“Meninos de Tóquio” (1932) é um filme que se define pela simplicidade e ingenuidade da infância. Seguindo os acontecimentos da vida de dois irmãos, crianças na faixa de 10-14 anos, a história explora as dificuldades de adaptação que se colocam diante da mudança para um novo povoado, no Japão da década de 1930. Toda a tônica gira, então, em torno das experiências e aprendizados vividos pelos dois irmãos, em suas relações conflituosas com as demais crianças e adolescentes da vizinhança, que os recebem com hostilidade. Ao longo da trama, são sugeridas algumas reflexões a respeito das dinâmicas sociais do poder, prestígio, violência e subordinação. A forma como o diretor busca apresentar um espelhamento entre as relações ainda ingênuas entre as crianças e aquelas que configuram o mundo “pra valer” dos adultos fornece boas bases para pensarmos a respeito das origens e sustentação do poder em sociedade. Além disso, também são sugeridos apontamentos sobre o que significaria ser uma pessoa “importante” ou “de valor”, no sentido de alcançar o chamado “sucesso” na vida. Longe de fazer tais reflexões de uma forma pesada e enfadonha, o diretor é hábil em apenas pincelar algumas dessas questões nas experiências cotidianas triviais dos personagens. Fiquei muito curioso para conhecer outras obras de Ozu, sentindo que seu estilo preza pela valorização de uma virtude tão subestimada atualmente, a da simplicidade.
Pra quem, assim como eu, assiste esse filme na expectativa de encontrar uma simples história de amizade e romance entre duas garotas adolescentes, a surpresa é muito grande. Para os fãs de um bom drama, este é um prato cheio. A forma como o filme desenvolve cuidadosamente a construção das personagens, das relações, conflitos e expectativas é um dos pontos altos que chama a atenção. Podendo ser caracterizado como um estudo de personagem, o enredo nos apresenta as experiências de vida de uma garota introspectiva e com um conturbado ambiente familiar. As situações de frustração, estresse e resignação vão se desenrolando, uma após a outra, construindo um clima crescente de apreensão e mesmo, em alguns momentos, sufocamento. Ponto para a ótima direção de Mélanie Laurent e excelente atuação da dupla de jovens protagonistas. Este é um dos filmes cujo título foi escolhido a dedo, oferecendo um valioso conselho a que se pode recorrer quando tudo o mais parece desmoronar: respire! Esta simples e trivial recomendação pode representar a diferença entre a resiliência dolorida, mas construtiva, e o colapso de uma vida tão carregada de dores e sofrimentos.
"Que horas ela volta?" é um daqueles filmes que provavelmente não diz muito para um público "universal", ou seja, que se veria reconhecido na história independente do país ou cultura de origem. Para a sociedade e cultura brasileiras, no entanto, é uma reflexão que vai no centro de nossa formação enquanto sociedade de profundas desigualdades. A existência de uma fissura no tecido social, dividindo a realidade e o universo social de ricos e pobres de maneira sutil mas também profunda, aparece em primeiro plano nesta obra. A presença de Jéssica, que não se conforma em assumir o papel esperado de “colocar-se em seu lugar” é o elemento de desestabilização nesse cenário aparentemente harmônico e tranquilo. A atuação de Regina Casé, como Val, também representa muito bem um conjunto de milhões de brasileiras que, até os dias de hoje, sobrevivem cuidando do lar e do cotidiano de famílias outras, enquanto suas próprias podem estar afastadas. Talvez o que senti um pouco de falta no filme foi uma discussão mais desenvolvida do papel da história e da cultura brasileiras nessa realidade de segregação velada. Isso porque existe o risco de individualizar a questão e passar a considerar o problema apenas de um ponto de vista moral e pessoal, sendo que há raízes sociais profundas na base das relações retratadas pelo enredo. No geral, é um excelente filme para quem gosta de pensar sobre o que nos caracteriza enquanto sociedade e como, muitas vezes, a segregação e o preconceito podem vir muito bem disfarçados de inclusão e assistência para com “os mais necessitados”.
Como não poderia deixar de ser, assistir a um filme de Bergman é colocar-se disposto a mergulhar na complexidade e profundidade da vida ou alma humana. “A Fonte da Donzela” não foge a esta ‘regra’, apesar de possivelmente ser um dos filmes menos carregados de conteúdo filosófico e reflexivo do diretor. Ainda assim, a questão e o debate que ele nos lança é central e eixo fundamental da construção da religiosidade em inúmeras tradições humanas: a questão do bem e do mal e da maneira correta de se fazer Justiça. A partir de uma história bastante simples, quase alegórica, o diretor se preocupa apenas em nos lançar a pergunta por meio do filme, sem se dedicar em nenhum momento sequer a propor qualquer resposta. Talvez a força do trabalho venha justamente daí, com sua capacidade de nos colocar uma enorme pulga atrás da orelha, que nos força a rever posições pessoais anteriormente bem estabelecidas e insiste em incomodar com seu alcance e profundidade existencial. Assistir a um filme de Bergman parece ser um exercício voluntário de receber uma pequena martelada na cabeça, que ressoa durante alguns dias em forma de pensamentos latejantes, mas que no fim pode contribuir para fortalecer reflexões fundamentais que todo ser humano, em algum momento de sua vida, se coloca e investiga.
"This is Ground Control to Major Tom You've really made the grade And the papers want to know whose shirts you wear Now it's time to leave the capsule if you dare
"This is Major Tom to Ground Control I'm stepping through the door And I'm floating in a most peculiar way And the stars look very different today For here Am I sitting in a tin can Far above the world Planet Earth is blue And there's nothing I can do"
Space Oddity - David Bowie
___________________
Aparentemente gênios conseguem conversar telepaticamente, uma vez que a música parece ter sido feita para exatamente concluir este admirável doc. Na minha visão, é um filme que trata muito mais da persona e das inquietações de Jim Carrey do que de Andy Kaufman, e é incrível conhecer mais de perto o que este ator foi capaz de construir e desenvolver ao longo de sua carreira e vida.
Incrível como a existência humana é trivial e, ao mesmo tempo, exuberante! Depois de percorrer os três filmes da trilogia, sendo este o último, você fica com a impressão de que poderiam ser feitas mais 10 trilogias exatamente com o mesmo formato e a mesma temática.
A falta de um roteiro fechado ou de uma "lição de moral" ao final é simplesmente uma síntese do que efetivamente é a própria vida real. Sem um caminho certo e seguro a ser trilhado, cada um busca "fazer o melhor que pode; o que mais poderíamos fazer?". A grande questão é que, aparentemente, não estamos nos saindo muito bem nisso. A frustração, a apatia, a indiferença, a tristeza e a melancolia parecem atravessar a vida de cada uma das personagens do filme, aos seus diferentes modos e circunstâncias. Por mais que tentem fazer as coisas darem certo, temos uma sucessão de falhas, mal-entendidos e desencontros. Apesar disso, a rotina continua todos os dias nesta mesma direção, afinal é "preciso acordar cedo para trabalhar amanhã". Sem tempo para a reflexão ou para o questionamento, as pessoas se afundam, desorientadas, em si mesmas. Por mais pessimista que tudo isto soe, é pelo menos alentador encontrar uma obra como esta marcando uma rara pausa no ritmo do dia a dia, tal como um pombo que tenha pousado pela milésima vez em um galho, mas desta vez se deixa estar, refletindo sobre a existência.
"É certo usar as pessoas apenas para seu próprio prazer?"
Metáforas e simbologias por todos os lugares! Apesar de ser um tanto quanto arriscado construir um filme todo em cima disso, podendo no final não chegar a lugar nenhum, não me pareceu ser este o caso. O ponto alto é que cada pessoa tira do filme aquilo que mais lhe toca, dando sua contribuição e sua interpretação subjetiva. Ou simplesmente não entender nada, o que também pode acontecer. Em época de filmes que já te dão uma história pronta, acabada, interpretada e explicada, é uma rara exceção de se encontrar. Fiquei com vontade de conhecer mais do trabalho do diretor.
PS: A metáfora com o engarrafamento é simplesmente sensacional, valendo pelo filme para mim!
A pergunta que fica para mim, depois desta verdadeira aula que é assistir ao documentário, é COMO atuar para mudar essa cultura tão perversa e devastadora? Se ela, como cultura, se espalha por toda a sociedade e está inserida nos mais variados lugares (filmes, jogos, escolas, pais, professores, mídia, música, esportes, lazer, relações pessoais, pornografia, etc -- aspecto muito bem abordado no filme), como "escapar" de sua influência e iniciar um caminho transformador? De onde partir? Como agir para mudar? Acho que esta é a reflexão que fica a cada um, principalmente aos homens, depois deste belíssimo documentário.
"Eu prefiro ser o cara que QUER TUDO e não tem nada, do que ser o cara que TEM TUDO e não quer nada. Porque então sua vida tem um significado, ela está valendo a pena ser vivida."
Belíssimo! Arte em estado puro, com toda sua capacidade de nos causar reflexões, questionamentos e transformações. É muita inspiração, sabedoria e luta reunida. A feiura às vezes está tão perto da beleza que as duas podem se confundir. O Brasil é um país tão injusto para o povo que o sustenta, aquele que diariamente sofre humilhações e sofrimentos sem tamanho. Após o filme, ficou-me na cabeça alguns versos do poeta Criolo:
"Cada coração é um universo E ainda tem que bombar o sangue De cada mente pensante desse meu país insano Num barraco de favela fermentar sonho com pranto"
Considero indispensável. Cheguei ao documentário passando pelos canais da tv, e depois de 10 minutos assistindo-o tive que baixar para assistir inteiro. Novamente, indispensável. Na chamada era da informação, em que todos imaginam ter o conhecimento à palma das mãos, com toda tecnologia disponível a um toque, a reflexão trazida pelo filme é muito preciosa (isto porque ele é de 2001!). Tantos aspectos são abordados, com uma coesão e interligação impressionantes. Destacaram-me as falas de Saramago, com uma lucidez e capacidade analítica brilhantes. A descrição de um mundo repleto de imagens e acontecimentos cotidianos que chegam a todos os cantos, mas que ninguém mais parece ter a condição de compreender, interpretar, assimilar, significar. A avalanche de informações, imagens e símbolos nos bloqueia o entendimento. E a sensibilidade. O resultado pode ser conferido, a cada dia, ao olharmos ao nosso redor e constatar que, após 15 anos deste filme, nossa situação permanece idêntica, se não cada vez mais desesperadora.
Parece que o que torna cada um de nós igualmente HUMANO é a partilha de cada uma dessas condições/situações (e infinitas outras que poderiam ser listadas), em diferentes momentos de nossas vidas individuais. As vidas são tão diferentes entre si, mas construídas com o mesmo vocabulário de sentidos que nos definem enquanto 'raça' humana. Somos todos feitos da mesma matéria: sonhos e poeira das estrelas.
Fico pensando: depois de tudo que este homem acompanhou, conheceu, vivenciou e registrou, de onde vem a força para continuar e renovar as esperanças na espécie humana? Como alguém com tamanha sensibilidade e empatia consegue sobreviver ao moinho que é o mundo que nós construímos enquanto civilização? Este questionamento ecoa durante e muito após os créditos finais, enquanto o retrato do ser humano como animal feroz e violento parece emergir como argumento-base do filme. O brilho de pessoas como Sebastião Salgado, felizmente, pode apontar para a relativização desta visão pessimista e desacreditada de nós mesmos.
Talvez um bom adjetivo seja: arrebatador! Não é possível assistir ao filme com indiferença, independente da forma como cada um reagirá a ele: com raiva, ódio, repulsa, desilusão, reflexão, incômodo, etc. Considero esta uma característica do cinema da mais alta qualidade. Netflix entrou com os dois pés no peito no mercado de filmes. Como alguns já levantaram: cheiro de Oscar.
Belo, em sua simplicidade e força narrativa. Atinge com perfeição o sentido social envolvido na maioria das práticas criminosas, em diferentes contextos. Se Antonio considerou aceitável recorrer ao furto para aliviar sua situação de desespero, o furto de que foi vítima também estaria justificado (imaginemos um ladrão nas mesmas condições)? Como é possível manter uma boa ordem e convivência em sociedade se a inúmeras pessoas são negadas as mínimas condições de vida e sobrevivência? Estas são algumas reflexões que o filme suscita, cabendo apenas a nós procurar por tais respostas.
Sensacional! Tocante! E um ótimo contraponto ao consenso publicitário de que precisamos ser feliz o tempo todo, estar sempre alegres e realizados. Tentar silenciar a Tristeza significa, ao mesmo tempo, abrir mão das experiências que nos tornam efetivamente sensíveis e completos. Filme muito recomendado, especial e principalmente aos adultos.
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Meninos de Tóquio
4.3 18“Meninos de Tóquio” (1932) é um filme que se define pela simplicidade e ingenuidade da infância. Seguindo os acontecimentos da vida de dois irmãos, crianças na faixa de 10-14 anos, a história explora as dificuldades de adaptação que se colocam diante da mudança para um novo povoado, no Japão da década de 1930. Toda a tônica gira, então, em torno das experiências e aprendizados vividos pelos dois irmãos, em suas relações conflituosas com as demais crianças e adolescentes da vizinhança, que os recebem com hostilidade. Ao longo da trama, são sugeridas algumas reflexões a respeito das dinâmicas sociais do poder, prestígio, violência e subordinação. A forma como o diretor busca apresentar um espelhamento entre as relações ainda ingênuas entre as crianças e aquelas que configuram o mundo “pra valer” dos adultos fornece boas bases para pensarmos a respeito das origens e sustentação do poder em sociedade. Além disso, também são sugeridos apontamentos sobre o que significaria ser uma pessoa “importante” ou “de valor”, no sentido de alcançar o chamado “sucesso” na vida. Longe de fazer tais reflexões de uma forma pesada e enfadonha, o diretor é hábil em apenas pincelar algumas dessas questões nas experiências cotidianas triviais dos personagens. Fiquei muito curioso para conhecer outras obras de Ozu, sentindo que seu estilo preza pela valorização de uma virtude tão subestimada atualmente, a da simplicidade.
Respire
3.8 290 Assista AgoraPra quem, assim como eu, assiste esse filme na expectativa de encontrar uma simples história de amizade e romance entre duas garotas adolescentes, a surpresa é muito grande. Para os fãs de um bom drama, este é um prato cheio. A forma como o filme desenvolve cuidadosamente a construção das personagens, das relações, conflitos e expectativas é um dos pontos altos que chama a atenção. Podendo ser caracterizado como um estudo de personagem, o enredo nos apresenta as experiências de vida de uma garota introspectiva e com um conturbado ambiente familiar. As situações de frustração, estresse e resignação vão se desenrolando, uma após a outra, construindo um clima crescente de apreensão e mesmo, em alguns momentos, sufocamento. Ponto para a ótima direção de Mélanie Laurent e excelente atuação da dupla de jovens protagonistas. Este é um dos filmes cujo título foi escolhido a dedo, oferecendo um valioso conselho a que se pode recorrer quando tudo o mais parece desmoronar: respire! Esta simples e trivial recomendação pode representar a diferença entre a resiliência dolorida, mas construtiva, e o colapso de uma vida tão carregada de dores e sofrimentos.
Caixa de Pássaros
3.4 2,3K Assista AgoraUma mistura de "Ensaio sobre a cegueira" com "O nevoeiro", um filme excelente com um desprezível. Ficou no meio termo.
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista Agora"Que horas ela volta?" é um daqueles filmes que provavelmente não diz muito para um público "universal", ou seja, que se veria reconhecido na história independente do país ou cultura de origem. Para a sociedade e cultura brasileiras, no entanto, é uma reflexão que vai no centro de nossa formação enquanto sociedade de profundas desigualdades. A existência de uma fissura no tecido social, dividindo a realidade e o universo social de ricos e pobres de maneira sutil mas também profunda, aparece em primeiro plano nesta obra. A presença de Jéssica, que não se conforma em assumir o papel esperado de “colocar-se em seu lugar” é o elemento de desestabilização nesse cenário aparentemente harmônico e tranquilo. A atuação de Regina Casé, como Val, também representa muito bem um conjunto de milhões de brasileiras que, até os dias de hoje, sobrevivem cuidando do lar e do cotidiano de famílias outras, enquanto suas próprias podem estar afastadas. Talvez o que senti um pouco de falta no filme foi uma discussão mais desenvolvida do papel da história e da cultura brasileiras nessa realidade de segregação velada. Isso porque existe o risco de individualizar a questão e passar a considerar o problema apenas de um ponto de vista moral e pessoal, sendo que há raízes sociais profundas na base das relações retratadas pelo enredo. No geral, é um excelente filme para quem gosta de pensar sobre o que nos caracteriza enquanto sociedade e como, muitas vezes, a segregação e o preconceito podem vir muito bem disfarçados de inclusão e assistência para com “os mais necessitados”.
A Fonte da Donzela
4.3 219 Assista AgoraComo não poderia deixar de ser, assistir a um filme de Bergman é colocar-se disposto a mergulhar na complexidade e profundidade da vida ou alma humana. “A Fonte da Donzela” não foge a esta ‘regra’, apesar de possivelmente ser um dos filmes menos carregados de conteúdo filosófico e reflexivo do diretor. Ainda assim, a questão e o debate que ele nos lança é central e eixo fundamental da construção da religiosidade em inúmeras tradições humanas: a questão do bem e do mal e da maneira correta de se fazer Justiça. A partir de uma história bastante simples, quase alegórica, o diretor se preocupa apenas em nos lançar a pergunta por meio do filme, sem se dedicar em nenhum momento sequer a propor qualquer resposta. Talvez a força do trabalho venha justamente daí, com sua capacidade de nos colocar uma enorme pulga atrás da orelha, que nos força a rever posições pessoais anteriormente bem estabelecidas e insiste em incomodar com seu alcance e profundidade existencial. Assistir a um filme de Bergman parece ser um exercício voluntário de receber uma pequena martelada na cabeça, que ressoa durante alguns dias em forma de pensamentos latejantes, mas que no fim pode contribuir para fortalecer reflexões fundamentais que todo ser humano, em algum momento de sua vida, se coloca e investiga.
Jim & Andy: The Great Beyond
4.2 162 Assista Agora"This is Ground Control to Major Tom
You've really made the grade
And the papers want to know whose shirts you wear
Now it's time to leave the capsule if you dare
"This is Major Tom to Ground Control
I'm stepping through the door
And I'm floating in a most peculiar way
And the stars look very different today
For here
Am I sitting in a tin can
Far above the world
Planet Earth is blue
And there's nothing I can do"
Space Oddity - David Bowie
___________________
Aparentemente gênios conseguem conversar telepaticamente, uma vez que a música parece ter sido feita para exatamente concluir este admirável doc. Na minha visão, é um filme que trata muito mais da persona e das inquietações de Jim Carrey do que de Andy Kaufman, e é incrível conhecer mais de perto o que este ator foi capaz de construir e desenvolver ao longo de sua carreira e vida.
Minimalismo: Um Documentário Sobre Coisas Importantes
3.5 195Vamos falar de minimalismo saindo dirigindo um Toyota Corolla por aí.
Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre a Existência
3.6 267 Assista AgoraIncrível como a existência humana é trivial e, ao mesmo tempo, exuberante! Depois de percorrer os três filmes da trilogia, sendo este o último, você fica com a impressão de que poderiam ser feitas mais 10 trilogias exatamente com o mesmo formato e a mesma temática.
A falta de um roteiro fechado ou de uma "lição de moral" ao final é simplesmente uma síntese do que efetivamente é a própria vida real. Sem um caminho certo e seguro a ser trilhado, cada um busca "fazer o melhor que pode; o que mais poderíamos fazer?". A grande questão é que, aparentemente, não estamos nos saindo muito bem nisso. A frustração, a apatia, a indiferença, a tristeza e a melancolia parecem atravessar a vida de cada uma das personagens do filme, aos seus diferentes modos e circunstâncias. Por mais que tentem fazer as coisas darem certo, temos uma sucessão de falhas, mal-entendidos e desencontros. Apesar disso, a rotina continua todos os dias nesta mesma direção, afinal é "preciso acordar cedo para trabalhar amanhã". Sem tempo para a reflexão ou para o questionamento, as pessoas se afundam, desorientadas, em si mesmas. Por mais pessimista que tudo isto soe, é pelo menos alentador encontrar uma obra como esta marcando uma rara pausa no ritmo do dia a dia, tal como um pombo que tenha pousado pela milésima vez em um galho, mas desta vez se deixa estar, refletindo sobre a existência.
"É certo usar as pessoas apenas para seu próprio prazer?"
Canções do Segundo Andar
4.1 67Metáforas e simbologias por todos os lugares! Apesar de ser um tanto quanto arriscado construir um filme todo em cima disso, podendo no final não chegar a lugar nenhum, não me pareceu ser este o caso. O ponto alto é que cada pessoa tira do filme aquilo que mais lhe toca, dando sua contribuição e sua interpretação subjetiva. Ou simplesmente não entender nada, o que também pode acontecer. Em época de filmes que já te dão uma história pronta, acabada, interpretada e explicada, é uma rara exceção de se encontrar. Fiquei com vontade de conhecer mais do trabalho do diretor.
PS: A metáfora com o engarrafamento é simplesmente sensacional, valendo pelo filme para mim!
A Máscara em que Você Vive
4.5 201A pergunta que fica para mim, depois desta verdadeira aula que é assistir ao documentário, é COMO atuar para mudar essa cultura tão perversa e devastadora? Se ela, como cultura, se espalha por toda a sociedade e está inserida nos mais variados lugares (filmes, jogos, escolas, pais, professores, mídia, música, esportes, lazer, relações pessoais, pornografia, etc -- aspecto muito bem abordado no filme), como "escapar" de sua influência e iniciar um caminho transformador? De onde partir? Como agir para mudar? Acho que esta é a reflexão que fica a cada um, principalmente aos homens, depois deste belíssimo documentário.
Lixo Extraordinário
4.3 655"Eu prefiro ser o cara que QUER TUDO e não tem nada, do que ser o cara que TEM TUDO e não quer nada. Porque então sua vida tem um significado, ela está valendo a pena ser vivida."
Lixo Extraordinário
4.3 655Belíssimo! Arte em estado puro, com toda sua capacidade de nos causar reflexões, questionamentos e transformações. É muita inspiração, sabedoria e luta reunida. A feiura às vezes está tão perto da beleza que as duas podem se confundir. O Brasil é um país tão injusto para o povo que o sustenta, aquele que diariamente sofre humilhações e sofrimentos sem tamanho. Após o filme, ficou-me na cabeça alguns versos do poeta Criolo:
"Cada coração é um universo
E ainda tem que bombar o sangue
De cada mente pensante desse meu país insano
Num barraco de favela fermentar sonho com pranto"
Janela da Alma
4.3 192 Assista AgoraConsidero indispensável. Cheguei ao documentário passando pelos canais da tv, e depois de 10 minutos assistindo-o tive que baixar para assistir inteiro. Novamente, indispensável.
Na chamada era da informação, em que todos imaginam ter o conhecimento à palma das mãos, com toda tecnologia disponível a um toque, a reflexão trazida pelo filme é muito preciosa (isto porque ele é de 2001!). Tantos aspectos são abordados, com uma coesão e interligação impressionantes. Destacaram-me as falas de Saramago, com uma lucidez e capacidade analítica brilhantes. A descrição de um mundo repleto de imagens e acontecimentos cotidianos que chegam a todos os cantos, mas que ninguém mais parece ter a condição de compreender, interpretar, assimilar, significar. A avalanche de informações, imagens e símbolos nos bloqueia o entendimento. E a sensibilidade. O resultado pode ser conferido, a cada dia, ao olharmos ao nosso redor e constatar que, após 15 anos deste filme, nossa situação permanece idêntica, se não cada vez mais desesperadora.
Humano - Uma Viagem pela Vida
4.7 326 Assista AgoraAlgumas marcas que ficaram em mim depois de assistir apenas ao volume 1 deste brilhante documentário; fui escrevendo em livre associação.
Human:
Amor. Confiança. Entrega. Sexo. Partilha. Companhia. Força. Suporte. Atenção. Altruísmo. Mulher. Vida. Homem. Sustento. Necessidade. Sentido. Realização. Tempo. Fome. Conforto. Liberdade. Carência. Privação. Desigualdade. Injustiça. Raiva. Angústia. Desespero. Obrigação. Escolha. Violência. Compras. Consumo. Utilizar. Consertar. Riqueza. Saúde. Depressão. Infelicidade. Solidão. Televisão. Pobreza. Abrigo. Alimento. Acúmulo. Presente. Medo. Esperança. Batalha. Ilusão. Esforço. Madrugar. Insônia. Família. Cuidado. Lar. Generosidade. Força. Fé. Incompreensão. Mudança. Alegria. Coragem. Conformidade. Ruptura. Ira. Desejo. Adequação. Compromisso. Acordo. Abuso. Proteção. Apoio. Dedicação. Dor. Desperdício. Falta. Sujeira. Merecimento. Quantidade. Descarte. Ligação. Agressão. Ferida. Sentimento. Pensamento. Interior. Construção. Garantia. Tradição. Costume. Comportamento. Decisão. Religião. Educação. Rua. Futuro. Infância. Início. Formação. Perseverança. Julgamento. Amparo. Possibilidade. Prisão. Reflexão. Responsabilidade. Compaixão. Sonho. (...)
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Parece que o que torna cada um de nós igualmente HUMANO é a partilha de cada uma dessas condições/situações (e infinitas outras que poderiam ser listadas), em diferentes momentos de nossas vidas individuais. As vidas são tão diferentes entre si, mas construídas com o mesmo vocabulário de sentidos que nos definem enquanto 'raça' humana. Somos todos feitos da mesma matéria: sonhos e poeira das estrelas.
O Sal da Terra
4.6 450 Assista AgoraFico pensando: depois de tudo que este homem acompanhou, conheceu, vivenciou e registrou, de onde vem a força para continuar e renovar as esperanças na espécie humana? Como alguém com tamanha sensibilidade e empatia consegue sobreviver ao moinho que é o mundo que nós construímos enquanto civilização? Este questionamento ecoa durante e muito após os créditos finais, enquanto o retrato do ser humano como animal feroz e violento parece emergir como argumento-base do filme. O brilho de pessoas como Sebastião Salgado, felizmente, pode apontar para a relativização desta visão pessimista e desacreditada de nós mesmos.
Beasts of No Nation
4.3 831 Assista AgoraTalvez um bom adjetivo seja: arrebatador! Não é possível assistir ao filme com indiferença, independente da forma como cada um reagirá a ele: com raiva, ódio, repulsa, desilusão, reflexão, incômodo, etc. Considero esta uma característica do cinema da mais alta qualidade. Netflix entrou com os dois pés no peito no mercado de filmes. Como alguns já levantaram: cheiro de Oscar.
Ladrões de Bicicleta
4.4 532 Assista AgoraBelo, em sua simplicidade e força narrativa. Atinge com perfeição o sentido social envolvido na maioria das práticas criminosas, em diferentes contextos. Se Antonio considerou aceitável recorrer ao furto para aliviar sua situação de desespero, o furto de que foi vítima também estaria justificado (imaginemos um ladrão nas mesmas condições)? Como é possível manter uma boa ordem e convivência em sociedade se a inúmeras pessoas são negadas as mínimas condições de vida e sobrevivência? Estas são algumas reflexões que o filme suscita, cabendo apenas a nós procurar por tais respostas.
Divertida Mente
4.3 3,2K Assista AgoraSensacional! Tocante! E um ótimo contraponto ao consenso publicitário de que precisamos ser feliz o tempo todo, estar sempre alegres e realizados. Tentar silenciar a Tristeza significa, ao mesmo tempo, abrir mão das experiências que nos tornam efetivamente sensíveis e completos. Filme muito recomendado, especial e principalmente aos adultos.