Um dos melhores filmes do Almodóvar nos últimos tempos. E talvez de toda a carreira. Não há o deboche e o humor marcante do diretor, mas algo que ele conquistou na vida e no trabalho - e que surge com grande impacto: a maturidade.
Em "Dor e Glória" nos deparamos com cicatrizes e com um diretor que, apesar do enorme sucesso, parece estar cansado e reflexivo. A ficção e a realidade se misturam e conseguimos, mais do que nunca, ter acesso a suas dores e a seus dilemas.
Almodóvar está ali. É um filme com toda a sua estética e o seu talento. Só que é uma obra mais densa, mais autobiográfica. É incrível que ele consiga versatilidade mesmo dentro de filmes que sempre têm o seu jeito.
É bem impactante o que as personagens precisam fazer para se manter em uma situação favorável. Por vezes, as situações são tão estranhas e cômicas que não parecem reais. Mas por fim, acabam sendo um retrato da vida, como realmente é.
As atuações das atrizes estão realmente incríveis. Não há como escolher entre Abigail e Marlborough, pois Emma Stone e Rachel Weisz conseguem permanecer na linha tênue entre o detestável e o comovente. Já Olivia Colman se entrega, com esmero, à insanidade e à aflição da rainha.
Um filme sobre mulheres, mais do que tudo. Vi muito de minhas avós, mãe, tias e de todas aquelas que fazem parte ou passaram pela minha vida. A empregada e a patroa vivem realidades diferentes, mas em determinado momento ficam muito próximas, pois precisam enfrentar algo que, de certa forma, é muito parecido.
A personagem da Yalitza Aparicio é monótona. Ela não vive, sobrevive. Mesmo nas situações mais tristes, é possível ver sua apatia com relação a tudo. Somente no final, esboça um pouco de reação. Mas é um lampejo antes de retornar à mesmice de seu dia a dia.
A fotografia do filme é incrível. Nos primeiros segundos, na cena da lavagem do chão, ela já embriaga. O interessante é isso: as coisas mais simples, neste filme, acabam se convertendo em belas imagens. Não acho que seja um filme superestimado ou coisa assim. Há muito para se ver nele.
Rossy de Palma e Toni Collette estão ótimas, mas esperava mais. A hipocrisia que permeia a história é bastante válida e a obra apresenta situações muito interessantes. Contudo, ao final, o filme deixa bastante a desejar. Há aquela sensação característica de que falta algo.
Uma pena que, mesmo com um elenco tão incrível, o filme não avance. A diferença de classes é tratada muito bem, e as atuações transmitem o desconforto necessário às situações. Só fica aquele gostinho de "querer mais", quando tudo se encerra.
Uma delícia de analogia que aborda o ato de encaixar as peças da vida em busca de um todo. A personagem está cansada da rotina que lhe diz o que fazer - e das pessoas que nunca escutam o que deseja -, mas não sabe bem que rumo tomar. Isso não é problema. A grande questão é ir em busca das conexões, sem ao certo saber a direção do resultado desejado.
Tocante e extremamente sensível. As sutilezas da história e a belíssima fotografia encantam de uma forma que não se vê o tempo passar. A ideia por trás da obra - e dita pelo alfaiate -, de que um livro pode mudar uma vida, é um choque ao final. É o descobrimento e o se permitir buscar um mundo novo - ainda que cheio de desafios e duras perspectivas.
A crítica ao regime comunista chinês também está presente na poesia do filme, de forma natural. Está nas cenas em que as pessoas nem sequer sabem o que dizem - mas aceitam o que é imposto e condenam o que desconhecem. Nem mesmo as palavras têm real sentido e significado.
"Corpo elétrico" é o retrato do cotidiano. Isso está impresso na abordagem dos personagens e na própria forma de contar a história - que se desenrola sem um roteiro convencional. As pessoas seguem suas vidas em meio a sexo e poucas pretensões, seguindo o lema de um dia após o outro.
São vidas solitárias. Vidas de trabalhadores que buscam escapes no dia a dia. Os seus corpos são voluptuosos e quentes. Estão em busca de prazer constantemente - em diversos momentos de forma inusitada.
A obra é bastante centrada nos detalhes. Nos figurinos impecáveis, na bela fotografia, na trilha sonora incrível e nas manias metódicas de um protagonista insuportável. O filme nos envolve nesse olhar cuidadoso e atento, enquanto tentamos entender o que se passa com os personagens.
As relações entre os três são complexas. Em alguns momentos há cumplicidade e algo próximo a afeto, e em outras ocasiões há tensões e mágoas latentes. Ninguém termina inteiramente mocinho ou vilão na história. Em meio a cogumelos alucinógenos, a bondade e a maldade se confundem.
Há complexos não explicados e um círculo vicioso do início ao fim. O resultado é bastante interessante. É coroado também com atuações incríveis, que sustentam o longo tempo sem que pareça demasiadamente cansativo.
Um dos melhores do Oscar. A história de Tonya é maluca, e a produção conseguiu trazer todos os elementos de forma bastante interessante. Ela mostra diversos pontos de vista, que não necessariamente estão de acordo quanto ao rumo dos fatos, mas que se casam com a confusão.
A personagem de Allison Janney é interessante por si só, mas a atriz conseguiu trazer o desequilíbrio de LaVona de um jeito natural. Apesar de ser assustadora, ela consegue até nos convencer - ou pelo menos nos fazer compreender - do porquê de agir de determinada forma.
Os momentos nostálgicos são os melhores e dão um sobressalto na trama. Ainda que este oitavo episódio proporcione uma aproximação melhor com os novos personagens, falta algo. O vilão, por exemplo, continua sendo algo totalmente apático. Na verdade, acredito até que tenha se tornado mais chato. Nem aqueles que estão ao lado dele acreditam no seu potencial.
É Star Wars e há todo um carinho pela história e pelos personagens. Mas é inegável que ficam requentando elementos de sucesso, sem no entanto conseguirem chegar à profundidade que tanto sucesso fez. Não é ruim. É bom. Só que não é nada espetacular.
O monstro do início é bizarro e achei que nem fosse o Godzilla. Quando finalmente compreendi que era, os personagens começaram a falar de evoluções e coisas doidas. É um filme que acaba sendo trash, apesar de ter uma grande produção.
Não vou nem comentar os raios que saem das costas e o rabo felino, que se movimenta charmosamente no meio dos ataques. E é até interessante a crítica/desenvolvimento em torno da burocracia política, mas isso acaba tornando o filme enfadonho, em determinado momento.
Não é ruim, mas está longe de ser o melhor. Há um pouco de tudo o que Guillermo del Toro fez de sucesso: a violência repentina, os "monstros" artísticos e a fantasia com mistos de realidade crua. É um filme bonito, mas sem algo inovador.
O filme tem um elenco incrível - incluindo a sempre ótima Octavia Spencer. Mas nem os atores conseguem fazer da história algo vibrante. O filme é belo, apresenta cenas e questões interessantes, mas está cheio de carências também. Incluindo um final que não seja água com açúcar.
Não tem a mesma profundidade do primeiro - e talvez isso se justifique por Blade Runner ser uma obra cultuada -, mas consegue ser incrível do seu modo. Eu esperava menos. Me surpreendi com o resultado. Não vi nem o tempo passar (e olha que o filme é bastante arrastado).
A fotografia é uma coisa maravilhosa. Tudo no filme parece milimetricamente planejado. Cada cena é esplendor de arte, e causa impacto por si só. É difícil dar continuidade a um clássico. Denis Villeneuve se saiu bem, pois é possível sentir aspectos da obra original.
Achei ótimo que não tenham transformado em um filme de ação. Há cenas de mais movimento, mas a essência se manteve do início ao fim. Ao final, o questionamento do que, de fato, nos torna humanos.
Muito superior ao vencedor do Oscar, "A Forma da Água". A história é envolvente e, apesar do pesado drama que envolve o roteiro, o filme consegue também ser leve - o que é incrível para uma história tão densa. Além disso, não é nada óbvio: surpreende e inova de uma maneira sutil, quase despretensiosa.
Os personagens são rodeados de problemas. Alguns são explicados, outros não. É a vida humana de uma forma crua e excêntrica. Não há só personagens bons ou maus. Há erros, acertos e imobilidade diante da vida, pesada e tortuosa, como ela é.
Frances McDormand está ótima. Mildred Hayes é uma personagem cativante. A forma com que ela lida com os problemas, em determinados momentos, é de deixar os cabelos em pés. Em outras, nos faz vibrar - de um jeito meio torto e culpado.
O filme é meio arrastado e pega carona em outros do mesmo tipo - como Spotlight. Mas, ainda assim, tem seus atrativos. Ou me interessei por ser jornalista e, naturalmente, gostar de filmes que falem da imprensa.
Meryl Streep está, como sempre, um arraso. Mas mesmo ela não consegue segurar o filme. Falta um pouco de ação e grandes acontecimentos. A impressão, ao final, é a de já conhecer a história.
É fato que o filme possui um lado propagandista. A superioridade do homem soviético é destacada a todo instante, inclusive na tragédia que envolve o personagem principal. A sua vida é repleta de horrores, mas ele sobrevive com firmeza e enfrenta todos os desafios.
Contudo, esse contexto não tira a beleza da obra. Na verdade, é até sutil perto de muitos filmes hollywoodianos, que fazem essa venda de um jeito muito mais forte. A história apresentada por Sergei Bondarchuk, na verdade, é tocando e emocionante. E o filme, infelizmente, uma pérola perdida e pouco conhecida.
Assisti ao "Destino de um Homem" em uma mostra de cinema russo e soviético, em Porto Alegre. Deixei de lado alguns cineastas óbvios (mas que amo!), como Andrei Tarkovski, para me lançar ao diferente. Foi uma bela escolha. Pretendo conhecer muito mais nas próximas oportunidades.
Um belo registro sobre o processo de transformação de Laerte - que, de uma hora para outra, teve a vida exposta a partir da postura de se assumir mulher. Não há grandes reviravoltas no documentário, mas se tem as sutilezas do dia a dia, compostas de dúvidas e anseios interessantíssimos.
Eliane Brum é, também, sempre ótima. Uma jornalista única, que sabe captar e olhar para aquilo que, muitas vezes, fica de lado. Sinto a sensibilidade dela em todo o trabalho - inclusive nos planos aparentemente sem sentido, que registram coisas banais da vida da cartunista.
O filme é interessante, mas não sei se eu conseguiria captar a profundidade da história se não tivesse lido o livro de George Orwell - este sim um verdadeiro crítico dos sistemas e estados totalitários.
O trabalho de Michael Radford é muito bom, mas com o livro é possível fazermos melhores paralelos. Com o comunismo soviético, naturalmente, mas também com regimes que a própria América Latina viveu nas décadas subsequentes à obra.
Junto com "A Revolução dos Bichos", "1984" oferece uma leitura necessária não apenas sobre política, mas também sobre a própria natureza humana - refém de si própria na perversão de ideais e objetivos.
É difícil de se fazer uma avaliação do filme. Tecnicamente, ele é incrível e marca o surgimento de uma linguagem cinematográfica propriamente dita; ideologicamente, é deplorável e apresenta uma tentativa de construção histórica segregacionista e extremamente racista.
Ainda que Griffith tenha inovado e apresentado elementos formidáveis, seguidos por diversos diretores posteriormente - nos planos, imagens panorâmicas etc -, o conteúdo da obra é algo que espanta. No filme, há claramente uma criminalização racial e uma defesa aberta da supremacia branca.
Esse é também um exemplo de responsabilidade com o que se produz. "O Nascimento de uma Nação" deu novo impulso à Ku Klux Klan, amainada no início do século XX, e, ainda hoje, é um meio de promoção dos ideais reacionários defendidos pelos seus integrantes,
Karen, a personagem de Meryl Streep, é uma mulher forte, independente e totalmente à frente de sua época. Simplesmente apaixonante. Sua naturalidade em conduzir as coisas é estimulante. Mesmo quando está em ruínas, a impressão que passa é de que dará a volta por cima, tamanho o ímpeto.
O título em português não faz exatamente jus à história. Até entendo que, em dado momento, Karen fica um tanto dividida entre a sua segurança financeira - com o trabalho na fazenda - e o amor da sua vida. Mas não vejo uma divisão entre "dois amores".
Esse é um daqueles filmes um pouco esquecidos, mas que merecem atenção. Não apenas a química entre Meryl Streep e Robert Redford é ótima, como todo o trabalho de produção - como a impressionante fotografia. Além disso, a história é de protagonismo feminino, acima de tudo.
A história começa de forma simples e até despretensiosa, com duas amigas deixando tudo para trás na busca das sonhadas férias, mas ganha fôlego e poder ao longo da trama. Não é à toa que "Thelma & Louise" seja um clássico dos anos 90: o filme mostra todas as angústias e o machismo que permeia a vida das personagens até o desfecho final, igualmente icônico e simbólico.
Icônico, porque apresenta duas mulheres fortes tomando as próprias escolhas, de forma inesperada, sem se importarem com homem algum; simbólico porque pode ser encarado, também, como uma analogia ao que a opressão faz no dia a dia. Ridley Scott fez um ótimo trabalho. Ao final, fica a mensagem de liberdade - encarada aqui até as últimas consequências.
"New York, New York" peca por ser extremamente longo. Isso não seria exatamente um problema se a história apresentada fosse envolvente. Contudo, tem-se altos e baixos em, basicamente, uma narração sobre a vida profissional e ambições do casal formado por Liza Minnelli e Robert de Niro.
Os protagonistas estão ótimos - ainda que muitas vezes os personagens sejam chatos. É possível notar, em cenas realmente boas, todo o poder e envolvimento de cada um deles. A questão é o enredo: ele não comove, irrita, e só ao final ganha algum significado.
Scorsese consegue transmitir o clima de Nova York, o quanto a cidade transpirava à jazz e tudo o que pulsava naquele momento - como o desejo de as pessoas brilharem. Mas, isso tudo parece impregnado de uma vazio que incomoda.
É um filme com a cara dos anos 80: há situações pitorescas - o que é o carro com os candelabros? -, com boa ficção, ação e humor. O roteiro não é um primor, mas John Carpenter conseguiu criar uma atmosfera sombria que impressiona muito hoje, quando tudo no cinema é computadorizado e artificial demais.
Preciso comentar sobre Kurt Russel e Isaac Hayes. O primeiro está em sua melhor forma - belíssimo e emblemático para o papel. Já Hayes, músico inigualável, encara bem o desafio das telas. É ótimo vê-lo participando de um filme.
Absurdamente nojento e grotesco, mas de um jeito interessante. O filme mostra três gerações de homens, na Europa, com diferentes obsessões. Elas provocam diversas reações. Às vezes, em algumas passagens, são risíveis; em outras, causam arrepio e náusea.
É difícil de estar preparado para o que acontece. A obra parece doentia, mas também consegue ser plausível. Trata, afinal, da natureza humana de uma forma bastante verdadeira. É a questão do desejo sendo explorada de forma nua e sem embelezamento.
Dor e Glória
4.2 619 Assista AgoraUm dos melhores filmes do Almodóvar nos últimos tempos. E talvez de toda a carreira. Não há o deboche e o humor marcante do diretor, mas algo que ele conquistou na vida e no trabalho - e que surge com grande impacto: a maturidade.
Em "Dor e Glória" nos deparamos com cicatrizes e com um diretor que, apesar do enorme sucesso, parece estar cansado e reflexivo. A ficção e a realidade se misturam e conseguimos, mais do que nunca, ter acesso a suas dores e a seus dilemas.
Almodóvar está ali. É um filme com toda a sua estética e o seu talento. Só que é uma obra mais densa, mais autobiográfica. É incrível que ele consiga versatilidade mesmo dentro de filmes que sempre têm o seu jeito.
A Favorita
3.9 1,2K Assista AgoraÉ bem impactante o que as personagens precisam fazer para se manter em uma situação favorável. Por vezes, as situações são tão estranhas e cômicas que não parecem reais. Mas por fim, acabam sendo um retrato da vida, como realmente é.
As atuações das atrizes estão realmente incríveis. Não há como escolher entre Abigail e Marlborough, pois Emma Stone e Rachel Weisz conseguem permanecer na linha tênue entre o detestável e o comovente. Já Olivia Colman se entrega, com esmero, à insanidade e à aflição da rainha.
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraUm filme sobre mulheres, mais do que tudo. Vi muito de minhas avós, mãe, tias e de todas aquelas que fazem parte ou passaram pela minha vida. A empregada e a patroa vivem realidades diferentes, mas em determinado momento ficam muito próximas, pois precisam enfrentar algo que, de certa forma, é muito parecido.
A personagem da Yalitza Aparicio é monótona. Ela não vive, sobrevive. Mesmo nas situações mais tristes, é possível ver sua apatia com relação a tudo. Somente no final, esboça um pouco de reação. Mas é um lampejo antes de retornar à mesmice de seu dia a dia.
A fotografia do filme é incrível. Nos primeiros segundos, na cena da lavagem do chão, ela já embriaga. O interessante é isso: as coisas mais simples, neste filme, acabam se convertendo em belas imagens. Não acho que seja um filme superestimado ou coisa assim. Há muito para se ver nele.
Madame
3.2 100 Assista AgoraRossy de Palma e Toni Collette estão ótimas, mas esperava mais. A hipocrisia que permeia a história é bastante válida e a obra apresenta situações muito interessantes. Contudo, ao final, o filme deixa bastante a desejar. Há aquela sensação característica de que falta algo.
Uma pena que, mesmo com um elenco tão incrível, o filme não avance. A diferença de classes é tratada muito bem, e as atuações transmitem o desconforto necessário às situações. Só fica aquele gostinho de "querer mais", quando tudo se encerra.
O Quebra-Cabeça
3.6 30 Assista AgoraUma delícia de analogia que aborda o ato de encaixar as peças da vida em busca de um todo. A personagem está cansada da rotina que lhe diz o que fazer - e das pessoas que nunca escutam o que deseja -, mas não sabe bem que rumo tomar. Isso não é problema. A grande questão é ir em busca das conexões, sem ao certo saber a direção do resultado desejado.
Balzac e a Costureirinha Chinesa
4.2 96 Assista AgoraTocante e extremamente sensível. As sutilezas da história e a belíssima fotografia encantam de uma forma que não se vê o tempo passar. A ideia por trás da obra - e dita pelo alfaiate -, de que um livro pode mudar uma vida, é um choque ao final. É o descobrimento e o se permitir buscar um mundo novo - ainda que cheio de desafios e duras perspectivas.
A crítica ao regime comunista chinês também está presente na poesia do filme, de forma natural. Está nas cenas em que as pessoas nem sequer sabem o que dizem - mas aceitam o que é imposto e condenam o que desconhecem. Nem mesmo as palavras têm real sentido e significado.
Corpo Elétrico
3.5 216"Corpo elétrico" é o retrato do cotidiano. Isso está impresso na abordagem dos personagens e na própria forma de contar a história - que se desenrola sem um roteiro convencional. As pessoas seguem suas vidas em meio a sexo e poucas pretensões, seguindo o lema de um dia após o outro.
São vidas solitárias. Vidas de trabalhadores que buscam escapes no dia a dia. Os seus corpos são voluptuosos e quentes. Estão em busca de prazer constantemente - em diversos momentos de forma inusitada.
Trama Fantasma
3.7 803 Assista AgoraA obra é bastante centrada nos detalhes. Nos figurinos impecáveis, na bela fotografia, na trilha sonora incrível e nas manias metódicas de um protagonista insuportável. O filme nos envolve nesse olhar cuidadoso e atento, enquanto tentamos entender o que se passa com os personagens.
As relações entre os três são complexas. Em alguns momentos há cumplicidade e algo próximo a afeto, e em outras ocasiões há tensões e mágoas latentes. Ninguém termina inteiramente mocinho ou vilão na história. Em meio a cogumelos alucinógenos, a bondade e a maldade se confundem.
Há complexos não explicados e um círculo vicioso do início ao fim. O resultado é bastante interessante. É coroado também com atuações incríveis, que sustentam o longo tempo sem que pareça demasiadamente cansativo.
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraUm dos melhores do Oscar. A história de Tonya é maluca, e a produção conseguiu trazer todos os elementos de forma bastante interessante. Ela mostra diversos pontos de vista, que não necessariamente estão de acordo quanto ao rumo dos fatos, mas que se casam com a confusão.
A personagem de Allison Janney é interessante por si só, mas a atriz conseguiu trazer o desequilíbrio de LaVona de um jeito natural. Apesar de ser assustadora, ela consegue até nos convencer - ou pelo menos nos fazer compreender - do porquê de agir de determinada forma.
Star Wars, Episódio VIII: Os Últimos Jedi
4.1 1,6K Assista AgoraOs momentos nostálgicos são os melhores e dão um sobressalto na trama. Ainda que este oitavo episódio proporcione uma aproximação melhor com os novos personagens, falta algo. O vilão, por exemplo, continua sendo algo totalmente apático. Na verdade, acredito até que tenha se tornado mais chato. Nem aqueles que estão ao lado dele acreditam no seu potencial.
É Star Wars e há todo um carinho pela história e pelos personagens. Mas é inegável que ficam requentando elementos de sucesso, sem no entanto conseguirem chegar à profundidade que tanto sucesso fez. Não é ruim. É bom. Só que não é nada espetacular.
Shin Godzilla
3.6 153 Assista AgoraO monstro do início é bizarro e achei que nem fosse o Godzilla. Quando finalmente compreendi que era, os personagens começaram a falar de evoluções e coisas doidas. É um filme que acaba sendo trash, apesar de ter uma grande produção.
Não vou nem comentar os raios que saem das costas e o rabo felino, que se movimenta charmosamente no meio dos ataques. E é até interessante a crítica/desenvolvimento em torno da burocracia política, mas isso acaba tornando o filme enfadonho, em determinado momento.
A Forma da Água
3.9 2,7KNão é ruim, mas está longe de ser o melhor. Há um pouco de tudo o que Guillermo del Toro fez de sucesso: a violência repentina, os "monstros" artísticos e a fantasia com mistos de realidade crua. É um filme bonito, mas sem algo inovador.
O filme tem um elenco incrível - incluindo a sempre ótima Octavia Spencer. Mas nem os atores conseguem fazer da história algo vibrante. O filme é belo, apresenta cenas e questões interessantes, mas está cheio de carências também. Incluindo um final que não seja água com açúcar.
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraNão tem a mesma profundidade do primeiro - e talvez isso se justifique por Blade Runner ser uma obra cultuada -, mas consegue ser incrível do seu modo. Eu esperava menos. Me surpreendi com o resultado. Não vi nem o tempo passar (e olha que o filme é bastante arrastado).
A fotografia é uma coisa maravilhosa. Tudo no filme parece milimetricamente planejado. Cada cena é esplendor de arte, e causa impacto por si só. É difícil dar continuidade a um clássico. Denis Villeneuve se saiu bem, pois é possível sentir aspectos da obra original.
Achei ótimo que não tenham transformado em um filme de ação. Há cenas de mais movimento, mas a essência se manteve do início ao fim. Ao final, o questionamento do que, de fato, nos torna humanos.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraMuito superior ao vencedor do Oscar, "A Forma da Água". A história é envolvente e, apesar do pesado drama que envolve o roteiro, o filme consegue também ser leve - o que é incrível para uma história tão densa. Além disso, não é nada óbvio: surpreende e inova de uma maneira sutil, quase despretensiosa.
Os personagens são rodeados de problemas. Alguns são explicados, outros não. É a vida humana de uma forma crua e excêntrica. Não há só personagens bons ou maus. Há erros, acertos e imobilidade diante da vida, pesada e tortuosa, como ela é.
Frances McDormand está ótima. Mildred Hayes é uma personagem cativante. A forma com que ela lida com os problemas, em determinados momentos, é de deixar os cabelos em pés. Em outras, nos faz vibrar - de um jeito meio torto e culpado.
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraO filme é meio arrastado e pega carona em outros do mesmo tipo - como Spotlight. Mas, ainda assim, tem seus atrativos. Ou me interessei por ser jornalista e, naturalmente, gostar de filmes que falem da imprensa.
Meryl Streep está, como sempre, um arraso. Mas mesmo ela não consegue segurar o filme. Falta um pouco de ação e grandes acontecimentos. A impressão, ao final, é a de já conhecer a história.
O Destino de um Homem
4.2 9É fato que o filme possui um lado propagandista. A superioridade do homem soviético é destacada a todo instante, inclusive na tragédia que envolve o personagem principal. A sua vida é repleta de horrores, mas ele sobrevive com firmeza e enfrenta todos os desafios.
Contudo, esse contexto não tira a beleza da obra. Na verdade, é até sutil perto de muitos filmes hollywoodianos, que fazem essa venda de um jeito muito mais forte. A história apresentada por Sergei Bondarchuk, na verdade, é tocando e emocionante. E o filme, infelizmente, uma pérola perdida e pouco conhecida.
Assisti ao "Destino de um Homem" em uma mostra de cinema russo e soviético, em Porto Alegre. Deixei de lado alguns cineastas óbvios (mas que amo!), como Andrei Tarkovski, para me lançar ao diferente. Foi uma bela escolha. Pretendo conhecer muito mais nas próximas oportunidades.
Laerte-se
4.0 184Um belo registro sobre o processo de transformação de Laerte - que, de uma hora para outra, teve a vida exposta a partir da postura de se assumir mulher. Não há grandes reviravoltas no documentário, mas se tem as sutilezas do dia a dia, compostas de dúvidas e anseios interessantíssimos.
Eliane Brum é, também, sempre ótima. Uma jornalista única, que sabe captar e olhar para aquilo que, muitas vezes, fica de lado. Sinto a sensibilidade dela em todo o trabalho - inclusive nos planos aparentemente sem sentido, que registram coisas banais da vida da cartunista.
1984
3.7 541 Assista AgoraO filme é interessante, mas não sei se eu conseguiria captar a profundidade da história se não tivesse lido o livro de George Orwell - este sim um verdadeiro crítico dos sistemas e estados totalitários.
O trabalho de Michael Radford é muito bom, mas com o livro é possível fazermos melhores paralelos. Com o comunismo soviético, naturalmente, mas também com regimes que a própria América Latina viveu nas décadas subsequentes à obra.
Junto com "A Revolução dos Bichos", "1984" oferece uma leitura necessária não apenas sobre política, mas também sobre a própria natureza humana - refém de si própria na perversão de ideais e objetivos.
O Nascimento de uma Nação
3.0 230É difícil de se fazer uma avaliação do filme. Tecnicamente, ele é incrível e marca o surgimento de uma linguagem cinematográfica propriamente dita; ideologicamente, é deplorável e apresenta uma tentativa de construção histórica segregacionista e extremamente racista.
Ainda que Griffith tenha inovado e apresentado elementos formidáveis, seguidos por diversos diretores posteriormente - nos planos, imagens panorâmicas etc -, o conteúdo da obra é algo que espanta. No filme, há claramente uma criminalização racial e uma defesa aberta da supremacia branca.
Esse é também um exemplo de responsabilidade com o que se produz. "O Nascimento de uma Nação" deu novo impulso à Ku Klux Klan, amainada no início do século XX, e, ainda hoje, é um meio de promoção dos ideais reacionários defendidos pelos seus integrantes,
Entre Dois Amores
3.7 237 Assista AgoraKaren, a personagem de Meryl Streep, é uma mulher forte, independente e totalmente à frente de sua época. Simplesmente apaixonante. Sua naturalidade em conduzir as coisas é estimulante. Mesmo quando está em ruínas, a impressão que passa é de que dará a volta por cima, tamanho o ímpeto.
O título em português não faz exatamente jus à história. Até entendo que, em dado momento, Karen fica um tanto dividida entre a sua segurança financeira - com o trabalho na fazenda - e o amor da sua vida. Mas não vejo uma divisão entre "dois amores".
Esse é um daqueles filmes um pouco esquecidos, mas que merecem atenção. Não apenas a química entre Meryl Streep e Robert Redford é ótima, como todo o trabalho de produção - como a impressionante fotografia. Além disso, a história é de protagonismo feminino, acima de tudo.
Thelma & Louise
4.2 967 Assista AgoraA história começa de forma simples e até despretensiosa, com duas amigas deixando tudo para trás na busca das sonhadas férias, mas ganha fôlego e poder ao longo da trama. Não é à toa que "Thelma & Louise" seja um clássico dos anos 90: o filme mostra todas as angústias e o machismo que permeia a vida das personagens até o desfecho final, igualmente icônico e simbólico.
Icônico, porque apresenta duas mulheres fortes tomando as próprias escolhas, de forma inesperada, sem se importarem com homem algum; simbólico porque pode ser encarado, também, como uma analogia ao que a opressão faz no dia a dia. Ridley Scott fez um ótimo trabalho. Ao final, fica a mensagem de liberdade - encarada aqui até as últimas consequências.
New York, New York
3.6 109 Assista Agora"New York, New York" peca por ser extremamente longo. Isso não seria exatamente um problema se a história apresentada fosse envolvente. Contudo, tem-se altos e baixos em, basicamente, uma narração sobre a vida profissional e ambições do casal formado por Liza Minnelli e Robert de Niro.
Os protagonistas estão ótimos - ainda que muitas vezes os personagens sejam chatos. É possível notar, em cenas realmente boas, todo o poder e envolvimento de cada um deles. A questão é o enredo: ele não comove, irrita, e só ao final ganha algum significado.
Scorsese consegue transmitir o clima de Nova York, o quanto a cidade transpirava à jazz e tudo o que pulsava naquele momento - como o desejo de as pessoas brilharem. Mas, isso tudo parece impregnado de uma vazio que incomoda.
Fuga de Nova York
3.5 301 Assista AgoraÉ um filme com a cara dos anos 80: há situações pitorescas - o que é o carro com os candelabros? -, com boa ficção, ação e humor. O roteiro não é um primor, mas John Carpenter conseguiu criar uma atmosfera sombria que impressiona muito hoje, quando tudo no cinema é computadorizado e artificial demais.
Preciso comentar sobre Kurt Russel e Isaac Hayes. O primeiro está em sua melhor forma - belíssimo e emblemático para o papel. Já Hayes, músico inigualável, encara bem o desafio das telas. É ótimo vê-lo participando de um filme.
Taxidermia: Histórias Grotescas
3.4 345 Assista AgoraAbsurdamente nojento e grotesco, mas de um jeito interessante. O filme mostra três gerações de homens, na Europa, com diferentes obsessões. Elas provocam diversas reações. Às vezes, em algumas passagens, são risíveis; em outras, causam arrepio e náusea.
É difícil de estar preparado para o que acontece. A obra parece doentia, mas também consegue ser plausível. Trata, afinal, da natureza humana de uma forma bastante verdadeira. É a questão do desejo sendo explorada de forma nua e sem embelezamento.