Cruel e bela tal qual a vida, obra-prima única, faz algo que nenhuma outra obra fez até então ao retratar a finitude de todos os seres e todas as coisas. Uma poderosa lição, provavelmente a maior série já feita, obrigatória para todos que se encorajarem a assistir. É difícil, mas é inestimável.
Produção irlandesa e britânica feita entre a BBC e Hulu, distribuída no Brasil pela Starz, 'Normal People' é uma obra pequena, que vem ganhando atenção desde sua estreia e concorrendo a prêmios. O que poderia ser mais um romance adolescente clichê, revela-se ao longo dos seus 12 capítulos de 20/30 minutos, uma tocante e sensível odisseia pelos sentimentos humanos e um fiel retrato dos amores confusos do mundo moderno.
Sem exageros, bobagens e rodeios, a cada capítulo somos inseridos mais à fundo no psicológico complexo desse casal que se ama de verdade, mas que diversas falhas e inseguranças os separam. Aqui existe a distância física, mas tem-se a conexão mental. O que de início parecia apenas imaturidade, vai se revelando através do brilhante roteiro, num ousado estudo de personagem, extremamente bem elaborados e ambíguos.
Não há mocinhos e vilões. Existem as diferenças, barreiras e problemas emocionais que os abalam. Insegurança, baixa autoestima, depressão, saúde mental, espectros introspectivos e outros periféricos tornam essa relação agridoce. É uma trama apaixonante, quente e emocionante, na mesma medida que é crua, angustiante, triste e devastadora. A intimidade do casal, através de cenas naturais e diálogos desafiadores, traz um humanismo e sensibilidade poucas vezes vistos na TV.
Com uma fotografia europeia espetacular, ótima trilha sonora, visual limpo e uma direção artística e bela, tudo na série beira o perfeito. As atuações do casal protagonista são palpáveis, parece que você está acompanhando a vida das tais "pessoas normais" do título, com seus medos, suas tristezas e alegrias. Com um roteiro poético e episódios finais avassaladores, 'Normal People' é uma joia e uma das melhores obras televisivas dos últimos anos, que deve ganhar reconhecimento e status cult com o passar do tempo. É complexa na sua simplicidade, poderosa na sua mensagem, abraça e machuca numa mesma intensidade, numa grande tempestade de sentimentos. É uma experiência sensorial, que nos faz experimentar a beleza e a aflição dos relacionamentos humanos. Obra de arte.
Nota: 9,5
Acesse nosso site e leia uma crítica completa da série, link na bio!
'The Liberator' é uma série de guerra que acabou de chegar no catálogo da Netflix. Para sua realização, atores reais e alguns objetos foram filmados em estúdio, mas quase todo cenário e visual foram "maquiados" com uma técnica de animação já usada em alguns filmes, como 'O Homem Duplo' (2006) com Keanu Reeves. Apesar de inicialmente estranharmos a técnica, dando a impressão de que a obra é uma mistura de live-action e animação, e que isso barateou os custos de produção, ao menos é interessante visualmente.
O roteiro é clichê desse tipo de produção, trazendo diálogos, personagens e situações já vistas em obras de guerra, lembrando especialmente a extraordinária minissérie da HBO, 'Band of Brothers'. Há detalhes interessantes aqui e ali, como a maior parte dos heróis serem descendentes de mexicanos, índios e texas rangers, renegados nos Estados Unidos, mas heróis da 2° Guerra Mundial. Esse grupo existiu de verdade e são aqui homenageados. Outro ponto interessante através de alguns diálogos é a comparação entre os alemães nazistas e o racismo presente nos Estados Unidos, duas coisas na verdade semelhantes, embora de lados opostos da Guerra, dá o que pensar. Pra quem curte obras de guerra, mesmo não sendo tão inovador como propusera, é um prato cheio, dinâmico (de apenas 4 capítulos) e vale a conferida.
Agradável surpresa lançada na Netflix, 'O Sangue de Zeus' é uma série em estilo anime, mas com um diferencial: traz mitologia grega à esse estilo comumente asiático. Com rápidos 8 episódios, a trama densa e madura, recomendada para maiores de idade, traz reviravoltas e momentos chocantes que até lembram 'Game of Thrones', com muitos combates ferozes e tramoias pelo poder.
Ainda existe no roteiro alguns clichês típicos de obras épicas, assim como o traçado do desenho é simples e a animação é um pouco travada, algo muito reclamado nos animes atuais, especialmente os de produção da Netflix. Mas o colorido salta aos olhos e a trama por si só vale a pena. Além de agradar a quem procura por bastante ação e gore. Fazia tempo que não surgia um bom representante da mitologia grega, ao mesmo tempo em que adiciona um pouco de frescor por ser apresentada em forma de anime. Recomendada!
Facilmente uma das produções mais brilhantes do ano, a trama traz a jornada de Beth Harmon, uma órfã que descobre no tabuleiro do xadrez sua paixão e genialidade, ao mesmo tempo em que lida com seus traumas e vícios tão fortes quanto seu dom pelo jogo. Com um roteiro costurando as fases da protagonista, muito bem divididos em apenas 7 capítulos, a trama é sempre eletrizante, sempre com algo fundamental em cena. O figurino e a direção de arte recriam os anos 50 e 60 com perfeição, aliados à uma direção certeira na utilização dos espaços, enquadramentos de câmera e extração do melhor em atuações.
Falando no elenco, todo competente, o destaque é ela, nossa protagonista Anya Taylor-Joy. A jovem que estourou em 2016 com 'A Bruxa' e de lá pra cá fez vários longas de suspense e terror ('Fragmentado', 'Os Novos Mutantes'), entrega aqui seu desempenho mais complexo. Ela brilha em todas as cenas, entregando camadas à todo instante, muitas vezes apenas pelo olhar ou pela maneira em que se movimenta, inclusive nas partidas de xadrez. Tudo na minissérie é de alto nível e o roteiro sabe muito bem trazer à tona o machismo presente nos esportes. E como apreciador de xadrez, fiquei feliz de ver o esporte representado de forma tão rica, embora não muito didática (não espere aprender a jogar enquanto assisti ao show). 'O Gambito da Rainha' traz uma trama, uma protagonista e a retratação de um esporte de forma perfeita, entregando um dos mais incríveis programas televisivos do ano. Palmas!
Lembrado por ser o criador de 'Alien' e 'Blade Runner', e depois de algumas derrapadas, Ridley Scott retorna em uma boa ficção científica com a complexa 'Raised by Wolves', série do streaming da HBO Max (ainda indisponível no Brasil). Com um orçamento grande e Travis Fimmel no elenco (nosso eterno Ragnar de 'Vikings'), a obra traz ciência, religião e filosofia em uma trama que aborda conceitos de inteligência artificial, exploração espacial, contrastes entre criador e criação, metáforas sobre paternidade e maternidade, fanatismo, psicologia na criação de indivíduos, e por aí vai.
Embora alguns dos 10 episódios sejam lentos no seu núcleo, a obra como um todo surpreende por sempre desafiar a quem a assiste, seja por intrigar, até mesmo por momentos chocantes. Por vezes a trama se apresenta abstrata demais, mas no geral há um potencial de crescer, se algumas coisas forem ajustadas para a já confirmada 2° temporada. Falar demais é dar spoilers, portanto se você curte as obras do Scott e temáticas como 'Matrix' e até mesmo o polêmico 'Mother', esta é recomendada para você.
'The Crown' é a melhor série da Netflix e cresce a cada temporada. Nesta 4°, a produção dá passos que ainda faltavam nas anteriores, cutucando bem fundo as feridas da monarquia, em um ciclo mais sombrio, complexo e triste do que os anteriores, sem perder a qualidade. Na verdade, a obra cada vez mais aumenta seu potencial. Com desempenho de elenco perfeito, na verdade é uma aula de atuação e roteiro. O texto brilhantemente escrito traz todo vazio, peso e cinzas da coroa, da monarquia conservadora e de tudo que a envolve. Se outrora a felicidade da Rainha, seu marido e sua irmã foi negada, e após isso foi negado a seus filhos, agora seu filho Charles passa essa infelicidade adiante, para sua esposa, Princesa Diana.
O elenco feminino sempre foi o destaque e se antes a Rainha e sua irmã brilhavam, nesta temporada temos no centro a dura Margaret Thatcher e a radiante Princesa Diana. Thatcher é muito bem atuada por Gillian Anderson (a eterna Scully de 'Arquivo-X'), ela consegue passar a frieza da 1° mulher primeiro-ministro do Reino Unido, conservadora e polêmica, mas que também tinha seus desafios por ser uma mulher política pioneira, em um cenário totalmente masculino. Já a novata Emma Corrin entrega uma Diana sonhadora e alegre, que aos poucos perde seu brilho diante toda fachada, limitação e podridão da família real. É impressionante a riqueza de detalhes do roteiro e direção, muitas vezes sem diálogos, apenas com ângulos de câmera, nos passando a solidão dos personagens centrais. Em determinadas situações, eles são enquadrados na câmera sempre isolados, tristes e com semblantes caídos, ressentidos, sempre solitários no próprio amargor.
A burguesia fede e 'The Crown' cada vez mais explora isso sem perder a classe, com um visual lindo, trilha sonora épica, um roteiro bem amarrado nos mínimos detalhes e atuações arrebatadoras. Apenas o arco de Lady Di já é de partir o coração. A série deve vir forte nas premiações e a 5° temporada promete ser ainda mais emocionante. Obra-prima, joia da coroa da Netflix, melhor obra audiovisual que assisti em 2020 até então.
Série: 'The Leftovers' - 3 temporadas (2014-2017) *Disponível na HBO GO
Em menos de 2 semanas, devorei os 28 capítulos das 3 temporadas de 'The Leftovers', obra incrível que faltava assistir. Um soco na mente, e como doeu. Ela ultrapassa o verbo "assistir", ela é "sentida", uma verdadeira experiência sensorial. Na trama, 2% da população mundial desaparece, simplesmente somem. A partir daí, temos um complexo quebra-cabeça em uma atmosfera melancólica, recheado de filosofia, metáforas, profecias, existencialismo e críticas religiosas e sociais. O grande trunfo da obra é não lançar luz nos mistérios desse "sumiço", mas se concentrar na complexidade emocional daqueles que ficaram: seu luto, sua dor, suas dúvidas, suas crenças, suas derrotas, sua loucura, suas seitas, suas quedas e seus erros.
'The Leftovers' utiliza de simbolismos, insanidades e desconstruções técnicas que a princípio não fazem sentido algum, mas no todo, tudo faz sentido - não as respostas, mas as perguntas. E é aí o segredo para se apreciar a essa ousada obra: a importância de questionar e fazer perguntas, e como a busca pelas respostas influenciam nossa vida a seguir adiante, mesmo que sem as respostas. É uma trama depressiva? Sem dúvidas, não recomendada para quem está com o emocional abalado. Mas que ainda assim, de alguma forma maluca que só funciona aqui, também traz luz e um otimismo realista dentro do absurdo. O visual e a direção são eficientes e bem regidos. Mas a trilha sonora e as atuações são o ponto mais alto. Os atores e seus complexos personagens são sobre-humanos, uma força da natureza, com camadas e momentos de dar um nó na garganta.
'The Leftovers' fala sobre os frutos que colhemos das nossas ações + os acontecimentos bizarros e incontroláveis que surgem na vida, sejam bons ou ruins, e como lidamos a partir disso, como muitas vezes preferimos acreditar em milagres, maldições e mágicas, do que simplesmente aceitar que as coisas acontecem sem necessariamente terem forças maiores por trás. A série é uma grande discussão sobre crenças e outros fatores que definem a forma com que todos nós encaramos algo como mítico, divino ou humano. O fanatismo religioso é um grande foco, e como tal ele destrói tanto quanto as desgraças da vida. Mas ao mesmo tempo, sempre existem os poréns, as crenças e motivações que muitas vezes fazem as pessoas continuar a vida. No fim, crenças tanto ajudam quanto prejudicam à pessoas específicas, assim como tudo na vida, em tudo existem dois lados da mesma moeda. Então, a série se encerra de uma forma tremendamente diferente de como iniciou, imensamente emocionante, com cenas poderosas e belas numa mesma intensidade, muito mais simples do que você imagina, porque ao final de todas grandes loucuras da vida, as coisas mais singelas são aquelas que ficarão.
"- Estou aqui."
Nota: 9,5
Crítica escrita por um colaborador no site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Com apenas duas temporadas até então, sendo esta segunda vencedora de diversos prêmios, 'Succession' cresce rápido para se tornar a nova grande épica obra televisiva da poderosa HBO. A nível de comparação, a série pode ser comparada a 'The Sopranos' em qualidade e algumas similaridades, é só trocar a família mafiosa por uma empresária. Com uma linguagem técnica por vezes complexa, devido as explicações minuciosas do mundo corporativo, marca do diretor Adam McKay ('Vice'), a trama traz uma mistura agridoce de drama e um humor muito sarcástico e agressivo.
Aliás, todos os personagens são agressivos, todos são víboras que destilam o seu veneno e se traem constantemente, tornando tudo um jogo de quem ferrará quem, quem é menos ou mais pior, quem ficará no topo do poder da empresa. Apesar de ser difícil acompanhar uma trama onde nenhum personagem é bom, os roteiristas conseguem nos prender brilhantemente em reviravoltas e acontecimentos insanos, onde não sabemos que rumo tudo tomará. Todo o elenco é gigante em cena. O veterano Brian Cox destrói tudo e todos com seu odiável patriarca. Kieran Culkin é insano, excêntrico e mais talentoso que seu irmão Macaulay Culkin (sim, ele mesmo que você pensou). A ruiva Sarah Snook é poderosa, Matthew Macfadyen e Nicholas Braun tem uma excelente e hilária química com suas tramoias, a dinâmica entre seus personagens (Tom e Greg) é genial. Mas quem carrega o arco mais pesado é ele, Jeremy Strong é extraordinário em cena, sofrendo em silêncio, carregando frustração, ambição, desespero e vícios somente com o olhar.
'Succession' é uma trama sobre gente branca e rica fazendo porcaria? Sim é, e isso é feito de maneira extremamente impecável. Em nenhum momento se defende eles, tanto que o tempo todo nos é mostrado que eles são errados, traiçoeiros, machistas, racistas, burgueses fúteis e mesquinhos que acobertam crimes. O barato é ver eles se comendo vivo. E isso torna esta uma das mais corajosas séries da atualidade. Essa série ainda vai crescer muito!
Quando o streaming da Apple surgiu em Outubro, parece que ele não agradou muito, a série 'See' decepcionou e essa 'The Morning Show' foi recebida de forma morma nos seus primeiros episódios. Mas semana após semana a trama começou a chamar a atenção pela consistência, ganhando força no seu final e agora, sendo aclamada e concorrendo a prêmios.
Reese Witherspoon e Jennifer Aniston dão vida às âncoras do principal jornal de um canal de TV que está passando por um momento conturbado, pois seu anterior apresentador (Steve Carell) foi denunciado por assédio sexual no ambiente de trabalho. A partir de então vemos como as investigações e esse fato em si pesam em cima de todos os funcionários e suas vidas, como as mulheres ficam manchadas mesmo que com erros de homens e como os poderosos tentam se proteger usando de meios sujos, mesmo que na frente das câmeras "vendam a verdade". Witherspoon está bem como a personagem mais correta e valente, mas Aniston explode em tela com sua ambígua e duvidosa personagem, o melhor papel da vida dela. Carell também merece aplausos por interpretar de excelente forma e cheio de camadas o assediador, um papel difícil, ainda mais um ator que sempre foi visto como carismático em comédias, aqui ele é praticamente um monstro. De fato foi um desempenho corajoso dele. Todo o elenco coadjuvante está ótimo, com destaques para Mark Duplass, Gugu Mbatha-Raw e Billy Crudup.
'The Morning Show' debate o machismo nas grandes corporações e como os homens que fazem porcaria se protegem, se acham acima dos outros devido sua posição, poder ou porque são chefes. Há ainda críticas sociais em outros setores, como sujeiras da burguesia diante catástrofes, manipulação dos dados e fatos das notícias, pautas feministas, combater comportamento tóxico de chefões nas empresas, constrangimento de novos funcionários diante mau comportamento de veteranos, etc. Há muito o que ser debatido aqui. Destaque para 2 capítulos: o 8° onde é mostrado em detalhes a mente e o comportamento de um assediador, alguém de poder e idolatrado por todos, que se acha o maioral e acha que pode dar em cima de qualquer mulher. O outro seria o último, que tem uma construção de tensão incrível e culmina com acontecimentos chocantes e eletrizantes, que deixa brecha para uma imensa discussão na próxima temporada.
Entre momentos sutis, mas bem construídos; e outros explosivos e polêmicos, com um roteiro bem trabalhado, 'The Morning Show' é uma das melhores séries de 2019 e pode ter longa vida como uma excelente obra dramática e cheia de sarcasmos, que tocará em feridas cada vez mais expostas na vida real. Se você soubesse que a pessoa que paga seu salário possui um comportamento errado, você o derrubaria? Acobertaria ele? Colocaria o dinheiro acima do fator humano e do que é certo? Expor comportamentos errados não é o mínimo a se fazer, evitando assim que mais vítimas tenham sua dignidade ameaçadas? Fica a reflexão.
Uma aula de empatia por mulheres vítimas de abuso sexual.
Outra grande minissérie da Netflix, funciona quase que como uma "prima" de 'Olhos Que Condenam'. Não, não são parecidas na estrutura a princípio, mas ambas trazem alertas oportunos e são muito emocionantes. Se 'Olhos Que Condenam' explora o racismo e preconceito da polícia e autoridades ao suspeitar de qualquer cidadão que não seja "branco", até mesmo culpando inocentes, 'Inacreditável' foca no machismo com que autoridades podem encarar mulheres vítimas de estupro, com aquele pensamento errôneo de que pode ser em parte, culpa da vítima. Há homens com anos de carreira na polícia, mas despreparados para lidar com as vítimas, devido pensamentos sexistas e machistas, como que mulheres que se expõem facilitam um ato violento, ou que muitas inventam um abuso por supostamente estarem carentes, querendo atenção ou por vingança.
Logo que conhecemos um pouco da insegurança da menina protagonista (muito bem atuada por Kaitlyn Dever) e como isso leva a polícia a duvidar da versão dela, começamos a compreender como tudo nessa situação é difícil. Não existe apenas a agressão física, sexual e psicológica. Existe o fato de ter que expor isso, fazer uma bateria de exames, que muitos farão perguntas intrusivas que podem acarretar vergonha e culpa, há o fator de como sua família, colegas e vizinhos te encararão, como a própria mulher vai encarar a si mesma e a outros, como ela ficará insegura com relação a outras pessoas, especialmente homens, e caso autoridades que deviam dar apoio na verdade duvidarem, como isso pode ser um gatilho para depressão, negação, para deixar pra lá e carregar o fardo sozinha. São vários fatores envolvidos e não há absolutamente nada que um homem possa opinar sobre isso, pois ele nunca passará por isso.
Somente quando duas detetives entram no caso, com atuações fortes de Toni Collette e Merritt Wever, é que começamos a perceber toda a empatia que tais vítimas precisam. Bastante diferentes em personalidades, ambas investigadoras criam uma amizade e uma meta de descobrir quem é o estuprador da região, numa caçada intensa para pegar esse monstro. Mas o diferencial delas é ajudar as vítimas nesse caminho, algo em que a maioria é relapsa. Uma aula de empatia e uma lição sobre nunca culparmos as vítimas, 'Inacreditável' faz jus ao nome não apenas por mostrar as barbáries que homens são capazes, mas por também mostrar que quando a vítima é mulher, muitos desacreditam nelas. A sociedade é feita de tal modo, que sempre arranja um jeito de menosprezar ou culpar a figura feminina, por mais que na maioria das vezes, os maiores problemas mundiais são causados pelo homem e no seu falso senso de poder e dever do "macho alfa". Por fim, ainda deixa a reflexão de que há áreas e trabalhos que deviam ser feitos exclusivamente por mulheres, devido sua maior sensibilidade e poder de empatia.
Série: 'Stranger Things 3' (2019, de The Duffer Brothers)
Acho que à esta altura do campeonato a série dispensa apresentações, mas falando rapidamente para quem ainda está na dúvida se assiste ou não: a obra é uma ode, uma homenagem pura à cultura POP dos anos 80 e tudo, tudo que envolve a lendária década. Através de incontáveis referências, são retratadas séries, games, livros, brinquedos, artistas, músicas, visual, tecnologia, utensílios do dia a dia e principalmente, o cinema. Dito isto, a terceira temporada mantém alta a dose de nostalgia, sendo uma verdadeira caça à referências.
Algumas são mais explícitas no andamento da trama, como cenas que remetem 'A Bolha Assassina', 'O Enigma do Outro Mundo', 'Invasores de Corpos', 'Alien' e diversas outras fontes. Outras são mais sutis, como em diálogos, camisetas e brinquedos (note as pelúcias de 'Gremlins' e vários outros no parque). O clima continua bastante próximo à uma obra do Spielberg ('E.T.'), porém apronfundando mais no terror gráfico como as obras citadas acima, adicionando uma pegada Stephen King ('IT') no desenvolvimento dos personagens. Personagens e atores, que a cada nova temporada estão mais velhos e maduros, e por isso, a narrativa do roteiro amadurece junto.
Nesta 3° temporada temos acontecimentos mais urgentes e chocantes, embora certa leveza e um ótimo humor ainda presentes, sentimos a gravidade do perigo de verdade e há consequências nisso. A série aposta nas referências e numa série de clichês que você já viu antes e normalmente isso é ruim. Mas como aqui o clima é um tanto descontraído e a intenção é essa, mesmo sem uma trama realista ou social, 'Strangers Things' se sustenta ao fazer tudo muito bem feito. A trama pode ser fantasiosa e longe de profunda, mas toda a brincadeira que o roteiro propõe é muito bem feito e funciona. Os efeitos especiais estão cada vez melhores, a trilha sonora é uma das melhores coisas da série não apenas pelas clássicas canções 80's, mas também pelas batidas de sintetizadores eletrônicos que dão uma nostalgia. E a cereja do bolo continua sendo o elenco, maravilhoso! Cada personagem, seja cômico ou sério, funciona, e muito! Millie Bobby Brown (a Onze) é uma ótima heroína. Dacre Montgomery (Billy) entrega um vilão de respeito e com camadas. A novata Maya Hawke (Robin) é maravilhosa, chegou agora e já roubou a cena. E todo elenco manda bem!
Com 8 episódios de 1 hora cada, a série parece mais um filme, uma superprodução. São 8 horas ininterruptas, que passam voando. São tantos personagens, tantas referências, as piadas funcionam tão bem, o terror funciona bem também, há bastante ação e um aprofundamento nas características de cada personagem, tudo tão bem editado, com um visual e som tão bons, que os episódios passam voando, chegando à um clímax eletrizante e bastante emocionante.
Homenageando o passado, mas adicionando elementos novos, adentrando no terror mas ainda mantendo uma leveza no sensacional elenco, 'Stranger Things' caminha para ser uma das melhores séries de fantasia já feitas. Tomara que mantenha a qualidade nas próximas temporadas, que segundo fontes, pode chegar ao fim em breve, o que é uma boa, ter poucos, mas excelentes episódios.
Ah HBO, assim tu destrói com a gente. 'Chernobyl' é a grande série do ano até então, forte, chocante, deprimente, marcante, humana, realista. Com 5 episódios de uma hora e numa narrativa que mais parece um filme de 5 horas de duração, a grandiosa obra não sairá da sua cabeça.
Primeiro, dois pequenos defeitinhos que apontarei. Primeiro, a série ainda cai numas muletas narrativas típicas de obras cujos arcos são baseados em fatos reais. A estrutura do roteiro já foi vista em outras obras, com momentos metódicos ao narrar os fatos. Segundo, por ser uma série americana, ela tem tal visão dos fatos, que por vezes pode "culpar" em demasiado o socialismo, aquela coisa dos filmes do 007 de sempre vilanizar os russos, sabe? É importante lembrar que o que causou toda tragédia foram negligências que não cabem somente no socialismo ou comunismo, mas também no capitalismo e qualquer outra política, pois ambição e ego inflado é algo que cabe ao homem de modo geral, Brasil e Brumadinho que o digam, além de outras tragédias que ocorrem por descaso com segurança do trabalho, ambiental, etc. Dito isto, vamos aos elogios.
A série é bem dirigida e atuada. A composição das cenas, figurinos e recriação da época, a fotografia e paleta de cores que agregam ao clima cinzeto da tragédia, tudo é perfeitamente detalhado. O roteiro, apesar de às vezes burocrático, consegue explicar sem demagogias algumas questões técnicas sobre a explosão do reator, a radiação emitida, questões nucleares e o principal foco: os efeitos que tal radiação terão nas pessoas e no meio ambiente. Assim, ao focar no resultado da tragédia, no fator humano, a série choca e acerta ao mesmo tempo. Dói o coração vermos todo sofrimento causado. Pessoas se desintegrando de dentro pra fora, famílias se dizimando, bebês ainda no ventre sugando a radiação de suas mães, animais morrendo aos montes, aves caindo e gerações de seres vivos contaminados para sempre. A série consegue trazer todo alcance da tragédia, deste os técnicos que trabalhavam lá até o fazendeiro mais humilde da região e seus animais. E o trabalho de contenção que vem após a explosão é tão assustador e massacrante quanto a própria. Ter que sacrificar diversos trabalhadores voluntários ou pressionados numa missão suicida para estancar a emissão de detritos, ter que abater todos animais ainda vivos, ter que trabalhar na região sabendo que tal ato acarretará em um futuro câncer, é tudo extremamente aterrador. Nisso tudo, os episódios 3 e 4 são dilaceradores.
Eu costumo dizer que não há nada mais assustador do que a realidade e 'Chernobyl' é o lembrete disso. Toda vez que alguém precisa fazer algo simples como girar uma maçaneta, ou tirar pedras do caminho, se cria tensão, com uma trilha sonora angustiante, pois sabe-se qua a cada contato com materiais radioativos, é um atestado de morte. E o clima pesado, aliado à trilha sonora, consegue criar esta atmosfera de medo, mesmo que com coisas simples. A obra ainda faz questão de retratar e homenagear as centenas de vítimas da tragédia, muitas destas voluntárias e outras obrigadas pelas autoridades para controlar o desastre. Heróis da vida real, cuja maioria morreu de câncer posteriormente. Nesse quesito, apesar das questões ideológicas que eu comentei no início do texto, o roteiro acaba se redimindo ao honrar as pessoas que enfrentaram essa situação.
Marcante do início ao fim, esta obra de arte nos lembra que quando o ego do ser humano e sua sede de poder e lucro, a sede por armas, energia nuclear e a manipulação da natureza falam mais alto, quem mais sofre são as pessoas simples, a própria natureza e aqueles que são bem intencionados de verdade.
Afiada, implacável e praticamente perfeita, uma das melhores séries de todos os tempos.
Criada por David Chase e produzida pela HBO, 'The Sopranos' (também chamada 'A Família Soprano' no Brasil) teve 6 temporadas e mudou o formato da TV americana e mundial. Seu sucesso impulsionu outras grandes obras, espécies de "filhos", onde destaca-se a também grandiosa 'Breaking Bad'. Com 'Sopranos', passamos a acompanhar a trajetória de uma família italiana mafiosa, figuras sombrias, perversas, defeituosas, mas ironicamente falhas, humanas e cheias de camadas e complexidade. De início é difícil se acostumar a acompanhar a jornada dos "vilões" e todos os horrores que cometem, cujos caminhos levam à traições, mortes e os mais variados crimes. Mas o roteiro, engenhosamente faz-nos apegar aos personagens, porém sem deixar de lembrar que não estamos diante mocinhos, mas de criminosos e que cedo ou tarde, haverão consequências.
Para não parecer que defende-se o crime, o racismo e o egocentrismo, o time de roteiristas criam uma trama ácida, sarcástica, com momentos tragicômicos, mas nos lembrando constantemente que ter tal proceder é podridão pura. Mas as atuações e a construção complexa dos personagens e suas narrativas nos força a querer continuar vendo onde isso irá parar. O elenco é formidável, de fazer inveja a muito filme. James Gandolfini encabeça o protagonista Tony Soprano, o líder da família. Nós temos uma relação de amor e ódio com ele, tamanha sua grandioidade em cena. Com uma atuação magistral, ele encarna um temperamento explosivo, sempre à flor da pele, sempre nocivo, mas aparentemente sempre bem intencionado com aqueles a quem ama. A mesma mão que mata os inimigos (alguns inocentes), acalenta os amados (alguns odiáveis). Ele transborda sentimentos complexos: um mafioso sanguinário, mas que possui momentos de lucidez, onde tenta-se procurar a paz. Muitas das vezes ele se encontra em uma encruzilhada: está prestes a dar um novo rumo na vida, mas situações extremas o forçam a tomar suas medidas criminosas.
Os diálogos de Tony com sua psicóloga são geniais. Vão das origens da violência, à mais complexa filosofia, passando por teorias da conspiração, até fatos históricos ocorridos na época da série (11 de Setembro, Guerra do Iraque, etc). A psicóloga (muito bem interpretada por Lorraine Bracco) representa nós, o público, que "escuta" (assiste) a história de Tony. Mesmo que ela fique perplexa com toda barbárie, não consegue parar de tratar ele e saber mais deste submundo, fazendo um paralelo com nós assistindo a série.
'Sopranos' dispensa sensacionalismo, grandes reviravoltas e outros artifícios. Apesar de uma construção lenta, tudo é natural, como se fosse o cotidiano. Acredite: cada personagem, diálogo e acontecimento levará à um lugar, nem que demore algumas temporadas. Tudo faz sentido, tudo fecha um ciclo e uma trama impecável. E mesmo que sem forçações, existem sim acontecimentos de cair o queixo, mas sempre bem dosados e crus, como a vida é. Há muito, mas muito o que se discutir em 'Sopranos', daria aqui um post muito maior do que este ficará. Existe muita ironia em ver que criminosos também tem seus desafios cotidianos, como lutar contra uma doença ou passar por uma crise existencialista. A propósito, a série debate todos assuntos sociais possíveis que se possa imaginar. Mas há 3 destaques: as metáforas entre a vida e a morte, a depressão como pano de fundo de vários acontecimentos extremos e uma dura crítica à família tradicional. Sobre este último, note que temos aqui uma família branca, rica, de influência, conservadora e respeitada. Máscaras e mais máscaras. Aos poucos tudo se desconstrói em um emaranhado de podridão e como tudo é superficial, negativo e frágil. É genial, por exemplo, como os mafiosos italianos são machistas, homofóbicos, racistas, religiosos e defensores dos bons costumes, mas essa "defesa" é violenta a ponto de tirar vidas, tornado-os hipócritas o tempo todo. Assim se faz uma dura crítica a como a América como um todo (EUA, Brasil, etc) é hipócrita, defensora de bons costumes, mas sanguinária e perversa, a como tudo pode desmoronar graças essas redomas de vidro sociais, redomas arranhadas e prestes a quebrar.
Um colosso, uma obra-prima, com um final poético e reflexivo, 'The Sopranos' foi uma jornada e tanto nos últimos meses, entrou fácil como uma das melhores séries que já vi em todos os tempos, bastante atual, muito bem dirigida, roteirizada e atuada, um marco para ser revisto e contemplado, parase levar pra vida. Obrigado HBO, agora irei pra mais uma lendária série da produtora, 'The Wire' ('A Escuta').
Depois de algumas escorregadas nas últimas temporadas das séries da parceria Marvel/Netflix, especialmente um ritmo lento e maçante, o "carro-chefe" das séries retorna. E que retorno! A terceira temporada de 'Demolidor' é equivalente a uma montanha-russa, um trem desencarrilhando. Charlie Cox interpreta um herói lotado de perturbações emocionais e o roteiro consegue explorar isso a um nível de psicanálise. Vincent D'Onofrio é o melhor vilão das séries de heróis e a ascensão do seu Rei do Crime (ou Fisk) é esmagadora. Um vilão terrível, odiável, mas com camadas interessantes, tão bem construído. A novidade é Wilson Bethel como o famoso Mercenário, outro vilão extremamente bem construído, conseguimos sentir o desequilíbrio mental e a fúria do personagem. Foggy e até mesmo a chata da Karen ganham uma importância maior. O indiano Jay Ali é o agente Ray e é agoniante assistir a jornada do personagem durante a temporada. Os primeiros 6 episódios são lentos e constroem a situação e a trama, para ao fim deste mesmo, começar a pegar fogo. As lutas são sensacionais e realistas. A metade final ganha um ritmo alucinante e o final é brutal. A luta entre Demolidor, Fisk e o Mercenário é emblemática, não apenas fisicamente, mas psicologicamente, já que há muita coisa em jogo para os três personagens. Espero que a Netflix renove a série e que as outras séries derivadas, como a do 'Justiceiro', tomem esta daqui como exemplo.
Se tratando de terror, uma das melhores coisas que surgiu em 2018! Ótima protagonista, boa direção, roteiro redondo, atmosfera sinistra, gore, críticas sociais e excelente trilha sonora!
Agradável surpresa. Leve, divertida, atual. Apesar de cômica em partes, o lado dramático também é funcional. Elenco em sintonia e afiado, mas sem exageros. Começa leve, mas parece que tomará um rumo meio 'Breakinbg Bad', porém feminista??? Que venha a segunda temporada!
Succession (4ª Temporada)
4.5 215 Assista AgoraObra-prima!
A Sete Palmos (5ª Temporada)
4.8 477 Assista AgoraCruel e bela tal qual a vida, obra-prima única, faz algo que nenhuma outra obra fez até então ao retratar a finitude de todos os seres e todas as coisas. Uma poderosa lição, provavelmente a maior série já feita, obrigatória para todos que se encorajarem a assistir. É difícil, mas é inestimável.
Normal People
4.4 438Produção irlandesa e britânica feita entre a BBC e Hulu, distribuída no Brasil pela Starz, 'Normal People' é uma obra pequena, que vem ganhando atenção desde sua estreia e concorrendo a prêmios. O que poderia ser mais um romance adolescente clichê, revela-se ao longo dos seus 12 capítulos de 20/30 minutos, uma tocante e sensível odisseia pelos sentimentos humanos e um fiel retrato dos amores confusos do mundo moderno.
Sem exageros, bobagens e rodeios, a cada capítulo somos inseridos mais à fundo no psicológico complexo desse casal que se ama de verdade, mas que diversas falhas e inseguranças os separam. Aqui existe a distância física, mas tem-se a conexão mental. O que de início parecia apenas imaturidade, vai se revelando através do brilhante roteiro, num ousado estudo de personagem, extremamente bem elaborados e ambíguos.
Não há mocinhos e vilões. Existem as diferenças, barreiras e problemas emocionais que os abalam. Insegurança, baixa autoestima, depressão, saúde mental, espectros introspectivos e outros periféricos tornam essa relação agridoce. É uma trama apaixonante, quente e emocionante, na mesma medida que é crua, angustiante, triste e devastadora. A intimidade do casal, através de cenas naturais e diálogos desafiadores, traz um humanismo e sensibilidade poucas vezes vistos na TV.
Com uma fotografia europeia espetacular, ótima trilha sonora, visual limpo e uma direção artística e bela, tudo na série beira o perfeito. As atuações do casal protagonista são palpáveis, parece que você está acompanhando a vida das tais "pessoas normais" do título, com seus medos, suas tristezas e alegrias. Com um roteiro poético e episódios finais avassaladores, 'Normal People' é uma joia e uma das melhores obras televisivas dos últimos anos, que deve ganhar reconhecimento e status cult com o passar do tempo. É complexa na sua simplicidade, poderosa na sua mensagem, abraça e machuca numa mesma intensidade, numa grande tempestade de sentimentos. É uma experiência sensorial, que nos faz experimentar a beleza e a aflição dos relacionamentos humanos. Obra de arte.
Nota: 9,5
Acesse nosso site e leia uma crítica completa da série, link na bio!
The Liberator (1ª Temporada)
4.1 26 Assista Agora'The Liberator' é uma série de guerra que acabou de chegar no catálogo da Netflix. Para sua realização, atores reais e alguns objetos foram filmados em estúdio, mas quase todo cenário e visual foram "maquiados" com uma técnica de animação já usada em alguns filmes, como 'O Homem Duplo' (2006) com Keanu Reeves. Apesar de inicialmente estranharmos a técnica, dando a impressão de que a obra é uma mistura de live-action e animação, e que isso barateou os custos de produção, ao menos é interessante visualmente.
O roteiro é clichê desse tipo de produção, trazendo diálogos, personagens e situações já vistas em obras de guerra, lembrando especialmente a extraordinária minissérie da HBO, 'Band of Brothers'. Há detalhes interessantes aqui e ali, como a maior parte dos heróis serem descendentes de mexicanos, índios e texas rangers, renegados nos Estados Unidos, mas heróis da 2° Guerra Mundial. Esse grupo existiu de verdade e são aqui homenageados. Outro ponto interessante através de alguns diálogos é a comparação entre os alemães nazistas e o racismo presente nos Estados Unidos, duas coisas na verdade semelhantes, embora de lados opostos da Guerra, dá o que pensar. Pra quem curte obras de guerra, mesmo não sendo tão inovador como propusera, é um prato cheio, dinâmico (de apenas 4 capítulos) e vale a conferida.
O Sangue de Zeus (1ª Temporada)
3.6 88 Assista AgoraAgradável surpresa lançada na Netflix, 'O Sangue de Zeus' é uma série em estilo anime, mas com um diferencial: traz mitologia grega à esse estilo comumente asiático. Com rápidos 8 episódios, a trama densa e madura, recomendada para maiores de idade, traz reviravoltas e momentos chocantes que até lembram 'Game of Thrones', com muitos combates ferozes e tramoias pelo poder.
Ainda existe no roteiro alguns clichês típicos de obras épicas, assim como o traçado do desenho é simples e a animação é um pouco travada, algo muito reclamado nos animes atuais, especialmente os de produção da Netflix. Mas o colorido salta aos olhos e a trama por si só vale a pena. Além de agradar a quem procura por bastante ação e gore. Fazia tempo que não surgia um bom representante da mitologia grega, ao mesmo tempo em que adiciona um pouco de frescor por ser apresentada em forma de anime. Recomendada!
O Gambito da Rainha
4.4 931 Assista AgoraFacilmente uma das produções mais brilhantes do ano, a trama traz a jornada de Beth Harmon, uma órfã que descobre no tabuleiro do xadrez sua paixão e genialidade, ao mesmo tempo em que lida com seus traumas e vícios tão fortes quanto seu dom pelo jogo. Com um roteiro costurando as fases da protagonista, muito bem divididos em apenas 7 capítulos, a trama é sempre eletrizante, sempre com algo fundamental em cena. O figurino e a direção de arte recriam os anos 50 e 60 com perfeição, aliados à uma direção certeira na utilização dos espaços, enquadramentos de câmera e extração do melhor em atuações.
Falando no elenco, todo competente, o destaque é ela, nossa protagonista Anya Taylor-Joy. A jovem que estourou em 2016 com 'A Bruxa' e de lá pra cá fez vários longas de suspense e terror ('Fragmentado', 'Os Novos Mutantes'), entrega aqui seu desempenho mais complexo. Ela brilha em todas as cenas, entregando camadas à todo instante, muitas vezes apenas pelo olhar ou pela maneira em que se movimenta, inclusive nas partidas de xadrez. Tudo na minissérie é de alto nível e o roteiro sabe muito bem trazer à tona o machismo presente nos esportes. E como apreciador de xadrez, fiquei feliz de ver o esporte representado de forma tão rica, embora não muito didática (não espere aprender a jogar enquanto assisti ao show). 'O Gambito da Rainha' traz uma trama, uma protagonista e a retratação de um esporte de forma perfeita, entregando um dos mais incríveis programas televisivos do ano. Palmas!
Xeque-mate.
Raised by Wolves (1ª Temporada)
3.7 164Lembrado por ser o criador de 'Alien' e 'Blade Runner', e depois de algumas derrapadas, Ridley Scott retorna em uma boa ficção científica com a complexa 'Raised by Wolves', série do streaming da HBO Max (ainda indisponível no Brasil). Com um orçamento grande e Travis Fimmel no elenco (nosso eterno Ragnar de 'Vikings'), a obra traz ciência, religião e filosofia em uma trama que aborda conceitos de inteligência artificial, exploração espacial, contrastes entre criador e criação, metáforas sobre paternidade e maternidade, fanatismo, psicologia na criação de indivíduos, e por aí vai.
Embora alguns dos 10 episódios sejam lentos no seu núcleo, a obra como um todo surpreende por sempre desafiar a quem a assiste, seja por intrigar, até mesmo por momentos chocantes. Por vezes a trama se apresenta abstrata demais, mas no geral há um potencial de crescer, se algumas coisas forem ajustadas para a já confirmada 2° temporada. Falar demais é dar spoilers, portanto se você curte as obras do Scott e temáticas como 'Matrix' e até mesmo o polêmico 'Mother', esta é recomendada para você.
The Crown (4ª Temporada)
4.5 246 Assista Agora'The Crown' é a melhor série da Netflix e cresce a cada temporada. Nesta 4°, a produção dá passos que ainda faltavam nas anteriores, cutucando bem fundo as feridas da monarquia, em um ciclo mais sombrio, complexo e triste do que os anteriores, sem perder a qualidade. Na verdade, a obra cada vez mais aumenta seu potencial. Com desempenho de elenco perfeito, na verdade é uma aula de atuação e roteiro. O texto brilhantemente escrito traz todo vazio, peso e cinzas da coroa, da monarquia conservadora e de tudo que a envolve. Se outrora a felicidade da Rainha, seu marido e sua irmã foi negada, e após isso foi negado a seus filhos, agora seu filho Charles passa essa infelicidade adiante, para sua esposa, Princesa Diana.
O elenco feminino sempre foi o destaque e se antes a Rainha e sua irmã brilhavam, nesta temporada temos no centro a dura Margaret Thatcher e a radiante Princesa Diana. Thatcher é muito bem atuada por Gillian Anderson (a eterna Scully de 'Arquivo-X'), ela consegue passar a frieza da 1° mulher primeiro-ministro do Reino Unido, conservadora e polêmica, mas que também tinha seus desafios por ser uma mulher política pioneira, em um cenário totalmente masculino. Já a novata Emma Corrin entrega uma Diana sonhadora e alegre, que aos poucos perde seu brilho diante toda fachada, limitação e podridão da família real. É impressionante a riqueza de detalhes do roteiro e direção, muitas vezes sem diálogos, apenas com ângulos de câmera, nos passando a solidão dos personagens centrais. Em determinadas situações, eles são enquadrados na câmera sempre isolados, tristes e com semblantes caídos, ressentidos, sempre solitários no próprio amargor.
A burguesia fede e 'The Crown' cada vez mais explora isso sem perder a classe, com um visual lindo, trilha sonora épica, um roteiro bem amarrado nos mínimos detalhes e atuações arrebatadoras. Apenas o arco de Lady Di já é de partir o coração. A série deve vir forte nas premiações e a 5° temporada promete ser ainda mais emocionante. Obra-prima, joia da coroa da Netflix, melhor obra audiovisual que assisti em 2020 até então.
The Crown (4ª Temporada)
4.5 246 Assista AgoraObra-prima!
The Leftovers (3ª Temporada)
4.5 427 Assista AgoraSérie: 'The Leftovers' - 3 temporadas (2014-2017)
*Disponível na HBO GO
Em menos de 2 semanas, devorei os 28 capítulos das 3 temporadas de 'The Leftovers', obra incrível que faltava assistir. Um soco na mente, e como doeu. Ela ultrapassa o verbo "assistir", ela é "sentida", uma verdadeira experiência sensorial. Na trama, 2% da população mundial desaparece, simplesmente somem. A partir daí, temos um complexo quebra-cabeça em uma atmosfera melancólica, recheado de filosofia, metáforas, profecias, existencialismo e críticas religiosas e sociais. O grande trunfo da obra é não lançar luz nos mistérios desse "sumiço", mas se concentrar na complexidade emocional daqueles que ficaram: seu luto, sua dor, suas dúvidas, suas crenças, suas derrotas, sua loucura, suas seitas, suas quedas e seus erros.
'The Leftovers' utiliza de simbolismos, insanidades e desconstruções técnicas que a princípio não fazem sentido algum, mas no todo, tudo faz sentido - não as respostas, mas as perguntas. E é aí o segredo para se apreciar a essa ousada obra: a importância de questionar e fazer perguntas, e como a busca pelas respostas influenciam nossa vida a seguir adiante, mesmo que sem as respostas. É uma trama depressiva? Sem dúvidas, não recomendada para quem está com o emocional abalado. Mas que ainda assim, de alguma forma maluca que só funciona aqui, também traz luz e um otimismo realista dentro do absurdo. O visual e a direção são eficientes e bem regidos. Mas a trilha sonora e as atuações são o ponto mais alto. Os atores e seus complexos personagens são sobre-humanos, uma força da natureza, com camadas e momentos de dar um nó na garganta.
'The Leftovers' fala sobre os frutos que colhemos das nossas ações + os acontecimentos bizarros e incontroláveis que surgem na vida, sejam bons ou ruins, e como lidamos a partir disso, como muitas vezes preferimos acreditar em milagres, maldições e mágicas, do que simplesmente aceitar que as coisas acontecem sem necessariamente terem forças maiores por trás. A série é uma grande discussão sobre crenças e outros fatores que definem a forma com que todos nós encaramos algo como mítico, divino ou humano. O fanatismo religioso é um grande foco, e como tal ele destrói tanto quanto as desgraças da vida. Mas ao mesmo tempo, sempre existem os poréns, as crenças e motivações que muitas vezes fazem as pessoas continuar a vida. No fim, crenças tanto ajudam quanto prejudicam à pessoas específicas, assim como tudo na vida, em tudo existem dois lados da mesma moeda. Então, a série se encerra de uma forma tremendamente diferente de como iniciou, imensamente emocionante, com cenas poderosas e belas numa mesma intensidade, muito mais simples do que você imagina, porque ao final de todas grandes loucuras da vida, as coisas mais singelas são aquelas que ficarão.
"- Estou aqui."
Nota: 9,5
Crítica escrita por um colaborador no site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Succession (2ª Temporada)
4.5 227 Assista AgoraCom apenas duas temporadas até então, sendo esta segunda vencedora de diversos prêmios, 'Succession' cresce rápido para se tornar a nova grande épica obra televisiva da poderosa HBO. A nível de comparação, a série pode ser comparada a 'The Sopranos' em qualidade e algumas similaridades, é só trocar a família mafiosa por uma empresária. Com uma linguagem técnica por vezes complexa, devido as explicações minuciosas do mundo corporativo, marca do diretor Adam McKay ('Vice'), a trama traz uma mistura agridoce de drama e um humor muito sarcástico e agressivo.
Aliás, todos os personagens são agressivos, todos são víboras que destilam o seu veneno e se traem constantemente, tornando tudo um jogo de quem ferrará quem, quem é menos ou mais pior, quem ficará no topo do poder da empresa. Apesar de ser difícil acompanhar uma trama onde nenhum personagem é bom, os roteiristas conseguem nos prender brilhantemente em reviravoltas e acontecimentos insanos, onde não sabemos que rumo tudo tomará. Todo o elenco é gigante em cena. O veterano Brian Cox destrói tudo e todos com seu odiável patriarca. Kieran Culkin é insano, excêntrico e mais talentoso que seu irmão Macaulay Culkin (sim, ele mesmo que você pensou). A ruiva Sarah Snook é poderosa, Matthew Macfadyen e Nicholas Braun tem uma excelente e hilária química com suas tramoias, a dinâmica entre seus personagens (Tom e Greg) é genial. Mas quem carrega o arco mais pesado é ele, Jeremy Strong é extraordinário em cena, sofrendo em silêncio, carregando frustração, ambição, desespero e vícios somente com o olhar.
'Succession' é uma trama sobre gente branca e rica fazendo porcaria? Sim é, e isso é feito de maneira extremamente impecável. Em nenhum momento se defende eles, tanto que o tempo todo nos é mostrado que eles são errados, traiçoeiros, machistas, racistas, burgueses fúteis e mesquinhos que acobertam crimes. O barato é ver eles se comendo vivo. E isso torna esta uma das mais corajosas séries da atualidade. Essa série ainda vai crescer muito!
The Morning Show (1ª Temporada)
4.4 207Quando o streaming da Apple surgiu em Outubro, parece que ele não agradou muito, a série 'See' decepcionou e essa 'The Morning Show' foi recebida de forma morma nos seus primeiros episódios. Mas semana após semana a trama começou a chamar a atenção pela consistência, ganhando força no seu final e agora, sendo aclamada e concorrendo a prêmios.
Reese Witherspoon e Jennifer Aniston dão vida às âncoras do principal jornal de um canal de TV que está passando por um momento conturbado, pois seu anterior apresentador (Steve Carell) foi denunciado por assédio sexual no ambiente de trabalho. A partir de então vemos como as investigações e esse fato em si pesam em cima de todos os funcionários e suas vidas, como as mulheres ficam manchadas mesmo que com erros de homens e como os poderosos tentam se proteger usando de meios sujos, mesmo que na frente das câmeras "vendam a verdade". Witherspoon está bem como a personagem mais correta e valente, mas Aniston explode em tela com sua ambígua e duvidosa personagem, o melhor papel da vida dela. Carell também merece aplausos por interpretar de excelente forma e cheio de camadas o assediador, um papel difícil, ainda mais um ator que sempre foi visto como carismático em comédias, aqui ele é praticamente um monstro. De fato foi um desempenho corajoso dele. Todo o elenco coadjuvante está ótimo, com destaques para Mark Duplass, Gugu Mbatha-Raw e Billy Crudup.
'The Morning Show' debate o machismo nas grandes corporações e como os homens que fazem porcaria se protegem, se acham acima dos outros devido sua posição, poder ou porque são chefes. Há ainda críticas sociais em outros setores, como sujeiras da burguesia diante catástrofes, manipulação dos dados e fatos das notícias, pautas feministas, combater comportamento tóxico de chefões nas empresas, constrangimento de novos funcionários diante mau comportamento de veteranos, etc. Há muito o que ser debatido aqui. Destaque para 2 capítulos: o 8° onde é mostrado em detalhes a mente e o comportamento de um assediador, alguém de poder e idolatrado por todos, que se acha o maioral e acha que pode dar em cima de qualquer mulher. O outro seria o último, que tem uma construção de tensão incrível e culmina com acontecimentos chocantes e eletrizantes, que deixa brecha para uma imensa discussão na próxima temporada.
Entre momentos sutis, mas bem construídos; e outros explosivos e polêmicos, com um roteiro bem trabalhado, 'The Morning Show' é uma das melhores séries de 2019 e pode ter longa vida como uma excelente obra dramática e cheia de sarcasmos, que tocará em feridas cada vez mais expostas na vida real. Se você soubesse que a pessoa que paga seu salário possui um comportamento errado, você o derrubaria? Acobertaria ele? Colocaria o dinheiro acima do fator humano e do que é certo? Expor comportamentos errados não é o mínimo a se fazer, evitando assim que mais vítimas tenham sua dignidade ameaçadas? Fica a reflexão.
Inacreditável
4.4 423 Assista AgoraUma aula de empatia por mulheres vítimas de abuso sexual.
Outra grande minissérie da Netflix, funciona quase que como uma "prima" de 'Olhos Que Condenam'. Não, não são parecidas na estrutura a princípio, mas ambas trazem alertas oportunos e são muito emocionantes. Se 'Olhos Que Condenam' explora o racismo e preconceito da polícia e autoridades ao suspeitar de qualquer cidadão que não seja "branco", até mesmo culpando inocentes, 'Inacreditável' foca no machismo com que autoridades podem encarar mulheres vítimas de estupro, com aquele pensamento errôneo de que pode ser em parte, culpa da vítima. Há homens com anos de carreira na polícia, mas despreparados para lidar com as vítimas, devido pensamentos sexistas e machistas, como que mulheres que se expõem facilitam um ato violento, ou que muitas inventam um abuso por supostamente estarem carentes, querendo atenção ou por vingança.
Logo que conhecemos um pouco da insegurança da menina protagonista (muito bem atuada por Kaitlyn Dever) e como isso leva a polícia a duvidar da versão dela, começamos a compreender como tudo nessa situação é difícil. Não existe apenas a agressão física, sexual e psicológica. Existe o fato de ter que expor isso, fazer uma bateria de exames, que muitos farão perguntas intrusivas que podem acarretar vergonha e culpa, há o fator de como sua família, colegas e vizinhos te encararão, como a própria mulher vai encarar a si mesma e a outros, como ela ficará insegura com relação a outras pessoas, especialmente homens, e caso autoridades que deviam dar apoio na verdade duvidarem, como isso pode ser um gatilho para depressão, negação, para deixar pra lá e carregar o fardo sozinha. São vários fatores envolvidos e não há absolutamente nada que um homem possa opinar sobre isso, pois ele nunca passará por isso.
Somente quando duas detetives entram no caso, com atuações fortes de Toni Collette e Merritt Wever, é que começamos a perceber toda a empatia que tais vítimas precisam. Bastante diferentes em personalidades, ambas investigadoras criam uma amizade e uma meta de descobrir quem é o estuprador da região, numa caçada intensa para pegar esse monstro. Mas o diferencial delas é ajudar as vítimas nesse caminho, algo em que a maioria é relapsa. Uma aula de empatia e uma lição sobre nunca culparmos as vítimas, 'Inacreditável' faz jus ao nome não apenas por mostrar as barbáries que homens são capazes, mas por também mostrar que quando a vítima é mulher, muitos desacreditam nelas. A sociedade é feita de tal modo, que sempre arranja um jeito de menosprezar ou culpar a figura feminina, por mais que na maioria das vezes, os maiores problemas mundiais são causados pelo homem e no seu falso senso de poder e dever do "macho alfa". Por fim, ainda deixa a reflexão de que há áreas e trabalhos que deviam ser feitos exclusivamente por mulheres, devido sua maior sensibilidade e poder de empatia.
Stranger Things (3ª Temporada)
4.2 1,3KSérie: 'Stranger Things 3' (2019, de The Duffer Brothers)
Acho que à esta altura do campeonato a série dispensa apresentações, mas falando rapidamente para quem ainda está na dúvida se assiste ou não: a obra é uma ode, uma homenagem pura à cultura POP dos anos 80 e tudo, tudo que envolve a lendária década. Através de incontáveis referências, são retratadas séries, games, livros, brinquedos, artistas, músicas, visual, tecnologia, utensílios do dia a dia e principalmente, o cinema. Dito isto, a terceira temporada mantém alta a dose de nostalgia, sendo uma verdadeira caça à referências.
Algumas são mais explícitas no andamento da trama, como cenas que remetem 'A Bolha Assassina', 'O Enigma do Outro Mundo', 'Invasores de Corpos', 'Alien' e diversas outras fontes. Outras são mais sutis, como em diálogos, camisetas e brinquedos (note as pelúcias de 'Gremlins' e vários outros no parque). O clima continua bastante próximo à uma obra do Spielberg ('E.T.'), porém apronfundando mais no terror gráfico como as obras citadas acima, adicionando uma pegada Stephen King ('IT') no desenvolvimento dos personagens. Personagens e atores, que a cada nova temporada estão mais velhos e maduros, e por isso, a narrativa do roteiro amadurece junto.
Nesta 3° temporada temos acontecimentos mais urgentes e chocantes, embora certa leveza e um ótimo humor ainda presentes, sentimos a gravidade do perigo de verdade e há consequências nisso. A série aposta nas referências e numa série de clichês que você já viu antes e normalmente isso é ruim. Mas como aqui o clima é um tanto descontraído e a intenção é essa, mesmo sem uma trama realista ou social, 'Strangers Things' se sustenta ao fazer tudo muito bem feito. A trama pode ser fantasiosa e longe de profunda, mas toda a brincadeira que o roteiro propõe é muito bem feito e funciona. Os efeitos especiais estão cada vez melhores, a trilha sonora é uma das melhores coisas da série não apenas pelas clássicas canções 80's, mas também pelas batidas de sintetizadores eletrônicos que dão uma nostalgia. E a cereja do bolo continua sendo o elenco, maravilhoso! Cada personagem, seja cômico ou sério, funciona, e muito! Millie Bobby Brown (a Onze) é uma ótima heroína. Dacre Montgomery (Billy) entrega um vilão de respeito e com camadas. A novata Maya Hawke (Robin) é maravilhosa, chegou agora e já roubou a cena. E todo elenco manda bem!
Com 8 episódios de 1 hora cada, a série parece mais um filme, uma superprodução. São 8 horas ininterruptas, que passam voando. São tantos personagens, tantas referências, as piadas funcionam tão bem, o terror funciona bem também, há bastante ação e um aprofundamento nas características de cada personagem, tudo tão bem editado, com um visual e som tão bons, que os episódios passam voando, chegando à um clímax eletrizante e bastante emocionante.
Homenageando o passado, mas adicionando elementos novos, adentrando no terror mas ainda mantendo uma leveza no sensacional elenco, 'Stranger Things' caminha para ser uma das melhores séries de fantasia já feitas. Tomara que mantenha a qualidade nas próximas temporadas, que segundo fontes, pode chegar ao fim em breve, o que é uma boa, ter poucos, mas excelentes episódios.
NOTA: 9,5
O Conto da Aia (1ª Temporada)
4.7 1,5K Assista AgoraMasterpiece!
Obra-prima!
Chernobyl
4.7 1,4K Assista AgoraAh HBO, assim tu destrói com a gente. 'Chernobyl' é a grande série do ano até então, forte, chocante, deprimente, marcante, humana, realista. Com 5 episódios de uma hora e numa narrativa que mais parece um filme de 5 horas de duração, a grandiosa obra não sairá da sua cabeça.
Primeiro, dois pequenos defeitinhos que apontarei. Primeiro, a série ainda cai numas muletas narrativas típicas de obras cujos arcos são baseados em fatos reais. A estrutura do roteiro já foi vista em outras obras, com momentos metódicos ao narrar os fatos. Segundo, por ser uma série americana, ela tem tal visão dos fatos, que por vezes pode "culpar" em demasiado o socialismo, aquela coisa dos filmes do 007 de sempre vilanizar os russos, sabe? É importante lembrar que o que causou toda tragédia foram negligências que não cabem somente no socialismo ou comunismo, mas também no capitalismo e qualquer outra política, pois ambição e ego inflado é algo que cabe ao homem de modo geral, Brasil e Brumadinho que o digam, além de outras tragédias que ocorrem por descaso com segurança do trabalho, ambiental, etc. Dito isto, vamos aos elogios.
A série é bem dirigida e atuada. A composição das cenas, figurinos e recriação da época, a fotografia e paleta de cores que agregam ao clima cinzeto da tragédia, tudo é perfeitamente detalhado. O roteiro, apesar de às vezes burocrático, consegue explicar sem demagogias algumas questões técnicas sobre a explosão do reator, a radiação emitida, questões nucleares e o principal foco: os efeitos que tal radiação terão nas pessoas e no meio ambiente. Assim, ao focar no resultado da tragédia, no fator humano, a série choca e acerta ao mesmo tempo. Dói o coração vermos todo sofrimento causado. Pessoas se desintegrando de dentro pra fora, famílias se dizimando, bebês ainda no ventre sugando a radiação de suas mães, animais morrendo aos montes, aves caindo e gerações de seres vivos contaminados para sempre. A série consegue trazer todo alcance da tragédia, deste os técnicos que trabalhavam lá até o fazendeiro mais humilde da região e seus animais. E o trabalho de contenção que vem após a explosão é tão assustador e massacrante quanto a própria. Ter que sacrificar diversos trabalhadores voluntários ou pressionados numa missão suicida para estancar a emissão de detritos, ter que abater todos animais ainda vivos, ter que trabalhar na região sabendo que tal ato acarretará em um futuro câncer, é tudo extremamente aterrador. Nisso tudo, os episódios 3 e 4 são dilaceradores.
Eu costumo dizer que não há nada mais assustador do que a realidade e 'Chernobyl' é o lembrete disso. Toda vez que alguém precisa fazer algo simples como girar uma maçaneta, ou tirar pedras do caminho, se cria tensão, com uma trilha sonora angustiante, pois sabe-se qua a cada contato com materiais radioativos, é um atestado de morte. E o clima pesado, aliado à trilha sonora, consegue criar esta atmosfera de medo, mesmo que com coisas simples. A obra ainda faz questão de retratar e homenagear as centenas de vítimas da tragédia, muitas destas voluntárias e outras obrigadas pelas autoridades para controlar o desastre. Heróis da vida real, cuja maioria morreu de câncer posteriormente. Nesse quesito, apesar das questões ideológicas que eu comentei no início do texto, o roteiro acaba se redimindo ao honrar as pessoas que enfrentaram essa situação.
Marcante do início ao fim, esta obra de arte nos lembra que quando o ego do ser humano e sua sede de poder e lucro, a sede por armas, energia nuclear e a manipulação da natureza falam mais alto, quem mais sofre são as pessoas simples, a própria natureza e aqueles que são bem intencionados de verdade.
Família Soprano (6ª Temporada)
4.7 308 Assista AgoraAfiada, implacável e praticamente perfeita, uma das melhores séries de todos os tempos.
Criada por David Chase e produzida pela HBO, 'The Sopranos' (também chamada 'A Família Soprano' no Brasil) teve 6 temporadas e mudou o formato da TV americana e mundial. Seu sucesso impulsionu outras grandes obras, espécies de "filhos", onde destaca-se a também grandiosa 'Breaking Bad'. Com 'Sopranos', passamos a acompanhar a trajetória de uma família italiana mafiosa, figuras sombrias, perversas, defeituosas, mas ironicamente falhas, humanas e cheias de camadas e complexidade. De início é difícil se acostumar a acompanhar a jornada dos "vilões" e todos os horrores que cometem, cujos caminhos levam à traições, mortes e os mais variados crimes. Mas o roteiro, engenhosamente faz-nos apegar aos personagens, porém sem deixar de lembrar que não estamos diante mocinhos, mas de criminosos e que cedo ou tarde, haverão consequências.
Para não parecer que defende-se o crime, o racismo e o egocentrismo, o time de roteiristas criam uma trama ácida, sarcástica, com momentos tragicômicos, mas nos lembrando constantemente que ter tal proceder é podridão pura. Mas as atuações e a construção complexa dos personagens e suas narrativas nos força a querer continuar vendo onde isso irá parar. O elenco é formidável, de fazer inveja a muito filme. James Gandolfini encabeça o protagonista Tony Soprano, o líder da família. Nós temos uma relação de amor e ódio com ele, tamanha sua grandioidade em cena. Com uma atuação magistral, ele encarna um temperamento explosivo, sempre à flor da pele, sempre nocivo, mas aparentemente sempre bem intencionado com aqueles a quem ama. A mesma mão que mata os inimigos (alguns inocentes), acalenta os amados (alguns odiáveis). Ele transborda sentimentos complexos: um mafioso sanguinário, mas que possui momentos de lucidez, onde tenta-se procurar a paz. Muitas das vezes ele se encontra em uma encruzilhada: está prestes a dar um novo rumo na vida, mas situações extremas o forçam a tomar suas medidas criminosas.
Os diálogos de Tony com sua psicóloga são geniais. Vão das origens da violência, à mais complexa filosofia, passando por teorias da conspiração, até fatos históricos ocorridos na época da série (11 de Setembro, Guerra do Iraque, etc). A psicóloga (muito bem interpretada por Lorraine Bracco) representa nós, o público, que "escuta" (assiste) a história de Tony. Mesmo que ela fique perplexa com toda barbárie, não consegue parar de tratar ele e saber mais deste submundo, fazendo um paralelo com nós assistindo a série.
'Sopranos' dispensa sensacionalismo, grandes reviravoltas e outros artifícios. Apesar de uma construção lenta, tudo é natural, como se fosse o cotidiano. Acredite: cada personagem, diálogo e acontecimento levará à um lugar, nem que demore algumas temporadas. Tudo faz sentido, tudo fecha um ciclo e uma trama impecável. E mesmo que sem forçações, existem sim acontecimentos de cair o queixo, mas sempre bem dosados e crus, como a vida é. Há muito, mas muito o que se discutir em 'Sopranos', daria aqui um post muito maior do que este ficará. Existe muita ironia em ver que criminosos também tem seus desafios cotidianos, como lutar contra uma doença ou passar por uma crise existencialista. A propósito, a série debate todos assuntos sociais possíveis que se possa imaginar. Mas há 3 destaques: as metáforas entre a vida e a morte, a depressão como pano de fundo de vários acontecimentos extremos e uma dura crítica à família tradicional. Sobre este último, note que temos aqui uma família branca, rica, de influência, conservadora e respeitada. Máscaras e mais máscaras. Aos poucos tudo se desconstrói em um emaranhado de podridão e como tudo é superficial, negativo e frágil. É genial, por exemplo, como os mafiosos italianos são machistas, homofóbicos, racistas, religiosos e defensores dos bons costumes, mas essa "defesa" é violenta a ponto de tirar vidas, tornado-os hipócritas o tempo todo. Assim se faz uma dura crítica a como a América como um todo (EUA, Brasil, etc) é hipócrita, defensora de bons costumes, mas sanguinária e perversa, a como tudo pode desmoronar graças essas redomas de vidro sociais, redomas arranhadas e prestes a quebrar.
Um colosso, uma obra-prima, com um final poético e reflexivo, 'The Sopranos' foi uma jornada e tanto nos últimos meses, entrou fácil como uma das melhores séries que já vi em todos os tempos, bastante atual, muito bem dirigida, roteirizada e atuada, um marco para ser revisto e contemplado, parase levar pra vida. Obrigado HBO, agora irei pra mais uma lendária série da produtora, 'The Wire' ('A Escuta').
NOTA: 10
Eu Vi (1ª Temporada)
2.4 119 Assista AgoraGostaria de voltar no tempo e dizer: 'Eu não vi!' rsrsrs
Fraquinha ...
Demolidor (3ª Temporada)
4.3 452 Assista AgoraDepois de algumas escorregadas nas últimas temporadas das séries da parceria Marvel/Netflix, especialmente um ritmo lento e maçante, o "carro-chefe" das séries retorna. E que retorno! A terceira temporada de 'Demolidor' é equivalente a uma montanha-russa, um trem desencarrilhando. Charlie Cox interpreta um herói lotado de perturbações emocionais e o roteiro consegue explorar isso a um nível de psicanálise. Vincent D'Onofrio é o melhor vilão das séries de heróis e a ascensão do seu Rei do Crime (ou Fisk) é esmagadora. Um vilão terrível, odiável, mas com camadas interessantes, tão bem construído. A novidade é Wilson Bethel como o famoso Mercenário, outro vilão extremamente bem construído, conseguimos sentir o desequilíbrio mental e a fúria do personagem. Foggy e até mesmo a chata da Karen ganham uma importância maior. O indiano Jay Ali é o agente Ray e é agoniante assistir a jornada do personagem durante a temporada. Os primeiros 6 episódios são lentos e constroem a situação e a trama, para ao fim deste mesmo, começar a pegar fogo. As lutas são sensacionais e realistas. A metade final ganha um ritmo alucinante e o final é brutal. A luta entre Demolidor, Fisk e o Mercenário é emblemática, não apenas fisicamente, mas psicologicamente, já que há muita coisa em jogo para os três personagens. Espero que a Netflix renove a série e que as outras séries derivadas, como a do 'Justiceiro', tomem esta daqui como exemplo.
Demolidor (3ª Temporada)
4.3 452 Assista AgoraQue série maravilhosa! Temporada intensa, com atuações fortes, ritmo eletrizante na metade final e com um final brutal!
Inumanos (1ª Temporada)
2.2 118Inacreditável como nada funciona!
Ghoul - Trama Demoníaca
3.4 71 Assista AgoraSe tratando de terror, uma das melhores coisas que surgiu em 2018! Ótima protagonista, boa direção, roteiro redondo, atmosfera sinistra, gore, críticas sociais e excelente trilha sonora!
Bates Motel (5ª Temporada)
4.4 757A série emplaca no final da quarta temporada em diante. Esta última é uma viagem alucinante, com um grande desfecho, cheio de ótimas atuações!
Good Girls (1ª Temporada)
4.2 293 Assista AgoraAgradável surpresa. Leve, divertida, atual. Apesar de cômica em partes, o lado dramático também é funcional. Elenco em sintonia e afiado, mas sem exageros. Começa leve, mas parece que tomará um rumo meio 'Breakinbg Bad', porém feminista??? Que venha a segunda temporada!