É um filme sobre o tempo, sobre envelhecimento, sobre o desejo, sobre representação. Uma homenagem ao cinema. Que lindo, Almodóvar! Banderas está gigante!
É um longa divertido, comovente, mas como negro, me incomoda a maneira como o racismo é tratado no filme. Desde a rápida conversão e humanização do racista, até o homem branco "ensinando" ao homem negro o que significa ser um homem negro (oi?), acreditem, tudo é ofensivo.
Maior surpresa da temporada para mim. Um filme que consegue se articular, em pouco mais de duas horas, como um longa de época, um filme sobre a 2ª guerra e um drama familiar, sem nunca perder o foco naquilo que realmente direciona os esforços do habilidoso roteiro: o comentário social, o estudo sobre o racismo. Não darei spoilers, mas nos trinta minutos finais do filme senti uma comoção tão grande, a ponto de ter que abandonar um pouco a tela, respirar alguns segundos, e só retornar em seguida. É de uma dor, de uma angústia, de uma identificação que, como homem negro, se torna quase tangível. Não há como se acostumar com o preconceito. Não tem como. Principalmente se é você que o sente na pele, de maneira explícita ou sorrateira, todos os dias. Para além disso, a fotografia é belíssima; a trilha sonora, bastante funcional; e o elenco, um verdadeiro êxito. É curioso como a Mary J. Blinge, indicada ao Oscar, acaba sendo a ponta mais fraca de um grupo de atores realmente destacado: Jason Mitchell, Garett Hedlund, Carey Mulligan, Jonathan Banks, Rob Morgan, só para citar alguns, estão muito mais refinados e defendem seus personagens de uma maneira muito mais honesta e complexa do que a Blinge. Vai entender.
Gary Oldman desaparece na pele de Winston Churchill nessa cinebiografia protocolar e pouquíssimo inventiva. Muito bem produzido, com uma belíssima fotografia, contrastando luz e sombra, e um trabalho impecável de figurino e design de produção, "O Destino de uma nação" se consolida como mais uma "isca de Óscar", esses filmes que sempre aparecem na temporada de premiações, justamente porque parecem ter sido feitos apenas para ela.
A Flórida apresentada por Sean Baker não é a dos sonhos. No filme, o espaço de fantasia e de realização idealizado a partir da imagem da Disneylândia parece tão próximo, mas, ao mesmo tempo, violentamente longe do contexto em que circulam os personagens principais desse longo, imersos em uma pobreza espiritual e física, corroídos pelo descaso público, obrigados a abrigar-se nessa comunidade que construíram, nesse mundo à parte, doloroso. Mas em meio a dor, há uma alegria que emana justamente da visão infantil que nos traz o ponto de vista de Moonee, brilhantemente defendida por Brooklynn Prince, uma verdadeira revelação. Ela arrebenta! Willem Dafoe, em uma personagem mais sutil, entrega um personagem que funciona como mediador dos conflitos, numa performance bastante sensível e honesta.
Me peguei várias vezes com um sorriso no rosto durante toda a sessão. É um filme belíssimo, uma ode ao amor, ao sonho. Por mais que o roteiro acelere demais a construção do relacionamento entre a Elisa e a forma; e que a estética do projeto recicle ideias e conceitos de outros filmes - O Fabuloso Destino de Amélie Poulain me pareceu um deles - é inegável o poder de Del Toro em nos inserir nesse universo louco e estranho que só ele é capaz de criar. Sally Hawkins está magnífica; Octavia Spencer, impagável; Richard Jenkinks, uma delicadeza; Michael Shannon, histriônico e bem mais exagerado do que o personagem exigia. Todos envolvidos, porém, nesse filme em que a trilha sonora é tão importante, nessa aventura que é quase uma canção.
Há um ensaio do Silviano Santiago, crítico literário e escritor mineiro, cujo título, em minha opinião, sintetiza a proposta de "Trama Fantasma": "Meditação sobre o ofício de criar". Tomando a moda, afinal, como centro para a construção narrativa, Paul Thomas Anderson nos lança nesse mundo de aparências e de fascínio no qual vivem os personagens, para discutir as tensões entre o desejo e o talento; a carreira e a família; o amor por um sonho e também por uma ilusão. Ainda que não consiga manter o ritmo durante toda a narrativa, "Trama Fantasma" se apresenta como um longa delicado, lento, ornamentado pela belíssima trilha sonora de Jonny Greenwood, pelos figurinos, pela fotografia e pela edição. Daniel Day Lewis incorpora uma persona misteriosa, atraente e repulsiva ao mesmo tempo, um homem tão velho na maneira como lida com os sentimentos próprios e alheios, mas aparentemente tão jovem e apaixonado ao tocar nos tecidos, ao realizar as medidas do corpo feminino. Lesley Manville é outro grande acerto e fico feliz que o Óscar tenha lhe presenteado com uma indicação.
Que preguiça esse filme vinha me dando. Desde o anúncio da proposta até o lançamento do primeiro trailer, tudo o que eu imaginava era o quão forçada a ideia de "The Post" e o seu momento de lançamento pareciam. "A crítica ao (des) governo Trump não poderia ser mais óbvia", pensava. "Colocar Tom Hanks e Meryl Streep em um filme de Spielberg não pode soar mais "necessito de um Óscar"", reclamava. Mas, eis que "The Post" conseguiu me surpreender. Ainda que não seja um ótimo filme, ele convence. A trilha pontual do grande John Williams ajuda na construção do suspense e da tensão que percorrem todo o filme; a direção do Spielberg é segura, e me encanta como o filme entrega um entretenimento maior, por exemplo, do que o superestimado "Spotlight", que tem uma temática parecida. Meryl Streep é gigante (como sempre), construindo uma personagem presa em um grande dilema moral, ao mesmo tempo em que tenta subverter a lógica machista da sociedade em que vive. Já Tom Hanks... desde 2000 e bolinha, ele está preso em variações do mesmo papel, e o sotaque que ele dá ao Ben é irritante! Uma pena!
Uma pena que James Franco aparentemente seja um ser humano escroto e que, felizmente, os casos de assédio nos quais ele provavelmente está envolvido estejam surgindo, pois "Artista do Desastre" poderia ser uma oportunidade perfeita para dar ao ator sua segunda indicação ao Óscar. A caricatura que é Tommy Wiseau é humanizada nas mãos de Franco, tão à vontade nesse filme, que funciona como homenagem a Tommy e à produção de "The Room", mas também como um filme que se propõe a explorar os bastidores da indústria do cinema, a busca pelo sonho, os fracassos e contradições. Consegue ser divertido e dramático na mesma medida.
Frances McDormand está visceral num filme que está constantemente deslocando os lugares da maternidade, da justiça, da violência. É um filme sujo, quente, explosivo, e ao mesmo tempo, melancólico, triste. Fiquei na expectativa de que o roteiro se desenhasse para a resolução do crime ao final, mas claramente Martin McDonagh não queria nos oferecer respostas fáceis, como bem prova a transformação do personagem de Sam Rockwell, dono de um dos arcos mais interessantes da temporada já.
Tenho um problema sério com a personagem de Allison Janney. Por mais que a atriz entregue um desempenho notável, a sensação que tive é que a construção de LaVona Golden enquanto personagem é... rasa. Não há camadas ali, o roteiro não parece se preocupar em explorar as suas motivações, suas contradições e sua complexidade. Durante as duas horas de filmes, LaVona é apresentada como uma mulher má. Só isso. A Tonya Harding, brilhantemente defendida por uma surpreendente Margot Robbie, por outro lado, se mostra uma mulher feroz, mas vulnerável; alimentada e devorada pela violência, tentando a todo custo sair desse cicio de abuso, mas inconscientemente se lançando nele novamente. É um trabalho físico e psicológico extraordinário que muito enriquece o filme. Em relação ao CGI, de fato, incomoda, mas é louvável o esforço da direção nas cenas de patinação e a edição do longa, que, assim como a sua estrutura (puta ideia, a do documentário), são realmente inventivas.
Greta Gerwig toma todos os clichês das dramédias adolescentes, dos filmes sobre a juventude americana, sobre o descobrir-se, enfim, adulto, e realiza, surpreendentemente, esse longa autoral, que é uma das coisas mais divertidas, reflexivas, e tristes que vi esse ano. Saoirse Ronan está fenomenal como uma adolescente que deseja tanto o novo, que espera tanto pelas mudanças no futuro, que simplesmente não consegue aproveitar o hoje, abraçar os privilégios, as conquistas, as pessoas que já tem. É uma das melhores performances da carreira dela, e é interessante como Ronan consegue construir uma personagem com a qual nos identificamos, mas que odiamos quase na mesma medida. Laurie Metcalf é a responsável pela minha cena favorita do filme (a do aeroporto), e assim como Ronan, o grande trunfo de sua atuação são as camadas que ela consegue dar à sua personagem.
Dizer ou morrer? Essa questão que aparece como o conflito do cavalheiro no final do romance que a mãe de Elio lê para ele e seu pai; mas que também se anuncia na fala de Heráclito sobre o ocultamento como um traço não-humano é, me parece, o centro de conflito e de condução de "Me Chame Pelo Seu Nome". Afinal, parecem se perguntar Elio e Oliver a todo o tempo, é possível recalcar o desejo, ocultar a própria subjetividade, negar-se a si mesmo? Como descobrirão os personagens, não. Pelo menos, não por muito tempo. O doloroso é perceber que ao dizer não nos livramos do sofrimento. O não se calar não nos protege da dor, não nos imuniza de futuras mágoas. Esse ponto de tensão é belamente construído pelo roteiro de James Ivory e pela direção de Luca Guadagnino, que conduzem um filme lento, romântico, doloroso, enriquecido pelas atuações de Timothee Chalamet, Armie Hammer e Michael Stuhlbarg. Sensacional!
Acho que esperava mais. Clarice Abujamra, Maria Ribeiro e Jorge Mautner estão ótimos em cena, mas sinto que algumas imagens utilizadas pela Laís Bodanzky são óbvias demais e que a condução do conflito nunca empolga de fato. Adoro dramas familiares, porém esse não foi dos meus favoritos.
Realmente, me encantou como mais do que uma cinebiografia de Van Gogh, "Loving Vincent" se preocupa em nos apresentar os percursos da investigação e dos caminhos que levam à construção narrativa da vida do pintor. No centro do palco, acima de tudo, está o biógrafo: manipulando arquivos (aqui composto majoritariamente pelas cartas de/sobre Van Gogh), tomando depoimentos das pessoas próximas ao pintor, e visitando os lugares pelos quais este passou, tentando encontrar pistas que o ajudem a reconstituir os passos de Vincent até sua morte trágica, até o suposto suicídio. Neste caminho, para o biógrafo, surgem dúvidas, contradições, histórias que não se encaixam, versões que parecem ir de encontro ao que a testemunha anterior afirmava com tanta certeza. Ao mesmo tempo, o trabalho de contar a vida de Van Gogh desemboca, inevitavelmente, na construção de uma relação afetiva entre o seu biógrafo e as imagens de homem e de artista com as quais nosso protagonista trabalha. E essa paixão de "querer buscar o outro" é tão presente na tela, ou melhor, nas telas que compõem o filme, que é difícil que não nos apaixonemos por Van Gogh também.
Incrível como o filme consegue realizar, em seu próprio ritmo e tempo, a construção de um suspense errático, de uma tensão constante que nos impulsiona a colocar tudo e todos em suspeita a todo momento. Essa construção minuciosa, que abre espaço à críticas sobre a paternidade, sobre as relações familiares, sobre o uso da tecnologia, sobre a falta de diálogo, enfim, sobre essa vivência no mundo líquido moderno, que é o russo, mas é também o estadunidense, não deixa de ser também o nosso, aqui no Brasil, desemboca em um final melancólico, um tanto inacabado, como uma fruta azeda que se mastiga e cujo gosto permanece na boca por um longo período.
Meu Pai
4.4 1,2K Assista Agora"Sinto como se estivesse perdendo todas as minhas folhas". Que imagem poderosa!
Nomadland
3.9 895 Assista Agora"Lar é só uma palavra ou algo que você carrega com você?".
Druk: Mais Uma Rodada
3.9 797 Assista AgoraA cena final é a coisa mais maravilhosa que vi em 2020.
A Vida Invisível
4.3 642A cena do restaurante é uma das minhas favoritas do ano! Que filme lindo!
Dor e Glória
4.2 619 Assista AgoraÉ um filme sobre o tempo, sobre envelhecimento, sobre o desejo, sobre representação. Uma homenagem ao cinema. Que lindo, Almodóvar! Banderas está gigante!
Green Book: O Guia
4.1 1,5K Assista AgoraÉ um longa divertido, comovente, mas como negro, me incomoda a maneira como o racismo é tratado no filme. Desde a rápida conversão e humanização do racista, até o homem branco "ensinando" ao homem negro o que significa ser um homem negro (oi?), acreditem, tudo é ofensivo.
Benzinho
3.9 348 Assista AgoraTerminei de ver o filme com o coração aquecido. Lindo, lindo, lindo! Karine Teles está sensacional.
A Esposa
3.8 557 Assista Agora"Don't paint me as the victim. I'm much more interesting than that."
Glenn Close está gigante!
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
4.1 323 Assista AgoraMaior surpresa da temporada para mim. Um filme que consegue se articular, em pouco mais de duas horas, como um longa de época, um filme sobre a 2ª guerra e um drama familiar, sem nunca perder o foco naquilo que realmente direciona os esforços do habilidoso roteiro: o comentário social, o estudo sobre o racismo. Não darei spoilers, mas nos trinta minutos finais do filme senti uma comoção tão grande, a ponto de ter que abandonar um pouco a tela, respirar alguns segundos, e só retornar em seguida. É de uma dor, de uma angústia, de uma identificação que, como homem negro, se torna quase tangível. Não há como se acostumar com o preconceito. Não tem como. Principalmente se é você que o sente na pele, de maneira explícita ou sorrateira, todos os dias. Para além disso, a fotografia é belíssima; a trilha sonora, bastante funcional; e o elenco, um verdadeiro êxito. É curioso como a Mary J. Blinge, indicada ao Oscar, acaba sendo a ponta mais fraca de um grupo de atores realmente destacado: Jason Mitchell, Garett Hedlund, Carey Mulligan, Jonathan Banks, Rob Morgan, só para citar alguns, estão muito mais refinados e defendem seus personagens de uma maneira muito mais honesta e complexa do que a Blinge. Vai entender.
O Destino de Uma Nação
3.7 723 Assista AgoraGary Oldman desaparece na pele de Winston Churchill nessa cinebiografia protocolar e pouquíssimo inventiva. Muito bem produzido, com uma belíssima fotografia, contrastando luz e sombra, e um trabalho impecável de figurino e design de produção, "O Destino de uma nação" se consolida como mais uma "isca de Óscar", esses filmes que sempre aparecem na temporada de premiações, justamente porque parecem ter sido feitos apenas para ela.
Projeto Flórida
4.1 1,0KA Flórida apresentada por Sean Baker não é a dos sonhos. No filme, o espaço de fantasia e de realização idealizado a partir da imagem da Disneylândia parece tão próximo, mas, ao mesmo tempo, violentamente longe do contexto em que circulam os personagens principais desse longo, imersos em uma pobreza espiritual e física, corroídos pelo descaso público, obrigados a abrigar-se nessa comunidade que construíram, nesse mundo à parte, doloroso. Mas em meio a dor, há uma alegria que emana justamente da visão infantil que nos traz o ponto de vista de Moonee, brilhantemente defendida por Brooklynn Prince, uma verdadeira revelação. Ela arrebenta! Willem Dafoe, em uma personagem mais sutil, entrega um personagem que funciona como mediador dos conflitos, numa performance bastante sensível e honesta.
A Forma da Água
3.9 2,7KMe peguei várias vezes com um sorriso no rosto durante toda a sessão. É um filme belíssimo, uma ode ao amor, ao sonho. Por mais que o roteiro acelere demais a construção do relacionamento entre a Elisa e a forma; e que a estética do projeto recicle ideias e conceitos de outros filmes - O Fabuloso Destino de Amélie Poulain me pareceu um deles - é inegável o poder de Del Toro em nos inserir nesse universo louco e estranho que só ele é capaz de criar. Sally Hawkins está magnífica; Octavia Spencer, impagável; Richard Jenkinks, uma delicadeza; Michael Shannon, histriônico e bem mais exagerado do que o personagem exigia. Todos envolvidos, porém, nesse filme em que a trilha sonora é tão importante, nessa aventura que é quase uma canção.
Trama Fantasma
3.7 803 Assista AgoraHá um ensaio do Silviano Santiago, crítico literário e escritor mineiro, cujo título, em minha opinião, sintetiza a proposta de "Trama Fantasma": "Meditação sobre o ofício de criar". Tomando a moda, afinal, como centro para a construção narrativa, Paul Thomas Anderson nos lança nesse mundo de aparências e de fascínio no qual vivem os personagens, para discutir as tensões entre o desejo e o talento; a carreira e a família; o amor por um sonho e também por uma ilusão. Ainda que não consiga manter o ritmo durante toda a narrativa, "Trama Fantasma" se apresenta como um longa delicado, lento, ornamentado pela belíssima trilha sonora de Jonny Greenwood, pelos figurinos, pela fotografia e pela edição. Daniel Day Lewis incorpora uma persona misteriosa, atraente e repulsiva ao mesmo tempo, um homem tão velho na maneira como lida com os sentimentos próprios e alheios, mas aparentemente tão jovem e apaixonado ao tocar nos tecidos, ao realizar as medidas do corpo feminino. Lesley Manville é outro grande acerto e fico feliz que o Óscar tenha lhe presenteado com uma indicação.
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraQue preguiça esse filme vinha me dando. Desde o anúncio da proposta até o lançamento do primeiro trailer, tudo o que eu imaginava era o quão forçada a ideia de "The Post" e o seu momento de lançamento pareciam. "A crítica ao (des) governo Trump não poderia ser mais óbvia", pensava. "Colocar Tom Hanks e Meryl Streep em um filme de Spielberg não pode soar mais "necessito de um Óscar"", reclamava. Mas, eis que "The Post" conseguiu me surpreender. Ainda que não seja um ótimo filme, ele convence. A trilha pontual do grande John Williams ajuda na construção do suspense e da tensão que percorrem todo o filme; a direção do Spielberg é segura, e me encanta como o filme entrega um entretenimento maior, por exemplo, do que o superestimado "Spotlight", que tem uma temática parecida. Meryl Streep é gigante (como sempre), construindo uma personagem presa em um grande dilema moral, ao mesmo tempo em que tenta subverter a lógica machista da sociedade em que vive. Já Tom Hanks... desde 2000 e bolinha, ele está preso em variações do mesmo papel, e o sotaque que ele dá ao Ben é irritante! Uma pena!
Artista do Desastre
3.8 554 Assista AgoraUma pena que James Franco aparentemente seja um ser humano escroto e que, felizmente, os casos de assédio nos quais ele provavelmente está envolvido estejam surgindo, pois "Artista do Desastre" poderia ser uma oportunidade perfeita para dar ao ator sua segunda indicação ao Óscar. A caricatura que é Tommy Wiseau é humanizada nas mãos de Franco, tão à vontade nesse filme, que funciona como homenagem a Tommy e à produção de "The Room", mas também como um filme que se propõe a explorar os bastidores da indústria do cinema, a busca pelo sonho, os fracassos e contradições. Consegue ser divertido e dramático na mesma medida.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraFrances McDormand está visceral num filme que está constantemente deslocando os lugares da maternidade, da justiça, da violência. É um filme sujo, quente, explosivo, e ao mesmo tempo, melancólico, triste. Fiquei na expectativa de que o roteiro se desenhasse para a resolução do crime ao final, mas claramente Martin McDonagh não queria nos oferecer respostas fáceis, como bem prova a transformação do personagem de Sam Rockwell, dono de um dos arcos mais interessantes da temporada já.
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraTenho um problema sério com a personagem de Allison Janney. Por mais que a atriz entregue um desempenho notável, a sensação que tive é que a construção de LaVona Golden enquanto personagem é... rasa. Não há camadas ali, o roteiro não parece se preocupar em explorar as suas motivações, suas contradições e sua complexidade. Durante as duas horas de filmes, LaVona é apresentada como uma mulher má. Só isso. A Tonya Harding, brilhantemente defendida por uma surpreendente Margot Robbie, por outro lado, se mostra uma mulher feroz, mas vulnerável; alimentada e devorada pela violência, tentando a todo custo sair desse cicio de abuso, mas inconscientemente se lançando nele novamente. É um trabalho físico e psicológico extraordinário que muito enriquece o filme. Em relação ao CGI, de fato, incomoda, mas é louvável o esforço da direção nas cenas de patinação e a edição do longa, que, assim como a sua estrutura (puta ideia, a do documentário), são realmente inventivas.
Uma Mulher Fantástica
4.1 421 Assista AgoraMesmo com a ignorância do mundo, com a solidão do mundo, com o vazio do mundo, Marina resiste.
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraGreta Gerwig toma todos os clichês das dramédias adolescentes, dos filmes sobre a juventude americana, sobre o descobrir-se, enfim, adulto, e realiza, surpreendentemente, esse longa autoral, que é uma das coisas mais divertidas, reflexivas, e tristes que vi esse ano. Saoirse Ronan está fenomenal como uma adolescente que deseja tanto o novo, que espera tanto pelas mudanças no futuro, que simplesmente não consegue aproveitar o hoje, abraçar os privilégios, as conquistas, as pessoas que já tem. É uma das melhores performances da carreira dela, e é interessante como Ronan consegue construir uma personagem com a qual nos identificamos, mas que odiamos quase na mesma medida. Laurie Metcalf é a responsável pela minha cena favorita do filme (a do aeroporto), e assim como Ronan, o grande trunfo de sua atuação são as camadas que ela consegue dar à sua personagem.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraDizer ou morrer? Essa questão que aparece como o conflito do cavalheiro no final do romance que a mãe de Elio lê para ele e seu pai; mas que também se anuncia na fala de Heráclito sobre o ocultamento como um traço não-humano é, me parece, o centro de conflito e de condução de "Me Chame Pelo Seu Nome". Afinal, parecem se perguntar Elio e Oliver a todo o tempo, é possível recalcar o desejo, ocultar a própria subjetividade, negar-se a si mesmo? Como descobrirão os personagens, não. Pelo menos, não por muito tempo. O doloroso é perceber que ao dizer não nos livramos do sofrimento. O não se calar não nos protege da dor, não nos imuniza de futuras mágoas. Esse ponto de tensão é belamente construído pelo roteiro de James Ivory e pela direção de Luca Guadagnino, que conduzem um filme lento, romântico, doloroso, enriquecido pelas atuações de Timothee Chalamet, Armie Hammer e Michael Stuhlbarg. Sensacional!
Como Nossos Pais
3.8 444Acho que esperava mais. Clarice Abujamra, Maria Ribeiro e Jorge Mautner estão ótimos em cena, mas sinto que algumas imagens utilizadas pela Laís Bodanzky são óbvias demais e que a condução do conflito nunca empolga de fato. Adoro dramas familiares, porém esse não foi dos meus favoritos.
Namorados para Sempre
3.6 2,5K Assista Agorahttps://www.youtube.com/watch?v=OwTtC8dRwQ0 <3
Com Amor, Van Gogh
4.3 1,0K Assista AgoraRealmente, me encantou como mais do que uma cinebiografia de Van Gogh, "Loving Vincent" se preocupa em nos apresentar os percursos da investigação e dos caminhos que levam à construção narrativa da vida do pintor. No centro do palco, acima de tudo, está o biógrafo: manipulando arquivos (aqui composto majoritariamente pelas cartas de/sobre Van Gogh), tomando depoimentos das pessoas próximas ao pintor, e visitando os lugares pelos quais este passou, tentando encontrar pistas que o ajudem a reconstituir os passos de Vincent até sua morte trágica, até o suposto suicídio. Neste caminho, para o biógrafo, surgem dúvidas, contradições, histórias que não se encaixam, versões que parecem ir de encontro ao que a testemunha anterior afirmava com tanta certeza. Ao mesmo tempo, o trabalho de contar a vida de Van Gogh desemboca, inevitavelmente, na construção de uma relação afetiva entre o seu biógrafo e as imagens de homem e de artista com as quais nosso protagonista trabalha. E essa paixão de "querer buscar o outro" é tão presente na tela, ou melhor, nas telas que compõem o filme, que é difícil que não nos apaixonemos por Van Gogh também.
Sem Amor
3.8 319 Assista AgoraIncrível como o filme consegue realizar, em seu próprio ritmo e tempo, a construção de um suspense errático, de uma tensão constante que nos impulsiona a colocar tudo e todos em suspeita a todo momento. Essa construção minuciosa, que abre espaço à críticas sobre a paternidade, sobre as relações familiares, sobre o uso da tecnologia, sobre a falta de diálogo, enfim, sobre essa vivência no mundo líquido moderno, que é o russo, mas é também o estadunidense, não deixa de ser também o nosso, aqui no Brasil, desemboca em um final melancólico, um tanto inacabado, como uma fruta azeda que se mastiga e cujo gosto permanece na boca por um longo período.