Fraco, desinteressante e chato. Personagens que não exigiram complexidade nenhuma das atrizes, que devolveram na mesma medida com atuações fracas. Se o máximo que o filme tinha a oferecer era tensão sexual, dificilmente se consegue fazer essa construção de atmosfera num filme de 1h30m de duração.
Era o filme que eu mais estava ansioso para assistir dessa temporada de Oscar, mas infelizmente Jackie é um filme restrito e sem emoção. A história se restringe a questão do luto e uma não-tão-profunda-assim reflexão sobre mitos, legados e construções de imagem de figuras públicas após suas mortes. Com uma linha temporal toda fatiada, que embora não seja confusa, não permite qualquer desenvolvimento ou evolução de tensão e drama. Na verdade não há grandes momentos no filme que tenham exigido igualmente grande intensidade de carga emocional dramática por parte da Natalie Portman — que sim, está maravilhosa como sempre, mas é contida pela pouca intensidade que o filme exige dela. Talvez o maior ou único desses momentos, é quando, numa ótima cena, logo após o assassinato do JFK, a Jackie está limpando o rosto sujo de sangue do marido. No mais, o máximo de algum outro sentimento que o filme consegue passar é angústia, com a trilha sonora de abertura do filme.
A minha expectativa com a proposta de Jackie era poder tentar me ver/me sentir na posição dela naqueles momentos. Poder tentar sentir o que ela sentiu — algo que a câmera nervosa do Darren Aronofsky (que produziu o filme) facilmente teria resolvido… Mas enfim. A expectativa era minha. O problema é meu.
Nesse mundo existem dois tipos de diretores, os que sabem contar histórias de verdade e os que tentam.
E caramba, como o Sergio Leone sabia construir e contar histórias como poucos! E não qualquer história, mas verdadeiras sagas. Até a primeira metade do filme, eu ainda estava resistente a ele, muito por estar esperando que esse fosse ser igual e que trouxesse os mesmos elementos característicos dos dois primeiros filmes da trilogia. Ingenuidade a minha. A partir da segunda metade, fui simplesmente arrebatado pela grandiosidade de Três Homens em Conflito. Aquela sequência da guerra é fascinante, como todas as cenas que são gravadas de verdade, sem efeitos especiais. Me remeteu na hora a também belíssima cena dos ataques de avião em Apocalypse Now, bombardeando vilas vietnamitas.
Inegavelmente o Eli Waallach roubou a cena. E deixou inclusive o Clint Eastwood incomodado nas gravações. Porque o personagem do Tuco era justamente o único que era completo e teve seu passado contado, diferente do Blondie e Angel Eyes. Mas essa ''vantagem'' não muda o fato de que o Elli foi gigante na atuação. E o Eastwood estava lá pra fazer ''suas caras/olhares e bocas''.
Por fim, gosto do argumento anti-guerra e héroi do filme. Desconstruindo o romantismo sobre a fundação dos Estados Unidos. Mostrando inclusive a precariedade e o abandono de tropas dos Confederados e União.
Filme completo, icônico. E o que dizer da trilha sonora? ''AaaAaAh''
Assisti Monster. Assisti esse documentário. Assisti Making A Murderer do Netflix e então precisei voltar para o caso ''Making a Serial Killer'' envolvendo a Aileen.
De longe, o mais emblemático e complexo de um/a serial killer que eu tenha me interessado e conhecido até agora. Resguardadas as devidas diferenças entre esses dois casos (pra quem já tenha assistido a série) é inevitável não relacionar essas duas histórias, envolvendo duas ''vítimas'' do sistema criminal americano, mas principalmente vitimas de como a mídia, a cultura e a sociedade americana ''makes'' (transformam) criminosos em serial-killers pra gerar dinheiro e entretenimento.
Vítima sim da sociedade, Aileen veio encontrar nos assassinatos e respectivos roubos, a oportunidade de uma relativa estabilidade (financeira e de relacionamento com a Tyria Moore) de vida que ela nunca teve antes, nem mesmo na infância. Diferente dos demais serial-killers conhecidos, ela não era uma ''psicopata fria e calculista'', que sentia prazer nas mortes de suas vítimas. Características principais que configuram um serial-killer. É por isso, humanamente compreensível sentir pena por ela. Alguém que esteve sozinha e marginalizada a vida toda, e não teve nem na justiça, um assessoramento correto. Novamente, assim como em Making A Murderer, fica uma certeza sobre o sistema criminal americano: se seu crime ganhar notoriedade na mídia, você já perdeu o caso. É impossível você conseguir que o júri seja imparcial depois que a televisão te crucificar antes do julgamento. E definitivamente uma polícia corrupta não ajuda.
Teorias da conspiração e lacunas em aberto a parte, o que mais me marcou nela por fim, foi justamente a ''lucidez'' de sempre lembrar o fato de que ''estavam condenando a morte uma mulher estuprada'', mesmo já presa e bem desequilibrada psicologicamente. Tal estupro, que comprovadamente traumatiza e pode comprometer a vida de qualquer pessoa. Principalmente quando acontece na infância, como foi o caso dela. E essa foi a mensagem que ela deixou pra mim.
Excelente documentário, daquele que foi o único a defender a Aileen (contra a pena de morte) até seu fim; o diretor Nick Broomfield.
''I'm sailing with the rock, and I'll be back, like Independence Day, with Jesus. June 6, like the movie. Big mother ship and all, I'll be back, I'll be back.''
Normalmente eu tento evitar fazer comentários bem receita de bolo do tipo ''ótimo enredo, ótimas atuações'' se for só isso o que eu tiver pra falar sobre o filme. Mas com L.A. Confidential chega ser imoral começar de outra forma que não seja essa. Porque é desrespeitoso o quanto esse filme é bom! Um elenco de peso, em plena sintonia. Com atuações de verdade. Russell Crowe e Guy Pierce os dois pilares do filme, que ironicamente só aparacem, bem pequenos, no fundo dos posteres promocionais do filme, certamente por motivos comerciais. Mas é um detalhe que me chamou atenção. Talvez a única ''crítica'' a se fazer do filme. E se eu precisei ir tão longe assim é porque realmente a condução do filme é quase impecável. Uma trama policial complexa, tão bem contada e dirigida, que não resta muito mais a comentar.
Decepciona sim. Infelizmente. Uma paródia de mau gosto de Tarantino, dirigido por ele mesmo. Nas quase duas horas iniciais (sim, inciais) de filme, as personagens falam das mesmas coisas e repetem incansavelmente as mesmas histórias, que é: se apresentarem. Quem são. O que fazem. Em diálogos tediosos (que vão se repetir até o último capítulo do filme). Nada que não pudesse ser contado em 40 minutos de história e com folga de tempo ainda. E tudo isso pra quê? Pra fazer uma síntese manjada (né?) sobre a história dos Estados Unidos, com seus preconceitos e cicatrizes que perduram até hoje. Racismo, sua relação com a guerra civil do norte com o sul, mexicanos e com direito a Jesus Cristo e Abraham Lincoln sintetizando a já sintetizada história. E quer spoiler? A Daisy representa a tal América. Disputada, agredida e negociada por esses diferentes tipos de pessoas/etnias, mas com um interesse não tão diferente assim: dinheiro. E pra quem resistiu até o final (e suspirou de alivio como a maioria das pessoas que assistiram na mesma sessão de cinema que eu), um pouco do pouco que o filme tem a oferecer: algumas linhas engraçadas do Samuel L. Jackson com o Sheriff Mannix, as mortes, o sangue e alguma velocidade no desfecho do não-tão-plot twist assim da trama de última hora que o filme escondia(?) até então, mas que nem de longe lembra a mesma química e criatividade que marcaram Bastardos e Django.
Eu realmente espero daqui a algum tempo quem sabe, já ter repensado sobre o filme e descoberto alguma qualidade além da trilha sonora. Mas por enquanto é isso. O filme é categoricamente chato.
O despertar do carisma de Star Wars. Se por um lado, é discutível a opção da Disney/J.J. Abrams de terem aberto um pouco a mão da originalidade e terem praticamente só replicado/rimado essa nova história, principalmente com o primeiro da franquia, Uma Nova Esperança, é indiscutível o quanto isso funcionou. Os novos personagens são tão carismáticos quantos os da primeira trilogia. E essas duas gerações conversaram muito bem no filme, já preparando a transição pro decorrer da trilogia. Rey e Finn, Rey e Han Solo e Leia (já sugerindo qual seja seu possível passado), além claro, do Han Solo com o novo vilão, Kylo Ren, que são uma ponte (literalmente) pros novos rumos que Star Wars irá seguir daqui a diante. Particularmente, o Kylo Ren é de longe o personagem e ''evento'' no filme, que mais me conquistou. A atuação do Adam Driver é cativante. Diferente do Darth Vader que na primeira trilogia, já era um ''ser'', uma entidade do mal, o Kylo Ren ainda é humano. E passivo de conflitos internos, o que o torna imprevisível para nós, público. Novamente diferente de Darth Vader, quando jovem, que já tinha seu destino final traçado (pela primeira trilogia). Do qual, o público já conhecia.
Por fim, tecnicamente, o que mais me agradou foi o realismo e o capricho dado ao filme, desde os pequenos detalhes. Você pode sentir o peso e a presença dos personagens não-humanos, graças a qualidade do CGI utilizado. Diferente do de mal-gosto, viciado e em excesso usado pelo Lucas nos presequels - com exceção em A Vingança de Sith. Você pode ouvir o som e a força das armas e sabres de luzes (que perderam aquele som de zumbido, por vezes irritantes). Pela primeira vez, você realmente sente medo dessas armas. O ápice disso, é o duelo entre o Kylo x Finn/Rey. Efeitos, direção e fotografia extasiantes nessa sequência.
Enfim, talvez a frase que melhor resuma O Despertar da Força seja ''menos é mais''. Os acertos e erros do filme se pautaram por essa opção do menos. Acertou quando usou menos CGI, menos personagens e principalmente menos informação aparacendo na tela. Novamente, como comparação: vide a oversode/poluição visual dos presequels. E errou quando deu menos informações sobre a Rey, o que vai ser preciso agora ser contado no próximo filme, já acumulando aí uma carga, ao invés de ''liberar'' a personagem disso. A tal da Chrometrooper entrou muda e saiu calada. O Chewbacca sem o mesmo carisma de outrora. Mas como afinal ''menos é mais'', o Despertar da Força é mais. Um começo de era Disney, com o pulmão cheio de ar.
Embora os argumentos não sejam tão fortes assim, é um documentário revelante. É bastante significativo ter acesso a todas as gravações de conversas entre o investigador particular e a Courtney Love, desde antes ainda do corpo do Kurt ser encontrado. Os áudios mostram muitas incoerências nas informações que a Love passava pro investigador, o que justifica ele ter se sentido enganado por ela durante a investigação, e posteriormente ter passado a ser seu principal acusador. Um momento crucial, é justamente quando, se tivesse sido melhor informado por ela e pelo tal do Dylan, sobre a existência daquele anexo a casa, ele poderia ter inclusive descoberto o corpo do Kurt antes do eletricista. Também vale destacar as presenças no documentário de figuras relevantes como o paramédico, o xerife de polícia, etc. Mas longe de conseguir provar a existência de uma conspiração, e que o Kurt Cobain foi assassinado, o documentário só consegue sugerir que a Courtney sabia mais do que dizia sobre toda a situação e premeditava histórias. Mas daí, pra ''mandante'' da morte do Kurt, existe um longo caminho. A grande ''prova'' do documentário por fim, é de que o caso deveria sim ser reaberto. Já que evidências e certos procedimentos foram negligenciados. Tal como deviam ser disponibilizadas as fotos do corpo/cena do crime tiradas pela polícia, para que outros especialistas pudessem analisar.
Curiosidade: o nome ''Bill Bailey'' que o Kurt usava quando ficava em hotéis, é o nome real do Axl Rose, do Guns N' Roses.
Bem, então aparentemente vou ter que discordar da maioria. Achei esse melhor que a primeira versão do Brian de Palma. Há pontos positivos e negativos. Enquanto as atuações da Chloe e da Julianne (embora ela melhore no decorrer do filme) decepcionam, nesse, os personagens secundários e suas intenções são melhores contadas que no filme de 1976. Principalmente a personagem da Sue, que era muito confusa no primeiro, em relação ao sentimento de culpa e empatia pela Carrie. Com essa clareza nessa personagem importante, a história ficou muito melhor amarrada. Desnecessário o momento ''confira no replay'' quando derramam o balde de sangue na Carrie. Mas considerando que na versão do Brian de Palma, ele também pecou com os exageros nessa mesma cena, com todas aquelas lembranças vindo no modo ''repeat'' na cabeça da Carrie, soando bem artificial, então os dois ficam empatados nesse quesito. Mas por fim, os efeitos especiais são talvez o que mais pesam em favor dessa versão de Carrie. As mortes ficaram muito boas e o final é melhor. De qualquer forma, foi um remake bastante fiel a primeira versão.
Preciso confessar que apesar da ótima fantasia, as coisas que mais me marcaram, foram na verdade elementos técnicos do filme. Primeiro preciso citar a frase do médico ao capitão: ''Obedecer por obedecer, assim sem pensar, só faz esse tipo de coisa, gente como você capitão.", que é uma crítica perfeita a qualquer forma de regime político que utilize da lógica militar pra governar. No caso do filme, o nacionalismo/fascismo Espanhol. E o segundo elemento, foi a qualidade nos efeitos visuais dos assassinatos, onde o realismo alcançado nas cenas, as torna mais impactantes... e consequentemente belas. Como a cena dos ''caçadores de coelho''.
Por fim, o filme tal como o governo dos Estados Unidos queria sobre o Brasil (e México), visando a política da Boa Vizinhança, que fosse alegre, colorido, exótico (e hollywoodiano), e que não mostrasse a realidade em si do Brasil, com todos seus problemas e desigualdades sociais, foi feito: Los Tres Caballeros (Você já foi à Bahia?) da Disney, em 1944 - dois anos depois de o Orson Welles ter filmado as únicas partes que conseguiu para It's All True.
Já Los Tres Caballeros, conta com a participação da irmã da Carmen Miranda (nossa talentosa marionete da política americana) e esse sim, com a aprovação do Getúlio Vargas, que também não tinha gostado do que It's All True se propunha a mostrar.
Irreversível: uma resposta à 2001: Uma Odisseia no Espaço.
Nas cenas finais de Irreversível, no momento em que a personagem Alex descobre que está grávida, tem-se como plano de fundo (literalmente) um poster do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço do Stanley Kubrick. Mais especificamente um poster alternativo com a imagem do chamado ''feto astral'' (ou ‘’criança das estrelas’’), que representa dentro da filosofia de ‘’2001’’, e da filosofia de Nietzsche (da qual o filme aborda), o nascimento do ''Super-Homem''. Ou, o homem plenamente evoluído. Sendo fã confesso de Kubrick, não houve surpresa nenhuma para o público, a ''homenagem'' que o diretor Gaspar Noé teria prestado ao mesmo filme que também considera como sendo seu favorito. O que, no entanto eu considero como uma interpretação superficial e simplória do fato. Quando na verdade, muito mais do que apenas homenagear ‘’2001’’ com uma simples aparição do tal poster, Irreversível segue não somente uma estrutura semelhante, como se propõe também a dialogar e a dar uma ''resposta'' as ideias expressas em ‘’2001’’.
Essa conversação entre os dois filmes começa devidamente do começo. Desde a primeira trilha sonora do filme, quando termina-se de subir os créditos (em moldes finais, já mostrando qual será a técnica (invertida) de narração utilizada no enredo) e aparece o nome do filme, o que se ouve é uma mistura rápida, do que parece ser primeiro a abertura de O Iluminado (outro filme do Kubrick) e então sim, em seguida apresenta-se os créditos (nos moldes tradicionais de créditos iniciais), apresentando os nomes dos atores, equipe técnica, direção e etc, sob os sons clássicos dos tambores da introdução da valsa ‘’Assim Falou Zaratustra’’, abertura da sequência Aurora da Humanidade em ‘’2001’’. E é exatamente em cima dessa sessão, famosa pela representação do ser humano, ainda como primata, e da sessão final de ‘’2001’’, a do feto-astral, que o diretor argentino vai construir seu argumento em resposta ao final esperançoso e positivo, quanto a uma expectativa próximo-futura da evolução da humanidade, apresentado por Kubrick através do emblemático olhar sereno do feto. Se ironicamente, era o Kubrick quem era considerado pessimista no seu tempo, aqui é Noé quem é implacável, destilando toda sua descrença total nas qualidades do homem moderno e do que ele teoricamente deveria se tornar (a partir do conceito do super-homem) e da sociedade como um todo.
Sobre a questão técnica enfim, destaca-se que as únicas diferenças quanto as estruturas das duas histórias, ocorre especificamente na escolha dos planos de fundo. Mas que ambas continuam essencialmente conversando entre si.
Enquanto Kubrick escolhe em ‘’2001’’, a abordagem científica da evolução da humanidade, começando pela natural e histórica (nossa descendência dos primatas), passando por uma reflexão sobre o conceito da tecnologia e por fim, acreditando ser a evolução plena, o ‘’destino’’ do homem;
Noé aborda os mesmos campos, mas partindo ironicamente para o oposto do cientificismo: o uso das ideias religiosas, através de metáforas. Aqui, o Jardim de Éden corresponde a Aurora da Humanidade, e o Inferno é o destino final da já condenada humanidade. Em especial o homem em si, o macho. E não a mulher. O homem é o responsável principal por todo o mal da sociedade. É ele quem come do fruto proibido, comete o pecado inicial e é tentado pela serpente.
Sua Aurora da Humanidade porém (as duas primeiras sequências do filme), já começa no Inferno. ‘’Acho que somos todos Mephistos’’ (personagem conhecido como uma das reencarnações de Lúcifer) responde o homem ao personagem conhecido como Açougueiro, dos dois outros filmes (antecessores a Irreversível) de Gaspar Noé (Carne, e Sozinho Contra Todos), quando esse confessa ter comido do ‘’fruto proibido’’: ter feito sexo com sua própria filha. A próxima sequência então, temos o inferno representado alegoricamente pela balada The Rectum. Sob o som de homens acorrentados, praticando todo o tipo de ‘’sodomia’’ e sadomasoquismo, as câmeras, a iluminação, e a trilha sonora acompanham o clima deturpado do ambiente e o estado de espirito desnorteado das personagens. Cena que incomodou muita gente. Aqui, temos contato pela primeira vez com os personagens Marcus e Pierre, consumidos por uma ‘’sede de vingança e violência’’, após ouvirem a tentação das serpentes: os homens que fizeram a proposta de ajudar a achar o responsável pelo estupro da Alex.
Pulando agora para a cena final de Irreversível, em que Alex está deitada num Jardim, e que é cronologicamente a inicial da história, temos o Jardim do Éden. E ele é alegre e tranquilo. Apenas Alex e crianças brincando. Nenhum homem. Nenhum pecado inicial. Seguindo as cenas, a partir da cronologia reversa do filme, temos Alex confirmando a partir do teste, que está grávida, e a câmera então ''viaja'' por detrás dela, destacando finalmente o poster de ‘’2001’’, com a imagem do feto-astral e a frase ''The ultimate trip''. E de fato o seria. Não a última ''viagem'' de Alex, já que tudo leva a crer que ela não morre, mas sim a do seu feto. E veja que aqui também, a morte (ultimate trip) não é nem exatamente a física/real (embora Alex leve chutes na barriga, tecnicamente ela ainda está grávida de um embrião ‘’apenas’’) mas é sim ideologicamente, que esse mesmo embrião (ideia) vai morrer no decorrer do filme. Esse feto, que simbolizava em ‘’2001’’ a possibilidade de um homem-evoluído, morre. De quem é a culpa? Noé então nos diz, que a culpa é pelo fato de ainda não termos evoluído o suficiente do estágio de primatas, que de forma inconsequentemente age por impulsos e instintos (carnais). No filme, esse personagem é o Marcus. Namorado da Alex. Citado várias vezes pelas outras personagens, não por acaso, como tal: um primata. E que, por suas impulsividades e culpa, ela (e seu feto-astral do super-homem) vão ser corrompidos pela sociedade: estuprados. Marcus tem como contraposição na história, Pierre, o ex-namorado de sua mulher, e que é o representante (também pessimista) do homem ''moderno''. O homem que já superou afinal os instintos carnais, dá valor a filosofia e ao conhecimento, mas que não é feliz e plenamente realizado. E quando tem a oportunidade de matar o estuprador de Alex (personagem que personifica os males da sociedade no geral), mata o cara errado. O mal continua impune na sociedade.
Mas não se contentando em passar essa mensagem totalmente pessimista quanto ao não-amadurecimento do homem/humanidade, Gaspar Noé ainda o quis fazer de uma forma mais ''torturante'’: a inversão da ordem cronológica da história. Pois dessa forma, a partir da cena do estupro, ele nos torna coniventes daquela situação, uma vez que nós testemunhamos aquele fato. E enquanto a história voltar para trás, e retroceder aquele momento, nós ficaremos sabendo daquilo antes dos próprios personagens o viverem, e a nossa incapacidade de reverter aquilo, nos torna cumplices. Nós o vimos e não podemos fazer nada, como por exemplo ''avisar as personagens do que vai acontecer'’. Nos resta apenas aceitarmos a IRREVERSIBILIDADE daquele fato.
A mensagem (inicial) de Irreversível por fim, é dentre as pessimistas, a mais positiva que o diretor Gaspar Noé ‘’arranjou’’: ‘’O tempo destrói tudo’’. Nem a maldade do homem por maior que seja, é inerente a destruição do tempo. E esse tempo há de chegar.
''Apenas os mortos verão o fim da guerra'', Platão.
Particularmente achei incrível a ideia (se é que realmente era a intenção do Terrence) de trabalhar todo o filme, com um conceito de anti-clímax. Exatamente pra se distanciar desse estilo ''hollywoodiano de filmes sobre guerra'' com heroísmo patriótico e personagens caricatos. Nesse, esse anti-clímax trabalha quebrando qualquer empolgação de alguém que esteja assistindo o filme em busca apenas das cenas de ação. Em The Thin Red Line, as cenas de combate seguem um ''ritmo longo'' e de indefinição. Exatamente porque os soldados não querem ser heróis. Eles não querem sair de trás dos morros, onde estão protegidos. Um general (Staros) que não quer expor seu pelotão a ataques suicidas. Não querem ''salvar a America''. Querem se salvar. A opção por um elenco de atores em peso, foi outra sacada genial pra se trabalhar esse anti-clímax. Nós temos aqui o Adrien Brody por exemplo, talvez um dos melhores atores dramáticos contemporâneo, que praticamente não tem falas no filme. E não porque o personagem é inexpressivo, mas pelo contrário, seu personagem é a expressão do ser humano com medo. Ainda quando ele deveria falar algo, quando perguntado várias vezes sobre o que tinha acontecido com o Witt, ele não tem reações. Como se estivesse morto por dentro. Não há drama barato, não há heroísmo. Só há medo nele.
É o primeiro filme do Malick que assisto, e não consigo dizer outra coisa, senão que é uma obra de arte. A fotografia da natureza é vívida, em contraste com tanta morte. Todo o teor poético e filosófico se encaixam perfeitamente com a humanidade das personagens retratadas. O soldado Witt é certamente um dos mais carismáticos e empáticos de qualquer filme sobre guerra.
Quando acabou o filme e apareceu ''Direct by Sam Mendes'', entendi o porquê da sensação de êxtase que eu estava sentindo. Era novamente o mesmo sentimento experimentado antes com Beleza Americana, do mesmo diretor. E comparações não tão a parte assim, pois os dois trabalham essencialmente os mesmos conceitos de: a ''vida americana nos subúrbios'' e o pesadelo que isso pode ser por trás das aparências (destaque aqui pro contexto e período histórico de Revolutionary Road que se passa nos anos 50, justamente a primeira década pós guerra, e o começo da caminhada americana para o American Way Of Life, que é o foco da crítica de Beleza Americana) e das frustrações de se ter uma vida diferente do que a sonhada. E nesse em especial, a percepção de que sua vida não é tão especial assim, como os outros dizem. E o ''vazio sem esperança'' de se ver preso nos mesmos moldes da vida que tentamos evitar. Embora com um texto menos amplo que Beleza Americana, ''Foi Apenas um Sonho'' é por fim, a ''vida real'' no mais dramática que ela pode ser. Quando o mais devastador dos sentimentos humanos, o vazio, se encontra dentro das mais fortes prisões sociais: o casamento, a família.
Impossível não fazer também o jogo de imaginação, de considerar Foi Apenas um Sonho, sendo uma continuação de como poderia ter sido a vida do Jack e Rose de Titanic. Aqui, sem mais a necessidade de uma paixão desesperada digna de um navio prestes a afundar, mas sim, as dificuldades do amor dentro da rotina e frustrações de uma vida normal. No mais, precisar falar que o Leonardo DiCaprio e a Kate Winslet dão um show de atuação é redundante.
“A Galáxia inteira, todo o Universo, estavam comprimidos num pontinho deste tamanho. E sabe o que aconteceu? Fez assim e explodiu... Faíscas em todas as direções, saiu tudo voando para todo o lado e o espaço se formou. Era só gás flutuando...''
Assim como na formação do universo, fascínio do Hunter, sua família ''fez assim e explodiu''.
Incansavelmente lindo, árido e delicado, Paris, Texas é por fim uma história de redenção. A odisseia pessoal de um homem, um pai, perdido existencialmente (e literalmente, no deserto) após a desilusão de um amor não pleno. Obra irretocável do Wim Wenders.
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista AgoraA melhor parte do filme é quando o Bradley Cooper finalmente toma um banho.
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4.0 240A Gleisi foi diagnosticada com escoliose por carregar o PT nas costas durante o impeachment.
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3.9 996 Assista Agorahoje 50 negros foram espancados pela polícia mas o mundo só quer saber o que vai acontecer com a branquelinha que levou um tiro
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3.4 1,2K Assista AgoraO roteiro é uma cópia de Alien, mas é preciso reconhecer que a execução do filme é muito boa.
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3.2 615 Assista AgoraFraco, desinteressante e chato. Personagens que não exigiram complexidade nenhuma das atrizes, que devolveram na mesma medida com atuações fracas. Se o máximo que o filme tinha a oferecer era tensão sexual, dificilmente se consegue fazer essa construção de atmosfera num filme de 1h30m de duração.
Nem desapontado, nem surpreso.
A Casa dos Espíritos
3.9 449 Assista AgoraE O Vento Levou chileno.
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3.7 569 Assista AgoraEssa direção de arte e fotografia <3 John Carpenter, eu te venero.
Jackie
3.4 740 Assista AgoraEra o filme que eu mais estava ansioso para assistir dessa temporada de Oscar, mas infelizmente Jackie é um filme restrito e sem emoção. A história se restringe a questão do luto e uma não-tão-profunda-assim reflexão sobre mitos, legados e construções de imagem de figuras públicas após suas mortes. Com uma linha temporal toda fatiada, que embora não seja confusa, não permite qualquer desenvolvimento ou evolução de tensão e drama. Na verdade não há grandes momentos no filme que tenham exigido igualmente grande intensidade de carga emocional dramática por parte da Natalie Portman — que sim, está maravilhosa como sempre, mas é contida pela pouca intensidade que o filme exige dela. Talvez o maior ou único desses momentos, é quando, numa ótima cena, logo após o assassinato do JFK, a Jackie está limpando o rosto sujo de sangue do marido. No mais, o máximo de algum outro sentimento que o filme consegue passar é angústia, com a trilha sonora de abertura do filme.
A minha expectativa com a proposta de Jackie era poder tentar me ver/me sentir na posição dela naqueles momentos. Poder tentar sentir o que ela sentiu — algo que a câmera nervosa do Darren Aronofsky (que produziu o filme) facilmente teria resolvido… Mas enfim. A expectativa era minha. O problema é meu.
Três Homens em Conflito
4.6 1,2K Assista AgoraNesse mundo existem dois tipos de diretores, os que sabem contar histórias de verdade e os que tentam.
E caramba, como o Sergio Leone sabia construir e contar histórias como poucos! E não qualquer história, mas verdadeiras sagas. Até a primeira metade do filme, eu ainda estava resistente a ele, muito por estar esperando que esse fosse ser igual e que trouxesse os mesmos elementos característicos dos dois primeiros filmes da trilogia. Ingenuidade a minha. A partir da segunda metade, fui simplesmente arrebatado pela grandiosidade de Três Homens em Conflito. Aquela sequência da guerra é fascinante, como todas as cenas que são gravadas de verdade, sem efeitos especiais. Me remeteu na hora a também belíssima cena dos ataques de avião em Apocalypse Now, bombardeando vilas vietnamitas.
Inegavelmente o Eli Waallach roubou a cena. E deixou inclusive o Clint Eastwood incomodado nas gravações. Porque o personagem do Tuco era justamente o único que era completo e teve seu passado contado, diferente do Blondie e Angel Eyes. Mas essa ''vantagem'' não muda o fato de que o Elli foi gigante na atuação. E o Eastwood estava lá pra fazer ''suas caras/olhares e bocas''.
Por fim, gosto do argumento anti-guerra e héroi do filme. Desconstruindo o romantismo sobre a fundação dos Estados Unidos. Mostrando inclusive a precariedade e o abandono de tropas dos Confederados e União.
Filme completo, icônico. E o que dizer da trilha sonora? ''AaaAaAh''
Aileen: Vida e Morte de Uma Serial Killer
3.8 53Assisti Monster. Assisti esse documentário. Assisti Making A Murderer do Netflix e então precisei voltar para o caso ''Making a Serial Killer'' envolvendo a Aileen.
De longe, o mais emblemático e complexo de um/a serial killer que eu tenha me interessado e conhecido até agora. Resguardadas as devidas diferenças entre esses dois casos (pra quem já tenha assistido a série) é inevitável não relacionar essas duas histórias, envolvendo duas ''vítimas'' do sistema criminal americano, mas principalmente vitimas de como a mídia, a cultura e a sociedade americana ''makes'' (transformam) criminosos em serial-killers pra gerar dinheiro e entretenimento.
Vítima sim da sociedade, Aileen veio encontrar nos assassinatos e respectivos roubos, a oportunidade de uma relativa estabilidade (financeira e de relacionamento com a Tyria Moore) de vida que ela nunca teve antes, nem mesmo na infância. Diferente dos demais serial-killers conhecidos, ela não era uma ''psicopata fria e calculista'', que sentia prazer nas mortes de suas vítimas. Características principais que configuram um serial-killer. É por isso, humanamente compreensível sentir pena por ela. Alguém que esteve sozinha e marginalizada a vida toda, e não teve nem na justiça, um assessoramento correto. Novamente, assim como em Making A Murderer, fica uma certeza sobre o sistema criminal americano: se seu crime ganhar notoriedade na mídia, você já perdeu o caso. É impossível você conseguir que o júri seja imparcial depois que a televisão te crucificar antes do julgamento. E definitivamente uma polícia corrupta não ajuda.
Teorias da conspiração e lacunas em aberto a parte, o que mais me marcou nela por fim, foi justamente a ''lucidez'' de sempre lembrar o fato de que ''estavam condenando a morte uma mulher estuprada'', mesmo já presa e bem desequilibrada psicologicamente. Tal estupro, que comprovadamente traumatiza e pode comprometer a vida de qualquer pessoa. Principalmente quando acontece na infância, como foi o caso dela. E essa foi a mensagem que ela deixou pra mim.
Excelente documentário, daquele que foi o único a defender a Aileen (contra a pena de morte) até seu fim; o diretor Nick Broomfield.
''I'm sailing with the rock, and I'll be back, like Independence Day, with Jesus. June 6, like the movie. Big mother ship and all, I'll be back, I'll be back.''
Los Angeles: Cidade Proibida
4.1 529 Assista AgoraNormalmente eu tento evitar fazer comentários bem receita de bolo do tipo ''ótimo enredo, ótimas atuações'' se for só isso o que eu tiver pra falar sobre o filme. Mas com L.A. Confidential chega ser imoral começar de outra forma que não seja essa. Porque é desrespeitoso o quanto esse filme é bom! Um elenco de peso, em plena sintonia. Com atuações de verdade. Russell Crowe e Guy Pierce os dois pilares do filme, que ironicamente só aparacem, bem pequenos, no fundo dos posteres promocionais do filme, certamente por motivos comerciais. Mas é um detalhe que me chamou atenção. Talvez a única ''crítica'' a se fazer do filme. E se eu precisei ir tão longe assim é porque realmente a condução do filme é quase impecável. Uma trama policial complexa, tão bem contada e dirigida, que não resta muito mais a comentar.
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista AgoraDecepciona sim. Infelizmente. Uma paródia de mau gosto de Tarantino, dirigido por ele mesmo. Nas quase duas horas iniciais (sim, inciais) de filme, as personagens falam das mesmas coisas e repetem incansavelmente as mesmas histórias, que é: se apresentarem. Quem são. O que fazem. Em diálogos tediosos (que vão se repetir até o último capítulo do filme). Nada que não pudesse ser contado em 40 minutos de história e com folga de tempo ainda. E tudo isso pra quê? Pra fazer uma síntese manjada (né?) sobre a história dos Estados Unidos, com seus preconceitos e cicatrizes que perduram até hoje. Racismo, sua relação com a guerra civil do norte com o sul, mexicanos e com direito a Jesus Cristo e Abraham Lincoln sintetizando a já sintetizada história. E quer spoiler? A Daisy representa a tal América. Disputada, agredida e negociada por esses diferentes tipos de pessoas/etnias, mas com um interesse não tão diferente assim: dinheiro. E pra quem resistiu até o final (e suspirou de alivio como a maioria das pessoas que assistiram na mesma sessão de cinema que eu), um pouco do pouco que o filme tem a oferecer: algumas linhas engraçadas do Samuel L. Jackson com o Sheriff Mannix, as mortes, o sangue e alguma velocidade no desfecho do não-tão-plot twist assim da trama de última hora que o filme escondia(?) até então, mas que nem de longe lembra a mesma química e criatividade que marcaram Bastardos e Django.
Eu realmente espero daqui a algum tempo quem sabe, já ter repensado sobre o filme e descoberto alguma qualidade além da trilha sonora. Mas por enquanto é isso. O filme é categoricamente chato.
Star Wars, Episódio VII: O Despertar da Força
4.3 3,1K Assista AgoraO despertar do carisma de Star Wars. Se por um lado, é discutível a opção da Disney/J.J. Abrams de terem aberto um pouco a mão da originalidade e terem praticamente só replicado/rimado essa nova história, principalmente com o primeiro da franquia, Uma Nova Esperança, é indiscutível o quanto isso funcionou. Os novos personagens são tão carismáticos quantos os da primeira trilogia. E essas duas gerações conversaram muito bem no filme, já preparando a transição pro decorrer da trilogia. Rey e Finn, Rey e Han Solo e Leia (já sugerindo qual seja seu possível passado), além claro, do Han Solo com o novo vilão, Kylo Ren, que são uma ponte (literalmente) pros novos rumos que Star Wars irá seguir daqui a diante. Particularmente, o Kylo Ren é de longe o personagem e ''evento'' no filme, que mais me conquistou. A atuação do Adam Driver é cativante. Diferente do Darth Vader que na primeira trilogia, já era um ''ser'', uma entidade do mal, o Kylo Ren ainda é humano. E passivo de conflitos internos, o que o torna imprevisível para nós, público. Novamente diferente de Darth Vader, quando jovem, que já tinha seu destino final traçado (pela primeira trilogia). Do qual, o público já conhecia.
Por fim, tecnicamente, o que mais me agradou foi o realismo e o capricho dado ao filme, desde os pequenos detalhes. Você pode sentir o peso e a presença dos personagens não-humanos, graças a qualidade do CGI utilizado. Diferente do de mal-gosto, viciado e em excesso usado pelo Lucas nos presequels - com exceção em A Vingança de Sith. Você pode ouvir o som e a força das armas e sabres de luzes (que perderam aquele som de zumbido, por vezes irritantes). Pela primeira vez, você realmente sente medo dessas armas. O ápice disso, é o duelo entre o Kylo x Finn/Rey. Efeitos, direção e fotografia extasiantes nessa sequência.
Enfim, talvez a frase que melhor resuma O Despertar da Força seja ''menos é mais''. Os acertos e erros do filme se pautaram por essa opção do menos. Acertou quando usou menos CGI, menos personagens e principalmente menos informação aparacendo na tela. Novamente, como comparação: vide a oversode/poluição visual dos presequels. E errou quando deu menos informações sobre a Rey, o que vai ser preciso agora ser contado no próximo filme, já acumulando aí uma carga, ao invés de ''liberar'' a personagem disso. A tal da Chrometrooper entrou muda e saiu calada. O Chewbacca sem o mesmo carisma de outrora. Mas como afinal ''menos é mais'', o Despertar da Força é mais. Um começo de era Disney, com o pulmão cheio de ar.
Soaked In Bleach
3.2 31Embora os argumentos não sejam tão fortes assim, é um documentário revelante. É bastante significativo ter acesso a todas as gravações de conversas entre o investigador particular e a Courtney Love, desde antes ainda do corpo do Kurt ser encontrado. Os áudios mostram muitas incoerências nas informações que a Love passava pro investigador, o que justifica ele ter se sentido enganado por ela durante a investigação, e posteriormente ter passado a ser seu principal acusador. Um momento crucial, é justamente quando, se tivesse sido melhor informado por ela e pelo tal do Dylan, sobre a existência daquele anexo a casa, ele poderia ter inclusive descoberto o corpo do Kurt antes do eletricista. Também vale destacar as presenças no documentário de figuras relevantes como o paramédico, o xerife de polícia, etc. Mas longe de conseguir provar a existência de uma conspiração, e que o Kurt Cobain foi assassinado, o documentário só consegue sugerir que a Courtney sabia mais do que dizia sobre toda a situação e premeditava histórias. Mas daí, pra ''mandante'' da morte do Kurt, existe um longo caminho. A grande ''prova'' do documentário por fim, é de que o caso deveria sim ser reaberto. Já que evidências e certos procedimentos foram negligenciados. Tal como deviam ser disponibilizadas as fotos do corpo/cena do crime tiradas pela polícia, para que outros especialistas pudessem analisar.
Curiosidade: o nome ''Bill Bailey'' que o Kurt usava quando ficava em hotéis, é o nome real do Axl Rose, do Guns N' Roses.
Carrie, a Estranha
2.8 3,5K Assista AgoraBem, então aparentemente vou ter que discordar da maioria. Achei esse melhor que a primeira versão do Brian de Palma. Há pontos positivos e negativos. Enquanto as atuações da Chloe e da Julianne (embora ela melhore no decorrer do filme) decepcionam, nesse, os personagens secundários e suas intenções são melhores contadas que no filme de 1976. Principalmente a personagem da Sue, que era muito confusa no primeiro, em relação ao sentimento de culpa e empatia pela Carrie. Com essa clareza nessa personagem importante, a história ficou muito melhor amarrada. Desnecessário o momento ''confira no replay'' quando derramam o balde de sangue na Carrie. Mas considerando que na versão do Brian de Palma, ele também pecou com os exageros nessa mesma cena, com todas aquelas lembranças vindo no modo ''repeat'' na cabeça da Carrie, soando bem artificial, então os dois ficam empatados nesse quesito. Mas por fim, os efeitos especiais são talvez o que mais pesam em favor dessa versão de Carrie. As mortes ficaram muito boas e o final é melhor. De qualquer forma, foi um remake bastante fiel a primeira versão.
Jamie Marks Está Morto
3.0 38Harry Potter e Kevin O'Doyle.
Eu, Christiane F.,13 Anos, Drogada e Prostituída
3.6 1,2K Assista AgoraO grande erro da Christiane foi certamente ter pintando o cabelo de vermelho.
O Labirinto do Fauno
4.2 2,9KPreciso confessar que apesar da ótima fantasia, as coisas que mais me marcaram, foram na verdade elementos técnicos do filme. Primeiro preciso citar a frase do médico ao capitão: ''Obedecer por obedecer, assim sem pensar, só faz esse tipo de coisa, gente como você capitão.", que é uma crítica perfeita a qualquer forma de regime político que utilize da lógica militar pra governar. No caso do filme, o nacionalismo/fascismo Espanhol. E o segundo elemento, foi a qualidade nos efeitos visuais dos assassinatos, onde o realismo alcançado nas cenas, as torna mais impactantes... e consequentemente belas. Como a cena dos ''caçadores de coelho''.
É Tudo Verdade
3.9 17Por fim, o filme tal como o governo dos Estados Unidos queria sobre o Brasil (e México), visando a política da Boa Vizinhança, que fosse alegre, colorido, exótico (e hollywoodiano), e que não mostrasse a realidade em si do Brasil, com todos seus problemas e desigualdades sociais, foi feito: Los Tres Caballeros (Você já foi à Bahia?) da Disney, em 1944 - dois anos depois de o Orson Welles ter filmado as únicas partes que conseguiu para It's All True.
Já Los Tres Caballeros, conta com a participação da irmã da Carmen Miranda (nossa talentosa marionete da política americana) e esse sim, com a aprovação do Getúlio Vargas, que também não tinha gostado do que It's All True se propunha a mostrar.
Irreversível
4.0 1,8K Assista AgoraIrreversível: uma resposta à 2001: Uma Odisseia no Espaço.
Nas cenas finais de Irreversível, no momento em que a personagem Alex descobre que está grávida, tem-se como plano de fundo (literalmente) um poster do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço do Stanley Kubrick. Mais especificamente um poster alternativo com a imagem do chamado ''feto astral'' (ou ‘’criança das estrelas’’), que representa dentro da filosofia de ‘’2001’’, e da filosofia de Nietzsche (da qual o filme aborda), o nascimento do ''Super-Homem''. Ou, o homem plenamente evoluído. Sendo fã confesso de Kubrick, não houve surpresa nenhuma para o público, a ''homenagem'' que o diretor Gaspar Noé teria prestado ao mesmo filme que também considera como sendo seu favorito. O que, no entanto eu considero como uma interpretação superficial e simplória do fato. Quando na verdade, muito mais do que apenas homenagear ‘’2001’’ com uma simples aparição do tal poster, Irreversível segue não somente uma estrutura semelhante, como se propõe também a dialogar e a dar uma ''resposta'' as ideias expressas em ‘’2001’’.
Essa conversação entre os dois filmes começa devidamente do começo. Desde a primeira trilha sonora do filme, quando termina-se de subir os créditos (em moldes finais, já mostrando qual será a técnica (invertida) de narração utilizada no enredo) e aparece o nome do filme, o que se ouve é uma mistura rápida, do que parece ser primeiro a abertura de O Iluminado (outro filme do Kubrick) e então sim, em seguida apresenta-se os créditos (nos moldes tradicionais de créditos iniciais), apresentando os nomes dos atores, equipe técnica, direção e etc, sob os sons clássicos dos tambores da introdução da valsa ‘’Assim Falou Zaratustra’’, abertura da sequência Aurora da Humanidade em ‘’2001’’. E é exatamente em cima dessa sessão, famosa pela representação do ser humano, ainda como primata, e da sessão final de ‘’2001’’, a do feto-astral, que o diretor argentino vai construir seu argumento em resposta ao final esperançoso e positivo, quanto a uma expectativa próximo-futura da evolução da humanidade, apresentado por Kubrick através do emblemático olhar sereno do feto. Se ironicamente, era o Kubrick quem era considerado pessimista no seu tempo, aqui é Noé quem é implacável, destilando toda sua descrença total nas qualidades do homem moderno e do que ele teoricamente deveria se tornar (a partir do conceito do super-homem) e da sociedade como um todo.
Sobre a questão técnica enfim, destaca-se que as únicas diferenças quanto as estruturas das duas histórias, ocorre especificamente na escolha dos planos de fundo. Mas que ambas continuam essencialmente conversando entre si.
Enquanto Kubrick escolhe em ‘’2001’’, a abordagem científica da evolução da humanidade, começando pela natural e histórica (nossa descendência dos primatas), passando por uma reflexão sobre o conceito da tecnologia e por fim, acreditando ser a evolução plena, o ‘’destino’’ do homem;
Noé aborda os mesmos campos, mas partindo ironicamente para o oposto do cientificismo: o uso das ideias religiosas, através de metáforas. Aqui, o Jardim de Éden corresponde a Aurora da Humanidade, e o Inferno é o destino final da já condenada humanidade. Em especial o homem em si, o macho. E não a mulher. O homem é o responsável principal por todo o mal da sociedade. É ele quem come do fruto proibido, comete o pecado inicial e é tentado pela serpente.
Sua Aurora da Humanidade porém (as duas primeiras sequências do filme), já começa no Inferno. ‘’Acho que somos todos Mephistos’’ (personagem conhecido como uma das reencarnações de Lúcifer) responde o homem ao personagem conhecido como Açougueiro, dos dois outros filmes (antecessores a Irreversível) de Gaspar Noé (Carne, e Sozinho Contra Todos), quando esse confessa ter comido do ‘’fruto proibido’’: ter feito sexo com sua própria filha. A próxima sequência então, temos o inferno representado alegoricamente pela balada The Rectum. Sob o som de homens acorrentados, praticando todo o tipo de ‘’sodomia’’ e sadomasoquismo, as câmeras, a iluminação, e a trilha sonora acompanham o clima deturpado do ambiente e o estado de espirito desnorteado das personagens. Cena que incomodou muita gente. Aqui, temos contato pela primeira vez com os personagens Marcus e Pierre, consumidos por uma ‘’sede de vingança e violência’’, após ouvirem a tentação das serpentes: os homens que fizeram a proposta de ajudar a achar o responsável pelo estupro da Alex.
Pulando agora para a cena final de Irreversível, em que Alex está deitada num Jardim, e que é cronologicamente a inicial da história, temos o Jardim do Éden. E ele é alegre e tranquilo. Apenas Alex e crianças brincando. Nenhum homem. Nenhum pecado inicial. Seguindo as cenas, a partir da cronologia reversa do filme, temos Alex confirmando a partir do teste, que está grávida, e a câmera então ''viaja'' por detrás dela, destacando finalmente o poster de ‘’2001’’, com a imagem do feto-astral e a frase ''The ultimate trip''. E de fato o seria. Não a última ''viagem'' de Alex, já que tudo leva a crer que ela não morre, mas sim a do seu feto. E veja que aqui também, a morte (ultimate trip) não é nem exatamente a física/real (embora Alex leve chutes na barriga, tecnicamente ela ainda está grávida de um embrião ‘’apenas’’) mas é sim ideologicamente, que esse mesmo embrião (ideia) vai morrer no decorrer do filme. Esse feto, que simbolizava em ‘’2001’’ a possibilidade de um homem-evoluído, morre. De quem é a culpa? Noé então nos diz, que a culpa é pelo fato de ainda não termos evoluído o suficiente do estágio de primatas, que de forma inconsequentemente age por impulsos e instintos (carnais). No filme, esse personagem é o Marcus. Namorado da Alex. Citado várias vezes pelas outras personagens, não por acaso, como tal: um primata. E que, por suas impulsividades e culpa, ela (e seu feto-astral do super-homem) vão ser corrompidos pela sociedade: estuprados. Marcus tem como contraposição na história, Pierre, o ex-namorado de sua mulher, e que é o representante (também pessimista) do homem ''moderno''. O homem que já superou afinal os instintos carnais, dá valor a filosofia e ao conhecimento, mas que não é feliz e plenamente realizado. E quando tem a oportunidade de matar o estuprador de Alex (personagem que personifica os males da sociedade no geral), mata o cara errado. O mal continua impune na sociedade.
Mas não se contentando em passar essa mensagem totalmente pessimista quanto ao não-amadurecimento do homem/humanidade, Gaspar Noé ainda o quis fazer de uma forma mais ''torturante'’: a inversão da ordem cronológica da história. Pois dessa forma, a partir da cena do estupro, ele nos torna coniventes daquela situação, uma vez que nós testemunhamos aquele fato. E enquanto a história voltar para trás, e retroceder aquele momento, nós ficaremos sabendo daquilo antes dos próprios personagens o viverem, e a nossa incapacidade de reverter aquilo, nos torna cumplices. Nós o vimos e não podemos fazer nada, como por exemplo ''avisar as personagens do que vai acontecer'’. Nos resta apenas aceitarmos a IRREVERSIBILIDADE daquele fato.
A mensagem (inicial) de Irreversível por fim, é dentre as pessimistas, a mais positiva que o diretor Gaspar Noé ‘’arranjou’’: ‘’O tempo destrói tudo’’. Nem a maldade do homem por maior que seja, é inerente a destruição do tempo. E esse tempo há de chegar.
Além da Linha Vermelha
3.9 383 Assista Agora''Apenas os mortos verão o fim da guerra'', Platão.
Particularmente achei incrível a ideia (se é que realmente era a intenção do Terrence) de trabalhar todo o filme, com um conceito de anti-clímax. Exatamente pra se distanciar desse estilo ''hollywoodiano de filmes sobre guerra'' com heroísmo patriótico e personagens caricatos. Nesse, esse anti-clímax trabalha quebrando qualquer empolgação de alguém que esteja assistindo o filme em busca apenas das cenas de ação. Em The Thin Red Line, as cenas de combate seguem um ''ritmo longo'' e de indefinição. Exatamente porque os soldados não querem ser heróis. Eles não querem sair de trás dos morros, onde estão protegidos. Um general (Staros) que não quer expor seu pelotão a ataques suicidas. Não querem ''salvar a America''. Querem se salvar. A opção por um elenco de atores em peso, foi outra sacada genial pra se trabalhar esse anti-clímax. Nós temos aqui o Adrien Brody por exemplo, talvez um dos melhores atores dramáticos contemporâneo, que praticamente não tem falas no filme. E não porque o personagem é inexpressivo, mas pelo contrário, seu personagem é a expressão do ser humano com medo. Ainda quando ele deveria falar algo, quando perguntado várias vezes sobre o que tinha acontecido com o Witt, ele não tem reações. Como se estivesse morto por dentro. Não há drama barato, não há heroísmo. Só há medo nele.
É o primeiro filme do Malick que assisto, e não consigo dizer outra coisa, senão que é uma obra de arte. A fotografia da natureza é vívida, em contraste com tanta morte. Todo o teor poético e filosófico se encaixam perfeitamente com a humanidade das personagens retratadas. O soldado Witt é certamente um dos mais carismáticos e empáticos de qualquer filme sobre guerra.
Foi Apenas um Sonho
3.6 1,3K Assista AgoraQuando acabou o filme e apareceu ''Direct by Sam Mendes'', entendi o porquê da sensação de êxtase que eu estava sentindo. Era novamente o mesmo sentimento experimentado antes com Beleza Americana, do mesmo diretor. E comparações não tão a parte assim, pois os dois trabalham essencialmente os mesmos conceitos de: a ''vida americana nos subúrbios'' e o pesadelo que isso pode ser por trás das aparências (destaque aqui pro contexto e período histórico de Revolutionary Road que se passa nos anos 50, justamente a primeira década pós guerra, e o começo da caminhada americana para o American Way Of Life, que é o foco da crítica de Beleza Americana) e das frustrações de se ter uma vida diferente do que a sonhada. E nesse em especial, a percepção de que sua vida não é tão especial assim, como os outros dizem. E o ''vazio sem esperança'' de se ver preso nos mesmos moldes da vida que tentamos evitar. Embora com um texto menos amplo que Beleza Americana, ''Foi Apenas um Sonho'' é por fim, a ''vida real'' no mais dramática que ela pode ser. Quando o mais devastador dos sentimentos humanos, o vazio, se encontra dentro das mais fortes prisões sociais: o casamento, a família.
Impossível não fazer também o jogo de imaginação, de considerar Foi Apenas um Sonho, sendo uma continuação de como poderia ter sido a vida do Jack e Rose de Titanic. Aqui, sem mais a necessidade de uma paixão desesperada digna de um navio prestes a afundar, mas sim, as dificuldades do amor dentro da rotina e frustrações de uma vida normal. No mais, precisar falar que o Leonardo DiCaprio e a Kate Winslet dão um show de atuação é redundante.
Paris, Texas
4.3 700 Assista Agora“A Galáxia inteira, todo o Universo, estavam comprimidos num pontinho deste tamanho. E sabe o que aconteceu? Fez assim e explodiu... Faíscas em todas as direções, saiu tudo voando para todo o lado e o espaço se formou. Era só gás flutuando...''
Assim como na formação do universo, fascínio do Hunter, sua família ''fez assim e explodiu''.
Incansavelmente lindo, árido e delicado, Paris, Texas é por fim uma história de redenção. A odisseia pessoal de um homem, um pai, perdido existencialmente (e literalmente, no deserto) após a desilusão de um amor não pleno. Obra irretocável do Wim Wenders.