Que lindíssimo filme sobre amizade. A melhor coisa do mundo, a única coisa que é sempre verdadeira, mesmo quando tentamos mascarar: a amizade. Que pancada é essa trilha sonora. Que sensibilidade desse roteiro!
E Marion Cotillard numa atuação deslumbrante. É pra levantar, aplaudir e não sentar mais nunca. OBRIGADO AO CINEMA ARTE!
Revendo pela segunda vez em menos de um ano e sentindo a mesma tristeza, o mesmo desamparo e a mesma dor. O country nos embala, nos faz flutuar e depois mergulhar em lágrimas. Que história visceral! Que dor enorme...
Que atuação! Que final! Um drama sobre o mercado capitalista; sobre egoísmo e solidariedade juntos num mesmo evento. Uma história sobre a injustiça e a incapacidade de viver numa sociedade que se diz meritocrata, mas que hipocritamente alisa com uma mão e bate com a outra. Sandra sofria de depressão, isso fica claro desde o começo do filme. Ao final, nos questionamos: quem não sofre de depressão? Como não sofrer de depressão? E, mesmo assim, sabemos: continuaremos lutando contra isso todos os dias de nossas vidas.
Mais um filme sensacional na filmografia de Alejandro Iñarritu. Ao contrário dos seus demais filmes, Birdman traz, além do drama, um cunho crítico ao mundo das artes, com algumas pinceladas de humor. O teor crítico é muito forte, sobretudo em dois pontos.
Primeiro: a narrativa expõe o lado sujo de Hollywood. O personagem de Keaton viveu seus momentos de glória e reconhecimento quando atuou num filme “blockbuster” de super-herói, cheio de ação, explosões e por trás de uma máscara. Décadas depois, já esquecido, ele tenta readaptar uma peça teatral e sofre com a falta de apoio da mídia, dos patrocinadores e do povo. Em um dado momento, Birdman (a voz imaginária que fala com o personagem) diz algo como: “já chega, você sabe que é um fracassado assim. Vamos voltar para a velha pornografia cinematográfica; chega de roteiros filosóficos e depressivos.” A postura da sensacionalista e parcial crítica teatral do New York Times resume o mundo das celebridades: por não gostar da ousadia de Riggan, ela afirma que vai destruir a peça dele sem ao menos tê-la assistido ainda. E pior do que a falta de profissionalismo e vaidade que cercam esta atitude é o fato de nós, leitores e expectadores, darmos tanta credibilidade a uma crítica de um meio de comunicação, ao ponto daquilo ser capaz de destruir um trabalho de meses dos profissionais da arte. Segundo ponto no qual Iñarritu bate: a crescente necessidade de reconhecimento da nossa sociedade atual. Riggan, apesar de se mostrar talentoso e dedicado à arte na sua forma mais sublime, abdicando inclusive de enveredar por caminhos mais fáceis (o filme deixa claro que ele poderia ter dado sequência ao seu personagem de super-herói e também que ele rejeitou uma proposta para participar de um reality show), mostra-se um homem inseguro ao tentar a todo custo ser visto como uma celebridade novamente. Prova disso é a recorrente alucinação que ele tem com Birdman, uma voz que o atormenta a cada indício de falha que a sua peça apresenta. Riggan precisa se sentir especial novamente, precisa dos flashs, mas dessa vez ele já não aceita mais brilhar por trás de uma máscara; ele quer brilhar pelo seu talento. O ciúme dele pela presença do novo ator (o personagem de Edward Norton) só reforça esse ponto de vista um tanto quanto egoísta. Mas não é só o personagem principal que sofre dessa insegurança. Vez ou outra vemos referências às redes sociais, aos chamados “virais” que rapidamente aparecem na mídia e somem em questão de dias. É interessante quando Reggan diz a sua ex-mulher que se arrepende de ter filmado o nascimento da filha, pois ao invés de se preocupar com filmar ele deveria simplesmente estar ao lado das duas, aproveitando o momento. É o retrato de um mundo em que existimos para demonstrar o que desejamos ser, e não para sê-lo efetivamente. Ademais, no aspecto técnico - e esta talvez seja a coisa que mais me encantou no filme - é a forma como foi filmado. Não dá pra percebermos NENHUM corte durante as duas horas da narrativa. Toda imagem é contínua; a câmera se move seguindo os personagens o tempo inteiro, e quando uma cena é finalizada vemos a imagem se dirigindo para outro ponto do cenário e iniciando a cena seguinte. E o mais fantástico: Iñarritu consegue, mesmo sem corte, deixar claro quando horas ou dias se passaram, usando apenas a iluminação e a expressão facial dos atores. Trata-se, literalmente, de brincar com a imagem. O recurso serve também para passar a sensação de correria, de sufoco, de falta de descanso que circunda o nosso personagem principal.
Outro ponto é o uso de simbologias extremamente bem empregadas. Alguns exemplos: o filme já começa com Riggan se olhando no espelho e ao fundo, no reflexo, o quadro de Birdman. É algo que deveria ter ficado para trás, como num retrovisor, mas que infelizmente ainda está presente ao lado do personagem. Depois, quando a mesma crítica do New York Times diz que vai enterrar a peça de Riggan, ela põe a flor de volta na mão dele. Quer algo mais simbólico para um enterro do que uma flor? E, já no final, quando Riggan está no hospital, seu rosto enfaixado lembra muito o formato do rosto de um pássaro. Riggan, naquele momento, havia voltado ao estrelato, como nos tempos de Birdman.
O final é ambíguo. Mas uma coisa ficou clara: os “poderes” de Riggan para movimentar objetos ou voar eram delírio da cabeça dele. Basta ver que quando outras pessoas o viam ou falavam com Riggan, ele próprio estava quebrando os objetos (cena em que seu melhor amigo chega no camarim) ou apenas transitando pela cidade dentro de um carro (quando ele se imagina voando e depois um taxista vai atrás dele cobrar a corrida). Portanto, em que pese o lado lúdico existente na película, não creio que a interpretação do final deva seguir tanto por este caminho.
O que fica de mensagem é que Birdman foi causador e vítima do seu destino. Causador por ter alimentado a indústria que futuramente o destruiria. Vítima por não ter conseguido se desvencilhar das imposições de status do mundo moderno. O filme é um grito agonizante que - muito mais do que denunciar - implora pela salvação do cinema, do teatro e da arte.
VAI SER UM DOS MAIORES DIRETORES DE TODOS OS TEMPOS. É a história acontecendo e nós estamos presenciando. Que bom viver nesses momentos, que delícia ser atropelado, engolido, dilacerado por uma obra prima como esta. Obrigado, Dennis Villeneuve!
ABSURDAMENTE BOM! Inteligente, ácido, sombrio, prende a atenção o tempo inteiro! Não é tão simples de entender, mas depois que a gente vai ligando os pontos percebe o quanto a história - aparentemente absurda - é bem plausível. Em momentos pontuais, me lembrou "Clube da luta" e "De olhos bem fechados".
Pra quem viu e não entendeu, vou deixar duas dicas bem genéricas.
1- Adam professor e Anthony ator são a mesma pessoa! A cena que deixa isso mais claro é na única conversa entre ele e sua mãe. Um só reflete a mudança de comportamento do outro, de acordo com o momento da história. Reorganizando a cronologia da história, a grosso modo, dá pra dizer que ele começa começa como Anthony e depois abandona a vida de ator infiel pra viver como um professor tímido e fiel, que imagina ter uma amante. No finalzinho, quando a gente acha que Anthony já havia morrido definitivamente, ele acaba "voltando" ao espírito do nosso personagem. 2- As aranhas no filme simbolizam as mulheres que oprimem e CONTROLAM (Adam usam esse termo inúmeras vezes durante suas aulas) a vida do personagem. Quando ele se vê acuado, surge alguma aranha.
Com certeza um dos melhores filmes de 2014. Show de bola!
Não sei se é mais sensacional a forma como se delineia tão bem a personalidade de cada um do grupo ou a maneira de evidenciar as mudanças entre passado e presente que atinge o grupo como um todo.
Roteiro bem escrito, com diálogos densos e realistas, mas sem perder o humor em situações pontuais. É melancólico, se partirmos de um ponto de vista mais saudosista/efêmero; porém é romântico (no sentido amplo da palavra) quando vemos que no meio de tantas decepções o futuro vai nos trazer pessoas que permaneceram tão maravilhosas como eram em nossas lembranças. Com certeza um dos melhores filmes nacionais que já vi.
Um filme sobre alguém que perde a pessoa que mais ama e não tem, ao menos, o direito de sofrer. Pela época em que se passa a história, o homossexualismo era totalmente recriminado, ao ponto do personagem não poder sequer comparecer ao enterro do amado ou poder desabafar sobre a tragédia com seus colegas de trabalho. Ele diz claramente que faz parte de uma minoria invisível. Se a perda já é difícil pra qualquer pessoa, podar até o sofrimento de alguém só piora a situação.
Em meio ao caos que era a guerra fria, George é um dos poucos cidadãos que pouco se importa com a possibilidade de uma guerra eminente, afinal, ele não pretende viver mais. No seu cotidiano, o personagem delira, tem lembranças, sonha acordado com coisas boas e ruins do seu passado... existindo fisicamente nesta realidade, mas preso num mundo paralelo.
A melancolia da história - seja pela tragédia irremediável na vida de George, seja pela sociedade preconceituosa e fria em que vivemos - nos faz pensar em pessoas que já perdemos e nos raros momentos em que nos sentimentos REALMENTE CONECTADOS com alguém, como o próprio George diz. É de uma beleza singular....
A forma como ele inclina o expectador médio a acreditar que aquilo é realmente o fantasma da falecida mãe de Raimunda; como ele despreza totalmente isso e nos dá uma explicação racional pra tudo no final. Como ele mostra Raimunda, no começo da história, agindo exatamente igual a mãe anos antes. O quanto ele abusa das suas cores junto da beleza de Penelope Cruz, sem deixar ficar vulgar (o que provavelmente aconteceria com qualquer outro diretor).
São aspectos que encantam por tamanha sagacidade e feeling artístico.
Como pode existir alguém tão racional e tão sensível ao mesmo tempo, num mundo alienado e hostil como este? Só Almodovar mesmo. Ele é completamente apaixonante...
"It's like I'm reading a book... and it's a book I deeply love. But I'm reading it slowly now. So the words are really far apart and the spaces between the words are almost infinite. I can still feel you... and the words of our story... but it's in this endless space between the words that I'm finding myself now. It's a place that's not of the physical world. It's where everything else is that I didn't even know existed. I love you so much. But this is where I am now. And this who I am now. And I need you to let me go. As much as I want to, I can't live your book any more."
Aqui, o rei dos diálogos não se mostra tão afiado quanto nos seus outros filmes, embora traga lampejos desta alcunha. Achei muito interessante a cena em que Mason conversa com uma colega de escola enquanto caminha e ela o acompanha numa bicicleta, por uma rua estreita e quase deserta, em plena luz do dia. Lembra muito as cenas da trilogia do Antes, onde esse diálogo em movimento é constante.
A conversa de Mason com a namorada, sobre as redes sociais, também trazem uma das principais mensagens do filme: viver o momento é diferente de demonstrar viver o momento, e muitas vezes o segundo ato anula o primeiro. Isso se reforça com a cena final:
"Dizem que devemos aproveitar o momento, mas eu sinto que é o contrário. O momento é que está sempre se aproveitando de nós. Parece que é sempre agora."
É legal, ao ver o filme, notar não só a mudança de comportamento de Mason, mas também dos personagens secundários. Achei que poderia ser melhor trabalhado em alguns pontos - sobretudo durante a infância dele - mas é impossível retratar 12 anos de forma detalhada em um filme. A "criação" de uma personalidade peculiar pelo personagem, mesmo vivendo num meio tão "mainstream" (mães e padrastos conservadores, bullying no colégio, falta de habilidade nos esportes, etc), é o ponto alto do filme pra mim. Mesmo nadando contra a correnteza do "comum", Mason se torna uma pessoa única. Ele vence.
Essa "brincadeira" com o tamanho da tela em harmonia com o drama dos personagens é completamente encantador. A fotografia, que já seria fantástica, se potencializa com esse recurso. Encantador...
Puta merda! O que eu mais pensei durante o filme foi: como é bom, décadas depois, ter uma constituição que nos garante o mínimo de segurança/proteção. Como é assustador ver que um país de primeiro mundo pode ser tão xenófobo, sensacionalista e parcial. Acobertado por conceitos genéricos como "justiça social", "soberania" e "segurança nacional", o povo pode ser a maior massa de manobra em favor dos tiranos e, consequentemente, em desfavor próprio.
Essa história real é uma aula de direitos humanos e de política criminal. A dignidade da pessoa humana NUNCA pode colocada abaixo de governos ou religiões. É errado deixar livre um culpado; mas é imperdoável condenar um inocente. O filme, como obra, é uma aula de cinema dramático. Retalha a história de forma minuciosa, nos chama pra dentro da narrativa com técnicas simples e eficientes (aproximando a câmera do rosto dos personagens coagidos, por exemplo) e nos deixa perplexos com a brutalidade, com a ignorância, com a podridão da raça humana. A obra termina e - mesmo com a sentença final - a sensação de derrota é irreversível.
Duas certezas: que, apesar dos males políticos e sociais do Brasil (e do mundo), já estamos alguns passos mais seguros do que épocas passadas; e que a conscientização pode sim ser feita através da arte. Enquanto existir cinema nesse nível, existirá esperança.
Que filme lindo! Em alguns momentos cheguei a associar a grandes obras do cinema mundial, como Babel e Magnólia. Assim como eles, retrata histórias paralelas que se entrelaçam. Não tem nada de "viajado"; o filme tem começo, meio e fim bem delineados. Fica clara a crítica aos valores conservadores que ainda dominam os interiores e sobrevivem nas capitais. O machismo, o preconceito, o menosprezo a arte em detrimento da obediência.
O cinema pernambucano se consolidando entre os mais fortes do país. Que orgulho...
Aos demais, vejam "Flores do oriente", um filme protagonizado também por Bale, 20 anos depois, e realmente emocionante sem precisar de sensacionalismo, com uma temática similar.
Até a Eternidade
4.0 278Que lindíssimo filme sobre amizade. A melhor coisa do mundo, a única coisa que é sempre verdadeira, mesmo quando tentamos mascarar: a amizade. Que pancada é essa trilha sonora. Que sensibilidade desse roteiro!
E Marion Cotillard numa atuação deslumbrante. É pra levantar, aplaudir e não sentar mais nunca. OBRIGADO AO CINEMA ARTE!
Alabama Monroe
4.3 1,4K Assista AgoraRevendo pela segunda vez em menos de um ano e sentindo a mesma tristeza, o mesmo desamparo e a mesma dor. O country nos embala, nos faz flutuar e depois mergulhar em lágrimas. Que história visceral! Que dor enorme...
Dois Dias, Uma Noite
3.9 542Que atuação! Que final! Um drama sobre o mercado capitalista; sobre egoísmo e solidariedade juntos num mesmo evento. Uma história sobre a injustiça e a incapacidade de viver numa sociedade que se diz meritocrata, mas que hipocritamente alisa com uma mão e bate com a outra. Sandra sofria de depressão, isso fica claro desde o começo do filme. Ao final, nos questionamos: quem não sofre de depressão? Como não sofrer de depressão? E, mesmo assim, sabemos: continuaremos lutando contra isso todos os dias de nossas vidas.
É o cinema belga em ascensão. Que maravilha!
Depressão Entre Amigos
3.0 15pense num clichê!
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraMais um filme sensacional na filmografia de Alejandro Iñarritu. Ao contrário dos seus demais filmes, Birdman traz, além do drama, um cunho crítico ao mundo das artes, com algumas pinceladas de humor. O teor crítico é muito forte, sobretudo em dois pontos.
Primeiro: a narrativa expõe o lado sujo de Hollywood. O personagem de Keaton viveu seus momentos de glória e reconhecimento quando atuou num filme “blockbuster” de super-herói, cheio de ação, explosões e por trás de uma máscara. Décadas depois, já esquecido, ele tenta readaptar uma peça teatral e sofre com a falta de apoio da mídia, dos patrocinadores e do povo. Em um dado momento, Birdman (a voz imaginária que fala com o personagem) diz algo como: “já chega, você sabe que é um fracassado assim. Vamos voltar para a velha pornografia cinematográfica; chega de roteiros filosóficos e depressivos.” A postura da sensacionalista e parcial crítica teatral do New York Times resume o mundo das celebridades: por não gostar da ousadia de Riggan, ela afirma que vai destruir a peça dele sem ao menos tê-la assistido ainda. E pior do que a falta de profissionalismo e vaidade que cercam esta atitude é o fato de nós, leitores e expectadores, darmos tanta credibilidade a uma crítica de um meio de comunicação, ao ponto daquilo ser capaz de destruir um trabalho de meses dos profissionais da arte.
Segundo ponto no qual Iñarritu bate: a crescente necessidade de reconhecimento da nossa sociedade atual. Riggan, apesar de se mostrar talentoso e dedicado à arte na sua forma mais sublime, abdicando inclusive de enveredar por caminhos mais fáceis (o filme deixa claro que ele poderia ter dado sequência ao seu personagem de super-herói e também que ele rejeitou uma proposta para participar de um reality show), mostra-se um homem inseguro ao tentar a todo custo ser visto como uma celebridade novamente. Prova disso é a recorrente alucinação que ele tem com Birdman, uma voz que o atormenta a cada indício de falha que a sua peça apresenta. Riggan precisa se sentir especial novamente, precisa dos flashs, mas dessa vez ele já não aceita mais brilhar por trás de uma máscara; ele quer brilhar pelo seu talento. O ciúme dele pela presença do novo ator (o personagem de Edward Norton) só reforça esse ponto de vista um tanto quanto egoísta. Mas não é só o personagem principal que sofre dessa insegurança. Vez ou outra vemos referências às redes sociais, aos chamados “virais” que rapidamente aparecem na mídia e somem em questão de dias. É interessante quando Reggan diz a sua ex-mulher que se arrepende de ter filmado o nascimento da filha, pois ao invés de se preocupar com filmar ele deveria simplesmente estar ao lado das duas, aproveitando o momento. É o retrato de um mundo em que existimos para demonstrar o que desejamos ser, e não para sê-lo efetivamente.
Ademais, no aspecto técnico - e esta talvez seja a coisa que mais me encantou no filme - é a forma como foi filmado. Não dá pra percebermos NENHUM corte durante as duas horas da narrativa. Toda imagem é contínua; a câmera se move seguindo os personagens o tempo inteiro, e quando uma cena é finalizada vemos a imagem se dirigindo para outro ponto do cenário e iniciando a cena seguinte. E o mais fantástico: Iñarritu consegue, mesmo sem corte, deixar claro quando horas ou dias se passaram, usando apenas a iluminação e a expressão facial dos atores. Trata-se, literalmente, de brincar com a imagem. O recurso serve também para passar a sensação de correria, de sufoco, de falta de descanso que circunda o nosso personagem principal.
Outro ponto é o uso de simbologias extremamente bem empregadas. Alguns exemplos: o filme já começa com Riggan se olhando no espelho e ao fundo, no reflexo, o quadro de Birdman. É algo que deveria ter ficado para trás, como num retrovisor, mas que infelizmente ainda está presente ao lado do personagem. Depois, quando a mesma crítica do New York Times diz que vai enterrar a peça de Riggan, ela põe a flor de volta na mão dele. Quer algo mais simbólico para um enterro do que uma flor? E, já no final, quando Riggan está no hospital, seu rosto enfaixado lembra muito o formato do rosto de um pássaro. Riggan, naquele momento, havia voltado ao estrelato, como nos tempos de Birdman.
O final é ambíguo. Mas uma coisa ficou clara: os “poderes” de Riggan para movimentar objetos ou voar eram delírio da cabeça dele. Basta ver que quando outras pessoas o viam ou falavam com Riggan, ele próprio estava quebrando os objetos (cena em que seu melhor amigo chega no camarim) ou apenas transitando pela cidade dentro de um carro (quando ele se imagina voando e depois um taxista vai atrás dele cobrar a corrida). Portanto, em que pese o lado lúdico existente na película, não creio que a interpretação do final deva seguir tanto por este caminho.
O que fica de mensagem é que Birdman foi causador e vítima do seu destino. Causador por ter alimentado a indústria que futuramente o destruiria. Vítima por não ter conseguido se desvencilhar das imposições de status do mundo moderno. O filme é um grito agonizante que - muito mais do que denunciar - implora pela salvação do cinema, do teatro e da arte.
Incêndios
4.5 1,9K Assista AgoraVAI SER UM DOS MAIORES DIRETORES DE TODOS OS TEMPOS. É a história acontecendo e nós estamos presenciando. Que bom viver nesses momentos, que delícia ser atropelado, engolido, dilacerado por uma obra prima como esta. Obrigado, Dennis Villeneuve!
O Jogo da Imitação
4.3 3,0K Assista AgoraFinal pesado demais! Sai do cinema em lágrimas. Sensacional!
O Homem Duplicado
3.7 1,8K Assista AgoraABSURDAMENTE BOM! Inteligente, ácido, sombrio, prende a atenção o tempo inteiro! Não é tão simples de entender, mas depois que a gente vai ligando os pontos percebe o quanto a história - aparentemente absurda - é bem plausível. Em momentos pontuais, me lembrou "Clube da luta" e "De olhos bem fechados".
Pra quem viu e não entendeu, vou deixar duas dicas bem genéricas.
1- Adam professor e Anthony ator são a mesma pessoa! A cena que deixa isso mais claro é na única conversa entre ele e sua mãe. Um só reflete a mudança de comportamento do outro, de acordo com o momento da história. Reorganizando a cronologia da história, a grosso modo, dá pra dizer que ele começa começa como Anthony e depois abandona a vida de ator infiel pra viver como um professor tímido e fiel, que imagina ter uma amante. No finalzinho, quando a gente acha que Anthony já havia morrido definitivamente, ele acaba "voltando" ao espírito do nosso personagem.
2- As aranhas no filme simbolizam as mulheres que oprimem e CONTROLAM (Adam usam esse termo inúmeras vezes durante suas aulas) a vida do personagem. Quando ele se vê acuado, surge alguma aranha.
Com certeza um dos melhores filmes de 2014. Show de bola!
A Grande Beleza
3.9 463 Assista Agora"A saudade é um filme sem cor
Que o meu coração quer ver colorido."
Diz a letra de Zeca baleiro que me leva de A doce vida, de Fellini, até A grande beleza.
Um filme sem cor que o meu coração quer ver colorido.
O cinema encanta, o cinema salva vidas. Eu sou um deles.
Entre Nós
3.6 619 Assista AgoraNão sei se é mais sensacional a forma como se delineia tão bem a personalidade de cada um do grupo ou a maneira de evidenciar as mudanças entre passado e presente que atinge o grupo como um todo.
Roteiro bem escrito, com diálogos densos e realistas, mas sem perder o humor em situações pontuais. É melancólico, se partirmos de um ponto de vista mais saudosista/efêmero; porém é romântico (no sentido amplo da palavra) quando vemos que no meio de tantas decepções o futuro vai nos trazer pessoas que permaneceram tão maravilhosas como eram em nossas lembranças. Com certeza um dos melhores filmes nacionais que já vi.
Direito de Amar
4.0 1,1K Assista AgoraUm filme sobre alguém que perde a pessoa que mais ama e não tem, ao menos, o direito de sofrer. Pela época em que se passa a história, o homossexualismo era totalmente recriminado, ao ponto do personagem não poder sequer comparecer ao enterro do amado ou poder desabafar sobre a tragédia com seus colegas de trabalho. Ele diz claramente que faz parte de uma minoria invisível. Se a perda já é difícil pra qualquer pessoa, podar até o sofrimento de alguém só piora a situação.
Em meio ao caos que era a guerra fria, George é um dos poucos cidadãos que pouco se importa com a possibilidade de uma guerra eminente, afinal, ele não pretende viver mais. No seu cotidiano, o personagem delira, tem lembranças, sonha acordado com coisas boas e ruins do seu passado... existindo fisicamente nesta realidade, mas preso num mundo paralelo.
A melancolia da história - seja pela tragédia irremediável na vida de George, seja pela sociedade preconceituosa e fria em que vivemos - nos faz pensar em pessoas que já perdemos e nos raros momentos em que nos sentimentos REALMENTE CONECTADOS com alguém, como o próprio George diz. É de uma beleza singular....
Volver
4.1 1,1K Assista AgoraJá havia esquecido como este filme é bom!
A forma como ele inclina o expectador médio a acreditar que aquilo é realmente o fantasma da falecida mãe de Raimunda; como ele despreza totalmente isso e nos dá uma explicação racional pra tudo no final. Como ele mostra Raimunda, no começo da história, agindo exatamente igual a mãe anos antes. O quanto ele abusa das suas cores junto da beleza de Penelope Cruz, sem deixar ficar vulgar (o que provavelmente aconteceria com qualquer outro diretor).
Como pode existir alguém tão racional e tão sensível ao mesmo tempo, num mundo alienado e hostil como este? Só Almodovar mesmo. Ele é completamente apaixonante...
Ela
4.2 5,8K Assista Agora"It's like I'm reading a book... and it's a book I deeply love. But I'm reading it slowly now. So the words are really far apart and the spaces between the words are almost infinite. I can still feel you... and the words of our story... but it's in this endless space between the words that I'm finding myself now. It's a place that's not of the physical world. It's where everything else is that I didn't even know existed. I love you so much. But this is where I am now. And this who I am now. And I need you to let me go. As much as I want to, I can't live your book any more."
:(
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraPoucas vezes vi um título ser tão bem atribuído a um filme como neste. Excelente!
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraAqui, o rei dos diálogos não se mostra tão afiado quanto nos seus outros filmes, embora traga lampejos desta alcunha. Achei muito interessante a cena em que Mason conversa com uma colega de escola enquanto caminha e ela o acompanha numa bicicleta, por uma rua estreita e quase deserta, em plena luz do dia. Lembra muito as cenas da trilogia do Antes, onde esse diálogo em movimento é constante.
A conversa de Mason com a namorada, sobre as redes sociais, também trazem uma das principais mensagens do filme: viver o momento é diferente de demonstrar viver o momento, e muitas vezes o segundo ato anula o primeiro. Isso se reforça com a cena final:
"Dizem que devemos aproveitar o momento, mas eu sinto que é o contrário. O momento é que está sempre se aproveitando de nós. Parece que é sempre agora."
É legal, ao ver o filme, notar não só a mudança de comportamento de Mason, mas também dos personagens secundários. Achei que poderia ser melhor trabalhado em alguns pontos - sobretudo durante a infância dele - mas é impossível retratar 12 anos de forma detalhada em um filme. A "criação" de uma personalidade peculiar pelo personagem, mesmo vivendo num meio tão "mainstream" (mães e padrastos conservadores, bullying no colégio, falta de habilidade nos esportes, etc), é o ponto alto do filme pra mim. Mesmo nadando contra a correnteza do "comum", Mason se torna uma pessoa única. Ele vence.
Mommy
4.3 1,2K Assista AgoraEssa "brincadeira" com o tamanho da tela em harmonia com o drama dos personagens é completamente encantador. A fotografia, que já seria fantástica, se potencializa com esse recurso. Encantador...
Ouija: O Jogo dos Espíritos
2.0 982 Assista AgoraPífio.
Em Nome do Pai
4.2 413 Assista AgoraPuta merda! O que eu mais pensei durante o filme foi: como é bom, décadas depois, ter uma constituição que nos garante o mínimo de segurança/proteção. Como é assustador ver que um país de primeiro mundo pode ser tão xenófobo, sensacionalista e parcial. Acobertado por conceitos genéricos como "justiça social", "soberania" e "segurança nacional", o povo pode ser a maior massa de manobra em favor dos tiranos e, consequentemente, em desfavor próprio.
Essa história real é uma aula de direitos humanos e de política criminal. A dignidade da pessoa humana NUNCA pode colocada abaixo de governos ou religiões. É errado deixar livre um culpado; mas é imperdoável condenar um inocente. O filme, como obra, é uma aula de cinema dramático. Retalha a história de forma minuciosa, nos chama pra dentro da narrativa com técnicas simples e eficientes (aproximando a câmera do rosto dos personagens coagidos, por exemplo) e nos deixa perplexos com a brutalidade, com a ignorância, com a podridão da raça humana. A obra termina e - mesmo com a sentença final - a sensação de derrota é irreversível.
Duas certezas: que, apesar dos males políticos e sociais do Brasil (e do mundo), já estamos alguns passos mais seguros do que épocas passadas; e que a conscientização pode sim ser feita através da arte. Enquanto existir cinema nesse nível, existirá esperança.
O Balconista
3.9 221 Assista AgoraRandal (L)
A História da Eternidade
4.3 448Que filme lindo! Em alguns momentos cheguei a associar a grandes obras do cinema mundial, como Babel e Magnólia. Assim como eles, retrata histórias paralelas que se entrelaçam. Não tem nada de "viajado"; o filme tem começo, meio e fim bem delineados. Fica clara a crítica aos valores conservadores que ainda dominam os interiores e sobrevivem nas capitais. O machismo, o preconceito, o menosprezo a arte em detrimento da obediência.
O cinema pernambucano se consolidando entre os mais fortes do país. Que orgulho...
Prometo Um Dia Deixar Essa Cidade
2.5 14O que há de comum entre política, família e as grandes cidades no mundo moderno?
Testemunha de Acusação
4.5 353 Assista AgoraTriste dos que não se dão ao luxo de voltar algumas décadas e ver filmes com um roteiro desse porte. Muito bom!
Quanto Mais Quente Melhor
4.3 853 Assista AgoraQue mulher é essa? O olhar derrete, a voz hipnotiza, o corpo faz suspirar...
Estive completamente apaixonado por 2 horas.
Império do Sol
4.2 455 Assista AgoraSpielberg: o rei dos populares.
Aos demais, vejam "Flores do oriente", um filme protagonizado também por Bale, 20 anos depois, e realmente emocionante sem precisar de sensacionalismo, com uma temática similar.