Não me decepcionei pois não fui com expectativas: muitas cenas bonitas e bem feitas em torno de muito fan-service canastrão e uma história requentada, pouco original e auto-referente ao extremo.
Herói que descobre ser consanguíneo de algum vilão. Vilão que se redime. Tudo o que a gente já viu.
Star Wars é um universo tão grande em possibilidades quanto é estacionário.
Mas é pra criança. Que se dane. As navinha e os hominho ainda são massa. PEW-PEW!
O diretor Noah Baumbach deixa muito claro a diferença espiritual entre divórcio e casamento.
Com todos os defeitos, o casamento é verdadeiro. Por isso mesmo é sagrado. Por isso é sacramental. Por isso mesmo comunga de natureza divina.
Além de tudo, é intimo e complexo.
O divórcio, por sua vez, é a mentira. É o contrário do casamento não apenas no seu sentido mais óbvio, mas no seu sentido simbólico e místico.
O divórcio é uma exposição pública, que reduz homem e mulher a litigantes agressivos dentro de um processo judicial indiferente, onde os pecados de cada um são expostos de maneira superficial e caricatural.
Não há pessoas nesse processo. Por isso o divórcio é profano.
É muito clara a diferença de quando os protagonistas estão diante de advogados e juízes e quando estão sozinhos.
Quando estão diante de advogados, ficam silenciosos. São os advogados que assumem suas vozes. Eles perdem até mesmo sua individualidade. Transferem sua própria voz para uma voz jurídica que se orienta na noção de perdas e ganhos e retorno sobre investimento.
Quando estão sozinhos, sem esse ornamento burocrático, vemos explosões de raiva, de frustração, mas também de afeto, compaixão e carinho. Vemos a verdade e entendemos melhor por que o casamento, e não o divórcio, é algo consagrado.
A propósito, só pra confirmar o que todos falaram, Scarlett Johansson e, principalmente, Adam Driver deveriam ganhar um Oscar.
Antes da Chuva de Milcho Manchevski é um baita filme.
Ele é dividido em 3 histórias interligadas.
Na primeira, Words, um jovem monge ortodoxo chamado Kiril (Grégoire Colin) esconde uma jovem albanesa chamada Zamira (Labina Mitevska), acusada de assassinato e perseguida por vingadores locais.
Na segunda, Faces, situada em Londres, temos Anne (Katrin Cartlidge), uma editora de imagens de uma revista que está divida entre o amor de seu marido, Nick (Jay Villiers), e a atração que sente pelo fotógrafo de guerra Alexsandar (Rade Serbedzija).
Na terceira, Pictures, acompanhamos Alexandar voltando para Macedônia, sua terra natal e onde acontece a primeira história do filme.
Milcho Manchevski constroi seu roteiro de forma circular, onde o fim da terceira história se conecta diretamente ao começo da primeira. No entanto, o filme não apresenta um conceito de continuidade e linearidade. Percebemos isso quando Anne, na segunda história, vai separando fotos de acontecimentos que, cronologicamente, não aconteceram ainda (e que estão presentes na primeira história).
Esse embaralhamento proposital (e sutil) é muito significativo para entender o filme não apenas como um exercício técnico de roteiro, mas como um exercício simbólico. Esse embaralhamento imprime significado.
A conexão entre as três histórias, antes de ser circular (no universo do filme), é cíclica, dharmica, de eterno retorno - de infinitude terrena.
O filme trabalha a infinitude usando aquilo que mais caracterizou nossa história: conflitos. Como é dito no filme, a guerra precede sua própria motivação. Resolva todos os conflitos do mundo num dia, tome seu partido e, na manhã seguinte, buscarão outros motivos para fazer guerra.
Enfim, ótimo exemplo de forma a serviço do conteúdo.
Parasita de Bong Joon-ho é um filme que não poderia ser ocidental.
O ocidente, desde o teatro clássico, sempre definiu muito bem os gêneros de suas obras, suas "máscaras" de tragédia, comédia e farsa. Suas resoluções mais experimentais são iniciadas por uma infinidade de "misturas".
Em Parasita, assim como em diversos filmes sul-coreanos, isso tudo é mesclado sem pontos de ruptura. O filme político, com comentários de classe, não se separa nem um segundo sequer do drama e da comédia (e comédia, que digo, é a pastelão mesmo, slapstick, "torta na cara" - sem demérito algum).
Até para tratar pertinentes questões de tensões entre classes (utilizando-se até do elemento do nojo), a Coréia do Sul parece ter se preservado muito bem da sub-literatura política marxista ocidental, que é uma verdadeira praga aqui e que tende sempre ao esteriótipo e a vilania de apenas um dos lados.
Coréia do Sul deveria ser vista como a terra do cinema, não do K-Pop.
O filme é impiedoso, explícito, grotesco e, acima de tudo, pedagógico e necessário. Explora gradativamente (e sem desculpas) as etapas de uma completa descida ao abismo no vício das drogas.
Dodsworth (Fogo de Outono, 1936) de William Wyler (diretor de Ben Hur) tipifica perfeitamente pra mim a categoria de "filme para adultos". Isso mesmo que você pensou. É um filme com cenas explícitas de um casamento fracassado, vida conjugal desarmônica e a "machadiana" inquietude da velhice batendo a porta (leia "Uma Senhora" do grande mestre).
Não é um filme que me impressionou muito do ponto de vista técnico.
Embora o estilo documentário e o tom jornalístico seja inusitado dentro do gênero, ele soa mais como recurso hiper-expositivo do que qualquer outra coisa.
Não é um filme que se propõe uma revolução no gênero. É divertimento puro.
O que me deixou mais entretido (mais do que eu esperava) foi o interessante jogo de gato e rato entre a polícia e o bandido.
Não é um jogo de xadrez extremamente cerebral (e lúdico) no estilo Arthur Conan Doyle. Embora o antagonista (bandido) seja engenhoso, não é nenhum Professor Moriarty.
De qualquer forma, é uma interessante mostra de métodos científicos de perícia e truques estratégicos policiais, com algumas boas cenas de tensão (mérito da direção).
O Tesouro de Sierra Madre (1948) não é apenas um grande filme, é um registro fossilizado de uma Hollywood praticamente extinta.
O filme revisita a narrativa de El Dorado, colocando três forasteiros americanos a procura de ouro em Sierra Madre no México, pais que ainda sangrava com os ferimentos da revolução de 1910.
Esses três forasteiros errantes não conduzem apenas uma aventura selvagem repleta de bandoleiros, mas também uma jornada moral.
O filme passa pelos temas da ganância, da consciência moral e da corrupção humana - algo que hoje soaria antiquado para o gosto dessa geração que foi formada por séries da Netflix, vídeos do Felipe Neto e novelas Rede Globo - e que acha que a grandiosidade de uma história se mede pela quantidade de minorias presentes nela - E SÓ ISSO.
Pra quem ainda se interessa pelas grandes questões, é um ótimo filme.
Caralho. Se o cinema fosse literatura, Alfred Hitchcock seria WILLIAM FUCKING SHAKESPEARE.
Pode ser clichê ser laudatório com Hitchcock, mas essa é SEMPRE a minha conclusão ao terminar qualquer filme dele.
Tarantino, Coppola e até Scorcese viram moscas perto dele.
Não existe e nunca vai existir um diretor com o mais absoluto controle da linguagem cinematográfica do que ele.
Não há similares a ele na Europa, na Ásia ou nos Estados Unidos. Como contador de histórias no cinema, ele é O REI DA PORRA TODA!
Com míseros 74 minutos (e não precisa mais nem menos que isso), Festim Diabólico (1948) não é um filme, é basicamente uma aula de excelência cinematográfica.
Nenhum movimento de câmera, nenhum close, nenhum plano detalhe e, especialmente, nenhum diálogo é desperdiçado. Não há demonstração barata de técnica ou firula e é experimental na medida certa.
Hitchcock é FODA por que ele é, na real, minimalista e simples - tudo que ele faz está a serviço da narrativa, não existe faltas ou sobras.
A história do filme, baseado em peça homônima de 1929 e escrita por Patrick Hamilton, absorve camadas literárias que vão de Dostoiévski (especialmente "Crime e Castigo"), Arthur Conan Doyle e Agatha Christie.
Brandon Shaw é um vilão encantador e desavergonhadamente nietzschiano - um dos melhores personagens do cinema.
Todo filme se passa em um único cenário e muitos ficaram impressionados por aparentar ser filmado em um única tomada (na verdade, isso é só impressão causada pelo uso de tomadas longas - cada tomada ocorre continuamente por até 10 minutos sem interrupção).
Enfim, assistam. Tá liberado jogar confete em Hitchcock.
Existe certa mania de taxar Joana d'Arc como uma camponesa lunática que o exército francês deu créditos pois já não havia mais esperanças e a empolgação dela era suficiente para renovar a motivação dos soldados.
As voltas que os céticos fazem para esconder o milagre dos registros históricos de uma camponesa religiosa de 19 anos, sem experiência militar alguma, que não queria lutar e matar ingleses (ela sempre deixou claro, a luta para ela era necessária - não desejável), vencer a batalha de Orleães, a batalha de Jargeau, a batalha de Meung-sur-Loire, a batalha em Beaugency e a batalha de Patay, só podem ser fruto de teimosia.
Joana D'Arc, ou melhor, Santa Joana D'Arc é, de todas as personagens históricas da França - a que mais me interessa e a que, pra mim, mais deve ter sua história contada e recontada.
E de todas as Joana D'Arcs que apareceram cinema, a de Ingrid Bergman, no filme de Victor Fleming de 1948, é a mais católica.
Não há sinal de lunatismo ou a tentativa patética de transformar ela em uma feminista avant la lettre.
Ela é a Joana D'Arc na exata e justa medida.
Ela demonstra fervor, mas não fanatismo.
Ela demonstra disposição para luta, mas não beligerância.
Ela demonstra estar disposta à clemência, mas não a rendição.
Ela demonstra estar disposta a paz, mas não fugir da guerra.
Como diria Chesterton:
"O verdadeiro soldado não combate porque odeia o que está na frente dele, mas porque ama o que está por trás dele."
Fora isso, o design de produção e a cenografia, fazem do filme de Victor Fleming, o mais pitoresco de todos.
O filme mistura elementos cênicos típicos de teatro com uma linguagem cinematográfica bastante consciente.
É teatral, mas passa longe de ser um mero "teatro filmado". O filme utiliza a linguagem do cinema para reforçar elementos da história.
O uso constante de cross dissolve e sobreposições de imagens reforçam o caráter lúdico, lúgrube e fantasmagórico da história. Os travellings de câmera, passeando pelas escadarias e cômodos dos cenários, temperam tudo com certa vertigem e dão tudo ar de loucura.
Os cenários são grandiosos, tétricos, extremamente opressivos, claustrofóbicos e labirínticos - tal como a própria mente de Hamlet. Todo castelo de Kronborg parece estar contido dentro um calabouço, com poucos feixes de luz e muitas sombras (há muita influência do expressionismo alemão).
É adaptação de Hamlet definitiva para o cinema. Conseguiu ser reverente com Shakespeare, com o teatro e com o cinema ao mesmo tempo.
A história é um nó que vai habilmente se desfazendo minuto-a-minuto.
Embora Joan Crawford seja indiscutivelmente a estrela desse filme, o diretor Curtis Bernhardt e os roteiristas Ranald MacDougall e Silvia Richards conseguem, com grande perícia, fazer uma uma exposição didática da psicose catatônica.
Há um excelente uso de câmera subjetiva e ótimos momentos onde nos questionamos se que estamos vendo no filme é uma alucinação ou algo que aconteceu de fato (não há truques de edição que pontuem quando ocorre as alucinações da personagem principal). Nada mais fiel do que a representação de um delírio na visão de um psicótico como um espelho indistinguível da realidade.
Confesso que, lá pela metade do filme, me perdi um pouco na história. Talvez eu revisite-o com mais atenção.
No entanto, consegui me divertir apenas pelo estilo pândego do personagem Philip Marlowe.
O cinema noir é uma pérola da cultura pop americana. Amo perdidamente todos os seus esteriótipos: os cenários claustrofóbicos e repletos de objetos, o acentuado contraste claro-escuro, o jogo de luz e sombra, a onipresente fumaça, o estilo elegante das roupas, os planos semi-cartunescos, as mulheres e as atuações canastronas.
Embora o diretor inegavelmente possui destreza técnica e o tema da memória e do trauma na vida amorosa dê muita margem para um trabalho interessante, o roteiro é comicamente ruim.
Não vou dar muitos detalhes sobre o que acontece no filme, mas as decisões de Asako, a partir de certo momento, são tão implausíveis e inverossímeis que a sua impulsividade, longe de refletir uma compreensível confusão da personagem, só refletem a pressa do diretor em terminar o filme a qualquer custo - nem que custe demolir as próprias premissas: o que antes era um filme sobre memória e amor, se transforma numa jornada patética de auto-humilhação em busca de uma redenção não-convincente.
Se você busca um filme sobre a intricada relação da memória com os relacionamentos amorosos, indico "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" de Michel Gondry.
Meu Deus, esse filme é CONSTRANGEDORAMENTE ruim. Antes o diretor se limitasse à pequena fugacidade do amor adolescente nos primeiros minutos de filme do que tentar alçar vôos mais audaciosos.
A sequência surrealista do filme me fez mais soltar risos involuntários e ficar com vergonha alheia do que um chamado à reflexão de qualquer tipo.
O filme não oferece nada além de evidenciar a infinita capacidade do cinema independente em oferecer lixo com verniz intelectual.
O tratamento didático e expositivo que o filme dá para o tema psicanalítico em questão não é, nem de longe, um defeito.É extremamente adequado ao que foi proposto - trazer ao grande público a questão dos traumas e fazer uma espécie de denúncia ao tratamento manicomial.
Achei a atuação de Olivia de Havilland regular. A tensão, em mim, foi criada muito mais nas montagens do que no desempenho dos atores.
De resto, a canção no final do filme é um dos momentos mais belos do filme.
Werner Herzog subverte tudo aquilo que entendemos ser a característica de um documentário.
Ao invés de entrevistas, óperas de Wagner emoldurando imagens que são terríveis e belíssimas ao mesmo tempo (o terrível-belo, geralmente da natureza, é a impressão digital do diretor).
Ao invés de uma explicação cheia de didatismo e tom acadêmico-professoral, uma narração que vai da ficção-científica "dieselpunk" à escatologia bíblica.
Resumindo: Herzog extraiu do desastre dos campos petrolíferos do Kuwait muito mais do que um sentimentalismo ambientalóide - mas uma verdadeira obra de arte.
20% do filme vemos o Godzilla, 80% são gente falando sobre o Godzilla e como derrotá-lo.
Em suma: filme chato.
A tentativa de soar como um hard sci-fi é válida apenas quando você consegue aparentar ser minimamente plausível - e plausibilidade e Godzilla são como água e óleo.
Além de deixar o filme tediosamente longo demais com explicações que não interessam a ninguém, essas próprias explicações não convencem.
O problema de todo filme em tentar parecer mais inteligente do que é causa isso: deixar tudo nebuloso e mal-explicado.
Seria muito melhor se eles fizessem um filme "mais burrinho" e trabalhar mais nossa adrenalina e/ou tensão emocional.
Os pontos fortes são os já mencionados aqui.
As animações são bonitas, mas nem tanto. Odeio essa tendência japonesa em deixar os soldados e líderes de maior destaque com aspecto de adolescente imberbe.
Outra coisa que me incomodou foi o próprio Godzilla, que mais parece uma montanha com olhos que solta raio pela boca. Não digo montanha pelo porte da besta, mas pela sua irritante imobilidade.
Considerando o primeiro, dispenso respeitosamente o segundo.
O filme é excelente. Apesar de Klaus Kinski, com cabelos loiros, olhos vítreos e queixo angular, não convencer como brasileiro (o que gera algumas estranhezas muito patentes para quem é brasileiro de verdade - tipo eu), seu personagem, Francisco Manoel da Silva é excelente.
A história é interessante e não há um pingo das já manjadas politizações e falsificações históricas que povoam filmes que tocam no tema da escravidão. É apenas uma fantasia "Corto-Malteseiana" descompromissada, ou a fotografia do espírito do homem branco numa terra estranha.
Não sei se é por influência do ator, mas ele parece bastante com Aguirre - tanto pela sua engenhosidade e astúcia, quanto por certo indiferentismo moral - fora o seu apreço pela aventura e pela conquista: tipicamente notória do europeu de séculos passados.
Diferente de muitos, não achei o filme cansativo. Pelo contrário. Achei ele até curto. Tanto as paisagens africanas quanto brasileiras me deixaram com os olhos fixos na tela. O Brasil é um pais gigantesco e infelizmente, quando vejo as suas paisagens, me sinto estrangeiro na minha própria terra.
Star Wars, Episódio IX: A Ascensão Skywalker
3.2 1,3K Assista AgoraVi ontem The Rise of Skywalker.
Consolidou o que foi a nova trilogia Star Wars.
Não me decepcionei pois não fui com expectativas: muitas cenas bonitas e bem feitas em torno de muito fan-service canastrão e uma história requentada, pouco original e auto-referente ao extremo.
Herói que descobre ser consanguíneo de algum vilão. Vilão que se redime. Tudo o que a gente já viu.
Star Wars é um universo tão grande em possibilidades quanto é estacionário.
Mas é pra criança. Que se dane. As navinha e os hominho ainda são massa. PEW-PEW!
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraHistoria de um Casamento é um filme sensacional.
O diretor Noah Baumbach deixa muito claro a diferença espiritual entre divórcio e casamento.
Com todos os defeitos, o casamento é verdadeiro. Por isso mesmo é sagrado. Por isso é sacramental. Por isso mesmo comunga de natureza divina.
Além de tudo, é intimo e complexo.
O divórcio, por sua vez, é a mentira. É o contrário do casamento não apenas no seu sentido mais óbvio, mas no seu sentido simbólico e místico.
O divórcio é uma exposição pública, que reduz homem e mulher a litigantes agressivos dentro de um processo judicial indiferente, onde os pecados de cada um são expostos de maneira superficial e caricatural.
Não há pessoas nesse processo. Por isso o divórcio é profano.
É muito clara a diferença de quando os protagonistas estão diante de advogados e juízes e quando estão sozinhos.
Quando estão diante de advogados, ficam silenciosos. São os advogados que assumem suas vozes. Eles perdem até mesmo sua individualidade. Transferem sua própria voz para uma voz jurídica que se orienta na noção de perdas e ganhos e retorno sobre investimento.
Quando estão sozinhos, sem esse ornamento burocrático, vemos explosões de raiva, de frustração, mas também de afeto, compaixão e carinho. Vemos a verdade e entendemos melhor por que o casamento, e não o divórcio, é algo consagrado.
A propósito, só pra confirmar o que todos falaram, Scarlett Johansson e, principalmente, Adam Driver deveriam ganhar um Oscar.
O Irlandês
4.0 1,5K Assista AgoraScorcese parece ser obcecado pela contradição do pecado com o sacramento.
The Irishman é todo permeado por alternâncias de imagens sagradas e profanas: mortes-casamento-jogatina-batismo-máfia-confissão-política-missa.
Talvez ele seja aquele que considera o pecado como algo que deve ser enfrentado ou mesmo abraçado para ser compreendido.
As imagens sagradas, que ao longo de todo o filme são apenas sussurros, vão ganhando contornos mais definidos conforme vai se aproximando o final.
E, por falar em final, THE IRISHMAN tem o final mais melancólico da história da filmografia de Scorcese.
Enfim, Scorcese é o Robert Bresson com revolver em uma mão e o terço em outra.
Antes da Chuva
4.1 62 Assista AgoraAntes da Chuva de Milcho Manchevski é um baita filme.
Ele é dividido em 3 histórias interligadas.
Na primeira, Words, um jovem monge ortodoxo chamado Kiril (Grégoire Colin) esconde uma jovem albanesa chamada Zamira (Labina Mitevska), acusada de assassinato e perseguida por vingadores locais.
Na segunda, Faces, situada em Londres, temos Anne (Katrin Cartlidge), uma editora de imagens de uma revista que está divida entre o amor de seu marido, Nick (Jay Villiers), e a atração que sente pelo fotógrafo de guerra Alexsandar (Rade Serbedzija).
Na terceira, Pictures, acompanhamos Alexandar voltando para Macedônia, sua terra natal e onde acontece a primeira história do filme.
Milcho Manchevski constroi seu roteiro de forma circular, onde o fim da terceira história se conecta diretamente ao começo da primeira. No entanto, o filme não apresenta um conceito de continuidade e linearidade. Percebemos isso quando Anne, na segunda história, vai separando fotos de acontecimentos que, cronologicamente, não aconteceram ainda (e que estão presentes na primeira história).
Esse embaralhamento proposital (e sutil) é muito significativo para entender o filme não apenas como um exercício técnico de roteiro, mas como um exercício simbólico.
Esse embaralhamento imprime significado.
A conexão entre as três histórias, antes de ser circular (no universo do filme), é cíclica, dharmica, de eterno retorno - de infinitude terrena.
O filme trabalha a infinitude usando aquilo que mais caracterizou nossa história: conflitos. Como é dito no filme, a guerra precede sua própria motivação. Resolva todos os conflitos do mundo num dia, tome seu partido e, na manhã seguinte, buscarão outros motivos para fazer guerra.
Enfim, ótimo exemplo de forma a serviço do conteúdo.
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraParasita de Bong Joon-ho é um filme que não poderia ser ocidental.
O ocidente, desde o teatro clássico, sempre definiu muito bem os gêneros de suas obras, suas "máscaras" de tragédia, comédia e farsa. Suas resoluções mais experimentais são iniciadas por uma infinidade de "misturas".
Em Parasita, assim como em diversos filmes sul-coreanos, isso tudo é mesclado sem pontos de ruptura. O filme político, com comentários de classe, não se separa nem um segundo sequer do drama e da comédia (e comédia, que digo, é a pastelão mesmo, slapstick, "torta na cara" - sem demérito algum).
Até para tratar pertinentes questões de tensões entre classes (utilizando-se até do elemento do nojo), a Coréia do Sul parece ter se preservado muito bem da sub-literatura política marxista ocidental, que é uma verdadeira praga aqui e que tende sempre ao esteriótipo e a vilania de apenas um dos lados.
Coréia do Sul deveria ser vista como a terra do cinema, não do K-Pop.
Eu, Christiane F.,13 Anos, Drogada e Prostituída
3.6 1,2K Assista AgoraO filme é impiedoso, explícito, grotesco e, acima de tudo, pedagógico e necessário. Explora gradativamente (e sem desculpas) as etapas de uma completa descida ao abismo no vício das drogas.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraSabe aquele hype todo em volta do filme? Então, ele se justifica.
El Camino: Um Filme de Breaking Bad
3.7 842 Assista AgoraPéssimo.
Talvez, a pior coisa que assisti esse ano.
Não passa de uma versão estendida, enfadonha e desnecessária do último episódio de Breaking Bad.
São duas horas mostrando Jesse Pinkmam se escondendo, buscando rotas de fuga e tendo flashbacks que só servem para fazer um fan service bem canastrão.
Economizem o tempo valioso de vocês.
Fogo de Outono
4.0 27Dodsworth (Fogo de Outono, 1936) de William Wyler (diretor de Ben Hur) tipifica perfeitamente pra mim a categoria de "filme para adultos". Isso mesmo que você pensou. É um filme com cenas explícitas de um casamento fracassado, vida conjugal desarmônica e a "machadiana" inquietude da velhice batendo a porta (leia "Uma Senhora" do grande mestre).
Dodsworth é Bergman antes de Bergman. Nota 9/10.
O Pássaro Azul
4.0 110Na época, o filme tentou embarcar no sucesso de Mágico de Oz mas tudo que conseguiu entregar foi uma fantasia fajuta, arrastada e pobre.
Demônio da Noite
3.5 11 Assista AgoraNão é um filme que me impressionou muito do ponto de vista técnico.
Embora o estilo documentário e o tom jornalístico seja inusitado dentro do gênero, ele soa mais como recurso hiper-expositivo do que qualquer outra coisa.
Não é um filme que se propõe uma revolução no gênero. É divertimento puro.
O que me deixou mais entretido (mais do que eu esperava) foi o interessante jogo de gato e rato entre a polícia e o bandido.
Não é um jogo de xadrez extremamente cerebral (e lúdico) no estilo Arthur Conan Doyle. Embora o antagonista (bandido) seja engenhoso, não é nenhum Professor Moriarty.
De qualquer forma, é uma interessante mostra de métodos científicos de perícia e truques estratégicos policiais, com algumas boas cenas de tensão (mérito da direção).
Que Mundo Maravilhoso
3.5 7 Assista AgoraNão é um filme maravilhoso, mas também não é um filme que promete entregar coisas maravilhosas. Cumpre o que promete. É engraçadinho e agradável.
O Tesouro de Sierra Madre
4.4 168 Assista AgoraO Tesouro de Sierra Madre (1948) não é apenas um grande filme, é um registro fossilizado de uma Hollywood praticamente extinta.
O filme revisita a narrativa de El Dorado, colocando três forasteiros americanos a procura de ouro em Sierra Madre no México, pais que ainda sangrava com os ferimentos da revolução de 1910.
Esses três forasteiros errantes não conduzem apenas uma aventura selvagem repleta de bandoleiros, mas também uma jornada moral.
O filme passa pelos temas da ganância, da consciência moral e da corrupção humana - algo que hoje soaria antiquado para o gosto dessa geração que foi formada por séries da Netflix, vídeos do Felipe Neto e novelas Rede Globo - e que acha que a grandiosidade de uma história se mede pela quantidade de minorias presentes nela - E SÓ ISSO.
Pra quem ainda se interessa pelas grandes questões, é um ótimo filme.
5/5
Festim Diabólico
4.3 882 Assista AgoraCaralho. Se o cinema fosse literatura, Alfred Hitchcock seria WILLIAM FUCKING SHAKESPEARE.
Pode ser clichê ser laudatório com Hitchcock, mas essa é SEMPRE a minha conclusão ao terminar qualquer filme dele.
Tarantino, Coppola e até Scorcese viram moscas perto dele.
Não existe e nunca vai existir um diretor com o mais absoluto controle da linguagem cinematográfica do que ele.
Não há similares a ele na Europa, na Ásia ou nos Estados Unidos. Como contador de histórias no cinema, ele é O REI DA PORRA TODA!
Com míseros 74 minutos (e não precisa mais nem menos que isso), Festim Diabólico (1948) não é um filme, é basicamente uma aula de excelência cinematográfica.
Nenhum movimento de câmera, nenhum close, nenhum plano detalhe e, especialmente, nenhum diálogo é desperdiçado. Não há demonstração barata de técnica ou firula e é experimental na medida certa.
Hitchcock é FODA por que ele é, na real, minimalista e simples - tudo que ele faz está a serviço da narrativa, não existe faltas ou sobras.
A história do filme, baseado em peça homônima de 1929 e escrita por Patrick Hamilton, absorve camadas literárias que vão de Dostoiévski (especialmente "Crime e Castigo"), Arthur Conan Doyle e Agatha Christie.
Brandon Shaw é um vilão encantador e desavergonhadamente nietzschiano - um dos melhores personagens do cinema.
Todo filme se passa em um único cenário e muitos ficaram impressionados por aparentar ser filmado em um única tomada (na verdade, isso é só impressão causada pelo uso de tomadas longas - cada tomada ocorre continuamente por até 10 minutos sem interrupção).
Enfim, assistam. Tá liberado jogar confete em Hitchcock.
Joana D'Arc
3.5 27 Assista AgoraExiste certa mania de taxar Joana d'Arc como uma camponesa lunática que o exército francês deu créditos pois já não havia mais esperanças e a empolgação dela era suficiente para renovar a motivação dos soldados.
As voltas que os céticos fazem para esconder o milagre dos registros históricos de uma camponesa religiosa de 19 anos, sem experiência militar alguma, que não queria lutar e matar ingleses (ela sempre deixou claro, a luta para ela era necessária - não desejável), vencer a batalha de Orleães, a batalha de Jargeau, a batalha de Meung-sur-Loire, a batalha em Beaugency e a batalha de Patay, só podem ser fruto de teimosia.
Joana D'Arc, ou melhor, Santa Joana D'Arc é, de todas as personagens históricas da França - a que mais me interessa e a que, pra mim, mais deve ter sua história contada e recontada.
E de todas as Joana D'Arcs que apareceram cinema, a de Ingrid Bergman, no filme de Victor Fleming de 1948, é a mais católica.
Não há sinal de lunatismo ou a tentativa patética de transformar ela em uma feminista avant la lettre.
Ela é a Joana D'Arc na exata e justa medida.
Ela demonstra fervor, mas não fanatismo.
Ela demonstra disposição para luta, mas não beligerância.
Ela demonstra estar disposta à clemência, mas não a rendição.
Ela demonstra estar disposta a paz, mas não fugir da guerra.
Como diria Chesterton:
"O verdadeiro soldado não combate porque odeia o que está na frente dele, mas porque ama o que está por trás dele."
Fora isso, o design de produção e a cenografia, fazem do filme de Victor Fleming, o mais pitoresco de todos.
As cenas de batalhas enchem os olhos.
Hamlet
4.2 79O filme mistura elementos cênicos típicos de teatro com uma linguagem cinematográfica bastante consciente.
É teatral, mas passa longe de ser um mero "teatro filmado". O filme utiliza a linguagem do cinema para reforçar elementos da história.
O uso constante de cross dissolve e sobreposições de imagens reforçam o caráter lúdico, lúgrube e fantasmagórico da história. Os travellings de câmera, passeando pelas escadarias e cômodos dos cenários, temperam tudo com certa vertigem e dão tudo ar de loucura.
Os cenários são grandiosos, tétricos, extremamente opressivos, claustrofóbicos e labirínticos - tal como a própria mente de Hamlet. Todo castelo de Kronborg parece estar contido dentro um calabouço, com poucos feixes de luz e muitas sombras (há muita influência do expressionismo alemão).
É adaptação de Hamlet definitiva para o cinema. Conseguiu ser reverente com Shakespeare, com o teatro e com o cinema ao mesmo tempo.
A atuação de Laurence Olivier está impecável.
Fogueira de Paixão
4.0 25Uma aula de roteiro e direção.
A história é um nó que vai habilmente se desfazendo minuto-a-minuto.
Embora Joan Crawford seja indiscutivelmente a estrela desse filme, o diretor Curtis Bernhardt e os roteiristas Ranald MacDougall e Silvia Richards conseguem, com grande perícia, fazer uma uma exposição didática da psicose catatônica.
Há um excelente uso de câmera subjetiva e ótimos momentos onde nos questionamos se que estamos vendo no filme é uma alucinação ou algo que aconteceu de fato (não há truques de edição que pontuem quando ocorre as alucinações da personagem principal). Nada mais fiel do que a representação de um delírio na visão de um psicótico como um espelho indistinguível da realidade.
Até a Vista, Querida
3.7 22 Assista AgoraConfesso que, lá pela metade do filme, me perdi um pouco na história. Talvez eu revisite-o com mais atenção.
No entanto, consegui me divertir apenas pelo estilo pândego do personagem Philip Marlowe.
O cinema noir é uma pérola da cultura pop americana. Amo perdidamente todos os seus esteriótipos: os cenários claustrofóbicos e repletos de objetos, o acentuado contraste claro-escuro, o jogo de luz e sombra, a onipresente fumaça, o estilo elegante das roupas, os planos semi-cartunescos, as mulheres e as atuações canastronas.
Asako I & II
3.5 28Embora o diretor inegavelmente possui destreza técnica e o tema da memória e do trauma na vida amorosa dê muita margem para um trabalho interessante, o roteiro é comicamente ruim.
Não vou dar muitos detalhes sobre o que acontece no filme, mas as decisões de Asako, a partir de certo momento, são tão implausíveis e inverossímeis que a sua impulsividade, longe de refletir uma compreensível confusão da personagem, só refletem a pressa do diretor em terminar o filme a qualquer custo - nem que custe demolir as próprias premissas: o que antes era um filme sobre memória e amor, se transforma numa jornada patética de auto-humilhação em busca de uma redenção não-convincente.
Se você busca um filme sobre a intricada relação da memória com os relacionamentos amorosos, indico "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" de Michel Gondry.
O Parque
2.7 7Meu Deus, esse filme é CONSTRANGEDORAMENTE ruim. Antes o diretor se limitasse à pequena fugacidade do amor adolescente nos primeiros minutos de filme do que tentar alçar vôos mais audaciosos.
A sequência surrealista do filme me fez mais soltar risos involuntários e ficar com vergonha alheia do que um chamado à reflexão de qualquer tipo.
O filme não oferece nada além de evidenciar a infinita capacidade do cinema independente em oferecer lixo com verniz intelectual.
A Cova da Serpente
4.1 41O tratamento didático e expositivo que o filme dá para o tema psicanalítico em questão não é, nem de longe, um defeito.É extremamente adequado ao que foi proposto - trazer ao grande público a questão dos traumas e fazer uma espécie de denúncia ao tratamento manicomial.
Achei a atuação de Olivia de Havilland regular. A tensão, em mim, foi criada muito mais nas montagens do que no desempenho dos atores.
De resto, a canção no final do filme é um dos momentos mais belos do filme.
Lições da Escuridão
4.3 13Werner Herzog subverte tudo aquilo que entendemos ser a característica de um documentário.
Ao invés de entrevistas, óperas de Wagner emoldurando imagens que são terríveis e belíssimas ao mesmo tempo (o terrível-belo, geralmente da natureza, é a impressão digital do diretor).
Ao invés de uma explicação cheia de didatismo e tom acadêmico-professoral, uma narração que vai da ficção-científica "dieselpunk" à escatologia bíblica.
Resumindo: Herzog extraiu do desastre dos campos petrolíferos do Kuwait muito mais do que um sentimentalismo ambientalóide - mas uma verdadeira obra de arte.
COMO EU AMO ESSE CARA!
Godzilla: Planeta dos Monstros
3.1 61 Assista Agora20% do filme vemos o Godzilla, 80% são gente falando sobre o Godzilla e como derrotá-lo.
Em suma: filme chato.
A tentativa de soar como um hard sci-fi é válida apenas quando você consegue aparentar ser minimamente plausível - e plausibilidade e Godzilla são como água e óleo.
Além de deixar o filme tediosamente longo demais com explicações que não interessam a ninguém, essas próprias explicações não convencem.
O problema de todo filme em tentar parecer mais inteligente do que é causa isso: deixar tudo nebuloso e mal-explicado.
Seria muito melhor se eles fizessem um filme "mais burrinho" e trabalhar mais nossa adrenalina e/ou tensão emocional.
Os pontos fortes são os já mencionados aqui.
As animações são bonitas, mas nem tanto. Odeio essa tendência japonesa em deixar os soldados e líderes de maior destaque com aspecto de adolescente imberbe.
Outra coisa que me incomodou foi o próprio Godzilla, que mais parece uma montanha com olhos que solta raio pela boca. Não digo montanha pelo porte da besta, mas pela sua irritante imobilidade.
Considerando o primeiro, dispenso respeitosamente o segundo.
Cobra Verde
3.8 20O filme é excelente. Apesar de Klaus Kinski, com cabelos loiros, olhos vítreos e queixo angular, não convencer como brasileiro (o que gera algumas estranhezas muito patentes para quem é brasileiro de verdade - tipo eu), seu personagem, Francisco Manoel da Silva é excelente.
A história é interessante e não há um pingo das já manjadas politizações e falsificações históricas que povoam filmes que tocam no tema da escravidão. É apenas uma fantasia "Corto-Malteseiana" descompromissada, ou a fotografia do espírito do homem branco numa terra estranha.
Não sei se é por influência do ator, mas ele parece bastante com Aguirre - tanto pela sua engenhosidade e astúcia, quanto por certo indiferentismo moral - fora o seu apreço pela aventura e pela conquista: tipicamente notória do europeu de séculos passados.
Diferente de muitos, não achei o filme cansativo. Pelo contrário. Achei ele até curto. Tanto as paisagens africanas quanto brasileiras me deixaram com os olhos fixos na tela. O Brasil é um pais gigantesco e infelizmente, quando vejo as suas paisagens, me sinto estrangeiro na minha própria terra.