Xavier Dolan me conquistou com esse filme! - e assim entrou na lista dos meus diretores contemporâneos favoritos.
Vendo a sua filmografia - que não é muito extensa, mas impressionante para um diretor com 26 anos - percebemos como, em todos os seus (até agora) cinco longas, alguns temas fundamentais à atualidade são muito bem explorados: protagonismo das pautas LGBT, transtornos familiares e principalmente uns tapas bem dados na cara do conservadorismo (rs). "Mommy" representa muito bem os sacrifícios e redenções de uma relações familiar e de amizade nada tradicional. É um filme emocionante, sensível e genialmente ousado com o aspecto formal da filmagem.
Vou eternamente amar esse filme, especialmente a cena em que toca 'Wonderwall' - quando acontece aquela 'brincadeira com o formato da tela' (não vou descrever muito pra não estragar a surpresa de quem não viu). É um dos momentos mais bonitos que eu já vi na história do cinema! Sua trilha sonora tbm é ótima - não só porque aproveita muito da cultura pop atual - mas principalmente pelo duplo significado (muito bom, rs) que 'Born to die' tem para o filho de Diane ('Die').
Sobre 'Mommy' - e de um modo geral sobre Xavier Dolan - posso concluir de uma maneira sincera bem resumida assim: ❤
Que brisa mais doida. O cara que legendou os comentários com essas coincidências é um mestre da interpretação - ele faz muito bem o papel de qualquer teórico da conspiração, falando em nome de uma verdade que relaciona duas coisas (o disco e o filme) que, à princípio, seriam totalmente diferentes. Me diverti muito com essa viagem, esse é um filme divertido pra quem se interessa por conspirações e teorias malucas.
O único problema seria alguém levar esse filme às últimas consequências e chegar a uma suposta conclusão de que o álbum do Pink Floyd foi feito e pensado unicamente para o 'Mágico de Oz'. Se alguém estiver pensando assim, pelamordedeus pare agora mesmo! "The dark side of the moon" é um disco poético e profundo, uma viagem existencial que passa por lugares como a morte, a transgressão, o sofrimento, a loucura... e que jamais pode ter seu significado resumido às coincidências com o filme do 'Mágico de Oz'.
Tirando essa possibilidade, acho que o psicólogo Carl Jung adoraria analisar essas 'coincidências' com seu conceito de sincronicidade. Seria algo tão maluco como o próprio filme.
É complicado falar sobre Lars Von Trier. Mas é ainda muito mais complicado - e 'idiota' - dizer que esse é um filme ruim só porque ele não te agradou (desculpa, eu realmente não queria ser mal educado, mas não pude deixar passar esse trocadilho com o nome do filme. rs).
Se for pra dizer que esse filme - e qualquer filme que seja - é um 'lixo', no mínimo deveria-se explicar o porquê. Caso contrário, reproduzir um discurso reacionário como esse, carregado de ofensas e vazio em argumentação, se torna uma atitude tão violenta e insensata como o golpe de desfecho que a personagem Karen sofre nesse filme.
Um puta golpe - bem intenso e bem dado - no fundo da alma é o que os filmes de Lars Von Trier são. Acabei de assistir "Os Idiotas" agora mesmo, há alguns minutinhos. Com certeza esse (e os demais) filmes de Lars são de fazer o telespectador se sentir mal, se sentir um verdadeiro lixo. Mas isso não é - com certeza não é - motivo pra dizer que o filme também seja um lixo.
Os filmes de Lars Von Trier são intensos e violentos - não (somente) uma violência manchada de sangue, mas principalmente de sofrimento; um tipo de violência existencial. É isso que faz dele um dos diretores mais interessantes atualmente - um dos meus favoritos. Não sei o que me dói mais: ver seus filmes ou ver os comentários intolerantes que essa galerinha vazia em argumentação faz em relação a eles.
Godard sendo Godard. Atribuir um significado a este filme é tão impensável como dar uma nota para ele. Para avaliarmos, deveríamos pressupor critérios de avaliação - dizer que um filme é ruim só porque ele não faz sentido é um argumento tão sem noção quanto o próprio filme (o que não é ruim, uma vez que ele não se supõe expressando sentido algum!)
A linguagem é constituinte de todo sentido que atribuímos àquilo que chamamos de 'realidade'. Se Godard diz 'adeus' a ela, é como se ele estivesse abrindo as portas para uma dimensão que nossas cabeças pensantes nunca conseguiriam imaginar - e vale lembrar que não existe pensamento fora da linguagem.
Bom, a única coisa que sei é que teria sido uma experiência muito mais interessante ter visto esse filme em 3D - "Adeus à linguagem" não pressupõe um sentido, mas uma sessão em 3D sim! Também seria muito interessante se - quem se arriscar a ver esse filme - já conheça um pouquinho da filmografia de Godard, pra ter em mente como esse diretor adora brincar com a subversão da linguagem cinematográfica. Acho que seria uma boa dizer que esse último filme de Godard é uma subversão da cognoscibilidade - quero dizer, do excesso de sentido que atribuímos às coisas.
Hoje mesmo li Fernando Pessoa escrever (no Livro do Desassossego) que "a decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida - o coração, se pudesse pensar, pararia".
Um filme confuso, estranho, inexplicável. E é isso que faz dele uma experiência (estética e reflexiva) muito interessante.
Sobre esse filme, Caetano Veloso escreve (no seu livro 'Verdade Tropical'): "um filme B brasileiro de que Glauber Rocha tinha gostado (...) em que o imaginário católico aparecia mesclado à pornografia do terror".
Quando fico muito tempo sem cortar a unha minha vó sempre aparece reclamando assim: "olha só, tem cabimento isso? tá parecendo a unha do Zé do Caixão!" Então eu imaginava esse tal de Zé como um personagem de filmes de terror bobinhos, parte do universo de referências culturais da minha vó.
Só que não - não é nem um pouco o que eu pensava.
Achei "À meia-noite levarei sua alma" um filme impressionantemente bem feito pra sua época, marcante na história do cinema nacional não só pela sua forma mas também - uma baita polêmica - pelo seu conteúdo. O terror, o sobrenatural, violência constante, ataques a símbolos católicos, uso de drogas e estupro são temas recorrentes na filmografia do macabro José Mojica Marins - temas encenados cada vez mais com insistência (explorados de forma bem marcante em "O despertar da besta") e que levaram a toda a censura que o cinegrafista sofreu durante a ditadura militar.
Ainda em relação ao conteúdo, isso também me leva a pensar como é (muito) problemático tratar de temas pesadíssimos - como o estupro (!) - sem uma mínima problematização por parte do espectador. Uma assim espetacularização da violência (principalmente contra a mulher) só reafirmaria os preconceitos de nossa sociedade tradicionalmente machista.
Enfim, mantendo o devido distanciamento para não aclamar acriticamente um personagem estuprador, assistir ao Zé do Caixão é ainda assim uma experiência interessante. Achei muito divertido toda essa mistura de elementos do gótico e da cultura brasileira tratados de maneira exaltada e um tanto debochada. José Mojica Marins é uma figura muito entusiasmada e carismática com o cinema que faz.
O capítulo em que Nana conversa com o filósofo - Bruno Freire destacou um trecho comentando aqui em baixo - me lembrou na hora o diálogo de Mia Wallace em Pulp Fiction: "Não odeia isso? O quê? Os silêncios que incomodam. Por que temos que falar de idiotices para nos sentirmos bem?". E não foi só nesse momento que lembrei do filme de Tarantino, mas também e principalmente na cena da dança no bar. Pensando bem, Nana e Mia Wallace são bem parecidas fisicamente, não?
Sei que Tarantino é rico em referências aos diretores clássicos na história do cinema - e depois de ver "Viver a vida" percebi como Godard é um deles. ~Ótimo filme, diálogos incríveis.
Tendo como pano de fundo a queda do muro de Berlim, somos apresentados a uma trama marcada por fabulações: todos os personagens de 'Adeus, Lênin!' guardam segredos. Uns maiores, outros menores; todos revelados ao longo do filme, todos gerando mudanças. Uma série de transformações desestabiliza tanto a situação familiar quanto a de todo o mundo pós-Guerra Fria. Quanto à Alemanha Oriental retratada neste filme, vemos a substituição do vermelho soviético pelo vermelho da Coca-Cola - em ambos os casos (inclusive literalmente na maçã que o engasga durante a manifestação) esta é uma cor que constantemente sufoca Alex.
Nem sempre a verdade é a melhor resposta - as vezes somos obrigados a mentir por amor. Com uma trilha sonora sensível (Yann Tiersen ♥) e momentos ora sentimentais, ora divertidos, 'Adeus, Lênin!' nos permite romper as barreiras - ou os 'muros' - do tempo para que viajemos ficcionalmente (e não menos verdadeiramente) através da história.
"Relatos selvagens" é um filme incrível! Um dos melhores de 2014, me deixou de boca aberta com todos os seus seis relatos insanos - além de ter me rendido várias risadas.
Isso que é doido pensar em relação ao filme: como em vários momentos eu me percebi rindo (muito) de situações que são moralmente (MUITO) condenáveis - principalmente na festa de casamento e na briga maluca envolvendo os dois motoristas!
“Rindo se castigam os costumes” - o filme argentino é o melhor exemplo que tenho para representar esta afirmação bem conhecida. Um belo e bem dado tapa na cara da moral e dos bons costumes, que se tornam motivo de deboche e de desconstrução por intermédio da câmera cinematográfica. "Demonstremos que toda essa festa de casamento é mentira! - mas o anel é de verdade". AAH, como eu torço pra pelo menos uma vez na vida ser convidado (mas só um convidado distante, e não noivo) de um casamento como esse!
"A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena" - Seu Madruga estaria certo se usasse sua declaração profunda para sintetizar o espírito desse filme. Nenhum dos personagens pirados de "Relatos selvagens" consumam plenamente suas vinganças, f*dendo ainda mais situações que de tão ~selvagens - por isso dos animais ferozes nos créditos iniciais - pareciam em um primeiro momento impossíveis de piorar.
Pra quem gosta daqueles filmes simples que são guardados com carinho em nossa memória, "No espaço não existem sentimentos" é a minha melhor indicação.
Uma declaração de amor por interpretações não literais da vida. Um grito contra qualquer forma de rotina automatizada. No Espaço Não Existem Sentimentos propõe enxergar a beleza dos acontecimentos simples e inusitados do dia a dia. Diante de um mundo cada vez mais cronometrado, ele busca recuperar o tempo voltado para o relacionamento com novas experiência e novas pessoas.
"Um ótimo molho leva tempo, assim como o amor". É um dos melhores que conheço para quem gosta de filmes fofos em que, exatamente como comentou Nino Batista aqui abaixo, é "impossível não abrir um sorriso no final".
"Battle royale" é um puta filme exagerado (pirado) no melodrama e nas cenas de ação e violência - é interessante para quem gosta de filmes do gênero.
Mas o que me chamou mais atenção foram as (muitas!) semelhanças que esse filme mantém em relação à atual saga dos "Jogos vorazes". Não só a história - pois o 'jogo' de assassinato e violência entre os jovens opera sob a mesma lógica em ambos os filmes - mas inclusive alguns detalhes presentes em suas estruturas narrativas: o destaque dado a dois personagens - o 'mocinho' e a 'mocinha' -, o grande vilão sendo um governo militarizado/ditatorial, o recurso dos avisos periódicos sobre participantes que morreram, os cenários (cavernas, florestas) - principalmente a sala de controle com aquela telona monitorizando o movimento dos jovens no mapa! -, enfim...
Contudo, uma diferença central que posso destacar é que o apelo romântico e sentimental é muito mais explorado nos filmes dos "Jogos vorazes". Por fim, não acho esta saga tão popular atualmente seja uma ~cópia~ do filme japonês, mas é um tanto quanto evidente que há nela muita influência de 「バトル・ロワイヤル」. (Esses meus comentários são só em relação aos filmes mesmo, não li nenhum dos livros que deram origem a estes filmes).
Tive que abandonar o filme nos seus primeiros 10 minutos. Mas não estava achando desinteressante! - o problema era outro: era linguístico.
Foi a primeira vez que decidi assistir um filme falado em português europeu. Mas com minha capacidade de compreensão do português brasileiro, senti muita dificuldade nessa tarefa! Senti na prática a discussão se estas são duas línguas diferentes - este filme me fez dizer que sim: distintas não só na pronúncia ou no léxico, mas inclusive sintaticamente.
Ah! Se um dia eu encontrar legendas, volto a ver ele (ou volto a "vê-lo", como diriam os purtugueses do filme).
"Melhor que o Vaticano, isto é São Petesburgo!". Este é um filme impressionante: com a câmera realizando um passeio histórico e contemplativo, são apresentados 97 minutos de filmagem sem cortes (!) ao longo dos grandes salões do atual museu Hermitage em São Petesburgo - complexo que inclui o famoso Palácio de Inverno dos Romanov.
"A Rússia é como um teatro". A cada salão visitado, os grandes períodos e personagens da história russa convivem em sincronia - no filme há um sentimento de permanência da memória histórica que é reforçado formalmente por seu plano-sequência interminável. É como se o tempo fosse um oceano de ondas contínuas e a grande obra arquitetônica do palácio em que se passa o filme - este também como uma grande obra cinematográfica - fossem a representação da "arca" que flutua nestas águas e desbrava os mares da história.
Também achei incrível o ator Sergey Dreyden, que faz o papel do marquês francês, espécie de guia do espectador pelos salões do Hermitage. Só por curiosidade, ele é inspirado na figura histórica do Marquês de Custine, que realmente existiu e é autor de um livro de viagem intitulado "Viagem à Rússia" (1839).
Além destas reflexões que podem ser depreendidas do filme, apenas assisti-lo como forma de fruição estética já vale muito a experiência. "Arca Russa" é realmente um dos filmes com a filmagem mais bonita que eu já assisti.
"Então foi aberto o santuário de Deus nos céus, e ali foi vista a arca da sua aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, um terremoto e um grande temporal de granizo". Apocalipse 11:19
"Por um lado, na vida e nos filmes James Dean exprime as necessidades da individualidade adolescente, que, ao se afirmar, recusa as convenções da vida embrutecida e especializada que se abre à sua frente. A necessidade de totalidade e de absoluto é a necessidade real do indivíduo humano quando ele se liberta do ninho da infância e das amarras da família - e só vê diante dele as novas amarras e mutilações da vida social. (...) Por fim, o adulto das sociedades burguesas e burocratizadas é aquele que aceita viver pouco para não morrer muito. Contudo, o segredo da adolescência é o de que viver é correr o risco de morrer, a fúria de viver é a impossibilidade de viver. James Dean viveu essa contradição e a legitimou com sua morte." - Trecho do livro-clipping "James Dean - por ele mesmo"
James Dean, o jovem ator rebelde, é claramente o que mais merece destaque nesse filme. Ele marca o início de toda uma nova representação cinematográfica da juventude na cultura norte-americana, em uma época na qual o mesmo fenômeno revolucionava o campo musical (a exemplo de Elvis Presley) e o literário (com os escritores da Geração Beat). Uma juventude em busca de seu sentido, que não se via mais representada no modelo de família tradicional vivido por seus pais e que buscava como resposta uma outra forma de vida que preenchesse o vazio existencial tão marcante em uma figura como James Dean. Uma busca mesmo sem saber exatamente os novos rumos que seriam tomados: como no título original do filme, eles são "rebeldes sem causa".
Sintetizando, essa "juventude transviada" não sabia exatamente o que queria, mas ela tinha certeza que ~não~ queria continuar seguindo os padrões tradicionais de um modelo decadente que pouco significava para essa nova geração.
Jesus Cristo ressurge na contemporaneidade para lutar contra um grupo de vampiros atacadores de lésbicas. Com o objetivo de protegê-las, Cristo conta com a ajuda do mexicano lutador de lucha libre El Santo. Recheado de referências bíblicas, musicais inesperados, combates de kung-fu e muita tosquice, "Jesus Cristo Caçador de Vampiros" é um clássico do cinema trash.
O filme tem cenas muito engraçadas de tão ridículas: acho que principalmente aquela em que Cristo recebe a revelação divina através de uma tijelinha de sorvete com cerejas. Quem é fã de cinema trash vai se divertir muito com esse filme.
Definitivamente o filme mais tosco dentre todos os que eu eu já vi - e provavelmente dentre todos os que vou ver em toda a minha vida. Desconsiderando algumas piadinhas preconceituosas, dei muitas risadas com sua atuação horrível, sua maquiagem ridícula e seu enredo muito bem sucedido em ser péssimo - ou seja, "Troll 2" é um filme trash perfeito.
A solução do garotinho para que a família não coma a armadilha preparada pelos goblins: AH! essa é a cena mais genial desse filme. Sim, goblins: o interessante é que não existem trolls na história, mas goblins (!) - o que deixa tudo ainda mais tosco.
Para quem procura se divertir com um filme muito muito muito ruim, "Troll 2" é uma boa escolha. Também valeu a experiência ver o filme que deu origem ao meme "OH MY GOD!": Meudeusdoceu, perdi 95 min. da minha vida vendo esse filme.
Na infância, tenho certeza que a galerinha responsável por esse filme tenha sido o tipo de criança que, assim que a mãe colocava a salada na mesa do almoço, gritava: 'eu odeio tomate!!!'.
"Ataque dos tomates assassinos" (1978) é o exemplo perfeito pra ser mencionado quando alguém te pergunta o que é um filme trash. Por um lado, dei muitas risadas com as cenas super debochadas em relação à política, ao exército e aos costumes estadunidenses (principalmente com a reunião inusitada na minúscula sala que acontece no início do filme - "PPPPP!"). Por outro, não tem como ignorar a representatividade claramente preconceituosa dos seus poucos personagens negros e femininos: depois da cena do ketchup (diga-se de passagem: a piada sobre ketchup é a melhor do filme!), o único coadjuvante negro na história literalmente some - e antes disso ele aparecia de modo muito periférico, como um personagem secundário bem menosprezado.
Contudo, se for pra eleger outro ponto positivo, não posso deixar de mencionar certas cenas que fazem referência a outros filmes consagrados como: 'Os pássaros', 'Psicose' e 'Tubarão' (pelo menos foram as que eu consegui identificar). Também é interessante a maneira debochada com que o filme apresenta os créditos iniciais - três anos após Monty Python também usar esse mesmo recurso na abertura de "Em busca do cálice sagrado" (1975).
Bom, resumindo: esse é um bom filme pra quem deseja ver um filme ruim - com muito nonsense, musicais inesperados, quebras de expectativa e piadas que são engraçadas justamente por não terem a menor graça.
Um filme realmente estranho que, pessoalmente, não me agradou nem um pouco.
Para começar, 'Além do arco-íris negro' é um filme bastante peculiar. Ele é muito bem sucedido quando combina sua trilha sonora desconcertante com cenas que - além de igualmente causarem um mal-estar - apresentam um quê de psicodelia muito bizarra.
Como experiência visual, é um filme interessante (apesar de eu considerar que em determinado momento isto se torna excessivo e bastante entediante). É entediante também pelo rítmo lento (leeeeeeeeeento) - mas, bom, isso não é motivo pra se desqualificar um filme! Na verdade, achei este filme chato principalmente por pesar tanto no aspecto visual e parecer não dar a mínima importância para a história: seus pouquíssimos diálogos são totalmente desconexos, há personagens e acontecimentos igualmente desnecessário, sem relação entre si e com a história como um todo. São elementos que estão aí só para 'encher linguiça' - a tal ponto que a linguiça fica tão exageradamente estufada que só pode levar uma longa e desagradável má-digestão.
Sou vegetariano, odeio linguiça. Também odeio esse filme. Acredito que Panos Cosmatos teve principalmente o objetivo que criar um filme diferente e alternativo, mas essa pareceu-me uma tentativa bastante forçada.
Como (re)afirma muito dos outros comentários aqui: o filme é realmente bizarro! 'Holy motors' investe claramente na falta de sentido e nas constantes quebras de expectativa (características que me renderam várias risadas e indagações do tipo: "pØrra, como assim aconteceu ISSO?!"). Pensando bem, constatar isso me faz interpretar neste filme uma mensagem poderosa. No que guardei dele em minha memória, não consigo lembrar de um rosto específico para o protagonista - quero dizer, a todo o momento ele faz o papel de um outro, sem ter pra si uma identidade e um papel próprios. A realidade mostrada no filme (e diria que aquilo que apelidamos de 'realidade' - fora da tela - também) é uma constante e eterna representação. Assim, não existe diferença alguma ao tentarmos diferenciar: cinema/vida real; representação/autenticidade; performance/verdade. Todas essas dicotomias não são nada mais que a aparência de uma mente racional que não consegue conceber como ficção e realidade são marcadamente sinônimos. "A beleza está nos olhos de quem vê... E se não houver mais quem a veja?"
Sim, sei que essa é uma interpretação viajada pra cacete. Mas gosto disso: nada melhor pra se pensar um filme bizarro como esse.
Borgman é um filme bizarro. Digo isso porque ele investe no nonsense sem ser marcadamente uma comédia (apesar de ter situações rápidas em que eu não aguentei segurar a risada), mas é justamente essa falta de sentido levada de forma séria que faz o sentido do filme.
Li críticas, interpretações, e achei algumas que afirmam um sentido sociológico ou até mesmo bíblico (!) para este filme. Bom, achei elas realmente forçadas - e, apesar de parecer, a epígrafe inicial não é uma citação bíblica (é tampouco uma citação - pois a frase existe apenas nesse filme). Acredito que um dos seus sentidos mais marcantes (não há um só sentido para ele; bom, assim como também não há um sentido para qualquer coisa) seja retratar o mal na modernidade, que permanece oculto nas famílias mais acometidas pelo nonsense da normalidade. Um mal que que não é explícito, mas que entra nas casas da maneira mais educada, como um estranho desconforto que bate à porta pedindo licença. Essa forma de mal-estar da contemporaneidade fica extremamente claro com um comentário feito pela médica que, ao consultar as crianças doentes, dá o diagnóstico de que "as crianças estão sobrecarregadas. Por causa do mundo moderno. Não se esqueça que elas tem muita coisa para lidar nos dias de hoje: TV, internet, escola (...) há tensões na família?"
É um bom filme - especialmente para quem gosta de pontas soltas, quebras de expectativa, falta de sentido e filmes realmente porra-loucas.
Mommy
4.3 1,2K Assista AgoraXavier Dolan me conquistou com esse filme! - e assim entrou na lista dos meus diretores contemporâneos favoritos.
Vendo a sua filmografia - que não é muito extensa, mas impressionante para um diretor com 26 anos - percebemos como, em todos os seus (até agora) cinco longas, alguns temas fundamentais à atualidade são muito bem explorados: protagonismo das pautas LGBT, transtornos familiares e principalmente uns tapas bem dados na cara do conservadorismo (rs). "Mommy" representa muito bem os sacrifícios e redenções de uma relações familiar e de amizade nada tradicional. É um filme emocionante, sensível e genialmente ousado com o aspecto formal da filmagem.
Vou eternamente amar esse filme, especialmente a cena em que toca 'Wonderwall' - quando acontece aquela 'brincadeira com o formato da tela' (não vou descrever muito pra não estragar a surpresa de quem não viu). É um dos momentos mais bonitos que eu já vi na história do cinema! Sua trilha sonora tbm é ótima - não só porque aproveita muito da cultura pop atual - mas principalmente pelo duplo significado (muito bom, rs) que 'Born to die' tem para o filho de Diane ('Die').
Sobre 'Mommy' - e de um modo geral sobre Xavier Dolan - posso concluir de uma maneira sincera bem resumida assim: ❤
The Dark Side Of The Rainbow
4.4 57Que brisa mais doida. O cara que legendou os comentários com essas coincidências é um mestre da interpretação - ele faz muito bem o papel de qualquer teórico da conspiração, falando em nome de uma verdade que relaciona duas coisas (o disco e o filme) que, à princípio, seriam totalmente diferentes. Me diverti muito com essa viagem, esse é um filme divertido pra quem se interessa por conspirações e teorias malucas.
O único problema seria alguém levar esse filme às últimas consequências e chegar a uma suposta conclusão de que o álbum do Pink Floyd foi feito e pensado unicamente para o 'Mágico de Oz'. Se alguém estiver pensando assim, pelamordedeus pare agora mesmo! "The dark side of the moon" é um disco poético e profundo, uma viagem existencial que passa por lugares como a morte, a transgressão, o sofrimento, a loucura... e que jamais pode ter seu significado resumido às coincidências com o filme do 'Mágico de Oz'.
Tirando essa possibilidade, acho que o psicólogo Carl Jung adoraria analisar essas 'coincidências' com seu conceito de sincronicidade. Seria algo tão maluco como o próprio filme.
Os Idiotas
3.5 283 Assista AgoraÉ complicado falar sobre Lars Von Trier. Mas é ainda muito mais complicado - e 'idiota' - dizer que esse é um filme ruim só porque ele não te agradou (desculpa, eu realmente não queria ser mal educado, mas não pude deixar passar esse trocadilho com o nome do filme. rs).
Se for pra dizer que esse filme - e qualquer filme que seja - é um 'lixo', no mínimo deveria-se explicar o porquê. Caso contrário, reproduzir um discurso reacionário como esse, carregado de ofensas e vazio em argumentação, se torna uma atitude tão violenta e insensata como o golpe de desfecho que a personagem Karen sofre nesse filme.
Um puta golpe - bem intenso e bem dado - no fundo da alma é o que os filmes de Lars Von Trier são. Acabei de assistir "Os Idiotas" agora mesmo, há alguns minutinhos. Com certeza esse (e os demais) filmes de Lars são de fazer o telespectador se sentir mal, se sentir um verdadeiro lixo. Mas isso não é - com certeza não é - motivo pra dizer que o filme também seja um lixo.
Os filmes de Lars Von Trier são intensos e violentos - não (somente) uma violência manchada de sangue, mas principalmente de sofrimento; um tipo de violência existencial. É isso que faz dele um dos diretores mais interessantes atualmente - um dos meus favoritos. Não sei o que me dói mais: ver seus filmes ou ver os comentários intolerantes que essa galerinha vazia em argumentação faz em relação a eles.
Adeus à Linguagem
3.5 118 Assista AgoraGodard sendo Godard. Atribuir um significado a este filme é tão impensável como dar uma nota para ele. Para avaliarmos, deveríamos pressupor critérios de avaliação - dizer que um filme é ruim só porque ele não faz sentido é um argumento tão sem noção quanto o próprio filme (o que não é ruim, uma vez que ele não se supõe expressando sentido algum!)
A linguagem é constituinte de todo sentido que atribuímos àquilo que chamamos de 'realidade'. Se Godard diz 'adeus' a ela, é como se ele estivesse abrindo as portas para uma dimensão que nossas cabeças pensantes nunca conseguiriam imaginar - e vale lembrar que não existe pensamento fora da linguagem.
Bom, a única coisa que sei é que teria sido uma experiência muito mais interessante ter visto esse filme em 3D - "Adeus à linguagem" não pressupõe um sentido, mas uma sessão em 3D sim! Também seria muito interessante se - quem se arriscar a ver esse filme - já conheça um pouquinho da filmografia de Godard, pra ter em mente como esse diretor adora brincar com a subversão da linguagem cinematográfica. Acho que seria uma boa dizer que esse último filme de Godard é uma subversão da cognoscibilidade - quero dizer, do excesso de sentido que atribuímos às coisas.
Hoje mesmo li Fernando Pessoa escrever (no Livro do Desassossego) que "a decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida - o coração, se pudesse pensar, pararia".
Um filme confuso, estranho, inexplicável. E é isso que faz dele uma experiência (estética e reflexiva) muito interessante.
À Meia-Noite Levarei Sua Alma
3.9 288 Assista AgoraSobre esse filme, Caetano Veloso escreve (no seu livro 'Verdade Tropical'): "um filme B brasileiro de que Glauber Rocha tinha gostado (...) em que o imaginário católico aparecia mesclado à pornografia do terror".
Quando fico muito tempo sem cortar a unha minha vó sempre aparece reclamando assim: "olha só, tem cabimento isso? tá parecendo a unha do Zé do Caixão!" Então eu imaginava esse tal de Zé como um personagem de filmes de terror bobinhos, parte do universo de referências culturais da minha vó.
Só que não - não é nem um pouco o que eu pensava.
Achei "À meia-noite levarei sua alma" um filme impressionantemente bem feito pra sua época, marcante na história do cinema nacional não só pela sua forma mas também - uma baita polêmica - pelo seu conteúdo. O terror, o sobrenatural, violência constante, ataques a símbolos católicos, uso de drogas e estupro são temas recorrentes na filmografia do macabro José Mojica Marins - temas encenados cada vez mais com insistência (explorados de forma bem marcante em "O despertar da besta") e que levaram a toda a censura que o cinegrafista sofreu durante a ditadura militar.
Ainda em relação ao conteúdo, isso também me leva a pensar como é (muito) problemático tratar de temas pesadíssimos - como o estupro (!) - sem uma mínima problematização por parte do espectador. Uma assim espetacularização da violência (principalmente contra a mulher) só reafirmaria os preconceitos de nossa sociedade tradicionalmente machista.
Enfim, mantendo o devido distanciamento para não aclamar acriticamente um personagem estuprador, assistir ao Zé do Caixão é ainda assim uma experiência interessante. Achei muito divertido toda essa mistura de elementos do gótico e da cultura brasileira tratados de maneira exaltada e um tanto debochada. José Mojica Marins é uma figura muito entusiasmada e carismática com o cinema que faz.
Viver a Vida
4.2 391O capítulo em que Nana conversa com o filósofo - Bruno Freire destacou um trecho comentando aqui em baixo - me lembrou na hora o diálogo de Mia Wallace em Pulp Fiction: "Não odeia isso? O quê? Os silêncios que incomodam. Por que temos que falar de idiotices para nos sentirmos bem?". E não foi só nesse momento que lembrei do filme de Tarantino, mas também e principalmente na cena da dança no bar. Pensando bem, Nana e Mia Wallace são bem parecidas fisicamente, não?
Sei que Tarantino é rico em referências aos diretores clássicos na história do cinema - e depois de ver "Viver a vida" percebi como Godard é um deles. ~Ótimo filme, diálogos incríveis.
Adeus, Lenin!
4.2 1,1K Assista AgoraTendo como pano de fundo a queda do muro de Berlim, somos apresentados a uma trama marcada por fabulações: todos os personagens de 'Adeus, Lênin!' guardam segredos. Uns maiores, outros menores; todos revelados ao longo do filme, todos gerando mudanças. Uma série de transformações desestabiliza tanto a situação familiar quanto a de todo o mundo pós-Guerra Fria. Quanto à Alemanha Oriental retratada neste filme, vemos a substituição do vermelho soviético pelo vermelho da Coca-Cola - em ambos os casos (inclusive literalmente na maçã que o engasga durante a manifestação) esta é uma cor que constantemente sufoca Alex.
Nem sempre a verdade é a melhor resposta - as vezes somos obrigados a mentir por amor. Com uma trilha sonora sensível (Yann Tiersen ♥) e momentos ora sentimentais, ora divertidos, 'Adeus, Lênin!' nos permite romper as barreiras - ou os 'muros' - do tempo para que viajemos ficcionalmente (e não menos verdadeiramente) através da história.
Relatos Selvagens
4.4 2,9K Assista Agora"Relatos selvagens" é um filme incrível! Um dos melhores de 2014, me deixou de boca aberta com todos os seus seis relatos insanos - além de ter me rendido várias risadas.
Isso que é doido pensar em relação ao filme: como em vários momentos eu me percebi rindo (muito) de situações que são moralmente (MUITO) condenáveis - principalmente na festa de casamento e na briga maluca envolvendo os dois motoristas!
“Rindo se castigam os costumes” - o filme argentino é o melhor exemplo que tenho para representar esta afirmação bem conhecida. Um belo e bem dado tapa na cara da moral e dos bons costumes, que se tornam motivo de deboche e de desconstrução por intermédio da câmera cinematográfica. "Demonstremos que toda essa festa de casamento é mentira! - mas o anel é de verdade". AAH, como eu torço pra pelo menos uma vez na vida ser convidado (mas só um convidado distante, e não noivo) de um casamento como esse!
"A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena" - Seu Madruga estaria certo se usasse sua declaração profunda para sintetizar o espírito desse filme. Nenhum dos personagens pirados de "Relatos selvagens" consumam plenamente suas vinganças, f*dendo ainda mais situações que de tão ~selvagens - por isso dos animais ferozes nos créditos iniciais - pareciam em um primeiro momento impossíveis de piorar.
No Espaço Não Existem Sentimentos
4.3 450Pra quem gosta daqueles filmes simples que são guardados com carinho em nossa memória, "No espaço não existem sentimentos" é a minha melhor indicação.
Uma declaração de amor por interpretações não literais da vida. Um grito contra qualquer forma de rotina automatizada. No Espaço Não Existem Sentimentos propõe enxergar a beleza dos acontecimentos simples e inusitados do dia a dia. Diante de um mundo cada vez mais cronometrado, ele busca recuperar o tempo voltado para o relacionamento com novas experiência e novas pessoas.
"Um ótimo molho leva tempo, assim como o amor". É um dos melhores que conheço para quem gosta de filmes fofos em que, exatamente como comentou Nino Batista aqui abaixo, é "impossível não abrir um sorriso no final".
Batalha Real
3.6 588 Assista Agora"Battle royale" é um puta filme exagerado (pirado) no melodrama e nas cenas de ação e violência - é interessante para quem gosta de filmes do gênero.
Mas o que me chamou mais atenção foram as (muitas!) semelhanças que esse filme mantém em relação à atual saga dos "Jogos vorazes". Não só a história - pois o 'jogo' de assassinato e violência entre os jovens opera sob a mesma lógica em ambos os filmes - mas inclusive alguns detalhes presentes em suas estruturas narrativas: o destaque dado a dois personagens - o 'mocinho' e a 'mocinha' -, o grande vilão sendo um governo militarizado/ditatorial, o recurso dos avisos periódicos sobre participantes que morreram, os cenários (cavernas, florestas) - principalmente a sala de controle com aquela telona monitorizando o movimento dos jovens no mapa! -, enfim...
Contudo, uma diferença central que posso destacar é que o apelo romântico e sentimental é muito mais explorado nos filmes dos "Jogos vorazes". Por fim, não acho esta saga tão popular atualmente seja uma ~cópia~ do filme japonês, mas é um tanto quanto evidente que há nela muita influência de 「バトル・ロワイヤル」. (Esses meus comentários são só em relação aos filmes mesmo, não li nenhum dos livros que deram origem a estes filmes).
Espelho Mágico
3.7 5Tive que abandonar o filme nos seus primeiros 10 minutos. Mas não estava achando desinteressante! - o problema era outro: era linguístico.
Foi a primeira vez que decidi assistir um filme falado em português europeu. Mas com minha capacidade de compreensão do português brasileiro, senti muita dificuldade nessa tarefa! Senti na prática a discussão se estas são duas línguas diferentes - este filme me fez dizer que sim: distintas não só na pronúncia ou no léxico, mas inclusive sintaticamente.
Ah! Se um dia eu encontrar legendas, volto a ver ele (ou volto a "vê-lo", como diriam os purtugueses do filme).
Arca Russa
4.0 183"Melhor que o Vaticano, isto é São Petesburgo!". Este é um filme impressionante: com a câmera realizando um passeio histórico e contemplativo, são apresentados 97 minutos de filmagem sem cortes (!) ao longo dos grandes salões do atual museu Hermitage em São Petesburgo - complexo que inclui o famoso Palácio de Inverno dos Romanov.
"A Rússia é como um teatro". A cada salão visitado, os grandes períodos e personagens da história russa convivem em sincronia - no filme há um sentimento de permanência da memória histórica que é reforçado formalmente por seu plano-sequência interminável. É como se o tempo fosse um oceano de ondas contínuas e a grande obra arquitetônica do palácio em que se passa o filme - este também como uma grande obra cinematográfica - fossem a representação da "arca" que flutua nestas águas e desbrava os mares da história.
Também achei incrível o ator Sergey Dreyden, que faz o papel do marquês francês, espécie de guia do espectador pelos salões do Hermitage. Só por curiosidade, ele é inspirado na figura histórica do Marquês de Custine, que realmente existiu e é autor de um livro de viagem intitulado "Viagem à Rússia" (1839).
Além destas reflexões que podem ser depreendidas do filme, apenas assisti-lo como forma de fruição estética já vale muito a experiência. "Arca Russa" é realmente um dos filmes com a filmagem mais bonita que eu já assisti.
"Então foi aberto o santuário de Deus nos céus, e ali foi vista a arca da sua aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, um terremoto e um grande temporal de granizo".
Apocalipse 11:19
Juventude Transviada
3.9 546 Assista Agora"Por um lado, na vida e nos filmes James Dean exprime as necessidades da individualidade adolescente, que, ao se afirmar, recusa as convenções da vida embrutecida e especializada que se abre à sua frente. A necessidade de totalidade e de absoluto é a necessidade real do indivíduo humano quando ele se liberta do ninho da infância e das amarras da família - e só vê diante dele as novas amarras e mutilações da vida social. (...) Por fim, o adulto das sociedades burguesas e burocratizadas é aquele que aceita viver pouco para não morrer muito. Contudo, o segredo da adolescência é o de que viver é correr o risco de morrer, a fúria de viver é a impossibilidade de viver. James Dean viveu essa contradição e a legitimou com sua morte."
- Trecho do livro-clipping "James Dean - por ele mesmo"
James Dean, o jovem ator rebelde, é claramente o que mais merece destaque nesse filme. Ele marca o início de toda uma nova representação cinematográfica da juventude na cultura norte-americana, em uma época na qual o mesmo fenômeno revolucionava o campo musical (a exemplo de Elvis Presley) e o literário (com os escritores da Geração Beat). Uma juventude em busca de seu sentido, que não se via mais representada no modelo de família tradicional vivido por seus pais e que buscava como resposta uma outra forma de vida que preenchesse o vazio existencial tão marcante em uma figura como James Dean. Uma busca mesmo sem saber exatamente os novos rumos que seriam tomados: como no título original do filme, eles são "rebeldes sem causa".
Sintetizando, essa "juventude transviada" não sabia exatamente o que queria, mas ela tinha certeza que ~não~ queria continuar seguindo os padrões tradicionais de um modelo decadente que pouco significava para essa nova geração.
Jesus Cristo Caçador de Vampiros
3.2 106 Assista AgoraJesus Cristo ressurge na contemporaneidade para lutar contra um grupo de vampiros atacadores de lésbicas. Com o objetivo de protegê-las, Cristo conta com a ajuda do mexicano lutador de lucha libre El Santo. Recheado de referências bíblicas, musicais inesperados, combates de kung-fu e muita tosquice, "Jesus Cristo Caçador de Vampiros" é um clássico do cinema trash.
O filme tem cenas muito engraçadas de tão ridículas: acho que principalmente aquela em que Cristo recebe a revelação divina através de uma tijelinha de sorvete com cerejas. Quem é fã de cinema trash vai se divertir muito com esse filme.
Troll 2
2.7 69 Assista AgoraDefinitivamente o filme mais tosco dentre todos os que eu eu já vi - e provavelmente dentre todos os que vou ver em toda a minha vida. Desconsiderando algumas piadinhas preconceituosas, dei muitas risadas com sua atuação horrível, sua maquiagem ridícula e seu enredo muito bem sucedido em ser péssimo - ou seja, "Troll 2" é um filme trash perfeito.
A solução do garotinho para que a família não coma a armadilha preparada pelos goblins: AH! essa é a cena mais genial desse filme. Sim, goblins: o interessante é que não existem trolls na história, mas goblins (!) - o que deixa tudo ainda mais tosco.
Para quem procura se divertir com um filme muito muito muito ruim, "Troll 2" é uma boa escolha. Também valeu a experiência ver o filme que deu origem ao meme "OH MY GOD!": Meudeusdoceu, perdi 95 min. da minha vida vendo esse filme.
Ataque dos Tomates Assassinos
2.8 264 Assista AgoraNa infância, tenho certeza que a galerinha responsável por esse filme tenha sido o tipo de criança que, assim que a mãe colocava a salada na mesa do almoço, gritava: 'eu odeio tomate!!!'.
"Ataque dos tomates assassinos" (1978) é o exemplo perfeito pra ser mencionado quando alguém te pergunta o que é um filme trash. Por um lado, dei muitas risadas com as cenas super debochadas em relação à política, ao exército e aos costumes estadunidenses (principalmente com a reunião inusitada na minúscula sala que acontece no início do filme - "PPPPP!"). Por outro, não tem como ignorar a representatividade claramente preconceituosa dos seus poucos personagens negros e femininos: depois da cena do ketchup (diga-se de passagem: a piada sobre ketchup é a melhor do filme!), o único coadjuvante negro na história literalmente some - e antes disso ele aparecia de modo muito periférico, como um personagem secundário bem menosprezado.
Contudo, se for pra eleger outro ponto positivo, não posso deixar de mencionar certas cenas que fazem referência a outros filmes consagrados como: 'Os pássaros', 'Psicose' e 'Tubarão' (pelo menos foram as que eu consegui identificar). Também é interessante a maneira debochada com que o filme apresenta os créditos iniciais - três anos após Monty Python também usar esse mesmo recurso na abertura de "Em busca do cálice sagrado" (1975).
Bom, resumindo: esse é um bom filme pra quem deseja ver um filme ruim - com muito nonsense, musicais inesperados, quebras de expectativa e piadas que são engraçadas justamente por não terem a menor graça.
"It's not blood. It's... Tomato juice!"
Além do Arco-Íris Negro
3.0 91Um filme realmente estranho que, pessoalmente, não me agradou nem um pouco.
Para começar, 'Além do arco-íris negro' é um filme bastante peculiar. Ele é muito bem sucedido quando combina sua trilha sonora desconcertante com cenas que - além de igualmente causarem um mal-estar - apresentam um quê de psicodelia muito bizarra.
Como experiência visual, é um filme interessante (apesar de eu considerar que em determinado momento isto se torna excessivo e bastante entediante). É entediante também pelo rítmo lento (leeeeeeeeeento) - mas, bom, isso não é motivo pra se desqualificar um filme! Na verdade, achei este filme chato principalmente por pesar tanto no aspecto visual e parecer não dar a mínima importância para a história: seus pouquíssimos diálogos são totalmente desconexos, há personagens e acontecimentos igualmente desnecessário, sem relação entre si e com a história como um todo. São elementos que estão aí só para 'encher linguiça' - a tal ponto que a linguiça fica tão exageradamente estufada que só pode levar uma longa e desagradável má-digestão.
Sou vegetariano, odeio linguiça. Também odeio esse filme.
Acredito que Panos Cosmatos teve principalmente o objetivo que criar um filme diferente e alternativo, mas essa pareceu-me uma tentativa bastante forçada.
Holy Motors
3.9 652Como (re)afirma muito dos outros comentários aqui: o filme é realmente bizarro! 'Holy motors' investe claramente na falta de sentido e nas constantes quebras de expectativa (características que me renderam várias risadas e indagações do tipo: "pØrra, como assim aconteceu ISSO?!"). Pensando bem, constatar isso me faz interpretar neste filme uma mensagem poderosa. No que guardei dele em minha memória, não consigo lembrar de um rosto específico para o protagonista - quero dizer, a todo o momento ele faz o papel de um outro, sem ter pra si uma identidade e um papel próprios. A realidade mostrada no filme (e diria que aquilo que apelidamos de 'realidade' - fora da tela - também) é uma constante e eterna representação. Assim, não existe diferença alguma ao tentarmos diferenciar: cinema/vida real; representação/autenticidade; performance/verdade. Todas essas dicotomias não são nada mais que a aparência de uma mente racional que não consegue conceber como ficção e realidade são marcadamente sinônimos. "A beleza está nos olhos de quem vê... E se não houver mais quem a veja?"
Sim, sei que essa é uma interpretação viajada pra cacete. Mas gosto disso: nada melhor pra se pensar um filme bizarro como esse.
Borgman
3.5 133Borgman é um filme bizarro. Digo isso porque ele investe no nonsense sem ser marcadamente uma comédia (apesar de ter situações rápidas em que eu não aguentei segurar a risada), mas é justamente essa falta de sentido levada de forma séria que faz o sentido do filme.
Li críticas, interpretações, e achei algumas que afirmam um sentido sociológico ou até mesmo bíblico (!) para este filme. Bom, achei elas realmente forçadas - e, apesar de parecer, a epígrafe inicial não é uma citação bíblica (é tampouco uma citação - pois a frase existe apenas nesse filme). Acredito que um dos seus sentidos mais marcantes (não há um só sentido para ele; bom, assim como também não há um sentido para qualquer coisa) seja retratar o mal na modernidade, que permanece oculto nas famílias mais acometidas pelo nonsense da normalidade. Um mal que que não é explícito, mas que entra nas casas da maneira mais educada, como um estranho desconforto que bate à porta pedindo licença. Essa forma de mal-estar da contemporaneidade fica extremamente claro com um comentário feito pela médica que, ao consultar as crianças doentes, dá o diagnóstico de que "as crianças estão sobrecarregadas. Por causa do mundo moderno. Não se esqueça que elas tem muita coisa para lidar nos dias de hoje: TV, internet, escola (...) há tensões na família?"
É um bom filme - especialmente para quem gosta de pontas soltas, quebras de expectativa, falta de sentido e filmes realmente porra-loucas.