Alguém sabe o nome do filme em que a protagonista é uma menina com o mesmo perfil autêntico da Olive, mas que, diferente dela, nesse outro filme a personagem perdeu a mãe (e a única lembrança que restou dela foi um vídeo curto em um celular que depois a personagem perde)? . Essa criança pratica pequenos furtos de bicicletas para revendê-las e conseguir sobreviver. Ela continua morando na casa onde morava com a mãe, cuidando de si sem ajuda de ninguém, cultivando uma rotina extremamente organizada e adulta, com a intenção de não chamar a atenção do Conselho Tutelar, por medo de ser levada a alguma família substituta. Nesse contexto, ela vê ressurgir seu pai, um jovem com quem antes não tinha convívio e que, agora, quer estar presente e cuidar da filha, o que pra ela leva a muito sofrimento. . Nisso tudo esse pai chega a acompanhá-la nos pequenos furtos de bicicleta. É um filme de que gostei muito mas não consigo de jeito nenhum lembrar o nome. Procurei em vários lugares e não acho. Não é um filme antigo e tinha uma pegada mais estadunidense.
Um filme que realmente deixa perguntas importantes e que, por sensibilizar com maturidade, marcam e martelam na mente tanto quanto a repetição do instrumental da música do 50 cent ("versão brasileira": tempestade).
Um ponto alto é a forma metafórica de Ernst e Mollie se conhecerem: ele a levando para casa em seu carro (e enfatizando isso durante o julgamento), já que foi pelo petróleo e suas inovações que a sedução e o extermínio aconteceram.
O filme poderia se chamar Uma Paz Terrível. O bucolismo do cenário e a insistência no discurso de que a vida do casal Rudolf e Hedwig é a “realização de um sonho” são atordoantes. Rudolf fala com orgulho sobre seus planos e métodos de trabalho eficiente. A esposa, friamente, precisa dormir e ele pode falar sobre isso amanhã. Parece um filme comum. Nada mais do que rotina, para quem vê só a aparência. Nada mais do que trabalho, para Rudolf e Hedwig. É só uma família realizando o sonho da casa própria “morando muito bem” e o clássico marido desabafando com a esposa, que não quer se mudar daquele lugar perfeito (diz isso à beira de um rio, ao lado de um par de sapatos no chão, que, aos meus olhos, ali estão em referência ao memorial “Sapatos à Beira do Danúbio”, localizado na Budapeste que eles planejavam agredir, e ali colocado em memória das vítimas que morreram no local em 1944-45, e que tiveram que tirar os sapatos antes de serem executadas). Acontece que os métodos de trabalho do eficiente Rudolf incluem “gasear” pessoas em um salão. Palavras dele. Era década de 40 e cada minúsculo detalhe dessa história leva a questionamentos: como encontraram tanta paz enquanto pessoas morriam com as suas ordens e a fumaça disso subia ao seu lado? Quanto disso subsiste ainda hoje?
Um filme extremamente sensível. É pra quem está disposto a se dar um tempo de ficar olhando pro nada no final. Ele te conduz da leveza da rotina de crianças que se aproximam ignorando suas diferenças de classe ao vazio do momento em que a vida as obriga a ver essas diferenças com os próprios olhos e, a partir de então, levar a vida com um luto no olhar e nos passos. A pureza de Gonzalo Infante descobrindo uma amizade autêntica com Pedro Machuca e sua prima Silvana é tão genuína que, durante seus momentos, se veem, mas não se sentem, os males da tensão política do período. Os passeios de caminhão ou de bicicleta de Infante e Machuca, a diversão na festa da irmã daquele, a experiência com o leite condensado direto da lata e da boca da Silvana, é tudo tão fluido e envolvente no dia-a-dia deles que a distância entre seus bairros, a polarização dos manifestantes na rua ("aquela era sua mãe?"), a violência egoísta do namorado da irmã do Pedro (que nos remete a uma laranja-mecânica) e o espaço miserável onde residem Machuca e sua família, fica tudo de pano de fundo. Em boa parte do filme, eu consigo sentir a despreocupação da infância e as descobertas do início da adolescência, mesmo meu relógio de adulta fazendo as contas: "Pera, e essa fila pra comprar leite condensado? E esse máximo de 2 latas por pessoa? Estamos em 1973, falta quanto pro 11 de setembro? E esse Roberto na vida da mãe?". Mas eles não ligam pra nada disso, só vivem, e isso é transmitido a quem assiste. É o que interessa. Na outra parte do filme, acabou o pueril. Sobre isso, eu ainda gostaria de entender a aparente referência à cena final de A Lista de Schindler, em que reina o preto e branco, mas em vermelho escuro o capuz da criança perdida na rua, assim como o é o moletom do Gonzalo fugitivo da cena de guerra que presencia no bairro de Machuca e Silvana. "Eu não sou daqui, olhe pra mim". Parabéns, Gonzalo, você acaba de ser selecionado, pode ir embora. No Chile, o jornal anuncia o normal no carro confortável de Gonzalo Infante. Mas a prova dele agora é entregue em branco, a professora mudou. Goodbye, Father McEnroe ("este não é mais um lugar sagrado").
A obsessão de Andrew pela validação de uma única pessoa intriga e abre espaço pra gente buscar internamente em que ponto nos assemelhamos a eles. Fletcher é o entregador de biscoitos cruel que todo Andrew quer ter. E digo que quer porque existe vaidade a cada encontro dos dois. Cada ponto alto do filme é marcado justamente pela vaidade de ambos sendo alimentada. É a autoestima de Andrew que se encorpa quando ele ganha um posto na escola Shaffer. São os olhos de domador de Fletcher ao ver o sangue jorrar nas mãos imparáveis de Andrew. É a credencial de "baterista principal" que Andrew pode ostentar na mesa em que os outros nem valorizam isso afinal têm o futebol americano como assunto mais fácil. Todas as validações dos personagens perpassam momentos de extrema vaidade e luta por reconhecimento externo de ambos os lados.
É uma relação rica de informações humanas e que me conduziu a muitas metáforas sobre esse hoje tão cheio de demandas e intensidade. Não sei se de fato todas as pessoas são Andrews procurando pelos Fletchers que, com a desculpa de que o humano encontra sua completude quando toca o próprio limite, cria e doma as feras alheias e as próprias em uma só música. Não sei se Andrew entregou a Fletcher a superação que este buscava. Mas entregou, sim, a quem assiste, um catálogo de gatilhos para que reflita sobre quais opiniões realmente lhe importam, por quê, de onde elas vêm e aonde levam.
Achei um filme profundo, cujo desfecho que me surpreendeu (ponto pra ele, já que nem sempre isso acontece).
Espero poder lembrar pra sempre do envolvimento que eu senti ao ficar simplesmente vidrada ao som da bateria junto com a orquestra.
O filme também me deixou com uma pulga atrás da orelha sobre a música retratada no cinema. É que, vendo Whiplash, lembrei de "Soul", a animação que mostra um ambiente musical bem marcado por uma competitividade tóxica, e esse ambiente é a banda de Jazz, que também se foca em sua líder (ok, Soul tem outra proposta, mas eu lembrei dele, é a vida!).
A Voz Suprema do Blues e o frequente dedo apontado de Ma Rainey (Viola Davis) também me lembrou essa figura mítica do maioral Fletcher.
Me parece aí um mesmo personalismo repetido várias roupagens, o que me faz ficar atenta às próximas.
Google + Pesquisar: Lúcio = Sérgio Fleury Branco = Joaquim (Toledo) Frei Tito de Alencar Gilberto Beloque (o que invadiu a rádio para publicizar o Manifesto da ALN)
Que tem de americanizado, tem. Que tem de hollywoodyano, daqueles em que você SABE-de-ter-certeza que 'vai dar tudo certo' no último milionésimo de segundo a cada momento de tensão, tem. Mas que dá a sensação de 'valeu a pena', dá. E é pra isso que eu pago meus filmes, ponto. Serve para produzir reação, sensação. Inclusive me toca particularmente com a referência explícita a Planeta dos Macacos, que tem em mim um espaço afetivo. As mensagens são explícitas na cultura estadunidense escrachada na bandeira da casa do Mendez e no quarto de Star Wars e Planeta dos Macacos do filho, e não vejo nisso um problema. E, em matéria de história sigilosa vindo à tona décadas depois e publicizada por meio de narrativa cinematográfica dramaticamente explícita e tão mirabolante que beira o inacreditável, não é mais ou menos com esse tipo de testa enrugada que a gente gosta de ficar ao final de uma boa narrativa?
Se era digno de ganhar Oscar de melhor filme do ano ou de o que quer que seja, sinceramente a mim não importa. Importa que me causou prazer assistir, que gostei das atuações, dos elementos utilizados e da forma de narrar, sendo que os incômodos dos momentos de maiores clichês não foram maiores do que os prazeres, portanto, pra mim, é um filme bem-vindo.
Em tempo, simpatizei com as autocríticas e deboches do filme, sobretudo do maquiador John Chambers. Inclusive fortes suspeitas de que o Oscar de melhor filme flerta com esses tipos de tiradas no estilo faça piadas com suas fraquezas antes que outros as façam.
Um filme cheio de simbolismos muito interessantes, que traz respostas pra algumas perguntas e deixa perguntas novas. De fato, o início é arrastado, mas, vendo até o fim, é possível ver um desenrolar muito interessante e que faz valer a pena a espera.
Documentário inquietante, que deixa expressas situações tão implícitas no cotidiano: crianças vidradas na televisão, esta com suas desinformações cada vez mais mastigadas e diretas, minando a criatividade e, portanto, o potencial interventivo dessas crianças.
São bem pertinentes os comentários dos profissionais ouvidos: filósofos, professores, promotores de justiça, além dos relatos dos pais e das mães. Interessante ressaltar, aqui, a massiva aparição das mães, em contraste com a pequena participação dos pais no documentário: em uma clara significação da velha conhecida predominância feminina no contexto doméstico, ao passo que ao homem cabe o papel desbravador, externo. Importante atentar pra esses pequenos e quase subliminares elementos no momento em que eles acontecem.
Se de 2008 pra cá muita coisa mudou com a enxurrada de novas tecnologias, realmente acredito que "a alma do negócio" não mudou tanto assim: esse documentário já consegue abordar bem o principal dessa virada tecnológica, não perdeu sua atualidade.
É um documentário com cara de classe média. A maioria das crianças ouvidas parecem integrar, se não a classe média (já que existem tantos estudos sobre a enorme extensão dela), algum estrato social assemelhado, o que, inclusive, é coerente com a proposta do documentário: o consumismo infanto-juvenil. Faço essa ressalva apenas a título de observação, mas não acho que isso diminui em nenhum aspecto a importância da produção.
Por outro lado, a partir dessa observação, acho que brota uma provocação importante: como seria um documentário com a mesma temática (consumismo infanto-juvenil) só que voltado a crianças e adolescentes de um estrato social mais baixo (moradores de barracos, crianças e adolescentes em situação de rua etc)? Como é a reação dessas crianças e adolescentes ao apelo do consumo e à contrapartida da miséria? Nos preocupamos com isso?
Como dizia um pertinente muro pixado que eu fotografei em uma rua movimentada de Fortaleza: "Nós roba, nós trafica, nós não gosta de andar duro".
Esse filme é uma denúncia cinematográfica. A começar pela completo tédio que é a vida dos internos. O constante silêncio do filme mostra bem isso. As numerosas cenas dos adolescentes (negros, diga-se de passagem), no galpão pixado onde dormem no estabelecimento prisional, simplesmente admirando o vento que ali não passa, consiste em uma estratégia inteligente de compelir o espectador a se colocar no lugar do "personagem", e a pensar, como eu pensei: "bom, estou aqui, vendo essa prolongada cena de adolescentes em restrição de liberdade, gastando meu tempo com uma cena pacata e, a priori, entediante. Escolhi estar em frente à esse filme, de modo consciente, amadurecido, completamente voluntário, na intenção de compreender a temática, sempre tão distanciada do meu alcance, na intenção de me empoderar, me subjetificar. A mesma contemplação não acontece com o jovem, que está ali gastando suas horas e sua juventude pensando sabe-se lá o quê, e não poderia ser diferente, diante das condições em que ele se encontra ali". Inevitável concluir a verdadeira condenação em que consiste a passagem desses adolescentes por esse ambiente.
As histórias contadas são reais, filmadas no ambiente real de miséria que as contextualizam, embora os adolescentes sejam interpretados por atores que conseguem traduzir bem a tristeza em cada relato.
Nas audiências, a proximidade que a juíza e o juiz demonstram com as promotoras e o promotor me parece proporcional ao distanciamento em relação ao defensor: os julgadores parecem ouvir melhor o que diz a acusação do que a defesa. A velha "ampla defesa em sua dimensão material" me parece muito prejudicada nessas audiências. Os juízes constantemente interrompem a fala do defensor (que, inclusive, parece desnecessariamente tecnicista) e parecem não levá-la muito em consideração infelizmente.
Minha conclusão é de que o filme é cruel, obrigatório a todo ser humano, mas, como é de se esperar, ainda não mostra todos os danos que o sistema carcerário provoca. Não por incompetência do filme. Mas porque esses danos estão no fundo de um poço onde não chega a lente de uma câmera..
Passagem
3.3 113 Assista AgoraO fato de ela falar sobre o irmão que está preso como se ele estivesse morto diz muito.
Pequena Miss Sunshine
4.1 2,8K Assista AgoraAlguém sabe o nome do filme em que a protagonista é uma menina com o mesmo perfil autêntico da Olive, mas que, diferente dela, nesse outro filme a personagem perdeu a mãe (e a única lembrança que restou dela foi um vídeo curto em um celular que depois a personagem perde)?
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Essa criança pratica pequenos furtos de bicicletas para revendê-las e conseguir sobreviver. Ela continua morando na casa onde morava com a mãe, cuidando de si sem ajuda de ninguém, cultivando uma rotina extremamente organizada e adulta, com a intenção de não chamar a atenção do Conselho Tutelar, por medo de ser levada a alguma família substituta. Nesse contexto, ela vê ressurgir seu pai, um jovem com quem antes não tinha convívio e que, agora, quer estar presente e cuidar da filha, o que pra ela leva a muito sofrimento.
.
Nisso tudo esse pai chega a acompanhá-la nos pequenos furtos de bicicleta. É um filme de que gostei muito mas não consigo de jeito nenhum lembrar o nome. Procurei em vários lugares e não acho. Não é um filme antigo e tinha uma pegada mais estadunidense.
Anatomia de uma Queda
4.0 801 Assista AgoraUm filme que realmente deixa perguntas importantes e que, por sensibilizar com maturidade, marcam e martelam na mente tanto quanto a repetição do instrumental da música do 50 cent ("versão brasileira": tempestade).
Assassinos da Lua das Flores
4.1 609 Assista AgoraUm ponto alto é a forma metafórica de Ernst e Mollie se conhecerem: ele a levando para casa em seu carro (e enfatizando isso durante o julgamento), já que foi pelo petróleo e suas inovações que a sedução e o extermínio aconteceram.
Zona de Interesse
3.6 589 Assista AgoraO filme poderia se chamar Uma Paz Terrível.
O bucolismo do cenário e a insistência no discurso de que a vida do casal Rudolf e Hedwig é a “realização de um sonho” são atordoantes. Rudolf fala com orgulho sobre seus planos e métodos de trabalho eficiente. A esposa, friamente, precisa dormir e ele pode falar sobre isso amanhã. Parece um filme comum. Nada mais do que rotina, para quem vê só a aparência. Nada mais do que trabalho, para Rudolf e Hedwig. É só uma família realizando o sonho da casa própria “morando muito bem” e o clássico marido desabafando com a esposa, que não quer se mudar daquele lugar perfeito (diz isso à beira de um rio, ao lado de um par de sapatos no chão, que, aos meus olhos, ali estão em referência ao memorial “Sapatos à Beira do Danúbio”, localizado na Budapeste que eles planejavam agredir, e ali colocado em memória das vítimas que morreram no local em 1944-45, e que tiveram que tirar os sapatos antes de serem executadas). Acontece que os métodos de trabalho do eficiente Rudolf incluem “gasear” pessoas em um salão. Palavras dele.
Era década de 40 e cada minúsculo detalhe dessa história leva a questionamentos: como encontraram tanta paz enquanto pessoas morriam com as suas ordens e a fumaça disso subia ao seu lado? Quanto disso subsiste ainda hoje?
Rustin
3.3 81 Assista AgoraColman Domingo (Rustin) concorre, merecidamente, ao prêmio de Melhor Ator no Oscar 2024.
Cidade Baixa
3.4 356 Assista AgoraOs sangues se misturarem na água! Esqueço nunca mais!
Machuca
4.3 281Um filme extremamente sensível.
É pra quem está disposto a se dar um tempo de ficar olhando pro nada no final. Ele te conduz da leveza da rotina de crianças que se aproximam ignorando suas diferenças de classe ao vazio do momento em que a vida as obriga a ver essas diferenças com os próprios olhos e, a partir de então, levar a vida com um luto no olhar e nos passos.
A pureza de Gonzalo Infante descobrindo uma amizade autêntica com Pedro Machuca e sua prima Silvana é tão genuína que, durante seus momentos, se veem, mas não se sentem, os males da tensão política do período.
Os passeios de caminhão ou de bicicleta de Infante e Machuca, a diversão na festa da irmã daquele, a experiência com o leite condensado direto da lata e da boca da Silvana, é tudo tão fluido e envolvente no dia-a-dia deles que a distância entre seus bairros, a polarização dos manifestantes na rua ("aquela era sua mãe?"), a violência egoísta do namorado da irmã do Pedro (que nos remete a uma laranja-mecânica) e o espaço miserável onde residem Machuca e sua família, fica tudo de pano de fundo.
Em boa parte do filme, eu consigo sentir a despreocupação da infância e as descobertas do início da adolescência, mesmo meu relógio de adulta fazendo as contas: "Pera, e essa fila pra comprar leite condensado? E esse máximo de 2 latas por pessoa? Estamos em 1973, falta quanto pro 11 de setembro? E esse Roberto na vida da mãe?".
Mas eles não ligam pra nada disso, só vivem, e isso é transmitido a quem assiste. É o que interessa.
Na outra parte do filme, acabou o pueril.
Sobre isso, eu ainda gostaria de entender a aparente referência à cena final de A Lista de Schindler, em que reina o preto e branco, mas em vermelho escuro o capuz da criança perdida na rua, assim como o é o moletom do Gonzalo fugitivo da cena de guerra que presencia no bairro de Machuca e Silvana.
"Eu não sou daqui, olhe pra mim". Parabéns, Gonzalo, você acaba de ser selecionado, pode ir embora.
No Chile, o jornal anuncia o normal no carro confortável de Gonzalo Infante.
Mas a prova dele agora é entregue em branco, a professora mudou. Goodbye, Father McEnroe ("este não é mais um lugar sagrado").
Yesterday: A Trilha do Sucesso
3.4 1,0Kuma ode ao ordinário
se ignorar a empresária caricata demais, ficam só as partes fofinhas
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraA obsessão de Andrew pela validação de uma única pessoa intriga e abre espaço pra gente buscar internamente em que ponto nos assemelhamos a eles. Fletcher é o entregador de biscoitos cruel que todo Andrew quer ter. E digo que quer porque existe vaidade a cada encontro dos dois. Cada ponto alto do filme é marcado justamente pela vaidade de ambos sendo alimentada. É a autoestima de Andrew que se encorpa quando ele ganha um posto na escola Shaffer. São os olhos de domador de Fletcher ao ver o sangue jorrar nas mãos imparáveis de Andrew. É a credencial de "baterista principal" que Andrew pode ostentar na mesa em que os outros nem valorizam isso afinal têm o futebol americano como assunto mais fácil. Todas as validações dos personagens perpassam momentos de extrema vaidade e luta por reconhecimento externo de ambos os lados.
É uma relação rica de informações humanas e que me conduziu a muitas metáforas sobre esse hoje tão cheio de demandas e intensidade. Não sei se de fato todas as pessoas são Andrews procurando pelos Fletchers que, com a desculpa de que o humano encontra sua completude quando toca o próprio limite, cria e doma as feras alheias e as próprias em uma só música. Não sei se Andrew entregou a Fletcher a superação que este buscava. Mas entregou, sim, a quem assiste, um catálogo de gatilhos para que reflita sobre quais opiniões realmente lhe importam, por quê, de onde elas vêm e aonde levam.
Achei um filme profundo, cujo desfecho que me surpreendeu (ponto pra ele, já que nem sempre isso acontece).
Espero poder lembrar pra sempre do envolvimento que eu senti ao ficar simplesmente vidrada ao som da bateria junto com a orquestra.
O filme também me deixou com uma pulga atrás da orelha sobre a música retratada no cinema. É que, vendo Whiplash, lembrei de "Soul", a animação que mostra um ambiente musical bem marcado por uma competitividade tóxica, e esse ambiente é a banda de Jazz, que também se foca em sua líder (ok, Soul tem outra proposta, mas eu lembrei dele, é a vida!).
A Voz Suprema do Blues e o frequente dedo apontado de Ma Rainey (Viola Davis) também me lembrou essa figura mítica do maioral Fletcher.
Me parece aí um mesmo personalismo repetido várias roupagens, o que me faz ficar atenta às próximas.
Marighella
3.9 1,1K Assista AgoraGoogle + Pesquisar:
Lúcio = Sérgio Fleury
Branco = Joaquim (Toledo)
Frei Tito de Alencar
Gilberto Beloque (o que invadiu a rádio para publicizar o Manifesto da ALN)
Argo
3.9 2,5KQue tem de americanizado, tem. Que tem de hollywoodyano, daqueles em que você SABE-de-ter-certeza que 'vai dar tudo certo' no último milionésimo de segundo a cada momento de tensão, tem. Mas que dá a sensação de 'valeu a pena', dá. E é pra isso que eu pago meus filmes, ponto. Serve para produzir reação, sensação. Inclusive me toca particularmente com a referência explícita a Planeta dos Macacos, que tem em mim um espaço afetivo. As mensagens são explícitas na cultura estadunidense escrachada na bandeira da casa do Mendez e no quarto de Star Wars e Planeta dos Macacos do filho, e não vejo nisso um problema. E, em matéria de história sigilosa vindo à tona décadas depois e publicizada por meio de narrativa cinematográfica dramaticamente explícita e tão mirabolante que beira o inacreditável, não é mais ou menos com esse tipo de testa enrugada que a gente gosta de ficar ao final de uma boa narrativa?
Se era digno de ganhar Oscar de melhor filme do ano ou de o que quer que seja, sinceramente a mim não importa. Importa que me causou prazer assistir, que gostei das atuações, dos elementos utilizados e da forma de narrar, sendo que os incômodos dos momentos de maiores clichês não foram maiores do que os prazeres, portanto, pra mim, é um filme bem-vindo.
Em tempo, simpatizei com as autocríticas e deboches do filme, sobretudo do maquiador John Chambers. Inclusive fortes suspeitas de que o Oscar de melhor filme flerta com esses tipos de tiradas no estilo faça piadas com suas fraquezas antes que outros as façam.
Ataque dos Cães
3.7 932Um filme cheio de simbolismos muito interessantes, que traz respostas pra algumas perguntas e deixa perguntas novas.
De fato, o início é arrastado, mas, vendo até o fim, é possível ver um desenrolar muito interessante e que faz valer a pena a espera.
Criança, a Alma do Negócio
4.2 99Documentário inquietante, que deixa expressas situações tão implícitas no cotidiano: crianças vidradas na televisão, esta com suas desinformações cada vez mais mastigadas e diretas, minando a criatividade e, portanto, o potencial interventivo dessas crianças.
São bem pertinentes os comentários dos profissionais ouvidos: filósofos, professores, promotores de justiça, além dos relatos dos pais e das mães. Interessante ressaltar, aqui, a massiva aparição das mães, em contraste com a pequena participação dos pais no documentário: em uma clara significação da velha conhecida predominância feminina no contexto doméstico, ao passo que ao homem cabe o papel desbravador, externo. Importante atentar pra esses pequenos e quase subliminares elementos no momento em que eles acontecem.
Se de 2008 pra cá muita coisa mudou com a enxurrada de novas tecnologias, realmente acredito que "a alma do negócio" não mudou tanto assim: esse documentário já consegue abordar bem o principal dessa virada tecnológica, não perdeu sua atualidade.
É um documentário com cara de classe média. A maioria das crianças ouvidas parecem integrar, se não a classe média (já que existem tantos estudos sobre a enorme extensão dela), algum estrato social assemelhado, o que, inclusive, é coerente com a proposta do documentário: o consumismo infanto-juvenil. Faço essa ressalva apenas a título de observação, mas não acho que isso diminui em nenhum aspecto a importância da produção.
Por outro lado, a partir dessa observação, acho que brota uma provocação importante: como seria um documentário com a mesma temática (consumismo infanto-juvenil) só que voltado a crianças e adolescentes de um estrato social mais baixo (moradores de barracos, crianças e adolescentes em situação de rua etc)? Como é a reação dessas crianças e adolescentes ao apelo do consumo e à contrapartida da miséria? Nos preocupamos com isso?
Como dizia um pertinente muro pixado que eu fotografei em uma rua movimentada de Fortaleza: "Nós roba, nós trafica, nós não gosta de andar duro".
Juízo
4.0 118Esse filme é uma denúncia cinematográfica.
A começar pela completo tédio que é a vida dos internos. O constante silêncio do filme mostra bem isso. As numerosas cenas dos adolescentes (negros, diga-se de passagem), no galpão pixado onde dormem no estabelecimento prisional, simplesmente admirando o vento que ali não passa, consiste em uma estratégia inteligente de compelir o espectador a se colocar no lugar do "personagem", e a pensar, como eu pensei: "bom, estou aqui, vendo essa prolongada cena de adolescentes em restrição de liberdade, gastando meu tempo com uma cena pacata e, a priori, entediante. Escolhi estar em frente à esse filme, de modo consciente, amadurecido, completamente voluntário, na intenção de compreender a temática, sempre tão distanciada do meu alcance, na intenção de me empoderar, me subjetificar. A mesma contemplação não acontece com o jovem, que está ali gastando suas horas e sua juventude pensando sabe-se lá o quê, e não poderia ser diferente, diante das condições em que ele se encontra ali". Inevitável concluir a verdadeira condenação em que consiste a passagem desses adolescentes por esse ambiente.
As histórias contadas são reais, filmadas no ambiente real de miséria que as contextualizam, embora os adolescentes sejam interpretados por atores que conseguem traduzir bem a tristeza em cada relato.
Nas audiências, a proximidade que a juíza e o juiz demonstram com as promotoras e o promotor me parece proporcional ao distanciamento em relação ao defensor: os julgadores parecem ouvir melhor o que diz a acusação do que a defesa. A velha "ampla defesa em sua dimensão material" me parece muito prejudicada nessas audiências. Os juízes constantemente interrompem a fala do defensor (que, inclusive, parece desnecessariamente tecnicista) e parecem não levá-la muito em consideração infelizmente.
Minha conclusão é de que o filme é cruel, obrigatório a todo ser humano, mas, como é de se esperar, ainda não mostra todos os danos que o sistema carcerário provoca. Não por incompetência do filme. Mas porque esses danos estão no fundo de um poço onde não chega a lente de uma câmera..