Ao saudoso Sr. Alexandre Moura (Seu Alexandre) do Cine Art-Palácio - década de 1930. Muito obrigado pelo seu trabalho e dedicação no cinema tradicional de Recife, localizado na rua da Palma no centro da cidade.
Sexo, violência e vingança, são alguns dos temas abordados nos filme de Gaspar Noé. Com uma filmografia repleta de longas controversos e polêmicos, o diretor traz aqui uma de sua obras audiovisuais mais profundas e incômodas. Contando sua história de forma dinâmica, com fluídos movimentos de câmera (que acaba se tornando um personagem) aliados a inúmeros planos sequência, Noé apresenta e vai contornando seus atores, mantendo o constante interesse do telespectador. A câmera não para, e vai escolhendo aleatoriamente cada personagem se atentando a tudo o que acontece na festa, com cada cena terminando no exato tempo para o início da outra. Violento, incômodo e visceral, Clímax não deixa o público descansar nem por um segundo, onde acompanhamos atos completamente descontrolados de seus personagens.
Sendo responsável pelo roteiro, edição e montagem, Gaspar Noé sempre consegue exprimir, em todos os seus filmes, o lado mais repugnante e odioso do ser humano e quando a droga começa a fazer efeito nos personagens, somos guiados por um caminho desesperador e sufocante, que o diretor cria com maestria e de forma caótica, chocante e violenta. O forte uso da iluminação vermelha, misturados ao azul e verde, cria uma sensação de que tivéssemos usando drogas, assim como os personagens.
Curiosamente, o único nome conhecido no elenco é de Sofia Boutella, que interpreta Selva, sendo o restante todos dançarinos de bares e danceterias francesas, o que passa uma maior veracidade ao que está ocorrendo. Em pouco tempo e com muita improvisação, o elenco consegue fazer com que o público entenda a razão e motivações animalescas de cada um, provocada pela droga. O ritmo do filme é enérgico, guiado pela trilha sonora eletrônica que contribui com as sensações que o diretor quer transmitir.
Com uma inspirada direção, Clímax é uma angustiante e perturbadora descida ao inferno. É provocativo, violento, eletrizante e feito para poucos mas que mostra, com perfeição, que caos e desordem podem viver em harmonia.
Nesta trama o trabalho visual do fotógrafo Sven Nykvist foi essencial para a construção dos sentimentos, tanto na perfeita iluminação realizada com poucos recursos, quanto na angulação e formas de capturar elipses de lugar e tempo, recurso da direção aplicado pela fotografia e pela montagem (uma das mais complicadas para Bergman e Ulla Ryghe) e que pode confundir ou enraivecer alguns espectadores. Trata-se de algo que eu particularmente não gosto, por achar que atrapalha um pouco o filme, mas devo reconhecer que faz sentido para aquilo que o roteiro nos quer mostrar.
Observem que em momentos onde passamos de uma cena ou sequência para outra (a estrutura formal da obra é a de uma peça de teatro), pode haver uma mudança total das condições da atmosfera ou da posição da personagem de Karin no cenário. Isto só acontece nos blocos onde ela faz parte. Pode parecer estranho, mas ao lembrarmos que o filme é sobre alguém com distúrbio mental, a noção de tempo está completamente alterada para esta pessoa (a excelente cena da barca, entre David e Martin, vira noite quando passamos para Karin e Minus voltando com o leite. A saída de Karin da praia em direção à casa, de repente, faz com que ela esteja em um barco abandonado na costa; e assim por diante…). Ou seja, as bagunças na percepção espaço-temporal têm sentido porque são o ponto de vista de Karin, que não mede esse passar do tempo como nós. Faz sentido no filme, mas a meu ver, depõe contra o encadeamento das cenas.
A conversa final entre Minus e o pai dá conta de um aprendizado traumático que rapidamente é floreado pelo inconsciente do jovem. Ele diz “A realidade se revelou e eu desmoronei. É como um sonho. Qualquer coisa pode acontecer. Qualquer coisa“. e o pai tenta aplacar a dor do filho, assim como faz a si mesmo, falando da manifestação de um Deus até então ausente. Ele pode estar no amor, por quê não? Lembram-se da passagem bíblica da qual o título do filme foi tirado? Ela está em I Coríntios 13:12. Sabem, porém, o que diz no versículo 1 deste mesmo capítulo? Isto aqui: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.“
A revelação é sugerida e Minus, talvez por inocência ou emoção demasiada, diz que o papai (biológico ou divino?) falou com ele. Esse mesmo pai se afasta, deixando o rapaz com olhos arregalados, sorriso no rosto, o sol no horizonte e o movimento Sarabande da Suíte para Violoncelo nº2 em Ré Menor, de Bach, fechando as cortinas daquele último ato. Karin já havia mergulhado em seu espelho. Martin estava mergulhado em Karin. David estava mergulhado em seu próprio ego artístico e Minus… bem, Minus parece ter encontrado dois pais para se espelhar, um na Terra e outro em algum lugar onde o amor estiver. Se havia algum grande desejo do garoto, ele foi realizado naquela conversa e a forma como o roteiro é encerrado deixa Minus como um fio de possibilidade aberta para que Deus, amor, esperança, felicidade existam do outro lado. Algo que só se pode ver através de um espelho.
Gary Oldman no seu primeiro filme como protagonista. Aqui ele comanda o personagem ao bel prazer e mesmo novato, conseguiu adquirir a experiência adequada para tal, de maneira surpreendente impressionando anos mais tarde em papeis versáteis e difíceis durante sua carreira. Alex Cox conduz bem as cenas que se passam durante os shows, bem fiéis as de arquivo e todo o alvoroço dos jovens, mostrado ali bem fielmente. Cox consegue nos mergulhar na vida de Sid com eficiência de um cineasta fã, que sabe o que está fazendo, só caindo em tentação na sequência final que se tornou um pouco cansativa pelas brigas excessivas do casal, felizmente, mantendo seu ritmo frenético sem comprometer a eficiência da narrativa.
Sid e Nancy é um bom relato não só do auge da banda Sex Pistols, mas um bom tributo ao famigerado louco de pedra, Sid Vicious, que hoje é admirado por uma legião de fãs tão loucos quanto. A própria atuação de Oldman foi elogiada pelo vocalista da Banda em sua biografia originial e está entre as melhores atuações de todos os tempos, considerado pelo critico Roger Ebert: "O melhor ator britânico de sua geração". Não importa se você é fã ou não, mas conferir esse filme com a galera, é uma boa pedida no fim de semana após uma resenha ou o ensaio com a banda de Rock (risos).
Cruella conseguiu me surpreender com atuações boas e referências a animação mesmo que nunca tenha visto, sabia pelo menos o básico da personagem e acabei pegando algumas delas, o filme consegue ao mesmo tempo inovar e se manter coerente e até mesmo fiel com a história da personagem. Cruella é o melhor live action dessa nova onda do estúdio, estando muito acima dos demais.
Nesta trama há uma fantasmagoria que percorre a narrativa, onde os corpos circulam, passeiam, em movimentos marcados, duros, como as representações inertes de figuras-imagens que estão não-mais-ali (como as estátuas de que fala Domenico). É o gesto da pesquisa, da arqueologia (a busca pelo passado) que vai desencadear, nesse labirinto, a possibilidade de alguma ruptura, de algum sentimento de recomeço intuído, mas nunca enxergado. É a partir do encontro do taciturno professor (em sua busca pelas memórias de um compositor russo obscuro) com o misterioso Domenico (funcionário da casa-de-banhos) que o filme se conjuga em direção a uma trágica e incontornável alegria. Incontornável como a promessa de atravessar a piscina levando nas mãos a pequena vela acesa...Como se todo o filme, todo o perambular da câmera parecesse nos levar, hipnotizar (em um mantra) em direção às duas seqüências finais: a da morte-suicídio de Domenico em meio à cidade de Roma (a imagem-clichê da cultura ocidental) e a do atravessar da piscina com a vela nas mãos. A articulação entre essas duas seqüências funciona como o desaguar de todos os minutos anteriores do filme.
Primeiro, o momento trágico em que Domenico põe fogo no próprio corpo (diante de uma multidão de estátuas, de mármore e de carne) e ouvimos a Ode à Alegria de Beethoven (numa trilha sonora diegética/não-diegética em que não vemos a fonte da música, embora percebamos que ela está sendo reproduzida "dentro do filme", por um aparelho precário), seguida do grito seco do homem que sente seu corpo tomado pelas chamas. Em seguida, segundo momento, vemos as mãos do professor tentando acender o pequeno pavio de um pedaço de vela. Diante de uma piscina de águas termais, agora vazia, tem início uma das cenas mais antológicas de toda a filmografia de Tarkovski: num único plano-seqüência, acompanhamos o professor levar (entre as palmas das mãos) a chama frágil da vela, indo de um lado ao outro da piscina. Apesar de todo cuidado e concentração do professor, a umidade do ambiente é muito grande e a vela insiste em se apagar. Mas o professor continua sua tentativa, reacendendo a vela, e repetindo o trajeto desde o início. A mesma força destrutiva do fogo agora aparece naquela pequena e frágil chama, tão suscetível a se apagar a qualquer momento, a qualquer movimento brusco. É a insistência, a resistência – um sentido primordial de promessa e da vontade – que fazem com que o professor perpetue sua tentativa... até conseguir.
Esse pequeno ritual, simples, aparece no filme como a imagem-limite, como o gesto de reencontro final do personagem com toda a densidade e o peso de suas lembranças (e daquilo que, em seu corpo, se torna inexprimível). A umidade do ambiente, a batalha entre o fogo e a água (que cria o vapor denso das piscinas termais e que o impede de enxergar mais adiante). Em off, o professor só consegue grunhir, como se tivesse se ultrapassado, enquanto vemos a vela já posta do outro lado da piscina. Final do percurso, do ritual, do calvário – restam as reticências de uma imagem preto-e-branco onde o professor finalmente se deita "por dentro" de seu passado, ao lado de um velho cão, e fita o céu distante agora refletido no chão, numa poça d`água. Tarkovski finda assim essa pequena obra-prima de cinema-posado e de poesia gráfica; apostando em imagens que são antes de tudo sintomas pulsantes, tensões da forma e dos sons, numa vivacidade que se não está localizada em cada um de seus personagens-estátuas, parece percorrer o filme como uma espécie de energia não-localizável, intuída, tão frágil, tão poderosa e tão passageira quanto a chama que queima (que tanto pode atravessar os corpos quanto desaparecer em um leve bufar de vento) e que alguns chamariam de "fé". Não uma "fé" resumida neste ou naquele estatuto, mas uma "fé" primordial, talvez, na própria sobrevida do cinema para além de tudo o que se possa alcançar, que se possa conter nas imagens. Nostalgia, mais do que um retorno ao passado, é esse desejo, sem-solo, de se tocar, de se contagiar (e contagiar o espectador) com um sentido indecifrável de eternidade. E esse é o grande êxito do filme, e de Tarkovski.
Cada nuance, cada olhar, cada voz, até a maneira de respirar, foi pensada para dar vida independente a cada uma delas. Em algumas cenas, é assustador saber diferenciar as identidades se modificando ali na sua frente, somente por um gesto ou um suspiro do ator. Algo magnífco!
É muito dificil falar de “Fragmentado” sem comprometer o intenso e gratificante prazer de descobri-lo pouco a pouco ao assisti-lo. Se existe alguma dúvida de que Shyamalan voltou a sua melhor forma, “Fragmentado” já basta. Porém a emoção recai mesmo, mais uma vez, naquilo em que o diretor se apegou em toda a sua carreira e que nunca abandonou: a busca incessante pela humanidade de seus personagens. Sejam eles monstros, fantasmas ou super-heróis do mundo real.
Embora seja um dos trabalhos mais acessíveis e coerentes narrativamente do diretor, é inegável a inventividade e originalidade que Jodorowsky narra seu filme, sem falar nos simbolismos, nas metáforas e no surrealismo, características habituais do diretor, que estão em evidência durante a história. E não falta também a galeria de figuras estranhas pontuando o filme, como por exemplo uma imensa lutadora de Luta-Livre, uma mímica surda e muda por quem Fenix é apaixonado, anões, elefantes, o mundo circense em todo seu esplendor, muito bem envolvidos à ação.
SANTA SANGRE é essencialmente visual, e são poucos os filmes que transcendem sobre o nosso cérebro com suas imagens transformando em verdadeiras experiências sensoriais. E Jodorowsky é um artista com esta capacidade, há pelo menos mais duas obras primas (EL TOPO e A MONTANHA SAGRADA) em que ele consegue este mesmo efeito hipnótico sobre o espectador. Por isso é um diretor tão único, tão verdadeiro, tão sem espaço no cinema que é feito atualmente.
Certa vez conheci uma garota nesta mesma pegada. Éramos incríveis! Tudo funcionava. (Parecia até coisa do universo). Mas por causa de um mal-entendido nos separamos. No entanto, mesmo distante desejo ao máximo o sucesso dela.
Em uma narrativa não tradicional, a história prioriza ser contada por imagem e som, como alusão à fluidez da vida, do fluxo de pensamento humano e do comportamento das personagens Ferdinand (Jean-Paul Belmondo) e Marianne (Anna Karina). É como se Joyce e Woolf contribuíssem com seus célebres fluxos de consciência. O cinema aqui é forma e conteúdo como aliados e não excludentes. Percorrendo por todos os elementos da linguagem cinematográfica, a história contada é de Ferdinand (Pierrot, como o chama sua parceira) e Marianne. Ele reencontra a moça, uma antiga amiga e amante, e embriagado com sua juventude persuasiva, escolhe partir. Em meio à sociedade parisiense fútil e careta que tanto os sufoca, os dois decidem se aventurar pelos caminhos do Mediterrâneo. Marianne é a chave da aventura, é o faz-acontecer do filme. Sem sua parceira, Ferdinand talvez não se encorajaria na busca pela subversão. Também não seria Pierrot, o louco. Sempre transitando, os dois se envolvem em crimes à medida em que se envolvem entre si, criando uma complexa ligação de amantes e cúmplices, ora em harmonia, ora em conflito. Porém, para além da jornada do casal, Pierrot le Fou é uma jornada estética. Mais relevantes que os acontecimentos dos dois viajantes, suas visões artísticas, sentimentais e políticas sobre a vida — dadas pelo texto propriamente dito e pela câmera de Godard — são a essência do filme.
A obra consegue falar pela estética, provando que forma também acolhe temática — até a vida, a maior delas. Aqui se fala de arte, política, amor, loucura e morte pelos textos: o falado, o imagético, o sonoro. A dureza das futilidades ditas na cena da festa, ainda em Paris, é presente tanto nos diálogos quanto nas cores e na posição dos atores, como também no caminhar de Ferdinand entre os ambientes: passar por vermelhos, amarelos, verdes e azuis de nada adianta se o que dizem e fazem é o mesmo. A mise-en-scène, como o “pensamento que toma forma/forma que pensa” do próprio Godard, neste momento se faz pela cíclica e pouca movimentação de elementos, que se traduz em tédio em quem ali está alheio: Ferdinand e o espectador. Os festeiros não se deslocam, ainda que a eles se sobreponham cores, a chateação permanece. Era mesmo preciso tomar o movimento para si e se deslocar com Marianne. O incômodo estético é sinônimo ao incômodo político, enfim. E assim se constrói o manifesto do diretor: uma estética política, que não se perde por também fazer pensar.
Está película de Eastwood não é veículo para lições de moral simplistas. Quanto mais conhecemos sobre os personagens, mais nuances descobrimos sobre eles, menos claros e unidimensionais eles se tornam. Cada camada revelada leva o espectador a novas possibilidades, identificações ou mesmo repulsa com relação ao trio. Tudo muito verdadeiro, cru e forte. Em especial a presença da morte e suas conseqüência diante daqueles que amam alguém que se foi recentemente. Inclusive a fé, em um plano mais sutil, porém onipresente em atitudes, cenários e até mesmo no corpo de um dos personagens, permeia de significado as atitudes de todos.
Atitudes que demonstram o quão apavorante pode ser, não a vida real, mas nós mesmos. Que por trás de camadas e camadas de regras e aparências sociais, escondemos nossos demônios. Saem-se melhor aqueles que sabem lidar com isso, perdem aqueles que preservam sua inocência.
Claro, nem tudo é perfeito na condução do filme. Há momentos nos quais tudo parece tender a degringolar pelo óbvio. Sim, não é impossível desvendar o desfecho da trama. Mas nem isso anula (embora abale um pouco) o impacto do que fora construído na primeira metade do filme. Se há previsibilidade em certos desenrolares, ela acaba servindo para, de certa maneira, reforçar a impotência diante da inevitabilidade.
Se você quer diversão descererebrada, passe longe. Mas se quiser sair incomodado, descubra o que há Sobre meninos e lobos. Afinal, cinema não é meramente entretenimento.
É interessante pensar que Kevin desenvolveu sérios problemas psicológicos e psiquiátricos, mas a única pessoa que chegou perto de perceber isso foi sua mãe. Com a chegada de uma irmãzinha, o distúrbio de Kevin piora. Me questionei sobre os sentimentos de Kevin pela menina, se a crueldade é apenas uma imagem criada para chamar atenção, ou se aquele personagem é incapaz de ter carinho por alguém. Mas em certos momentos, é possível acreditar que Kevin tenha adquirido algum sentimento bom pela garota. É difícil discutir a natureza de um personagem tão complexo como Kevin.
Miller incorporou o personagem com todas as suas forças. Não consigo pensar em um melhor ator para interpretá-lo. Ele o captou com frieza e deu o toque certo de crueldade e desprezo que definem Kevin. Um garoto com problemas, que precisava de algum tratamento médico. Swinton também acertou na interpretação de Eva. O desespero da personagem, a tristeza que define a sua vida atual, mãe de um filho problemático, mãe do causador de uma tragédia que abalou muitas pessoas. É possível sentir a culpa de Eva, que, aos seus próprios olhos, torna-se merecedora de punições. E apesar de tudo, Eva continua tentando entender a mente de seu filho, sem julgá-lo ou odiá-lo.
É uma trama forte e perturbadora, e não economiza em cenas chocantes. E acredito que esse seja o propósito do filme, deixar o espectador assustado e demonstrar o pesadelo que vive aquela mulher. Até porque, o filme é contado a partir das experiências da mãe. Se pudéssemos ver o filme a partir dos pensamentos de Kevin, seria totalmente diferente. Portanto, esteja preparado para se surpreender! O filme nos traz grandes reflexões que podem gerar horas de discussão.
Ótimo enredo, inteligente, misterioso e muito engraçado. Os atores estão empenhados num entrosamento incrível dentro da trama. Um filme delicioso de ver! Boa comédia misturada com um bom suspense. Sem contar os finais alternativos que são ótimos.
P.s.: uma sátira sobre os filmes de suspense e romance policial, e seus finais óbvios, onde 'o mordomo é sempre o culpado', ou então onde o autor da tantas voltas com a estória com o intuito de prender a atenção do público que não sabe como terminar sem se perder no final.
Tem uma premissa simples, mas uma execução complexa: em apenas uma linha do tempo, duas perspectivas da mesma narrativa são apresentadas de forma sutil.
O suspense segue uma proposta de reviravoltas: ora o espectador acredita na versão que a clínica está, de fato, ocultando a família Monroe, ora começa a desconfiar da loucura do homem. Ele acredita que os funcionários públicos formam uma rede de sequestradores que vendem órgãos para o mercado negro.
A intenção é, simultaneamente, confundir e ajudar, convidando o espectador a criar teorias para tentar desvendar o mistério em conjunto com o protagonista. Porém, tal escolha pode tirar a graça daqueles que captarem o mistério nos primeiros minutos. Com base na paranoia, alucinação, teoria da conspiração e até trazendo um pouco de crítica social, “Fratura” propõe um bom jogo de perspectivas como entretenimento.
Um filme com ritmo cadenciado e um clima de desconfiança intenso, mas não há correrias. Com uma pegada Teen considerando (claro!) que há um jovem como herói (Shia LaBeouf), uma garota como objeto de desejo, um amigo leal e os demais estereótipos. O roteiro não consegue fugir das armadilhas óbvias, tanto que sua meia hora final é digna de um filme do Supercine.
Contudo, não colabora para transformar Paranóia num programa imperdível, pelo menos é um esquecível passatempo, a notar a seqüência do acidente automobilístico, bem conduzida.
Depois de acompanhar com atenção as situações cômicas bem desenvolvidas, o crescimento da tensão sexual dos adolescente e o envolvente suspense, vem a surpresa final, um desfecho decepcionante.
Um filme bobinho pra assistir num dia qualquer. Boa sorte!
Me cativou pela ingenuidade em um enredo um pouco confuso e cheio de mensagens de diferentes tipos que não tinha um foco central. Ainda assim foi bom ver sua trajetória.
O final foi conveniente de maneira mal trabalhada, mas suportável. Guardar uma consciência em um pen-drive sem realmente transferi-la, seria apenas uma cópia com a mesma frequência e memória daquela pessoa, não ela realmente. E fazer uma descoberta grandiosa como saber calcular a consciência de maneira tão casual, não traz a importância que isso deveria para o resultado final do filme Chappie.
O visual do filme é limpo com o objetivo da cena, com detalhes sutis que complementam o cenário. Uma parte é ambientada na zona pobre, com o lixões em volta e dialeto usado cheio de gírias próprias, enquanto a outra parte é a empresa fabricante dos robôs policiais, que além de ter tonalidades mais neutras é duramente mais sofisticada em comparação ao outro lado da cidade.
As críticas sociais poderiam ter sido bem mais aproveitadas, entretanto o que houve foi um foco maior no lado sentimental, sem realmente se aprofundar no desenvolvimento emocional dos personagens. Em resumo: Um estereótipo imperfeito de relacionamento familiar.
Chappie é um filme que tem seus momentos de comédia, e sem uma história muito trabalhada, contudo consegue fazer com que tenhamos simpatia pelos personagens e nos divertir em alguns momentos.
Réquiem para um Sonho é a síntese do cinema de Aronofsky: um filme de imagens pesadas e desafiadoras, clima atordoante e um efeito entorpecente que se agarra ao espectador por um bom tempo após o término da projeção. É um filme que nos deixa, quase que literalmente, exaustos.
De narrativa picotada, repleta de cortes e tomadas, clima de pesadelo e atuações carregadas de angústia, Réquiem para um Sonho é expansão tanto do estilo nada convencional de Aronofsky quanto do próprio tema, uma vez que os efeitos das drogas sobre o ser humano já havia sido dissecado com bastante competência em filmes como Trainspotting – Sem Limites e Diário de um Adolescente – mas ao contrário destes exemplos, Aronofsky nos faz experimentar, quase que de forma intima, os delírios dos personagens e sua inevitável descida à loucura.
Percebe-se que Aronofsky disseca não apenas o vício pelas drogas, mas todo e qualquer apego irracional que tornam as pessoas seres completamente dependentes daquilo, permitindo que se tornem figuras inertes, entregues à solidão e ao apego da vida moderna. Com coragem e ousadia, Aronofsky acompanha esta degradação de maneira arriscada e condenável para alguns (os inúmeros recursos estilísticos, sem dúvidas, irão incomodar os mais sensíveis), mas que atinge seu objetivo com êxito, e ao final, resta apara o espectador ter que lidar com a sensação de exaustão e as imagens fortes concebidas pelo diretor.
Os diretores trabalharam sim muito bem o roteiro, porém pecam em alguns pontos. Um deles é a falta de ritmo da narrativa, que torna ela lenta e cansativa em alguns pontos, outro é a falta de aprofundamento nas motivações individuais de cada personagem. Ainda sim, é um ótimo longa.
Em A Casa, temos um foco muito específico no protagonista e em seu objeto de desejo: sua nova família. Mais especificamente, no homem do qual ele quer roubar esta família. Os atores são Javier Gutiérrez e Mario Casas, respectivamente. Ambos desempenham uma atuação muito boa, é possível saber, mesmo não verbalmente, o que cada um está sentindo e até pensando, mas sem perder o fator mistério. Porém, ainda há o problema comentado anteriormente, da falta de aprofundamento nos personagens.
Um ponto legal de se observar é a forma como o personagem de Mario Casas e sua família são, na maioria das vezes, enquadrados de forma a parecer que estamos espionando-os. Isso serve muito bem à narrativa por trazer a ideia de que o nosso olhar é o mesmo de Javier.
Além disso, a fotografia conta com uma paleta de cores bem fria e sem graça na maioria das cenas, ajudando a torná-las desinteressantes, como a vida atual de Javier. Porém, em alguns momentos, mostra-se quente e aconchegante, como quando mostra a família de Tomás, o que mostra como aquela ideia de família ideal é reconfortante para o nosso protagonista.
Por fim, um aspecto que não precisa de muita análise é a questão cenográfica como um todo, assim como os figurinos. Eles não revelam muito, nem acrescentam na trama. Ah não ser pela utilização do contraste dos elementos de figurino e cenário entre família de baixa renda e da família de alta renda.
O filme retrata a tecnologia de maneira muito sutil, a partir das denuncias do jovem advogados e das investigações do FBI que se comunica com outros departamentos de maneira sigilosa na tentativa de desmantelar a máfia e descobrir de que forma eles fazem a lavagem de dinheiro.
De um lado a tecnologia nos proporciona recursos cada vez melhores mas, existem pessoas que se aproveitam dela, para tirar proveito de situações como é o caso do filme que faz lavagem de dinheiro por meios de canais tecnológicos, achando que iam ficar impunes.
Hoje, qualquer um de nós tem acessos a extratos bancários, podemos fazer transferência de dinheiro sem sair de casa, pagar contas, imaginem os que os mafiosos podem fazer apertando apenas alguns botões no computador da firma ou de um Banco qualquer?
É um filme ótimo que apresenta questões marcantes, com realismo, o problema social que atingem todos os povos.
É realmente triste, mas todos, de uma forma ou de outra, já vivenciamos situações semelhantes. Dentre as questões marcantes, destaca-se a ambição de Mitche MaDeere (Tom Cruise) um advogado recém formado incorruptível .
Esse traço o levou a rejeitar várias propostas de trabalho, pois as mesmas não satisfaziam seu ego. Finalmente, um dia recebeu uma proposta milionária para trabalhar em um obscuro escritório em Memphis.
Diante dessa perspectiva de ganhar muito dinheiro – era o seu objetivo - Mitche aceita o trabalho, sem avaliá-lo em sua extensão. Para ser bem recebido negou a existência de um irmão presidiário, temendo denegrir sua imagem. O filme questiona o código de ética, que mantêm em sigilo da relação do advogado com seu cliente.
Aos poucos descobre que seus clientes estão envolvidos na maior tramóia e a empresa onde trabalha também está envolvida com lavagem de dinheiro da máfia e todos advogados que tentaram sair foram mortos. Essa trama traduz as consequências trágicas dos interesses excusos, sobretudo de “gosto” pela riqueza
É lamentável, mas fatos como esse acontecem sempre no nosso dia a dia. Nos tempos atuais é natural ver o individualismo, o egoísmo e a corrupção. É preciso ser o que verdadeiramente somos, sem atrapalhar ninguém. Para se construir um mundo de justiça, amor, igualdade e fé, é preciso antes de tudo ter consciência disso e vivê-la com autenticidade, sem pisotearmos uns aos outros, numa corrida desenfreada ao ter e poder.
Tudo é consequência, a lei do retorno. Muitos se enganam ao pensar que o dinheiro é o centro de tudo, e passam a vida atrás do mesmo, sacrificando até os sentimentos mais nobres. Quando a ilusão passa, as pessoas se dão conta de que o caminho de volta é mais complicado e que não é fácil romper com a glória, e então surge a depressão e os amigos desaparecem. É preciso recomeçar.
O mais importante entretanto, está em conduzir a uma reflexão crítica sobre valores profissionais, sociais, revelando as frustrações profundas na vida daquele que ignoram seus sentimentos e valores pessoais, se deixaram controlar pela ambição financeira até um ponto que parecia sem retorno.
É fundamental na vida humana valorizar suas raízes, seu povo e sua terra natal. O fato de poder ir e vir de qualquer lugar sem precisar se esconder, ter liberdade.
A construção e o desenvolvimento são meio óbvios. Isso porque é muito fácil descobrir o evento que vai suceder o outro. Indo mais longe, só vendo o trailer é possível descobrir toda a história de tantas vezes que ela foi repetida, e essa é a grande crítica do filme: a originalidade. Os diálogos já são conhecidos, tanto as piadas, quanto as personalidades dos personagens, os antagonistas, etc.
Além disso, as atuações são extremamente simples, mas não são horríveis. Usando o exemplo do próprio Jamie Foxx, a atuação nesse filme nem se compara a dele em Django Livre (possivelmente devido a Tarantino, que sabe dirigir atores), mas não é uma atuação ruim, até porque ele não é um ator ruim.
A direção é bem simples e não possui lá muita personalidade. No entanto, ela é até legalzinha nas cenas de ação, como na cena em que Art está em segundo plano, matando muitas pessoas, e uma mulher (que eu não vou contar quem é e nem onde estava porque é spoiler) está congelando por causa da pílula. Entretanto, em grande parte das vezes, ela é podada pela montagem, que parece querer colocar o máximo de planos possíveis. Dessa forma, ela faz muitos cortes em apenas uma cena.
A fotografia, por sua vez, não parece ter nenhum compromisso em brincar com a luz, as sombras, as cores, etc.
A direção de arte é simples, e traz os cenários clássicos dos filmes de ação, como o navio cargueiro onde se passa a batalha final (outra coisa clássica em filmes de ação). Já nos figurinos, não há muito o que comentar, a não ser algumas referências, como o casaco que a Robin (Dominique Fishback) usa, que curiosamente possui as cores vermelho, verde e amarelo.
Um bom passa tempo pra assistir num momento qualquer.
Costumo elogiar a intensidade dos filmes coreanos que normalmente demonstram emoções de maneira tão real que, às vezes, acabam driblando aquela mágica cinematográfica chamada ficção, - tornando seus filmes uma espécie de conto da vida real. Isso acontece em quase todas as produções sul-coreanas e sem dúvida é um quesito difícil de copiar, para a tristeza dos hollywoodianos. Enquanto esses exageros estão baseados na tristeza ou no romantismo podemos experimentar sensações que aquecem o coração de alguma maneira, o mesmo não acontece nas produções como - I Saw The Devil -, o filme desperta agonia, desespero, aflição, nojo, dor etc.
Se quer mesmo embarcar nessa trama prepare-se para ver um filme de gráficos violentos que proporciona grande perturbação psicológica. Kyung-chul é um monstro e toda a produção faz jus a esse nome. Já Choi Min-sik incorpora seu personagem de uma maneira tão profunda que em muitos momentos parecem ser apenas um. Seguindo...
A perspectiva do Serial Killer é amplamente explorada neste filme, não somente por Kyung-chul, até mesmo Soo-hyeon em muitos momentos parece ter colocado pra fora seu monstro interior.
A carnificina é um dos pontos mais agoniantes desse filme, por muitas vezes 'perdi o ar' enquanto esquecia de respirar vendo tamanhas atrocidades e se você acha que eles amenizaram os acontecimentos, está redondamente enganado, tudo nesse filme é escrachado e não precisa se esforçar muito pra causar desconforto.
Realmente é impressionante a construção desse roteiro digno de um psicopata, a forma como os crimes são cometidos são tão marcantes que nos fazem sentir o medo que abraça às vítimas antes de morrer, PURO GORE!
Esse filme é horripilante, perturbador, repulsivo mas muito bem feito, o que acaba justificando sua popularidade e às críticas positivas que recebeu desde seu lançamento.
I Saw The Devil é um soco no estômago, uma produção que teve como foco causar mal-estar e foi muito bem sucedida nessa missão.
...é impossível assistí-lo e não sentir absolutamente nada encarando-o como apenas um mero entretenimento. Mas se você já assistiu o Martyrs, então, fica fácil!
Mas assim como na vida real, a trajetória de Ruben nos mostra o quão difícil é abrir mão do passado e daquilo que idealizamos para nós mesmos. Em momentos como esses do roteiro, de pura entrega e sentimentalismo, a atuação de Riz Ahmed cresce e se destaca, o colocando como um possível candidato nas próximas premiações.
Além dos diálogos, o trabalho de expressão corporal dos atores traz uma imagem poderosa para a produção. Todo o trabalho de atuação está concentrado na forma como o corpo se expressa, sem se esconder por trás da palavra falada e de grandes clichês que vemos em outros filmes. A direção de Darius Marder é importantíssima e muito bem conduzida nesse sentido.
Vale destacar também o ótimo trabalho de som que envolve a produção. A forma como Sound of Metal insere o espectador em uma condição que ele entenda como Ruben percebe o mundo a partir de sua perda de audição é muito efetiva, criando uma experiência ainda mais emotiva.
Outro ponto importante a se destacar é a inclusão e representatividade não só da história, mas do elenco. Além de toda a trama ser pautada em mostrar os percalços e descobertas de pessoas com deficiência auditiva e de fala.
A forma didática com a qual os fatos são explicados ao público percebe-se que é bastante proposital, para que fique tudo amarrado, visto que, os acontecimentos são absurdamente chocantes e, porque não dizer, reais. Realismo este que, o cinema coreano sabe proporcionar como nenhum outro. Raramente nos proporcionam finais felizes, mas mexem com nossas emoções de maneira ímpar.
As atuações são excelentes, as cenas de ação bem elaboradas e a fotografia e trilha sonora, ajudam a compor o clima de suspense dominante no filme, que, a partir da segunda metade do longa, vai dando espaço ao drama e, diga-se de passagem, que drama.
A construção – e desconstrução – dos personagens, é elaborada de maneira fascinante. Os protagonistas trocam de papéis em diversos momentos e, à medida que mergulhamos no passado de Jin-Seok e Yoo-Seok, compreendemos a complexidade dos atos de cada um e, principalmente, o que os levou a fazer o que fizeram.
Rastros de um Sequestro é um filme tenso e que mistura diversos gêneros do cinema, cheio de reviravoltas, mostrando que, mais uma vez, o cinema Coreano sabe fazer filmes como ninguém.
Sonhos fala muito sobre morte, mostrando as consequências dos maus hábitos humanos a longo prazo que degradam o meio ambiente, levando a extinção e mutação de espécies. O filme revela que o avanço na tecnologia leva à falta de sentido na vida e também como a rigidez da educação japonesa, se torna a principal responsável, pelas altas taxas de suicídio do Japão.
Muitas questões são discutidas através do simbolismo dos sonhos e os diálogos que neles ocorrem, nos fazendo refletir sobre: a importância de assumir as consequências dos nossos atos e erros, pedindo o perdão verdadeiro; a função do castigo e da hierarquia; os estragos do narcisismo e da vaidade do ser humano; e a crescente negação da natureza e aceitação da ciência.
A morte discutida no filme é uma realidade e não um sonho, como parece. A humanidade está perto desse fim. Apenas, quando estamos nos caminhando para a morte, que percebemos o quanto real ela é, bem distante da ilusão de um sonho. A essência do ser humano está sendo perdida e modificada junto à degradação da natureza.
Existem cenas lindas que parecem sonhos e cenas terrível que são pesadelos. Esses pesadelos nos servem como um alerta, pois falam sobre atitudes ruins que estamos levando, sendo bem próximas da nossa realidade. A vaidade do ser humano e seu comportamento inconsequente se tornam o principal responsável pelos efeitos da poluição e desmatamento ambiental, resultando na perda da diversidade da fauna e flora.
A audácia nos faz achar que não precisamos cuidar da natureza e que milagres ainda podem acontecer. Temos a falsa ilusão que a ciência tem o poder de resolver tudo, até coisas surgidas no começo do mundo, como se a ciência pudesse sempre inventar todas as soluções para nossos problemas. Os cientistas se acham espertos demais, mas estamos perdendo nosso mundo.
P.s.: Sonhos deve ser assistido quando você estiver bem tranquilo com boas energias, pois considero um filme sensível e subliminar, não adianta estar com pressa ou ansioso, que você não vai conseguir captar o sentidos dos oito sonhos.
Considerei os melhores contos, os quatro sonhos com as paisagens mais bonitas, os outros quatro são mais dramáticos e pesados. Vale a pena conferir essa sétima arte, as cenas são tão coloridas que parecem vivas na tela.
Retratos Fantasmas
4.2 225 Assista AgoraAo saudoso Sr. Alexandre Moura (Seu Alexandre) do Cine Art-Palácio - década de 1930. Muito obrigado pelo seu trabalho e dedicação no cinema tradicional de Recife, localizado na rua da Palma no centro da cidade.
Clímax
3.6 1,1K Assista AgoraSexo, violência e vingança, são alguns dos temas abordados nos filme de Gaspar Noé. Com uma filmografia repleta de longas controversos e polêmicos, o diretor traz aqui uma de sua obras audiovisuais mais profundas e incômodas. Contando sua história de forma dinâmica, com fluídos movimentos de câmera (que acaba se tornando um personagem) aliados a inúmeros planos sequência, Noé apresenta e vai contornando seus atores, mantendo o constante interesse do telespectador. A câmera não para, e vai escolhendo aleatoriamente cada personagem se atentando a tudo o que acontece na festa, com cada cena terminando no exato tempo para o início da outra. Violento, incômodo e visceral, Clímax não deixa o público descansar nem por um segundo, onde acompanhamos atos completamente descontrolados de seus personagens.
Sendo responsável pelo roteiro, edição e montagem, Gaspar Noé sempre consegue exprimir, em todos os seus filmes, o lado mais repugnante e odioso do ser humano e quando a droga começa a fazer efeito nos personagens, somos guiados por um caminho desesperador e sufocante, que o diretor cria com maestria e de forma caótica, chocante e violenta. O forte uso da iluminação vermelha, misturados ao azul e verde, cria uma sensação de que tivéssemos usando drogas, assim como os personagens.
Curiosamente, o único nome conhecido no elenco é de Sofia Boutella, que interpreta Selva, sendo o restante todos dançarinos de bares e danceterias francesas, o que passa uma maior veracidade ao que está ocorrendo. Em pouco tempo e com muita improvisação, o elenco consegue fazer com que o público entenda a razão e motivações animalescas de cada um, provocada pela droga. O ritmo do filme é enérgico, guiado pela trilha sonora eletrônica que contribui com as sensações que o diretor quer transmitir.
Com uma inspirada direção, Clímax é uma angustiante e perturbadora descida ao inferno. É provocativo, violento, eletrizante e feito para poucos mas que mostra, com perfeição, que caos e desordem podem viver em harmonia.
Através de um Espelho
4.3 249Nesta trama o trabalho visual do fotógrafo Sven Nykvist foi essencial para a construção dos sentimentos, tanto na perfeita iluminação realizada com poucos recursos, quanto na angulação e formas de capturar elipses de lugar e tempo, recurso da direção aplicado pela fotografia e pela montagem (uma das mais complicadas para Bergman e Ulla Ryghe) e que pode confundir ou enraivecer alguns espectadores. Trata-se de algo que eu particularmente não gosto, por achar que atrapalha um pouco o filme, mas devo reconhecer que faz sentido para aquilo que o roteiro nos quer mostrar.
Observem que em momentos onde passamos de uma cena ou sequência para outra (a estrutura formal da obra é a de uma peça de teatro), pode haver uma mudança total das condições da atmosfera ou da posição da personagem de Karin no cenário. Isto só acontece nos blocos onde ela faz parte. Pode parecer estranho, mas ao lembrarmos que o filme é sobre alguém com distúrbio mental, a noção de tempo está completamente alterada para esta pessoa (a excelente cena da barca, entre David e Martin, vira noite quando passamos para Karin e Minus voltando com o leite. A saída de Karin da praia em direção à casa, de repente, faz com que ela esteja em um barco abandonado na costa; e assim por diante…). Ou seja, as bagunças na percepção espaço-temporal têm sentido porque são o ponto de vista de Karin, que não mede esse passar do tempo como nós. Faz sentido no filme, mas a meu ver, depõe contra o encadeamento das cenas.
A conversa final entre Minus e o pai dá conta de um aprendizado traumático que rapidamente é floreado pelo inconsciente do jovem. Ele diz “A realidade se revelou e eu desmoronei. É como um sonho. Qualquer coisa pode acontecer. Qualquer coisa“. e o pai tenta aplacar a dor do filho, assim como faz a si mesmo, falando da manifestação de um Deus até então ausente. Ele pode estar no amor, por quê não? Lembram-se da passagem bíblica da qual o título do filme foi tirado? Ela está em I Coríntios 13:12. Sabem, porém, o que diz no versículo 1 deste mesmo capítulo? Isto aqui: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.“
A revelação é sugerida e Minus, talvez por inocência ou emoção demasiada, diz que o papai (biológico ou divino?) falou com ele. Esse mesmo pai se afasta, deixando o rapaz com olhos arregalados, sorriso no rosto, o sol no horizonte e o movimento Sarabande da Suíte para Violoncelo nº2 em Ré Menor, de Bach, fechando as cortinas daquele último ato. Karin já havia mergulhado em seu espelho. Martin estava mergulhado em Karin. David estava mergulhado em seu próprio ego artístico e Minus… bem, Minus parece ter encontrado dois pais para se espelhar, um na Terra e outro em algum lugar onde o amor estiver. Se havia algum grande desejo do garoto, ele foi realizado naquela conversa e a forma como o roteiro é encerrado deixa Minus como um fio de possibilidade aberta para que Deus, amor, esperança, felicidade existam do outro lado. Algo que só se pode ver através de um espelho.
Sid & Nancy: O Amor Mata
3.7 371 Assista AgoraGary Oldman no seu primeiro filme como protagonista. Aqui ele comanda o personagem ao bel prazer e mesmo novato, conseguiu adquirir a experiência adequada para tal, de maneira surpreendente impressionando anos mais tarde em papeis versáteis e difíceis durante sua carreira. Alex Cox conduz bem as cenas que se passam durante os shows, bem fiéis as de arquivo e todo o alvoroço dos jovens, mostrado ali bem fielmente. Cox consegue nos mergulhar na vida de Sid com eficiência de um cineasta fã, que sabe o que está fazendo, só caindo em tentação na sequência final que se tornou um pouco cansativa pelas brigas excessivas do casal, felizmente, mantendo seu ritmo frenético sem comprometer a eficiência da narrativa.
Sid e Nancy é um bom relato não só do auge da banda Sex Pistols, mas um bom tributo ao famigerado louco de pedra, Sid Vicious, que hoje é admirado por uma legião de fãs tão loucos quanto. A própria atuação de Oldman foi elogiada pelo vocalista da Banda em sua biografia originial e está entre as melhores atuações de todos os tempos, considerado pelo critico Roger Ebert: "O melhor ator britânico de sua geração". Não importa se você é fã ou não, mas conferir esse filme com a galera, é uma boa pedida no fim de semana após uma resenha ou o ensaio com a banda de Rock (risos).
P.s.: Trilha sonora foda! \,,/
Cruella
4.0 1,4K Assista AgoraCruella conseguiu me surpreender com atuações boas e referências a animação mesmo que nunca tenha visto, sabia pelo menos o básico da personagem e acabei pegando algumas delas, o filme consegue ao mesmo tempo inovar e se manter coerente e até mesmo fiel com a história da personagem. Cruella é o melhor live action dessa nova onda do estúdio, estando muito acima dos demais.
Nostalgia
4.3 185Nesta trama há uma fantasmagoria que percorre a narrativa, onde os corpos circulam, passeiam, em movimentos marcados, duros, como as representações inertes de figuras-imagens que estão não-mais-ali (como as estátuas de que fala Domenico). É o gesto da pesquisa, da arqueologia (a busca pelo passado) que vai desencadear, nesse labirinto, a possibilidade de alguma ruptura, de algum sentimento de recomeço intuído, mas nunca enxergado. É a partir do encontro do taciturno professor (em sua busca pelas memórias de um compositor russo obscuro) com o misterioso Domenico (funcionário da casa-de-banhos) que o filme se conjuga em direção a uma trágica e incontornável alegria. Incontornável como a promessa de atravessar a piscina levando nas mãos a pequena vela acesa...Como se todo o filme, todo o perambular da câmera parecesse nos levar, hipnotizar (em um mantra) em direção às duas seqüências finais: a da morte-suicídio de Domenico em meio à cidade de Roma (a imagem-clichê da cultura ocidental) e a do atravessar da piscina com a vela nas mãos. A articulação entre essas duas seqüências funciona como o desaguar de todos os minutos anteriores do filme.
Primeiro, o momento trágico em que Domenico põe fogo no próprio corpo (diante de uma multidão de estátuas, de mármore e de carne) e ouvimos a Ode à Alegria de Beethoven (numa trilha sonora diegética/não-diegética em que não vemos a fonte da música, embora percebamos que ela está sendo reproduzida "dentro do filme", por um aparelho precário), seguida do grito seco do homem que sente seu corpo tomado pelas chamas. Em seguida, segundo momento, vemos as mãos do professor tentando acender o pequeno pavio de um pedaço de vela. Diante de uma piscina de águas termais, agora vazia, tem início uma das cenas mais antológicas de toda a filmografia de Tarkovski: num único plano-seqüência, acompanhamos o professor levar (entre as palmas das mãos) a chama frágil da vela, indo de um lado ao outro da piscina. Apesar de todo cuidado e concentração do professor, a umidade do ambiente é muito grande e a vela insiste em se apagar. Mas o professor continua sua tentativa, reacendendo a vela, e repetindo o trajeto desde o início. A mesma força destrutiva do fogo agora aparece naquela pequena e frágil chama, tão suscetível a se apagar a qualquer momento, a qualquer movimento brusco. É a insistência, a resistência – um sentido primordial de promessa e da vontade – que fazem com que o professor perpetue sua tentativa... até conseguir.
Esse pequeno ritual, simples, aparece no filme como a imagem-limite, como o gesto de reencontro final do personagem com toda a densidade e o peso de suas lembranças (e daquilo que, em seu corpo, se torna inexprimível). A umidade do ambiente, a batalha entre o fogo e a água (que cria o vapor denso das piscinas termais e que o impede de enxergar mais adiante). Em off, o professor só consegue grunhir, como se tivesse se ultrapassado, enquanto vemos a vela já posta do outro lado da piscina. Final do percurso, do ritual, do calvário – restam as reticências de uma imagem preto-e-branco onde o professor finalmente se deita "por dentro" de seu passado, ao lado de um velho cão, e fita o céu distante agora refletido no chão, numa poça d`água. Tarkovski finda assim essa pequena obra-prima de cinema-posado e de poesia gráfica; apostando em imagens que são antes de tudo sintomas pulsantes, tensões da forma e dos sons, numa vivacidade que se não está localizada em cada um de seus personagens-estátuas, parece percorrer o filme como uma espécie de energia não-localizável, intuída, tão frágil, tão poderosa e tão passageira quanto a chama que queima (que tanto pode atravessar os corpos quanto desaparecer em um leve bufar de vento) e que alguns chamariam de "fé". Não uma "fé" resumida neste ou naquele estatuto, mas uma "fé" primordial, talvez, na própria sobrevida do cinema para além de tudo o que se possa alcançar, que se possa conter nas imagens. Nostalgia, mais do que um retorno ao passado, é esse desejo, sem-solo, de se tocar, de se contagiar (e contagiar o espectador) com um sentido indecifrável de eternidade. E esse é o grande êxito do filme, e de Tarkovski.
Fragmentado
3.9 2,9K Assista AgoraCada nuance, cada olhar, cada voz, até a maneira de respirar, foi pensada para dar vida independente a cada uma delas. Em algumas cenas, é assustador saber diferenciar as identidades se modificando ali na sua frente, somente por um gesto ou um suspiro do ator. Algo magnífco!
É muito dificil falar de “Fragmentado” sem comprometer o intenso e gratificante prazer de descobri-lo pouco a pouco ao assisti-lo. Se existe alguma dúvida de que Shyamalan voltou a sua melhor forma, “Fragmentado” já basta. Porém a emoção recai mesmo, mais uma vez, naquilo em que o diretor se apegou em toda a sua carreira e que nunca abandonou: a busca incessante pela humanidade de seus personagens. Sejam eles monstros, fantasmas ou super-heróis do mundo real.
Santa Sangre
4.2 150Embora seja um dos trabalhos mais acessíveis e coerentes narrativamente do diretor, é inegável a inventividade e originalidade que Jodorowsky narra seu filme, sem falar nos simbolismos, nas metáforas e no surrealismo, características habituais do diretor, que estão em evidência durante a história. E não falta também a galeria de figuras estranhas pontuando o filme, como por exemplo uma imensa lutadora de Luta-Livre, uma mímica surda e muda por quem Fenix é apaixonado, anões, elefantes, o mundo circense em todo seu esplendor, muito bem envolvidos à ação.
SANTA SANGRE é essencialmente visual, e são poucos os filmes que transcendem sobre o nosso cérebro com suas imagens transformando em verdadeiras experiências sensoriais. E Jodorowsky é um artista com esta capacidade, há pelo menos mais duas obras primas (EL TOPO e A MONTANHA SAGRADA) em que ele consegue este mesmo efeito hipnótico sobre o espectador. Por isso é um diretor tão único, tão verdadeiro, tão sem espaço no cinema que é feito atualmente.
Filmaço!
Antes do Amanhecer
4.3 1,9K Assista AgoraCerta vez conheci uma garota nesta mesma pegada. Éramos incríveis! Tudo funcionava. (Parecia até coisa do universo). Mas por causa de um mal-entendido nos separamos. No entanto, mesmo distante desejo ao máximo o sucesso dela.
O Demônio das Onze Horas
4.2 430 Assista AgoraEm uma narrativa não tradicional, a história prioriza ser contada por imagem e som, como alusão à fluidez da vida, do fluxo de pensamento humano e do comportamento das personagens Ferdinand (Jean-Paul Belmondo) e Marianne (Anna Karina). É como se Joyce e Woolf contribuíssem com seus célebres fluxos de consciência. O cinema aqui é forma e conteúdo como aliados e não excludentes. Percorrendo por todos os elementos da linguagem cinematográfica, a história contada é de Ferdinand (Pierrot, como o chama sua parceira) e Marianne. Ele reencontra a moça, uma antiga amiga e amante, e embriagado com sua juventude persuasiva, escolhe partir. Em meio à sociedade parisiense fútil e careta que tanto os sufoca, os dois decidem se aventurar pelos caminhos do Mediterrâneo. Marianne é a chave da aventura, é o faz-acontecer do filme. Sem sua parceira, Ferdinand talvez não se encorajaria na busca pela subversão. Também não seria Pierrot, o louco. Sempre transitando, os dois se envolvem em crimes à medida em que se envolvem entre si, criando uma complexa ligação de amantes e cúmplices, ora em harmonia, ora em conflito. Porém, para além da jornada do casal, Pierrot le Fou é uma jornada estética. Mais relevantes que os acontecimentos dos dois viajantes, suas visões artísticas, sentimentais e políticas sobre a vida — dadas pelo texto propriamente dito e pela câmera de Godard — são a essência do filme.
A obra consegue falar pela estética, provando que forma também acolhe temática — até a vida, a maior delas. Aqui se fala de arte, política, amor, loucura e morte pelos textos: o falado, o imagético, o sonoro. A dureza das futilidades ditas na cena da festa, ainda em Paris, é presente tanto nos diálogos quanto nas cores e na posição dos atores, como também no caminhar de Ferdinand entre os ambientes: passar por vermelhos, amarelos, verdes e azuis de nada adianta se o que dizem e fazem é o mesmo. A mise-en-scène, como o “pensamento que toma forma/forma que pensa” do próprio Godard, neste momento se faz pela cíclica e pouca movimentação de elementos, que se traduz em tédio em quem ali está alheio: Ferdinand e o espectador. Os festeiros não se deslocam, ainda que a eles se sobreponham cores, a chateação permanece. Era mesmo preciso tomar o movimento para si e se deslocar com Marianne. O incômodo estético é sinônimo ao incômodo político, enfim. E assim se constrói o manifesto do diretor: uma estética política, que não se perde por também fazer pensar.
Sobre Meninos e Lobos
4.1 1,5K Assista AgoraEstá película de Eastwood não é veículo para lições de moral simplistas. Quanto mais conhecemos sobre os personagens, mais nuances descobrimos sobre eles, menos claros e unidimensionais eles se tornam. Cada camada revelada leva o espectador a novas possibilidades, identificações ou mesmo repulsa com relação ao trio. Tudo muito verdadeiro, cru e forte. Em especial a presença da morte e suas conseqüência diante daqueles que amam alguém que se foi recentemente. Inclusive a fé, em um plano mais sutil, porém onipresente em atitudes, cenários e até mesmo no corpo de um dos personagens, permeia de significado as atitudes de todos.
Atitudes que demonstram o quão apavorante pode ser, não a vida real, mas nós mesmos. Que por trás de camadas e camadas de regras e aparências sociais, escondemos nossos demônios. Saem-se melhor aqueles que sabem lidar com isso, perdem aqueles que preservam sua inocência.
Claro, nem tudo é perfeito na condução do filme. Há momentos nos quais tudo parece tender a degringolar pelo óbvio. Sim, não é impossível desvendar o desfecho da trama. Mas nem isso anula (embora abale um pouco) o impacto do que fora construído na primeira metade do filme. Se há previsibilidade em certos desenrolares, ela acaba servindo para, de certa maneira, reforçar a impotência diante da inevitabilidade.
Se você quer diversão descererebrada, passe longe. Mas se quiser sair incomodado, descubra o que há Sobre meninos e lobos. Afinal, cinema não é meramente entretenimento.
Precisamos Falar Sobre o Kevin
4.1 4,2KÉ interessante pensar que Kevin desenvolveu sérios problemas psicológicos e psiquiátricos, mas a única pessoa que chegou perto de perceber isso foi sua mãe. Com a chegada de uma irmãzinha, o distúrbio de Kevin piora. Me questionei sobre os sentimentos de Kevin pela menina, se a crueldade é apenas uma imagem criada para chamar atenção, ou se aquele personagem é incapaz de ter carinho por alguém. Mas em certos momentos, é possível acreditar que Kevin tenha adquirido algum sentimento bom pela garota. É difícil discutir a natureza de um personagem tão complexo como Kevin.
Miller incorporou o personagem com todas as suas forças. Não consigo pensar em um melhor ator para interpretá-lo. Ele o captou com frieza e deu o toque certo de crueldade e desprezo que definem Kevin. Um garoto com problemas, que precisava de algum tratamento médico. Swinton também acertou na interpretação de Eva. O desespero da personagem, a tristeza que define a sua vida atual, mãe de um filho problemático, mãe do causador de uma tragédia que abalou muitas pessoas. É possível sentir a culpa de Eva, que, aos seus próprios olhos, torna-se merecedora de punições. E apesar de tudo, Eva continua tentando entender a mente de seu filho, sem julgá-lo ou odiá-lo.
É uma trama forte e perturbadora, e não economiza em cenas chocantes. E acredito que esse seja o propósito do filme, deixar o espectador assustado e demonstrar o pesadelo que vive aquela mulher. Até porque, o filme é contado a partir das experiências da mãe. Se pudéssemos ver o filme a partir dos pensamentos de Kevin, seria totalmente diferente. Portanto, esteja preparado para se surpreender! O filme nos traz grandes reflexões que podem gerar horas de discussão.
Os 7 Suspeitos
3.8 355 Assista AgoraÓtimo enredo, inteligente, misterioso e muito engraçado. Os atores estão empenhados num entrosamento incrível dentro da trama. Um filme delicioso de ver! Boa comédia misturada com um bom suspense. Sem contar os finais alternativos que são ótimos.
P.s.: uma sátira sobre os filmes de suspense e romance policial, e seus finais óbvios, onde 'o mordomo é sempre o culpado', ou então onde o autor da tantas voltas com a estória com o intuito de prender a atenção do público que não sabe como terminar sem se perder no final.
Fratura
3.3 917Tem uma premissa simples, mas uma execução complexa: em apenas uma linha do tempo, duas perspectivas da mesma narrativa são apresentadas de forma sutil.
O suspense segue uma proposta de reviravoltas: ora o espectador acredita na versão que a clínica está, de fato, ocultando a família Monroe, ora começa a desconfiar da loucura do homem. Ele acredita que os funcionários públicos formam uma rede de sequestradores que vendem órgãos para o mercado negro.
A intenção é, simultaneamente, confundir e ajudar, convidando o espectador a criar teorias para tentar desvendar o mistério em conjunto com o protagonista. Porém, tal escolha pode tirar a graça daqueles que captarem o mistério nos primeiros minutos. Com base na paranoia, alucinação, teoria da conspiração e até trazendo um pouco de crítica social, “Fratura” propõe um bom jogo de perspectivas como entretenimento.
Simples na medida certa!
Paranóia
3.5 1,5K Assista AgoraUm filme com ritmo cadenciado e um clima de desconfiança intenso, mas não há correrias. Com uma pegada Teen considerando (claro!) que há um jovem como herói (Shia LaBeouf), uma garota como objeto de desejo, um amigo leal e os demais estereótipos. O roteiro não consegue fugir das armadilhas óbvias, tanto que sua meia hora final é digna de um filme do Supercine.
Contudo, não colabora para transformar Paranóia num programa imperdível, pelo menos é um esquecível passatempo, a notar a seqüência do acidente automobilístico, bem conduzida.
Depois de acompanhar com atenção as situações cômicas bem desenvolvidas, o crescimento da tensão sexual dos adolescente e o envolvente suspense, vem a surpresa final, um desfecho decepcionante.
Um filme bobinho pra assistir num dia qualquer. Boa sorte!
Chappie
3.6 1,1K Assista AgoraMe cativou pela ingenuidade em um enredo um pouco confuso e cheio de mensagens de diferentes tipos que não tinha um foco central. Ainda assim foi bom ver sua trajetória.
O final foi conveniente de maneira mal trabalhada, mas suportável. Guardar uma consciência em um pen-drive sem realmente transferi-la, seria apenas uma cópia com a mesma frequência e memória daquela pessoa, não ela realmente. E fazer uma descoberta grandiosa como saber calcular a consciência de maneira tão casual, não traz a importância que isso deveria para o resultado final do filme Chappie.
O visual do filme é limpo com o objetivo da cena, com detalhes sutis que complementam o cenário. Uma parte é ambientada na zona pobre, com o lixões em volta e dialeto usado cheio de gírias próprias, enquanto a outra parte é a empresa fabricante dos robôs policiais, que além de ter tonalidades mais neutras é duramente mais sofisticada em comparação ao outro lado da cidade.
As críticas sociais poderiam ter sido bem mais aproveitadas, entretanto o que houve foi um foco maior no lado sentimental, sem realmente se aprofundar no desenvolvimento emocional dos personagens. Em resumo: Um estereótipo imperfeito de relacionamento familiar.
Chappie é um filme que tem seus momentos de comédia, e sem uma história muito trabalhada, contudo consegue fazer com que tenhamos simpatia pelos personagens e nos divertir em alguns momentos.
Réquiem para um Sonho
4.3 4,4K Assista AgoraRéquiem para um Sonho é a síntese do cinema de Aronofsky: um filme de imagens pesadas e desafiadoras, clima atordoante e um efeito entorpecente que se agarra ao espectador por um bom tempo após o término da projeção. É um filme que nos deixa, quase que literalmente, exaustos.
De narrativa picotada, repleta de cortes e tomadas, clima de pesadelo e atuações carregadas de angústia, Réquiem para um Sonho é expansão tanto do estilo nada convencional de Aronofsky quanto do próprio tema, uma vez que os efeitos das drogas sobre o ser humano já havia sido dissecado com bastante competência em filmes como Trainspotting – Sem Limites e Diário de um Adolescente – mas ao contrário destes exemplos, Aronofsky nos faz experimentar, quase que de forma intima, os delírios dos personagens e sua inevitável descida à loucura.
Percebe-se que Aronofsky disseca não apenas o vício pelas drogas, mas todo e qualquer apego irracional que tornam as pessoas seres completamente dependentes daquilo, permitindo que se tornem figuras inertes, entregues à solidão e ao apego da vida moderna. Com coragem e ousadia, Aronofsky acompanha esta degradação de maneira arriscada e condenável para alguns (os inúmeros recursos estilísticos, sem dúvidas, irão incomodar os mais sensíveis), mas que atinge seu objetivo com êxito, e ao final, resta apara o espectador ter que lidar com a sensação de exaustão e as imagens fortes concebidas pelo diretor.
Filme para fazer refletir por dias e horas.
A Casa
3.1 591 Assista AgoraOs diretores trabalharam sim muito bem o roteiro, porém pecam em alguns pontos. Um deles é a falta de ritmo da narrativa, que torna ela lenta e cansativa em alguns pontos, outro é a falta de aprofundamento nas motivações individuais de cada personagem. Ainda sim, é um ótimo longa.
Em A Casa, temos um foco muito específico no protagonista e em seu objeto de desejo: sua nova família. Mais especificamente, no homem do qual ele quer roubar esta família. Os atores são Javier Gutiérrez e Mario Casas, respectivamente. Ambos desempenham uma atuação muito boa, é possível saber, mesmo não verbalmente, o que cada um está sentindo e até pensando, mas sem perder o fator mistério. Porém, ainda há o problema comentado anteriormente, da falta de aprofundamento nos personagens.
Um ponto legal de se observar é a forma como o personagem de Mario Casas e sua família são, na maioria das vezes, enquadrados de forma a parecer que estamos espionando-os. Isso serve muito bem à narrativa por trazer a ideia de que o nosso olhar é o mesmo de Javier.
Além disso, a fotografia conta com uma paleta de cores bem fria e sem graça na maioria das cenas, ajudando a torná-las desinteressantes, como a vida atual de Javier. Porém, em alguns momentos, mostra-se quente e aconchegante, como quando mostra a família de Tomás, o que mostra como aquela ideia de família ideal é reconfortante para o nosso protagonista.
Por fim, um aspecto que não precisa de muita análise é a questão cenográfica como um todo, assim como os figurinos. Eles não revelam muito, nem acrescentam na trama. Ah não ser pela utilização do contraste dos elementos de figurino e cenário entre família de baixa renda e da família de alta renda.
A Firma
3.4 179 Assista AgoraO filme retrata a tecnologia de maneira muito sutil, a partir das denuncias do jovem advogados e das investigações do FBI que se comunica com outros departamentos de maneira sigilosa na tentativa de desmantelar a máfia e descobrir de que forma eles fazem a lavagem de dinheiro.
De um lado a tecnologia nos proporciona recursos cada vez melhores mas, existem pessoas que se aproveitam dela, para tirar proveito de situações como é o caso do filme que faz lavagem de dinheiro por meios de canais tecnológicos, achando que iam ficar impunes.
Hoje, qualquer um de nós tem acessos a extratos bancários, podemos fazer transferência de dinheiro sem sair de casa, pagar contas, imaginem os que os mafiosos podem fazer apertando apenas alguns botões no computador da firma ou de um Banco qualquer?
É um filme ótimo que apresenta questões marcantes, com realismo, o problema social que atingem todos os povos.
É realmente triste, mas todos, de uma forma ou de outra, já vivenciamos situações semelhantes. Dentre as questões marcantes, destaca-se a ambição de Mitche MaDeere (Tom Cruise) um advogado recém formado incorruptível .
Esse traço o levou a rejeitar várias propostas de trabalho, pois as mesmas não satisfaziam seu ego. Finalmente, um dia recebeu uma proposta milionária para trabalhar em um obscuro escritório em Memphis.
Diante dessa perspectiva de ganhar muito dinheiro – era o seu objetivo - Mitche aceita o trabalho, sem avaliá-lo em sua extensão. Para ser bem recebido negou a existência de um irmão presidiário, temendo denegrir sua imagem. O filme questiona o código de ética, que mantêm em sigilo da relação do advogado com seu cliente.
Aos poucos descobre que seus clientes estão envolvidos na maior tramóia e a empresa onde trabalha também está envolvida com lavagem de dinheiro da máfia e todos advogados que tentaram sair foram mortos. Essa trama traduz as consequências trágicas dos interesses excusos, sobretudo de “gosto” pela riqueza
É lamentável, mas fatos como esse acontecem sempre no nosso dia a dia. Nos tempos atuais é natural ver o individualismo, o egoísmo e a corrupção. É preciso ser o que verdadeiramente somos, sem atrapalhar ninguém. Para se construir um mundo de justiça, amor, igualdade e fé, é preciso antes de tudo ter consciência disso e vivê-la com autenticidade, sem pisotearmos uns aos outros, numa corrida desenfreada ao ter e poder.
Tudo é consequência, a lei do retorno. Muitos se enganam ao pensar que o dinheiro é o centro de tudo, e passam a vida atrás do mesmo, sacrificando até os sentimentos mais nobres. Quando a ilusão passa, as pessoas se dão conta de que o caminho de volta é mais complicado e que não é fácil romper com a glória, e então surge a depressão e os amigos desaparecem. É preciso recomeçar.
O mais importante entretanto, está em conduzir a uma reflexão crítica sobre valores profissionais, sociais, revelando as frustrações profundas na vida daquele que ignoram seus sentimentos e valores pessoais, se deixaram controlar pela ambição financeira até um ponto que parecia sem retorno.
É fundamental na vida humana valorizar suas raízes, seu povo e sua terra natal. O fato de poder ir e vir de qualquer lugar sem precisar se esconder, ter liberdade.
Power
3.0 433 Assista AgoraA construção e o desenvolvimento são meio óbvios. Isso porque é muito fácil descobrir o evento que vai suceder o outro. Indo mais longe, só vendo o trailer é possível descobrir toda a história de tantas vezes que ela foi repetida, e essa é a grande crítica do filme: a originalidade. Os diálogos já são conhecidos, tanto as piadas, quanto as personalidades dos personagens, os antagonistas, etc.
Além disso, as atuações são extremamente simples, mas não são horríveis. Usando o exemplo do próprio Jamie Foxx, a atuação nesse filme nem se compara a dele em Django Livre (possivelmente devido a Tarantino, que sabe dirigir atores), mas não é uma atuação ruim, até porque ele não é um ator ruim.
A direção é bem simples e não possui lá muita personalidade. No entanto, ela é até legalzinha nas cenas de ação, como na cena em que Art está em segundo plano, matando muitas pessoas, e uma mulher (que eu não vou contar quem é e nem onde estava porque é spoiler) está congelando por causa da pílula. Entretanto, em grande parte das vezes, ela é podada pela montagem, que parece querer colocar o máximo de planos possíveis. Dessa forma, ela faz muitos cortes em apenas uma cena.
A fotografia, por sua vez, não parece ter nenhum compromisso em brincar com a luz, as sombras, as cores, etc.
A direção de arte é simples, e traz os cenários clássicos dos filmes de ação, como o navio cargueiro onde se passa a batalha final (outra coisa clássica em filmes de ação). Já nos figurinos, não há muito o que comentar, a não ser algumas referências, como o casaco que a Robin (Dominique Fishback) usa, que curiosamente possui as cores vermelho, verde e amarelo.
Um bom passa tempo pra assistir num momento qualquer.
Eu Vi o Diabo
4.1 1,1KCostumo elogiar a intensidade dos filmes coreanos que normalmente demonstram emoções de maneira tão real que, às vezes, acabam driblando aquela mágica cinematográfica chamada ficção, - tornando seus filmes uma espécie de conto da vida real. Isso acontece em quase todas as produções sul-coreanas e sem dúvida é um quesito difícil de copiar, para a tristeza dos hollywoodianos. Enquanto esses exageros estão baseados na tristeza ou no romantismo podemos experimentar sensações que aquecem o coração de alguma maneira, o mesmo não acontece nas produções como - I Saw The Devil -, o filme desperta agonia, desespero, aflição, nojo, dor etc.
Se quer mesmo embarcar nessa trama prepare-se para ver um filme de gráficos violentos que proporciona grande perturbação psicológica. Kyung-chul é um monstro e toda a produção faz jus a esse nome. Já Choi Min-sik incorpora seu personagem de uma maneira tão profunda que em muitos momentos parecem ser apenas um. Seguindo...
A perspectiva do Serial Killer é amplamente explorada neste filme, não somente por Kyung-chul, até mesmo Soo-hyeon em muitos momentos parece ter colocado pra fora seu monstro interior.
A carnificina é um dos pontos mais agoniantes desse filme, por muitas vezes 'perdi o ar' enquanto esquecia de respirar vendo tamanhas atrocidades e se você acha que eles amenizaram os acontecimentos, está redondamente enganado, tudo nesse filme é escrachado e não precisa se esforçar muito pra causar desconforto.
Realmente é impressionante a construção desse roteiro digno de um psicopata, a forma como os crimes são cometidos são tão marcantes que nos fazem sentir o medo que abraça às vítimas antes de morrer, PURO GORE!
Esse filme é horripilante, perturbador, repulsivo mas muito bem feito, o que acaba justificando sua popularidade e às críticas positivas que recebeu desde seu lançamento.
I Saw The Devil é um soco no estômago, uma produção que teve como foco causar mal-estar e foi muito bem sucedida nessa missão.
...é impossível assistí-lo e não sentir absolutamente nada encarando-o como apenas um mero entretenimento. Mas se você já assistiu o Martyrs, então, fica fácil!
O Som do Silêncio
4.1 983 Assista AgoraMas assim como na vida real, a trajetória de Ruben nos mostra o quão difícil é abrir mão do passado e daquilo que idealizamos para nós mesmos. Em momentos como esses do roteiro, de pura entrega e sentimentalismo, a atuação de Riz Ahmed cresce e se destaca, o colocando como um possível candidato nas próximas premiações.
Além dos diálogos, o trabalho de expressão corporal dos atores traz uma imagem poderosa para a produção. Todo o trabalho de atuação está concentrado na forma como o corpo se expressa, sem se esconder por trás da palavra falada e de grandes clichês que vemos em outros filmes. A direção de Darius Marder é importantíssima e muito bem conduzida nesse sentido.
Vale destacar também o ótimo trabalho de som que envolve a produção. A forma como Sound of Metal insere o espectador em uma condição que ele entenda como Ruben percebe o mundo a partir de sua perda de audição é muito efetiva, criando uma experiência ainda mais emotiva.
Outro ponto importante a se destacar é a inclusão e representatividade não só da história, mas do elenco. Além de toda a trama ser pautada em mostrar os percalços e descobertas de pessoas com deficiência auditiva e de fala.
Rastros de um Sequestro
3.8 563 Assista AgoraA forma didática com a qual os fatos são explicados ao público percebe-se que é bastante proposital, para que fique tudo amarrado, visto que, os acontecimentos são absurdamente chocantes e, porque não dizer, reais. Realismo este que, o cinema coreano sabe proporcionar como nenhum outro. Raramente nos proporcionam finais felizes, mas mexem com nossas emoções de maneira ímpar.
As atuações são excelentes, as cenas de ação bem elaboradas e a fotografia e trilha sonora, ajudam a compor o clima de suspense dominante no filme, que, a partir da segunda metade do longa, vai dando espaço ao drama e, diga-se de passagem, que drama.
A construção – e desconstrução – dos personagens, é elaborada de maneira fascinante. Os protagonistas trocam de papéis em diversos momentos e, à medida que mergulhamos no passado de Jin-Seok e Yoo-Seok, compreendemos a complexidade dos atos de cada um e, principalmente, o que os levou a fazer o que fizeram.
Rastros de um Sequestro é um filme tenso e que mistura diversos gêneros do cinema, cheio de reviravoltas, mostrando que, mais uma vez, o cinema Coreano sabe fazer filmes como ninguém.
Vale muito a pena conferir!
Sonhos
4.4 380 Assista AgoraSonhos fala muito sobre morte, mostrando as consequências dos maus hábitos humanos a longo prazo que degradam o meio ambiente, levando a extinção e mutação de espécies. O filme revela que o avanço na tecnologia leva à falta de sentido na vida e também como a rigidez da educação japonesa, se torna a principal responsável, pelas altas taxas de suicídio do Japão.
Muitas questões são discutidas através do simbolismo dos sonhos e os diálogos que neles ocorrem, nos fazendo refletir sobre: a importância de assumir as consequências dos nossos atos e erros, pedindo o perdão verdadeiro; a função do castigo e da hierarquia; os estragos do narcisismo e da vaidade do ser humano; e a crescente negação da natureza e aceitação da ciência.
A morte discutida no filme é uma realidade e não um sonho, como parece. A humanidade está perto desse fim. Apenas, quando estamos nos caminhando para a morte, que percebemos o quanto real ela é, bem distante da ilusão de um sonho. A essência do ser humano está sendo perdida e modificada junto à degradação da natureza.
Existem cenas lindas que parecem sonhos e cenas terrível que são pesadelos. Esses pesadelos nos servem como um alerta, pois falam sobre atitudes ruins que estamos levando, sendo bem próximas da nossa realidade. A vaidade do ser humano e seu comportamento inconsequente se tornam o principal responsável pelos efeitos da poluição e desmatamento ambiental, resultando na perda da diversidade da fauna e flora.
A audácia nos faz achar que não precisamos cuidar da natureza e que milagres ainda podem acontecer. Temos a falsa ilusão que a ciência tem o poder de resolver tudo, até coisas surgidas no começo do mundo, como se a ciência pudesse sempre inventar todas as soluções para nossos problemas. Os cientistas se acham espertos demais, mas estamos perdendo nosso mundo.
P.s.: Sonhos deve ser assistido quando você estiver bem tranquilo com boas energias, pois considero um filme sensível e subliminar, não adianta estar com pressa ou ansioso, que você não vai conseguir captar o sentidos dos oito sonhos.
Considerei os melhores contos, os quatro sonhos com as paisagens mais bonitas, os outros quatro são mais dramáticos e pesados. Vale a pena conferir essa sétima arte, as cenas são tão coloridas que parecem vivas na tela.