O filme tem uma construção psicológica muito boa. Não dá pra simplesmente minimizá-lo a um "plot previsível" de suspense, quando o tempo inteiro ele te dá pistas de clareza nos detalhes, tampouco se apoia 100% nesse twist. Sem essa intenção de surpreender o espectador (atento), a grandeza do filme está na abordagem e na tensão progressiva.
1 - Um dos gêmeos morreu possivelmente num incêndio. Alguns detalhes apontam para isso: a mãe, embora não seja superprotetora (o filme começa com o(s) filho(s) nadando sem supervisão), praticamente surta quando o encontra com um isqueiro. Ela não cozinha, embora tenha condições de contratar empregados para isso. Ela faz um estoque de comida congelada, que não precisa de fogo. A cirurgia que ela faz pode ser de correção de cicatrizes oriundas do incêndio que matou um dos filhos.
2 - No começo ela incentivou a imaginação do filho a respeito do irmão morto, como um amigo imaginário, como forma de amenizar a dor dele (e a dela também). Porém, antes da cirurgia algo aconteceu, e ela resolve não participar mais dessa "brincadeira".
3 - O Elias (o filho sobrevivente) passa a considerar a mãe como uma estranha. Um dos motivos é de que, se ele acreditar que ela realmente é a mãe, e como ela não finge mais que o irmão está vivo, por consequencia ele tem que admitir que o irmão morreu. Acreditar que ela não é a mãe é manter o irmão "vivo".
4 - Aquele cemitério onde encontram o gato pode ter sido uma vala comum. O filme é europeu e pode ter sido o caso. Muita gente fica matutando sobre esse lugar e eu também fiquei.
5 - Gatos quando estão perto de morrer se escondem, talvez por isso ele estava naquele lugar. Ele provavelmente morreu de causas naturais, mas isso colabora com a "teoria" de que a mãe é uma impostora.
6 - A cena final, dos 3 juntos é na verdade o Elias sozinho, porém, na sua imaginação doentia, agora a mãe também faz parte dele. (!!!)
7 - Isso tudo caiu por terra quando me disseram para rever a cena final da casa em chamas. Enquanto os bombeiros trabalham, ao fundo dá para ver uma mulher de camisola branca saindo da casa e sumindo (arrepiante!).
Porque as revoluções começam e movem-se nas sombras, cautelosas e tênues. Custam a ganhar corpo, modificam-se, reorganizam-se, e vão. Pequenos manifestos são ou se tornam grandes, aos poucos, necessários ao triunfo. À visão de FUTURO. E seus nomes valorizam com o tempo, uma vez redescobertos. Tudo ganha um significado maior assim, abrangente e importante, para enriquecer a história que conhecemos (A New Hope), e as raízes de toda a luta. Por trás de pequenas batalhas avulsas, quantas vidas e idas, transformadas, anônimas, perdidas... Quantos sacrifícios pelo objetivo maior? Rogue One nos revela esse lado da guerra: o que antecede ao que entrou para a história? Há mais heróis e atos grandiosos do que imaginamos. Quantos teremos a honra de conhecer e respeitar sua memória? Como a experiência transformadora de Jyn Erso, levada pela onda do destino, de algo tão maior que ela, para enxergar além, ir além, e achar um sentido de viver, pelo qual lutar, integrar e abrir caminhos. Essa é a grande força da ideia de Esperança que buscamos.
Seria um capítulo especial, mas é na verdade um prólogo. Muito bom. Personalidades marcantes num tempo sombrio e efêmero de vida... mas que souberam deixar sua marca, ainda que fosse significar para poucos. Efeitos especiais excelentes!
Grandiosa atuação de Halle Berry, impecável! Mas um roteiro morno e pouco apuro técnico tornam o filme um tanto apagado. Como Frankie, Halle captou com severidade as facetas e alteridades de uma personagem alquebrada, dividida e sem direcionamento. É muito convincente e quase hipnótico vê-la alternar personas em uma sessão psiquiátrica. A protagonista perpassa por momentos altos e baixos, de firmeza, convicção, insegurança, de inocência, sarcasmo, tristeza e elegância. São trejeitos e minuciosidades que Halle transmite com veemência em cena. Se fosse mais longe, junto com um filme melhor produzido, com uma veia psicológica firme e rítmica, teria desvendado mais que uma personalidade multifacetada perante quadro clínico. Naquele ano esse êxito ficou com Cisne Negro.
O problema na narrativa de Frankie & Alice (meio documental, meio biográfica, meio telenovela) limitou uma imersão interpretativa, acredito. Com isso, o filme se torna esquecível, sem uma identidade narrativa nova, explorável e diferencial, a qual podia se aventurar. A montagem é exausta, entrecortada de fades; a trilha sonora é realmente fraca e não alcança clímax ou a emoção que a protagonista necessita, ou que as cenas pedem para serem maiores. É uma bela história para uma produção tão pequena. É uma grande personagem para pouco material. Mas é para achar um fôlego na carreira de uma atriz que chegou tão alto e caiu com igual facilidade após contratos ruins. Halle Berry tem potencial, é uma ótima atriz e eu me interessei pelo filme só por causa dela. Acredito que tudo o que lhe falta é uma boa parceria na indústria, para virem bons papéis. Sob essa perspectiva, o filme soa melhor, ganha uma chamada de atuação, teve breve reconhecimento de alguns prêmios, mas é isso, como um passo adiante dado por Halle.
Segue a cena final descrita no roteiro original do filme:
"He nods. They rise from their seats and head for the exit. Just as they reach the door, and as David steps out, Mia turns and looks back at Sebastian. He looks at her. Their eyes lock. A hint of a tear in both... And, ever so subtly, for just a fleeting second, Mia smiles. It's the kind of smile you could miss if you blinked -- but it's enough to signal to Sebastian that she recognized the melody he played, and that she still remembers it, and still thinks of it to this day..."
Jeff Nichols configurou um olhar diferente a Loving, como drama biográfico. Porque é muito comum encontrar melodramas apelativos nessa linha de gênero: com trilhas sonoras excessivas, diálogos carregados, muitas lágrimas e outros exageros. Mas a versão que o diretor nos entrega aqui é pura e mais que tocante.
E a verdade dessa história é consumada na forma como a narrativa é inserida no ponto de vista do casal, que assim desdobra-se. Toda a composição nos conduz a um ritmo leve, anticlímax, de silêncios entre sofrimentos, pequenas injeções de dor e delicadeza. São minuciosidades singelas que nos aproximam de Richard e Mildred, essas pessoas tão simples e íntegras, formandas nessa mesma composição. Loving, a partir de então, assume um temperamento atmosférico similar aos próprios Loving. Isso me faz pensar numa versão interessante de fidelidade a uma história real! Espero que Nichols esteja fazendo disso uma marca - é o primeiro filme dele que assisto.
A linguagem técnica cuida tão bem dos pormenores. Os quadros, sem muitos closes, nos permite acompanhar uma valorização de olhares absurda, de gestos e trejeitos, do toque, do sorriso de escanteio, o timbre ou o arfar da voz, e outras comunicações expressivas que se tornam, por vezes, altamente emotivas. Essas coisas enchem de beleza as subjetividades dos personagens, e prende nossa percepção. São esses detalhes que fazem o filme, e é por isso que as atuações são grandiosas.
Como é bonito e bem destacado os olhos de Ruth Negga. Sua transparência com a personagem é encantadora. O filme percorre nove anos timidamente, mas é possível descrever no olhar de Mildred Loving muitas passagens de uma vida; a mulher sonhadora, irmã e filha, insegura, mãe e desafiadora, e em todo tempo esposa. A carga de mudanças sofridas pela personagem é vasta, mas todas essas facetas foram entregues sutilmente com uma atuação, eu não diria contida, mas branda.
Um sentimento recorrente nela é seu senso de pertencimento. De viver no campo, perto das pessoas que ama, no lugar que diz tudo sobre ela, e lá viver com sua família. Gosto disso, pois representa uma grande força de fixação e sinceridade.
A cena que vai ficar, acerca disso, é o momento em que ela recebe a boa notícia por telefone. Aquela espera se desfazendo, ela corre pra observar lá fora, com a felicidade e segurança, o que seria o bastante para sua família e exatamente daquele jeito dali pra frente. Rich estava feliz com as crianças.
O trabalho de Joel Edgerton, como já foi observado, captura um lado da masculinidade americana raramente retratado. Um homem inarticulado, de fala comedida, mas abundantemente preenchido. Esse viés esquivo, torto, mãos nos bolsos, tentando sempre não ter que se explicar. Quanto cuidado. Por que era incompreensível seu direito de amar? Richard Loving era aquela pessoa que sempre tinha algo no horizonte.
Ele estava supostamente distraído enquanto observava lá fora, durante o parto de Mildred. Tratava-se de uma deixa, uma espera que fazia de sua mãe para pegá-la sozinho em sua pessoalidade, e terem aquele momento de sinceridade. Ou quando ele é perturbado pela entrevista em casa e chama a esposa para conversar lá fora. Essa particularidade me chamou muita atenção. Diz muito sobre o sufocamento que pessoas reservadas sofrem em momentos incômodos. E no fim ele só precisava de algumas palavras acalmantes. rs
Que personalidade. E ainda há pessoas assim no mundo, cheias de formas de demonstração.
Enfim, com esse entendimento que tive, creio que tenha ficado bem essa narrativa enxuta, singela e limpa. Linear em seu conflito. A contenção aqui é entendida como característica fundamental para a sensibilidade de tudo. Simplicidade é força.
Michael Shannon fez uma ótima, pequena participação. Surpresinha!
"Os termos complexos que os economistas usam são propositais, para confundir as pessoas." Emburrecedores.
No fim, com todos os recursos linguísticos do filme, o resultado ainda soa muito documental. Não sei se a comunicação em off com o espectador funciona muito como suporte. O desenvolvimento pode ficar entediante, em partes por isso, mas acredito que está tudo bem amarrado e distribuído na trama. Dá pra se situar acerca do ocorrido da época, da crise, etc. Bom roteiro.
Muito cinismo dinheirista! Acompanhar desse ponto de vista interno, do processo de investimentos de grandes raposas no cenário de Wall Street, é quase cômico, quase dramático e quase trágico.
Eu poderia dizer que não veria outra vez, mas provavelmente voltarei em busca de mais informações. O filme termina com essa sensação de que você deixou passar vááárias coisas.
"Me pinto a mi misma porque estoy sola muy a menudo y soy el tema que mejor conozco."
Frida tinha uma força interior infinita. Essa mulher que se redescobria na pintura e nela se expressava tão imensamente carnal. É de um valor e plenitude humana impressionante - ainda que plenitude não fosse um sentimento presente para ela. Entendemos nesse filme um pouco de como esse poder poético floresce de uma mulher tão radiante. Frida viveu com suas fragilidades e incertezas, um inconformado desejo de maternidade que não pode dedicar senão a si mesma. Caminhou entre o sofrimento físico e emocional, amadureceu rápido com as feridas e desilusões as quais pintou. Frida foi uma alma grande e leal, mas desamparada e em pedaços. As partes afetivas de si mesma, pedaços vazios ou corrompidos, os estados emocionais profundamente sentidos e de necessidade vital, tudo posto no pincel em tantas facetas.
O que a torna uma mulher a frente do seu tempo é, entre outras coisas, sua natureza viva e intrínseca; Como ela desfez-se na arte, como converteu sua identidade em manifesto e busca pessoal. Frida conseguiu transpor para a tela o irrepresentável, o sofrimento individual, e o que diz respeito ao corpo e à sexualidade feminina. Sua obra possui essa incrível beleza trágica e intrapessoal. O espelho de sua alma, cujo reflexo servia para contenção e integração. Uma forma de cura.
Um filme de 123 minutos é pouco para a vida de Frida Kahlo. O filme não alcança Frida em toda sua instância. É um belo recorte (amoroso) de uma vida marcada de cicatrizes, entretanto toda a imersão artística dessa mulher fragmentada desencaminha com as nuances abordadas em volta de Khalo e Rivera. Não vemos a revolução interior, o sentimento de desintegração, sobre a virtualidade do seu universo inconsciente nas imagens, a imaginação e a pintura como janelas de sua psique, sobre as origens de sua inspiração quando sangrava nas cores de seus quadros. A linha entre o psicológico e a erupção passional na arte fica incompleta, e por fim sua carreira é pouco explorada. Acredito que de fato mergulhar na mente de Frida ia de contra a narrativa proposta.
O erro mais evidente e significativo foi a venda do idioma, isso desvalorizou muito a língua falada (espanhol), as expressões, e comprometeu em muito a interpretação e a atmosfera popular de época. Esses detalhes compõem o tipo de comunicação, a linguagem daquelas pessoas, que devia ser única e contribuir para a essência da história. Enfim, esse foi um método para levar o filme mais longe.
Alguns personagens importantes na vida de Frida ficaram dispersos antes de se situarem na trama. Ficou uma espera para as relações do núcleo familiar. Sabe-se da importância de seu pai e irmã. A abordagem do contexto histórico foi boa, mostra a consciência política de Kahlo e seu espírito guerreiro. Salma entrega uma performance sólida e feroz, feliz em sua proposta. E mais dois pontos altos da obra são as passagens das telas para as cenas vivas (brilhante!), tanto quanto a trilha adorável de Elliot Goldenthal.
Deixa a desejar como produto biográfico de uma das maiores personalidades o século 20, mas está em média e vale a pena conferir; é uma porta de entrada, uma ponte, e não soa tão didático, apesar de servi-lo. A dedicação de Julie Taymor e Salma Hayek fica como um objeto de capricho e triunfo, por uma homenagem de valor franco, bem vendida, que possibilitou maior abundancia da imagem da artista, sobretudo na cultura pop. Frida pintava o seu coração com a mesma intensidade a que transbordava. Encantadora, magnética, irreverente. Uma figura solar.
O preconceito transparece e sobressai com o humor das pessoas? Especialmente em situações extremas. E se justifica assim, ordinário. Seja isso revelador ou não, Crash nos mostra como seus personagens mais comuns de uma sociedade (americana) redireciona aquilo que absorve, de um preconceito sofrido, e de um jeito ou de outro, numa equivalência (pessoalmente medida) para outrem. Uma necessidade de devolução, de descarrego, que esvai com o humor e a descarga de estresse. Como lixos. Apenas com isso, nos deparamos com um material com retratos altamente discutíveis dos valores e problemas de uma sociedade. Diria esses universais.
Crash encaminha os reflexos do preconceito: alguém que o sofre também é capaz de praticá-lo, totalmente submetido, em alguma circunstância exaustiva, frustrante e até descontraída. Pode originar-se de indignação, de intolerância, comodismo, conformismo, arrogância, e por que não capricho? Um verdadeiro baralho de cartas defensivas-ofensivas.
Existe ainda a questão de colocar-se à prova, melhor e casualmente como ocorre, nos próprios limites; até que se visualizem julgamentos que estão introduzidos e enraizados no plano mais íntimo. Os preconceitos trabalhando subliminarmente. O que é (des)necessário para você ultrapassar a linha? Até que ponto você vai? É para onde o filme trabalha: limites. O que podemos ou não suportar em nossas faculdades éticas.
O que é curioso é como esses seres sociais, tão individuais, mostram essas facetas discriminativas em situações inumeráveis e impagáveis. E como estas pessoas revelam sinuosamente traços de suas formações através disso. As diversas formas como o filme combina e brinca/desconstrói os padrões de preconceito contido nas personagens, ajuda-nos a entender a crua inerência dessa característica na veracidade humana. A cidade de Los Angeles intensifica a parábola de infinidade e falta de limites, das diferenças e invisibilidades – tamanho o choque cultural.
Para onde o filme caminha, o retrato fica mais sincero e talvez previsível, mas ainda incomoda por chegar a este ponto. Enquanto as pessoas não se olharem e se reconhecerem, uns aos outros, estarão alimentando seus preconceitos. Assim fica Crash, no limite.
"Não importa onde estamos, nossa mente é o nosso lar."
A transição para a vida adulta é um processo muito naturalmente turbulento. O retrato que o filme capta sobre isso é com formas tão singelas quanto as cores de sua fotografia. Numa américa cinquentista e o mais esperançoso cenário pós-guerra, acontece um exemplo limpo de mudanças, entremeio aquela profusão de vidas à deriva no mundo; entremeio divisões e incertezas: o desabrochar de questões e escolhas que se recolhem na sua própria existência, e o senso de sabedoria e decisão que devem vir com isso, muitas vezes com tanto peso e cobrança. Eillis atravessa sutilmente um caminho que por escolha trouxe o enfrentamento, o desapego e por fim a adaptação, processos que moldam e destilam a formação de uma moça em tamanha instância de vida. Atravessando um rio denso, ela inspira recomeço. Sua migração não é apenas de lugar, mas de ser. Uma mudança intrínseca e anestesiante está espiralando: viver segundo um padrão escrito por outrem? Mas o que eu quero pra mim, afinal? Em determinado ponto, Eillis não percebe, mas seu amadurecimento se faz saudável numa busca por significados.
A volta é uma experiência de compreensão. Por vezes, súbita e invisível, e isso se mostra importante. Da mesma forma, enxergar como algumas coisas ficam da maneira que são, estagnadas e acomodadas, revela-se sob contrastes e nova lucidez. O intriguismo tradicional aguardou Eillis, mas "Quem viaja, jamais volta.", como diria o poeta. À essa altura, Eillis já sabia exatamente quem ela era.
E mesmo para uma mulher de novos ares, as muitas faces da escolha sussurram para o impasse. Essas situações são boas de acompanhar por se tornarem tão comparáveis e compatíveis de identificação. O deslocamento e a procura de posição, o arrependimento e a consequência de emoções possibilitou o pertencimento sólido e Eillis, por fim, se situou, resoluta. Verdadeira resiliência.
A comunicação das pessoas é interessante de observar. Indo além do sotaque visto, gosto muito da valorização dos gestos, o valor do silêncio e o que há de puro nisso, na linguagem subjetiva do olhar. E são nuances muito bem acentuadas na narrativa do filme. Saoirse Ronan com seu olhar fluorescente torna essa experiência mais bela.
Brooklyn mereceu todo o reconhecimento, o que é difícil para filmes dessa naipe, de narrativa suave, condução morna e bem adaptada. Continuará dividindo opiniões sobre seu valor porque se fez presente em categorias de peso no Oscar 2016? Por ser um filme tímido, não tão radiante como os demais com que concorrera, dirão por ser um indie da vez superestimado (mais por questões de posição) - quando também por um lado, fora subestimado e talvez o continue sendo. Mas é aquele ditado, vamo fazer o quê?
Rever Brooklyn renova as impressões. Uma história de transições e temas universais à condição humana.
O cinema singelo de Anderson para contar as incongruências e transparências pessoais do instituto família. Os Excêntricos Tenenbaums já começa com uma linda aproximação literária, semelhante à colocada em O Grande Hotel Budapeste, para seguir uma divisão de capítulos charmosa. E a introdução dos personagens cheios de manias já prescreve uma entrega repleta de disfunções. A narrativa lúdica de Wes, com todas as suas assinaturas simétricas, aventura-se nas esquisitices de uma família cercada de defasagens. O tempo teria realçado suas alteridades e os tornado individuais, separados em suas existências. E por trás de uma dívida de distância as desavenças veladas, rancores e incompreensões jamais ditos. Assuntos não terminados que podem voltar a tona, e para os Tenenbaums, da forma mais cretina. O cinismo do pai falido é o mote para a sequência de situações impagáveis de volta àquela casa, num esforço sem expectativas de renovar o ambiente familiar, reunido sem qualquer costume. É interessante observar o amadurecimento (emocional) desses personagens num núcleo que aos poucos sofre para cicatrizar feridas passadas e corações partidos, quando aprendem, uns aos outros, com suas próprias mudanças. A canalhice de Royal Tenenbaum ou suas marotagens de avô, a indiferença dispersa da Margot e seu olhar blasé, Chas sendo metódico o tempo todo, e a vontade que dá de abraçar o Richie? Como não se cativar? Um roteiro feliz por abordar a reconciliação tardia e fortalecimento de laços perdidos, mas não esquecidos. Cenografia teatral fica mais adorável dentro da paleta de cores característica do diretor. O filme é bem ritmado, afinal não se escapa um minuto de criatividade. Disfuncionalidades da vida e muitas impressões curiosas tiradas desse trabalho. Sexto Wes Anderson que me ganha. Bom resultado!
Atmosfera noir e ritmo arrastado, quase contemplativo. Imagino essa trama sci-fi em produções alternativas, igualmente obscuras e futurísticas, talvez alucinantes - como deixa a promessa desse título "O Caçador de Andróides" -, e vejo um universo cyberpunk ampliado como poderia ser, de grande pretensão mas mal explorado. Gosto das reflexões acerca da condição humana nessa realidade longínqua. É o tipo de filme que se permite acrescentar a cada exibição.
Personalidades bem características desse tipo de trama, mas posicionadas e ligadas por laços que nos permite ver acima de suas velhas e conturbadas histórias. Mais bonito é ver esses irmãos refletindo-se diferentes, dessa forma divididos no remorso e rancor (e por que não na busca de redenção do pai?), e se alcançarem através da luta, em meio a tensão e ansiedade, aqui envolventes. Para eles, a luta mostra-se uma linguagem resolutiva entre a ausência e a carga passional. Por fim tudo assume um tom reconciliador. Muito bom e boas atuações.
E à parte de toda a feiura humana que cai covardemente sobre a bondade de Selma, podemos ver, através da sua sensibilidade, que a imaginação dessa mulher é o que ela tem de mais belo, e como isso a torna tão pura. Selma enxergava um mundo mais possível e encantador entre o real e a cegueira, sua música sensorial era seu grande refúgio, e aquilo era tão mais vivo nela que a fotografia do filme o evidencia em cores! Foram os momentos de canto que a fez transparente consigo, feliz e completa. Um conforto imenso. Isso foi notável pra mim com uma beleza poética e única, sobretudo Bjork e sua música. Bjork tem a própria música em sua essência, ela coloca pra fora sua música, mesmo nesse papel está à prova como ela transmite isso com tanta naturalidade. E com essa direção, o resultado só pode ser essa obra de arte excelente.
"Um Universo no Olhar" é um título atraente para o envolvimento adiante. Soa inteligente ao que compromete, soa expansivo, e acredito que aqui paira a grande mensagem do filme: De ver através, e o que há de mais puro e ascendente nisso.
Ver através de suas convicções, certezas, de suas construções e barreiras, das próprias limitações, entre outras coisas. Há poesia de tamanho por absorver frente a isso. E quando ver através do olhar torna possível o espírito, a beleza da alma mostra sua grandeza. Assim foi para Ian. A quanto ele arriscou desconstruir suas verdades?
O filme desliza sutilmente acerca dessa transcendência no olhar, para tudo no mundo. Isso é lindo quando entendemos, ao entrar pela porta do romance de Ian e Sofi. O amor transcendeu - Ian, Sofi, Karen e Solamina -, sem medidas com a balança da ciência e religião. E você que assiste pode assimilar mais além do que é mostrado, sem a necessidade de amarras com um debate que não passa de pormenor na história.
Para mim foi mais abundante experimentar a película pelas ideias e encanto dos olhos, existe uma abrangência, talvez não tão evidente mas possível; onde se acha o amor, as linguagens do olhar, onde transparece os sentimentos, os reflexos do ser.
Os olhos são espelhos de sua essência. Tudo compõem deles universos. Vê a poesia crescente nisso? Essa é a persuasão que você tem de se convencer. Um universo no olhar.
Tudo indica que é um dos destaques do ano. Está muito bem aclamado, por toda a composição da película, e sobretudo pela atuação da Ronan. +Quero Muito Ver!
Muito, muito, muito extremo. Não me provoque, não me teste, não me tente, nem me desafie! Se me atacar eu vou atacar! Hahaha A selvageria primata é latente na natureza humana!
A nota especial desse filme é como deixa pairar o quê de curiosidade no fim, de como Truman lidaria com o nosso mundo depois de uma vida feita de experiências montadas e ensaiadas, ou como sua educação e formação de vida (incluindo os valores, credos, ensinamentos e cultura de um mundo teatral e fechado) se sobressairia num universo, em parte, diferente do qual ele cresceu. Em parte, porque acredito que certamente a fama não permitiria afora o assédio, entre outras coisas. Me pergunto o que realmente mudaria para uma figura como ele, depois de descobrir a farsa de seu mundo, e sentir-se "livre". Seria curioso ver como ele iria conhecer pessoas reais, também falsas e cheias de defeitos, de diferentes interesses, tão parecidas mesmo com os atores e atrizes do reality. A manipulação e o roteiro do Show acaba sendo uma alusão à realidade que não queremos enxergar. Uma sátira. Excelente demais, palmas pro Jim.
“Sabia o que se exigia dela. Não apenas uma carta, mas um novo rascunho, uma reparação, e ela estava pronta para começar.”
Desejo e Reparação é uma obra cheia de diferenciais. Desde o primeiro momento eu me senti levado pela percussão da máquina de datilografar a acompanhar os passos da pequena Briony pelo casarão Tallis. A criatividade da menina era algo curioso de se ver, e por conta disso eu, assim como tantos, devo imaginar, senti uma mistura de expectativas boas e ruins para com ela; desejos ruins especialmente quando Briony revela-se dona de um imaginação (inocentemente) perigosa. Esse primeiro tempo do filme possui um ar nostálgico, a presença nublada da luz envolve as cenas com um tom de sonhos, e adiante entende-se que realmente tratava-se de uma cena deixada no passado. É importante destacar esse detalhe porque aqui a fotografia é impecável. Para cada tempo, cores e luzes dão forma e identidade aos ambientes que representarão memórias e guerra com sentimentos próprios e tons, uma beleza sensorial que ganha parte aos diálogos. Mais uma característica importante é a desconstrução da narrativa, que marca a condução do filme e torna os acontecimentos com os personagens interessante de se acompanhar. Longe de ser simplesmente uma quebra de cronologia, a rememoração apresentada surpreende quando se revela também uma reconstrução do passado.
O elenco só segue mais admiração. Keira Knightley encanta em seu papel com olhares, gestos e beleza de uma moça delicada que sofrerá grandes mudanças e amadurecimento. James McAvoy foi excelente, quanto mais nos dias incessantes onde o sofrimento e as causas ecoantes da guerra fez um martírio de esperanças e passado derrubar seu personagem Robbie.
Não dá pra deixar passar que a cena da praia arruinada de Dunkirk, na França, é um dos melhores retratos de guerra já feitos no cinema, não tenho dúvidas.
Essa é uma história que passa diversos ensinamentos e faz refletir sobre valores da ordem social daquela época. Como o desastre de várias vidas se dão pelo erro das palavras; um amor pode ser perdido por um engano. Mas que para tudo há reparação, até mesmo a ficcional, porque no fim é essa criação fantasiosa que faz o encanto dessa bela história.
"O cara quer me matar, espero que me mate porque me odeie, não porque é o trabalho dele" Brilhante. Creio que nunca vi antes um filme parecido a Um Dia de Cão. Um assalto que poderia durar 10 minutos assume grandes proporções, e revela uma figura inusitada representando a rebeldia setentista. O que mais chama atenção, além da simpatia, rebeldia e imaturidade (como criminoso) de Sonny, é a séria denúncia ao sensacionalismo da mídia e à violência da repressão policial, que achei surpreendente. O despreparo nas negociações entre Sonny e a polícia é o melhor, sempre com uma dose muito boa de humor e frases afiadas. Gostei muito porque é um filme direto e impactante, bem limpo. Destaque para as atuações excelentes de Al Pacino e John Cazale, dupla épica. Um filme tragicômico, o fim é um abandono total...
"Kiss me. When I'm being fucked, I like to get kissed a lot."
- A propósito, posso saber seu nome? - pergunta a senhora. - Meu nome? - ele caminha e se senta próximo a porta aberta. - Meu nome é... - procura alguma coisa pelo cenário, pensativo. Todos o acompanham curiosos. Ele vê as camélias - ... Tsubaki (camélia) Sanjuro (30 anos)... indo para os 40. - Você é mesmo muito interessante. - ri-se a velha, e todos riem juntos.
Muito bom o primeiro filme, acentuado mais para o lado dramático, quando Takezo era apenas um imaturo perdido. Isso dá o quê diferente do filme, o personagem sofre experiências para poder mudar e achar o seu caminho, e apesar de eu achar que essa mudança poderia ter tido mais contraste, foi significativa - mostrada melhor no segundo filme. Bem, a história em si se complementa nos três filmes, como o colega Daniel Chigurh mencionou abaixo, o filme não funciona bem independentemente. Sozinho, Samurai I, já deixa várias lacunas a serem preenchidas. Excelente performance do Toshiro, como sempre.
Joaquim
3.6 71 Assista AgoraIsabél Zuaa brilhou muito
Boa Noite, Mamãe
3.5 1,5K Assista AgoraO que o trauma pode levar o inconsciente a fazer.
O filme tem uma construção psicológica muito boa. Não dá pra simplesmente minimizá-lo a um "plot previsível" de suspense, quando o tempo inteiro ele te dá pistas de clareza nos detalhes, tampouco se apoia 100% nesse twist. Sem essa intenção de surpreender o espectador (atento), a grandeza do filme está na abordagem e na tensão progressiva.
Algumas considerações que achei interessante:
1 - Um dos gêmeos morreu possivelmente num incêndio. Alguns detalhes apontam para isso: a mãe, embora não seja superprotetora (o filme começa com o(s) filho(s) nadando sem supervisão), praticamente surta quando o encontra com um isqueiro. Ela não cozinha, embora tenha condições de contratar empregados para isso. Ela faz um estoque de comida congelada, que não precisa de fogo. A cirurgia que ela faz pode ser de correção de cicatrizes oriundas do incêndio que matou um dos filhos.
2 - No começo ela incentivou a imaginação do filho a respeito do irmão morto, como um amigo imaginário, como forma de amenizar a dor dele (e a dela também). Porém, antes da cirurgia algo aconteceu, e ela resolve não participar mais dessa "brincadeira".
3 - O Elias (o filho sobrevivente) passa a considerar a mãe como uma estranha. Um dos motivos é de que, se ele acreditar que ela realmente é a mãe, e como ela não finge mais que o irmão está vivo, por consequencia ele tem que admitir que o irmão morreu. Acreditar que ela não é a mãe é manter o irmão "vivo".
4 - Aquele cemitério onde encontram o gato pode ter sido uma vala comum. O filme é europeu e pode ter sido o caso. Muita gente fica matutando sobre esse lugar e eu também fiquei.
5 - Gatos quando estão perto de morrer se escondem, talvez por isso ele estava naquele lugar. Ele provavelmente morreu de causas naturais, mas isso colabora com a "teoria" de que a mãe é uma impostora.
6 - A cena final, dos 3 juntos é na verdade o Elias sozinho, porém, na sua imaginação doentia, agora a mãe também faz parte dele. (!!!)
7 - Isso tudo caiu por terra quando me disseram para rever a cena final da casa em chamas. Enquanto os bombeiros trabalham, ao fundo dá para ver uma mulher de camisola branca saindo da casa e sumindo (arrepiante!).
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraAmém catequese.
Velozes e Furiosos 8
3.4 745 Assista AgoraVelozes e Furiosa 8
Rogue One: Uma História Star Wars
4.2 1,7K Assista AgoraPorque as revoluções começam e movem-se nas sombras, cautelosas e tênues. Custam a ganhar corpo, modificam-se, reorganizam-se, e vão.
Pequenos manifestos são ou se tornam grandes, aos poucos, necessários ao triunfo. À visão de FUTURO. E seus nomes valorizam com o tempo, uma vez redescobertos. Tudo ganha um significado maior assim, abrangente e importante, para enriquecer a história que conhecemos (A New Hope), e as raízes de toda a luta.
Por trás de pequenas batalhas avulsas, quantas vidas e idas, transformadas, anônimas, perdidas... Quantos sacrifícios pelo objetivo maior? Rogue One nos revela esse lado da guerra: o que antecede ao que entrou para a história? Há mais heróis e atos grandiosos do que imaginamos. Quantos teremos a honra de conhecer e respeitar sua memória?
Como a experiência transformadora de Jyn Erso, levada pela onda do destino, de algo tão maior que ela, para enxergar além, ir além, e achar um sentido de viver, pelo qual lutar, integrar e abrir caminhos. Essa é a grande força da ideia de Esperança que buscamos.
Seria um capítulo especial, mas é na verdade um prólogo. Muito bom. Personalidades marcantes num tempo sombrio e efêmero de vida... mas que souberam deixar sua marca, ainda que fosse significar para poucos. Efeitos especiais excelentes!
Foi arrepiante a presença da princesa Leia a concluir:
- HOPE.
Frankie & Alice
3.7 114 Assista AgoraGrandiosa atuação de Halle Berry, impecável! Mas um roteiro morno e pouco apuro técnico tornam o filme um tanto apagado.
Como Frankie, Halle captou com severidade as facetas e alteridades de uma personagem alquebrada, dividida e sem direcionamento. É muito convincente e quase hipnótico vê-la alternar personas em uma sessão psiquiátrica. A protagonista perpassa por momentos altos e baixos, de firmeza, convicção, insegurança, de inocência, sarcasmo, tristeza e elegância. São trejeitos e minuciosidades que Halle transmite com veemência em cena.
Se fosse mais longe, junto com um filme melhor produzido, com uma veia psicológica firme e rítmica, teria desvendado mais que uma personalidade multifacetada perante quadro clínico. Naquele ano esse êxito ficou com Cisne Negro.
O problema na narrativa de Frankie & Alice (meio documental, meio biográfica, meio telenovela) limitou uma imersão interpretativa, acredito. Com isso, o filme se torna esquecível, sem uma identidade narrativa nova, explorável e diferencial, a qual podia se aventurar. A montagem é exausta, entrecortada de fades; a trilha sonora é realmente fraca e não alcança clímax ou a emoção que a protagonista necessita, ou que as cenas pedem para serem maiores.
É uma bela história para uma produção tão pequena. É uma grande personagem para pouco material. Mas é para achar um fôlego na carreira de uma atriz que chegou tão alto e caiu com igual facilidade após contratos ruins. Halle Berry tem potencial, é uma ótima atriz e eu me interessei pelo filme só por causa dela. Acredito que tudo o que lhe falta é uma boa parceria na indústria, para virem bons papéis. Sob essa perspectiva, o filme soa melhor, ganha uma chamada de atuação, teve breve reconhecimento de alguns prêmios, mas é isso, como um passo adiante dado por Halle.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraSegue a cena final descrita no roteiro original do filme:
"He nods. They rise from their seats and head for the exit.
Just as they reach the door, and as David steps out, Mia turns and looks back at Sebastian. He looks at her.
Their eyes lock.
A hint of a tear in both...
And, ever so subtly, for just a fleeting second, Mia smiles.
It's the kind of smile you could miss if you blinked -- but it's enough to signal to Sebastian that she recognized the melody he played, and that she still remembers it, and still thinks of it to this day..."
Meu coração fica como.............?
Loving: Uma História de Amor
3.7 292 Assista AgoraJeff Nichols configurou um olhar diferente a Loving, como drama biográfico.
Porque é muito comum encontrar melodramas apelativos nessa linha de gênero: com trilhas sonoras excessivas, diálogos carregados, muitas lágrimas e outros exageros. Mas a versão que o diretor nos entrega aqui é pura e mais que tocante.
E a verdade dessa história é consumada na forma como a narrativa é inserida no ponto de vista do casal, que assim desdobra-se.
Toda a composição nos conduz a um ritmo leve, anticlímax, de silêncios entre sofrimentos, pequenas injeções de dor e delicadeza. São minuciosidades singelas que nos aproximam de Richard e Mildred, essas pessoas tão simples e íntegras, formandas nessa mesma composição. Loving, a partir de então, assume um temperamento atmosférico similar aos próprios Loving. Isso me faz pensar numa versão interessante de fidelidade a uma história real! Espero que Nichols esteja fazendo disso uma marca - é o primeiro filme dele que assisto.
A linguagem técnica cuida tão bem dos pormenores. Os quadros, sem muitos closes, nos permite acompanhar uma valorização de olhares absurda, de gestos e trejeitos, do toque, do sorriso de escanteio, o timbre ou o arfar da voz, e outras comunicações expressivas que se tornam, por vezes, altamente emotivas. Essas coisas enchem de beleza as subjetividades dos personagens, e prende nossa percepção. São esses detalhes que fazem o filme, e é por isso que as atuações são grandiosas.
Como é bonito e bem destacado os olhos de Ruth Negga. Sua transparência com a personagem é encantadora. O filme percorre nove anos timidamente, mas é possível descrever no olhar de Mildred Loving muitas passagens de uma vida; a mulher sonhadora, irmã e filha, insegura, mãe e desafiadora, e em todo tempo esposa. A carga de mudanças sofridas pela personagem é vasta, mas todas essas facetas foram entregues sutilmente com uma atuação, eu não diria contida, mas branda.
Um sentimento recorrente nela é seu senso de pertencimento. De viver no campo, perto das pessoas que ama, no lugar que diz tudo sobre ela, e lá viver com sua família. Gosto disso, pois representa uma grande força de fixação e sinceridade.
A cena que vai ficar, acerca disso, é o momento em que ela recebe a boa notícia por telefone. Aquela espera se desfazendo, ela corre pra observar lá fora, com a felicidade e segurança, o que seria o bastante para sua família e exatamente daquele jeito dali pra frente. Rich estava feliz com as crianças.
O trabalho de Joel Edgerton, como já foi observado, captura um lado da masculinidade americana raramente retratado. Um homem inarticulado, de fala comedida, mas abundantemente preenchido. Esse viés esquivo, torto, mãos nos bolsos, tentando sempre não ter que se explicar. Quanto cuidado. Por que era incompreensível seu direito de amar? Richard Loving era aquela pessoa que sempre tinha algo no horizonte.
Ele estava supostamente distraído enquanto observava lá fora, durante o parto de Mildred. Tratava-se de uma deixa, uma espera que fazia de sua mãe para pegá-la sozinho em sua pessoalidade, e terem aquele momento de sinceridade. Ou quando ele é perturbado pela entrevista em casa e chama a esposa para conversar lá fora. Essa particularidade me chamou muita atenção. Diz muito sobre o sufocamento que pessoas reservadas sofrem em momentos incômodos. E no fim ele só precisava de algumas palavras acalmantes. rs
Que personalidade. E ainda há pessoas assim no mundo, cheias de formas de demonstração.
Enfim, com esse entendimento que tive, creio que tenha ficado bem essa narrativa enxuta, singela e limpa. Linear em seu conflito. A contenção aqui é entendida como característica fundamental para a sensibilidade de tudo. Simplicidade é força.
Michael Shannon fez uma ótima, pequena participação. Surpresinha!
A Grande Aposta
3.7 1,3K"Os termos complexos que os economistas usam são propositais, para confundir as pessoas." Emburrecedores.
No fim, com todos os recursos linguísticos do filme, o resultado ainda soa muito documental. Não sei se a comunicação em off com o espectador funciona muito como suporte. O desenvolvimento pode ficar entediante, em partes por isso, mas acredito que está tudo bem amarrado e distribuído na trama. Dá pra se situar acerca do ocorrido da época, da crise, etc. Bom roteiro.
Muito cinismo dinheirista! Acompanhar desse ponto de vista interno, do processo de investimentos de grandes raposas no cenário de Wall Street, é quase cômico, quase dramático e quase trágico.
Eu poderia dizer que não veria outra vez, mas provavelmente voltarei em busca de mais informações. O filme termina com essa sensação de que você deixou passar vááárias coisas.
Frida
4.1 1,2K Assista Agora"Me pinto a mi misma porque estoy sola muy a menudo y soy el tema que mejor conozco."
Frida tinha uma força interior infinita. Essa mulher que se redescobria na pintura e nela se expressava tão imensamente carnal. É de um valor e plenitude humana impressionante - ainda que plenitude não fosse um sentimento presente para ela.
Entendemos nesse filme um pouco de como esse poder poético floresce de uma mulher tão radiante. Frida viveu com suas fragilidades e incertezas, um inconformado desejo de maternidade que não pode dedicar senão a si mesma. Caminhou entre o sofrimento físico e emocional, amadureceu rápido com as feridas e desilusões as quais pintou. Frida foi uma alma grande e leal, mas desamparada e em pedaços. As partes afetivas de si mesma, pedaços vazios ou corrompidos, os estados emocionais profundamente sentidos e de necessidade vital, tudo posto no pincel em tantas facetas.
O que a torna uma mulher a frente do seu tempo é, entre outras coisas, sua natureza viva e intrínseca; Como ela desfez-se na arte, como converteu sua identidade em manifesto e busca pessoal. Frida conseguiu transpor para a tela o irrepresentável, o sofrimento individual, e o que diz respeito ao corpo e à sexualidade feminina. Sua obra possui essa incrível beleza trágica e intrapessoal. O espelho de sua alma, cujo reflexo servia para contenção e integração. Uma forma de cura.
Um filme de 123 minutos é pouco para a vida de Frida Kahlo. O filme não alcança Frida em toda sua instância. É um belo recorte (amoroso) de uma vida marcada de cicatrizes, entretanto toda a imersão artística dessa mulher fragmentada desencaminha com as nuances abordadas em volta de Khalo e Rivera. Não vemos a revolução interior, o sentimento de desintegração, sobre a virtualidade do seu universo inconsciente nas imagens, a imaginação e a pintura como janelas de sua psique, sobre as origens de sua inspiração quando sangrava nas cores de seus quadros. A linha entre o psicológico e a erupção passional na arte fica incompleta, e por fim sua carreira é pouco explorada. Acredito que de fato mergulhar na mente de Frida ia de contra a narrativa proposta.
O erro mais evidente e significativo foi a venda do idioma, isso desvalorizou muito a língua falada (espanhol), as expressões, e comprometeu em muito a interpretação e a atmosfera popular de época. Esses detalhes compõem o tipo de comunicação, a linguagem daquelas pessoas, que devia ser única e contribuir para a essência da história. Enfim, esse foi um método para levar o filme mais longe.
Alguns personagens importantes na vida de Frida ficaram dispersos antes de se situarem na trama. Ficou uma espera para as relações do núcleo familiar. Sabe-se da importância de seu pai e irmã. A abordagem do contexto histórico foi boa, mostra a consciência política de Kahlo e seu espírito guerreiro. Salma entrega uma performance sólida e feroz, feliz em sua proposta. E mais dois pontos altos da obra são as passagens das telas para as cenas vivas (brilhante!), tanto quanto a trilha adorável de Elliot Goldenthal.
Deixa a desejar como produto biográfico de uma das maiores personalidades o século 20, mas está em média e vale a pena conferir; é uma porta de entrada, uma ponte, e não soa tão didático, apesar de servi-lo. A dedicação de Julie Taymor e Salma Hayek fica como um objeto de capricho e triunfo, por uma homenagem de valor franco, bem vendida, que possibilitou maior abundancia da imagem da artista, sobretudo na cultura pop.
Frida pintava o seu coração com a mesma intensidade a que transbordava. Encantadora, magnética, irreverente. Uma figura solar.
Crash: No Limite
3.9 1,2KO preconceito transparece e sobressai com o humor das pessoas? Especialmente em situações extremas. E se justifica assim, ordinário. Seja isso revelador ou não, Crash nos mostra como seus personagens mais comuns de uma sociedade (americana) redireciona aquilo que absorve, de um preconceito sofrido, e de um jeito ou de outro, numa equivalência (pessoalmente medida) para outrem. Uma necessidade de devolução, de descarrego, que esvai com o humor e a descarga de estresse. Como lixos. Apenas com isso, nos deparamos com um material com retratos altamente discutíveis dos valores e problemas de uma sociedade. Diria esses universais.
Crash encaminha os reflexos do preconceito: alguém que o sofre também é capaz de praticá-lo, totalmente submetido, em alguma circunstância exaustiva, frustrante e até descontraída. Pode originar-se de indignação, de intolerância, comodismo, conformismo, arrogância, e por que não capricho? Um verdadeiro baralho de cartas defensivas-ofensivas.
Existe ainda a questão de colocar-se à prova, melhor e casualmente como ocorre, nos próprios limites; até que se visualizem julgamentos que estão introduzidos e enraizados no plano mais íntimo. Os preconceitos trabalhando subliminarmente. O que é (des)necessário para você ultrapassar a linha? Até que ponto você vai? É para onde o filme trabalha: limites. O que podemos ou não suportar em nossas faculdades éticas.
O que é curioso é como esses seres sociais, tão individuais, mostram essas facetas discriminativas em situações inumeráveis e impagáveis. E como estas pessoas revelam sinuosamente traços de suas formações através disso. As diversas formas como o filme combina e brinca/desconstrói os padrões de preconceito contido nas personagens, ajuda-nos a entender a crua inerência dessa característica na veracidade humana. A cidade de Los Angeles intensifica a parábola de infinidade e falta de limites, das diferenças e invisibilidades – tamanho o choque cultural.
Para onde o filme caminha, o retrato fica mais sincero e talvez previsível, mas ainda incomoda por chegar a este ponto. Enquanto as pessoas não se olharem e se reconhecerem, uns aos outros, estarão alimentando seus preconceitos.
Assim fica Crash, no limite.
Brooklin
3.8 1,1K"Não importa onde estamos, nossa mente é o nosso lar."
A transição para a vida adulta é um processo muito naturalmente turbulento. O retrato que o filme capta sobre isso é com formas tão singelas quanto as cores de sua fotografia. Numa américa cinquentista e o mais esperançoso cenário pós-guerra, acontece um exemplo limpo de mudanças, entremeio aquela profusão de vidas à deriva no mundo; entremeio divisões e incertezas: o desabrochar de questões e escolhas que se recolhem na sua própria existência, e o senso de sabedoria e decisão que devem vir com isso, muitas vezes com tanto peso e cobrança.
Eillis atravessa sutilmente um caminho que por escolha trouxe o enfrentamento, o desapego e por fim a adaptação, processos que moldam e destilam a formação de uma moça em tamanha instância de vida.
Atravessando um rio denso, ela inspira recomeço. Sua migração não é apenas de lugar, mas de ser. Uma mudança intrínseca e anestesiante está espiralando: viver segundo um padrão escrito por outrem? Mas o que eu quero pra mim, afinal?
Em determinado ponto, Eillis não percebe, mas seu amadurecimento se faz saudável numa busca por significados.
A volta é uma experiência de compreensão. Por vezes, súbita e invisível, e isso se mostra importante. Da mesma forma, enxergar como algumas coisas ficam da maneira que são, estagnadas e acomodadas, revela-se sob contrastes e nova lucidez. O intriguismo tradicional aguardou Eillis, mas "Quem viaja, jamais volta.", como diria o poeta. À essa altura, Eillis já sabia exatamente quem ela era.
E mesmo para uma mulher de novos ares, as muitas faces da escolha sussurram para o impasse. Essas situações são boas de acompanhar por se tornarem tão comparáveis e compatíveis de identificação. O deslocamento e a procura de posição, o arrependimento e a consequência de emoções possibilitou o pertencimento sólido e Eillis, por fim, se situou, resoluta. Verdadeira resiliência.
A comunicação das pessoas é interessante de observar. Indo além do sotaque visto, gosto muito da valorização dos gestos, o valor do silêncio e o que há de puro nisso, na linguagem subjetiva do olhar. E são nuances muito bem acentuadas na narrativa do filme. Saoirse Ronan com seu olhar fluorescente torna essa experiência mais bela.
Brooklyn mereceu todo o reconhecimento, o que é difícil para filmes dessa naipe, de narrativa suave, condução morna e bem adaptada. Continuará dividindo opiniões sobre seu valor porque se fez presente em categorias de peso no Oscar 2016? Por ser um filme tímido, não tão radiante como os demais com que concorrera, dirão por ser um indie da vez superestimado (mais por questões de posição) - quando também por um lado, fora subestimado e talvez o continue sendo. Mas é aquele ditado, vamo fazer o quê?
Rever Brooklyn renova as impressões. Uma história de transições e temas universais à condição humana.
Os Excêntricos Tenenbaums
4.1 856 Assista AgoraO cinema singelo de Anderson para contar as incongruências e transparências pessoais do instituto família.
Os Excêntricos Tenenbaums já começa com uma linda aproximação literária, semelhante à colocada em O Grande Hotel Budapeste, para seguir uma divisão de capítulos charmosa. E a introdução dos personagens cheios de manias já prescreve uma entrega repleta de disfunções.
A narrativa lúdica de Wes, com todas as suas assinaturas simétricas, aventura-se nas esquisitices de uma família cercada de defasagens. O tempo teria realçado suas alteridades e os tornado individuais, separados em suas existências. E por trás de uma dívida de distância as desavenças veladas, rancores e incompreensões jamais ditos. Assuntos não terminados que podem voltar a tona, e para os Tenenbaums, da forma mais cretina. O cinismo do pai falido é o mote para a sequência de situações impagáveis de volta àquela casa, num esforço sem expectativas de renovar o ambiente familiar, reunido sem qualquer costume.
É interessante observar o amadurecimento (emocional) desses personagens num núcleo que aos poucos sofre para cicatrizar feridas passadas e corações partidos, quando aprendem, uns aos outros, com suas próprias mudanças. A canalhice de Royal Tenenbaum ou suas marotagens de avô, a indiferença dispersa da Margot e seu olhar blasé, Chas sendo metódico o tempo todo, e a vontade que dá de abraçar o Richie? Como não se cativar?
Um roteiro feliz por abordar a reconciliação tardia e fortalecimento de laços perdidos, mas não esquecidos. Cenografia teatral fica mais adorável dentro da paleta de cores característica do diretor. O filme é bem ritmado, afinal não se escapa um minuto de criatividade. Disfuncionalidades da vida e muitas impressões curiosas tiradas desse trabalho.
Sexto Wes Anderson que me ganha. Bom resultado!
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista AgoraAtmosfera noir e ritmo arrastado, quase contemplativo. Imagino essa trama sci-fi em produções alternativas, igualmente obscuras e futurísticas, talvez alucinantes - como deixa a promessa desse título "O Caçador de Andróides" -, e vejo um universo cyberpunk ampliado como poderia ser, de grande pretensão mas mal explorado. Gosto das reflexões acerca da condição humana nessa realidade longínqua. É o tipo de filme que se permite acrescentar a cada exibição.
Guerreiro
4.0 919 Assista AgoraPersonalidades bem características desse tipo de trama, mas posicionadas e ligadas por laços que nos permite ver acima de suas velhas e conturbadas histórias. Mais bonito é ver esses irmãos refletindo-se diferentes, dessa forma divididos no remorso e rancor (e por que não na busca de redenção do pai?), e se alcançarem através da luta, em meio a tensão e ansiedade, aqui envolventes. Para eles, a luta mostra-se uma linguagem resolutiva entre a ausência e a carga passional. Por fim tudo assume um tom reconciliador. Muito bom e boas atuações.
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista AgoraE à parte de toda a feiura humana que cai covardemente sobre a bondade de Selma, podemos ver, através da sua sensibilidade, que a imaginação dessa mulher é o que ela tem de mais belo, e como isso a torna tão pura.
Selma enxergava um mundo mais possível e encantador entre o real e a cegueira, sua música sensorial era seu grande refúgio, e aquilo era tão mais vivo nela que a fotografia do filme o evidencia em cores! Foram os momentos de canto que a fez transparente consigo, feliz e completa. Um conforto imenso. Isso foi notável pra mim com uma beleza poética e única, sobretudo Bjork e sua música.
Bjork tem a própria música em sua essência, ela coloca pra fora sua música, mesmo nesse papel está à prova como ela transmite isso com tanta naturalidade.
E com essa direção, o resultado só pode ser essa obra de arte excelente.
O Universo No Olhar
4.2 1,3K"Um Universo no Olhar" é um título atraente para o envolvimento adiante. Soa inteligente ao que compromete, soa expansivo, e acredito que aqui paira a grande mensagem do filme: De ver através, e o que há de mais puro e ascendente nisso.
Ver através de suas convicções, certezas, de suas construções e barreiras, das próprias limitações, entre outras coisas. Há poesia de tamanho por absorver frente a isso. E quando ver através do olhar torna possível o espírito, a beleza da alma mostra sua grandeza. Assim foi para Ian. A quanto ele arriscou desconstruir suas verdades?
O filme desliza sutilmente acerca dessa transcendência no olhar, para tudo no mundo. Isso é lindo quando entendemos, ao entrar pela porta do romance de Ian e Sofi. O amor transcendeu - Ian, Sofi, Karen e Solamina -, sem medidas com a balança da ciência e religião. E você que assiste pode assimilar mais além do que é mostrado, sem a necessidade de amarras com um debate que não passa de pormenor na história.
Para mim foi mais abundante experimentar a película pelas ideias e encanto dos olhos, existe uma abrangência, talvez não tão evidente mas possível; onde se acha o amor, as linguagens do olhar, onde transparece os sentimentos, os reflexos do ser.
Os olhos são espelhos de sua essência. Tudo compõem deles universos. Vê a poesia crescente nisso? Essa é a persuasão que você tem de se convencer. Um universo no olhar.
Brooklin
3.8 1,1KTudo indica que é um dos destaques do ano. Está muito bem aclamado, por toda a composição da película, e sobretudo pela atuação da Ronan. +Quero Muito Ver!
Relatos Selvagens
4.4 2,9K Assista AgoraMuito, muito, muito extremo. Não me provoque, não me teste, não me tente, nem me desafie! Se me atacar eu vou atacar! Hahaha
A selvageria primata é latente na natureza humana!
O Show de Truman
4.2 2,6K Assista AgoraA nota especial desse filme é como deixa pairar o quê de curiosidade no fim, de como Truman lidaria com o nosso mundo depois de uma vida feita de experiências montadas e ensaiadas, ou como sua educação e formação de vida (incluindo os valores, credos, ensinamentos e cultura de um mundo teatral e fechado) se sobressairia num universo, em parte, diferente do qual ele cresceu. Em parte, porque acredito que certamente a fama não permitiria afora o assédio, entre outras coisas. Me pergunto o que realmente mudaria para uma figura como ele, depois de descobrir a farsa de seu mundo, e sentir-se "livre". Seria curioso ver como ele iria conhecer pessoas reais, também falsas e cheias de defeitos, de diferentes interesses, tão parecidas mesmo com os atores e atrizes do reality. A manipulação e o roteiro do Show acaba sendo uma alusão à realidade que não queremos enxergar. Uma sátira. Excelente demais, palmas pro Jim.
Desejo e Reparação
4.1 1,5K Assista Agora“Sabia o que se exigia dela. Não apenas uma carta, mas um novo rascunho, uma reparação, e ela estava pronta para começar.”
Desejo e Reparação é uma obra cheia de diferenciais. Desde o primeiro momento eu me senti levado pela percussão da máquina de datilografar a acompanhar os passos da pequena Briony pelo casarão Tallis. A criatividade da menina era algo curioso de se ver, e por conta disso eu, assim como tantos, devo imaginar, senti uma mistura de expectativas boas e ruins para com ela; desejos ruins especialmente quando Briony revela-se dona de um imaginação (inocentemente) perigosa. Esse primeiro tempo do filme possui um ar nostálgico, a presença nublada da luz envolve as cenas com um tom de sonhos, e adiante entende-se que realmente tratava-se de uma cena deixada no passado. É importante destacar esse detalhe porque aqui a fotografia é impecável. Para cada tempo, cores e luzes dão forma e identidade aos ambientes que representarão memórias e guerra com sentimentos próprios e tons, uma beleza sensorial que ganha parte aos diálogos. Mais uma característica importante é a desconstrução da narrativa, que marca a condução do filme e torna os acontecimentos com os personagens interessante de se acompanhar. Longe de ser simplesmente uma quebra de cronologia, a rememoração apresentada surpreende quando se revela também uma reconstrução do passado.
O elenco só segue mais admiração. Keira Knightley encanta em seu papel com olhares, gestos e beleza de uma moça delicada que sofrerá grandes mudanças e amadurecimento. James McAvoy foi excelente, quanto mais nos dias incessantes onde o sofrimento e as causas ecoantes da guerra fez um martírio de esperanças e passado derrubar seu personagem Robbie.
Não dá pra deixar passar que a cena da praia arruinada de Dunkirk, na França, é um dos melhores retratos de guerra já feitos no cinema, não tenho dúvidas.
Essa é uma história que passa diversos ensinamentos e faz refletir sobre valores da ordem social daquela época. Como o desastre de várias vidas se dão pelo erro das palavras; um amor pode ser perdido por um engano. Mas que para tudo há reparação, até mesmo a ficcional, porque no fim é essa criação fantasiosa que faz o encanto dessa bela história.
Um Dia de Cão
4.2 733 Assista Agora"O cara quer me matar, espero que me mate porque me odeie, não porque é o trabalho dele"
Brilhante. Creio que nunca vi antes um filme parecido a Um Dia de Cão. Um assalto que poderia durar 10 minutos assume grandes proporções, e revela uma figura inusitada representando a rebeldia setentista. O que mais chama atenção, além da simpatia, rebeldia e imaturidade (como criminoso) de Sonny, é a séria denúncia ao sensacionalismo da mídia e à violência da repressão policial, que achei surpreendente. O despreparo nas negociações entre Sonny e a polícia é o melhor, sempre com uma dose muito boa de humor e frases afiadas. Gostei muito porque é um filme direto e impactante, bem limpo. Destaque para as atuações excelentes de Al Pacino e John Cazale, dupla épica.
Um filme tragicômico, o fim é um abandono total...
"Kiss me. When I'm being fucked, I like to get kissed a lot."
Sanjuro
4.2 51- A propósito, posso saber seu nome? - pergunta a senhora.
- Meu nome? - ele caminha e se senta próximo a porta aberta. - Meu nome é... - procura alguma coisa pelo cenário, pensativo. Todos o acompanham curiosos. Ele vê as camélias - ... Tsubaki (camélia) Sanjuro (30 anos)... indo para os 40.
- Você é mesmo muito interessante. - ri-se a velha, e todos riem juntos.
Ótima cena, como acontece em Yojimbo. haha
Samurai: O Guerreiro Dominante
3.8 29Muito bom o primeiro filme, acentuado mais para o lado dramático, quando Takezo era apenas um imaturo perdido. Isso dá o quê diferente do filme, o personagem sofre experiências para poder mudar e achar o seu caminho, e apesar de eu achar que essa mudança poderia ter tido mais contraste, foi significativa - mostrada melhor no segundo filme. Bem, a história em si se complementa nos três filmes, como o colega Daniel Chigurh mencionou abaixo, o filme não funciona bem independentemente. Sozinho, Samurai I, já deixa várias lacunas a serem preenchidas. Excelente performance do Toshiro, como sempre.