É tarefa árdua imaginar o desafio de parir (rs) um filme antropofágico, brasileiríssimo e anarquista como Orgia ou o Homem que Deu Cria. Um jovem e genial João Silvério Trevisan brilha, em meio a muito barulho e Carmen Miranda drag citando Oswald de Andrade, em sua única longa metragem (ao menos até o momento…). Um passarinho colorido me contou que há muitos roteiros prontos para tomar vida. Há de se desejar.
Obs.: que a Cinemateca Brasileira faça seu importante papel e remasterize essa maravilha marginal. 🌷
a cena em que o corpo de Domingos, morto, é colocado na cela, e os colegas cuidam de seu corpo e cantam em sua homenagem. Lindo demais, apesar de tão sofrido.
Filme importante e absoluto retrato da luta angolana contra o colonialismo tardio de Portugal. Um registro especial e bem dirigido.
Sinto tanta raiva, um vazio sem nome quando vejo o que fizeram - e fazem - com Britney. Uma artista que trouxe tanta felicidade ao mundo, com tanta gentileza. Ela mudou a minha vida.
Ainda que fãs notassem que algo estava errado há muito tempo, conhecer os detalhes da situação é devastador. Aqueles que deveriam se importar com ela tiraram sua dignidade e direitos sem hesitar: liberdade, dinheiro, guarda dos filhos, possibilidade de casar, direitos reprodutivos, possibilidade de votar, dirigir, dizer não…
Tudo tirado dela para “o seu próprio bem”. Enquadraram-na como incapaz - e, mesmo se fosse, teria mais direitos assegurados - enquanto seguia forçada a trabalhar, e muito. Quem sobrevive a isso?
Todavia, pessoas como Felicia, que fizeram um merecido comeback no mundo Britney para alívio sincero dos fãs, são uma luz no caminho e nos lembram da alegria, espontaneidade e simplicidade que irradiavam da Britney.
Mesmo em tempos difíceis, ela foi como um sol no palco, generoso, sorridente, alcançando a todos. E merece voltar a brilhar, desenhando sua vida em seus próprios termos. Ela é muito forte.
Com os documentários e áudio do depoimento, me pergunto o que mais é necessário para livrá-la dessa indústria da curatela, dessa justiça lenta e corrupta. É a questão que ainda paira.
E aos parentes e empresários envolvidos: espero vê-los na cadeia. A próxima audiência é em 5 dias. Continuaremos gritando.
In rebellion, there is a sparkle of truth. #FREEBRITNEY
Solar, negro, coletivo e muito, muito potente. A enxurrada-aula maravilhosa de referências se mescla à música viva nesse documentário, criando encontro e união entre o chão da favela, a história brasileira e o palco do Theatro. Vida é pra sonhar, e é mais forte se sonhar junto. Me comovi demais, lágrimas generosas como essa experiência. As vozes negras, as vozes resistentes de ontem se encontrarão nas de hoje, a colheita virá. O pássaro e a pedra sabem de seu encontro.
a voz da protagonista, ao ser tocada no gravador, ser a voz da Agnès
. Pra mim, é a essência do filme.
Leve, melancólico, cotidiano, se permitindo ser superficial ou poético em cada aspecto. Há beleza em acompanhar essa mulher que tem de agir sobre si mesma e seu filho após chegar até a costa oceânica, num senso de recomeço.
A trivia charmosa é o garotinho ser o filho da própria diretora, e a protagonista, sua produta. Difícil não sentir afeto pelas coisas que Varda ilumina.
É o tipo de filme que não dá pra deixar cair no esquecimento. Tratando de assuntos sérios (sexismo, exploração capitalista, abusos) de modo realmente leve e divertido - e sem se perder nessa fina linha. Nine to Five é maravilhoso, engraçado e sagazmente crítico. A história é terrivelmente atual, mas inspira e entretem, ainda que seja um pouquinho previsível. As três protagonistas estão incríveis, Dolly arrasou demais (inclusive na faixa tema, deliciosa). Lily Tomlin está absolutamente impecável ❤️
Nunca imaginei que seria tão positivamente impactado por um documentário da Netflix. Que acerto, que maravilhoso.
A cronologia da representação trans no cinema e na TV já é poderosa e informativa. Abre os olhos para a transfobia de todos nós e de filmes e seriados que, muitas vezes, adoramos - e que reproduzem e criam a cultura. Mas a maior potência do documentário é ouvir essas pessoas trans. Suas experiências, dores e forças por suas próprias vozes. Falam-nos de experiências tão profundas, tão íntimas, e ao mesmo tempo tão expostas pelas lentes do ódio. É monumental, mesmo pra quem acha que entende.
Não entendemos. Precisamos ouvir mais e de verdade. Devemos muito à comunidade trans, e abrir espaços de escuta a essas pessoas é um começo essencial. Especialmente àquelas da nossa cidade, que seguem desrespeitadas e violentadas aos montes. Elas movem as coisas. Hollywood não é o mundo.
ainda que seja tão dura quanto uma pedra nas costas ou no coração.
Adorei o filme, mas algo ficou off pra mim. Mesmo que seja desconfortável, outras questões podem, sim, ser levantadas. Me informei melhor pra tentar entender. Além do desconforto que as cenas (reais, torturantes e longas) com os animais deveriam causar em qualquer um, é bem complicada a relação com as personagens femininas. Elas mal são personagens; podem ser lidas como meros ritos de passagem para os personagens masculinos.
É complicado. E é estranho como a maioria de nós assiste a isso de modo familiarizado. Há outros modos e outros desfechos possíveis no ciclo da vida, dos erros e do crescimento de um homem. E também haveria para o filme. Com um rápido google no nome do diretor, aparecem ao menos 3 denúncias de estupro, assédio e violência física de atrizes que trabalharam com ele. O diretor alegou falsidade nas acusações, mas um ator (que teria sido parte em abusos com ele) pediu desculpas públicas mais claras. O diretor está em hiato desde então. Não estou cancelando ninguém, nem mesmo o filme, que é, a propósito, de 2003 (e, sim, em 17 anos a sociedade pode progredir em seus conceitos). É importante a gente pensar, discutir, refletir os meandros por trás das histórias, porque eles revelam a cultura. Assim como no filme, tudo é processo. Que a gente veja a beleza inegável que há na obra, mas que rompa certos ciclos.
Maravilhoso, fora da curva, lindamente atuado... E o que mais me surpreende é que foi feito 35 anos atrás, com um modesto financiamento independente, 75% do elenco formado por mulheres, dirigido e roteirizado por mulheres e baseado em um livro de uma autora! Isso é raro, mas tão importante.
O filme convence, desenvolve e passa voando. Não apela para violências ou modos de culpar seus personagens LGBT, algo tão comum no cinema. Fotografia ótima e vivíssima com seus tons melancólicos e neon. Atuações fluidas que passam sinceridade. Sensível, mas certeiro. Inspirou Carol e outros mais. Que bom. E vai direto para a minha lista de favoritos. ❤️
Vergonhoso o approach homofóbico do filme em diversas falas. Envelheceu mal... O assunto é interessante, tem bons pontos, mas a direção não chega lá, as atuações não chegam lá - Patty Duke e Susan Hayward arranham, pelo menos.
No todo, não há profundidade. Talvez funcionasse se fosse “cinema alternativo”, meio europeu lado B, sem tanta coleira, mais ousado, mais artístico, sei lá. Mais.
A temática é rica e polêmica, mas trabalhada na superfície conservadora; não por acaso foi um sucesso de público à época, ao mesmo tempo em que era ridicularizado. Poderia ser muito maior, melhor adaptado, tocar - realmente - nas feridas que descreve. Nem a autora do livro gostou. Certa ela. E Judy Garland que quase fez o filme, mas ficou bêbada e foi demitida. Certa também.
“Quais experiências somos permitidos compartilhar desses lugares que te deixem confortável? E que fique fácil de você digerir? Se você vem da luta, como vc fala da luta sem mencionar a porra da luta?”
Madonna, ver a pessoa que cresci pensando ser uma mulher forte, ser mandada por esses caubóis (...). Eles foram sexistas, misóginos, racistas. Eles são todas essas coisas. E eu pensei ‘Ora, se ninguém vai fazer nada sobre isso e assumir...Que porra é essa? Então que se foda tudo isso. Quero ir pra casa’ .
M.I.A é uma artista criativa e importante, lutando uma luta necessária, num mundo surdo e insensível. Documentário incrível.
"A emoção é algo que não se pode controlar. (...) Naturalmente, penso em Jacques. Todos os mortos me lembram de Jacques. Toda lágrima, toda flor, toda rosa e toda begônia é uma flor para Jacques".
Sobre a poesia do carinho entre mãe e filha perante uma sociedade tecnológica desigual, opulenta e de aguda idolatria à estética. Advantageous traz, em seu cerne, questões feministas bastante pertinentes, apontando inúmeras semelhanças entre sua era e os nossos tempos.
Destaque para as falas de Jules, filha da protagonista; a inteligência da personagem e sua lucidez sobre a vida em uma sociedade que deu errado são alarmantes e bem construídas. O tom filosófico que acompanha a história flui genuinamente.
Ainda que haja pontos do filme que poderiam ter sido melhor executados, eis um ótimo e interessante sci-fi feito com orçamento pequeno. Um sopro feminino de criatividade na repetitiva e desigual indústria cinematográfica - lembrando, não por acaso, o enredo em si.
A gentileza e humanidade de Gwen e Jules são, em si, atos revolucionários. Enquanto houver carinho e amor, ainda que timidamente, há de brotar esperança.
A direção, o realismo, a fuga à dramatização barata e a não censura dos depoimentos dão o tom a este documentário sobre a grande Nina Simone.
A luta de Nina por liberdade, igualdade, assim como sua energia inesgotável e incontrolável - em palco, em frente ao movimento dos direitos civis aos negros e em sua vida - deram forma à sua brava existência. Vê-la tão bem documentada sob direção de Liz Garbus é digno da beleza e da fúria da cantora e High Priestess of Soul, em sua força e em sua vulnerabilidade.
"Poucas pessoas viveram tão honestamente quanto ela". E poucas nos inspirarão tanto quanto. Belíssima e poderosa obra. Valeu a espera.
Cores, silhuetas, formas e desejo. A vida de Yves Saint Laurent é retratada neste filme com a leveza, a paixão e a estética, bem como com o caos, a solidão e a irrealidade do mundo próprio do estilista.
Deliciosas atuações de Ulliel, Garrel, Seydoux e Valade. Preenchem a tela tal qual preenchem nossos olhos com seu furtivo e inegável charme.
Filme deslumbrante como suas criações ao ganharem movimento em desfiles, porém melancólico como a vida do próprio homem por trás da genialidade. Uma interessante leitura do belo e do trágico na vida de Saint Laurent.
Ver uma produção nacional advinda de um curta-metragem tratar o tema com tanta delicadeza e naturalidade - como deveria ser sempre - é de encher o coração.
Produção simples, mas certeira, boas atuações, ótima trilha sonora (inclusive nas cenas em que é o silêncio que faz tal papel), fotografia encantadora e sem exageros. Um belo trabalho sobre o amor e a força dele diante de obstáculos.
Saí da sessão mais feliz. Pelo filme, claro, mas também por ver o sorriso, os olhos brilhantes e aquela calma e poderosa felicidade entre todos no cinema, independentemente de sexualidade. Mais um pequeno passo em busca de igualdade e, considerando o cinema e a cultura nacionais, um passo significativo.
O amor sempre será o que há de mais precioso e poderoso na natureza humana.
Jovem e bela. Desesperada e blasé. A escolha da atriz para o papel foi impecável; Marine Vacth representa perfeitamente a jovem francesa e seus paradoxos, mimetizando a pulsão sexual na própria indiferença. Para além da beleza notável da guria, percebe-se a pontinha de confusão e melancolia em seu olhar, tão comum ao início da vida adulta e suas incertezas (e à vida toda, quem queremos enganar?).
François Ozon, como sempre, traz à tona temas polêmicos e esculpe um trabalho soberbo ao mostrar a banalidade da estranheza humana. Um convite aos quartos mais escuros de nós mesmos aos quais desviamos o olhar é sempre bem-vindo.
Sexualidade, vazios emocionais e a quase invisível linha entre o certo e o errado dão ao filme o aspecto de rosas que se esvaem lentamente em sua própria beleza. Retrato do ápice que presencia o cheiro mais selvagem da flor, mas também sua silenciosa degradação.
Tenham, ao menos, a decência de admitir que gostaram do filme somente pelos efeitos em IMAX. O roteiro e as atuações são dignos de Sessão da Tarde... E olhe lá.
Orgia ou O Homem que Deu Cria
3.7 11É tarefa árdua imaginar o desafio de parir (rs) um filme antropofágico, brasileiríssimo e anarquista como Orgia ou o Homem que Deu Cria. Um jovem e genial João Silvério Trevisan brilha, em meio a muito barulho e Carmen Miranda drag citando Oswald de Andrade, em sua única longa metragem (ao menos até o momento…). Um passarinho colorido me contou que há muitos roteiros prontos para tomar vida. Há de se desejar.
Obs.: que a Cinemateca Brasileira faça seu importante papel e remasterize essa maravilha marginal. 🌷
Sambizanga
3.9 7Para além dos trajetos da esposa de Domingos, marcantes e com alma, me surpreendeu
a cena em que o corpo de Domingos, morto, é colocado na cela, e os colegas cuidam de seu corpo e cantam em sua homenagem. Lindo demais, apesar de tão sofrido.
Filme importante e absoluto retrato da luta angolana contra o colonialismo tardio de Portugal. Um registro especial e bem dirigido.
Argentina, 1985
4.3 334“(…) Nunca más!”
Controlling Britney Spears: Em Busca de Liberdade
4.2 14Be wary of others, the ones closest to you…
Sinto tanta raiva, um vazio sem nome quando vejo o que fizeram - e fazem - com Britney. Uma artista que trouxe tanta felicidade ao mundo, com tanta gentileza. Ela mudou a minha vida.
Ainda que fãs notassem que algo estava errado há muito tempo, conhecer os detalhes da situação é devastador. Aqueles que deveriam se importar com ela tiraram sua dignidade e direitos sem hesitar: liberdade, dinheiro, guarda dos filhos, possibilidade de casar, direitos reprodutivos, possibilidade de votar, dirigir, dizer não…
Tudo tirado dela para “o seu próprio bem”. Enquadraram-na como incapaz - e, mesmo se fosse, teria mais direitos assegurados - enquanto seguia forçada a trabalhar, e muito. Quem sobrevive a isso?
Todavia, pessoas como Felicia, que fizeram um merecido comeback no mundo Britney para alívio sincero dos fãs, são uma luz no caminho e nos lembram da alegria, espontaneidade e simplicidade que irradiavam da Britney.
Mesmo em tempos difíceis, ela foi como um sol no palco, generoso, sorridente, alcançando a todos. E merece voltar a brilhar, desenhando sua vida em seus próprios termos. Ela é muito forte.
Com os documentários e áudio do depoimento, me pergunto o que mais é necessário para livrá-la dessa indústria da curatela, dessa justiça lenta e corrupta. É a questão que ainda paira.
E aos parentes e empresários envolvidos: espero vê-los na cadeia. A próxima audiência é em 5 dias. Continuaremos gritando.
In rebellion, there is a sparkle of truth. #FREEBRITNEY
AmarElo - É Tudo Pra Ontem
4.6 354 Assista AgoraSolar, negro, coletivo e muito, muito potente. A enxurrada-aula maravilhosa de referências se mescla à música viva nesse documentário, criando encontro e união entre o chão da favela, a história brasileira e o palco do Theatro.
Vida é pra sonhar, e é mais forte se sonhar junto. Me comovi demais, lágrimas generosas como essa experiência. As vozes negras, as vozes resistentes de ontem se encontrarão nas de hoje, a colheita virá. O pássaro e a pedra sabem de seu encontro.
Documentira
3.9 7 Assista AgoraDestaque especial para
a voz da protagonista, ao ser tocada no gravador, ser a voz da Agnès
Leve, melancólico, cotidiano, se permitindo ser superficial ou poético em cada aspecto. Há beleza em acompanhar essa mulher que tem de agir sobre si mesma e seu filho após chegar até a costa oceânica, num senso de recomeço.
A trivia charmosa é o garotinho ser o filho da própria diretora, e a protagonista, sua produta. Difícil não sentir afeto pelas coisas que Varda ilumina.
Como Eliminar seu Chefe
3.6 81É o tipo de filme que não dá pra deixar cair no esquecimento.
Tratando de assuntos sérios (sexismo, exploração capitalista, abusos) de modo realmente leve e divertido - e sem se perder nessa fina linha.
Nine to Five é maravilhoso, engraçado e sagazmente crítico. A história é terrivelmente atual, mas inspira e entretem, ainda que seja um pouquinho previsível.
As três protagonistas estão incríveis, Dolly arrasou demais (inclusive na faixa tema, deliciosa). Lily Tomlin está absolutamente impecável ❤️
Revelação
4.6 56Nunca imaginei que seria tão positivamente impactado por um documentário da Netflix. Que acerto, que maravilhoso.
A cronologia da representação trans no cinema e na TV já é poderosa e informativa. Abre os olhos para a transfobia de todos nós e de filmes e seriados que, muitas vezes, adoramos - e que reproduzem e criam a cultura. Mas a maior potência do documentário é ouvir essas pessoas trans. Suas experiências, dores e forças por suas próprias vozes. Falam-nos de experiências tão profundas, tão íntimas, e ao mesmo tempo tão expostas pelas lentes do ódio. É monumental, mesmo pra quem acha que entende.
Não entendemos. Precisamos ouvir mais e de verdade. Devemos muito à comunidade trans, e abrir espaços de escuta a essas pessoas é um começo essencial. Especialmente àquelas da nossa cidade, que seguem desrespeitadas e violentadas aos montes. Elas movem as coisas. Hollywood não é o mundo.
Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera
4.3 377O filme é belíssimo, é verdade. A fotografia, a perspicaz simplicidade, a vida budista como poesia -
ainda que seja tão dura quanto uma pedra nas costas ou no coração.
Adorei o filme, mas algo ficou off pra mim. Mesmo que seja desconfortável, outras questões podem, sim, ser levantadas. Me informei melhor pra tentar entender.
Além do desconforto que as cenas (reais, torturantes e longas) com os animais deveriam causar em qualquer um, é bem complicada a relação com as personagens femininas. Elas mal são personagens; podem ser lidas como meros ritos de passagem para os personagens masculinos.
Incluindo assédio, sexo e assassinato da mulher.
Há outros modos e outros desfechos possíveis no ciclo da vida, dos erros e do crescimento de um homem. E também haveria para o filme.
Com um rápido google no nome do diretor, aparecem ao menos 3 denúncias de estupro, assédio e violência física de atrizes que trabalharam com ele. O diretor alegou falsidade nas acusações, mas um ator (que teria sido parte em abusos com ele) pediu desculpas públicas mais claras. O diretor está em hiato desde então.
Não estou cancelando ninguém, nem mesmo o filme, que é, a propósito, de 2003 (e, sim, em 17 anos a sociedade pode progredir em seus conceitos). É importante a gente pensar, discutir, refletir os meandros por trás das histórias, porque eles revelam a cultura.
Assim como no filme, tudo é processo. Que a gente veja a beleza inegável que há na obra, mas que rompa certos ciclos.
Corações do Deserto
3.7 43Desert Hearts merece muito mais reconhecimento.
Maravilhoso, fora da curva, lindamente atuado... E o que mais me surpreende é que foi feito 35 anos atrás, com um modesto financiamento independente, 75% do elenco formado por mulheres, dirigido e roteirizado por mulheres e baseado em um livro de uma autora! Isso é raro, mas tão importante.
O filme convence, desenvolve e passa voando. Não apela para violências ou modos de culpar seus personagens LGBT, algo tão comum no cinema. Fotografia ótima e vivíssima com seus tons melancólicos e neon. Atuações fluidas que passam sinceridade. Sensível, mas certeiro. Inspirou Carol e outros mais. Que bom. E vai direto para a minha lista de favoritos. ❤️
“What do you think you are doing?”
“Waiting for you”.
O Vale das Bonecas
3.4 57 Assista AgoraVergonhoso o approach homofóbico do filme em diversas falas. Envelheceu mal... O assunto é interessante, tem bons pontos, mas a direção não chega lá, as atuações não chegam lá - Patty Duke e Susan Hayward arranham, pelo menos.
No todo, não há profundidade. Talvez funcionasse se fosse “cinema alternativo”, meio europeu lado B, sem tanta coleira, mais ousado, mais artístico, sei lá. Mais.
A temática é rica e polêmica, mas trabalhada na superfície conservadora; não por acaso foi um sucesso de público à época, ao mesmo tempo em que era ridicularizado. Poderia ser muito maior, melhor adaptado, tocar - realmente - nas feridas que descreve. Nem a autora do livro gostou. Certa ela. E Judy Garland que quase fez o filme, mas ficou bêbada e foi demitida. Certa também.
Matangi / Maya / M.I.A.
4.6 77 Assista AgoraDois quotes que definem o doc pra mim:
“Quais experiências somos permitidos compartilhar desses lugares que te deixem confortável? E que fique fácil de você digerir? Se você vem da luta, como vc fala da luta sem mencionar a porra da luta?”
e
“
Madonna, ver a pessoa que cresci pensando ser uma mulher forte, ser mandada por esses caubóis (...). Eles foram sexistas, misóginos, racistas. Eles são todas essas coisas. E eu pensei ‘Ora, se ninguém vai fazer nada sobre isso e assumir...Que porra é essa? Então que se foda tudo isso. Quero ir pra casa’ .
M.I.A é uma artista criativa e importante, lutando uma luta necessária, num mundo surdo e insensível. Documentário incrível.
Lampião da Esquina
4.2 16De encher os olhos, de encher o coração.
Ouvir esses mestres com carinho pois há muito para se lutar, amar, ironizar, resistir, foder e - antes de tudo - ser. Orgulhosamente, mais uma vez.
As Praias de Agnès
4.4 64 Assista Agora"A emoção é algo que não se pode controlar. (...) Naturalmente, penso em Jacques. Todos os mortos me lembram de Jacques. Toda lágrima, toda flor, toda rosa e toda begônia é uma flor para Jacques".
David Bowie: The Last Five Years
4.4 27Tão bom ver o Bowie sendo retratado com a simplicidade, o humor e a sofisticação que ele mesmo tinha. Não sei se sorri mais ou se chorei mais.
Alegria e dor, mas eternamente inspiração.
Nise: O Coração da Loucura
4.3 656 Assista AgoraA arte e o afeto como preciosíssimas terapias.
Advantageous
3.4 77 Assista AgoraSobre a poesia do carinho entre mãe e filha perante uma sociedade tecnológica desigual, opulenta e de aguda idolatria à estética. Advantageous traz, em seu cerne, questões feministas bastante pertinentes, apontando inúmeras semelhanças entre sua era e os nossos tempos.
Destaque para as falas de Jules, filha da protagonista; a inteligência da personagem e sua lucidez sobre a vida em uma sociedade que deu errado são alarmantes e bem construídas. O tom filosófico que acompanha a história flui genuinamente.
Ainda que haja pontos do filme que poderiam ter sido melhor executados, eis um ótimo e interessante sci-fi feito com orçamento pequeno. Um sopro feminino de criatividade na repetitiva e desigual indústria cinematográfica - lembrando, não por acaso, o enredo em si.
A gentileza e humanidade de Gwen e Jules são, em si, atos revolucionários. Enquanto houver carinho e amor, ainda que timidamente, há de brotar esperança.
What Happened, Miss Simone?
4.4 401 Assista AgoraA direção, o realismo, a fuga à dramatização barata e a não censura dos depoimentos dão o tom a este documentário sobre a grande Nina Simone.
A luta de Nina por liberdade, igualdade, assim como sua energia inesgotável e incontrolável - em palco, em frente ao movimento dos direitos civis aos negros e em sua vida - deram forma à sua brava existência. Vê-la tão bem documentada sob direção de Liz Garbus é digno da beleza e da fúria da cantora e High Priestess of Soul, em sua força e em sua vulnerabilidade.
"Poucas pessoas viveram tão honestamente quanto ela". E poucas nos inspirarão tanto quanto. Belíssima e poderosa obra. Valeu a espera.
Saint Laurent
3.4 144 Assista AgoraCores, silhuetas, formas e desejo. A vida de Yves Saint Laurent é retratada neste filme com a leveza, a paixão e a estética, bem como com o caos, a solidão e a irrealidade do mundo próprio do estilista.
Deliciosas atuações de Ulliel, Garrel, Seydoux e Valade. Preenchem a tela tal qual preenchem nossos olhos com seu furtivo e inegável charme.
Filme deslumbrante como suas criações ao ganharem movimento em desfiles, porém melancólico como a vida do próprio homem por trás da genialidade. Uma interessante leitura do belo e do trágico na vida de Saint Laurent.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
4.1 3,2K Assista AgoraVer uma produção nacional advinda de um curta-metragem tratar o tema com tanta delicadeza e naturalidade - como deveria ser sempre - é de encher o coração.
Produção simples, mas certeira, boas atuações, ótima trilha sonora (inclusive nas cenas em que é o silêncio que faz tal papel), fotografia encantadora e sem exageros. Um belo trabalho sobre o amor e a força dele diante de obstáculos.
Saí da sessão mais feliz. Pelo filme, claro, mas também por ver o sorriso, os olhos brilhantes e aquela calma e poderosa felicidade entre todos no cinema, independentemente de sexualidade. Mais um pequeno passo em busca de igualdade e, considerando o cinema e a cultura nacionais, um passo significativo.
O amor sempre será o que há de mais precioso e poderoso na natureza humana.
Jovem e Bela
3.4 477 Assista AgoraJovem e bela. Desesperada e blasé.
A escolha da atriz para o papel foi impecável; Marine Vacth representa perfeitamente a jovem francesa e seus paradoxos, mimetizando a pulsão sexual na própria indiferença. Para além da beleza notável da guria, percebe-se a pontinha de confusão e melancolia em seu olhar, tão comum ao início da vida adulta e suas incertezas (e à vida toda, quem queremos enganar?).
François Ozon, como sempre, traz à tona temas polêmicos e esculpe um trabalho soberbo ao mostrar a banalidade da estranheza humana. Um convite aos quartos mais escuros de nós mesmos aos quais desviamos o olhar é sempre bem-vindo.
Sexualidade, vazios emocionais e a quase invisível linha entre o certo e o errado dão ao filme o aspecto de rosas que se esvaem lentamente em sua própria beleza. Retrato do ápice que presencia o cheiro mais selvagem da flor, mas também sua silenciosa degradação.
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraTenham, ao menos, a decência de admitir que gostaram do filme somente pelos efeitos em IMAX. O roteiro e as atuações são dignos de Sessão da Tarde... E olhe lá.
Barfly: Condenados pelo Vício
3.7 133A carta do próprio Buk sobre Barfly:
http://bistrocultural.com/wp-content/uploads/2010/09/carta.jpg
Sarabanda
4.1 65Pergunta retórica: como passar pelas obras bergmanianas e não se render à atuação espetacular e aos olhos vivos de Liv Ullmann?