Em determinado momento a Mãe diz: "Eu olhei para os jurados. Olhei em volta. Vi quem estava prestando atenção. Entende? Como você pode chegar a uma decisão de peso se está lendo uma revista? Se está jogando palavras cruzadas? Se está conversando? Participar de um Juri, especialmente um de acusação, é um dos maiores privilégios de um cidadão neste país. E você não deve decidir com base em etnia, fé ou cor. Você precisa julgar o peso das provas apresentadas. A minha sensação foi que eles não se importavam. Se eu morrer hoje, amanhã ou depois, seguirei acreditando que não ligaram porque o meu filho era um jovem negro. Sempre vou acreditar nisso. Sempre. Até o dia da minha morte."
Ironicamente isso cabe muito bem aqui em relação a determinados comentários. - A falta de empatia disfarçada com um insípido senso crítico de alguns.
O olhar dessas 3 mulheres ficaram marcados em mim. Um documentário precioso e acima de tudo humano.
Queen of Earth é um daqueles filmes que você provavelmente irá odiar se tiver um olhar cru sobre a aspiral de loucura em que ele te joga sem nenhum tipo de preocupação em ser didático. Porém um olhar mais vicioso e atento é capaz de absorver sua atmosfera (meticulosamente claustrofóbica) e dissecar suas entranhas e compreender suas camadas revelando assim um excelente filme de difícil digestão. Inicialmente o filme trata a deterioração mental gradativa de uma personagem enquanto, o fato e presenciado de forma fria por outra, é acima de tudo um estudo real e um tanto cruel sobre a "AMIZADE".
"um ano antes Virgínia (Katherine Waterston) & Catherine (Elisabeth Moss -sempre maravilhosa) tiveram sua amizade testada pelo fato de ter saído de um relacionamento ruim, por outro Catherine esbanjava felicidade em seu relacionamento a ponto de não enxergar as necessidades da própria amiga" Um ano depois os papéis se inverteram e o mundo perfeito de Catherine vai por água abaixo, enquanto ela precisava da Virgínia, essa por sua vez já não à enxergava com os mesmos olhos de antes. Virgínia observa o declínio da amiga de forma cínica, e satisfatória, um tanto quanto realizada"
O silêncio, o vazio, o som ambiente ou a falta dele se somam com a capacidade que Elizabeth Moss tem de comunicar com um simples olhar. A mudança no olhar de Catherine é notável durante todo o filme. A partir do passado e presente se misturando durante o filme nota se as diferentes características entre as personagens e o sutil jogo de inversão de papeis e o significado por trás dele
Se antes Virgínia estava vulnerável, antipática, sarcástica e egocêntrica -resultado da falta de atenção de Catherine, ou até mesmo um incomodo com a felicidade da amiga. Um ano depois ela se demonstra mais amadurecida, livre, e confortável com a sua solidão. Enquanto Catherine vai se definhando aos poucos física e mentalmente, Catherine e dependente e instável sem uma presença masculina, seu mundo perde o sentido quando é deixada pelo namorado. Sua existência depende da sombra de um homem, sua capacidade artística é bloqueada sem a sombra do pai (falecido), sua felicidade se esvazia sem uma sombra masculina - O que a difere totalmente de Virgínia.
No último flashback quando Catherine está indo embora com o namorado Virgínia diz a ela em tom de brincadeira algo mais ou menos como: - Na próxima vez eu espero que você esteja pior que eu. O que de fato se consumou. Catherine se matou. E deixou o quadro pra Virgínia como um lembrete, a culpa que ela vai sentir todas as vezes que olhar para a pintura. O sentimento de não ter se importado ou se esforçado para tentar ajuda-la. Da sua vingança particular. Foi de certa forma a maneira que Cantherine encontrou pra se vingar de Virgínia, fazer ela lembrar da sua morte pra sempre. E assim se tornar a "Rainha do Mundo" , a dona da verdade, a que deu a última palavra, a que vai se manter viva na memória daqueles que a conheceram e tentaram se opor contra ela, a que vai fazer todos se sentirem culpados pela sua morte.
"Amizades são conturbadas."
Ps: PAREM DE COMPARAR ESSE FILME COM "PERSONA" DO BERGMAN. GRATO.
Elogiarem personagens racistas que ficam bonzinhos no final
Frances McDormand é a força do filme, e é exatamente a força de sua atuação (digna de todos elogios possiveis) que sustenta o longa, e, paramos por aí. O que inicialmente se mostra como algo original com probabilidades para o inesperado, se direciona aos poucos para os "clichés nosso de cada dia" com direito a um roteiro em certos momentos extremamente exagerado, e com inúmeros furos. O filme peca em situações um tanto quanto forçadas, utilizando elementos e ou situações de outros filmes -exemplo:
A cena em que o policial negro chega na delegacia e é tratado com total indiferença pelos policiais brancos, essa merda já foi feita em "No calor da noite" (1967) estrelado por Sidney Potier. Que por coincidência o ator que interpreta o policial branco racista-que fica bonzinho no final- ganhou o oscar de melhor ator.
Todos utilizam a porra do "humor negro" o que me pareceu ser uma espécie de muleta do roteirista para fazer desesperadamente com que o público goste de seus personagens. E o que se casa muito bem com Frances McDormand, se torna desnecessário com as cartinhas desnecessárias de Woody Herrelson, por exemplo.
Infelizmente o que poderia ser um puta filme, acaba não chegando em lugar algum. Mas vale a visita pela Frances McDormand.
É interessante perceber o exercício existencial que esse filme propõe, a começar pela forma em que a protagonista é construída e em dados momentos desconstruída, toda a sutileza, e sensibilidade envoltos em sua existência.
À primeira vista vemos younghee como uma jovem meiga, carismática, simpática tentando sobreviver a solidão e ao sentimento fúnebre de pós termino. Mas nunca sabemos ao certo o que aconteceu, como aconteceu e por que aconteceu, apenas somos informados através de belos diálogos sobre o término ... A partir da relação de younghee com seus amigos é que é possível perceber suas reais características. É como se o tempo inteiro younghee vivesse uma personagem que ala mesma criou para se permitir sofrer, para causar a todos a sua volta um sentimento de empatia, enquanto o espectador se fascina com sua vulnerabilidade. Através de um olhar mais atento, percebe-se o quanto ela é dependente, carente, explosiva e um tanto egocêntrica - pois adora receber elogios de todos a sua volta - As duas cenas em que younghee está bêbada é onde de fato ela sai da personagem e mostra sua verdadeira face.- Obviamente sua dependência emocional e carência excessiva foram a ruína de seus relacionamentos.- younghee é incerta, inconstante e apaixonada por uma idealização de 'AMOR'. Acredito que a sequência final na praia foi um sonho, onde o diretor do filme fala sobre estar fazendo um filme autobiográfico e é questionado por ela e logo em seguida ele lê pra ela um trecho de um livro:
"Chegou o momento da separação. Quando cruzamos os olhares naquela sala, perdemos o controle. Eu a peguei em meus braços, ela aperta o rosto em meu peito. Lágrimas caindo de seus olhos. Beijando sua face, ombros e mãos molhadas, éramos verdadeiramente... infelizes. Eu confessei meu amor por ela, e com uma ardente dor no peito, percebi o quão era desnecessário, insignificante e ilusório tudo aquilo que havia impedido nosso amor. Quando se ama, devemos, no nosso entendimento desse amor, priorizar o que é mais elevado, o que importa mais que a felicidade ou tristeza, ou mais que a ideia de pecado e virtude, caso contrário... não devemos raciocinar em nada, foi o que percebi." Younghee acorda na praia e começa a caminhar de uma forma que foi vista poucas vezes durante o filme: (SOZINHA). Levando consigo o significado daquelas palavras.
E.x.p.e.c.t.a.t.i.v.a.s Foi o que acabei criando ao assistir o trailer de Mudbound pela primeira vez, seja pela temática e também por trazer uma mulher negra a frente da direção. Mas ao final do filme me restou apenas uma sensação incomoda de ""d.e.c.e.p.ç.ã.o"" Apesar de achar a direção de Dee Rees (que já havia dirigido maravilhosamente bem Bessie) uma direção segura e tecnicamente perfeita, se encontra no roteiro assinado pela mesma e acompanhada por Virgil Williams o verdadeiro calcanhar de Aquiles do longa. Tudo em Mudbound foi construído para deleite da crítica e do grande público, e o que de fato me incomodou foi justamente a construção dos personagens negros, sempre omissos, e em segundo plano, servindo estruturalmente como escada para o brilhantismo e a boa e velha benevolência dos personagens brancos -O público e crítica tendem a amar esse tipo de filme- que de fato parecer ter sido pensado e executado pra eles. Mas é incrivelmente notável os arquétipos criados em cima de personagens negros, ok, devemos fazer um recorte racial e temporal levando em consideração a época em que tudo se passa -segregação racial em plena vigência- Porém, aquelas pessoas negras não esboçam nenhuma reação até nas mais crueis das situações, tudo é naturalizado por elas que nem em seus momentos de particularidade demonstram algum resquício de 'reação'
a cena em que o próprio filho foi cruelmente tortudado pela KKK. NADA!!!! nenhuma reação, tudo ficou por conta do herói branco e salvador
Cabe a Mary J Blige, dona do melhor album de R&B de 2017 (Strength Of a Woman) a se destacar pela simplicidade de sua atuação, através de um simples olhar, um gesto, ou um sorriso tímido, se faz completamente notória. Mudbound tem seus bons momentos e uma fotografia lindíssima, mas é um filme que fica pela metade do caminho, altamente esquemático e unilateral. Me pergunto até quando o cinema vai continuar romantizando racismo-escravidão-segregação a partir da ótica do branco salvador?
Esse e mais um daqueles filmes que dividem opiniões e se propõe a causar no público algo fora do comum, de tirar o espectador da zona de conforto e sinceramente acho isso incrível. Acho que poucas pessoas se atentaram ao fato de que independente do título do filme ser "Sam Was Here" durante os créditos iniciais aparece "NEMESIS" como sendo o título real do filme.
Nêmesis é um substantivo masculino com origem no grego, que indica vingança ou indignação justificada. Também é usada como sinônimo de inimigo. Na mitologia grega, Nêmesis era a deusa da vingança, que castigava o comportamento degenerado dos seres humanos. Nêmesis é uma defensora do equilíbrio, justiça e vingança divina, que castigava os homens que quebravam as leis estabelecidas. Na astrologia Nêmesis é considerada a "irmã maligna do sol"- E justamente após os créditos iniciais quando Sam avista uma pequena luz vermelha no céu vemos na tela o título 'Nêmesis', e em todo decorrer do filme essa luz vai aumentando de tamanho.
Toda a estrutura do filme lembra muito os filmes dos anos 90, principalmente a trilha sonora, que diga-se de passagem é ótima.
Sam was here é o julgamento de uma alma torturada pela culpa, seus crimes e pecados. Por mais que Sam pareça ser um homem integro e inocente, pq talvez o próprio criou essa imagem de si mesmo - até pq muitos pedófilos, serial killers e estupradores em potencial aparentam ser inofensivos, muitos até são casados e com filhos e vivem uma vida aparentemente normal. Após a morte de Sam Nemesis desaparece do céu pois já cumpriu o seu papel de julgar e punir a alma dele. Tudo aquilo seria um purgatório para Sam. Ouu Sam realmente fosse alguém inocente injuticado pelo simples prazer de Nemesis - a cena em que ele ouve o som de sam sendo torturado e sentindo um enorme prazer com tudo aquilo.
Acredito que esse filme tem e terá diversas análises e entendimentos, todas podem ser certas ou erradas, mas ele faz com que saíamos do senso comum e da falta de originalidade do cinema comercial. E faz isso muito bem.
Vamos a um fato real: Hollywood é perita em boicotar filmes com "temas raciais" onde personagens negros não funcionam como estereótipos 'negativos' e ou não são salvo pela benevolência pré fabricada de personagens brancos. Inicialmente não sou um fã de Kathryn Bigelow, e continuo achando 'Stranger Days' seu melhor trabalho como diretora, porém, em Detroit devo dizer que sua direção foi altamente incisiva e certeira, mesmo apostando no velho esquema de tom documental - Aqui essa técnica se casa perfeitamente na trama contada, onde a câmera se torna um espectador curioso e nervoso no meio do caos, muito disso se reflete em "John Boyega (Melvin Dismukes)" que se torna um espectador e que reflete muito bem as sensações de quem está do lado de cá da tela, a incapacidade de Melvin Dismukes diante de toda aquela situação desprezível se encontra no olhar de John Boyega (também injustamente ignorado nas premiações) mesmo quando este está em segundo plano durante toda a sequência do hotel, que por sinal é o grande ápice do filme, e que a direção de Bigelow soube construir uma ponte que nos leva ao que de fato é o palco central do que o roteiro quer nos mostrar. Detroit não é apenas um filmes que se presta a reconstruir a rebelião em si, mas se presta a algo muito mais importante: Uma reflexão direta sobre racismo e sociedade, sobre uma ferida que ainda está aberta e ainda sangra, sobre o fato que tudo que ocorreu décadas atrás insiste em se repetir nos dias de hoje, o povo negro segue morrendo na mãos da polícia, segue sendo o maior número nas prisões, e seguem psicologicamente abalados dentro de uma sociedade estruturalmente e sistematicamente racista. E isso Hollywood faz questão de não conferir visibilidade alguma.
NÃO NÃO NÃO NÃO E NÃO!!! Quando surgiu a possibilidade de um ramake desse filme eu pensei: Puts! Lá vem merda. E eu não estava enganado. Apesar de ser visualmente deslumbrante - um belo trabalho de fotografia, direção de arte e figurino. Esse remake dirigido pela Sra. Coppola PARA por aí... A adaptação- roteiro - é altamente preguiçosa (me pergunto se ela realmente leu o livro). Em 1971 Don Siegel dirigiu a primeira versão de The Beguiled ou "O estranho que nós amamos" que pra mim segue como uma obra perfeita e atemporal, principalmente se comparando com esse remake da Sra. Coppola. Na versão de Siegel as personagens emanam uma forte energia sexual, e isso é pontuado no filme através de pequenas narrações em forma de pensamento, apenas um prelúdio da sensação que o "estranho" causa em cada uma delas. Enquanto em 1971 Don Siegel oferece personagens a flor da pele, em 2017 a Sra. Coppola oferece personagens insípidas. John McBurney (que em 1971 é interpretado por Clint Eastwood no auge de seu charme e beleza e em 2017 pelo insuportável Colin Farrell) funciona como um imã, trazendo a tona desejos e sensações -até então desconhecidos- por essas mulheres, a solidão. O que nos leva a pensar que The Beguiled é sobre a natureza da mulher, os desejos e impulsos que são sentimentos naturais, porém reprimidos pelo conservadorismo e pelo puritanismo imposto para as mulheres e pq nao dizer o seu lado sombrio e que sinceramente Sofia Coppola não soube expressar nesse ramake desnecessário. Outro ponto um tanto curioso nesse ramake é que a Sra. Coppola - que tbm assina o roteiro- retirou da trama a única personagem NEGRA (WTF?).......E ainda não satisfeita comete um crime hediondo que é FODER com o desfecho do filme. - A versão de 1971 tem um dos finais mais impactantes do cinema, principalmente levando em consideração a época em que foi lançado.- E a Sra. Coppola fez o favor de estragar isso tbm.
Favorito esse filme pelo simples fato de causar em mim um efeito raro - diversão e gargalhadas descontroladas - Não sou fã de comédias e a grande maioria não surtem efeito algum sobre mim e outras simplesmente me causam irritabilidade. Girls Trip, apesar de ser um filme que inicialmente não traz nada de inovador no quesito "trama" , até pq esse tipo de premissa já é utilizada desde os anos 80 e repetida incansavelmente "e" em todas as vezes por um elenco formado por brancos. Aqui temos a quebra desse protocolo Hollywoodiano, que no meu ponto de vista é um diferencial importantíssimo. A construção das personagens podem até ser arquétipos um tanto quanto desgastado por esse tipo de filme, porém é inegável a química entre as atrizes, e todas as personagens cativam de forma independente da outra, com destaque pra Tiffany Haddish (Dina)- palavras não são capazes de definir a presença dela nesse filme, espero sinceramente que a performance dela seja reconhecida nas futuras premiações, porém levando em consideração o histórico racista das premiações seria 'esperar muito'. Girls Trip é cativante por suas personagens e por principalmente celebrar a mulher negra, sua pluralidade, sua beleza, sua cultura, sua força. Sinceramente, o filme mais divertido que ja assisti em anos. Cumpre muito bem o seu propósito como comédia. #BlackGirlsMagic
Body Rice é uma experiência única, é um daqueles filmes que você assiste e provavelmente NUNCA assistirá novamente, e isso não é necessariamente algo negativo. O longa dirigido por Hugo Vieira da Silva é o retrato silencioso de uma geração um tanto 'sequelada', o diretor aposta no silêncio e na desconexa relação de seus personagens, tranzendo na maior parte do tempo uma estranha sensação de incompreensão. Nada é informativo em Body Rice, você não sabe nada a respeito daquelas pessoas, todos compartilham o mesmo espaço, mas cada um carrega o seu universo particular e que por algum motivo todos são movidos por uma incapacidade mórbida de comunicação, mas existe um único ponto que liga esses estranhos personagens- as raves - em sequências que de início podem parecer desconexas, mas é através destas cenas e da trilha sonora (muito Foda, com direito a Joy Division e tudo) é que o espectador consegue colher poucas informações sobre aqueles estranhos. Penso que Body Rice é uma experiência sensorial, tanto pelo silêncio quanto pela forma abrupta que ele é quebrado seja pela música eletrônica ou por qualquer outra música (escolhida a dedo), aí então percebe-se sobre oq realmente é o filme. Body Rice é a sequela em alto nível, é sobre pessoas q elevam seu corpo, mente e alma a níveis altíssimos, é sobre a bad trip, o bode frio, sobre a mente humana não conseguindo sobreviver na realidade, é o LSD que bateu errado, a bala que prometia ser boa mas falhou, o pó que causou dor no estômago e principalmente sobre o VAZIO que só parece ser preenchido na pista de dança com uma garrafa de água como sua melhor e única amiga.
Excelente direção de Sydney Pollack, edição ágil e com Poitier & Bancroft em perfeita sintonia sem nem ao menos dividirem a cena. Um filme que em termos técnicos realmente não deixa a desejar.
Quando Billie Holiday canta "FAREWELL TO STORYVILLE", se sente toda a real essência do filme e da ramificação do Blues/Jazz. Expulsos de New orleans (berço do Blues/regtime/Jazz) como uma forma de repressão racista da burguesia perante a cultura musical negra da época, aqueles artistas negros que foram separados para diversos pontos da América levaram consigo o seu maior tesouro - sua arte- O que foi inicialmente uma tentativa de expurgar a cultura negra de storyville -New Orleans- ironicamente espalhou ela por todo o país, como um vírus, e logo o blues e o Jazz revolucionaram a música. Um belo filme, belas canções e com Billie Holiday e Louis Armstrong dividindo as cenas musicais é um deleite tanto para os olhos quanto pro coração.
Apesar da clara homenagem a Felini e de trazer Sophie Charlotte belíssima em uma fotografia em preto e branco, diálogos em certos momentos bem inspirados, Br 716 é mais um daqueles filmes que representam o fetiche do cinema Nacional em romantizar a ditadura militar, onde a única preocupação parece ser mostrar o quanto a intelectualidade branca sofreu com a repressão daquela época, o quanto os jovens brancos eram extremamente inteligentes, cultos sabiam de tudo e sobre tudo, e que em momento algum, eu disse "em momento algum" fogem ou se preocupam em fugir desse estereótipo branco intelectual e sempre passando a idéia de que a ditadura só atingiu a branquitude do país e principalmente excluindo a existência de toda ou qualquer intelectualidade NEGRA daquela época. A ditadura militar foi tomada pelo cinema e pela tv como uma forma de mostrar que em algum momento (ou único) na história desse país a burguesia teve seus privilégios ameaçados e negados e passando sempre a idéia excludente de que a ditadura foi sofrida apenas pela branquitude, em um país onde a maioria é negra. Ironicamente falando, é como se no período da repressão os negros fossem completamente livres e isentos das mesmas repressões, quando na verdade foram simplesmente excluídos dessa parte da história que tanto o cinema quanto a tv teimam em reproduzir.
Sobre o comentário abaixo: A respeito da "benevolência" com a qual Helen é mostrada, bem, toda história tem dois lados e não precisam necessariamente de um vilão. Ela cometeu o crime, foi presa, cumpriu a pena dela....a questão é a forma como enxergam a mulher (ainda mais sendo negra) comentendo essa espécie de crime passional e o interessante do documentário é exatamente não comprar um dos lados, até pq Helen Morgan foi o fator determinante pra q Lee Morgan se tornasse quem se tornou, foi ela que tirou ele da lama, do vício e ajudou ele a retomar a carreira que estava praticamente perdida, e ele retribuiu tudo isso traindo ela sem nenhum tipo de remorso. Lee Morgan foi um artista excepcional, impecável um tesouro do jazz e devemos agradecer Helen Morgan por isso.
"Esse filme é o típico caso: Diretor(a) branco(a) que dirige um filme que conta a história de pessoas negras. E não, isso não é uma espécie de preconceito, é apenas uma inegável realidade"
Eu amo Nina Simone de todas as formas possíveis e oq a diretora Cynthia Mort fez aqui foi algo extremamente vergonhoso em inúmeros aspectos. Começando por Zoe Saldana (amiga da diretora na vida real). Zoe poderia SIM ter negado o papel por questões estéticas notórias, e isso nos leva pra caracterização PORCA da personagem, com direito a prótese no nariz e nos dentes, em dados momentos Zoe aparecia extremamente escura, outros momentos mais clara, em outros o rosto era mais escuro q o restante do corpo, em seguida com as mãos claras, as pernas mais claras que o restante do corpo - e quando chegava atrasada pra maquiagem entrava em cena apenas com um bronzeado alá-kardashian (rizus). Outro ponto crítico do filme é a própria Zoe interpretando as mais famosas canções da Miss Simone com a própria voz - oq ao meu ver foi simplesmente uma demonstração egocêntrica de talento e no mínimo desrespeitosa. E tudo isso é ancorado por um roteiro preguiçoso, mal escrtito e visivelmente sem nenhum trabalho de pesquisa. O sentimento é de vergonha e decepção, incomodo e raiva. Fico na espera e no desejo de Nina Simone ganhar um filme a sua altura, dirigido por um(a) direto(a) negro(a) e devidamente interpretada por uma atriz negra de pele retinta.
Esse filme é um tesouro escondido no tempo, uma daquelas preciosidades que foram soterradas por blockbusters que se preocupavam em seguir o modismo da vez. Strange Days sobrevive ao tempo justamente por ser um filme a frente de seu tempo. Criação de James Cameron e execução (sensacional) de Katheryn Bigelow -eis aqui sua melhor direção (minha opinião). Ótimas atuações, destaque pra Angela Bassett que prova que o filme está além das fórmulas desgastada de protagonismo. Uma das minhas trilhas sonoras favoritas. Enfim Strange Days é um presente dos anos 90.
Que final foi esse meu povo??? Apesar de um tanto óbvio não deixa de ser chocante, principalmente levando em consideração o ano em que o filme foi feito. Corajoso e surpreendente pra caralho!!! Anos 80 ♥
Strong Island
3.5 49Em determinado momento a Mãe diz:
"Eu olhei para os jurados. Olhei em volta.
Vi quem estava prestando atenção. Entende?
Como você pode chegar a uma decisão de peso se está lendo uma revista? Se está jogando palavras cruzadas? Se está conversando? Participar de um Juri, especialmente um de acusação, é um dos maiores privilégios de um cidadão neste país. E você não deve decidir com base em etnia, fé ou cor. Você precisa julgar o peso das provas apresentadas.
A minha sensação foi que eles não se importavam. Se eu morrer hoje, amanhã ou depois, seguirei acreditando que não ligaram porque o meu filho era um jovem negro. Sempre vou acreditar nisso. Sempre. Até o dia da minha morte."
Ironicamente isso cabe muito bem aqui em relação a determinados comentários. - A falta de empatia disfarçada com um insípido senso crítico de alguns.
O olhar dessas 3 mulheres ficaram marcados em mim. Um documentário precioso e acima de tudo humano.
A Cura
3.0 707 Assista AgoraUm pseudo 'A ilha do medo'
Com um pseudo 'Leonardo DiCaprio'
Dirigido por um pseudo 'Martin Scorsese'
Rainha do Mundo
3.2 90 Assista AgoraQueen of Earth é um daqueles filmes que você provavelmente irá odiar se tiver um olhar cru sobre a aspiral de loucura em que ele te joga sem nenhum tipo de preocupação em ser didático. Porém um olhar mais vicioso e atento é capaz de absorver sua atmosfera (meticulosamente claustrofóbica) e dissecar suas entranhas e compreender suas camadas revelando assim um excelente filme de difícil digestão.
Inicialmente o filme trata a deterioração mental gradativa de uma personagem enquanto, o fato e presenciado de forma fria por outra, é acima de tudo um estudo real e um tanto cruel sobre a "AMIZADE".
"um ano antes Virgínia (Katherine Waterston) & Catherine (Elisabeth Moss -sempre maravilhosa) tiveram sua amizade testada pelo fato de ter saído de um relacionamento ruim, por outro Catherine esbanjava felicidade em seu relacionamento a ponto de não enxergar as necessidades da própria amiga" Um ano depois os papéis se inverteram e o mundo perfeito de Catherine vai por água abaixo, enquanto ela precisava da Virgínia, essa por sua vez já não à enxergava com os mesmos olhos de antes. Virgínia observa o declínio da amiga de forma cínica, e satisfatória, um tanto quanto realizada"
O silêncio, o vazio, o som ambiente ou a falta dele se somam com a capacidade que Elizabeth Moss tem de comunicar com um simples olhar. A mudança no olhar de Catherine é notável durante todo o filme.
A partir do passado e presente se misturando durante o filme nota se as diferentes características entre as personagens e o sutil jogo de inversão de papeis e o significado por trás dele
Se antes Virgínia estava vulnerável, antipática, sarcástica e egocêntrica -resultado da falta de atenção de Catherine, ou até mesmo um incomodo com a felicidade da amiga. Um ano depois ela se demonstra mais amadurecida, livre, e confortável com a sua solidão. Enquanto Catherine vai se definhando aos poucos física e mentalmente, Catherine e dependente e instável sem uma presença masculina, seu mundo perde o sentido quando é deixada pelo namorado. Sua existência depende da sombra de um homem, sua capacidade artística é bloqueada sem a sombra do pai (falecido), sua felicidade se esvazia sem uma sombra masculina - O que a difere totalmente de Virgínia.
Sobre o final:
No último flashback quando Catherine está indo embora com o namorado Virgínia diz a ela em tom de brincadeira algo mais ou menos como:
- Na próxima vez eu espero que você esteja pior que eu.
O que de fato se consumou.
Catherine se matou. E deixou o quadro pra Virgínia como um lembrete, a culpa que ela vai sentir todas as vezes que olhar para a pintura. O sentimento de não ter se importado ou se esforçado para tentar ajuda-la. Da sua vingança particular. Foi de certa forma a maneira que Cantherine encontrou pra se vingar de Virgínia, fazer ela lembrar da sua morte pra sempre. E assim se tornar a "Rainha do Mundo" , a dona da verdade, a que deu a última palavra, a que vai se manter viva na memória daqueles que a conheceram e tentaram se opor contra ela, a que vai fazer todos se sentirem culpados pela sua morte.
"Amizades são conturbadas."
Ps: PAREM DE COMPARAR ESSE FILME COM "PERSONA" DO BERGMAN. GRATO.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraMe avisem quando vocês pararem de:
Elogiarem personagens racistas que ficam bonzinhos no final
Frances McDormand é a força do filme, e é exatamente a força de sua atuação (digna de todos elogios possiveis) que sustenta o longa, e, paramos por aí.
O que inicialmente se mostra como algo original com probabilidades para o inesperado, se direciona aos poucos para os "clichés nosso de cada dia" com direito a um roteiro em certos momentos extremamente exagerado, e com inúmeros furos. O filme peca em situações um tanto quanto forçadas, utilizando elementos e ou situações de outros filmes -exemplo:
A cena em que o policial negro chega na delegacia e é tratado com total indiferença pelos policiais brancos, essa merda já foi feita em "No calor da noite" (1967) estrelado por Sidney Potier. Que por coincidência o ator que interpreta o policial branco racista-que fica bonzinho no final- ganhou o oscar de melhor ator.
Outro ponto que tira a força do filme:
Todos utilizam a porra do "humor negro" o que me pareceu ser uma espécie de muleta do roteirista para fazer desesperadamente com que o público goste de seus personagens. E o que se casa muito bem com Frances McDormand, se torna desnecessário com as cartinhas desnecessárias de Woody Herrelson, por exemplo.
Infelizmente o que poderia ser um puta filme, acaba não chegando em lugar algum. Mas vale a visita pela Frances McDormand.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraDEUS ME DEFENDERAY, NUNCA NO BRASIL, NA VIDA DA TERRA!!!!!!!!!!
Um puta hype do caralho!
Na Praia à Noite Sozinha
3.6 68É interessante perceber o exercício existencial que esse filme propõe, a começar pela forma em que a protagonista é construída e em dados momentos desconstruída, toda a sutileza, e sensibilidade envoltos em sua existência.
À primeira vista vemos younghee como uma jovem meiga, carismática, simpática tentando sobreviver a solidão e ao sentimento fúnebre de pós termino. Mas nunca sabemos ao certo o que aconteceu, como aconteceu e por que aconteceu, apenas somos informados através de belos diálogos sobre o término ...
A partir da relação de younghee com seus amigos é que é possível perceber suas reais características. É como se o tempo inteiro younghee vivesse uma personagem que ala mesma criou para se permitir sofrer, para causar a todos a sua volta um sentimento de empatia, enquanto o espectador se fascina com sua vulnerabilidade. Através de um olhar mais atento, percebe-se o quanto ela é dependente, carente, explosiva e um tanto egocêntrica - pois adora receber elogios de todos a sua volta - As duas cenas em que younghee está bêbada é onde de fato ela sai da personagem e mostra sua verdadeira face.- Obviamente sua dependência emocional e carência excessiva foram a ruína de seus relacionamentos.- younghee é incerta, inconstante e apaixonada por uma idealização de 'AMOR'.
Acredito que a sequência final na praia foi um sonho, onde o diretor do filme fala sobre estar fazendo um filme autobiográfico e é questionado por ela e logo em seguida ele lê pra ela um trecho de um livro:
"Chegou o momento da separação. Quando cruzamos os olhares naquela sala,
perdemos o controle. Eu a peguei em meus braços, ela aperta o rosto em meu peito.
Lágrimas caindo de seus olhos. Beijando sua face, ombros e mãos molhadas, éramos verdadeiramente... infelizes. Eu confessei meu amor por ela, e com uma ardente dor no peito, percebi o quão era desnecessário, insignificante e ilusório tudo aquilo que havia impedido nosso amor. Quando se ama, devemos, no nosso entendimento desse amor, priorizar o que é mais elevado, o que importa mais que a felicidade ou tristeza, ou mais que a ideia de pecado e virtude, caso contrário... não devemos raciocinar em nada, foi o que percebi."
Younghee acorda na praia e começa a caminhar de uma forma que foi vista poucas vezes durante o filme: (SOZINHA). Levando consigo o significado daquelas palavras.
“Eu queria, apenas, desaparecer suavemente”.
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
4.1 323 Assista AgoraE.x.p.e.c.t.a.t.i.v.a.s
Foi o que acabei criando ao assistir o trailer de Mudbound pela primeira vez, seja pela temática e também por trazer uma mulher negra a frente da direção. Mas ao final do filme me restou apenas uma sensação incomoda de ""d.e.c.e.p.ç.ã.o""
Apesar de achar a direção de Dee Rees (que já havia dirigido maravilhosamente bem Bessie) uma direção segura e tecnicamente perfeita, se encontra no roteiro assinado pela mesma e acompanhada por Virgil Williams o verdadeiro calcanhar de Aquiles do longa.
Tudo em Mudbound foi construído para deleite da crítica e do grande público, e o que de fato me incomodou foi justamente a construção dos personagens negros, sempre omissos, e em segundo plano, servindo estruturalmente como escada para o brilhantismo e a boa e velha benevolência dos personagens brancos -O público e crítica tendem a amar esse tipo de filme- que de fato parecer ter sido pensado e executado pra eles. Mas é incrivelmente notável os arquétipos criados em cima de personagens negros, ok, devemos fazer um recorte racial e temporal levando em consideração a época em que tudo se passa -segregação racial em plena vigência- Porém, aquelas pessoas negras não esboçam nenhuma reação até nas mais crueis das situações, tudo é naturalizado por elas que nem em seus momentos de particularidade demonstram algum resquício de 'reação'
a cena em que o próprio filho foi cruelmente tortudado pela KKK. NADA!!!! nenhuma reação, tudo ficou por conta do herói branco e salvador
Cabe a Mary J Blige, dona do melhor album de R&B de 2017 (Strength Of a Woman) a se destacar pela simplicidade de sua atuação, através de um simples olhar, um gesto, ou um sorriso tímido, se faz completamente notória.
Mudbound tem seus bons momentos e uma fotografia lindíssima, mas é um filme que fica pela metade do caminho, altamente esquemático e unilateral.
Me pergunto até quando o cinema vai continuar romantizando racismo-escravidão-segregação a partir da ótica do branco salvador?
A Deusa da Vingança
2.8 179 Assista AgoraEsse e mais um daqueles filmes que dividem opiniões e se propõe a causar no público algo fora do comum, de tirar o espectador da zona de conforto e sinceramente acho isso incrível.
Acho que poucas pessoas se atentaram ao fato de que independente do título do filme ser "Sam Was Here" durante os créditos iniciais aparece "NEMESIS" como sendo o título real do filme.
Nêmesis é um substantivo masculino com origem no grego, que indica vingança ou indignação justificada. Também é usada como sinônimo de inimigo. Na mitologia grega, Nêmesis era a deusa da vingança, que castigava o comportamento degenerado dos seres humanos. Nêmesis é uma defensora do equilíbrio, justiça e vingança divina, que castigava os homens que quebravam as leis estabelecidas. Na astrologia Nêmesis é considerada a "irmã maligna do sol"- E justamente após os créditos iniciais quando Sam avista uma pequena luz vermelha no céu vemos na tela o título 'Nêmesis', e em todo decorrer do filme essa luz vai aumentando de tamanho.
Toda a estrutura do filme lembra muito os filmes dos anos 90, principalmente a trilha sonora, que diga-se de passagem é ótima.
na cena em que Sam entra na casa da senhora e lê o jornal em cima do balcão o ano no jornal é de 1998.
Somente o tempo dará a esse filme o devido reconhecimento
Sam was here é o julgamento de uma alma torturada pela culpa, seus crimes e pecados. Por mais que Sam pareça ser um homem integro e inocente, pq talvez o próprio criou essa imagem de si mesmo - até pq muitos pedófilos, serial killers e estupradores em potencial aparentam ser inofensivos, muitos até são casados e com filhos e vivem uma vida aparentemente normal. Após a morte de Sam Nemesis desaparece do céu pois já cumpriu o seu papel de julgar e punir a alma dele. Tudo aquilo seria um purgatório para Sam. Ouu Sam realmente fosse alguém inocente injuticado pelo simples prazer de Nemesis - a cena em que ele ouve o som de sam sendo torturado e sentindo um enorme prazer com tudo aquilo.
Acredito que esse filme tem e terá diversas análises e entendimentos, todas podem ser certas ou erradas, mas ele faz com que saíamos do senso comum e da falta de originalidade do cinema comercial. E faz isso muito bem.
Detroit em Rebelião
4.0 193 Assista AgoraVamos a um fato real: Hollywood é perita em boicotar filmes com "temas raciais" onde personagens negros não funcionam como estereótipos 'negativos' e ou não são salvo pela benevolência pré fabricada de personagens brancos.
Inicialmente não sou um fã de Kathryn Bigelow, e continuo achando 'Stranger Days' seu melhor trabalho como diretora, porém, em Detroit devo dizer que sua direção foi altamente incisiva e certeira, mesmo apostando no velho esquema de tom documental - Aqui essa técnica se casa perfeitamente na trama contada, onde a câmera se torna um espectador curioso e nervoso no meio do caos, muito disso se reflete em "John Boyega (Melvin Dismukes)" que se torna um espectador e que reflete muito bem as sensações de quem está do lado de cá da tela, a incapacidade de Melvin Dismukes diante de toda aquela situação desprezível se encontra no olhar de John Boyega (também injustamente ignorado nas premiações) mesmo quando este está em segundo plano durante toda a sequência do hotel, que por sinal é o grande ápice do filme, e que a direção de Bigelow soube construir uma ponte que nos leva ao que de fato é o palco central do que o roteiro quer nos mostrar. Detroit não é apenas um filmes que se presta a reconstruir a rebelião em si, mas se presta a algo muito mais importante: Uma reflexão direta sobre racismo e sociedade, sobre uma ferida que ainda está aberta e ainda sangra, sobre o fato que tudo que ocorreu décadas atrás insiste em se repetir nos dias de hoje, o povo negro segue morrendo na mãos da polícia, segue sendo o maior número nas prisões, e seguem psicologicamente abalados dentro de uma sociedade estruturalmente e sistematicamente racista.
E isso Hollywood faz questão de não conferir visibilidade alguma.
O Estranho que Nós Amamos
3.2 615 Assista AgoraNÃO NÃO NÃO NÃO E NÃO!!!
Quando surgiu a possibilidade de um ramake desse filme eu pensei: Puts! Lá vem merda. E eu não estava enganado.
Apesar de ser visualmente deslumbrante - um belo trabalho de fotografia, direção de arte e figurino. Esse remake dirigido pela Sra. Coppola PARA por aí... A adaptação- roteiro - é altamente preguiçosa (me pergunto se ela realmente leu o livro).
Em 1971 Don Siegel dirigiu a primeira versão de The Beguiled ou "O estranho que nós amamos" que pra mim segue como uma obra perfeita e atemporal, principalmente se comparando com esse remake da Sra. Coppola. Na versão de Siegel as personagens emanam uma forte energia sexual, e isso é pontuado no filme através de pequenas narrações em forma de pensamento, apenas um prelúdio da sensação que o "estranho" causa em cada uma delas. Enquanto em 1971 Don Siegel oferece personagens a flor da pele, em 2017 a Sra. Coppola oferece personagens insípidas.
John McBurney (que em 1971 é interpretado por Clint Eastwood no auge de seu charme e beleza e em 2017 pelo insuportável Colin Farrell) funciona como um imã, trazendo a tona desejos e sensações -até então desconhecidos- por essas mulheres, a solidão. O que nos leva a pensar que The Beguiled é sobre a natureza da mulher, os desejos e impulsos que são sentimentos naturais, porém reprimidos pelo conservadorismo e pelo puritanismo imposto para as mulheres e pq nao dizer o seu lado sombrio e que sinceramente Sofia Coppola não soube expressar nesse ramake desnecessário. Outro ponto um tanto curioso nesse ramake é que a Sra. Coppola - que tbm assina o roteiro- retirou da trama a única personagem NEGRA (WTF?).......E ainda não satisfeita comete um crime hediondo que é FODER com o desfecho do filme. - A versão de 1971 tem um dos finais mais impactantes do cinema, principalmente levando em consideração a época em que foi lançado.- E a Sra. Coppola fez o favor de estragar isso tbm.
Viagem das Garotas
3.5 219 Assista AgoraFavorito esse filme pelo simples fato de causar em mim um efeito raro - diversão e gargalhadas descontroladas - Não sou fã de comédias e a grande maioria não surtem efeito algum sobre mim e outras simplesmente me causam irritabilidade. Girls Trip, apesar de ser um filme que inicialmente não traz nada de inovador no quesito "trama" , até pq esse tipo de premissa já é utilizada desde os anos 80 e repetida incansavelmente "e" em todas as vezes por um elenco formado por brancos. Aqui temos a quebra desse protocolo Hollywoodiano, que no meu ponto de vista é um diferencial importantíssimo. A construção das personagens podem até ser arquétipos um tanto quanto desgastado por esse tipo de filme, porém é inegável a química entre as atrizes, e todas as personagens cativam de forma independente da outra, com destaque pra Tiffany Haddish (Dina)- palavras não são capazes de definir a presença dela nesse filme, espero sinceramente que a performance dela seja reconhecida nas futuras premiações, porém levando em consideração o histórico racista das premiações seria 'esperar muito'. Girls Trip é cativante por suas personagens e por principalmente celebrar a mulher negra, sua pluralidade, sua beleza, sua cultura, sua força.
Sinceramente, o filme mais divertido que ja assisti em anos. Cumpre muito bem o seu propósito como comédia.
#BlackGirlsMagic
A Grande Chantagem
3.7 8O ministério da saúde adverte: Hollywood pode matar.
O Mundo de Kanako
3.5 54"A razão pela qual uma geração parece confusa é devido ao caos na mentalidade do espectador"
(Jean Cocteau)
Body Rice
2.9 3Body Rice é uma experiência única, é um daqueles filmes que você assiste e provavelmente NUNCA assistirá novamente, e isso não é necessariamente algo negativo. O longa dirigido por Hugo Vieira da Silva é o retrato silencioso de uma geração um tanto 'sequelada', o diretor aposta no silêncio e na desconexa relação de seus personagens, tranzendo na maior parte do tempo uma estranha sensação de incompreensão. Nada é informativo em Body Rice, você não sabe nada a respeito daquelas pessoas, todos compartilham o mesmo espaço, mas cada um carrega o seu universo particular e que por algum motivo todos são movidos por uma incapacidade mórbida de comunicação, mas existe um único ponto que liga esses estranhos personagens- as raves - em sequências que de início podem parecer desconexas, mas é através destas cenas e da trilha sonora (muito Foda, com direito a Joy Division e tudo) é que o espectador consegue colher poucas informações sobre aqueles estranhos. Penso que Body Rice é uma experiência sensorial, tanto pelo silêncio quanto pela forma abrupta que ele é quebrado seja pela música eletrônica ou por qualquer outra música (escolhida a dedo), aí então percebe-se sobre oq realmente é o filme. Body Rice é a sequela em alto nível, é sobre pessoas q elevam seu corpo, mente e alma a níveis altíssimos, é sobre a bad trip, o bode frio, sobre a mente humana não conseguindo sobreviver na realidade, é o LSD que bateu errado, a bala que prometia ser boa mas falhou, o pó que causou dor no estômago e principalmente sobre o VAZIO que só parece ser preenchido na pista de dança com uma garrafa de água como sua melhor e única amiga.
Uma Vida em Suspense
3.7 14Excelente direção de Sydney Pollack, edição ágil e com Poitier & Bancroft em perfeita sintonia sem nem ao menos dividirem a cena. Um filme que em termos técnicos realmente não deixa a desejar.
New Orleans
4.2 9Quando Billie Holiday canta "FAREWELL TO STORYVILLE", se sente toda a real essência do filme e da ramificação do Blues/Jazz. Expulsos de New orleans (berço do Blues/regtime/Jazz) como uma forma de repressão racista da burguesia perante a cultura musical negra da época, aqueles artistas negros que foram separados para diversos pontos da América levaram consigo o seu maior tesouro - sua arte- O que foi inicialmente uma tentativa de expurgar a cultura negra de storyville -New Orleans- ironicamente espalhou ela por todo o país, como um vírus, e logo o blues e o Jazz revolucionaram a música.
Um belo filme, belas canções e com Billie Holiday e Louis Armstrong dividindo as cenas musicais é um deleite tanto para os olhos quanto pro coração.
Barata Ribeiro, 716
3.4 35Apesar da clara homenagem a Felini e de trazer Sophie Charlotte belíssima em uma fotografia em preto e branco, diálogos em certos momentos bem inspirados, Br 716 é mais um daqueles filmes que representam o fetiche do cinema Nacional em romantizar a ditadura militar, onde a única preocupação parece ser mostrar o quanto a intelectualidade branca sofreu com a repressão daquela época, o quanto os jovens brancos eram extremamente inteligentes, cultos sabiam de tudo e sobre tudo, e que em momento algum, eu disse "em momento algum" fogem ou se preocupam em fugir desse estereótipo branco intelectual e sempre passando a idéia de que a ditadura só atingiu a branquitude do país e principalmente excluindo a existência de toda ou qualquer intelectualidade NEGRA daquela época. A ditadura militar foi tomada pelo cinema e pela tv como uma forma de mostrar que em algum momento (ou único) na história desse país a burguesia teve seus privilégios ameaçados e negados e passando sempre a idéia excludente de que a ditadura foi sofrida apenas pela branquitude, em um país onde a maioria é negra.
Ironicamente falando, é como se no período da repressão os negros fossem completamente livres e isentos das mesmas repressões, quando na verdade foram simplesmente excluídos dessa parte da história que tanto o cinema quanto a tv teimam em reproduzir.
I Called Him Morgan
3.8 4Sobre o comentário abaixo:
A respeito da "benevolência" com a qual Helen é mostrada, bem, toda história tem dois lados e não precisam necessariamente de um vilão. Ela cometeu o crime, foi presa, cumpriu a pena dela....a questão é a forma como enxergam a mulher (ainda mais sendo negra) comentendo essa espécie de crime passional e o interessante do documentário é exatamente não comprar um dos lados, até pq Helen Morgan foi o fator determinante pra q Lee Morgan se tornasse quem se tornou, foi ela que tirou ele da lama, do vício e ajudou ele a retomar a carreira que estava praticamente perdida, e ele retribuiu tudo isso traindo ela sem nenhum tipo de remorso. Lee Morgan foi um artista excepcional, impecável um tesouro do jazz e devemos agradecer Helen Morgan por isso.
Nina
2.6 82 Assista Agora"Esse filme é o típico caso: Diretor(a) branco(a) que dirige um filme que conta a história de pessoas negras. E não, isso não é uma espécie de preconceito, é apenas uma inegável realidade"
Eu amo Nina Simone de todas as formas possíveis e oq a diretora Cynthia Mort fez aqui foi algo extremamente vergonhoso em inúmeros aspectos. Começando por Zoe Saldana (amiga da diretora na vida real). Zoe poderia SIM ter negado o papel por questões estéticas notórias, e isso nos leva pra caracterização PORCA da personagem, com direito a prótese no nariz e nos dentes, em dados momentos Zoe aparecia extremamente escura, outros momentos mais clara, em outros o rosto era mais escuro q o restante do corpo, em seguida com as mãos claras, as pernas mais claras que o restante do corpo - e quando chegava atrasada pra maquiagem entrava em cena apenas com um bronzeado alá-kardashian (rizus). Outro ponto crítico do filme é a própria Zoe interpretando as mais famosas canções da Miss Simone com a própria voz - oq ao meu ver foi simplesmente uma demonstração egocêntrica de talento e no mínimo desrespeitosa. E tudo isso é ancorado por um roteiro preguiçoso, mal escrtito e visivelmente sem nenhum trabalho de pesquisa. O sentimento é de vergonha e decepção, incomodo e raiva. Fico na espera e no desejo de Nina Simone ganhar um filme a sua altura, dirigido por um(a) direto(a) negro(a) e devidamente interpretada por uma atriz negra de pele retinta.
Clube Dos Imorais
2.5 19LisaRaye McCoy dançando ao som de R Kelly - It seems like your ready ♥
Estranhos Prazeres
3.6 134 Assista AgoraEsse filme é um tesouro escondido no tempo, uma daquelas preciosidades que foram soterradas por blockbusters que se preocupavam em seguir o modismo da vez. Strange Days sobrevive ao tempo justamente por ser um filme a frente de seu tempo. Criação de James Cameron e execução (sensacional) de Katheryn Bigelow -eis aqui sua melhor direção (minha opinião). Ótimas atuações, destaque pra Angela Bassett que prova que o filme está além das fórmulas desgastada de protagonismo. Uma das minhas trilhas sonoras favoritas. Enfim Strange Days é um presente dos anos 90.
The Whisperers
3.6 10Edith Evans merece um altar ♥
A Noite dos Desesperados
4.2 112 Assista AgoraEm poucas palavras: OBRA PRIMA!
Nada mais a declarar.
Acampamento Sinistro
3.3 386Que final foi esse meu povo???
Apesar de um tanto óbvio não deixa de ser chocante, principalmente levando em consideração o ano em que o filme foi feito. Corajoso e surpreendente pra caralho!!! Anos 80 ♥