Do ponto de vista da comicidadade, achei meio sem graça para quem não conhece a constelação de estrelas que desfilam na montagem com suas falas inseridas em um outro conexto, determinado pelo roteiro. O filme certamente será um deleite para quem conhece os atores e o enredo original dos filmes cujos fragmentos fazem parte da montagem. Tecnicamente o filme ficaria mais interessante se os realizadores tivessem procurado aproximar a textura da imagem das cenas filmadas com as imagens originais. No entanto, o filme não deixa de ser uma valorosa evocação nostálgica à chamada era de ouro do cinema egipcio. Só resta a saudade já que agora "todo mudo usa isqueiro", de acordo com a fala final do personagem-narrador.
Em “Para onde foi Ramsés?”, o cineasta Amr Bayoumi tece suas reminiscências de infância e juventude sob o jugo de um pai autoritário, idas ao cinema de seu bairro e o primeiro contato com a praça com a estátua de Ramsés. O documentário dá uma pincelada em momentos políticos que tiveram a praça como cenário para finalmente se debruçar sobre o processo de transferência da enorme estátua para um grande museu egípcio. Na transferência a estátua percorre 30 Km até seu destino final e se torna um verdadeiro “happening” para os cidadãos do Cairo. Bayoumi salpica seu doc com momentos de humor e de algum lirismo (quando discorre sobre a percepção da beleza). Uma das maiores sacadas do filme, foi a utilização de uma propaganda de sorvete que faz a pergunta do título. O uso de uma música folclórica pontuando a trajetória da estátua é outro bom momento. No entanto, ao final fica a impressão de que foi um tema desperdiçado, revelando pouca ambição. Bayoumi poderia ter feito mais com o material que tinha nas mãos.
“Fora do Comum” se inicia em tom de comédia, nos apresentando um hotel e seus personagens excêntricos e carismáticos, além da bela proprietária e sua filha Farida, dotada de poderes psíquicos. Um médico pesquisador chega para se hospedar e se envolve com a menina e sua mãe. A chegada de um trupe de circo compõe o clima mágico do ambiente a beira mar onde a história passa a se desenrolar após um prólogo que mostra a atividade do médico como pesquisador de eventos psíquicos em seres humanos. Têm encanto as cenas de interação do médico com a menina, a quem ele se afeiçoa. No entanto o tom muda a partir do momento em que entram em cena pessoas interessadas em explorar os dons da pequena. O filme assume um ar de drama de suspense e thriller psicológico e é nesta virada que não consegue convencer plenamente. Entre as qualidades do filme está a trilha sonora e a fotografia, compondo uma embalagem caprichada. Não se pode deixar de mencionar a graça da menina que vive Farida e a beleza magnética da atriz que interpreta sua mãe. Ao final, pode-se concluir que os personagens completaram um ciclo, que foi do paraíso ao inferno e por fim de volta ao paraíso.
“Caos e Desordem” já tenta fisgar o espectador a partir dos letreiros, com alguns caracteres “dançando” ao som de um brejeiro tema musical. Mas o que vemos a seguir é um lixão e um garoto que cata garrafas sob a vigilância de um “chefe”. Em seguida, o espectador começa a conhecer a comunidade onde irá se passar todo o restante da trama. Trata-se de uma comunidade pobre, que recebe visitas diárias de caminhões, anunciados por um alto-falante, que fazem o abastecimento e em torno dos quais se formam grandes aglomerações de pessoas em busca de seu quinhão. Existe a figura do “chefão”, dono da principal casa comercial da cidade e que exerce seu poder sobre os demais. Sua filha é um dos vértices de um intricado triângulo amoroso que será resolvido de maneira inusitada: uma partida de futebol.
Como um filme-painel, mostrando o cotidiano de uma comunidade pobre, o filme tem seus melhores momentos , tornando a trama central até certo ponto fútil. “Caos e Desordem” mescla o relato da dureza com a leveza de momentos de humor, O narrador de futebol meio entediado cuja voz sai extremamente rouca pelo auto-falante ruim, os chiliques da filha do “chefão” (a bela atriz Ayten Amer) e os anúncios e receitas culinárias veiculados pelo auto-falante são alguns exemplos.
“Caos e Desordem” nos põe em contato com uma realidade que tem muito em comum com a nossa. O resultado final, se não é brilhante, prende o interesse.
FERRUGEM se estrutura em duas partes que parecem dois filmes distintos. Na primeira e mais impactante, acompanhamos o drama de Tati, que se torna vítima de “bullying” após ter um vídeo íntimo seu espalhado na rede. O desespero, causado pela vergonha e pela decepção com os colegas de classe a leva a cometer suicídio diante de uma de uma das câmeras de vigilância do colégio em que estuda.
Já na segunda parte, mais fraca, o diretor Aly Muritiba, pisa no freio, adotando um tom pretensamente reflexivo, centrando o foco na família um tanto desestruturada de Renet, o “crush” de Tati. A impressão que dá é a de que Muritiba desiste da abordagem mais aguda vista na parte inicial, se contentando em ser um banal drama familiar.
Tendo um grande tema nas mãos, Muritiba desperdiçou a chance de fazer um grande filme sobre os males que a tecnologia, quando não usada para o bem, pode trazer ao ser humano. Tudo estava bem desenhado no início, era só correr para o abraço. Como está “Ferrugem” ficou a meio caminho entre a denúncia candente e um relato de conflito familiar.
Em “John Wick”, os diretores Chad Stahelsk e David Leitch literalmente não economizam munição. São abundantes (e bem coreografadas) as cenas em que o tiroteio come solto nesse primeiro exemplar da franquia que já lançou mais dois filmes. O estilo bebe na fonte dos longas da fase chinesa de John Woo e dos de artes marciais, aos quais esse filme praticamente presta um tributo.
O enredo é aquela velha história do matador aposentado que volta à ativa em busca de vingança. O roteiro aposta no reuso de fórmulas já exaustivamente testadas a fim de garantir o deleite do espectador. De tão exageradas, certas sequências acabam soando cômicas e a afirmação não se refere apenas as sequências de confrontos físicos e tiroteios mas as que se passam no interior do hotel que hospeda os matadores em missão. Todos esses elementos combinados dão ao filme um tom predominante de paródia.
Keanu Reeves, na pele do matador Wick, interpreta no piloto automático, tendo como companheiro de cena Willem Dafoe, que vive Marcus, assassino contratado para eliminá-lo. O elenco ainda conta com John Leguizamo e a bela Adrianne Palicki.
Stahelsk (um dublê que virou diretor) e Leitch, entregam um entretenimento rotineiro que cumpre seu objetivo de divertir e o faz com competência. É produto “fast food” como tantos que americano produz aos borbotões.
Em 2019, Luc Besson engrossou a sua galeria de garotas belas e perigosas com esse “Anna” (o subtítulo brasileiro, “Perigo tem nome”, é lamentável). A gatona da vez é Anna Poliatova (Sasha Luss), uma jovem russa vítima de abusos domésticos que recebe uma proposta de um oficial da KGB para ingressar na organização. Após um ano de treinamento passa a trabalhar como assassina da KGB.
Anna se livra dos maus tratos do namorado mas acaba sendo prisioneira de uma perigosa rotina, da qual esperar livrar-se em cinco anos. A vida que leva vai progressivamente angustiando a jovem. No relacionamento diário com Olga, sua chefe imediata, a moça sofre com demonstrações de assédio moral.
“Anna” se assenta em uma estrutura narrativa com base em “plot twist”, ou, em bom português, a boa e velha reviravolta. O roteiro mostra uma sequência no presente e recorre a um flash back para expor os eventos passados que desaguaram naquele acontecimento. Um artificio narrativo usado para quebrar a linearidade da trama. O resultado é interessante pois acaba deixando o espectador em um terreno pantanoso, fazendo-o a todo momento duvidar do que está vendo.
As cenas de ação são eletrizantes e bem coreografadas. Aqui Besson usa e abusa de fórmulas já testadas e consagradas em alguns de seus filmes anteriores e em outros do gênero (notadamente “Atômica”). Além disso, filme desfere alfinetadas no mundo da moda na figura do fotógrafo afetado e temperamental e da agitada encarregada da agência de modelos. Sacha Luss passa de maneira convincente os instantes de fragilidade e fúria da personagem. Outro destaque do elenco é Hellen Mirren, quase irreconhecível como a “linha dura” Olga.
“Eles voltam” se inicia com um plano geral impactante: ao longe, filmada de cima, vemos uma estrada, um carro surge, para e duas pessoas são expulsas dele. Em seguida o carro parte. Após alguns segundos, com a câmera mais próxima, somos apresentados a dois adolescentes, Cris (Maria Luiza Tavares) e Peu (Georgio Kokkosi), que acabaram de serem postos para fora do carro de seus pais por estarem brigando, saberemos mais adiante. O irmão a deixa na estrada alegando que sairá em busca dos pais. Enquanto espera a volta do irmão, compartilhamos a mesma agonia da personagem, causada pela solidão e privação, por isso o ritmo lento e a banda sonora um tanto opressora.
O sentimento de impotência e fragilidade da personagem é exposto pelo diretor Marcelo Lordello de maneira cirúrgica e sem pressa. Somos apresentados sem rodeios ao incômodo que a personagem sente.
A partir do momento em que se cansa da espera pela volta do irmão, Cris decide tentar voltar para casa, empreendendo uma jornada por ambientes, pessoas e situações estranhos a ela. Ao conhecer Elayne, filha de uns sem-terra, e Fátima e Cris, que foi criada em uma redoma de segurança, vai tomando contato com um mundo que desconhecia. No entanto o sentimento de identificação ocorre no contato com Pri.
As pequenas transformações da personagem são expostas de maneira extremamente sutil, seja em um olhar, um gesto, no relacionamento com as colegas de escola ou em uma resposta a uma fala do avô.
“Eles Voltam” é forte em sua sobriedade. Um filme feito de olhares, gestos e silêncios eloquentes.
Luc Besson deve ser o mais hollywoodiano dos cineastas franceses atualmente em atividade. Sua filmografia – incluindo os projetos em que se envolveu como produtor - tem compromisso predominante com o cinema de entretenimento. Esse aqui, embora não fuja à regra, nos oferece um “plus”. Trata-se de um filme de ação e ficção-científica acrescido de um verniz filosófico.
Na empreitada, mais uma vez Besson recorre a uma protagonista bela e perigosa. Em 1991 tivemos Nikita (Anna Parillaud) em “Nikita – criada para matar” e, quatro anos depois desse “Lucy”, ele lançaria “Anna – Perigo tem Nome”. Parece que o cineasta francês tem uma fixação em gatas armadas.
Mesmo que seu objetivo central seja entreter, “Lucy” toca em uma questão que há muito ocupa nossos corações e mentes: até onde vai a capacidade do cérebro humano? Até onde ele pode nos levar? O filme não deixa de provocar uma reflexão sobre os caminhos do ser humano na terra, onde vivemos mais preocupados em ter do que ser, conforme diz a protagonista em certo momento. Será que é apenas para isso que a vida nos foi dada?
Vale ressaltar o desempenho de Scarlett Johansson, que sem dúvida é uma das melhores atrizes de sua geração. A bela atriz passa os momentos de fragilidade, medo, dúvida e frieza de sua personagem com igual visceralidade. Sai da sua boca, em meio a um diálogo com o Dr. Samuel Norman (Morgan Freeman com a competência de sempre), uma frase que ressoa além do filme: “é a ignorância que traz o caos; não o conhecimento”.
Em suma, “Lucy” é um bom produto de entretenimento com alguma dose de reflexão.
Algo semelhante ao bloqueio dos saques de contas-corrente que ocorreu no Brasil durante o (des)governo de Fernando Collor, também vitimou nossos “hermanos” argentinos. Por lá, a medida se chamou “corralito” (cercadinho em espanhol). “A Odisseia dos Tontos” acompanha um grupo de aspirantes a empreendedores que resolveram confiar o seu dinheiro a um banco e um dia descobriram que foram vítimas de uma armação por parte do gerente do banco. Antes do bloqueio dos depósitos, o safado limpou os cofres. Os “tontos” do título do filme resolvem fazer justiça com as próprias mãos em um plano de vingança ao mesmo tempo ousado e tresloucado, visando recuperar o dinheiro.
O mote do filme é pesado mas o diretor resolveu tirar o peso desse drama enveredando pelo caminho da tragicomédia. Poderia ter sido mais incisivo mas preferiu ficar na superfície e buscar prioritariamente o entretenimento. Não quero dizer com isso que, como está, o filme seja ruim. Há passagens comoventes como os que mostram o alquebramento de Fermin com a morte da esposa e o sumiço do dinheiro (Ricardo Darin confere muita densidade a esses momentos) ou o desabafo de seu filho Rodrigo (Chino Darin, filho de Ricardo) com a secretária de Manzi, banqueiro ladrão. O filme prende a atenção com humor bem dosado e adrenalina.
A maioria dos integrantes do elenco bate um bolão. O já citado Darin, com o seu Fermin, Louis Brandoni (Fontana), Daniel Aráos (Belaunde) e Carlos Belloso como o hilário Medina são os destaques. Manzi – o banqueiro celerado – recebeu uma composição muito caricata de Andrés Parra, talvez não por culpa dele mas por determinação do diretor, visando acentuar o tom cômico. A boa trilha sonora também contribui para o clima mais leve que o filme propõe.
Por fim, fica uma mensagem de união e persistência em prol de atingir um objetivo comum, não se tratando obviamente de advogar métodos violentos ou que venha a causar danos a bens públicos (como ocorre no filme). É válida a abordagem (ainda que epidérmica) de um dolorido episódio da história recente do pais.
“De Volta para o Futuro III” foi realizado ao mesmo tempo que o segundo filme, em um esforço hercúleo por parte de produção e elenco. Ansiedade para concluir logo a trilogia? Vai saber... A verdade é que o ritmo frenético do filme anterior da série contrasta com a relativa “lentidão” desse que encerra a trilogia. Não que a ação esteja ausente, mas aqui Zemeckis resolveu pisar um pouquinho no freio e centrar o foco nos personagens.
Nesta terceira aventura, vemos os inesquecíveis Marty e Emmet Brown mais reflexivos e com a amizade reforçada. Voltou-se a abrir espaço para o romance, elemento praticamente ausente na taquicárdica segunda parte. O cientista encontra o amor na figura da doce e inteligente Clara (Mary Steenburgen). O relacionamento dos dois rende duas das melhores passagens do filme: a tentativa de sedução na oficina de Brown e quando os dois observam as estrelas e descobrem afinidades.
No entanto, é pena que esse último episódio da saga não mostre a criatividade dos anteriores. As variações de cenas que já se tornaram clássicas nos outros dois filmes já mostram esgotamento. Além disso, parece que Zemeckis e Gale se preocuparam mais em fazer uma sátira de filmes de faroeste do que uma aventura de ficção-científica. Acabou ficando a meio caminho dos dois.
O filme segue morno até o momento do duelo entre Marty e Bufford Tannen, um antepassado de Biff. Daí em diante o filme retoma o pique ao qual nos acostumamos com a eletrizante sequência do trem. O roteiro ainda nos brinda com um perfeito arremate, resolvendo uma ponta solta que havia restado do segundo episódio, produzindo uma redenção. Por fim, sai pela boca de Emmet o que pode ser a mensagem final do filme: “seu futuro é o que você quiser fazer”. Apesar de suas insuficiências, “De Volta para o Futuro III “ encerra dignamente uma trilogia que até hoje figura no panteão das melhores que o cinema de entretenimento já produziu.
Enquanto no filme pregresso, Marty McFly vai parar em 1955 por acidente, nesta sequência ele viaja para o 2015 a fim de evitar que seus filhos sejam presos. Quando consegue reverter a situação surge outro problema: seu o arqui-inimigo Biff entra na máquina do tempo motorizada, volta a 1955 e entrega para a sua versão jovem um almanaque que contém resultados de competições esportivas de 1950 a 2000. Sabendo de antemão os resultados, ele aposta e enriquece.
Esse evento desencadeia uma série de acontecimentos negativos, transformando Hill Valley em um lugar tenebroso. O colégio em que Marty estudou sofreu um incêndio e a casa da família McFly ocupada por posseiros. A outrora idílica praça se transformou em um lugar sombrio, frequentado por motoqueiros barulhentos e dominada por um imenso prédio de onde o agora milionário Biff manda em tudo e em todos. A solução é voltar a 1955 e recuperar o almanaque para assim restaurar o futuro.
São muito divertidas as cenas em que Marty vai circulando pela Hill Valley de 2015. O café 80’s e o antiquário rendem boas piadas. Há uma gozação até com o próprio Spielberg (um dos produtores dessa continuação), quando um uma imagem tridimensional de um tubarão promovendo o filme “Tubarão 19” simula devorá-lo. Após refeito o susto ele diz que “ele ainda soa falso”. A sequência de perseguição a Marty pela da gang de Griff repete a do filme anterior mas agora com skates voadores. Também merece destaque a mescla de passagens do filme original com sequências recriadas.
No entanto nem tudo funciona a contento. Enquanto o primeiro filme da franquia mostrava equilíbrio no roteiro, esse aqui resolveu apostar em vários momentos na caricatura e em artifícios recorrentes. O patriarca George McFly de 2015 é velho excêntrico e tolo. As versões idosas de Lorraine e Biff chegam a cair no ridículo. Enquanto algumas repetições são interessantes – como as já citadas, outras soam forçadas, como quando Marty escapa de Biff no 1985 alternativo, apelando para “o que é aquilo?” a fim de distrai-lo. Isso seria usado em outra situação para escapar dos amigos de Biff que queriam detê-lo em 1955. Isso sem falar na opção de gosto duvidoso que foi a escalação do próprio Fox para interpretar Marlene, filha de Marty Senior.
“De volta para o Futuro II” enfrentou problemas com o elenco que forçaram a produção um replanejamento das filmagens. Claudia Wells, que fez Jeniffer, namorada de Marty, não pode repetir seu papel por problemas de saúde na família. Outra baixa no elenco original foi Crispin Glover, que viveu George McFly no primeiro filme. Glover alegou que o cachê oferecido a ele era menor do que os outros atores receberiam e não aceitou integrar o elenco dessa continuação. Jeffrey Weissman o substituiu, sendo submetido a pesada maquiagem para se parecer com o original.
“De volta para o Futuro II” foi um dos grandes sucessos de bilheteria de 1989. Apesar de inferior ao primeiro filme no geral é diversão inteligente como o cinema americano quando quer sabe fazer e bem. Não é à toa que se tornou também um clássico.
A viagem no tempo sempre exerceu enorme fascínio sobre o ser humano. O conceito é constantemente abordado na ficção-científica, sendo H. G. Wells o mais famoso autor de obras literárias sobre o tema. Um de seus livros deu origem ao filme “A Máquina do Tempo” (1960), de George Pal, que teve uma refilmagem posterior. A sétima arte produziu vários exemplares abordando o tema, desde os mais densos (ou pretensiosos) até os mais leves e comprometidos apenas com o entretenimento. “De Volta para o Futuro”, dirigido por Robert Zemeckis - um ex-pupilo de Steven Spielberg, pertence ao segundo grupo. Com produção do diretor de “Tubarão”, o filme fez enorme sucesso, tendo gerado duas continuações.
O filme faz uma combinação equilibrada de ficção-científica, ação, comédia e romance, graças a um roteiro inteligente (escrito pelo diretor com Bob Gale), aliado a escalação acertada do elenco, a competente direção de arte e a uma trilha sonora vibrante (a cargo de Alan Silvestri).
O resultado de tantos acertos é um punhado de sequências inesquecíveis que até hoje fascina tanto os espectadores mais novos quanto os que lotaram o cinema na época de lançamento dessa primeira parte da franquia (entre os quais eu me incluo). O filme faz piadas com Ronald Reagan e com a futura condição de detento do tio de Marty quando a ação vai para 1955. São hilárias as cenas em que Marty foge às investidas de sua futura mãe. Há um momento tocante quando ele sente empatia pelo seu futuro pai em um diálogo entre os dois na cantina do colégio.
Ao final dessa torrente de diversão, pode-se extrair uma lição: o que somos, fazemos e o que deixamos de fazer podem repercutir positiva ou negativamente em nossa vida futura. Se em algum momento não viramos a mesa, provocando uma mudança em nossa trajetória, correremos o risco de persistir em relações tóxicas (George-Biff) ou frustrantes (Lorraine-George).
“De Volta para o Futuro” é até hoje considerado um marco na filmografia sobre viagem no tempo. Uma adorável fantasia feita nos moldes de grande cinemão clássico hollywoodiano.
“Atomic Blonde” nada acrescenta de novidade aos filmes do gênero. Tudo aqui já foi amplamente testado e consagrado pelo gosto do público. O filme é ação quase ininterrupta. As cenas de luta são muito bem filmadas e coreografadas. Também estão presentes as tradicionais sequências de perseguições automobilísticas, com direito a carros voando pelos ares e atingindo outros, nada ficando a dever a alguns James Bonds da vida.
A trilha sonora de “Atomic Blonde” merece destaque, nos imergindo nos anos 80 e reunindo David Bowie, The Clash, George Michael, Nena, Depeche Mode, The Cure e muitos mais. Quem viveu essa época irá se deliciar com a seleção musical. Em alguns momentos, as canções fazem aquele já manjado comentário irônico à cena por contrastarem com o que está sendo mostrado. É tão marcante a presença da música no filme que certas cenas ficam parecendo videoclipes, tal como ocorre em “Viver e Morrer em Los Angeles” (Willian Friedkin, 1986) e “Em Ritmo de Fuga” (para usar um exemplo mais recente) ou séries televisivas como “Miami Vice”.
O carisma e sensualidade da atriz sul-africana Charlize Theron na pele da agente Lorraine domina todo o filme. Ela e a personagem Delphine (a atriz argelina Sofia Boutella) protagonizam cenas bastante “calientes”. James McAvoy está à vontade na pele do agente David Percival. A tensão entre ele e a agente britânica move grande parte do filme.
O diretor David Leitch entrega um entretenimento com pitadas de irreverência e um saboroso tempero pop.
Existem atletas que infelizmente ficaram mais lembrados por polêmicas envolvendo seus nomes do que por seus feitos na modalidade a que se dedicaram. Imediatamente veio a minha mente dois exemplos no futebol: Adriano “ex-imperador” e Ronaldinho Gaúcho, exemplos de atletas que poderiam ter nos brindado com muito mais entre as quatro linhas mas que, em algum momento de suas vidas, perderam o rumo por opções desastrosas na vida pessoal.
A patinadora Tonya Harding é outro exemplo famoso. Primeira atleta americana a conseguir executar um salto triplo axel em competições, Harding disputou duas olimpíadas e foi campeã da Copa das Nações e vice-campeã no Campeonato Mundial de 1991. No entanto, acabou no centro das atenções da mídia por causa do episódio do ataque contra sua maior rival Nancy Kerrigan, tramado por seu marido, Jeff Gillouly.
“Eu Tonya” conta essa história em tom de tragicomédia e em estilo mocumentário, o que foi uma opção muito bem sucedida. Logo no início, um letreiro já nos avisa que o filme é baseado em entrevistas “ contraditórias” e “verdadeiras” e sugerindo que os narradores não são confiáveis. O resultado é muito divertido, ainda mais porque o diretor Craig Gillespie e seu roteirista Steven Rogers resolveram adicionar à iguaria o tempero da quebra da “quarta parede” o que dá um toque farsesco à obra.
O elenco dá um show à parte. Margot Robbie (que mais tarde viveria uma hipnótica Sharon Tate em “Era uma vez em... Hollywood”) compõe uma Tonya com sangue nos olhos, no equilíbrio entre o tom cômico e o dramático. A cena em que ela implora ao juiz que não lhe aplique a pena de banimento do esporte é de dar um nó na garganta. Allison Janney, na pele da mãe da patinadora é uma presença dominante em cena a cada aparição. Os demais coadjuvantes parecem à vontade em seus papéis.
Outro destaque é a trilha sonora, que por vezes faz um contraponto irônico às cenas. Um exemplo que vem de cara é a utilização da canção “Devil Woman” (mulher demoníaca) para comentar à cena que mostra Tonya aos quatro anos de idade em companhia de sua mãe no rinque de patinação.
Toda história tem vários lados e aqui não há respostas suficientes que deem conta de um todo. A própria personagem diz em uma cena próxima do final que “essa é a história da minha vida e essa é a p**** da verdade”.
Em 2018 o mundo foi pego de surpresa com a renúncia do papa Bento XVI. Juntou-se a isso a inesperada ascensão de Jorge Bergoglio ao lugar de Joseph Ratzinger. O episódio ainda é cercado de mistério. Em seu comunicado de renúncia o papa alemão alegou um progressivo decréscimo de vigor que, segundo suas palavras, o incapacitaria o exercício do ministério para qual foi eleito. No entanto a causa da renúncia pode ter sido o vazamento de documentos que revelavam casos de corrupção, escândalos sexuais e chantagem dentro da Igreja Católica e de má gestão do Banco do Vaticano.
“Dois Papas” mistura fatos reais e ficção para tentar lançar alguma luz sobre esses fatos. O filme gira em torno de uma conversa fictícia entre os dois papas. Os diálogos repletos de humor entre os dois expõem as visões opostas sobre a vida e a fé mas deixam patente um anseio de que a Igreja Católica supere a crise na qual mergulhou enverede por um futuro melhor.
A princípio pensamos como pessoas tão diferentes conseguiriam se entender. No entanto, a medida que a trama avança, vai ocorrendo uma progressiva empatia entre os dois. O filme sugere que Ratzinger deseja que Bergoglio o suceda no trono de São Pedro por estar convencido de que ele seria o nome certo para reerguer a Igreja.
Embora dedique mais tempo a esmiuçar a biografia do pontífice argentino o longa de Fernando Meirelles não cai na armadilha maniqueísta que poderia colocar em oposição o papa “progressista” e o papa “conservador”. A certa altura começamos a ter simpatia pelo papa emérito porque o filme o humaniza. Essa adesão do espectador se dá em grande parte devido à composição impressionante de Anthony Hopkins.
No quesito interpretação, o Francisco de Jonathan Pryce não fica atrás. Gestos, olhares e tom de voz tudo nos passa a ideia homem simples e simpático que o personagem real é.
Enfim, “Dois Papas” não nos mostra dois santos e sim homens com suas dúvidas, fraquezas e culpas. O que há de ficção e o que há de realidade aqui se torna irrelevante.
é um produto tipico da Bollywood que lança títulos de apelo popular que enche as salas com sua combinação de ação, melodrama, romance e musical. A produção de 2011 - que te,ve uma sequência em 2014 - é um prato riquíssimo desses ingredientes ao longo de 2h20 de duração. O comissário é uma mistura dos personagens durões de Chuck Norris com o nosso Capitão Nascimento, como a força de um Schwarzenegger. O diretor Rohit Shetty, com seu "team", recorre a todos os artifícios de estilo para gerar uma verdadeira avalanche audiovisual sobre o espectador. Bruscos "Zoom ins" e Zoom outs", efeitos chicote, travellings, aceleração e desaceleração da imagem explodem na tela, potencializados por efeitos sonoros usados em abundância. Nosso herói várias vezes é enquadrado em "contra-plongée" a fim de enfatizar sua força e dignidade inabaláveis. Todo esse conjunto de operações resultaram em sequências tão eletrizantes quanto mirabolantes e absurdas. Os personagens (incluindo o vilão Jaykant) são quase todos caricatos e os momentos cômicos são muito pueris. sempre age sozinho, ficando os demais policiais sempre em posição secundária ou como meros espectadores das façanhas de nosso herói. Lá pelo terço final é inserido um número musical que fica deslocadíssimo em relação ao resto do filme. O roteiro acerta ao abordar a corrupção da polícia, subordinada a interesses políticos e a luta de um homem integro em busca de justiça. Descompromissado com a verossimilhança e procupado sobretudo em divertir, "" entrega o que muitos buscam no cinema: emoções baratas e catarse.
M. Night Shyamalan se notabilizou por reverter expectativas, inserindo um elemento surpresa no desfecho de seus filmes, como uma espécie de "ié, ié, pegadinha o Shyamalan!". Outras vezes utiliza as convenções de um deteminado gênero a fim de abordar determinado tema ou transmitir alguma mensagem. "A Vila" e "Sinais" são alguns exemplos desse procedimento. Em "Fragmentado" o diretor nascido na Índia não se preocupou em lançar mão de nenhum desses recursos, preferindo aqui contar uma história de suspense psicológico com sua habilidade habitual. O filme explora com paciência a relação da adolescente Casey com as personalidades de Kevin. Ela parece se interessar em desvendá-lo enquanto o sentimento das outras duas prisioneiras é unicamente de medo. Um clima de expectativa e tensão em relação aos próximos passos de Kevin e às tentativas de fuga das meninas domina o filme do início ao fim. Um ponto fraco do filme é se excessivamente expositivo em relação ao transtorno de Kevin nas cenas que esse interage com sua terapeuta. O que pode a mente de um ser humano? A que limites ela pode chegar? Essa parece ser uma indagação que o filme tenta lançar. Misterioso e perturbador.
O cineasta inglês Kenneth Charles Loach, 83 anos não está aqui para brincadeiras. Seu cinema é envolvido com as questões sociais de seu país. Sua obra é bastante engajada deixa patente sua orientação política. Em seu filme anterior, "Eu, Daniel Blake", Loach aborda as políticas públicas de proteção ao trabalhador. Neste "Você não estava aqui", mostra o impacto das transformações das relações entre empregador e empregado e como essas terminam por prejudicar enormemente os trabalhadores. Após perder seu emprego, Ricky Turner (Kris Hitchen, em uma atuação visceral) compra uma van com o dinheiro da venda do carro de sua esposa, a dedicada cuidadora Abby (Debbie Honeywood), a fim de trabalhar como entregador autônomo. Ambos cumprem jornadas de trabalho insanas que repercutem na relação com os filhos Seb e Katie (Rhys Stone e Katie Proctor). Com estilo direto, naturalista e sem arroubos melodramáticos, Loach vai nos expondo o cotidiano do casal. As sequências mais duras são as que mostram as condições abusivas às quais Ricky tem de se submeter a fim de continuar trabalhando para a empresa de entregas, controlada com mão de ferro pelo insensível Maloney (Ross Brewster). O dia-a-dia de Abby também não é nada fácil pois a cuidadora tem que lidar com pessoas com temperamentos e limitações diversas e sempre com muita paciência. Conciliar os problemas familiares com o trabalho duro é o grande desafio de ambos. A atmosfera pesada do filme raramente cede lugar a momentos de refresco. Há uma cena delicada em que uma das idosas penteia os cabelos de Abby e outra em que essa compartilha fotografias com outra cliente. Ricky também tem um dia um pouco mais leve quando um dia vai trabalhar levando Katie. No entanto, o que predomina aqui é uma sufocante sucessão de adversidades. Em tempos de “uberização” de nossas condições de trabalho, “Você não estava aqui" soa como um filme-denúncia potente e cortante.
O cinema de Quentin Tarantino é tributário aos gêneros cinematográficos populares. Em “Django” e “ Os Oito Odiados” homenageou o “western spaghetti”, nos Kill Bills, os filmes de artes marciais, em “Jackie Brown”, o subgênero “blaxplotation” e por aí vai. Independente do enredo, os filmes de Tarantino falam de sua paixão pelo cinema e pela cultura pop. “Era uma vez em... Hollywood” não é diferente. A ação se passa em 1969, ano de grandes acontecimentos e também tragédias, como o cruel assassinato da atriz Sharon Tate. A época de ouro já vai longe e a concorrência da televisão forçaram Hollywood se reinventar. Era uma indústria em transformação. Rick Dalton (Leonardo di Caprio em plena maturidade) é um ator de TV que está amargando a decadência. Cliff Booth (Brad Pitt, nadando de braçada no papel) é seu amigo e dublê. Enquanto Rick tenta se reerguer na carreira, Cliff se envolve com um grupo de hippies cooptado pelo criminoso Charles Manson, que será o mentor do assassinato de Sharon e dos amigos dela. Tarantino faz tudo sem pressa e isso poderá incomodar quem não tem paciência com longos trechos sem ação. É que Tarantino quer que se “saboreie” os personagens e que a tensão se torne ainda mais intensa. Mostra com detalhes a angústia e a fragilidade de Rick e assim somos presenteados com uma das cenas mais comoventes do filme: o comovente diálogo dele com uma atriz mirim que está atuando no mesmo filme que ele. E o que dizer da Sharon Tate apresentada na tela? Podemos afirmar sem temor de errar que foi uma das mais belas homenagens que um cineasta já prestou a uma atriz. É particularmente tocante quando se sabe qual foi o fim da bela atriz na vida real. Margot Robbie, escalada para vivê-la, é de uma beleza hipnótica. O filme segue sem arroubos até o terço final, repleto de violência à Tarantino. O desfecho deixa um travo de tensão na boca. O defeito do filme está no fato de que sua completa fruição pelo espectador depende de algum conhecimento prévio que permita entender as referências factuais e iconográficas que Tarantino apresenta na tela. Por fim, embora ainda fiel a seu estilo, o autor de “Kill Bill” aqui se mostra mais reflexivo e melancólico. Maturidade à vista? Apenas um aviso a quem ainda não assistiu: não abandonem o filme quando aparecerem os letreiros finais. Tem uma cena escondida lá.
Guido Orefice, um judeu dono de uma livraria judaica na Itália fascista, é capturado e mandado para um campo de concentração em Berlim, juntamente com seu filho, o pequeno Giosué. Para iludir a criança, protegendo-a do horror, Guido faz com que a criança acredite que ambos estão em um jogo. Essa sinopse é de uma comédia dramática, dirigida pelo italiano Roberto Benigni.
Uma comédia que se passa em um campo de concentração nazista? Como pode o diretor, protagonista e co-autor do roteiro fazer graça com um tema tão sombrio e uma das páginas mais trágicas da história? A ousadia gerou muitas críticas mas o filme foi bem recebido e obteve sucesso de bilheteria.
O que faz esse filme ser tão cativante? Trata-se de uma fábula sobre a preservação da inocência. Guido faz todos os sacrifícios para filtrar o que Giosué vê, distorcendo a realidade. Esses procedimentos geram diversas situações cômicas, valorizadas pelo talento de Benigni.
“A Vida é Bela” é engraçado e comovente. É de rir com uma lágrima na garganta.
Essa hilária comédia combina o pastelão com piadas inteligentes, contando um com um elenco afiado e uma direção inspirada. Para os amantes do gênero é uma obra imperdível.
Me deu vontade de falar mal de um filme e a comédia policial que a sessão “Tela Quente” da Globo exibiu na segunda caiu como uma luva. Eta filminho vagabundo esse. Estrelado por Reese Whiterspoon e Sofia Vergara, “Belas e Perseguidas” até começa promissor, mostrando a futura policial Rose acompanhando o pai policial exemplar por onde pode e paulatinamente tomando gosto pela profissão.
Reese faz o que pode para tornar seu personagem engraçado mas não há talento que resista a um roteiro ruim que acumula passagens constragedoras como a cena em que o polícial que aborda Rose (Whiterspoon) e Daniella (Vergara) perde o dedo por acidente por estar embevecido com uma simulação de carícias entre as duas, que fingiam serem lésbicas. Não acreditei que tiveram a coragem de escrever aquilo.
Se pretenderam que o personagem de Vergara fosse minimamente engraçado, erraram feio. Vergara (do seriado “Modern Family”) tenta dar alguma alma a sua histérica Daniella mas tudo naufraga em uma sucessão de trejeitos e gritos.
O epílogo é puro clichê. Sem comentários. Em suma, uma tremenda perda de tempo.
Fazer filmes usando plano-sequência é uma fascinante proeza técnica, exigindo que movimentos de câmera, elementos de cena, coreografia de gestos e movimentos de corpos e objetos estejam em perfeita simbiose. Exemplos menos complexos (como o célebre “Festim Diabólico”, de Alfred Hitchcock) e mais rebuscados (como “Utoya-22 de Julho”, de Erik Pope) me ocorrem no momento que escrevo essa nota. Outro filme muito lembrado é “A Marca da Maldade”, de Orson Welles, pela sua sequência de abertura, feita em uma única tomada.
A maior parte do fascínio de “1917” advém de ter sido filmada em plano-sequência. No entanto não é apenas isso que o filme de Sam Mendes (“Beleza Americana”, “Estrada para a Perdição”) nos oferece. A câmera nervosa está quase sempre colada aos personagens, o que intensifica ainda mais o o envolvimento do espectador com o drama que move o filme. Além disso, a trama se passa em tempo real, com os personagens correndo contra o tempo e as adversidades que vão encontrando pelo caminho. É tensão do início ao fim.
O impressionante trabalho de Mendes e de seu diretor de fotografia Roger Deakins tem momentos antológicos, mas dois se destacam: a sequência da queda do avião e a que mostra um dos personagens correndo fora das trincheiras em meio a um enorme bombardeio. É simplesmente de encher os olhos.
“1917” transcende a excelência técnica para ser uma verdadeira experiência de imersão.
Como um Palito de Fósforo
2.5 3Do ponto de vista da comicidadade, achei meio sem graça para quem não conhece a constelação de estrelas que desfilam na montagem com suas falas inseridas em um outro conexto, determinado pelo roteiro. O filme certamente será um deleite para quem conhece os atores e o enredo original dos filmes cujos fragmentos fazem parte da montagem. Tecnicamente o filme ficaria mais interessante se os realizadores tivessem procurado aproximar a textura da imagem das cenas filmadas com as imagens originais. No entanto, o filme não deixa de ser uma valorosa evocação nostálgica à chamada era de ouro do cinema egipcio. Só resta a saudade já que agora "todo mudo usa isqueiro", de acordo com a fala final do personagem-narrador.
Para onde foi Ramsés?
3.6 1Em “Para onde foi Ramsés?”, o cineasta Amr Bayoumi tece suas reminiscências de infância e juventude sob o jugo de um pai autoritário, idas ao cinema de seu bairro e o primeiro contato com a praça com a estátua de Ramsés. O documentário dá uma pincelada em momentos políticos que tiveram a praça como cenário para finalmente se debruçar sobre o processo de transferência da enorme estátua para um grande museu egípcio. Na transferência a estátua percorre 30 Km até seu destino final e se torna um verdadeiro “happening” para os cidadãos do Cairo. Bayoumi salpica seu doc com momentos de humor e de algum lirismo (quando discorre sobre a percepção da beleza). Uma das maiores sacadas do filme, foi a utilização de uma propaganda de sorvete que faz a pergunta do título. O uso de uma música folclórica pontuando a trajetória da estátua é outro bom momento. No entanto, ao final fica a impressão de que foi um tema desperdiçado, revelando pouca ambição. Bayoumi poderia ter feito mais com o material que tinha nas mãos.
Fora do Comum
2.8 1 Assista Agora“Fora do Comum” se inicia em tom de comédia, nos apresentando um hotel e seus personagens excêntricos e carismáticos, além da bela proprietária e sua filha Farida, dotada de poderes psíquicos. Um médico pesquisador chega para se hospedar e se envolve com a menina e sua mãe. A chegada de um trupe de circo compõe o clima mágico do ambiente a beira mar onde a história passa a se desenrolar após um prólogo que mostra a atividade do médico como pesquisador de eventos psíquicos em seres humanos. Têm encanto as cenas de interação do médico com a menina, a quem ele se afeiçoa. No entanto o tom muda a partir do momento em que entram em cena pessoas interessadas em explorar os dons da pequena. O filme assume um ar de drama de suspense e thriller psicológico e é nesta virada que não consegue convencer plenamente. Entre as qualidades do filme está a trilha sonora e a fotografia, compondo uma embalagem caprichada. Não se pode deixar de mencionar a graça da menina que vive Farida e a beleza magnética da atriz que interpreta sua mãe. Ao final, pode-se concluir que os personagens completaram um ciclo, que foi do paraíso ao inferno e por fim de volta ao paraíso.
Caos e desordem
3.0 2 Assista Agora“Caos e Desordem” já tenta fisgar o espectador a partir dos letreiros, com alguns caracteres “dançando” ao som de um brejeiro tema musical. Mas o que vemos a seguir é um lixão e um garoto que cata garrafas sob a vigilância de um “chefe”. Em seguida, o espectador começa a conhecer a comunidade onde irá se passar todo o restante da trama. Trata-se de uma comunidade pobre, que recebe visitas diárias de caminhões, anunciados por um alto-falante, que fazem o abastecimento e em torno dos quais se formam grandes aglomerações de pessoas em busca de seu quinhão. Existe a figura do “chefão”, dono da principal casa comercial da cidade e que exerce seu poder sobre os demais. Sua filha é um dos vértices de um intricado triângulo amoroso que será resolvido de maneira inusitada: uma partida de futebol.
Como um filme-painel, mostrando o cotidiano de uma comunidade pobre, o filme tem seus melhores momentos , tornando a trama central até certo ponto fútil. “Caos e Desordem” mescla o relato da dureza com a leveza de momentos de humor, O narrador de futebol meio entediado cuja voz sai extremamente rouca pelo auto-falante ruim, os chiliques da filha do “chefão” (a bela atriz Ayten Amer) e os anúncios e receitas culinárias veiculados pelo auto-falante são alguns exemplos.
“Caos e Desordem” nos põe em contato com uma realidade que tem muito em comum com a nossa. O resultado final, se não é brilhante, prende o interesse.
Ferrugem
2.9 129FERRUGEM se estrutura em duas partes que parecem dois filmes distintos. Na primeira e mais impactante, acompanhamos o drama de Tati, que se torna vítima de “bullying” após ter um vídeo íntimo seu espalhado na rede. O desespero, causado pela vergonha e pela decepção com os colegas de classe a leva a cometer suicídio diante de uma de uma das câmeras de vigilância do colégio em que estuda.
Já na segunda parte, mais fraca, o diretor Aly Muritiba, pisa no freio, adotando um tom pretensamente reflexivo, centrando o foco na família um tanto desestruturada de Renet, o “crush” de Tati. A impressão que dá é a de que Muritiba desiste da abordagem mais aguda vista na parte inicial, se contentando em ser um banal drama familiar.
Tendo um grande tema nas mãos, Muritiba desperdiçou a chance de fazer um grande filme sobre os males que a tecnologia, quando não usada para o bem, pode trazer ao ser humano. Tudo estava bem desenhado no início, era só correr para o abraço. Como está “Ferrugem” ficou a meio caminho entre a denúncia candente e um relato de conflito familiar.
John Wick: De Volta ao Jogo
3.8 1,8K Assista AgoraEm “John Wick”, os diretores Chad Stahelsk e David Leitch literalmente não economizam munição. São abundantes (e bem coreografadas) as cenas em que o tiroteio come solto nesse primeiro exemplar da franquia que já lançou mais dois filmes. O estilo bebe na fonte dos longas da fase chinesa de John Woo e dos de artes marciais, aos quais esse filme praticamente presta um tributo.
O enredo é aquela velha história do matador aposentado que volta à ativa em busca de vingança. O roteiro aposta no reuso de fórmulas já exaustivamente testadas a fim de garantir o deleite do espectador. De tão exageradas, certas sequências acabam soando cômicas e a afirmação não se refere apenas as sequências de confrontos físicos e tiroteios mas as que se passam no interior do hotel que hospeda os matadores em missão. Todos esses elementos combinados dão ao filme um tom predominante de paródia.
Keanu Reeves, na pele do matador Wick, interpreta no piloto automático, tendo como companheiro de cena Willem Dafoe, que vive Marcus, assassino contratado para eliminá-lo. O elenco ainda conta com John Leguizamo e a bela Adrianne Palicki.
Stahelsk (um dublê que virou diretor) e Leitch, entregam um entretenimento rotineiro que cumpre seu objetivo de divertir e o faz com competência. É produto “fast food” como tantos que americano produz aos borbotões.
Anna: O Perigo Tem Nome
3.4 288 Assista AgoraEm 2019, Luc Besson engrossou a sua galeria de garotas belas e perigosas com esse “Anna” (o subtítulo brasileiro, “Perigo tem nome”, é lamentável). A gatona da vez é Anna Poliatova (Sasha Luss), uma jovem russa vítima de abusos domésticos que recebe uma proposta de um oficial da KGB para ingressar na organização. Após um ano de treinamento passa a trabalhar como assassina da KGB.
Anna se livra dos maus tratos do namorado mas acaba sendo prisioneira de uma perigosa rotina, da qual esperar livrar-se em cinco anos. A vida que leva vai progressivamente angustiando a jovem. No relacionamento diário com Olga, sua chefe imediata, a moça sofre com demonstrações de assédio moral.
“Anna” se assenta em uma estrutura narrativa com base em “plot twist”, ou, em bom português, a boa e velha reviravolta. O roteiro mostra uma sequência no presente e recorre a um flash back para expor os eventos passados que desaguaram naquele acontecimento. Um artificio narrativo usado para quebrar a linearidade da trama. O resultado é interessante pois acaba deixando o espectador em um terreno pantanoso, fazendo-o a todo momento duvidar do que está vendo.
As cenas de ação são eletrizantes e bem coreografadas. Aqui Besson usa e abusa de fórmulas já testadas e consagradas em alguns de seus filmes anteriores e em outros do gênero (notadamente “Atômica”). Além disso, filme desfere alfinetadas no mundo da moda na figura do fotógrafo afetado e temperamental e da agitada encarregada da agência de modelos. Sacha Luss passa de maneira convincente os instantes de fragilidade e fúria da personagem. Outro destaque do elenco é Hellen Mirren, quase irreconhecível como a “linha dura” Olga.
Eles Voltam
3.2 76“Eles voltam” se inicia com um plano geral impactante: ao longe, filmada de cima, vemos uma estrada, um carro surge, para e duas pessoas são expulsas dele. Em seguida o carro parte. Após alguns segundos, com a câmera mais próxima, somos apresentados a dois adolescentes, Cris (Maria Luiza Tavares) e Peu (Georgio Kokkosi), que acabaram de serem postos para fora do carro de seus pais por estarem brigando, saberemos mais adiante. O irmão a deixa na estrada alegando que sairá em busca dos pais. Enquanto espera a volta do irmão, compartilhamos a mesma agonia da personagem, causada pela solidão e privação, por isso o ritmo lento e a banda sonora um tanto opressora.
O sentimento de impotência e fragilidade da personagem é exposto pelo diretor Marcelo Lordello de maneira cirúrgica e sem pressa. Somos apresentados sem rodeios ao incômodo que a personagem sente.
A partir do momento em que se cansa da espera pela volta do irmão, Cris decide tentar voltar para casa, empreendendo uma jornada por ambientes, pessoas e situações estranhos a ela. Ao conhecer Elayne, filha de uns sem-terra, e Fátima e Cris, que foi criada em uma redoma de segurança, vai tomando contato com um mundo que desconhecia. No entanto o sentimento de identificação ocorre no contato com Pri.
As pequenas transformações da personagem são expostas de maneira extremamente sutil, seja em um olhar, um gesto, no relacionamento com as colegas de escola ou em uma resposta a uma fala do avô.
“Eles Voltam” é forte em sua sobriedade. Um filme feito de olhares, gestos e silêncios eloquentes.
Lucy
3.3 3,3K Assista AgoraLuc Besson deve ser o mais hollywoodiano dos cineastas franceses atualmente em atividade. Sua filmografia – incluindo os projetos em que se envolveu como produtor - tem compromisso predominante com o cinema de entretenimento. Esse aqui, embora não fuja à regra, nos oferece um “plus”. Trata-se de um filme de ação e ficção-científica acrescido de um verniz filosófico.
Na empreitada, mais uma vez Besson recorre a uma protagonista bela e perigosa. Em 1991 tivemos Nikita (Anna Parillaud) em “Nikita – criada para matar” e, quatro anos depois desse “Lucy”, ele lançaria “Anna – Perigo tem Nome”. Parece que o cineasta francês tem uma fixação em gatas armadas.
Mesmo que seu objetivo central seja entreter, “Lucy” toca em uma questão que há muito ocupa nossos corações e mentes: até onde vai a capacidade do cérebro humano? Até onde ele pode nos levar? O filme não deixa de provocar uma reflexão sobre os caminhos do ser humano na terra, onde vivemos mais preocupados em ter do que ser, conforme diz a protagonista em certo momento. Será que é apenas para isso que a vida nos foi dada?
Vale ressaltar o desempenho de Scarlett Johansson, que sem dúvida é uma das melhores atrizes de sua geração. A bela atriz passa os momentos de fragilidade, medo, dúvida e frieza de sua personagem com igual visceralidade. Sai da sua boca, em meio a um diálogo com o Dr. Samuel Norman (Morgan Freeman com a competência de sempre), uma frase que ressoa além do filme: “é a ignorância que traz o caos; não o conhecimento”.
Em suma, “Lucy” é um bom produto de entretenimento com alguma dose de reflexão.
A Odisseia dos Tontos
3.8 164Algo semelhante ao bloqueio dos saques de contas-corrente que ocorreu no Brasil durante o (des)governo de Fernando Collor, também vitimou nossos “hermanos” argentinos. Por lá, a medida se chamou “corralito” (cercadinho em espanhol). “A Odisseia dos Tontos” acompanha um grupo de aspirantes a empreendedores que resolveram confiar o seu dinheiro a um banco e um dia descobriram que foram vítimas de uma armação por parte do gerente do banco. Antes do bloqueio dos depósitos, o safado limpou os cofres. Os “tontos” do título do filme resolvem fazer justiça com as próprias mãos em um plano de vingança ao mesmo tempo ousado e tresloucado, visando recuperar o dinheiro.
O mote do filme é pesado mas o diretor resolveu tirar o peso desse drama enveredando pelo caminho da tragicomédia. Poderia ter sido mais incisivo mas preferiu ficar na superfície e buscar prioritariamente o entretenimento. Não quero dizer com isso que, como está, o filme seja ruim. Há passagens comoventes como os que mostram o alquebramento de Fermin com a morte da esposa e o sumiço do dinheiro (Ricardo Darin confere muita densidade a esses momentos) ou o desabafo de seu filho Rodrigo (Chino Darin, filho de Ricardo) com a secretária de Manzi, banqueiro ladrão. O filme prende a atenção com humor bem dosado e adrenalina.
A maioria dos integrantes do elenco bate um bolão. O já citado Darin, com o seu Fermin, Louis Brandoni (Fontana), Daniel Aráos (Belaunde) e Carlos Belloso como o hilário Medina são os destaques. Manzi – o banqueiro celerado – recebeu uma composição muito caricata de Andrés Parra, talvez não por culpa dele mas por determinação do diretor, visando acentuar o tom cômico. A boa trilha sonora também contribui para o clima mais leve que o filme propõe.
Por fim, fica uma mensagem de união e persistência em prol de atingir um objetivo comum, não se tratando obviamente de advogar métodos violentos ou que venha a causar danos a bens públicos (como ocorre no filme). É válida a abordagem (ainda que epidérmica) de um dolorido episódio da história recente do pais.
De Volta Para o Futuro 3
4.1 742 Assista Agora“De Volta para o Futuro III” foi realizado ao mesmo tempo que o segundo filme, em um esforço hercúleo por parte de produção e elenco. Ansiedade para concluir logo a trilogia? Vai saber... A verdade é que o ritmo frenético do filme anterior da série contrasta com a relativa “lentidão” desse que encerra a trilogia. Não que a ação esteja ausente, mas aqui Zemeckis resolveu pisar um pouquinho no freio e centrar o foco nos personagens.
Nesta terceira aventura, vemos os inesquecíveis Marty e Emmet Brown mais reflexivos e com a amizade reforçada. Voltou-se a abrir espaço para o romance, elemento praticamente ausente na taquicárdica segunda parte. O cientista encontra o amor na figura da doce e inteligente Clara (Mary Steenburgen). O relacionamento dos dois rende duas das melhores passagens do filme: a tentativa de sedução na oficina de Brown e quando os dois observam as estrelas e descobrem afinidades.
No entanto, é pena que esse último episódio da saga não mostre a criatividade dos anteriores. As variações de cenas que já se tornaram clássicas nos outros dois filmes já mostram esgotamento. Além disso, parece que Zemeckis e Gale se preocuparam mais em fazer uma sátira de filmes de faroeste do que uma aventura de ficção-científica. Acabou ficando a meio caminho dos dois.
O filme segue morno até o momento do duelo entre Marty e Bufford Tannen, um antepassado de Biff. Daí em diante o filme retoma o pique ao qual nos acostumamos com a eletrizante sequência do trem. O roteiro ainda nos brinda com um perfeito arremate, resolvendo uma ponta solta que havia restado do segundo episódio, produzindo uma redenção. Por fim, sai pela boca de Emmet o que pode ser a mensagem final do filme: “seu futuro é o que você quiser fazer”.
Apesar de suas insuficiências, “De Volta para o Futuro III “ encerra dignamente uma trilogia que até hoje figura no panteão das melhores que o cinema de entretenimento já produziu.
De Volta Para o Futuro 2
4.2 884 Assista AgoraEnquanto no filme pregresso, Marty McFly vai parar em 1955 por acidente, nesta sequência ele viaja para o 2015 a fim de evitar que seus filhos sejam presos. Quando consegue reverter a situação surge outro problema: seu o arqui-inimigo Biff entra na máquina do tempo motorizada, volta a 1955 e entrega para a sua versão jovem um almanaque que contém resultados de competições esportivas de 1950 a 2000. Sabendo de antemão os resultados, ele aposta e enriquece.
Esse evento desencadeia uma série de acontecimentos negativos, transformando Hill Valley em um lugar tenebroso. O colégio em que Marty estudou sofreu um incêndio e a casa da família McFly ocupada por posseiros. A outrora idílica praça se transformou em um lugar sombrio, frequentado por motoqueiros barulhentos e dominada por um imenso prédio de onde o agora milionário Biff manda em tudo e em todos. A solução é voltar a 1955 e recuperar o almanaque para assim restaurar o futuro.
São muito divertidas as cenas em que Marty vai circulando pela Hill Valley de 2015. O café 80’s e o antiquário rendem boas piadas. Há uma gozação até com o próprio Spielberg (um dos produtores dessa continuação), quando um uma imagem tridimensional de um tubarão promovendo o filme “Tubarão 19” simula devorá-lo. Após refeito o susto ele diz que “ele ainda soa falso”. A sequência de perseguição a Marty pela da gang de Griff repete a do filme anterior mas agora com skates voadores. Também merece destaque a mescla de passagens do filme original com sequências recriadas.
No entanto nem tudo funciona a contento. Enquanto o primeiro filme da franquia mostrava equilíbrio no roteiro, esse aqui resolveu apostar em vários momentos na caricatura e em artifícios recorrentes. O patriarca George McFly de 2015 é velho excêntrico e tolo. As versões idosas de Lorraine e Biff chegam a cair no ridículo. Enquanto algumas repetições são interessantes – como as já citadas, outras soam forçadas, como quando Marty escapa de Biff no 1985 alternativo, apelando para “o que é aquilo?” a fim de distrai-lo. Isso seria usado em outra situação para escapar dos amigos de Biff que queriam detê-lo em 1955. Isso sem falar na opção de gosto duvidoso que foi a escalação do próprio Fox para interpretar Marlene, filha de Marty Senior.
“De volta para o Futuro II” enfrentou problemas com o elenco que forçaram a produção um replanejamento das filmagens. Claudia Wells, que fez Jeniffer, namorada de Marty, não pode repetir seu papel por problemas de saúde na família. Outra baixa no elenco original foi Crispin Glover, que viveu George McFly no primeiro filme. Glover alegou que o cachê oferecido a ele era menor do que os outros atores receberiam e não aceitou integrar o elenco dessa continuação. Jeffrey Weissman o substituiu, sendo submetido a pesada maquiagem para se parecer com o original.
“De volta para o Futuro II” foi um dos grandes sucessos de bilheteria de 1989. Apesar de inferior ao primeiro filme no geral é diversão inteligente como o cinema americano quando quer sabe fazer e bem. Não é à toa que se tornou também um clássico.
De Volta Para o Futuro
4.4 1,8K Assista AgoraA viagem no tempo sempre exerceu enorme fascínio sobre o ser humano. O conceito é constantemente abordado na ficção-científica, sendo H. G. Wells o mais famoso autor de obras literárias sobre o tema. Um de seus livros deu origem ao filme “A Máquina do Tempo” (1960), de George Pal, que teve uma refilmagem posterior. A sétima arte produziu vários exemplares abordando o tema, desde os mais densos (ou pretensiosos) até os mais leves e comprometidos apenas com o entretenimento. “De Volta para o Futuro”, dirigido por Robert Zemeckis - um ex-pupilo de Steven Spielberg, pertence ao segundo grupo. Com produção do diretor de “Tubarão”, o filme fez enorme sucesso, tendo gerado duas continuações.
O filme faz uma combinação equilibrada de ficção-científica, ação, comédia e romance, graças a um roteiro inteligente (escrito pelo diretor com Bob Gale), aliado a escalação acertada do elenco, a competente direção de arte e a uma trilha sonora vibrante (a cargo de Alan Silvestri).
O resultado de tantos acertos é um punhado de sequências inesquecíveis que até hoje fascina tanto os espectadores mais novos quanto os que lotaram o cinema na época de lançamento dessa primeira parte da franquia (entre os quais eu me incluo). O filme faz piadas com Ronald Reagan e com a futura condição de detento do tio de Marty quando a ação vai para 1955. São hilárias as cenas em que Marty foge às investidas de sua futura mãe. Há um momento tocante quando ele sente empatia pelo seu futuro pai em um diálogo entre os dois na cantina do colégio.
Ao final dessa torrente de diversão, pode-se extrair uma lição: o que somos, fazemos e o que deixamos de fazer podem repercutir positiva ou negativamente em nossa vida futura. Se em algum momento não viramos a mesa, provocando uma mudança em nossa trajetória, correremos o risco de persistir em relações tóxicas (George-Biff) ou frustrantes (Lorraine-George).
“De Volta para o Futuro” é até hoje considerado um marco na filmografia sobre viagem no tempo. Uma adorável fantasia feita nos moldes de grande cinemão clássico hollywoodiano.
Atômica
3.6 1,1K Assista Agora“Atomic Blonde” nada acrescenta de novidade aos filmes do gênero. Tudo aqui já foi amplamente testado e consagrado pelo gosto do público. O filme é ação quase ininterrupta. As cenas de luta são muito bem filmadas e coreografadas. Também estão presentes as tradicionais sequências de perseguições automobilísticas, com direito a carros voando pelos ares e atingindo outros, nada ficando a dever a alguns James Bonds da vida.
A trilha sonora de “Atomic Blonde” merece destaque, nos imergindo nos anos 80 e reunindo David Bowie, The Clash, George Michael, Nena, Depeche Mode, The Cure e muitos mais. Quem viveu essa época irá se deliciar com a seleção musical. Em alguns momentos, as canções fazem aquele já manjado comentário irônico à cena por contrastarem com o que está sendo mostrado. É tão marcante a presença da música no filme que certas cenas ficam parecendo videoclipes, tal como ocorre em “Viver e Morrer em Los Angeles” (Willian Friedkin, 1986) e “Em Ritmo de Fuga” (para usar um exemplo mais recente) ou séries televisivas como “Miami Vice”.
O carisma e sensualidade da atriz sul-africana Charlize Theron na pele da agente Lorraine domina todo o filme. Ela e a personagem Delphine (a atriz argelina Sofia Boutella) protagonizam cenas bastante “calientes”. James McAvoy está à vontade na pele do agente David Percival. A tensão entre ele e a agente britânica move grande parte do filme.
O diretor David Leitch entrega um entretenimento com pitadas de irreverência e um saboroso tempero pop.
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraExistem atletas que infelizmente ficaram mais lembrados por polêmicas envolvendo seus nomes do que por seus feitos na modalidade a que se dedicaram. Imediatamente veio a minha mente dois exemplos no futebol: Adriano “ex-imperador” e Ronaldinho Gaúcho, exemplos de atletas que poderiam ter nos brindado com muito mais entre as quatro linhas mas que, em algum momento de suas vidas, perderam o rumo por opções desastrosas na vida pessoal.
A patinadora Tonya Harding é outro exemplo famoso. Primeira atleta americana a conseguir executar um salto triplo axel em competições, Harding disputou duas olimpíadas e foi campeã da Copa das Nações e vice-campeã no Campeonato Mundial de 1991. No entanto, acabou no centro das atenções da mídia por causa do episódio do ataque contra sua maior rival Nancy Kerrigan, tramado por seu marido, Jeff Gillouly.
“Eu Tonya” conta essa história em tom de tragicomédia e em estilo mocumentário, o que foi uma opção muito bem sucedida. Logo no início, um letreiro já nos avisa que o filme é baseado em entrevistas “ contraditórias” e “verdadeiras” e sugerindo que os narradores não são confiáveis. O resultado é muito divertido, ainda mais porque o diretor Craig Gillespie e seu roteirista Steven Rogers resolveram adicionar à iguaria o tempero da quebra da “quarta parede” o que dá um toque farsesco à obra.
O elenco dá um show à parte. Margot Robbie (que mais tarde viveria uma hipnótica Sharon Tate em “Era uma vez em... Hollywood”) compõe uma Tonya com sangue nos olhos, no equilíbrio entre o tom cômico e o dramático. A cena em que ela implora ao juiz que não lhe aplique a pena de banimento do esporte é de dar um nó na garganta. Allison Janney, na pele da mãe da patinadora é uma presença dominante em cena a cada aparição. Os demais coadjuvantes parecem à vontade em seus papéis.
Outro destaque é a trilha sonora, que por vezes faz um contraponto irônico às cenas. Um exemplo que vem de cara é a utilização da canção “Devil Woman” (mulher demoníaca) para comentar à cena que mostra Tonya aos quatro anos de idade em companhia de sua mãe no rinque de patinação.
Toda história tem vários lados e aqui não há respostas suficientes que deem conta de um todo. A própria personagem diz em uma cena próxima do final que “essa é a história da minha vida e essa é a p**** da verdade”.
Dois Papas
4.1 962 Assista AgoraEm 2018 o mundo foi pego de surpresa com a renúncia do papa Bento XVI. Juntou-se a isso a inesperada ascensão de Jorge Bergoglio ao lugar de Joseph Ratzinger. O episódio ainda é cercado de mistério. Em seu comunicado de renúncia o papa alemão alegou um progressivo decréscimo de vigor que, segundo suas palavras, o incapacitaria o exercício do ministério para qual foi eleito. No entanto a causa da renúncia pode ter sido o vazamento de documentos que revelavam casos de corrupção, escândalos sexuais e chantagem dentro da Igreja Católica e de má gestão do Banco do Vaticano.
“Dois Papas” mistura fatos reais e ficção para tentar lançar alguma luz sobre esses fatos. O filme gira em torno de uma conversa fictícia entre os dois papas. Os diálogos repletos de humor entre os dois expõem as visões opostas sobre a vida e a fé mas deixam patente um anseio de que a Igreja Católica supere a crise na qual mergulhou enverede por um futuro melhor.
A princípio pensamos como pessoas tão diferentes conseguiriam se entender. No entanto, a medida que a trama avança, vai ocorrendo uma progressiva empatia entre os dois. O filme sugere que Ratzinger deseja que Bergoglio o suceda no trono de São Pedro por estar convencido de que ele seria o nome certo para reerguer a Igreja.
Embora dedique mais tempo a esmiuçar a biografia do pontífice argentino o longa de Fernando Meirelles não cai na armadilha maniqueísta que poderia colocar em oposição o papa “progressista” e o papa “conservador”. A certa altura começamos a ter simpatia pelo papa emérito porque o filme o humaniza. Essa adesão do espectador se dá em grande parte devido à composição impressionante de Anthony Hopkins.
No quesito interpretação, o Francisco de Jonathan Pryce não fica atrás. Gestos, olhares e tom de voz tudo nos passa a ideia homem simples e simpático que o personagem real é.
Enfim, “Dois Papas” não nos mostra dois santos e sim homens com suas dúvidas, fraquezas e culpas. O que há de ficção e o que há de realidade aqui se torna irrelevante.
Singham
4.0 62é um produto tipico da Bollywood que lança títulos de apelo popular que enche as salas com sua combinação de ação, melodrama, romance e musical. A produção de 2011 - que te,ve uma sequência em 2014 - é um prato riquíssimo desses ingredientes ao longo de 2h20 de duração.
O comissário é uma mistura dos personagens durões de Chuck Norris com o nosso Capitão Nascimento, como a força de um Schwarzenegger.
O diretor Rohit Shetty, com seu "team", recorre a todos os artifícios de estilo para gerar uma verdadeira avalanche audiovisual sobre o espectador. Bruscos "Zoom ins" e Zoom outs", efeitos chicote, travellings, aceleração e desaceleração da imagem explodem na tela, potencializados por efeitos sonoros usados em abundância. Nosso herói várias vezes é enquadrado em "contra-plongée" a fim de enfatizar sua força e dignidade inabaláveis. Todo esse conjunto de operações resultaram em sequências tão eletrizantes quanto mirabolantes e absurdas.
Os personagens (incluindo o vilão Jaykant) são quase todos caricatos e os momentos cômicos são muito pueris. sempre age sozinho, ficando os demais policiais sempre em posição secundária ou como meros espectadores das façanhas de nosso herói. Lá pelo terço final é inserido um número musical que fica deslocadíssimo em relação ao resto do filme.
O roteiro acerta ao abordar a corrupção da polícia, subordinada a interesses políticos e a luta de um homem integro em busca de justiça.
Descompromissado com a verossimilhança e procupado sobretudo em divertir, "" entrega o que muitos buscam no cinema: emoções baratas e catarse.
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraM. Night Shyamalan se notabilizou por reverter expectativas, inserindo um elemento surpresa no desfecho de seus filmes, como uma espécie de "ié, ié, pegadinha o Shyamalan!". Outras vezes utiliza as convenções de um deteminado gênero a fim de abordar determinado tema ou transmitir alguma mensagem. "A Vila" e "Sinais" são alguns exemplos desse procedimento.
Em "Fragmentado" o diretor nascido na Índia não se preocupou em lançar mão de nenhum desses recursos, preferindo aqui contar uma história de suspense psicológico com sua habilidade habitual. O filme explora com paciência a relação da adolescente Casey com as personalidades de Kevin. Ela parece se interessar em desvendá-lo enquanto o sentimento das outras duas prisioneiras é unicamente de medo.
Um clima de expectativa e tensão em relação aos próximos passos de Kevin e às tentativas de fuga das meninas domina o filme do início ao fim. Um ponto fraco do filme é se excessivamente expositivo em relação ao transtorno de Kevin nas cenas que esse interage com sua terapeuta.
O que pode a mente de um ser humano? A que limites ela pode chegar? Essa parece ser uma indagação que o filme tenta lançar. Misterioso e perturbador.
Você Não Estava Aqui
4.1 242 Assista AgoraO cineasta inglês Kenneth Charles Loach, 83 anos não está aqui para brincadeiras. Seu cinema é envolvido com as questões sociais de seu país. Sua obra é bastante engajada deixa patente sua orientação política. Em seu filme anterior, "Eu, Daniel Blake", Loach aborda as políticas públicas de proteção ao trabalhador. Neste "Você não estava aqui", mostra o impacto das transformações das relações entre empregador e empregado e como essas terminam por prejudicar enormemente os trabalhadores.
Após perder seu emprego, Ricky Turner (Kris Hitchen, em uma atuação visceral) compra uma van com o dinheiro da venda do carro de sua esposa, a dedicada cuidadora Abby (Debbie Honeywood), a fim de trabalhar como entregador autônomo. Ambos cumprem jornadas de trabalho insanas que repercutem na relação com os filhos Seb e Katie (Rhys Stone e Katie Proctor).
Com estilo direto, naturalista e sem arroubos melodramáticos, Loach vai nos expondo o cotidiano do casal. As sequências mais duras são as que mostram as condições abusivas às quais Ricky tem de se submeter a fim de continuar trabalhando para a empresa de entregas, controlada com mão de ferro pelo insensível Maloney (Ross Brewster). O dia-a-dia de Abby também não é nada fácil pois a cuidadora tem que lidar com pessoas com temperamentos e limitações diversas e sempre com muita paciência. Conciliar os problemas familiares com o trabalho duro é o grande desafio de ambos.
A atmosfera pesada do filme raramente cede lugar a momentos de refresco. Há uma cena delicada em que uma das idosas penteia os cabelos de Abby e outra em que essa compartilha fotografias com outra cliente. Ricky também tem um dia um pouco mais leve quando um dia vai trabalhar levando Katie. No entanto, o que predomina aqui é uma sufocante sucessão de adversidades.
Em tempos de “uberização” de nossas condições de trabalho, “Você não estava aqui" soa como um filme-denúncia potente e cortante.
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista AgoraO cinema de Quentin Tarantino é tributário aos gêneros cinematográficos populares. Em “Django” e “ Os Oito Odiados” homenageou o “western spaghetti”, nos Kill Bills, os filmes de artes marciais, em “Jackie Brown”, o subgênero “blaxplotation” e por aí vai. Independente do enredo, os filmes de Tarantino falam de sua paixão pelo cinema e pela cultura pop. “Era uma vez em... Hollywood” não é diferente.
A ação se passa em 1969, ano de grandes acontecimentos e também tragédias, como o cruel assassinato da atriz Sharon Tate. A época de ouro já vai longe e a concorrência da televisão forçaram Hollywood se reinventar. Era uma indústria em transformação.
Rick Dalton (Leonardo di Caprio em plena maturidade) é um ator de TV que está amargando a decadência. Cliff Booth (Brad Pitt, nadando de braçada no papel) é seu amigo e dublê. Enquanto Rick tenta se reerguer na carreira, Cliff se envolve com um grupo de hippies cooptado pelo criminoso Charles Manson, que será o mentor do assassinato de Sharon e dos amigos dela.
Tarantino faz tudo sem pressa e isso poderá incomodar quem não tem paciência com longos trechos sem ação. É que Tarantino quer que se “saboreie” os personagens e que a tensão se torne ainda mais intensa. Mostra com detalhes a angústia e a fragilidade de Rick e assim somos presenteados com uma das cenas mais comoventes do filme: o comovente diálogo dele com uma atriz mirim que está atuando no mesmo filme que ele.
E o que dizer da Sharon Tate apresentada na tela? Podemos afirmar sem temor de errar que foi uma das mais belas homenagens que um cineasta já prestou a uma atriz. É particularmente tocante quando se sabe qual foi o fim da bela atriz na vida real. Margot Robbie, escalada para vivê-la, é de uma beleza hipnótica.
O filme segue sem arroubos até o terço final, repleto de violência à Tarantino. O desfecho deixa um travo de tensão na boca.
O defeito do filme está no fato de que sua completa fruição pelo espectador depende de algum conhecimento prévio que permita entender as referências factuais e iconográficas que Tarantino apresenta na tela.
Por fim, embora ainda fiel a seu estilo, o autor de “Kill Bill” aqui se mostra mais reflexivo e melancólico. Maturidade à vista?
Apenas um aviso a quem ainda não assistiu: não abandonem o filme quando aparecerem os letreiros finais. Tem uma cena escondida lá.
A Vida é Bela
4.5 2,7K Assista AgoraGuido Orefice, um judeu dono de uma livraria judaica na Itália fascista, é capturado e mandado para um campo de concentração em Berlim, juntamente com seu filho, o pequeno Giosué. Para iludir a criança, protegendo-a do horror, Guido faz com que a criança acredite que ambos estão em um jogo. Essa sinopse é de uma comédia dramática, dirigida pelo italiano Roberto Benigni.
Uma comédia que se passa em um campo de concentração nazista? Como pode o diretor, protagonista e co-autor do roteiro fazer graça com um tema tão sombrio e uma das páginas mais trágicas da história? A ousadia gerou muitas críticas mas o filme foi bem recebido e obteve sucesso de bilheteria.
O que faz esse filme ser tão cativante? Trata-se de uma fábula sobre a preservação da inocência. Guido faz todos os sacrifícios para filtrar o que Giosué vê, distorcendo a realidade. Esses procedimentos geram diversas situações cômicas, valorizadas pelo talento de Benigni.
“A Vida é Bela” é engraçado e comovente. É de rir com uma lágrima na garganta.
Tá Todo Mundo Louco! Uma Corrida de Milhõe$
3.2 710Essa hilária comédia combina o pastelão com piadas inteligentes, contando um com um elenco afiado e uma direção inspirada. Para os amantes do gênero é uma obra imperdível.
Belas e Perseguidas
2.8 307 Assista AgoraMe deu vontade de falar mal de um filme e a comédia policial que a sessão “Tela Quente” da Globo exibiu na segunda caiu como uma luva. Eta filminho vagabundo esse. Estrelado por Reese Whiterspoon e Sofia Vergara, “Belas e Perseguidas” até começa promissor, mostrando a futura policial Rose acompanhando o pai policial exemplar por onde pode e paulatinamente tomando gosto pela profissão.
Reese faz o que pode para tornar seu personagem engraçado mas não há talento que resista a um roteiro ruim que acumula passagens constragedoras como a cena em que o polícial que aborda Rose (Whiterspoon) e Daniella (Vergara) perde o dedo por acidente por estar embevecido com uma simulação de carícias entre as duas, que fingiam serem lésbicas. Não acreditei que tiveram a coragem de escrever aquilo.
Se pretenderam que o personagem de Vergara fosse minimamente engraçado, erraram feio. Vergara (do seriado “Modern Family”) tenta dar alguma alma a sua histérica Daniella mas tudo naufraga em uma sucessão de trejeitos e gritos.
O epílogo é puro clichê. Sem comentários. Em suma, uma tremenda perda de tempo.
1917
4.2 1,8K Assista AgoraFazer filmes usando plano-sequência é uma fascinante proeza técnica, exigindo que movimentos de câmera, elementos de cena, coreografia de gestos e movimentos de corpos e objetos estejam em perfeita simbiose. Exemplos menos complexos (como o célebre “Festim Diabólico”, de Alfred Hitchcock) e mais rebuscados (como “Utoya-22 de Julho”, de Erik Pope) me ocorrem no momento que escrevo essa nota. Outro filme muito lembrado é “A Marca da Maldade”, de Orson Welles, pela sua sequência de abertura, feita em uma única tomada.
A maior parte do fascínio de “1917” advém de ter sido filmada em plano-sequência. No entanto não é apenas isso que o filme de Sam Mendes (“Beleza Americana”, “Estrada para a Perdição”) nos oferece. A câmera nervosa está quase sempre colada aos personagens, o que intensifica ainda mais o o envolvimento do espectador com o drama que move o filme. Além disso, a trama se passa em tempo real, com os personagens correndo contra o tempo e as adversidades que vão encontrando pelo caminho. É tensão do início ao fim.
O impressionante trabalho de Mendes e de seu diretor de fotografia Roger Deakins tem momentos antológicos, mas dois se destacam: a sequência da queda do avião e a que mostra um dos personagens correndo fora das trincheiras em meio a um enorme bombardeio. É simplesmente de encher os olhos.
“1917” transcende a excelência técnica para ser uma verdadeira experiência de imersão.