Lucilayne

Como todo filme que pretende falar sobre o passado, o resultado final diz muito mais sobre o tempo em que a película foi produzida do que a época que pretendia retratar. “Good Morning Vietnam” é o típico filme americano produzido no final da Guerra Fria mostrando a tentativa dos Estados Unidos em levar melhorias para países distantes ideológica e territorialmente.
Existem poucos momentos no filme capazes de levantar alguma reflexão, eu diria apenas dois. O primeiro e mais marcante é quando o garoto vietnamita fala que ele não é o terrorista, que ele está no país dele e que viu mãe, irmão e vizinhos serem assassinados pela guerra. Contudo, este momento é quebrado com a frase “Nós estamos aqui para melhorar este país!” dita pelo protagonista, Cronauer, interpretado por Robin Williams. Toda a crítica que poderia ser levantada a partir da fala do garoto é quebrada por esta fala carregada das boas intenções americanas ao invadirem países para levar as benfeitorias do capitalismo.
O segundo momento de reflexão possível é a censura midiática, principalmente em relação ao número de soldados. No que diz respeito a restrição de informações, o filme consegue o resultado pretendido. Todavia, apesar de o escancaramento da quantidade de soldados ter sido genial, essa numeração não sai do papel. Os números indicam que o clima está tenso e que os Estados Unidos estão intervindo cada vez mais no Vietnã, porém, onde estão estes soldados no decorrer da história? Em lugar nenhum. Meia dúzia de soldados americanos estão sempre andando, comendo, conversando ou fumando numa boa pelas ruas de Saygon.
Justamente por essas contradições que considero “Good Morning Vietnam” um filme para pensar o final da Guerra Fria e não a Guerra do Vietnã e seus precedentes. A película reforça a ideia de que os Estados Unidos não levaram conflitos para o país, pelo contrário, mostra que o país estava em colapso com pobreza e violência e precisava de intervenção - do mesmo modo como outras regiões que cediam as intromissões americanas e seus interesses econômicos são descritas em outras situações pelos estado-unidenses.
A cena em que a rádio toda “What a Wonderful World” de Louis Armstrong, uma das mais famosas do filme, é ótima para pensar a ambiguidade obra. O trecho não causa nenhuma sensibilidade sobre a violência em guerra, apenas justifica a presença americana no local. As cenas violentas são todas causadas pelas próprias tropas vietnamitas e pela pobreza. Não quero dizer com isto que o país não tinha seus próprios conflitos internos ou com a China comunista, ou ainda que a Guerra do Vietnã tenha os Estados Unidos como único responsável, longe disso. O que critico aqui é a construção que se fez sobre “Good Morning Vietnam” como um filme inovador e crítico ao sistema militar americano, o que claramente, não acontece.

Antônio Bandeiras arrasou! Adoro ver atores que foram consagrados por drama ou papéis sérios se darem bem com papeis mais cômicos.

Eu acho a sequência "The Purge" genial! Não acredito que o filme seja um questionamento sobre onde podemos chegar (como em alguns comentários abaixo) mas uma analogia do que já vivemos. Quase como uma parábola, o filme mostra muito do imaginário americano e das políticas governamentais executadas pela clássica família de classe média branca norte americana. O filme esfrega na nossa cara questões raciais, sociais, religiosas e ainda mostra manipulações de governo. Só não gostei do termo "Anarquia" para este segundo filme.