Sou quase sempre catapultado por essas performances sutis, nas quais o ator não precisa mais do que um gesto, um olhar, um movimento de mãos, um cerrar de dentes para inspirar uma série de emoções complexas e toda a sua confusão interior. E é justamente o que fazem Ruth Negga e Joel Edgerton, espetaculares na pele de um casal que tenta exercer seu direito de apenas... estarem juntos. Por mais simples que pareça a história e por mais que o roteiro prefira apostar na construção de um ambiente menos "histriônico", 'Loving' nunca perde seu fôlego e sua carga dramática. Belamente dirigido pelo Jeff Nichols, o longa, que me fez ficar com um imenso nó na garganta durante as suas duas horas de duração, é uma das mais gratas surpresas deste ano, em minha opinião.
Não é o o melhor filme de animação da Disney, e talvez nem seja um dos longas mais interessantes do ano, mas como entretenimento funciona... e muito! Há tempos não tinha rido tanto e me divertido como uma criança. Fora que a mensagem final, apesar de se sustentar no clichê do "siga seus sonhos, seja quem você quer ser", motiva e emociona.
Divertido filme do Stephen Frears, com uma graciosa trilha sonora e uma direção de arte bastante dinâmica. Ainda que pareça, às vezes, bobo demais, descomprometido demais, a grande façanha do longa, ao que me parece, é conseguir dar profundidade dramática à personagens que, na mãos de um diretor menos experiente, se tornariam meras caricaturas. Meryl Streep está ótima aqui e é visível o quanto ela se diverte no papel da Florence. A atriz também consegue realizar um excelente trabalho nas cenas mais emotivas (como o discurso no início e a tocante sequência final). Mas o grande destaque do filme, para mim, sem dúvida, é Hugh Grant. Carinhoso, mas ao mesmo rodeado por uma aura de mistério (nunca entendi muito bem o seu relacionamento extra-conjugal), extremamente preocupado com a esposa, ele entregue uma performance que, num ano relativamente fraco como este, pode acabar gerando sua primeira indicação ao Óscar.
Isabelle Huppert é magistral ao criar essa personagem ambígua, essa mulher que para além do abuso físico, que é o ponto de partida do roteiro, vai sofrendo, ao longo da narrativa, a imposição de uma série de abusos morais, religiosos, de questionamentos que colocam em xeque sua posição de líder, de executiva, de dona do seu próprio nariz, de mãe, de mulher. Uma personagem profundamente abalada, inclusive, por um trauma do passado. É um filme que, ele mesmo também, nunca nos oferece soluções óbvias: as escolhas são sempre provocantes, contraditórias. Poucos suspenses me incomodaram de uma maneira tão interessante quanto "Elle".
Além de "Todo sobre mi madre", que considero a obra prima de Almodóvar, e "La piel que habito" ainda não consegui ser totalmente fisgado por nenhuma outra produção do cineasta. "Volver" é talvez a que chega mais perto disso. A intensidade das cores, o roteiro, que apesar de previsível, é cheio de reviravoltas, a trilha sonora, as atuações... tudo é bem explorado, ainda que os momentos finais do longa tenham me deixado um tanto decepcionado, não sei bem o porquê. Penélope Cruz é belíssima e está em um dos seus melhores momentos neste longa.
“La verdad también es que cuando vos sabes que nada de lo que te pase va a ser peor de lo que te pasó… te da como un cierto poder, yo ya no me preocupo más por nada." <3
"Dad... Dad, you're my father. I'm your son. I love you. I always have and I always will. But you think of yourself as a colored man. I think of myself as a man."
A última cena, a última dança, "Smoke gets in your eyes" ao fundo, é um dos momentos mais lindos do ano para mim. E o cenário como um todo resume muito bem a empreitada que é "45 anos": a amargura do ressentimento, a angústia de não saber direito com quem se vive há quase meia década, a acomodação. É um drama familiar efetivamente bem sucedido principalmente pela maneira sutil com que consegue tratar o conflito, a perda, o matrimônio, a velhice. Charlotte Rampling brilha. Ela está impecável. Fico pensando o quão difícil deve ter sido para ela interpretar uma personagem que guarda tudo para si, que é obrigada a reter as emoções de uma tão forma que às vezes a preocupação e a melancoliza vazam pelos olhos, pelos lábios cerrados. É de uma dor e de uma elegância essa vida de casal.
Que bagunça é essa? Que espécie de conto de fadas contemporâneo David O. Russell quis construir aqui? Desde que o lançamento do filme foi divulgado, eu tinha a maior expectativa em relação a "Joy". Não poderia estar mais enganado e mais decepcionado. O trabalho de montagem é péssimo: cenas amontoadas, insignificantes, desinteressantes, sendo jogados no rosto do espectador. O roteiro é cheio de clichês, de escolhas óbvias, simplesmente não funciona. A história de Joy Mangano, que até poderia ser realizada com sucesso, apostando no enredo de superação ou na autonomia feminina, fica forçada aqui, chata, pouco rentável. Jennifer Lawrence até tenta contornar o estrago, mas é difícil. De qualquer forma, ela é a melhor coisa do filme.
A rasa profundidade e a unidimensionalidade da personalidade dos personagens, as frases feitas, o tom absurdamente explicativo, enfim, quase tudo em "Trumbo" remete a filmes simples feitos para televisão. O roteiro em si não opta por nenhuma ousadia e acaba caindo muitas vezes em um didatismo um pouco irritante. Disso eu não gostei. Mas acho que o longa deve ser visto muito mais pela sua "importância social", pelo retrato bem acabado que faz de um dos momentos mais tensos da Guerra Fria, o macartismo, e como esse período histórico afetou as produções artísticas, mais especificamente o cinema. A trajetória de Dalton Trumbo é bastante interessante, e acredito que Bryan Cranston realizou bem o papel. Há um tom caricato, às vezes beirando o cômico, na performance dele, que ajuda muito na condução da narrativa. Ele, porém, na hora certa, sabe ser dramático (a cena do discurso é um exemplo disto). Quanto a Helen Mirren, ela está ótima, mas sei lá, acho que a atriz faria aquele papel com os pés nas costas mesmo, não tem nada de tão desafiante no papel não.
"Bridge of Spies" é, na verdade, uma reciclagem dos temas mais recorrentes dos filmes de Spielberg: a guerra e o heroísmo estadunidense. O argumento do filme em si, não é muito novo e também não tão interessante assim, pelo menos é o que achei, mas a execução é de qualidade. Por exemplo: fiquei abismado com o trabalho de direção de arte. É incrível a reconstrução dos espaços, o esforço na montagem da cenografia, toda a maravilha dos detalhes. A trilha sonora do Thomas Newman (um de meus compositores favoritos), no entanto, acaba ficando um pouco apagada, mas não chega a comprometer o filme. Destaque para a atuação contida, porém cheia de sentimentos, do Mark Rylance.
Acho que o calor da emoção, aliado a todo clima de nostalgia e também as ótimas atuações fazem "Creed" parecer um filme bem melhor do que ele realmente é. Há muitas características típicas de filmes sobre esporte, principalmente os filmes sobre boxe, que acabam limitando as opções do roteiro e a coisa tende a se apresentar como um produto previsível e pouco inventivo. Não acho que isso seja necessariamente um problema aqui, ainda que tenha me incomodado um pouco. Adorei a maneira como o Michael B. Jordan chamou o personagem para si, e mais ainda a maneira como ele soube criar uma química muito forte com os outros membros do elenco, fazendo a conexão entre os personagens também uma conexão com o espectador. O Stallone também é responsável por isso. Quem diria que depois de tantos filmes interpretado o já icônico Rocky Balboa, o ator conseguiria trazer novas camadas e revelar novas facetas para o personagem? Quem diria, né? Mas o cara consegue. A reflexão do personagem sobre a vida naquela cena no vestiário é umas das coisas mais bem atuadas que eu vi esse ano até agora. Morri para ver o Stallone me emocionar. Queimei a língua.
Não minto que esperava mais. Como alguns já disseram aí embaixo, não há muito inovação na forma do documentário (como estava sendo bastante propagado pela mídia e também pela divulgação do filme). Mas em geral, 'Amy' é um ótimo trabalho do Asif Kapadia. Há a tentativa de apresentar um retrato vulnerável da jovem cantora, o que é bem convincente. Que saudade da Amy!
Simpatiquíssimo esse longa do John Crowley. O trabalho com a direção de arte e o figurino é realmente caprichado e a trilha sonora é bem harmoniosa. Mas falta uma costura mais organizada dos acontecimentos: a edição é "brusca" e funciona apenas para encadear os acontecimentos do filme; a temática da imigração (tão importante para a contextualização do enredo e tão debatida hoje em dia) é pouco aprofundada, e as várias lacunas sobre o assunto são preenchidas com um dilema amorosa não tão convincente assim. O que realmente me encantou em 'Brooklyn', no entanto, foi a atuação da Saoirse Ronan. Como ela amadureceu! Está ótima aqui. Em alguns momentos, a performance dela me lembrou a da Carey Mulligan, em 'Educação'. Ambas fenomenais em seus respectivos filmes.
"Do you think they're laying out two bits a throw just to watch you poke your head up into the sunlight or Alice look like she just stepped out of a beauty parlor? They don't give a damn whether you win or James and Ruby or Mario and Jackie or the Man in the Moon and Little Miss Muffet. They just want to see a little misery out there so they can feel a little better maybe. They're entitled to that." Como um filme de 1969 consegue ser ainda tão atual e tão relevante? Verdadeira obra prima mesmo!
É um filme que funciona muito mais para uma audiência estadunidense (ou mais inteirada sobre economia) do que para um público estrangeiro, como é o nosso. Ainda que a crise que afetou os Estados Unidos no final da década passada tenha tido reverberações em todo o planeta, a maneira como a coisa é abordada no filme do Adam McKay me fez pensar que algumas sutilezas do roteiro são provocações que fazem mais sentido ou ganham contornos mais evidentes justamente para às pessoas que viveram aquele momento histórico mais diretamente. É inegável, porém, que dentre os prováveis indicados ao Óscar deste ano, "A Grande Aposta" é um dos mais originais e corajosos. A edição ágil, praticamente a simulação de um documentário, é tremendamente astuta. O elenco todo trabalha bem, tendo a sorte de contar com atores ótimos, como o Christian Bale e o Steven Carell, em momentos super inspirados.O roteiro é muito bem trabalhado, mesmo que eu não tenha entendido bulhufas sobre os detalhes da crise. E é justamente daí que nasce o meu ponto favorito do filme: a elegância dele para rir de si mesmo. A consciência de que o espectador não sacará muita coisa do que está sendo apresentado faz com que o longa articule uma série de ferramentas, que pensando agora, são claramente os pontos máximos na construção do humor do filme: a quebra da quarta parede, as pausas propositais com a voz do narrador em off e/ou a inserção de notas de rodapé, a aparição com fins didáticos da Margot Robbie e da Selena Gomez, entre outras estrelas, por exemplo. A grande aposta de "A Grande Aposta" acaba por ser o espectador (e todos os recursos que nascem ao redor deste, em um movimento sublime e curiosamente inteligente!)
Talvez na mão de um outro diretor e de outro roteirista, "The Danish Girl" teria sido um filme brilhante, importante, memorável. Mas a realização do Tom Hooper é precária, principalmente pela maneira didática e muito "explícita" em que a coisa é conduzida. Ao meu ver, o filme parece trocar a sutileza necessária ao tema por algumas obviedades, para mim, incômodas. Veja a cena do Einar se olhando no espelho, por exemplo. É tudo tão claro, tão óbvio, tão pouco poético... ainda que a cena se venda como poética. Ou o final também, com aquela cena do voo tendo como fundo a bela (porém invasiva demais) trilha sonora do Alexandre Desplat. É de um simbolismo tão vazio, cafona até. Durante o filme, há pouco espaço para interpretações e um incertante preenchimento das lacunas com escolhas previsíveis e pouco inteligentes. Me senti assistindo a um filme para a televisão em alguns momentos. O grande trunfo do filme é certamente a boa química entre a Alicia Vikander (equilibrada e bastante verossímil em um papel não tão original) e o Eddie Redmayne (entregando mais uma excelente performance física e uma das minhas atuações favoritas do ano já).
Filme bem dirigido, bem escrito, bem atuado, bem feito. É tudo muito bem amarradinho e de muita qualidade. Daquele tipo de filme que você vê, gosta, mas não tem muita certeza se se tornará memorável ou discutido no futuro, por exemplo. O interessante aqui é o tom de denúncia e a importante problematização que se instaura no longa, não apenas sobre o papel do jornalista (principalmente o jornalista na era pré-digital) como também os já conhecidos abusos sexuais e psicológicos cometidos por padres da Igreja Católica não apenas na cidade de Boston (onde a trama se passa), como no mundo inteiro. Há espaço também, ainda que estas questões não sejam profundamente debatidas, para falar dos limites da fé e da religião. Gostei bastante da interação de todo o elenco, em especial da atuação do Mark Ruffalo e da Rachel McAdams.
Esses roteiros verborrágicos do Aaron Sorkin quase sempre me dão preguiça. Principalmente quando a coisa vem amarrada a uma direção tão pouco segura e tão pretensiosa quanto a do Danny Boyle. "Steve Jobs" tem tudo: trilha sonora, atuações competentes (até o Seth Rogen consegue aproveitar uma pontinha para mostrar o seu talento), melodrama, drama familiar, mas sei lá, não consegui me conectar ao filme em nada. Não sei se a culpa está na personalidade um tanto antipática e temperamental do Jobs, mas o cara tem uma puta história! Enfim, foi isso, não deu. Talvez eu seja tradicional demais em relação à biopics (ou não), ou talvez essa seja quadradonada (posando de experimental, tenha paciência). Só curti a cena final (é sentimentaloide, eu sei, nada original, mas não deixa de ser bonita) e a atuação do Fassbender. Ele é um ótimo ator, que venho acompanhando há tempos, e mesmo sem parecer muito fisicamente com o Jobs, ele se sai bem aqui. Mas ainda prefiro o DiCaprio em "The Revenant".
O Iñárritu soube manter em "The Revenant" ao menos três aspectos muito positivos de "Birdman": a trilha sonora acentuadíssima, o trabalho maravilhoso de fotografia do Emmanuel Lubezki (sim, ele possivelmente ganhará um terceiro Óscar em 2016) e a sublime montagem, com cortes extremamente sutis, às vezes, como no momento da batalha inicial, quase invisíveis. Isso é muito bonito. Aliás, o filme por inteiro é muito bonito. Os efeitos visuais, a maquiagem (o que são aqueles ferimentos do personagem do DiCaprio?), a direção de arte e o figurino, o som. É tudo muito vívido e, ao mesmo tempo, morto, frio, chocante, desagradável. Mesmo que o roteiro esteja muito aquém da proposta do filme e que a todo momento se caiam em clichês e experiências previsíveis (vários acontecimentos do filme descaradamente remetem à "Gladiador" e outros conhecidos filmes de vingança, por exemplo), é inegável aqui o suor e o esforço do diretor e dos atores em criar algo que saía do lugar comum. Eu queria tanto que o DiCaprio tivesse ganhado seu merecido Óscar por "O Lobo de Wall Street", mas fico contente que ele tenha chances de triunfar aqui. Em um filme em que o seu personagem fala tão pouco, os olhos azuis de DiCaprio nunca comunicaram tanto.
Ainda que o roteiro às vezes suavize ou torne superficial os dramas morais e os conflitos dos personagens (principalmente do protagonista, Dennis), "99 Homes" é um bom filme, potencializado ao máximo pelas ótimas atuações, em especial da Laura Dern (atriz infelizmente subestimada que aparece pouco aqui, mas sempre rouba cenas) e claro, do Michael Shannon, equilibrando na construção de seu personagem toda uma impostura de medo e aversão e ao mesmo tempo, uma falsa amabilidade com o personagem principal. Para mim, inclusive, uma das melhores passagens do longa é o monólogo brilhantemente apresentado pelo Shannon:
"America doesn't bail out the losers.(...) America was built by bailing out winners, by rigging a nation of the winners, for the winners, by the winners."
A trilha sonora, a direção, os movimentos da câmara, a fotografia: tudo em "Room" é caprichosamente instalado para criar em nós a sensação de emoção, de aproximação, de nervoso. Há uma necessidade intensa do filme de ser a todo momento um melodrama, o que definitivamente eu não sei se cria em mim algum incômodo. Só sei que funciona. E bem. Trata-se de um filme de roteiro aparentemente simples, mas que consegue comunicar muitíssimas coisas. Desde o primeiro momento, me vi preso à história e à força da química entre a excelente Brie Larson e o talentosíssimo Jacob Tremblay. Esse menino, aliás, me surpreendeu muito! Na torcida agora para que a Larson confirme seu favorito (até então rejeitado por mim) no Óscar de melhor atriz ano que vem!
É um filme muito, muito espirituoso. Engraçado em alguns momentos até. Acredito que essa leveza do roteiro e das atuações é fundamental para tornar divertida e mais acessível a dureza da situação em que se encontram os personagens. Isso é bacana. Um baita ponto positivo. Fico feliz também em ver o Ridley Scott realizando uma produção de qualidade. Depois da bomba que é "Exodus", eu realmente não estava esperando que de "Martian" seria tão bom. Mas, ainda bem, que eu queimei a língua. Em relação ao elenco, me parece que ele funciona muito bem em conjunto, mas à exceção do Matt Damon (gracioso e super confortável no papel), não há grandes destaques individuais. Não que a Jessica Chastain ou o Chiwetel Ejiofor, por exemplo, estejam ruins. Longe disso. Só não há durante o longa, oportunidades para que eles brilhem como deveriam.
Loving: Uma História de Amor
3.7 292 Assista AgoraSou quase sempre catapultado por essas performances sutis, nas quais o ator não precisa mais do que um gesto, um olhar, um movimento de mãos, um cerrar de dentes para inspirar uma série de emoções complexas e toda a sua confusão interior. E é justamente o que fazem Ruth Negga e Joel Edgerton, espetaculares na pele de um casal que tenta exercer seu direito de apenas... estarem juntos. Por mais simples que pareça a história e por mais que o roteiro prefira apostar na construção de um ambiente menos "histriônico", 'Loving' nunca perde seu fôlego e sua carga dramática. Belamente dirigido pelo Jeff Nichols, o longa, que me fez ficar com um imenso nó na garganta durante as suas duas horas de duração, é uma das mais gratas surpresas deste ano, em minha opinião.
Zootopia: Essa Cidade é o Bicho
4.2 1,5K Assista AgoraNão é o o melhor filme de animação da Disney, e talvez nem seja um dos longas mais interessantes do ano, mas como entretenimento funciona... e muito! Há tempos não tinha rido tanto e me divertido como uma criança. Fora que a mensagem final, apesar de se sustentar no clichê do "siga seus sonhos, seja quem você quer ser", motiva e emociona.
Florence: Quem é Essa Mulher?
3.5 351 Assista AgoraDivertido filme do Stephen Frears, com uma graciosa trilha sonora e uma direção de arte bastante dinâmica. Ainda que pareça, às vezes, bobo demais, descomprometido demais, a grande façanha do longa, ao que me parece, é conseguir dar profundidade dramática à personagens que, na mãos de um diretor menos experiente, se tornariam meras caricaturas. Meryl Streep está ótima aqui e é visível o quanto ela se diverte no papel da Florence. A atriz também consegue realizar um excelente trabalho nas cenas mais emotivas (como o discurso no início e a tocante sequência final). Mas o grande destaque do filme, para mim, sem dúvida, é Hugh Grant. Carinhoso, mas ao mesmo rodeado por uma aura de mistério (nunca entendi muito bem o seu relacionamento extra-conjugal), extremamente preocupado com a esposa, ele entregue uma performance que, num ano relativamente fraco como este, pode acabar gerando sua primeira indicação ao Óscar.
Elle
3.8 885Isabelle Huppert é magistral ao criar essa personagem ambígua, essa mulher que para além do abuso físico, que é o ponto de partida do roteiro, vai sofrendo, ao longo da narrativa, a imposição de uma série de abusos morais, religiosos, de questionamentos que colocam em xeque sua posição de líder, de executiva, de dona do seu próprio nariz, de mãe, de mulher. Uma personagem profundamente abalada, inclusive, por um trauma do passado. É um filme que, ele mesmo também, nunca nos oferece soluções óbvias: as escolhas são sempre provocantes, contraditórias. Poucos suspenses me incomodaram de uma maneira tão interessante quanto "Elle".
Volver
4.1 1,1K Assista AgoraAlém de "Todo sobre mi madre", que considero a obra prima de Almodóvar, e "La piel que habito" ainda não consegui ser totalmente fisgado por nenhuma outra produção do cineasta. "Volver" é talvez a que chega mais perto disso. A intensidade das cores, o roteiro, que apesar de previsível, é cheio de reviravoltas, a trilha sonora, as atuações... tudo é bem explorado, ainda que os momentos finais do longa tenham me deixado um tanto decepcionado, não sei bem o porquê. Penélope Cruz é belíssima e está em um dos seus melhores momentos neste longa.
O Filho da Noiva
4.1 297“La verdad también es que cuando vos sabes que nada de lo que te pase va a ser peor de lo que te pasó… te da como un cierto poder, yo ya no me preocupo más por nada." <3
Adivinhe Quem Vem Para Jantar
4.1 222 Assista Agora"Dad... Dad, you're my father. I'm your son. I love you. I always have and I always will. But you think of yourself as a colored man. I think of myself as a man."
Um dos filmes mais bem atuados que eu já assisti.
45 Anos
3.7 254 Assista AgoraA última cena, a última dança, "Smoke gets in your eyes" ao fundo, é um dos momentos mais lindos do ano para mim. E o cenário como um todo resume muito bem a empreitada que é "45 anos": a amargura do ressentimento, a angústia de não saber direito com quem se vive há quase meia década, a acomodação. É um drama familiar efetivamente bem sucedido principalmente pela maneira sutil com que consegue tratar o conflito, a perda, o matrimônio, a velhice. Charlotte Rampling brilha. Ela está impecável. Fico pensando o quão difícil deve ter sido para ela interpretar uma personagem que guarda tudo para si, que é obrigada a reter as emoções de uma tão forma que às vezes a preocupação e a melancoliza vazam pelos olhos, pelos lábios cerrados. É de uma dor e de uma elegância essa vida de casal.
Joy: O Nome do Sucesso
3.4 778 Assista AgoraQue bagunça é essa? Que espécie de conto de fadas contemporâneo David O. Russell quis construir aqui? Desde que o lançamento do filme foi divulgado, eu tinha a maior expectativa em relação a "Joy". Não poderia estar mais enganado e mais decepcionado. O trabalho de montagem é péssimo: cenas amontoadas, insignificantes, desinteressantes, sendo jogados no rosto do espectador. O roteiro é cheio de clichês, de escolhas óbvias, simplesmente não funciona. A história de Joy Mangano, que até poderia ser realizada com sucesso, apostando no enredo de superação ou na autonomia feminina, fica forçada aqui, chata, pouco rentável. Jennifer Lawrence até tenta contornar o estrago, mas é difícil. De qualquer forma, ela é a melhor coisa do filme.
Trumbo: Lista Negra
3.9 374 Assista AgoraA rasa profundidade e a unidimensionalidade da personalidade dos personagens, as frases feitas, o tom absurdamente explicativo, enfim, quase tudo em "Trumbo" remete a filmes simples feitos para televisão. O roteiro em si não opta por nenhuma ousadia e acaba caindo muitas vezes em um didatismo um pouco irritante. Disso eu não gostei. Mas acho que o longa deve ser visto muito mais pela sua "importância social", pelo retrato bem acabado que faz de um dos momentos mais tensos da Guerra Fria, o macartismo, e como esse período histórico afetou as produções artísticas, mais especificamente o cinema. A trajetória de Dalton Trumbo é bastante interessante, e acredito que Bryan Cranston realizou bem o papel. Há um tom caricato, às vezes beirando o cômico, na performance dele, que ajuda muito na condução da narrativa. Ele, porém, na hora certa, sabe ser dramático (a cena do discurso é um exemplo disto). Quanto a Helen Mirren, ela está ótima, mas sei lá, acho que a atriz faria aquele papel com os pés nas costas mesmo, não tem nada de tão desafiante no papel não.
Ponte dos Espiões
3.7 694"Bridge of Spies" é, na verdade, uma reciclagem dos temas mais recorrentes dos filmes de Spielberg: a guerra e o heroísmo estadunidense. O argumento do filme em si, não é muito novo e também não tão interessante assim, pelo menos é o que achei, mas a execução é de qualidade. Por exemplo: fiquei abismado com o trabalho de direção de arte. É incrível a reconstrução dos espaços, o esforço na montagem da cenografia, toda a maravilha dos detalhes. A trilha sonora do Thomas Newman (um de meus compositores favoritos), no entanto, acaba ficando um pouco apagada, mas não chega a comprometer o filme. Destaque para a atuação contida, porém cheia de sentimentos, do Mark Rylance.
Creed: Nascido para Lutar
4.0 1,1K Assista AgoraAcho que o calor da emoção, aliado a todo clima de nostalgia e também as ótimas atuações fazem "Creed" parecer um filme bem melhor do que ele realmente é. Há muitas características típicas de filmes sobre esporte, principalmente os filmes sobre boxe, que acabam limitando as opções do roteiro e a coisa tende a se apresentar como um produto previsível e pouco inventivo. Não acho que isso seja necessariamente um problema aqui, ainda que tenha me incomodado um pouco. Adorei a maneira como o Michael B. Jordan chamou o personagem para si, e mais ainda a maneira como ele soube criar uma química muito forte com os outros membros do elenco, fazendo a conexão entre os personagens também uma conexão com o espectador. O Stallone também é responsável por isso. Quem diria que depois de tantos filmes interpretado o já icônico Rocky Balboa, o ator conseguiria trazer novas camadas e revelar novas facetas para o personagem? Quem diria, né? Mas o cara consegue. A reflexão do personagem sobre a vida naquela cena no vestiário é umas das coisas mais bem atuadas que eu vi esse ano até agora. Morri para ver o Stallone me emocionar. Queimei a língua.
Amy
4.4 1,0K Assista AgoraNão minto que esperava mais. Como alguns já disseram aí embaixo, não há muito inovação na forma do documentário (como estava sendo bastante propagado pela mídia e também pela divulgação do filme). Mas em geral, 'Amy' é um ótimo trabalho do Asif Kapadia. Há a tentativa de apresentar um retrato vulnerável da jovem cantora, o que é bem convincente. Que saudade da Amy!
Brooklin
3.8 1,1KSimpatiquíssimo esse longa do John Crowley. O trabalho com a direção de arte e o figurino é realmente caprichado e a trilha sonora é bem harmoniosa. Mas falta uma costura mais organizada dos acontecimentos: a edição é "brusca" e funciona apenas para encadear os acontecimentos do filme; a temática da imigração (tão importante para a contextualização do enredo e tão debatida hoje em dia) é pouco aprofundada, e as várias lacunas sobre o assunto são preenchidas com um dilema amorosa não tão convincente assim. O que realmente me encantou em 'Brooklyn', no entanto, foi a atuação da Saoirse Ronan. Como ela amadureceu! Está ótima aqui. Em alguns momentos, a performance dela me lembrou a da Carey Mulligan, em 'Educação'. Ambas fenomenais em seus respectivos filmes.
A Noite dos Desesperados
4.2 112 Assista Agora"Do you think they're laying out two bits a throw just to watch you poke your head up into the sunlight or Alice look like she just stepped out of a beauty parlor? They don't give a damn whether you win or James and Ruby or Mario and Jackie or the Man in the Moon and Little Miss Muffet. They just want to see a little misery out there so they can feel a little better maybe. They're entitled to that." Como um filme de 1969 consegue ser ainda tão atual e tão relevante? Verdadeira obra prima mesmo!
A Grande Aposta
3.7 1,3KÉ um filme que funciona muito mais para uma audiência estadunidense (ou mais inteirada sobre economia) do que para um público estrangeiro, como é o nosso. Ainda que a crise que afetou os Estados Unidos no final da década passada tenha tido reverberações em todo o planeta, a maneira como a coisa é abordada no filme do Adam McKay me fez pensar que algumas sutilezas do roteiro são provocações que fazem mais sentido ou ganham contornos mais evidentes justamente para às pessoas que viveram aquele momento histórico mais diretamente. É inegável, porém, que dentre os prováveis indicados ao Óscar deste ano, "A Grande Aposta" é um dos mais originais e corajosos. A edição ágil, praticamente a simulação de um documentário, é tremendamente astuta. O elenco todo trabalha bem, tendo a sorte de contar com atores ótimos, como o Christian Bale e o Steven Carell, em momentos super inspirados.O roteiro é muito bem trabalhado, mesmo que eu não tenha entendido bulhufas sobre os detalhes da crise. E é justamente daí que nasce o meu ponto favorito do filme: a elegância dele para rir de si mesmo. A consciência de que o espectador não sacará muita coisa do que está sendo apresentado faz com que o longa articule uma série de ferramentas, que pensando agora, são claramente os pontos máximos na construção do humor do filme: a quebra da quarta parede, as pausas propositais com a voz do narrador em off e/ou a inserção de notas de rodapé, a aparição com fins didáticos da Margot Robbie e da Selena Gomez, entre outras estrelas, por exemplo. A grande aposta de "A Grande Aposta" acaba por ser o espectador (e todos os recursos que nascem ao redor deste, em um movimento sublime e curiosamente inteligente!)
A Garota Dinamarquesa
4.0 2,2K Assista AgoraTalvez na mão de um outro diretor e de outro roteirista, "The Danish Girl" teria sido um filme brilhante, importante, memorável. Mas a realização do Tom Hooper é precária, principalmente pela maneira didática e muito "explícita" em que a coisa é conduzida. Ao meu ver, o filme parece trocar a sutileza necessária ao tema por algumas obviedades, para mim, incômodas. Veja a cena do Einar se olhando no espelho, por exemplo. É tudo tão claro, tão óbvio, tão pouco poético... ainda que a cena se venda como poética. Ou o final também, com aquela cena do voo tendo como fundo a bela (porém invasiva demais) trilha sonora do Alexandre Desplat. É de um simbolismo tão vazio, cafona até. Durante o filme, há pouco espaço para interpretações e um incertante preenchimento das lacunas com escolhas previsíveis e pouco inteligentes. Me senti assistindo a um filme para a televisão em alguns momentos. O grande trunfo do filme é certamente a boa química entre a Alicia Vikander (equilibrada e bastante verossímil em um papel não tão original) e o Eddie Redmayne (entregando mais uma excelente performance física e uma das minhas atuações favoritas do ano já).
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraFilme bem dirigido, bem escrito, bem atuado, bem feito. É tudo muito bem amarradinho e de muita qualidade. Daquele tipo de filme que você vê, gosta, mas não tem muita certeza se se tornará memorável ou discutido no futuro, por exemplo. O interessante aqui é o tom de denúncia e a importante problematização que se instaura no longa, não apenas sobre o papel do jornalista (principalmente o jornalista na era pré-digital) como também os já conhecidos abusos sexuais e psicológicos cometidos por padres da Igreja Católica não apenas na cidade de Boston (onde a trama se passa), como no mundo inteiro. Há espaço também, ainda que estas questões não sejam profundamente debatidas, para falar dos limites da fé e da religião. Gostei bastante da interação de todo o elenco, em especial da atuação do Mark Ruffalo e da Rachel McAdams.
Steve Jobs
3.5 591 Assista AgoraEsses roteiros verborrágicos do Aaron Sorkin quase sempre me dão preguiça. Principalmente quando a coisa vem amarrada a uma direção tão pouco segura e tão pretensiosa quanto a do Danny Boyle. "Steve Jobs" tem tudo: trilha sonora, atuações competentes (até o Seth Rogen consegue aproveitar uma pontinha para mostrar o seu talento), melodrama, drama familiar, mas sei lá, não consegui me conectar ao filme em nada. Não sei se a culpa está na personalidade um tanto antipática e temperamental do Jobs, mas o cara tem uma puta história! Enfim, foi isso, não deu. Talvez eu seja tradicional demais em relação à biopics (ou não), ou talvez essa seja quadradonada (posando de experimental, tenha paciência). Só curti a cena final (é sentimentaloide, eu sei, nada original, mas não deixa de ser bonita) e a atuação do Fassbender. Ele é um ótimo ator, que venho acompanhando há tempos, e mesmo sem parecer muito fisicamente com o Jobs, ele se sai bem aqui. Mas ainda prefiro o DiCaprio em "The Revenant".
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraO Iñárritu soube manter em "The Revenant" ao menos três aspectos muito positivos de "Birdman": a trilha sonora acentuadíssima, o trabalho maravilhoso de fotografia do Emmanuel Lubezki (sim, ele possivelmente ganhará um terceiro Óscar em 2016) e a sublime montagem, com cortes extremamente sutis, às vezes, como no momento da batalha inicial, quase invisíveis. Isso é muito bonito. Aliás, o filme por inteiro é muito bonito. Os efeitos visuais, a maquiagem (o que são aqueles ferimentos do personagem do DiCaprio?), a direção de arte e o figurino, o som. É tudo muito vívido e, ao mesmo tempo, morto, frio, chocante, desagradável. Mesmo que o roteiro esteja muito aquém da proposta do filme e que a todo momento se caiam em clichês e experiências previsíveis (vários acontecimentos do filme descaradamente remetem à "Gladiador" e outros conhecidos filmes de vingança, por exemplo), é inegável aqui o suor e o esforço do diretor e dos atores em criar algo que saía do lugar comum. Eu queria tanto que o DiCaprio tivesse ganhado seu merecido Óscar por "O Lobo de Wall Street", mas fico contente que ele tenha chances de triunfar aqui. Em um filme em que o seu personagem fala tão pouco, os olhos azuis de DiCaprio nunca comunicaram tanto.
99 Casas
3.4 171Ainda que o roteiro às vezes suavize ou torne superficial os dramas morais e os conflitos dos personagens (principalmente do protagonista, Dennis), "99 Homes" é um bom filme, potencializado ao máximo pelas ótimas atuações, em especial da Laura Dern (atriz infelizmente subestimada que aparece pouco aqui, mas sempre rouba cenas) e claro, do Michael Shannon, equilibrando na construção de seu personagem toda uma impostura de medo e aversão e ao mesmo tempo, uma falsa amabilidade com o personagem principal. Para mim, inclusive, uma das melhores passagens do longa é o monólogo brilhantemente apresentado pelo Shannon:
"America doesn't bail out the losers.(...) America was built by bailing out winners, by rigging a nation of the winners, for the winners, by the winners."
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista Agora"Faça que está podando, que eu faço que estou aguando."
Filme lindo e necessário! É é nosso, né, gente? <3
O Quarto de Jack
4.4 3,3K Assista AgoraA trilha sonora, a direção, os movimentos da câmara, a fotografia: tudo em "Room" é caprichosamente instalado para criar em nós a sensação de emoção, de aproximação, de nervoso. Há uma necessidade intensa do filme de ser a todo momento um melodrama, o que definitivamente eu não sei se cria em mim algum incômodo. Só sei que funciona. E bem. Trata-se de um filme de roteiro aparentemente simples, mas que consegue comunicar muitíssimas coisas. Desde o primeiro momento, me vi preso à história e à força da química entre a excelente Brie Larson e o talentosíssimo Jacob Tremblay. Esse menino, aliás, me surpreendeu muito! Na torcida agora para que a Larson confirme seu favorito (até então rejeitado por mim) no Óscar de melhor atriz ano que vem!
Perdido em Marte
4.0 2,3K Assista AgoraÉ um filme muito, muito espirituoso. Engraçado em alguns momentos até. Acredito que essa leveza do roteiro e das atuações é fundamental para tornar divertida e mais acessível a dureza da situação em que se encontram os personagens. Isso é bacana. Um baita ponto positivo. Fico feliz também em ver o Ridley Scott realizando uma produção de qualidade. Depois da bomba que é "Exodus", eu realmente não estava esperando que de "Martian" seria tão bom. Mas, ainda bem, que eu queimei a língua. Em relação ao elenco, me parece que ele funciona muito bem em conjunto, mas à exceção do Matt Damon (gracioso e super confortável no papel), não há grandes destaques individuais. Não que a Jessica Chastain ou o Chiwetel Ejiofor, por exemplo, estejam ruins. Longe disso. Só não há durante o longa, oportunidades para que eles brilhem como deveriam.