Quando vi o trailer de AmarElo, disponível na Netflix, imaginava que seria o registro do show do Emicida no Teatro Municipal de São Paulo. Porém o artista é pretensioso e, neste trabalho, vai além de mostrar seu novo álbum e inspirações. Emicida protagoniza um documentário mostrando toda a história da negritude no Brasil, dos movimentos sociais, artísticos e políticos. É uma baita aula de história vista do ponto de vista dos negros e do artista. Você entende muito bem como ele mistura brilhantemente o samba com o rap e canta para fazer as pessoas desfavorecidas e discriminadas sonharem. Sua pretensão não é um defeito muitas vezes atribuído a pessoas que querem ir além do que podem ser. Emicida já é. Ele quis ocupar o Teatro Municipal, na maioria das vezes visitado somente pela classe alta e branca, como forma de mostrar que todos podem pisar naquele espaço e naquele palco. Ele tem poder para isso. Suas músicas têm qualidade e História para isso. É emocionante acompanhar sua trajetória no documentário e terminar a obra de forma catártica com a música AmarElo, quando vemos no palco Emicida, Majur e Pablo Vittar juntos. O Brasil é isso, é a diversidade, é dos pretos, dos gays, das trans, é de todo mundo, ao contrário do que essa era bolsonarista tenta pregar. Emicida sabe que não é possível brigar por uma só causa. Tem que ser por todas as causas e deve-se ter união. "Tudo que nóis tem é nóis". A catarse feita pelo artista é a reparação de tudo o que foi negado por esses grupos no passado. É como acontece no ditado citado algumas vezes durante a obra "Exu matou um pássaro ontem, com uma pedra que só jogou hoje."
Com talvez o único plano mais aberto do filme, Joias Brutas se inicia em uma mina na Etiópia quando um trabalhador sofre um grave acidente e tem uma fratura exposta na perna. Desde os primeiros segundos o filme já incomoda. A seguir vemos mineradores extraindo uma pedra e o filme iniciando um plano muito bacana onde as luzes da joia se misturam com as luzes do espaço e culmina no intestino do protagonista, Howard Ratner, em um exame de colonoscopia. Esse é o tom do filme dos irmãos Safdie, que ganharam notoriedade por Bom Comportamento, e trazem aqui algo frenético como o filme anterior, uma obra que não se cansa de trazer muitas informações ao mesmo tempo, mas que não causa confusão no espectador. Aliás, se tem algo que esse filme causa é ansiedade. Ratner, composto por Adam Sandler como uma figura ora patética, ora repulsiva, ora digna de pena, é dono de uma joalheria e vive se metendo em apostas, vício que o leva a tomar cada vez mais decisões erradas que vão afetar sua vida, trabalho e família. É um personagem típico da cidade de Nova Iorque, fazendo mil coisas ao mesmo tempo. Em sua loja o vemos vendendo algo, ao mesmo tempo que fala sobre sua nova aquisição, ao mesmo tempo que fala sobre jogo de basquete e recebe o resultado de seu exame, que deveria ser algo importante, mas ele está ocupado demais para tratar o assunto com importância. Reparem logo no início a quantidade de pessoas dentro da loja falando ao mesmo tempo e Ratner tentando atender todas as figuras mais importantes para ele ali. Esse estilo de vida frenético vai dando o tom do filme, sempre crescendo, onde o personagem tenta sair de um problema, como pagar uma dívida fazendo outras dívidas e apostas e vai cada vez mais se enfiando no fundo no poço. Desprezado pela esposa e filha mais velha, admirado por seu filho mais novo e tendo como cúmplice de seu estilo de vida uma amante, Ratner aposta todas suas fichas e economias na pedra que vimos no começo do filme. Ele acredita que ela tem um valor altíssimo, enquanto um jogador de basquete famoso, Kevin Garnett, interpretando a si mesmo, também acredita que a pedra traz sorte e a quer para si. O intuito do filme é nos jogar no meio de tantas confusões que você acaba amargurado com os infortúnios de Ratner. Não à toa, o personagem está sempre em ambientes fechados ou com a câmera muito próxima. Apesar de estar na imensa Nova Iorque, ele é um personagem acossado, por isso a produção faz questão de o manter sempre em ambientes claustrofóbicos. É uma saga de personagens escusos, como grandes filmes de mafiosos de Nova Iorque. O nome do Scorsese na produção é uma bênção para a produção... Se você conseguir manter o fôlego até o final, vai apreciar uma sequência primorosa onde talvez você precise ainda mais de fôlego para chegar até os créditos. O filme vai te fazer, inclusive, torcer para uma partida de basquete que acontece em meio a um dos momentos cruciais da vida de Ratner. Que jornada louca essa! Que filme excelente! Joias Brutas, o filme, é uma joia bem lapidada que está no catálogo da Netflix.
Acabou de entrar no catálogo da Amazon Prime. Documentário incrível, que faz valer cada segundo das 3h30m de duração. Ele é capaz de te transportar na rotina da biblioteca, como se não houvesse uma câmera entre o espectador e ambiente.
“Isto é tããão Black Mirror” é uma frase que ouvimos muito ultimamente para classificar situações onde a tecnologia torna-se o sujeito central do comportamento humano. Não à toa, já que a série, em suas primeiras temporadas, foi uma ótima antologia sobre histórias onde as pessoas não sabem como lidar com os recursos modernos e acabam, quase sempre, sendo escravas deles.
Bandersnatch é o mais novo episódio da série, com o diferencial de trazer interatividade para a história. Nada novo por aqui, já que este recurso está presente na literatura e videogames por exemplo. O desafio do episódio é fazer desta interatividade parte do enredo, que envolve um jovem criando um novo jogo baseado em livro também interativo. O objetivo é dar para o jogador, ou espectador, a sensação de controle.
O episódio assim é construído de uma forma onde você começa fazendo escolhas simples como o cereal que vai comer até as mais complexas. Na minha experiência, eu fiz algumas escolhas “erradas” onde o sistema voltava à cena anterior para eu escolher a “certa” para poder continuar a história. Achei isso frustrante para uma história que se vendeu como interativa. Não consigo falar muito sem dar spoilers, mas posso dizer que o roteiro foi esperto em, certo momento, contornar essa situação de frustração falando sobre a relação entre o criador e o consumidor. Apesar da tentativa, não me senti convencido do motivo de estar tendo essa vivência. Se era para ter uma crítica aqui como nos bons tempos da série, ela falha. Também o episódio faz o uso da metalinguagem para quebrar a quarta parede, mas não chega a se aprofundar nela. Se o objetivo foi filosofar sobre realidades paralelas ou o personagem ter consciência sobre ser um personagem, tais assuntos já foram muito melhor discutidos em filmes como Matrix, O Show de Truman e Mais Estranho que a Ficção.
A experiência que tive ao assistir Bandersnatch foi a de refletir sobre o que é Black Mirror hoje. Antes era uma antologia que discutia tecnologia e alienação. Uma série que causava desconcerto e reflexão sobre como usamos a tecnologia. Pode-se pensar que desde o começo a série exagerou nos argumentos e tornou-se uma mera ficção. Esse argumento é sustentado pelo fato de que a série faz sucesso desde 2011 e de lá para cá tivemos eleições sendo decididas por Facebook, Whatsapp, FakeNews e outros diversos sistemas tecnológicos que dá a sensação de as pessoas saberem mais do que realmente sabem. Assim, pode-se pensar que Black Mirror é aquele caso de quem exagera no argumento perde a causa, já que seus fãs e espectadores também caíram nestas armadilhas modernas e são constantemente controlados pela tecnologia.
Hoje Black Mirror virou um produto de sua própria crítica. Como a Netflix costuma fazer com suas produções, ela atende uma demanda do público e entrega o que estão pedindo. Conseguiram. No final do episódio, depois da experiência interativa que dá a sensação de novidade e de que existe algo mais ali, os fãs da Netflix vão abrir um sorriso e dizer: “Isto é tããão Black Mirror”.
Você já se pegou lembrando sobre seu passado olhando algo simples, mundano, mas que, por remeter à sua infância, se torna sublime? Pode ser um prato, uma rua do antigo bairro, uma comida etc.
Fotografado espetacularmente em um preto e branco para remeter ao passado, Roma, novo filme de Alfonso Cuarón, faz esse retorno à infância do diretor no bairro da Cidade do México nos anos 70. E os planos do filme constantemente focam em objetos de cenas simples. Às vezes é contemplativo, viajando por detalhes da casa, às vezes cômico, como um carro passando por cima de um cocô de cachorro (acreditem, não deixa de ser muito bem fotografado), e às vezes é dramático.
O que Cuarón pretendeu fazer nesta obra foi uma homenagem à sua criada na infância. Assim, acompanhamos Cleo, uma mulher indígena que dedica sua vida a cuidar da casa e filhos de uma família rica no bairro Roma. Como disse, o filme é contemplativo, mas não é alienado. O diretor faz questão de mostrar o abismo que separa as classes sociais, assim como um tema tão comum na sociedade, como o abandono parental. Soma-se a essas questões o contexto mexicano da época, onde se vivia uma crise econômica e social, mostrada através de protestos e milícias armadas.
Como é de praxe na filmografia de Cuarón, há planos-sequência impressionantes. Não tão grandes como ele fez em Filhos da Esperança (também disponível na Netlifx) e Gravidade, mas que carregam cargas emocionais em momentos chave do filme.
É um filme que mostra a vida como ela foi, é e vai continuar sendo.
Você não sabe se isso é um documentário ou um thrilher escrito por alguém como Tom Clancy.
São impressionantes os rumos dessa história, pensando que o ponto de partida era de alguém que estava investigando casos de doping em provas de ciclistas amadores e acaba entrando em uma conspiração do governo russo para encobrir casos de doping de seus atletas olímpicos.
Ontem vi Blade Runner 2049. Não vou falar quase nada sobre ele, já que logo no início do filme uma situação se coloca diante do espectador e é um ponto importante durante toda narrativa.
Gostaria de falar qual é o meu apreço por este mundo tomando como base o filme original de 1982. Sempre me instigou o fato da evolução das inteligências artificiais. No mundo de Blade Runner os robôs, ou replicantes, são evoluídos até o ponto no qual se tornam um humano. São capazes de pensar, tomar decisões, ter sentimentos e dores como todos nós. Então, o que diferencia nós dos replicantes, já que somos também um amontoado de matérias e impulsos elétricos? Escravizar os replicantes e depois caçá-los não é um ato de crueldade tal como caçar um ser humano?
Nesta distopia, uma Los Angeles high tech decadente e suja, a justificativa para a desumanização e violência contra os replicantes é o fato de não terem alma. Essa lógica já existiu e ainda existe entre grupos de pessoas no nosso mundo, não? Essas são algumas das questões dentro de uma história muito simples: um caçador de androides perseguindo 4 replicantes que se rebelaram da escravidão e voltaram para Terra. A força da produção está justamente na forma como aborda essas questões, nos causando empatia com os replicantes e nos fazendo filosofar sobre suas condições e nossa condição humana. E nem vou falar nos efeitos visuais e fotografia que continuam atuais.
Falar do Blade Runner original (1982) é falar também acerca da principal teoria sobre o personagem principal. Deckard é ou não um replicante também? Durante todo filme há indícios deste fato. Ele demonstra menos sentimentos que os replicantes durante todo o filme. Quando finalmente o vemos sentir algo, é por estar na presença da morte. A morte é o grande medo dos androides, já que não há nada mais para eles depois desta vida. Há também seu apego pelas lembranças, como os replicantes o fazem, e algumas rimas visuais que dão força a teoria. Sendo assim, é interessante pensar na evolução do personagem como um humano se descobrindo igual (ou um) replicante.
E, sem entregar nada, fiquei impressionado com essa continuação, Blade Runner 2049, ser uma evolução natural deste tema. Estamos diante de um novo personagem, que também vai traçar seu próprio caminho de descoberta neste mundo igualmente artificial e decadente. O filme me ganhou, encantou-me por não ser uma mera expansão ou um caça-níquel sobre o que aconteceu com Deckard. É um filme que se propõe a prolongar todas as questões que me atraem no primeiro filme e vai além, trazendo preocupações novas.
Um filme que não precisava de uma continuação acabou de ganhar uma sequência poderosa e necessária de ser vista por pessoas que, assim como eu, encantam-se com essas questões e com esse mundo.
Este filme estava caminhando para ser mais uma ficção genérica, porém divertida de se acompanhar, até chegar a sua conclusão... Sempre me irrito quando a direção e montagem é feita
única e exclusivamente para enganar o espectador. Sei que todo filme de terror tende a terminar com uma cena pessimista, condenando os personagens ou a humanidade, mas há maneiras muito mais eficientes de chegar nesta conclusão sem tratar o espectador como bobo de uma pegadinha do Malandro.
O declínio do personagem Logan é o triunfo tardio da série Wolverine. Todos elementos que faltaram nos filmes solos anteriores estão neste, como sequências de ação eletrizantes e sanguinárias, boa história e Wolverine animal como nos quadrinhos. O título da produção é apropriado para esta história, já que ela quase não lembra o gênero de super-heróis, mas sim um road movie de autodescobertas. Logan é uma epopeia sobre um homem que, ao atingir avançada idade, tenta fugir do seu passado e de seus instintos mais primitivos. Por mais que tente se manter no anonimato e levar uma vida ordinária, Logan ainda conserva dentro de si a raiva e dor do mutante Wolverine, com todo seu passado de sofrimento e perdas pessoais. Esse derradeiro filme de Hugh Jackman (ele jura que sim!) como o personagem do título é perfeito ao criar toda a atmosfera para a condição atual do personagem. A primeira cena já dá o pontapé inicial de seu embate interior. Noturna, obscura e com Logan aparentando senilidade e fragilidade, o personagem se vê confrontado e é obrigado a sair da carcaça de homem comum para o animal brutal. O sentimento penoso permeia toda a exibição e credito isso às interpretações dos atores, fotografia em tons áridos e escuros, trilha sonora intensa e adequada para as situações de ação, suspense e terror e situação indigna na qual o personagem principal agora vive. Além disso, a história se torna envolvente ao colocar o herói contra sua vontade em uma trama de perseguição a uma criança mutante que esconde um grande segredo, assim como a relação fraternal com o professor Xavier. É neste ponto da história que Logan vai encontrar novamente sua humanidade e a falta de humanidade alheia. Vale ressaltar aqui as reflexões que o filme propõe sobre a violência, mostrando que por mais que estamos envolto nela e a presenciamos a todo momento, isso não é e nunca deveria ser banal. Ferir ou matar alguém sempre te trará dor, não importando se o alvo é herói ou vilão. Portanto, mais um triunfo para este derradeiro capítulo, que finalmente faz uma discussão sobre um tema importante, algo que não tinha sido empregado aos outros dois filmes, mas muito bem empregado na série X-Men. Logan, portanto, é o filme que todos os fãs esperavam que acontecesse. Pessoalmente, eu não esperava que seria tão profundo e tão intenso. Além da ação digna do mutante, o lado dramático tornou-se a alma do filme e do sujeito que deve enfrentar o mundo e a si mesmo em busca da paz que almeja.
Especialmente para este filme, o Filmow deveria mudar as estrelinhas de avaliação para corações, só para eu dar 5 para essa produção que faz tanto bem para a alma.
Lembro a primeira vez que ouvi sobre a retomada da saga Star Wars, há alguns anos. Pensei como essa empreitada seria desnecessária e feita apenas para arrecadar dinheiro de fãs novos ou antigos. Essa minha ideia ainda era reforçada pelas notícias de que a franquia teria spin-offs. Uma ótima sequência ( O Despertar da Força) mais esse spin-off (Rogue One) depois e o veredito é: Disney, shut up and take my money! Sim, obviamente o intuito ainda é ganhar muito dinheiro com a saga, mas claramente vemos que o estúdio está preocupado em divertir os novos e antigos fãs, entregando histórias muito bem contadas, personagens interessantíssimos e aquela cereja do bolo fazendo o link deste mundo novo com o antigo. Rogue One cumpre tudo isso e vai além, fazendo um filme do mundo Star Wars, mas com personalidade própria, onde os preceitos jedis ficam de lado para acompanharmos as aventuras mais mundanas dos rebeldes. Outro ponto positivo desta produção é o elenco. Qual franquia pode se dar o luxo de reunir tantos atores talentosos como este filme reuniu? Felicity Jones, Mads Mikkelsen, Forest Whitaker, Diego Luna e Ben Mendelsohn são todos ótimos e estão todos ótimos em seus papéis aqui. É isso, não tenho mais receio algum de acompanhar esta nova empreitada da saga Star Wars, e mais que isso, aguardo ansiosamente o próximo episódio. E um beijo no coração de quem conseguiu fazer esse final de arrepiar todos os pelos dos espectadores mais antigos.
Diante de situações estranhas, o senso comum da humanidade é reagir com violência. Louise, protagonista de A Chegada, reage com uma poderosa arma, a linguagem. A linguista, chamada em uma missão de tradução, insiste com os soldados e generais que o caminho para a compreensão da chegada de 12 naves extraterrestres deve ser o conhecimento da língua dos seres. Saber interpretá-los é conhecer suas intenções e impedir que algo trágico (em uma visão medrosa do desconhecido) possa acontecer. Adquirir uma língua é adquirir junto todo um pacote cultural e de interpretação do mundo. Aprender uma nova língua e se imergir nela é reprogramar seu cérebro para uma nova interpretação de tudo a sua volta. O que Louise enxergará diferente a partir da compreensão da língua extraterrestre?
Mais uma vez, assisto uma ficção científica que busca respostas para nossas angústias mais reais, como a passagem da vida, a morte e as escolhas que fazemos nesta trajetória. A Chegada certamente será um clássico do cinema, ao lado de 2001 e Contato, neste segmento de ficções que nos deixam pensando sobre o filme e a vida por muito tempo após a experiência no templo da sala escura.
Além da história emocionante, impressionou-me como a linguagem cinematográfica é usada totalmente em favor da narrativa. Não poderia ser menos, já que estamos em uma história onde a linguagem é o fator primordial. A montagem, os ângulos de câmera, trilha sonora ou ausência dela, interpretações ( Amy Adams sensacional!) etc. Tudo nos deixa imersos na tela, causando até momentos de pura contemplação.
Enfim, é uma obra prima onde o exercício da linguagem está, além da história, em execução a cada frame. É uma obra de arte nos mostrando a importância da comunicação em um mundo cada vez mais escasso de compreensão.
Como eu amo filmes que, a partir de seu mundo surreal, têm muito a dizer sobre nossa realidade. O Lagosta entre naquele seleto grupo de filmes como Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças ou Mais Estranho que a Ficção de fábulas reflexivas. A história se passa em um mundo distópico onde pessoas que ficam solteiras vão para um asilo a fim de conseguir um novo relacionamento dentro de 45 dias. Caso não consigam, viram um animal de sua escolha. Sim, louco assim. Se você já deu risada só ao ler esta sinopse, você também irá se divertir muito com o senso de humor do filme, hora negro, hora escrachado sobre as ridículas situações dos personagens em busca de um parceiro ideal. Colin Farrell e sua expressão melancólica também contribui muito para este humor, com diálogos divertidíssimos e jeito de perdido neste mundo. Adorei como o filme aponta regras para que novos casais se formem, procurando algo em comum, por mais banal que seja. Esta mesma característica pode ser a ruína do relacionamento quando colocada em xeque ou desmentida. No mundo dos "rebeldes" solteiros também há regras tão absurdas quanto dos casados. A habilidade da narrativa em extrair o surrealismo e humor destas situações é deliciosa e, como disse, tem muito a dizer sobre regras que são impostas a nós na vida real. Para fechar, como toda fábula, há uma mensagem no final sobre uma máxima de amor que estamos acostumados a ouvir...
Clint Eastwood declarou seu voto a Donald Trump, um político que desprezo, mas não é por isso que vou deixar de ver seus filmes e deixar de declarar que é um dos meus cineastas favoritos. Dito isso, acho que todos devem deixar o fanatismo e ReinaldoAzevedismo de lado e correr para o cinema ver Aquarius, filme que necessita ser visto e pensado por todos os lados desta guerra política. Não porque o tema do filme esteja ligado diretamente com eventos do impeachment, mas porque ele nos faz pensar em uma coisa cada vez mais sensível em momentos turbulentos: a empatia. Filmado, montado e interpretado de maneira excepcional, Aquarius é um embate entre o progresso rumo à modernidade contra a resistência cheia de humanidade de Clara, uma mulher que não é compreendida pelo fato de ser algo que estamos deixando de ser: humanos. Tudo em Clara tem história e sentimentos, deixar seu apartamento seria apagar toda sua humanidade, deixar de escutar um disco de vinil não seria tão emocionante por não carregar momentos históricos da música, e de forma geral, o diretor faz questão de sempre mostrar a cômoda, que, se não estivesse ali, também apagaria toda uma história de amor existente naquele lugar. Não é à toa que em toda tentativa de ataque a estes momentos o filme nos mostra o ódio travestido de racionalismo. É o que mais costumamos fazer sempre que queremos mudar algo, apelamos para o racional e desprezamos algo também válido, histórico e necessário: a história de vida, sempre repleta de explosões emocionais, que é o que nos faz humanos.
Animação excelente. A narrativa não deixa de ser interessante, principalmente porque acerta em todos os momentos inventivos da função social dos animais e como eles agem dentro dela. A sequência dos bichos-preguiça é hilária! O único defeito é ter Shakira cantando a música tema. Saudades de quando a Disney fazia canções que nasciam clássicas com cantores do calibre de Elton John, Phil Collins etc.
É chover no molhado falar o quanto este é bom, emocionante e cheio de boas interpretações. Sem falar na grande música de Bruce Springsteen! Então que apontar algo: vocês repararam que os discursos de ódio presentes no filme ainda continuam a todo vapor em nossa sociedade? Mais de 20 anos depois!!! Como é triste ver que, em duas décadas, as pessoas não se deram o trabalho ou responsabilidade de estudar melhor a homossexualidade, os direitos legais e o que acontece com um portador de HIV. Mesmo com toda a ciência e psicologia disponível para as pessoas encararem essas questões com naturalidade, ainda temos que escutar as mesmas cruéis sentenças vistas no filme, como: "Deus fez Adão e Eva, não Adão e Adão", "Gays querem mais direitos que os outros", entre outras barbaridades e piadas preconceituosas que o filme expõe bem.
Saí do cinema com a certeza de ter visto um ótimo filme e com a sensação de que poderia ter sido uma obra-prima caso Iñarritu não tivesse feitos escolhas equivocadas na montagem do filme, principalmente ao inserir flash-backs que não acrescentam emoção ao momento que o personagem vive; pelo contrário, algumas vezes eles atrapalham a tensão. Contudo é uma jornada excelente para ser acompanhada, angustiante, lindamente fotografada e perfeitamente interpretada pelos 3 principais atores. Eu me esqueci que estavam na tela Leonardo DiCaprio, Tom Hardy e Domhnall Gleeson de tão bons que estão. E como não poderia deixar de ser, Iñarritu faz longos planos de tirar o fôlego, como a batalha inicial e a final. E claro, A(MAIÚSCULO) sequência do ataque do urso, que já deve ter nascido clássica e vai ficar na memória para sempre de tão perfeita.
É tempo de polarização política, onde quem não faz parte da sua linha ideológica é tratado como um monstro a ser morto, não como um humano. Estou falando de 2016 sim, que está sendo muito parecido com época da Guerra Fria. Por isso achei muito bom Ponte dos Espiões estar em evidência, concorrendo ao Oscar e tendo boas críticas, assim as pessoas assistem a história do advogado James Donovan que aceita defender o comunista Abel para garantir uma justiça de acordo com os direitos humanos. Spielberg deixa bem explícito o caráter humano de Donovan durante todo o filme, mostrando como ele é bom de retórica e como a usa para conseguir salvar vidas. O clima de paranoia muito bem desenvolvido através da direção, roteiro e fotografia faz deste filme um ótimo drama. Muitas pessoas enxergam nesta produção a tradicional moral patriota dos filmes americanos, o que não concordo plenamente. James Donovan é mostrado como um peixe fora d´água no filme, um homem que preza pela vida enquanto toda a nação americana clama por morte. É o que sabemos historicamente dos EUA, não é? Uma nação que sempre apoiou guerras desumanas, enquanto há pessoas (a minoria?) que brigam contra elas.
Documentário de uma das mais distintas e lindas vozes da música.É louvável a capacidade de sincronizar suas músicas com os momentos difíceis de sua vida, dando até a impressão de que as já clássicas canções não teriam a mesma intensidade se ela não tivesse passado por tudo o que passou. Amy Winehouse colocava sua alma nas músicas e este filme mostra isto competentemente. É impressionante como este documentário consegue causar uma relação de intimidade entre o espectador e Amy, graças a sua montagem que nunca a tira de vista, priorizando sua imagem até quando os depoimentos são de outras pessoas. Esta relação íntima com ela até me fazia torcer a todo momento para que ela se recuperasse, saísse da depressão e da vida regrada em drogas, como se eu pudesse mudar o seu destino trágico em 2011. E acabo de ver o documentário com um só pensamento: realmente espero que você, Amy, tenha encontrado um outro lugar de paz e redenção que sua alma merece!
Fred Rogers: O Padrinho da Criançada
4.3 43Entrou na Netflix! Assistam esse doc inspirador =D
AmarElo - É Tudo Pra Ontem
4.6 354 Assista AgoraQuando vi o trailer de AmarElo, disponível na Netflix, imaginava que seria o registro do show do Emicida no Teatro Municipal de São Paulo. Porém o artista é pretensioso e, neste trabalho, vai além de mostrar seu novo álbum e inspirações. Emicida protagoniza um documentário mostrando toda a história da negritude no Brasil, dos movimentos sociais, artísticos e políticos. É uma baita aula de história vista do ponto de vista dos negros e do artista. Você entende muito bem como ele mistura brilhantemente o samba com o rap e canta para fazer as pessoas desfavorecidas e discriminadas sonharem.
Sua pretensão não é um defeito muitas vezes atribuído a pessoas que querem ir além do que podem ser. Emicida já é. Ele quis ocupar o Teatro Municipal, na maioria das vezes visitado somente pela classe alta e branca, como forma de mostrar que todos podem pisar naquele espaço e naquele palco. Ele tem poder para isso. Suas músicas têm qualidade e História para isso.
É emocionante acompanhar sua trajetória no documentário e terminar a obra de forma catártica com a música AmarElo, quando vemos no palco Emicida, Majur e Pablo Vittar juntos. O Brasil é isso, é a diversidade, é dos pretos, dos gays, das trans, é de todo mundo, ao contrário do que essa era bolsonarista tenta pregar. Emicida sabe que não é possível brigar por uma só causa. Tem que ser por todas as causas e deve-se ter união. "Tudo que nóis tem é nóis".
A catarse feita pelo artista é a reparação de tudo o que foi negado por esses grupos no passado. É como acontece no ditado citado algumas vezes durante a obra "Exu matou um pássaro ontem, com uma pedra que só jogou hoje."
Joias Brutas
3.7 1,1K Assista AgoraCom talvez o único plano mais aberto do filme, Joias Brutas se inicia em uma mina na Etiópia quando um trabalhador sofre um grave acidente e tem uma fratura exposta na perna. Desde os primeiros segundos o filme já incomoda. A seguir vemos mineradores extraindo uma pedra e o filme iniciando um plano muito bacana onde as luzes da joia se misturam com as luzes do espaço e culmina no intestino do protagonista, Howard Ratner, em um exame de colonoscopia.
Esse é o tom do filme dos irmãos Safdie, que ganharam notoriedade por Bom Comportamento, e trazem aqui algo frenético como o filme anterior, uma obra que não se cansa de trazer muitas informações ao mesmo tempo, mas que não causa confusão no espectador. Aliás, se tem algo que esse filme causa é ansiedade.
Ratner, composto por Adam Sandler como uma figura ora patética, ora repulsiva, ora digna de pena, é dono de uma joalheria e vive se metendo em apostas, vício que o leva a tomar cada vez mais decisões erradas que vão afetar sua vida, trabalho e família. É um personagem típico da cidade de Nova Iorque, fazendo mil coisas ao mesmo tempo. Em sua loja o vemos vendendo algo, ao mesmo tempo que fala sobre sua nova aquisição, ao mesmo tempo que fala sobre jogo de basquete e recebe o resultado de seu exame, que deveria ser algo importante, mas ele está ocupado demais para tratar o assunto com importância. Reparem logo no início a quantidade de pessoas dentro da loja falando ao mesmo tempo e Ratner tentando atender todas as figuras mais importantes para ele ali.
Esse estilo de vida frenético vai dando o tom do filme, sempre crescendo, onde o personagem tenta sair de um problema, como pagar uma dívida fazendo outras dívidas e apostas e vai cada vez mais se enfiando no fundo no poço. Desprezado pela esposa e filha mais velha, admirado por seu filho mais novo e tendo como cúmplice de seu estilo de vida uma amante, Ratner aposta todas suas fichas e economias na pedra que vimos no começo do filme. Ele acredita que ela tem um valor altíssimo, enquanto um jogador de basquete famoso, Kevin Garnett, interpretando a si mesmo, também acredita que a pedra traz sorte e a quer para si.
O intuito do filme é nos jogar no meio de tantas confusões que você acaba amargurado com os infortúnios de Ratner. Não à toa, o personagem está sempre em ambientes fechados ou com a câmera muito próxima. Apesar de estar na imensa Nova Iorque, ele é um personagem acossado, por isso a produção faz questão de o manter sempre em ambientes claustrofóbicos. É uma saga de personagens escusos, como grandes filmes de mafiosos de Nova Iorque. O nome do Scorsese na produção é uma bênção para a produção...
Se você conseguir manter o fôlego até o final, vai apreciar uma sequência primorosa onde talvez você precise ainda mais de fôlego para chegar até os créditos. O filme vai te fazer, inclusive, torcer para uma partida de basquete que acontece em meio a um dos momentos cruciais da vida de Ratner.
Que jornada louca essa! Que filme excelente! Joias Brutas, o filme, é uma joia bem lapidada que está no catálogo da Netflix.
17 Quadras
4.2 5Está sendo exibido na Mostra de São Paulo. Intenso, emocionante, necessário e imperdível.
Soldados do Araguaia
4.1 22 Assista AgoraEntrou no catálogo da Prime Video. Imperdível.
Elena
4.2 1,3K Assista AgoraEntra no catálogo da Netflix dia 1 de setembro, assim como O Olmo e a Gaivota. Não percam!
Ex Libris - Biblioteca Pública de Nova York
4.2 4Acabou de entrar no catálogo da Amazon Prime. Documentário incrível, que faz valer cada segundo das 3h30m de duração. Ele é capaz de te transportar na rotina da biblioteca, como se não houvesse uma câmera entre o espectador e ambiente.
Black Mirror: Bandersnatch
3.5 1,4K“Isto é tããão Black Mirror” é uma frase que ouvimos muito ultimamente para classificar situações onde a tecnologia torna-se o sujeito central do comportamento humano. Não à toa, já que a série, em suas primeiras temporadas, foi uma ótima antologia sobre histórias onde as pessoas não sabem como lidar com os recursos modernos e acabam, quase sempre, sendo escravas deles.
Bandersnatch é o mais novo episódio da série, com o diferencial de trazer interatividade para a história. Nada novo por aqui, já que este recurso está presente na literatura e videogames por exemplo. O desafio do episódio é fazer desta interatividade parte do enredo, que envolve um jovem criando um novo jogo baseado em livro também interativo. O objetivo é dar para o jogador, ou espectador, a sensação de controle.
O episódio assim é construído de uma forma onde você começa fazendo escolhas simples como o cereal que vai comer até as mais complexas. Na minha experiência, eu fiz algumas escolhas “erradas” onde o sistema voltava à cena anterior para eu escolher a “certa” para poder continuar a história. Achei isso frustrante para uma história que se vendeu como interativa. Não consigo falar muito sem dar spoilers, mas posso dizer que o roteiro foi esperto em, certo momento, contornar essa situação de frustração falando sobre a relação entre o criador e o consumidor. Apesar da tentativa, não me senti convencido do motivo de estar tendo essa vivência. Se era para ter uma crítica aqui como nos bons tempos da série, ela falha. Também o episódio faz o uso da metalinguagem para quebrar a quarta parede, mas não chega a se aprofundar nela. Se o objetivo foi filosofar sobre realidades paralelas ou o personagem ter consciência sobre ser um personagem, tais assuntos já foram muito melhor discutidos em filmes como Matrix, O Show de Truman e Mais Estranho que a Ficção.
A experiência que tive ao assistir Bandersnatch foi a de refletir sobre o que é Black Mirror hoje. Antes era uma antologia que discutia tecnologia e alienação. Uma série que causava desconcerto e reflexão sobre como usamos a tecnologia. Pode-se pensar que desde o começo a série exagerou nos argumentos e tornou-se uma mera ficção. Esse argumento é sustentado pelo fato de que a série faz sucesso desde 2011 e de lá para cá tivemos eleições sendo decididas por Facebook, Whatsapp, FakeNews e outros diversos sistemas tecnológicos que dá a sensação de as pessoas saberem mais do que realmente sabem. Assim, pode-se pensar que Black Mirror é aquele caso de quem exagera no argumento perde a causa, já que seus fãs e espectadores também caíram nestas armadilhas modernas e são constantemente controlados pela tecnologia.
Hoje Black Mirror virou um produto de sua própria crítica. Como a Netflix costuma fazer com suas produções, ela atende uma demanda do público e entrega o que estão pedindo. Conseguiram. No final do episódio, depois da experiência interativa que dá a sensação de novidade e de que existe algo mais ali, os fãs da Netflix vão abrir um sorriso e dizer: “Isto é tããão Black Mirror”.
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraVocê já se pegou lembrando sobre seu passado olhando algo simples, mundano, mas que, por remeter à sua infância, se torna sublime? Pode ser um prato, uma rua do antigo bairro, uma comida etc.
Fotografado espetacularmente em um preto e branco para remeter ao passado, Roma, novo filme de Alfonso Cuarón, faz esse retorno à infância do diretor no bairro da Cidade do México nos anos 70. E os planos do filme constantemente focam em objetos de cenas simples. Às vezes é contemplativo, viajando por detalhes da casa, às vezes cômico, como um carro passando por cima de um cocô de cachorro (acreditem, não deixa de ser muito bem fotografado), e às vezes é dramático.
O que Cuarón pretendeu fazer nesta obra foi uma homenagem à sua criada na infância. Assim, acompanhamos Cleo, uma mulher indígena que dedica sua vida a cuidar da casa e filhos de uma família rica no bairro Roma. Como disse, o filme é contemplativo, mas não é alienado. O diretor faz questão de mostrar o abismo que separa as classes sociais, assim como um tema tão comum na sociedade, como o abandono parental. Soma-se a essas questões o contexto mexicano da época, onde se vivia uma crise econômica e social, mostrada através de protestos e milícias armadas.
Como é de praxe na filmografia de Cuarón, há planos-sequência impressionantes. Não tão grandes como ele fez em Filhos da Esperança (também disponível na Netlifx) e Gravidade, mas que carregam cargas emocionais em momentos chave do filme.
É um filme que mostra a vida como ela foi, é e vai continuar sendo.
É um dos melhores filmes de 2018.
Ícaro
4.0 125 Assista AgoraVocê não sabe se isso é um documentário ou um thrilher escrito por alguém como Tom Clancy.
São impressionantes os rumos dessa história, pensando que o ponto de partida era de alguém que estava investigando casos de doping em provas de ciclistas amadores e acaba entrando em uma conspiração do governo russo para encobrir casos de doping de seus atletas olímpicos.
Documentário imperdível.
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraOntem vi Blade Runner 2049. Não vou falar quase nada sobre ele, já que logo no início do filme uma situação se coloca diante do espectador e é um ponto importante durante toda narrativa.
Gostaria de falar qual é o meu apreço por este mundo tomando como base o filme original de 1982. Sempre me instigou o fato da evolução das inteligências artificiais. No mundo de Blade Runner os robôs, ou replicantes, são evoluídos até o ponto no qual se tornam um humano. São capazes de pensar, tomar decisões, ter sentimentos e dores como todos nós. Então, o que diferencia nós dos replicantes, já que somos também um amontoado de matérias e impulsos elétricos? Escravizar os replicantes e depois caçá-los não é um ato de crueldade tal como caçar um ser humano?
Nesta distopia, uma Los Angeles high tech decadente e suja, a justificativa para a desumanização e violência contra os replicantes é o fato de não terem alma. Essa lógica já existiu e ainda existe entre grupos de pessoas no nosso mundo, não? Essas são algumas das questões dentro de uma história muito simples: um caçador de androides perseguindo 4 replicantes que se rebelaram da escravidão e voltaram para Terra. A força da produção está justamente na forma como aborda essas questões, nos causando empatia com os replicantes e nos fazendo filosofar sobre suas condições e nossa condição humana. E nem vou falar nos efeitos visuais e fotografia que continuam atuais.
Falar do Blade Runner original (1982) é falar também acerca da principal teoria sobre o personagem principal. Deckard é ou não um replicante também? Durante todo filme há indícios deste fato. Ele demonstra menos sentimentos que os replicantes durante todo o filme. Quando finalmente o vemos sentir algo, é por estar na presença da morte. A morte é o grande medo dos androides, já que não há nada mais para eles depois desta vida. Há também seu apego pelas lembranças, como os replicantes o fazem, e algumas rimas visuais que dão força a teoria. Sendo assim, é interessante pensar na evolução do personagem como um humano se descobrindo igual (ou um) replicante.
E, sem entregar nada, fiquei impressionado com essa continuação, Blade Runner 2049, ser uma evolução natural deste tema. Estamos diante de um novo personagem, que também vai traçar seu próprio caminho de descoberta neste mundo igualmente artificial e decadente. O filme me ganhou, encantou-me por não ser uma mera expansão ou um caça-níquel sobre o que aconteceu com Deckard. É um filme que se propõe a prolongar todas as questões que me atraem no primeiro filme e vai além, trazendo preocupações novas.
Um filme que não precisava de uma continuação acabou de ganhar uma sequência poderosa e necessária de ser vista por pessoas que, assim como eu, encantam-se com essas questões e com esse mundo.
Vida
3.4 1,2K Assista AgoraEste filme estava caminhando para ser mais uma ficção genérica, porém divertida de se acompanhar, até chegar a sua conclusão...
Sempre me irrito quando a direção e montagem é feita
única e exclusivamente para enganar o espectador.
Sei que todo filme de terror tende a terminar com uma cena pessimista, condenando os personagens ou a humanidade, mas há maneiras muito mais eficientes de chegar nesta conclusão sem tratar o espectador como bobo de uma pegadinha do Malandro.
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraO declínio do personagem Logan é o triunfo tardio da série Wolverine. Todos elementos que faltaram nos filmes solos anteriores estão neste, como sequências de ação eletrizantes e sanguinárias, boa história e Wolverine animal como nos quadrinhos.
O título da produção é apropriado para esta história, já que ela quase não lembra o gênero de super-heróis, mas sim um road movie de autodescobertas. Logan é uma epopeia sobre um homem que, ao atingir avançada idade, tenta fugir do seu passado e de seus instintos mais primitivos. Por mais que tente se manter no anonimato e levar uma vida ordinária, Logan ainda conserva dentro de si a raiva e dor do mutante Wolverine, com todo seu passado de sofrimento e perdas pessoais. Esse derradeiro filme de Hugh Jackman (ele jura que sim!) como o personagem do título é perfeito ao criar toda a atmosfera para a condição atual do personagem. A primeira cena já dá o pontapé inicial de seu embate interior. Noturna, obscura e com Logan aparentando senilidade e fragilidade, o personagem se vê confrontado e é obrigado a sair da carcaça de homem comum para o animal brutal.
O sentimento penoso permeia toda a exibição e credito isso às interpretações dos atores, fotografia em tons áridos e escuros, trilha sonora intensa e adequada para as situações de ação, suspense e terror e situação indigna na qual o personagem principal agora vive. Além disso, a história se torna envolvente ao colocar o herói contra sua vontade em uma trama de perseguição a uma criança mutante que esconde um grande segredo, assim como a relação fraternal com o professor Xavier. É neste ponto da história que Logan vai encontrar novamente sua humanidade e a falta de humanidade alheia. Vale ressaltar aqui as reflexões que o filme propõe sobre a violência, mostrando que por mais que estamos envolto nela e a presenciamos a todo momento, isso não é e nunca deveria ser banal. Ferir ou matar alguém sempre te trará dor, não importando se o alvo é herói ou vilão. Portanto, mais um triunfo para este derradeiro capítulo, que finalmente faz uma discussão sobre um tema importante, algo que não tinha sido empregado aos outros dois filmes, mas muito bem empregado na série X-Men.
Logan, portanto, é o filme que todos os fãs esperavam que acontecesse. Pessoalmente, eu não esperava que seria tão profundo e tão intenso. Além da ação digna do mutante, o lado dramático tornou-se a alma do filme e do sujeito que deve enfrentar o mundo e a si mesmo em busca da paz que almeja.
Sing Street - Música e Sonho
4.1 714 Assista AgoraEspecialmente para este filme, o Filmow deveria mudar as estrelinhas de avaliação para corações, só para eu dar 5 para essa produção que faz tanto bem para a alma.
Um Cadáver para Sobreviver
3.5 936 Assista AgoraUm peido de criatividade para as comédias de 2016.
Rogue One: Uma História Star Wars
4.2 1,7K Assista AgoraLembro a primeira vez que ouvi sobre a retomada da saga Star Wars, há alguns anos. Pensei como essa empreitada seria desnecessária e feita apenas para arrecadar dinheiro de fãs novos ou antigos. Essa minha ideia ainda era reforçada pelas notícias de que a franquia teria spin-offs.
Uma ótima sequência ( O Despertar da Força) mais esse spin-off (Rogue One) depois e o veredito é: Disney, shut up and take my money! Sim, obviamente o intuito ainda é ganhar muito dinheiro com a saga, mas claramente vemos que o estúdio está preocupado em divertir os novos e antigos fãs, entregando histórias muito bem contadas, personagens interessantíssimos e aquela cereja do bolo fazendo o link deste mundo novo com o antigo.
Rogue One cumpre tudo isso e vai além, fazendo um filme do mundo Star Wars, mas com personalidade própria, onde os preceitos jedis ficam de lado para acompanharmos as aventuras mais mundanas dos rebeldes.
Outro ponto positivo desta produção é o elenco. Qual franquia pode se dar o luxo de reunir tantos atores talentosos como este filme reuniu? Felicity Jones, Mads Mikkelsen, Forest Whitaker, Diego Luna e Ben Mendelsohn são todos ótimos e estão todos ótimos em seus papéis aqui.
É isso, não tenho mais receio algum de acompanhar esta nova empreitada da saga Star Wars, e mais que isso, aguardo ansiosamente o próximo episódio.
E um beijo no coração de quem conseguiu fazer esse final de arrepiar todos os pelos dos espectadores mais antigos.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraDiante de situações estranhas, o senso comum da humanidade é reagir com violência. Louise, protagonista de A Chegada, reage com uma poderosa arma, a linguagem. A linguista, chamada em uma missão de tradução, insiste com os soldados e generais que o caminho para a compreensão da chegada de 12 naves extraterrestres deve ser o conhecimento da língua dos seres. Saber interpretá-los é conhecer suas intenções e impedir que algo trágico (em uma visão medrosa do desconhecido) possa acontecer. Adquirir uma língua é adquirir junto todo um pacote cultural e de interpretação do mundo. Aprender uma nova língua e se imergir nela é reprogramar seu cérebro para uma nova interpretação de tudo a sua volta. O que Louise enxergará diferente a partir da compreensão da língua extraterrestre?
Mais uma vez, assisto uma ficção científica que busca respostas para nossas angústias mais reais, como a passagem da vida, a morte e as escolhas que fazemos nesta trajetória. A Chegada certamente será um clássico do cinema, ao lado de 2001 e Contato, neste segmento de ficções que nos deixam pensando sobre o filme e a vida por muito tempo após a experiência no templo da sala escura.
Além da história emocionante, impressionou-me como a linguagem cinematográfica é usada totalmente em favor da narrativa. Não poderia ser menos, já que estamos em uma história onde a linguagem é o fator primordial. A montagem, os ângulos de câmera, trilha sonora ou ausência dela, interpretações ( Amy Adams sensacional!) etc. Tudo nos deixa imersos na tela, causando até momentos de pura contemplação.
Enfim, é uma obra prima onde o exercício da linguagem está, além da história, em execução a cada frame. É uma obra de arte nos mostrando a importância da comunicação em um mundo cada vez mais escasso de compreensão.
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraComo eu amo filmes que, a partir de seu mundo surreal, têm muito a dizer sobre nossa realidade. O Lagosta entre naquele seleto grupo de filmes como Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças ou Mais Estranho que a Ficção de fábulas reflexivas.
A história se passa em um mundo distópico onde pessoas que ficam solteiras vão para um asilo a fim de conseguir um novo relacionamento dentro de 45 dias. Caso não consigam, viram um animal de sua escolha. Sim, louco assim. Se você já deu risada só ao ler esta sinopse, você também irá se divertir muito com o senso de humor do filme, hora negro, hora escrachado sobre as ridículas situações dos personagens em busca de um parceiro ideal.
Colin Farrell e sua expressão melancólica também contribui muito para este humor, com diálogos divertidíssimos e jeito de perdido neste mundo.
Adorei como o filme aponta regras para que novos casais se formem, procurando algo em comum, por mais banal que seja. Esta mesma característica pode ser a ruína do relacionamento quando colocada em xeque ou desmentida. No mundo dos "rebeldes" solteiros também há regras tão absurdas quanto dos casados. A habilidade da narrativa em extrair o surrealismo e humor destas situações é deliciosa e, como disse, tem muito a dizer sobre regras que são impostas a nós na vida real.
Para fechar, como toda fábula, há uma mensagem no final sobre uma máxima de amor que estamos acostumados a ouvir...
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraClint Eastwood declarou seu voto a Donald Trump, um político que desprezo, mas não é por isso que vou deixar de ver seus filmes e deixar de declarar que é um dos meus cineastas favoritos. Dito isso, acho que todos devem deixar o fanatismo e ReinaldoAzevedismo de lado e correr para o cinema ver Aquarius, filme que necessita ser visto e pensado por todos os lados desta guerra política. Não porque o tema do filme esteja ligado diretamente com eventos do impeachment, mas porque ele nos faz pensar em uma coisa cada vez mais sensível em momentos turbulentos: a empatia.
Filmado, montado e interpretado de maneira excepcional, Aquarius é um embate entre o progresso rumo à modernidade contra a resistência cheia de humanidade de Clara, uma mulher que não é compreendida pelo fato de ser algo que estamos deixando de ser: humanos.
Tudo em Clara tem história e sentimentos, deixar seu apartamento seria apagar toda sua humanidade, deixar de escutar um disco de vinil não seria tão emocionante por não carregar momentos históricos da música, e de forma geral, o diretor faz questão de sempre mostrar a cômoda, que, se não estivesse ali, também apagaria toda uma história de amor existente naquele lugar. Não é à toa que em toda tentativa de ataque a estes momentos o filme nos mostra o ódio travestido de racionalismo. É o que mais costumamos fazer sempre que queremos mudar algo, apelamos para o racional e desprezamos algo também válido, histórico e necessário: a história de vida, sempre repleta de explosões emocionais, que é o que nos faz humanos.
Zootopia: Essa Cidade é o Bicho
4.2 1,5K Assista AgoraAnimação excelente. A narrativa não deixa de ser interessante, principalmente porque acerta em todos os momentos inventivos da função social dos animais e como eles agem dentro dela. A sequência dos bichos-preguiça é hilária!
O único defeito é ter Shakira cantando a música tema. Saudades de quando a Disney fazia canções que nasciam clássicas com cantores do calibre de Elton John, Phil Collins etc.
Filadélfia
4.2 907 Assista AgoraÉ chover no molhado falar o quanto este é bom, emocionante e cheio de boas interpretações. Sem falar na grande música de Bruce Springsteen!
Então que apontar algo: vocês repararam que os discursos de ódio presentes no filme ainda continuam a todo vapor em nossa sociedade? Mais de 20 anos depois!!!
Como é triste ver que, em duas décadas, as pessoas não se deram o trabalho ou responsabilidade de estudar melhor a homossexualidade, os direitos legais e o que acontece com um portador de HIV. Mesmo com toda a ciência e psicologia disponível para as pessoas encararem essas questões com naturalidade, ainda temos que escutar as mesmas cruéis sentenças vistas no filme, como: "Deus fez Adão e Eva, não Adão e Adão", "Gays querem mais direitos que os outros", entre outras barbaridades e piadas preconceituosas que o filme expõe bem.
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraSaí do cinema com a certeza de ter visto um ótimo filme e com a sensação de que poderia ter sido uma obra-prima caso Iñarritu não tivesse feitos escolhas equivocadas na montagem do filme, principalmente ao inserir flash-backs que não acrescentam emoção ao momento que o personagem vive; pelo contrário, algumas vezes eles atrapalham a tensão.
Contudo é uma jornada excelente para ser acompanhada, angustiante, lindamente fotografada e perfeitamente interpretada pelos 3 principais atores. Eu me esqueci que estavam na tela Leonardo DiCaprio, Tom Hardy e Domhnall Gleeson de tão bons que estão.
E como não poderia deixar de ser, Iñarritu faz longos planos de tirar o fôlego, como a batalha inicial e a final. E claro, A(MAIÚSCULO) sequência do ataque do urso, que já deve ter nascido clássica e vai ficar na memória para sempre de tão perfeita.
Ponte dos Espiões
3.7 694É tempo de polarização política, onde quem não faz parte da sua linha ideológica é tratado como um monstro a ser morto, não como um humano. Estou falando de 2016 sim, que está sendo muito parecido com época da Guerra Fria.
Por isso achei muito bom Ponte dos Espiões estar em evidência, concorrendo ao Oscar e tendo boas críticas, assim as pessoas assistem a história do advogado James Donovan que aceita defender o comunista Abel para garantir uma justiça de acordo com os direitos humanos.
Spielberg deixa bem explícito o caráter humano de Donovan durante todo o filme, mostrando como ele é bom de retórica e como a usa para conseguir salvar vidas.
O clima de paranoia muito bem desenvolvido através da direção, roteiro e fotografia faz deste filme um ótimo drama.
Muitas pessoas enxergam nesta produção a tradicional moral patriota dos filmes americanos, o que não concordo plenamente. James Donovan é mostrado como um peixe fora d´água no filme, um homem que preza pela vida enquanto toda a nação americana clama por morte. É o que sabemos historicamente dos EUA, não é? Uma nação que sempre apoiou guerras desumanas, enquanto há pessoas (a minoria?) que brigam contra elas.
Amy
4.4 1,0K Assista AgoraDocumentário de uma das mais distintas e lindas vozes da música.É louvável a capacidade de sincronizar suas músicas com os momentos difíceis de sua vida, dando até a impressão de que as já clássicas canções não teriam a mesma intensidade se ela não tivesse passado por tudo o que passou. Amy Winehouse colocava sua alma nas músicas e este filme mostra isto competentemente.
É impressionante como este documentário consegue causar uma relação de intimidade entre o espectador e Amy, graças a sua montagem que nunca a tira de vista, priorizando sua imagem até quando os depoimentos são de outras pessoas.
Esta relação íntima com ela até me fazia torcer a todo momento para que ela se recuperasse, saísse da depressão e da vida regrada em drogas, como se eu pudesse mudar o seu destino trágico em 2011.
E acabo de ver o documentário com um só pensamento: realmente espero que você, Amy, tenha encontrado um outro lugar de paz e redenção que sua alma merece!