legal.
gente como assim vocês não acharam esse filme um tratado impecável (perdão pelo trocadilho) de moral, religião enquanto instituição, fé, terror e espírito no capitalismo tardio?
achei melhor que os outros expoentes do found footage, tipo Blair e As Above So Below, e acho que entrega o que promete. alguns detalhezinhos deixaram a desejar mas ah, tá bom.
Inegavelmente criativo, tenro, esperançoso, amoroso, com um balanço perfeito de drama e comédia, mas esse filme é lotado de coisa. Muita ação, luz, explosão, e apesar de eu não detestar visuais assim (os visuais são impecáveis, a animação super fluida e colorida, psicodélica e mágica), admito que cansa um pouco os olhos rs. Um pouco longo também, dava pra resumir mais se focasse melhor e não se dispersasse, apesar de ser uma escolha artística como qualquer outra, mostrar a riqueza e o absurdismo do universo. No mais, super divertido e gostoso de se ver.
Pra quem quiser assistir, é só pesquisar o nome do filme em japonês + legendado.
é a coisa mais bonita que eu já senti e pelo amor de deus como eu sinto falta de ter amigos sair nos rolês fumar um ficar chapado conversar bater perna de madrugada falar de gostos comuns jogos animes jogar de noite sair no tf2 call no skype conexão pelo hamachi fórum de wow praticar e descobrir inglês conhecer a internet e as pessoas que a habitam enquanto me crio e me descubro ao mesmo tempo. foi um momento proustiano de nostalgia online por toda a comunidade do steam, os amigos à distância, as calls do skype de madrugada pra jogar mine ou zoar o outro com slenderman, a expansão dessa comunidade com a passagem pro online realmente online, do internacional empenho em trabalho coletivo. como eu sinto falta desse mundo. 
"agora as únicas imagens que valem a pena são aquelas que trazem as pessoas pra mais perto umas das outras" é a melhor forma possível de se definir o espírito da comundiade online que se forma no limiar do real/virtual atravessada por amadurecimentos erros crushs vergonhas e perdões inéditos. esse filme foi feito pra mim. não existe nada mais lindo poderoso profundo no mundo todinho. estou absolutamente apaixonado e convencido de que eu não tenho uma experiência assim há muitos tempo (mesmo) e vai demorar muito tempo pra que eu a tenha de novo.
esse é um filme difícil de categorizar. o século, claro, é o nosso, e as síndromes são a obstinação, a resignação, a vergonha e os vícios de toda sorte, mas ainda assim, ele fala de muito mais que isso. do primeiro pro segundo ato, as coisas mudam de ângulo (literalmente), mas os atores (e quem sabe as personagens tbm, apesar disso nem importar a essa altura) são os mesmos e os diálogos se repetem quase que letra por letra, com pequenas variações. acho que isso é parte da reflexão do Joe sobre transformação e permanência: as pessoas, situações, conversas e ideais se repetem em ciclos invisíveis, transfigurando-se de significado e de tamanho, de pessoa pra pessoa, de lugar pra lugar. e fazer parte dessas transformações é tão natural quanto conversar sobre vidas passadas e amor.
nota: admito também que imagino que entenderia bem mais algumas coisas se eu fosse tailandês ou conhecesse mais sobre a Tailândia. não sei se entendi os últimos 15 minutos mas que coisa maravilhosa, queria era ficar pulando lá no meio do povo pra gastar todas as minhas energias.
"Também vai ser melhor pra você ficar aí com seus irmãos, você merece muito, muito mais do que eu tenho pra te dar." Quando alguém te devolve a vida, te põe em contato com uma sensibilidade que já tinha virado pedra e só aí você percebe que tem "saudade de tudo", com o quê no mundo você poderia retribuir que estaria a altura? Dilacerante esse final.
a crítica social pode ser interessantíssima e a proposta do Sion é sempre ser polêmico, mas não gostei. teve cenas que não consegui sequer assistir. achei pesado, por vezes confuso e massante. achei Antiporno uma obra prima mas esse aqui o senhor vai ter que me desculpar.
toda a sequência da princesa mas sobretudo o coito com o espírito do lago estão entre as cenas mais surpreendetes, captivantes e maravilhosas que eu já vi em todo o cinema.
quando eles seguem Huay até a caverna e a câmera se torna às marcas nas paredes que sabe se lá desde quando existem, à mescla entre luz e escuridão, parece um mergulho no fundo do inconsciente, numa infância da humanidade que só pode ser resgatada no útero de seu nascimento.
muito palpável o sentimento aborígene de emaranhamento espiritual com a natureza, com o qual se relaciona tão reciprocamente como se fosse família, onde os mitos do mundo e os mitos de nós se imiscuam e transbordam um no outro. os espíritos da floresta e nossa relação íntima com a natureza só pode se dar dessa forma mesmo, pelo inconsciente, interpretando o mundo como se fosse um sonho, participando misticamente de tudo o que nos chama e nos cativa.
não é um filme pra se interpretar racionalmente. aliás, a vida que nós efetivamente vivemos não se vive racionalmente, seguindo essa linha de pensamento. forte poema budista cosmológico como um amigo disse aí embaixo. nota 10.
edit: quando eles estão entrando na caverna escura atrás do fantasma da Huay e começam a ficar ofegantes, eu fiquei junto. já andou sozinho, de noite, por um bosque no breu? é essa a sensação que eu senti ao longo de várias partes do filme. cada passo é um passo em direção ao desconhecido, seja pra dentro ou pra fora. um desconhecido absoluto do qual tudo pode sair e para o qual tudo entra. o escuro onde a vida acontece.
Ah porra, acabei de ver, curti e tal mas acabei de descobrir que tinha um pra ver antes. É literalmente a segunda vez que me acontece isso só hoje kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Death Water
3.9 2Onde eu encontro?
Sobre Susan Sontag
3.9 10 Assista AgoraAmar as palavras. Agonizar diante das frases. Prestar atenção ao mundo.
Ghost World: Aprendendo a Viver
3.7 540como ser absolutamente desprezível e no final ainda conseguir fazer tudo ser sobre você: o filme.
Interrupção
3.6 10No momento do teatro, a peça se inicia quando é tempo de se iniciar a peça, e ela acaba quando é tempo de acabar. Supomos que esses tempos encerrem determinada estrutura: entramos no teatro, sentamos na cadeira, esperamos as luzes se apagarem e os atores iniciarem seu papel. Tem-se aí a linha de início temporal. Tem-se o primeiro ato, o segundo, o terceiro, e uma conclusão catártica. Luzes se acendem, atores agradecem à salva de palmas, você pondera, estica, levanta e vai embora. Tem-se aí a linha temporal que traz de volta a realidade (ou te traz de volta a ela). Ocasionou-se, também, de fazermos ficção no teatro, sobretudo no palco. Em toda ocasião, elegemos dado espaço, alguns metros à nossa frente, como nova fenda na realidade, e o que então acontece ali não é mais real, mas ficção.
Dentro dessa bolsa imaginária, quase tudo é permitido, e há apenas uma condição de entrada: a suspensão do juízo, epoché, descrença simbólica. Não tomamos como real e, de repente, aquilo não é mais real. Suspende-se a linha fundamental num simples ato de arbítrio coletivo e se aprecia a desordem ficcional em sua jaula espaço-temporal. Caso a jaula se rompa, a desordem rompe junto? Cessa o mito? Retorna o juízo? Não. O juízo já está muito longe, foi consumido no momento de sua concepção. Talvez ele já tenha retornado e esteja disfarçado entre os figurantes. Talvez não esteja em nosso controle, e não passe de uma convenção tão arbitrária quanto (im)possível. Quando se percebe o peso dessa distinção (ou sua leveza), tem-se o enjôo da ambiguidade. Sem qualquer linha, não há determinação de tempo ou espaço. Sem isso, não há determinação do que pode e do que não pode, do que existe e do que não existe, do lugar e do não-lugar ou do tempo e do não-tempo. Tampocou do que é o que não é.
Ficção e realidade se mostram ambíguas por si só pois são fundadas num mesmo ato de volição, que não pode nascer de um grande consenso racional, mas de um encontro casual. A razão, aí, tem a mesma força que qualquer outro símbolo: cumprir seu (restrito) papel como peça da estrutura, não maior nem menor que qualquer outra, e de mesma importância para o funcionamento do todo. Razão e absurdo. Lógica e mentira. Realidade e ficção. Emoção e akrasia. Tudo opera em valor equivalente, e quando a tensão é entre forças iguais, prevalece sempre a mais forte. A força que sutura o tecido do real novamente não poderia ser outra: a catarse. A transformação foi exitosa, a operação foi um sucesso. Acendem as luzes, você pondera, estica, levanta e vai embora.
Sério, agora, curti demais. Gosto muito dessas metanarrativas que quebram todos os parâmetros. É algo bem delicado e fácil de fazer caquinha, mas quando é bem feito, é MUITO bem feito.
No Intenso Agora
4.0 38Ao choque do encontro inesperado, sucede a inefável emoção da forma inusitada.
inegavelmente bonito, profundamente poético e intimista, mas de alguma forma despolitizado pela romantização do que o diretor identifica como o "intenso agora" de sua juventude (bem como a de sua mãe e de uma juventude em construção em Paris, Praga, Shanghai e Rio). dá pra dizer que ele não está tão preocupado com essa construção e suas transformações sociais quanto está com recordar o retrato lírico desse momento.
Tempestade de Gelo
3.6 95fui pesquisar mais sobre o filme e acabei assistindo a uma entrevista que o diretor, o produtor/roteirista e o escritor do romance no qual o filme é adaptado deram assim que o filme saiu, e ainda bem que o fiz. em '73, a moral americana estava bem baixa por causa de Watergate e da derrota no Vietnã, então havia um sentimento generalizado de vergonha com um misto de impotência. ao mesmo tempo, a revolução sexual da década de 60 estava finalmente chegando nos subúrbios mais afastados dos centros demográficos (que acabavam por ser culturais também), trazendo toda uma gama de novas ideias e conceitos sobre como se relacionar com o outro e como organizar sua vida sexual, social e amorosa. a família é um microcosmo do encontro dessas duas forças, uma libertadora e outra desmoralizante, e o que se desenrola são construções em cima disso: a ansiedade da liberdade, a descoberta do novo sexual, o apego pelo familiar e reconfortante.
gostei muito da atmosfera, da atuação, da trilha sonora... enfim. pacote completo este daqui.
edit: estou pensando sobre esse final. acho que o pai desaba quando o filho entra no carro porque aquele sorriso inocente só pode nascer numa existência exterior à tragédia pessoal de um mundo congelado na melancolia. só pode existir nesse momento inquisitivo e despretensioso quando se retorna ao núcleo familiar e, com um olhar honesto, busca entender o que está acontecendo, só pra perceber que não há núcleo, só vazio. a tempestade havia congelado o desmoronamento num retrato frágil e intocável como um floco de neve ou um cristal recém formado e um sorriso como aquele é real demais pra que não se quebre o estático.
Gattaca, uma Experiência Genética
3.9 649 Assista AgoraNão sei... fiquei os dois primeiros atos pensando até que ponto o filme estava comprometido a arcar com as consequências as quais um discurso meritocrático pode levar.
Esse discurso de "você pode chegar aonde quiser, independente de onde você veio (no caso do filme, de sua herança genética), basta querer muito, trabalhar duro e estar disposto a (quase) morrer por isso" é perigoso e vacilante, quando não deslavadamente fdp. O filme vai se valendo de tropos clássicos na justificativa desse discurso, o "zé ninguém" que estuda bastante e, mesmo trabalhando como zelador, consegue subir na vida e alcançar seu sonho, apesar das injustiças sistêmicas que exercem força contra ele (o "genoísmo"). O próprio "agir conforme a justiça através da ilegalidade do sistema injusto" não figura como uma exceção à meritocracia, mas é também uma estratégia de defesa desta: a fraude legal cometida por Vincent é redimida por sua inocência de não ter, de fato, matado ninguém. Eu vejo isso mais como uma defesa de uma certa "moral do trabalho" (na medida em que desvia o foco para as ações do indivíduo dentro do sistema) que uma crítica à injustiça do próprio sistema, o que é uma estratégia tão esperta quanto canalha.
Conforme o terceiro ato foi chegando, contudo, fui percebendo que o filme também pode ser lido noutra chave, como se desenvolvendo em outro plano de fundo, não esse das injustiças e prerrogativas sociais, mas o lugar do ser humano no universo e o que ele decide fazer com a própria existência. Este pano de fundo sim, por sua vez, tem todo direito de ecoar um apelo ao mérito: na natureza, quem persevera é quem melhor se adapta. Independente de sistemas e forças extrínsecas, contemos dentro de nós toda a força que carrega a própria vida, e basta levantarmos a cancela da morte para que essa força transborde por todo canto.
Não sei se o final redime o começo e o meio, vou ver se vejo mais uma vez pra ter uma opinião mais bem fundamentada (ou não, sei lá). Mas dá pra achar legal.
Era uma Vez em Tóquio
4.4 187 Assista AgoraSem dúvida a melhor parte de aprender a gostar de filme lento é poder apreciar umas obras assim.
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista Agorafala sério, zeus? quem que chama o cachorro do deus grego mais otário de todos?
Incêndios
4.5 1,9K Assista Agoracaralho!
Eis os Delírios do Mundo Conectado
3.8 35o filme que me deu vontade de cursar filosofia
Fé Corrompida
3.7 375 Assista Agoragente como assim vocês não acharam esse filme um tratado impecável (perdão pelo trocadilho) de moral, religião enquanto instituição, fé, terror e espírito no capitalismo tardio?
Fuga de Pretória
3.6 125 Assista Agoramassa
Um Homem Misterioso
2.8 219 Assista Agoraah, mais ou menos
Gonjiam: Manicômio Assombrado
3.0 110 Assista Agoraachei melhor que os outros expoentes do found footage, tipo Blair e As Above So Below, e acho que entrega o que promete. alguns detalhezinhos deixaram a desejar mas ah, tá bom.
Uchuu Show e Youkoso
3.8 7Inegavelmente criativo, tenro, esperançoso, amoroso, com um balanço perfeito de drama e comédia, mas esse filme é lotado de coisa. Muita ação, luz, explosão, e apesar de eu não detestar visuais assim (os visuais são impecáveis, a animação super fluida e colorida, psicodélica e mágica), admito que cansa um pouco os olhos rs. Um pouco longo também, dava pra resumir mais se focasse melhor e não se dispersasse, apesar de ser uma escolha artística como qualquer outra, mostrar a riqueza e o absurdismo do universo. No mais, super divertido e gostoso de se ver.
Pra quem quiser assistir, é só pesquisar o nome do filme em japonês + legendado.
s01e03
4.5 1é a coisa mais bonita que eu já senti e pelo amor de deus como eu sinto falta de ter amigos sair nos rolês fumar um ficar chapado conversar bater perna de madrugada falar de gostos comuns jogos animes jogar de noite sair no tf2 call no skype conexão pelo hamachi fórum de wow praticar e descobrir inglês conhecer a internet e as pessoas que a habitam enquanto me crio e me descubro ao mesmo tempo. foi um momento proustiano de nostalgia online por toda a comunidade do steam, os amigos à distância, as calls do skype de madrugada pra jogar mine ou zoar o outro com slenderman, a expansão dessa comunidade com a passagem pro online realmente online, do internacional empenho em trabalho coletivo. como eu sinto falta desse mundo. 
"agora as únicas imagens que valem a pena são aquelas que trazem as pessoas pra mais perto umas das outras" é a melhor forma possível de se definir o espírito da comundiade online que se forma no limiar do real/virtual atravessada por amadurecimentos erros crushs vergonhas e perdões inéditos.
esse filme foi feito pra mim. não existe nada mais lindo poderoso profundo no mundo todinho. estou absolutamente apaixonado e convencido de que eu não tenho uma experiência assim há muitos tempo (mesmo) e vai demorar muito tempo pra que eu a tenha de novo.
Síndromes e um Século
4.0 46esse é um filme difícil de categorizar. o século, claro, é o nosso, e as síndromes são a obstinação, a resignação, a vergonha e os vícios de toda sorte, mas ainda assim, ele fala de muito mais que isso.
do primeiro pro segundo ato, as coisas mudam de ângulo (literalmente), mas os atores (e quem sabe as personagens tbm, apesar disso nem importar a essa altura) são os mesmos e os diálogos se repetem quase que letra por letra, com pequenas variações. acho que isso é parte da reflexão do Joe sobre transformação e permanência: as pessoas, situações, conversas e ideais se repetem em ciclos invisíveis, transfigurando-se de significado e de tamanho, de pessoa pra pessoa, de lugar pra lugar. e fazer parte dessas transformações é tão natural quanto conversar sobre vidas passadas e amor.
nota: admito também que imagino que entenderia bem mais algumas coisas se eu fosse tailandês ou conhecesse mais sobre a Tailândia. não sei se entendi os últimos 15 minutos mas que coisa maravilhosa, queria era ficar pulando lá no meio do povo pra gastar todas as minhas energias.
O Tigre Branco
3.8 403 Assista AgoraHegel estaria orgulhoso
Central do Brasil
4.1 1,8K Assista Agora"Também vai ser melhor pra você ficar aí com seus irmãos, você merece muito, muito mais do que eu tenho pra te dar." Quando alguém te devolve a vida, te põe em contato com uma sensibilidade que já tinha virado pedra e só aí você percebe que tem "saudade de tudo", com o quê no mundo você poderia retribuir que estaria a altura? Dilacerante esse final.
Floresta de Sangue
3.2 55a crítica social pode ser interessantíssima e a proposta do Sion é sempre ser polêmico, mas não gostei. teve cenas que não consegui sequer assistir. achei pesado, por vezes confuso e massante. achei Antiporno uma obra prima mas esse aqui o senhor vai ter que me desculpar.
Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas
3.6 196surreal, fantástico, onírico, hipnótico.
toda a sequência da princesa mas sobretudo o coito com o espírito do lago estão entre as cenas mais surpreendetes, captivantes e maravilhosas que eu já vi em todo o cinema.
quando eles seguem Huay até a caverna e a câmera se torna às marcas nas paredes que sabe se lá desde quando existem, à mescla entre luz e escuridão, parece um mergulho no fundo do inconsciente, numa infância da humanidade que só pode ser resgatada no útero de seu nascimento.
muito palpável o sentimento aborígene de emaranhamento espiritual com a natureza, com o qual se relaciona tão reciprocamente como se fosse família, onde os mitos do mundo e os mitos de nós se imiscuam e transbordam um no outro. os espíritos da floresta e nossa relação íntima com a natureza só pode se dar dessa forma mesmo, pelo inconsciente, interpretando o mundo como se fosse um sonho, participando misticamente de tudo o que nos chama e nos cativa.
não é um filme pra se interpretar racionalmente. aliás, a vida que nós efetivamente vivemos não se vive racionalmente, seguindo essa linha de pensamento. forte poema budista cosmológico como um amigo disse aí embaixo. nota 10.
edit: quando eles estão entrando na caverna escura atrás do fantasma da Huay e começam a ficar ofegantes, eu fiquei junto. já andou sozinho, de noite, por um bosque no breu? é essa a sensação que eu senti ao longo de várias partes do filme. cada passo é um passo em direção ao desconhecido, seja pra dentro ou pra fora. um desconhecido absoluto do qual tudo pode sair e para o qual tudo entra. o escuro onde a vida acontece.
Strange Frame: Love & Sax
3.2 1pelo amor de DEUS não acho esse filme em lugar NENHUM saco
O Culto
3.2 201 Assista AgoraAh porra, acabei de ver, curti e tal mas acabei de descobrir que tinha um pra ver antes. É literalmente a segunda vez que me acontece isso só hoje kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk