Minha irmã me obrigou a ver e quer saber? O filme não é ruim não. Bem melhor que o que o povo faz pra Barbie. E eu gostei das músicas e baixei o CD inteiro da Skye Sweetnam depois disso.
Saí da cabine de imprensa quase agora. Curti, o filme as vezes é óbvio, às vezes perde o ritmo pra explicar alguma coisa ou para te fazer chorar e a narração em off é um saco, mas o Thomas Horn é um ótimo ator. Mais tarde coloco a crítica completa aqui.
Achei aquém da versão sueca. É melhor produzido, melhor dirigido e visualmente mais bonito que o original, mas no contexto roteiro não o supera. Ainda assim, é um ótimo filme.
Crítica – A Lista de Schindler Nunca fui muito fã do Steven Spielberg, admito. Acho “De volta para o futuro” chato, “Jurassic Park” comercial demais, não curto o sentimentalismo de “E.T.” e nunca enxerguei o que as pessoas vêm em “Tubarão”. Além disso, as recentes apostas desse dinossauro de Hollywood (com o perdão do trocadilho) não têm sido bem-sucedidas como o recente longa-metragem “Super 8” e as séries “Falling Skies” e “Terra Nova”. Assim, minhas expectativas eram bastante pequenas quando me recomendaram “A Lista de Schindler”, filme de 1993 que coleciona prêmios. Ledo engano.
Filmado em preto-e-branco para recriar a atmosfera de documentário, “A Lista de Schindler” é, provavelmente, um dos mais impactantes longas já produzidos sobre o horror da Segunda Guerra Mundial. Baseado em uma história real, a trama gira em torno de Oskár Schindler (Liam Neeson, de “Star Wars I – A Ameaça Fantasma” e “Simplesmente Amor”), influente alemão que usou a Guerra para se enriquecer.
Com alguns contatos no partido nazista, Schindler consegue uma permissão para abrir uma empresa e, aproveitando da lei que impedia judeus de fazerem o mesmo, os utiliza em mão-de-obra escrava em troca de uma permissão de trabalho que os impede de serem levados aos trabalhos forçados. Assim nasce a D.E.F. (Deutsche Emailwaren Fabrik), fábrica de panelas que em pouco tempo, acumula 350 judeus, considerados operários úteis por produzirem um artigo em falta devido aos combates.
À primeira vista, Schindler não parece ser nada além de um homem ambicioso e aficionado pelo lucro fácil proporcionado pela Guerra, mas essa imagem vai se desfazendo conforme a relação com o seu contador judeu Itzhak Stern (Ben Kingsley, de “Mr. Harris”) se aprofunda. Quando o cruel comandante nazista Amon Goeth (impecavelmente interpretado por Ralph Fiennes, o eterno Lord Voldemort) chega à cidade e ameaça “roubar” Stern de Schindler, Óskar se vê obrigado a participar do jogo de poder do militar. Assim, enquanto finge ser amigo de Goeth e movido pelo apreço que tem por Stern, Schindler começa a usar sua fortuna para subornar oficiais nazistas e salvar judeus jurados de morte.
Goeth é cruel, promove chacinas diárias sem nenhum motivo aparente. Buscando “limpar” de vez os judeus da história da Cracóvia, realiza um verdadeiro extermínio em um bairro semita. Da sacada da sua mansão, atira em judeus à revelia, apenas por diversão ou, como Schindler diz em uma cena, “porque eles não significam nada para ele”. A tensão culmina quando o comandante decide enviar seus prisioneiros a Auschwitz, o famoso campo de concentração polonês, local onde milhares de pessoas, incluindo alguns intelectuais, foram executadas. Schidler então, sob a justificativa de precisar de operários que não necessitem serem treinados novamente, usa do seu dinheiro e sua influência para “comprar” judeus e salvar-lhes a vida.
Além da magnífica atuação de Ralph Fiennes, o que mais incomoda em “A Lista de Schindler” são quatro palavras, por vezes utilizadas com intuito comercial e, por outras, para fazer pesar a realidade na história: baseado em fatos reais. Ao contrário de um (os fãs de Tarantino que me perdoem) “Bastardos Inglórios” da vida, o filme de Spielberg não termina quando rola os créditos. É possível coletar nome por nome citado na tela e depois dar um Google rápido em cada um deles. Todos existiram. Sabe aquele homem qualquer que levou um tiro na cabeça e você não se importou porque era ficção? Sim, ele realmente levou aquele tiro. As pessoas foram realmente enjauladas em trens. A crueldade de Amon Goeth de fato, vitimou centenas.
Tomar ciência disso torna o filme algo pesado, difícil de assistir. Estamos bastante acostumados a uma barreira sólida chamada ficção, que impede empatia mais profunda com os personagens depois que termina a história. Contudo, saber que cada vida perdida ao longo do caminho teve impacto significativo no círculo social do indivíduo morto, dá as “cores” à tragédia que estamos vendo.
Mesmo o fato de Liam Neeson e Ralph Fiennes serem bastante parecidos fisicamente ajuda a contrapor a bondade do primeiro com a crueldade do segundo. E Liam Neeeson, meu filho, que show de interpretação foi aquele na cena do anel?
Desde o princípio, “A Lista de Schindler” estava destinado a boas mãos. Inicialmente foi oferecido ao conceituado diretor Martin Scorcese (“Ilha do Medo”, “A Invenção de Hugo Cabret”, entre outros), que o passou para Spielberg. Este último levou 10 anos para concluir o projeto e com ele levou uma coleção de Óscares. Esta será para sempre considerada a sua obra máxima.
Vale muito a pena assistir, senão pela bela história, ao menos para conhecer o que aconteceu no passado para que nunca tenhamos coragem de cometer tamanha atrocidade no futuro.
Assistir filmes como “Procurando Nemo”, “Toy Story” e, mesmo com suas controvérsias, o famoso “Shrek” nos deixa com certo temor. Se por um lado admiramos o poder criativo das mentes por detrás das boas animações com as quais temos sido brindados ao longo da última década, por outra sempre carregamos o estigma de que é difícil superá-las. Mas os criativos funcionários por trás da Pixar continuam nos mostrando que sim, é possível melhorar e sim, não há limites para a imaginação. Wall.E é um exemplo disso.
A animação vem para sacramentar, de uma vez por todas, a qualidade que esse gênero possui. Desenhos animados vêm sendo produzidos há décadas com igual apelo emocional, mas são os títulos que acabo de citar, os responsáveis por atrair também o público adulto ao cinema e fazê-los se emocionar com a mesma intensidade que as crianças. Andrew Stanton, por sua vez, é o gênio por detrás de produções famosas como, além das já citadas no início desta crítica, “Monstros S.A”, “Ratatouille”, “Up” e “Vida de Inseto”. O talento, somado à experiência adquirida com a realização dessas pérolas do cinema de animação, parecem culminar em um dos mais adoráveis personagens que a sétima arte já produziu: o simpático robozinho Wall.E.
Depois de poluírem o planeta e tornarem a atmosfera tóxica, impossibilitando a vida, os humanos resolveram deixar a Terra. Enquanto partem em uma nave gigante, a Axion BNL, com recursos suficientes para mantê-los a salvo por alguns anos, eles deixam os robôs Wall.E (Waste Allocation Lord Lifter Earth Clash) para compactarem o lixo e limparem o mundo. Contudo, a missão que deveria durar apenas cinco anos acaba se estendendo por tempo indefinido. Aos poucos, os robôs deixados para trás vão parando de funcionar. Agora o ano é 2810 e somente um Wall.E ainda está ativo. Sua única companhia é uma baratinha simpática (não por acaso, já que baratas são as únicas capazes de sobreviver um apocalipse nuclear) e sua moradia é composta por centenas de peças recolhidas entre os entulhos que ele considera interessante.
Wall.E vinha se mantendo “vivo” até então por ser capaz de reparar a si mesmo. Contudo, o fim dos seus companheiros fez com que ele se tornasse o único ser da Terra, realizando dia após dia o trabalho quase infindável de compactar lixo e colocá-lo em pilhas que rapidamente se convertem em arranha-céus. Essa situação dura até a inesperada chegada da moderna robô Eva, cuja missão é escanear a superfície terrestre em busca de formas de vida capazes de realizar fotossíntese, ou seja, árvores. A única companhia em séculos acaba se tornando para Wall.E também uma paixão. O contraste entre a modernidade e a tecnologia de Eva e o modo mecânico, quase grotesco com o qual o robozinho trabalha é gritante, mas os opostos se atraem, certo?
Poucos dias antes da chegada de Eva, Wall.E havia achado uma plantinha entre os escombros e a guardado em uma bota velha. Eis então que a robô escaneia a planta e dispara um alarme: o que vinha procurando finalmente foi encontrado. Eva então recolhe a planta, guarda com segurança em seu interior e hiberna, à espera do resgate que a levará de volta à Axion, completando assim, a sua missão. O problema é que, a essa altura, Wall.E já está completamente maluco por Eva e se arrisca, pegando carona no foguete que vem para leva-la para casa. Lá chegando, uma batalha pela planta terá início (ela é responsável por levar a nave de volta ao planeta, mas o piloto automático está programado para impedir que isso aconteça) e o casal incomum terá papel fundamental na tarefa de tentar trazer os humanos para o planeta de origem.
O filme é tão simpático que dá vontade de entrar na tela e apertar as bochechas de Wall.E (robô tem bochecha? Ok, não responda). Andrew conseguiu uma façanha, na medida em que transforma um personagem com fala mecânica (basicamente, a única coisa que o protagonista diz é o próprio nome e Eva) em uma criatura que cativa já nos primeiros segundos de filme. A expressão dos olhos, a inocência que possui ao ignorar o perigo e só se importar com o amor que sente por Eva o torna um personagem único.
A animação cumpre muito bem o seu papel crítico, ao ironizar o corporativismo e a letargia dos sobreviventes da nossa espécie. Muitos deles, por estarem sempre em contato com outros através de uma espécie de holograma que lhe salta aos olhos, mal sabem o que há na realidade que os cerca (“Nossa, nem sabia que aqui havia piscina”). Somos recompensados com belas imagens, como quando a câmera que filma do alto o cenário pós-apocalíptico da Terra ou quando Wall.E chega à nave, envolta por uma nebulosa violeta, ou mesmo quando Wall.E e Eva “dançam” pelo espaço: ela voando e ele usando o impulso de um extintor de incêndio.
Interessante a escolha da fotografia, que se torna fria (fosca?) quando Eva está desativada, refletindo a tristeza do protagonista e iluminada quando estes finalmente ficam juntos. As cenas finais provavelmente vão fazer o espectador gritar “O que há contigo, Wall.E?”.
Recomendado, seja apenas para se divertir ou para ver a que grau de genialidade o cinema de animação chegou, alcançando com um mero personagem criado em computador o que atores do cinema “real” tentam fazer há anos.
Na edição do Festival de Cannes deste ano, “Melancolia” foi um dos títulos mais comentados, infelizmente não só pela qualidade do filme. O diretor dinamarquês Lars von Trier, em um acesso despropositado de humor (negro), durante uma entrevista coletiva, respondeu a uma pergunta dizendo que “entendia Hitler”. A piada de mal gosto não só manchou sua reputação como culminou com a sua expulsão do Festival, acabando de vez com qualquer chance que o longa tinha de levar a Palma de Ouro.
“Melancolia” pode ser considerado um sci-fi dramático. Na história, Melancolia é o nome de um planeta gigante se aproxima da Terra e, conforme somos informados já no início, eles se chocarão. Diante disso, vemos como duas irmãs: Claire (Charlotte Gainsbourg, a Mulher de “Anticristo”) e Justine (Kirsten Dunst, a Claudia de “Entrevista com o Vampiro” / Mary Jane de “O Homem Aranha”) reagem ao fim do mundo. Não é um filme apocalíptico no sentido estrito da palavra. O foco não é a destruição do planeta, mas a destruição da fraternidade entre Justine e Claire.
Assim como em “Anticristo”, logo nos primeiros segundos somos brindados com cenas em slow motion de rara beleza. Ao som de Richard Wagner (única trilha de toda a película, aliás) Trier constrói cenas que primam pela riqueza dos detalhes. Dessa forma, o piscar dos olhos, a criança que brinca com seu galho, a mãe que tenta, em vão, salvar seu filho, tudo isso ganha tom desesperador, já que paralelamente a essas imagens, temos uma visão do Melancolia se aproximando do nosso planeta. Depois do espetáculo, também como “Anticristo”, teremos o filme dividido em partes.
A primeira, denominada apenas JUSTINE, tratará do casamento de Justine com Michael (Alexander Skarsgaard, o Eric Nothman da popular série vampiresca, True Blood). Temos um grupo de convidados saudando os noivos, enquanto Claire e John (Kierfer Sutherland, o agente Jack de 24 Hours) se esforçam para que a festa saia nos eixos.
Justine, entretanto, não parece estar feliz. Logo após o discurso de sua mãe (Charlotte Rampling, acidez em cada sílaba), vemos rachaduras na sua personalidade e a sensação de que ela esconde algo só faz aumentar quando Claire a chama reservadamente e diz “para ela se controlar. Ninguém está ali para ver um show”. A comemoração avança e conforme o tempo passa, descobrimos a verdade: Justine está em estado avançado de depressão e beira a demência (destaque para a cena em que Kirsten sai do quarto do sobrinho e simula o sorriso falso usado para todos que a parabenizam pelo matrimônio). A fotografia aqui é em tom amarelado, quase sépia, dando a sensação de passado, de distância. A câmera busca planos amplos, foca nos familiares rapidamente, pula de um rosto a outro.
O desfecho da festa é imprevisível. Depois de dar vários sinais de que sua alegria é uma farsa, Justine se recusa a fazer sexo com Michael, ao mesmo tempo em que deixa a mansão onde o casal está instalado para transar com Tim (Brady Cobert), um jovem RP que ela tinha acabado de conhecer. Michael assim, deixa a festa e se separa de Justine ainda no dia do casamento.
Contudo, é na segunda parte que Lars von Trier vai explorar, de fato, o dramático do mote. Aqui, vemos Justine bastante alterada pela depressão. Ela não consegue pegar um táxi (precisa da irmã ao telefone para fazer isso) ou mesmo tomar banho. Tudo é estafante, tudo a fere. A fotografia ajuda, adquirindo tons azulados e mais frios, denotando tristeza. A câmera opta por focar mais as duas irmãs, geralmente em close, apresentando um aspecto mais intimista.
“Melancolia” é um longa-metragem complicado. Assim como quase toda a filmografia do diretor norueguês, se encaixa no tipo 8 ou 80: ou você ama, idolatra e o elege como um dos melhores filmes que você já viu ou o odeia com todas as forças e nunca mais vê. Estou mais inclinado à primeira opção; von Trier conseguiu me seduzir em poucos segundos, com a cena na qual uma Dunst vestida de noiva escorrega rio abaixo, trazendo um buquê à mão.
Também me agradou a direção que o filme toma. Com uma história dessas, seria muito fácil desviar a atenção para a catástrofe e suas consequências no planeta como um todo, mas Lars intencionalmente prefere focar no efeito que o fim do mundo causará na relação fraterna que deseja explorar. Vemos que a destruição é, para Justine, um alívio enquanto que Claire se preocupa com o futuro do filho (melhor dizendo, se haverá futuro para o filho). Charlotte Gainsbourg faz um ótimo trabalho ao tentar se convencer de que o marido tem razão e que Melancolia não se chocará com a Terra, mas demonstrando não acreditar na hipótese.
Kirsten Dunst, que magnífica ela está! Consegue denotar solidão e dor de forma tão intensa que o sofrimento de Justine torna-se quase palpável. O fechar dos olhos, a respiração, como se tudo fosse penoso demais para aguentar são absolutamente críveis. Mereceu muito a Palma de Ouro como Melhor Atriz em Cannes, mas duvido que seja lembrada no Oscar. Depois da mancada do Lars, qualquer honraria ou menção à “Melancolia” seria, indiretamente, dar razão a ele. Também devemos nos lembrar das grandes favoritas à indicação nesse ano, Viola Davis, Meryl Streep (pra mim, fica entre essas duas), Michele Williams, Rooney Mara e Gleen Close. Pena.
Acusem o dinamarquês Lars von Trier de qualquer coisa, menos de que ele não sofreu bastante nos últimos anos. No leito de morte, sua mãe lhe revelou um segredo que vinha guardando há anos: o homem que ele chamava de pai na verdade não era o seu pai biológico. A partir daí, o diretor mergulhou em profunda depressão.
Muita dessa tristeza está presente em “Anticristo”, filme lançado em 2009. Repleto de simbolismos, narra a história de um casal que perde seu filho tragicamente depois que a criança se joga da janela de um andar alto da casa. Enquanto a babá eletrônica piscava, os pais (propositalmente sem nomes, como se a personalidade dos dois não se restringissem a um substantivo e se estendessem a homens e mulheres como um todo) faziam sexo. O Prólogo, aliás, é composto por um belo slow motion ao som de ópera, na qual o sexo (explícito!) é mostrado de forma invasiva (entender-se-á a razão disso).
O primeiro capítulo, denominado “Sofrimento”, se dedica a apresentador o Homem e a Mulher, propriamente ditos. Enlutada, padecendo de dor desesperadora pela perda do menino, a Mulher se entrega à tristeza e é o Homem, psicanalista experiente, que usará de seus conhecimentos para tratá-la.
A Mulher ainda se culpa pela morte da criança, já que era a única a saber da mania do garoto de se levantar pela noite e andar pela casa e acreditar que ela seria capaz de interromper a transa se quisesse. O Homem então propõe a ela que enfrente seus medos como modo de mostrar à sua mente que eles não podem atingi-la. Quando esta elege a Floresta Éden (referência ao Pecado Original do Éden, cuja menção se justificará posteriormente), local onde tinha ido com o filho no último verão para escrever sua tese, como a expressão máxima do medo, ele a convida a passar uma temporada lá. Usando toda a lógica psicológica da qual tem conhecimento, o Homem estimula a Mulher a passar por experiências que visam fazer com que ela confronte e entenda seus demônios internos. Ele tenta curá-la, ao passo em que usa a tortura dela para disfarçar ou amenizar a sua própria.
“Anticristo” é um filme reverbera simbolismo. Toda fala tem uma razão de ser, cada detalhe faz a diferença. É necessário abstrair muito para poder entendê-lo e se você o interpretar de forma literal, realmente odiará tudo. Correndo o risco de desviar-me completamente do que o diretor pretendia, tentarei colocar aqui o que eu entendi de tudo aquilo.
Antes de qualquer coisa, é preciso ter em mente que “Anticristo” é uma experiência cinematográfica sobre a dor. O filme é uma tentativa de von Trier de se livrar da depressão que o acometia e, assim, toda a história deve ser analisada fazendo um paralelo com o que o diretor sentia no momento em que a imaginou.
Começamos com Nick despencando da janela. Vejo isso como uma referência à inocência que morreu em von Trier no momento em que soube a verdade sobre o seu passado. O longa-metragem então se resume a processar “o fim da inocência”, ao passo em que o Homem e a Mulher são duas facetas da personalidade de Lars, que dialogam como em uma luta interna (fato esse confirmado, ao menos para mim, pelo momento em que o Homem simula ser a natureza e a Mulher, a razão).
Em um dos takes, um vaso de flores é filmado em close e nele vemos a água suja, repleta de impurezas. O conceituado crítico de cinema Pablo Villaça havia interpretado a cena como uma metáfora à sujeira que o casal mantinha e contornava com uma relação conjugal aparentemente normal. Eu, no entanto, como estou estendendo a minha análise à mente conturbada do diretor, a interpreto como as impurezas da própria alma de von Trier. A sujeira do vaso impede que a flor de manter a vitalidade, da mesma forma que os demônios pessoas de von Trier o impede de seguir com a vida.
Outro momento do filme bastante elucidativo é quando o Homem diz à Mulher que tem sonhado com coisas estranhas e essa replica com um “sonhos não são mais importantes. Afinal, Freud está morto”. Isso remete diretamente ao livro “O Anticristo” de Nietzsche, na qual ele diz que Deus está morto e nós o matamos. Assim sendo, Lars estabelece intertextualidade com o pensamento niilista, ao dizer que se Freud está morto então o estudo e o controle da mente e da razão já não se faz mais necessário. Nós matamos a razão, nós somos os responsáveis por isso.
Os três estranhos também foi uma das simbologias analisadas por Pablo Villaça. Eu, ainda assim, os interpretei de modo distinto. Para mim, os três animais são os avatares da alma, do corpo e da mente. Assim, o cervo que corre com a cria entre as pernas é, na verdade, a alma que tenta fugir da dor, mas tem o filho como empecilho (remetendo diretamente aos últimos momentos da mãe de Lars). A raposa que se devora representa a redenção pela dor: ela se mata por estar corrompida pela treva (“Caos reina”). O corvo, em si, é a mente do Homem que grita por ser encontrado, porque a morte é a última esperança para o sofrimento.
Minha hipótese parece se confirmar quando a Mulher é assassinada pelo marido e os três animais (que juntos, são o anticristo, a negação da bondade, o lado trevoso feminino) a envolvem. Como ela já tinha dito antes, a Natureza é a Igreja de Satã e a Mulher é a personificação da Natureza, logo a mulher é a Igreja de Satã (percebam, por que uma mulher? Seria a referência à mãe de Lars? Éden, nesse caso, está intrinsecamente ligado a comer o fruto proibido, a colocar o feminino como causa única de toda a perversidade?)
A Mulher se castra por culpa. O sexo foi a razão da morte de Nick então o perdão só será alcançado quando a fonte da desgraça ser cortada. O homem que ejacula sangue, ejacula morte, assim como Pablo interpretou. E o filme se encerra com dezenas de mulher que caminha em direção ao Homem. Como já disse, a Mulher é o corpo do Mal. Logo, é o Mal em todas as direções que tenta sobrepujá-lo.
De modo geral, é um filme complexo, hediondo, doloroso e muito difícil de assistir sem pular algumas cenas. Essas interpretações são minhas, assim como o Villaça fez as dele, mas duvido estejamos 100% corretos. De verdade, o que se passava na mente de Lars von Trier quando este filmou “Anticristo” é um mistério que só o próprio poderá desvendar. Vale a pena assistir e tentar enxergar os simbolismos do filme de modo mais subjetivo, ao invés de levar tudo ao pé da letra: se o fizer assim, provavelmente vai achar tudo um bando de sangue e perversão sem utilidade.
P.S.: A análise mais complicada que já fiz na vida! Tive de assistir três vezes para chegar a essas conclusões.
Área Q
2.6 269 Assista AgoraTenho entrevista com o Murilo Rosa quarta que vem pra falar desse filme. Espero que seja legal.
Metrópolis
4.4 630 Assista AgoraSou louco para encontrar esse filme para download. Se alguém tiver algum link, por favor, me passem!
Trainspotting: Sem Limites
4.2 1,9K Assista AgoraTem uma coluna bastante legal sobre o filme neste site aqui ó -
Precisamos Falar Sobre o Kevin
4.1 4,2K Assista AgoraVou ficar mal uma semana depois de assistir esse filme. Exatamente como aconteceu com o livro.
Maria, Mãe do Filho de Deus
2.4 81 Assista AgoraRuim.
Heróis
3.0 986 Assista AgoraConfuso...
Diário da Barbie
3.1 159Minha irmã me obrigou a ver e quer saber? O filme não é ruim não. Bem melhor que o que o povo faz pra Barbie. E eu gostei das músicas e baixei o CD inteiro da Skye Sweetnam depois disso.
Matilda
3.7 1,6K Assista AgoraAaah vai, é bonitinho. *.*
Mulher-Gato
2.0 1,1KHalle Berry, por que, minha filha?
Antes que Termine o Dia
3.9 1,6K Assista AgoraNão curti muito não =T
A Árvore da Vida
3.4 3,1K Assista AgoraMooorno, muito, muito mooorno.
Drive
3.9 3,5K Assista AgoraTem gente que ama, tem gente que odeia... O que vocês me dizem, vale o ingresso?
Tão Forte e Tão Perto
4.0 2,0K Assista AgoraSaí da cabine de imprensa quase agora. Curti, o filme as vezes é óbvio, às vezes perde o ritmo pra explicar alguma coisa ou para te fazer chorar e a narração em off é um saco, mas o Thomas Horn é um ótimo ator. Mais tarde coloco a crítica completa aqui.
O Despertar
3.4 914 Assista AgoraMais tarde coloco aqui minha opinião completa. Por hora, só uma palavra define: preguiça.
Os Descendentes
3.5 1,3K Assista AgoraOscar é uma merda mesmo, vou te contar viu...
A Dama de Ferro
3.6 1,7KQuem quiser baixar, aqui está o link (áudio em inglês, sem legendas) -
Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres
4.2 3,1K Assista AgoraAchei aquém da versão sueca. É melhor produzido, melhor dirigido e visualmente mais bonito que o original, mas no contexto roteiro não o supera. Ainda assim, é um ótimo filme.
Chico & Rita
3.8 125Só o fato de ser "animação para adultos" já atraiu minha curiosidade. Raro ver coisa assim contemplada pelo Oscar
A Lista de Schindler
4.6 2,3K Assista AgoraCrítica – A Lista de Schindler
Nunca fui muito fã do Steven Spielberg, admito. Acho “De volta para o futuro” chato, “Jurassic Park” comercial demais, não curto o sentimentalismo de “E.T.” e nunca enxerguei o que as pessoas vêm em “Tubarão”. Além disso, as recentes apostas desse dinossauro de Hollywood (com o perdão do trocadilho) não têm sido bem-sucedidas como o recente longa-metragem “Super 8” e as séries “Falling Skies” e “Terra Nova”. Assim, minhas expectativas eram bastante pequenas quando me recomendaram “A Lista de Schindler”, filme de 1993 que coleciona prêmios. Ledo engano.
Filmado em preto-e-branco para recriar a atmosfera de documentário, “A Lista de Schindler” é, provavelmente, um dos mais impactantes longas já produzidos sobre o horror da Segunda Guerra Mundial. Baseado em uma história real, a trama gira em torno de Oskár Schindler (Liam Neeson, de “Star Wars I – A Ameaça Fantasma” e “Simplesmente Amor”), influente alemão que usou a Guerra para se enriquecer.
Com alguns contatos no partido nazista, Schindler consegue uma permissão para abrir uma empresa e, aproveitando da lei que impedia judeus de fazerem o mesmo, os utiliza em mão-de-obra escrava em troca de uma permissão de trabalho que os impede de serem levados aos trabalhos forçados. Assim nasce a D.E.F. (Deutsche Emailwaren Fabrik), fábrica de panelas que em pouco tempo, acumula 350 judeus, considerados operários úteis por produzirem um artigo em falta devido aos combates.
À primeira vista, Schindler não parece ser nada além de um homem ambicioso e aficionado pelo lucro fácil proporcionado pela Guerra, mas essa imagem vai se desfazendo conforme a relação com o seu contador judeu Itzhak Stern (Ben Kingsley, de “Mr. Harris”) se aprofunda. Quando o cruel comandante nazista Amon Goeth (impecavelmente interpretado por Ralph Fiennes, o eterno Lord Voldemort) chega à cidade e ameaça “roubar” Stern de Schindler, Óskar se vê obrigado a participar do jogo de poder do militar. Assim, enquanto finge ser amigo de Goeth e movido pelo apreço que tem por Stern, Schindler começa a usar sua fortuna para subornar oficiais nazistas e salvar judeus jurados de morte.
Goeth é cruel, promove chacinas diárias sem nenhum motivo aparente. Buscando “limpar” de vez os judeus da história da Cracóvia, realiza um verdadeiro extermínio em um bairro semita. Da sacada da sua mansão, atira em judeus à revelia, apenas por diversão ou, como Schindler diz em uma cena, “porque eles não significam nada para ele”. A tensão culmina quando o comandante decide enviar seus prisioneiros a Auschwitz, o famoso campo de concentração polonês, local onde milhares de pessoas, incluindo alguns intelectuais, foram executadas. Schidler então, sob a justificativa de precisar de operários que não necessitem serem treinados novamente, usa do seu dinheiro e sua influência para “comprar” judeus e salvar-lhes a vida.
Além da magnífica atuação de Ralph Fiennes, o que mais incomoda em “A Lista de Schindler” são quatro palavras, por vezes utilizadas com intuito comercial e, por outras, para fazer pesar a realidade na história: baseado em fatos reais. Ao contrário de um (os fãs de Tarantino que me perdoem) “Bastardos Inglórios” da vida, o filme de Spielberg não termina quando rola os créditos. É possível coletar nome por nome citado na tela e depois dar um Google rápido em cada um deles. Todos existiram. Sabe aquele homem qualquer que levou um tiro na cabeça e você não se importou porque era ficção? Sim, ele realmente levou aquele tiro. As pessoas foram realmente enjauladas em trens. A crueldade de Amon Goeth de fato, vitimou centenas.
Tomar ciência disso torna o filme algo pesado, difícil de assistir. Estamos bastante acostumados a uma barreira sólida chamada ficção, que impede empatia mais profunda com os personagens depois que termina a história. Contudo, saber que cada vida perdida ao longo do caminho teve impacto significativo no círculo social do indivíduo morto, dá as “cores” à tragédia que estamos vendo.
Mesmo o fato de Liam Neeson e Ralph Fiennes serem bastante parecidos fisicamente ajuda a contrapor a bondade do primeiro com a crueldade do segundo. E Liam Neeeson, meu filho, que show de interpretação foi aquele na cena do anel?
Desde o princípio, “A Lista de Schindler” estava destinado a boas mãos. Inicialmente foi oferecido ao conceituado diretor Martin Scorcese (“Ilha do Medo”, “A Invenção de Hugo Cabret”, entre outros), que o passou para Spielberg. Este último levou 10 anos para concluir o projeto e com ele levou uma coleção de Óscares. Esta será para sempre considerada a sua obra máxima.
Vale muito a pena assistir, senão pela bela história, ao menos para conhecer o que aconteceu no passado para que nunca tenhamos coragem de cometer tamanha atrocidade no futuro.
WALL·E
4.3 2,8K Assista AgoraAssistir filmes como “Procurando Nemo”, “Toy Story” e, mesmo com suas controvérsias, o famoso “Shrek” nos deixa com certo temor. Se por um lado admiramos o poder criativo das mentes por detrás das boas animações com as quais temos sido brindados ao longo da última década, por outra sempre carregamos o estigma de que é difícil superá-las. Mas os criativos funcionários por trás da Pixar continuam nos mostrando que sim, é possível melhorar e sim, não há limites para a imaginação. Wall.E é um exemplo disso.
A animação vem para sacramentar, de uma vez por todas, a qualidade que esse gênero possui. Desenhos animados vêm sendo produzidos há décadas com igual apelo emocional, mas são os títulos que acabo de citar, os responsáveis por atrair também o público adulto ao cinema e fazê-los se emocionar com a mesma intensidade que as crianças. Andrew Stanton, por sua vez, é o gênio por detrás de produções famosas como, além das já citadas no início desta crítica, “Monstros S.A”, “Ratatouille”, “Up” e “Vida de Inseto”. O talento, somado à experiência adquirida com a realização dessas pérolas do cinema de animação, parecem culminar em um dos mais adoráveis personagens que a sétima arte já produziu: o simpático robozinho Wall.E.
Depois de poluírem o planeta e tornarem a atmosfera tóxica, impossibilitando a vida, os humanos resolveram deixar a Terra. Enquanto partem em uma nave gigante, a Axion BNL, com recursos suficientes para mantê-los a salvo por alguns anos, eles deixam os robôs Wall.E (Waste Allocation Lord Lifter Earth Clash) para compactarem o lixo e limparem o mundo. Contudo, a missão que deveria durar apenas cinco anos acaba se estendendo por tempo indefinido. Aos poucos, os robôs deixados para trás vão parando de funcionar. Agora o ano é 2810 e somente um Wall.E ainda está ativo. Sua única companhia é uma baratinha simpática (não por acaso, já que baratas são as únicas capazes de sobreviver um apocalipse nuclear) e sua moradia é composta por centenas de peças recolhidas entre os entulhos que ele considera interessante.
Wall.E vinha se mantendo “vivo” até então por ser capaz de reparar a si mesmo. Contudo, o fim dos seus companheiros fez com que ele se tornasse o único ser da Terra, realizando dia após dia o trabalho quase infindável de compactar lixo e colocá-lo em pilhas que rapidamente se convertem em arranha-céus. Essa situação dura até a inesperada chegada da moderna robô Eva, cuja missão é escanear a superfície terrestre em busca de formas de vida capazes de realizar fotossíntese, ou seja, árvores. A única companhia em séculos acaba se tornando para Wall.E também uma paixão. O contraste entre a modernidade e a tecnologia de Eva e o modo mecânico, quase grotesco com o qual o robozinho trabalha é gritante, mas os opostos se atraem, certo?
Poucos dias antes da chegada de Eva, Wall.E havia achado uma plantinha entre os escombros e a guardado em uma bota velha. Eis então que a robô escaneia a planta e dispara um alarme: o que vinha procurando finalmente foi encontrado. Eva então recolhe a planta, guarda com segurança em seu interior e hiberna, à espera do resgate que a levará de volta à Axion, completando assim, a sua missão. O problema é que, a essa altura, Wall.E já está completamente maluco por Eva e se arrisca, pegando carona no foguete que vem para leva-la para casa. Lá chegando, uma batalha pela planta terá início (ela é responsável por levar a nave de volta ao planeta, mas o piloto automático está programado para impedir que isso aconteça) e o casal incomum terá papel fundamental na tarefa de tentar trazer os humanos para o planeta de origem.
O filme é tão simpático que dá vontade de entrar na tela e apertar as bochechas de Wall.E (robô tem bochecha? Ok, não responda). Andrew conseguiu uma façanha, na medida em que transforma um personagem com fala mecânica (basicamente, a única coisa que o protagonista diz é o próprio nome e Eva) em uma criatura que cativa já nos primeiros segundos de filme. A expressão dos olhos, a inocência que possui ao ignorar o perigo e só se importar com o amor que sente por Eva o torna um personagem único.
A animação cumpre muito bem o seu papel crítico, ao ironizar o corporativismo e a letargia dos sobreviventes da nossa espécie. Muitos deles, por estarem sempre em contato com outros através de uma espécie de holograma que lhe salta aos olhos, mal sabem o que há na realidade que os cerca (“Nossa, nem sabia que aqui havia piscina”). Somos recompensados com belas imagens, como quando a câmera que filma do alto o cenário pós-apocalíptico da Terra ou quando Wall.E chega à nave, envolta por uma nebulosa violeta, ou mesmo quando Wall.E e Eva “dançam” pelo espaço: ela voando e ele usando o impulso de um extintor de incêndio.
Interessante a escolha da fotografia, que se torna fria (fosca?) quando Eva está desativada, refletindo a tristeza do protagonista e iluminada quando estes finalmente ficam juntos. As cenas finais provavelmente vão fazer o espectador gritar “O que há contigo, Wall.E?”.
Recomendado, seja apenas para se divertir ou para ver a que grau de genialidade o cinema de animação chegou, alcançando com um mero personagem criado em computador o que atores do cinema “real” tentam fazer há anos.
Jogos Vorazes
3.8 5,0K Assista AgoraSaiu a primeira soundtrack oficial - http://www.youtube.com/watch?v=VRVEG5pdO0A
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraNa edição do Festival de Cannes deste ano, “Melancolia” foi um dos títulos mais comentados, infelizmente não só pela qualidade do filme. O diretor dinamarquês Lars von Trier, em um acesso despropositado de humor (negro), durante uma entrevista coletiva, respondeu a uma pergunta dizendo que “entendia Hitler”. A piada de mal gosto não só manchou sua reputação como culminou com a sua expulsão do Festival, acabando de vez com qualquer chance que o longa tinha de levar a Palma de Ouro.
“Melancolia” pode ser considerado um sci-fi dramático. Na história, Melancolia é o nome de um planeta gigante se aproxima da Terra e, conforme somos informados já no início, eles se chocarão. Diante disso, vemos como duas irmãs: Claire (Charlotte Gainsbourg, a Mulher de “Anticristo”) e Justine (Kirsten Dunst, a Claudia de “Entrevista com o Vampiro” / Mary Jane de “O Homem Aranha”) reagem ao fim do mundo. Não é um filme apocalíptico no sentido estrito da palavra. O foco não é a destruição do planeta, mas a destruição da fraternidade entre Justine e Claire.
Assim como em “Anticristo”, logo nos primeiros segundos somos brindados com cenas em slow motion de rara beleza. Ao som de Richard Wagner (única trilha de toda a película, aliás) Trier constrói cenas que primam pela riqueza dos detalhes. Dessa forma, o piscar dos olhos, a criança que brinca com seu galho, a mãe que tenta, em vão, salvar seu filho, tudo isso ganha tom desesperador, já que paralelamente a essas imagens, temos uma visão do Melancolia se aproximando do nosso planeta. Depois do espetáculo, também como “Anticristo”, teremos o filme dividido em partes.
A primeira, denominada apenas JUSTINE, tratará do casamento de Justine com Michael (Alexander Skarsgaard, o Eric Nothman da popular série vampiresca, True Blood). Temos um grupo de convidados saudando os noivos, enquanto Claire e John (Kierfer Sutherland, o agente Jack de 24 Hours) se esforçam para que a festa saia nos eixos.
Justine, entretanto, não parece estar feliz. Logo após o discurso de sua mãe (Charlotte Rampling, acidez em cada sílaba), vemos rachaduras na sua personalidade e a sensação de que ela esconde algo só faz aumentar quando Claire a chama reservadamente e diz “para ela se controlar. Ninguém está ali para ver um show”. A comemoração avança e conforme o tempo passa, descobrimos a verdade: Justine está em estado avançado de depressão e beira a demência (destaque para a cena em que Kirsten sai do quarto do sobrinho e simula o sorriso falso usado para todos que a parabenizam pelo matrimônio). A fotografia aqui é em tom amarelado, quase sépia, dando a sensação de passado, de distância. A câmera busca planos amplos, foca nos familiares rapidamente, pula de um rosto a outro.
O desfecho da festa é imprevisível. Depois de dar vários sinais de que sua alegria é uma farsa, Justine se recusa a fazer sexo com Michael, ao mesmo tempo em que deixa a mansão onde o casal está instalado para transar com Tim (Brady Cobert), um jovem RP que ela tinha acabado de conhecer. Michael assim, deixa a festa e se separa de Justine ainda no dia do casamento.
Contudo, é na segunda parte que Lars von Trier vai explorar, de fato, o dramático do mote. Aqui, vemos Justine bastante alterada pela depressão. Ela não consegue pegar um táxi (precisa da irmã ao telefone para fazer isso) ou mesmo tomar banho. Tudo é estafante, tudo a fere. A fotografia ajuda, adquirindo tons azulados e mais frios, denotando tristeza. A câmera opta por focar mais as duas irmãs, geralmente em close, apresentando um aspecto mais intimista.
“Melancolia” é um longa-metragem complicado. Assim como quase toda a filmografia do diretor norueguês, se encaixa no tipo 8 ou 80: ou você ama, idolatra e o elege como um dos melhores filmes que você já viu ou o odeia com todas as forças e nunca mais vê. Estou mais inclinado à primeira opção; von Trier conseguiu me seduzir em poucos segundos, com a cena na qual uma Dunst vestida de noiva escorrega rio abaixo, trazendo um buquê à mão.
Também me agradou a direção que o filme toma. Com uma história dessas, seria muito fácil desviar a atenção para a catástrofe e suas consequências no planeta como um todo, mas Lars intencionalmente prefere focar no efeito que o fim do mundo causará na relação fraterna que deseja explorar. Vemos que a destruição é, para Justine, um alívio enquanto que Claire se preocupa com o futuro do filho (melhor dizendo, se haverá futuro para o filho). Charlotte Gainsbourg faz um ótimo trabalho ao tentar se convencer de que o marido tem razão e que Melancolia não se chocará com a Terra, mas demonstrando não acreditar na hipótese.
Kirsten Dunst, que magnífica ela está! Consegue denotar solidão e dor de forma tão intensa que o sofrimento de Justine torna-se quase palpável. O fechar dos olhos, a respiração, como se tudo fosse penoso demais para aguentar são absolutamente críveis. Mereceu muito a Palma de Ouro como Melhor Atriz em Cannes, mas duvido que seja lembrada no Oscar. Depois da mancada do Lars, qualquer honraria ou menção à “Melancolia” seria, indiretamente, dar razão a ele. Também devemos nos lembrar das grandes favoritas à indicação nesse ano, Viola Davis, Meryl Streep (pra mim, fica entre essas duas), Michele Williams, Rooney Mara e Gleen Close. Pena.
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3.9 2,2K Assista AgoraPara quem quiser fazer o download -
Anticristo
3.5 2,2K Assista AgoraAcusem o dinamarquês Lars von Trier de qualquer coisa, menos de que ele não sofreu bastante nos últimos anos. No leito de morte, sua mãe lhe revelou um segredo que vinha guardando há anos: o homem que ele chamava de pai na verdade não era o seu pai biológico. A partir daí, o diretor mergulhou em profunda depressão.
Muita dessa tristeza está presente em “Anticristo”, filme lançado em 2009. Repleto de simbolismos, narra a história de um casal que perde seu filho tragicamente depois que a criança se joga da janela de um andar alto da casa. Enquanto a babá eletrônica piscava, os pais (propositalmente sem nomes, como se a personalidade dos dois não se restringissem a um substantivo e se estendessem a homens e mulheres como um todo) faziam sexo. O Prólogo, aliás, é composto por um belo slow motion ao som de ópera, na qual o sexo (explícito!) é mostrado de forma invasiva (entender-se-á a razão disso).
O primeiro capítulo, denominado “Sofrimento”, se dedica a apresentador o Homem e a Mulher, propriamente ditos. Enlutada, padecendo de dor desesperadora pela perda do menino, a Mulher se entrega à tristeza e é o Homem, psicanalista experiente, que usará de seus conhecimentos para tratá-la.
A Mulher ainda se culpa pela morte da criança, já que era a única a saber da mania do garoto de se levantar pela noite e andar pela casa e acreditar que ela seria capaz de interromper a transa se quisesse. O Homem então propõe a ela que enfrente seus medos como modo de mostrar à sua mente que eles não podem atingi-la. Quando esta elege a Floresta Éden (referência ao Pecado Original do Éden, cuja menção se justificará posteriormente), local onde tinha ido com o filho no último verão para escrever sua tese, como a expressão máxima do medo, ele a convida a passar uma temporada lá.
Usando toda a lógica psicológica da qual tem conhecimento, o Homem estimula a Mulher a passar por experiências que visam fazer com que ela confronte e entenda seus demônios internos. Ele tenta curá-la, ao passo em que usa a tortura dela para disfarçar ou amenizar a sua própria.
“Anticristo” é um filme reverbera simbolismo. Toda fala tem uma razão de ser, cada detalhe faz a diferença. É necessário abstrair muito para poder entendê-lo e se você o interpretar de forma literal, realmente odiará tudo. Correndo o risco de desviar-me completamente do que o diretor pretendia, tentarei colocar aqui o que eu entendi de tudo aquilo.
Antes de qualquer coisa, é preciso ter em mente que “Anticristo” é uma experiência cinematográfica sobre a dor. O filme é uma tentativa de von Trier de se livrar da depressão que o acometia e, assim, toda a história deve ser analisada fazendo um paralelo com o que o diretor sentia no momento em que a imaginou.
Começamos com Nick despencando da janela. Vejo isso como uma referência à inocência que morreu em von Trier no momento em que soube a verdade sobre o seu passado. O longa-metragem então se resume a processar “o fim da inocência”, ao passo em que o Homem e a Mulher são duas facetas da personalidade de Lars, que dialogam como em uma luta interna (fato esse confirmado, ao menos para mim, pelo momento em que o Homem simula ser a natureza e a Mulher, a razão).
Em um dos takes, um vaso de flores é filmado em close e nele vemos a água suja, repleta de impurezas. O conceituado crítico de cinema Pablo Villaça havia interpretado a cena como uma metáfora à sujeira que o casal mantinha e contornava com uma relação conjugal aparentemente normal. Eu, no entanto, como estou estendendo a minha análise à mente conturbada do diretor, a interpreto como as impurezas da própria alma de von Trier. A sujeira do vaso impede que a flor de manter a vitalidade, da mesma forma que os demônios pessoas de von Trier o impede de seguir com a vida.
Outro momento do filme bastante elucidativo é quando o Homem diz à Mulher que tem sonhado com coisas estranhas e essa replica com um “sonhos não são mais importantes. Afinal, Freud está morto”. Isso remete diretamente ao livro “O Anticristo” de Nietzsche, na qual ele diz que Deus está morto e nós o matamos. Assim sendo, Lars estabelece intertextualidade com o pensamento niilista, ao dizer que se Freud está morto então o estudo e o controle da mente e da razão já não se faz mais necessário. Nós matamos a razão, nós somos os responsáveis por isso.
Os três estranhos também foi uma das simbologias analisadas por Pablo Villaça. Eu, ainda assim, os interpretei de modo distinto. Para mim, os três animais são os avatares da alma, do corpo e da mente. Assim, o cervo que corre com a cria entre as pernas é, na verdade, a alma que tenta fugir da dor, mas tem o filho como empecilho (remetendo diretamente aos últimos momentos da mãe de Lars). A raposa que se devora representa a redenção pela dor: ela se mata por estar corrompida pela treva (“Caos reina”). O corvo, em si, é a mente do Homem que grita por ser encontrado, porque a morte é a última esperança para o sofrimento.
Minha hipótese parece se confirmar quando a Mulher é assassinada pelo marido e os três animais (que juntos, são o anticristo, a negação da bondade, o lado trevoso feminino) a envolvem. Como ela já tinha dito antes, a Natureza é a Igreja de Satã e a Mulher é a personificação da Natureza, logo a mulher é a Igreja de Satã (percebam, por que uma mulher? Seria a referência à mãe de Lars? Éden, nesse caso, está intrinsecamente ligado a comer o fruto proibido, a colocar o feminino como causa única de toda a perversidade?)
A Mulher se castra por culpa. O sexo foi a razão da morte de Nick então o perdão só será alcançado quando a fonte da desgraça ser cortada. O homem que ejacula sangue, ejacula morte, assim como Pablo interpretou. E o filme se encerra com dezenas de mulher que caminha em direção ao Homem. Como já disse, a Mulher é o corpo do Mal. Logo, é o Mal em todas as direções que tenta sobrepujá-lo.
De modo geral, é um filme complexo, hediondo, doloroso e muito difícil de assistir sem pular algumas cenas. Essas interpretações são minhas, assim como o Villaça fez as dele, mas duvido estejamos 100% corretos. De verdade, o que se passava na mente de Lars von Trier quando este filmou “Anticristo” é um mistério que só o próprio poderá desvendar. Vale a pena assistir e tentar enxergar os simbolismos do filme de modo mais subjetivo, ao invés de levar tudo ao pé da letra: se o fizer assim, provavelmente vai achar tudo um bando de sangue e perversão sem utilidade.
P.S.: A análise mais complicada que já fiz na vida! Tive de assistir três vezes para chegar a essas conclusões.