Aqui Hitchcock, basicamente, faz um ensaio sobre a natureza do cinema. A proposta de um filme desenvolvido a partir do ponto de vista de um único local é uma limitação formal que abre possibilidades interessantes para a criatividade do autor.
Essa mesma limitação é o ponto central do filme, pois é dela que vai derivar o tema metalinguístico do voyeurismo. Jefferies, Lisa e Stella exercem o mesmo papel do cinéfilo: assistir aos acontecimentos passivamente; deles, entender sua narrativa/proposta e então, a partir de deduções, preencher lacunas, como aquelas de motivações das personagens.
A cena de agressão do Sr. Thorwalds à Lisa é o exemplo mais claro da passividade do espectador: Jefferies assiste a tudo com horror, mas nada pode fazer senão olhar. É justamente isso que caracteriza as artes em geral, a passividade e o efeito estético paralisante.
Já quando Jefferies é atacado pelo Sr. Thorwalds, aquele que antes era espectador passa a ser um ator ativo no acontecimento. Nessa cena, Hitchcock se utiliza de um paralelismo: o mesmo efeito e os mesmos sentimentos que Jefferies sentiu, na cena da estrofe anterior, são repercutidos em nós espectadores. Nada podemos fazer diante daquele medo e revolta senão olhar.
No começo, me lembrou muito de Festa de Família, do Vinterberg, não só pelo tema, mas pela maneira que a história era conduzida, que as falas eram intercortadas e que a tensão entre os familiares ia se formando.
Acho que o Wingard tem muito controle do que quer contar, dosando bem o tom da história com personagens caricatos e com a pornografia da violência. Assim, com toda essa caricatura, o filme até se torna cômico -- o final evidencia isso. Penso que essa proposta foi bem balanceada com a tensão e o terror característicos desse tipo de filme.
A inversão do slasher foi bem divertida, em nenhum momento esvaziou o filme da tensão e acho que até criou possibilidades narrativas interessantes com os pontos de virada do filme.
Gosto muito de como o Verhoeven se posiciona politicamente em cada cena do filme e ainda assim não deixa de ser objetivo e não transforma o seu filme em um panfleto. Robocop tem muito da estética americana dos anos 80 e repete vários arquétipos e fórmulas da época, mas até essa repetição é utilizada de uma maneira que reforça a ideia crítica passada pelo filme.
Além dessa intelectualização da mensagem, ainda vejo que RoboCop é sobretudo do cinema de gênero, desenvolvendo, sem muita enrolação, a ação do filme, com cenas de muita violência, tensão e estímulos.
A gente tá nessa onda de filmes coming-of-age feitos por grandes diretores, tivemos o do PTA, o do Spielberg e agora o do Gray. Desses três diretores, acho que o Gray é o meu favorito e, juntando ao fato de que ele é o que melhor trata das relações familiares em seus filmes (vide toda a sua filmografia), eu estava bem ansioso para ver Armageddon Time.
De cara, posso afirmar que é um dos mais fracos do James Gray, o que não quer dizer que seja ruim. Acho que ele funciona muito bem quando se limita a ser um filme intimista, sem a pretensão de captar o espírito de uma geração inteira -- que é o que o título e algumas cenas parecem sugerir.
Assim, as cenas que mostram a relação de Paul com o seu avô, em contraste com os demais familiares, as que mostram a inquietação de seus pais, bem como a sua amizade com Johnny, todas essas cenas mais intimistas funcionam muito bem. Elas nos comovem e nos vendem bem a mensagem do filme.
Mas parece que o filme também se importa em captar o espírito de uma época, e é aqui que residem os maiores problemas do filme. As cenas políticas parecem desconectadas do resto do filme e assumem um tom de grandiosidade, que o filme parece rejeitar em todas as outras cenas com a sua proposta de memórias pessoais. Não funciona como em Licorice Pizza, no qual o contexto político e o espírito da geração são personagens do filme ao lado das memórias intimistas do diretor.
Quanto à proposta formal, eu gosto do que esse filme representa na carreira do James Gray. Ele que é um diretor que sempre sugere um tom épico em seus filmes, ainda que eles falem de assuntos muito pessoais e sempre relacionados à família. Os recursos para atingir esse tom geralmente estão associados tanto à grandeza dos temas (a imigração, a exploração de um lugar selvagem, a ida ao espaço) quanto ao movimento narrativo de suas tramas.
Isto é, James Gray constrói filmes com ritmos de ascensão lenta, mas contínua. Chegamos ao clímax de maneira muito sutil, sem perceber como o filme chegou até ali. E esse momento de ápice é sempre muito perceptível, já que os seus temas não abordam questões simples.
E eu gosto de como Armageddon Time vai contra essa lógica. É um filme sem clímax, que se sustenta pelo flow dos acontecimentos. Não há uma grande motivação como força motriz do filme, senão o próprio envelhecimento e a melhor compreensão do mundo. Tanto que o filme acaba com a consciência de Paul sobre a injustiça do mundo.
Revi esses dias, logo depois de ter visto Gran Torino. Ambos os filmes são muitos próximos tematicamente.
Gosto muito da facilidade do Clint de nos fazer ter empatia por suas personagens. Isso é resultado de um domínio pleno da forma: em nenhum momento nos vende uma figura perfeita, mas sim uma que, apesar de suas qualidades, é cheia de defeitos e está em busca da rendição, ou de sua melhor versão. É uma fórmula recorrente no cinema de Eastwood, acho que é até a mesma estrutura de Os Incompreendidos e de As Pontes de Madison.
Enfim, Gran Torino e A Mula são dois grandes filmes do cinema contemporâneo. Vale a pena assistir
Reichenbach, na contramão do mainstrean, faz um filme maneirista, cheio de exageros estilísticos que se concentram principalmente nos diálogos e nas sequências musicais. Porém, o diretor tem plena consciência e o total controle disso tudo -- é como se Silmara estive em uma constante busca de um mundo caricato, em que ela seria o centro, dominaria e conquistaria tudo, como uma princesa. Por vezes, essa fantasia é expressa até em sonhos, como na cena que ela se imagina dentro de um clipe musical. São atitudes claras de escapismo da sua realidade de operária e de mulher desgastada.
O filme brinca o tempo todo com essa ilusão, que Silmara alimenta, de que ela pode furar a sua esfera social e provar mais dessa vida que está tão distante da sua realidade. Não à toa, toma uma champanhe em um dos momentos mais importantes do filme; conhece e "namora" Bruno de André, que é famoso e rico; e o mais simbólico de tudo isso: é loira --mas uma loira operária de unhas sujas, ou melhor, como Leonel diz, é uma "falsa loura".
Penso que há uma grande dose de cinismo que alimenta toda essa narrativa. É que o arco final do filme se repete duas vezes e faz não só a Silmara mas também o telespectador acreditarem que aqueles acontecimentos terão fins diferentes. Estou me referindo ao caso de Silmara com Bruno e Luís. Com o primeiro, a loira, incentivada pelo tesão e pela sua fantasia de princesa, chega a abandonar o seu trabalho para fugir com o cantor. No fim, percebe que ele a tratava como uma vagabunda qualquer. Ou seja, ao mesmo tempo que ela fura a bolha de sua realidade, aquela esfera social sempre a tratará como um objeto indigno de receber um outro tratamento.
A mesma coisa acontece no seu relacionamento com Luís-- desiludida, antes de conhecer o homem com que sairia, Silmara deixa claro que não irá dormir com ele, pois não é uma "garota de programa", e a contratante de seu serviço enfatiza que nada disso acontecerá, pois o homem era um humanista que apenas queria conhecê-la. Quando Silmara vê que o "humanista" que a contratou era o seu maior ídolo, ela desiste daquela negativa inicial e cede aos braços de Luís. Ocorre que na manhã seguinte ela é abandonada novamente e novamente tratada como um vagabunda. É literalmente a mesma estrutura e a mesma mensagem: ela não pertence àquele mundo e, aparentemente, sempre será tratada assim.
A mensagem fica ainda mais com a cena final, pois voltando do final de semana de desilusão, o táxi a deixa na fábrica -- o lugar ao qual pertence.
Assisti esse filme pela primeira vez lá pelos meus 14 anos e, na época, odiei. Não entendia a revolta e as atitudes de Benjamin, tampouco a decisão de Elaine. A cena final eu achava um tanto sem sentido e o último ato fora do tom.
Reassistindo depois de 8 anos, um pouco depois da idade de Benjamin, percebo como assisti pela primeira vez no momento errado da vida. A insegurança sobre o futuro é mesmo o pensamento que nos define nessa idade, levando-nos a fazer coisas inconsequentes, às vezes por sede de transgredir a tradição, às vezes pela falta de sentido da vida mesmo.
Mike Nichols tem um domínio formal incrível, o que nos foi mostrado desde o seu filme de estreia. Aqui, o uso da montagem dá um ritmo leve ao filme e nos proporciona cenas marcantes, como o corte em que o movimento de Benjamin saindo da piscina se mescla ao abraço do jovem à Mrs. Robinson. A fotografia brinca o tempo todo com as sombras e, por meio delas, sugere os sentimentos das personagens: enquanto Benjamin aparece frequentemente na sombra, Mrs Robinson sempre aparece iluminada, sugerindo tanto a confusão e a insegurança dele, como a objetividade e a frieza dela.
Nessa segunda vista do filme, percebi uma coisa óbvia que não tinha ficado claro na minha adolescência: The Graduate é muito mais sobre os embates da juventude e os questionamentos da meia-idade do que sobre o adultério e o casamento. Óbvio que Mike Nichols, sendo o nosso maior ensaísta dos relacionamentos (vide Quem Tem Medo de Virginia Woolf, Ânsia de Amar e Close), aproveita as deixas do filme para também refletir sobre o casamento dos Robinson, mas ele o faz sempre em função das problemáticas levantadas pelo confronto juventude-meiaidade, reiterando o tema principal do filme.
Entendo que o filme enfrenta um problema de ritmo quando Benjamin vai à Berkeley em busca de Elaine. Por vezes, parece até mesmo um outro filme, mudando bruscamente o seu arco e ritmo. No entanto, é dessa ida à Califórnia que surge o motivo da sequência final, apresentando assim uma boa função e justificativa para aquele arco.
A cena final se tornou uma das minhas favoritas do cinema. O olhar distante carrega o peso da reflexão feita durante todo o filme, é a epítome daquela fase da vida, em que a revolta se importa muito mais com a fuga do que com o destino.
Nos primeiros 45 minutos iniciais, fiquei vidrado com a montagem desse filme. Anno dá a velocidade de que precisam as cenas de urgência: sempre com planos e contraplanos fechados, e quase distorcidos, nos rostos das personagens, que se intercalam de forma monótona, porém, frenética, nos diálogos da reunião. Na montagem, ainda há certa ironia quando o diretor alterna as cenas de sobriedade e burocracia do governo com as cenas de horror e força do Gojira.
Digo que a montagem me encheu os olhos durante os 45 minutos iniciais não pela perda de interesse nesse aspecto do filme, mas por entender que a partir daquele momento, não haveria mais tanto espaço para novas "fórmulas" de montagem. Os esquemas são sempre os mesmos: planos e contraplanos rápidos, dollies para acompanhar as caminhadas em grupo dos burocratas engravatados e alternância de cena entre burocrata e Gojira. Não vejo essa repetição como um demérito, ela cumpre uma função narrativa que muito condiz com o contexto do filme: a vida burocrática e cheia de regras daqueles políticos.
Essa dicotomia de comportamento de burocratas e monstro é trabalhada durante o filme inteiro, mostrando, de forma quase irônica, como o governo se preocupa, com o que se preocupa, como funciona e como interage com outros Estados. A partir dessa forma, o filme assume um lado político, mantendo as raízes do filme original da década de 50, ao apontar as atitudes duvidosas dos EUA, sem cair em um maniqueísmo fácil.
No fim, me peguei pensando se a personagem da Patterson não era extremamente estereotipada e unidimensional, mas percebi que ela, na verdade, é apenas o retrato fiel do que significa os Estados Unidos.
Assisti a Scream (1996) há pouco tempo e percebi como o Wes Craven tem uma relação original e corajosa com o terror. Enquanto em Scream, há uma autoconsciência satírica e irônica quanto ao subgênero slasher e ao genero de terror em geral, em Nightmare on Elm Street, o diretor se joga de fato nas convenções que seriam posteriormente ironizadas.
E ainda que seja um filme mais tradicional em sua ambientação e forma, vejo que Wes Craven mistura muito bem as cenas de horror com as de nojo e as de fantasia. Essa harmonia é interessante porque são elementos que fazem parte do próprio tema do filme: os sonhos — existindo assim uma justificativa formal para o seu uso.
Dentro desse tema, Wes Craven encontra recursos para a construção do horror de forma muito interessante: além do monstro e das mortes, a tensão é construída pelo simples fato de sabermos que aquilo acontece no mundo dos sonhos, e, assim, ficamos tensos torcendo para que ninguém durma. A trilha sonora, principalmente, no início do filme contribui bastante para a construção dessa tensão (fico pensando como esses temas musicais costumavam ser mais simples e muito mais eficientes do que os atuais).
Gosto muito como o diretor brinca com as cores e com o design de produção nesse filme. O Freddy Krueger virou um ícone da cultura pop, principalmente pela eficácia desse trabalho: as cores verde e vermelho em listras se tornaram uma marca impossível de não reconhecer. E não é à toa que, no final do filme, o diretor precisou apenas pintar a capota do carro nessas cores para fazer todo mundo entender o que estava acontecendo naquele momento.
Dou mais destaque ainda as cores utilizadas para representar a Nancy. No meio de um filme de vermelho vívido e verde asqueroso, Nancy surge em todas as cenas acompanhada do azul, seja em sua roupa ou em algum elemento do cenário (como o seu telefone). E essa cor contrastante do resto do filme reflete bem o que é a sua personagem: a mais religiosa e a mais pura, que se recusa a pecar contra a castidade, reza pedindo a proteção de Deus e dorme abraçada com um crucifixo.
Com esses inúmeros recursos, penso que A Nightmare on Elm Street seja um filme consciente da sua posição na tradição do horror, assim como foi Scream, porém, diferentemente deste, aqui Wes Craven inova essas convenções não no sentido de ironizá-las, mas, principalmente, no sentido de reafirmá-las para inserir o seu filme na mais alta prateleira dessa tradição do terror.
Filme lindo e talvez o mais importante do gênero. Foi o primeiro western falado do John Ford, e eu gosto muito de como as falas são usadas até em excesso para explorar ao máximo a personalidade de cada um. Por exemplo, nas cenas inicias, o ritmo é rápido e caótico: naquele momento, há uma grande quantidade de personagens falando, por vezes, até uns por cima dos outros, e não sabemos quem, de toda aquela multidão, fará parte da viagem. E mesmo quando a diligência começa a sua viagem, a cadência é rápida, mas logo nos acostumamos com as personalidades de cada um, que são tão marcantes que chegam a ser caricatas.
Penso que o ritmo começa a diminuir e os personagens a se desenvolver melhor a partir da entrada da personagem de John Wayne, com aquela apresentação marcante: um dolly em direção ao homem que, enquanto segura uma sela em uma mão, roda uma espingarda com a outra. É um daqueles momentos que não precisaria nem mesmo de som, a imagem mostra tudo. A partir de então, parece que a presença de Ringo apazigua o ritmo caótico do filme, enquanto aumenta a tensão entre as personagens, criando, inclusive, um novo arco para Dallas, que já fazia parte da carruagem.
Essa tensão entre os personagens cerrados em ambientes pequenos e claustrofóbicos é um dos grandes feitos de John Ford que se refletiria posteriormente em diversos outros filmes com essa mesma característica. E é até curioso pensar que um filme de Faroeste, cuja grande massa espera apenas brigas, duelos e atos heroicos, seria desenvolvido quase em sua totalidade a partir de diálogos comuns entre pessoas comuns.
No entanto, quanto à ação característica dos filmes de faroeste, ela não fica para trás nesse filme. A cena de ataque dos apaches é longa e tensa, resultado alcançado principalmente pela montagem e grandes acrobacias feitas pelo dublê. Como um colega falou em um dos comentários daqui, a cena chega a lembrar até mesmo Mad Max, com seus tiros à distância no meio do deserto.
No Tempo das Diligências é um filme lindo, paradigmático e surpreendente. Confesso que não é o meu favorito do John Ford porque ainda prefiro O Homem que Matou o Facínora.
Às vezes, é desse calorzinho no coração de que precisamos. Tudo é muito simples, direto e inocente. A decisão do Ahmed de esconder o caderno na camisa e mentir para o senhor das janelas é uma das coisas mais lindas do cinema.
Eu adoro como o Kiarostami, em um filme tão direto que carrega um estilo documental, não abandona a mise en scène. Tudo no quadro fala da realidade daquelas crianças e relata a história de um povo. E o texto nem precisou dizer diretamente: quando, no início do filme, a mãe estende roupas no varal, um lençol cobre a sua visão para o filho — logo entendemos que a criança, naquele contexto, muitas vezes é silenciada e posta em situações de invisibilidade. E é interessante como o filme não toma um partido maniqueísta: não é que os adultos sejam maus; é que do contexto material daquela sociedade resultam esse relacionamento dos pais quanto ao trabalho e quanto às crianças.
Em uma das cenas finais, o filme reitera esse não-maniqueísmo, quando, em um plano de profundidade de campo, a criança, enquanto faz o dever de casa de seu amigo, observa a mãe retirar do varal o lençol que em cenas anteriores o escondia. Nesses momentos lembramos o porquê amamos o cinema.
Não é dos piores filmes do mundo como os usuários do filmow e os otakus querem nos fazer acreditar.
Death Note tem uma proposta que foge bastante do anime, reformulando até mesmo a personalidade de suas personagens. Até acredito que, dentro do contexto americanizado proposto, essa mudança foi necessária.
Gosto da coragem do Wingard de realizar um filme tão frontal quanto ao seu gênero, isto é, a coragem de realizar um filme que acredita fielmente nas convenções mais puras do terror -- com a presença do gore e do macabro na narrativa --, do thriller policial -- pela estrutura clássica da história de perseguição --, e até mesmo dos filmes de adolescente -- que se refletem nas personalidades das personagens e nos diálogos delas.
Obviamente, seguir por esse caminho implicaria a escolha de um estilo de direção que a justificasse. Aqui, Wingard resolveu fugir do realismo e abraçou um tom divertido e jocoso quanto ao seu enredo. Essa escolha também se encontra no uso música pelo filme, nos excessivos planos holandeses, nas cores extravagantes em algumas cenas, no slow motion e em diversos outros aspectos que caracterizaria Wingard como um maneirista tardio.
Essas escolhas fogem do que seria facilmente consumido e aceitável pelo atual mercado. E é, no mínimo, admirável a coragem e a concepção da equipe por trás do filme.
Pisando um pouco mais no chão, é óbvio que Death Note também não é um grande filme e está cheio de problemas. O ritmo do filme talvez seja um de seus principais problemas, sendo acelerado ao ponto de tirar o impacto de seus acontecimentos nos telespectadores. Além disso, não há espaço para a criação de vínculos com suas personagens, tornando-nos apáticos quanto a todos os acontecimentos do filme.
No fim, o filme não é um dos piores já feitos, é até divertido para quem não espera uma cópia fiel do anime e pode vê-lo como um exercício autoconsciente e irônico.
É um filme-paradigma: inovador em sua forma, manipula elementos do terror clássico ao ponto de parecerem novos. E faz isso com maestria, já que, ainda que saibamos desde o início que todos ali vão morrer, o filme nunca se esvazia da tensão e nunca deixa de nos incitar a curiosidade, principalmente, pela ausência da imagem concreta da bruxa ou do assassino.
Quanto à forma, o realismo do filme, alcançado tanto pelo amadorismo da fotografia (resolução, enquadramento etc) quanto pelos diálogos improvisados, é manipulado por uma montagem que se alterna entre os pontos de vista das personagens, sempre em primeira pessoa. Além disso, elementos tradicionais da montagem, como os jumps cuts, são justificados formalmente pela rotina dos jovens: acordamos com eles, acompanhamos a sua trilha e também dormimos com ele, com cortes nos momentos em que os jovens não acham oportunos para a filmagem.
A atmosfera do filme é incrível e poderia facilmente se passar por um compilado de vídeos reais. Adoro A Bruxa de Blair.
O filme sugere semelhanças ao Bebê de Rosemary o tempo inteiro, e é incrível como esses paralelos só mostram como o filme do Polanski é infinitamente superior em tudo.
Ainda assim, não acho que Annabelle seja um filme de todo horrível, acredito que a tensão, quando concentrada e restrita à casa e à família, funciona muito bem. Os maiores problemas surgem quando o filme transcende essas esferas, por exemplo, quando introduz e executa as ações do padre e da dona da livraria, ainda mais levando em consideração que ambos carregam uma função de grande importância narrativa.
Não acho justas as críticas que rebaixam o filme pelo simples fato de utilizar truques tradicionais do horror, como o jump scare. Principalmente depois da "ascensão" dos diretores da A24, filmes de terror mais tradicionais estão sendo ridicularizados sem nenhum sentido, sendo rebaixados a uma categoria menos nobres, por não sobrepor o drama ao susto. Nessa onda, o recurso do Jump Scare foi e é um dos mais injustiçados, ainda que isso não faça nenhum sentido: já que uma técnica não carrega valor em si e não pode ser julgada individualmente, retirada de um contexto. O Leonetti não é dos maiores diretores em exercício, mas, nesse filme, há diversos jumps scare que são bem orquestrados -- não sendo isso, nem de longe, um dos maiores problemas do filme.
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraReassisti ontem e notei uma influência bressoniana que eu ainda não tinha reparado. Grande filme!
Janela Indiscreta
4.3 1,2K Assista AgoraAqui Hitchcock, basicamente, faz um ensaio sobre a natureza do cinema. A proposta de um filme desenvolvido a partir do ponto de vista de um único local é uma limitação formal que abre possibilidades interessantes para a criatividade do autor.
Essa mesma limitação é o ponto central do filme, pois é dela que vai derivar o tema metalinguístico do voyeurismo. Jefferies, Lisa e Stella exercem o mesmo papel do cinéfilo: assistir aos acontecimentos passivamente; deles, entender sua narrativa/proposta e então, a partir de deduções, preencher lacunas, como aquelas de motivações das personagens.
A cena de agressão do Sr. Thorwalds à Lisa é o exemplo mais claro da passividade do espectador: Jefferies assiste a tudo com horror, mas nada pode fazer senão olhar. É justamente isso que caracteriza as artes em geral, a passividade e o efeito estético paralisante.
Já quando Jefferies é atacado pelo Sr. Thorwalds, aquele que antes era espectador passa a ser um ator ativo no acontecimento. Nessa cena, Hitchcock se utiliza de um paralelismo: o mesmo efeito e os mesmos sentimentos que Jefferies sentiu, na cena da estrofe anterior, são repercutidos em nós espectadores. Nada podemos fazer diante daquele medo e revolta senão olhar.
É o cinema.
Instinto Selvagem
3.6 550 Assista AgoraVerhoeven gênio gênio gênio
Você é o Próximo
3.2 1,5K Assista AgoraNo começo, me lembrou muito de Festa de Família, do Vinterberg, não só pelo tema, mas pela maneira que a história era conduzida, que as falas eram intercortadas e que a tensão entre os familiares ia se formando.
Acho que o Wingard tem muito controle do que quer contar, dosando bem o tom da história com personagens caricatos e com a pornografia da violência. Assim, com toda essa caricatura, o filme até se torna cômico -- o final evidencia isso. Penso que essa proposta foi bem balanceada com a tensão e o terror característicos desse tipo de filme.
A inversão do slasher foi bem divertida, em nenhum momento esvaziou o filme da tensão e acho que até criou possibilidades narrativas interessantes com os pontos de virada do filme.
Vale a pena assistir Você é o próximo
Nada de Novo no Front
4.0 611 Assista AgoraNarrativa um tanto asséptica
Sangue Negro
4.3 1,2K Assista AgoraLindo demais. É uma forte crônica sobre a relação do homem com o poder.
Muitas vezes me lembrou d'O Tesouro de Sierra Madre, do John Huston, e o filme do PTA não fica muito atrás não.
RoboCop: O Policial do Futuro
3.6 681 Assista AgoraPorra, RoboCop é muito bom.
Gosto muito de como o Verhoeven se posiciona politicamente em cada cena do filme e ainda assim não deixa de ser objetivo e não transforma o seu filme em um panfleto. Robocop tem muito da estética americana dos anos 80 e repete vários arquétipos e fórmulas da época, mas até essa repetição é utilizada de uma maneira que reforça a ideia crítica passada pelo filme.
Além dessa intelectualização da mensagem, ainda vejo que RoboCop é sobretudo do cinema de gênero, desenvolvendo, sem muita enrolação, a ação do filme, com cenas de muita violência, tensão e estímulos.
Ricos de Amor
3.3 290Esse filme tem a pior trilha sonora da história
Armageddon Time
3.3 46 Assista AgoraA gente tá nessa onda de filmes coming-of-age feitos por grandes diretores, tivemos o do PTA, o do Spielberg e agora o do Gray. Desses três diretores, acho que o Gray é o meu favorito e, juntando ao fato de que ele é o que melhor trata das relações familiares em seus filmes (vide toda a sua filmografia), eu estava bem ansioso para ver Armageddon Time.
De cara, posso afirmar que é um dos mais fracos do James Gray, o que não quer dizer que seja ruim. Acho que ele funciona muito bem quando se limita a ser um filme intimista, sem a pretensão de captar o espírito de uma geração inteira -- que é o que o título e algumas cenas parecem sugerir.
Assim, as cenas que mostram a relação de Paul com o seu avô, em contraste com os demais familiares, as que mostram a inquietação de seus pais, bem como a sua amizade com Johnny, todas essas cenas mais intimistas funcionam muito bem. Elas nos comovem e nos vendem bem a mensagem do filme.
Mas parece que o filme também se importa em captar o espírito de uma época, e é aqui que residem os maiores problemas do filme. As cenas políticas parecem desconectadas do resto do filme e assumem um tom de grandiosidade, que o filme parece rejeitar em todas as outras cenas com a sua proposta de memórias pessoais. Não funciona como em Licorice Pizza, no qual o contexto político e o espírito da geração são personagens do filme ao lado das memórias intimistas do diretor.
Quanto à proposta formal, eu gosto do que esse filme representa na carreira do James Gray. Ele que é um diretor que sempre sugere um tom épico em seus filmes, ainda que eles falem de assuntos muito pessoais e sempre relacionados à família. Os recursos para atingir esse tom geralmente estão associados tanto à grandeza dos temas (a imigração, a exploração de um lugar selvagem, a ida ao espaço) quanto ao movimento narrativo de suas tramas.
Isto é, James Gray constrói filmes com ritmos de ascensão lenta, mas contínua. Chegamos ao clímax de maneira muito sutil, sem perceber como o filme chegou até ali. E esse momento de ápice é sempre muito perceptível, já que os seus temas não abordam questões simples.
E eu gosto de como Armageddon Time vai contra essa lógica. É um filme sem clímax, que se sustenta pelo flow dos acontecimentos. Não há uma grande motivação como força motriz do filme, senão o próprio envelhecimento e a melhor compreensão do mundo. Tanto que o filme acaba com a consciência de Paul sobre a injustiça do mundo.
É um bom filme, apesar de seus problemas
O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro
4.1 133 Assista AgoraFilmaço! O que o Glauber Rocha faz com a mise-en-scène nesse filme é coisa de gênio.
A Mula
3.6 354 Assista AgoraRevi esses dias, logo depois de ter visto Gran Torino. Ambos os filmes são muitos próximos tematicamente.
Gosto muito da facilidade do Clint de nos fazer ter empatia por suas personagens. Isso é resultado de um domínio pleno da forma: em nenhum momento nos vende uma figura perfeita, mas sim uma que, apesar de suas qualidades, é cheia de defeitos e está em busca da rendição, ou de sua melhor versão. É uma fórmula recorrente no cinema de Eastwood, acho que é até a mesma estrutura de Os Incompreendidos e de As Pontes de Madison.
Enfim, Gran Torino e A Mula são dois grandes filmes do cinema contemporâneo. Vale a pena assistir
Falsa Loura
2.9 139Filmão! Um dos melhores do cinema nacional.
Reichenbach, na contramão do mainstrean, faz um filme maneirista, cheio de exageros estilísticos que se concentram principalmente nos diálogos e nas sequências musicais. Porém, o diretor tem plena consciência e o total controle disso tudo -- é como se Silmara estive em uma constante busca de um mundo caricato, em que ela seria o centro, dominaria e conquistaria tudo, como uma princesa. Por vezes, essa fantasia é expressa até em sonhos, como na cena que ela se imagina dentro de um clipe musical. São atitudes claras de escapismo da sua realidade de operária e de mulher desgastada.
O filme brinca o tempo todo com essa ilusão, que Silmara alimenta, de que ela pode furar a sua esfera social e provar mais dessa vida que está tão distante da sua realidade. Não à toa, toma uma champanhe em um dos momentos mais importantes do filme; conhece e "namora" Bruno de André, que é famoso e rico; e o mais simbólico de tudo isso: é loira --mas uma loira operária de unhas sujas, ou melhor, como Leonel diz, é uma "falsa loura".
Penso que há uma grande dose de cinismo que alimenta toda essa narrativa. É que o arco final do filme se repete duas vezes e faz não só a Silmara mas também o telespectador acreditarem que aqueles acontecimentos terão fins diferentes. Estou me referindo ao caso de Silmara com Bruno e Luís. Com o primeiro, a loira, incentivada pelo tesão e pela sua fantasia de princesa, chega a abandonar o seu trabalho para fugir com o cantor. No fim, percebe que ele a tratava como uma vagabunda qualquer. Ou seja, ao mesmo tempo que ela fura a bolha de sua realidade, aquela esfera social sempre a tratará como um objeto indigno de receber um outro tratamento.
A mesma coisa acontece no seu relacionamento com Luís-- desiludida, antes de conhecer o homem com que sairia, Silmara deixa claro que não irá dormir com ele, pois não é uma "garota de programa", e a contratante de seu serviço enfatiza que nada disso acontecerá, pois o homem era um humanista que apenas queria conhecê-la. Quando Silmara vê que o "humanista" que a contratou era o seu maior ídolo, ela desiste daquela negativa inicial e cede aos braços de Luís. Ocorre que na manhã seguinte ela é abandonada novamente e novamente tratada como um vagabunda. É literalmente a mesma estrutura e a mesma mensagem: ela não pertence àquele mundo e, aparentemente, sempre será tratada assim.
A mensagem fica ainda mais com a cena final, pois voltando do final de semana de desilusão, o táxi a deixa na fábrica -- o lugar ao qual pertence.
A Primeira Noite de Um Homem
4.1 810 Assista AgoraAssisti esse filme pela primeira vez lá pelos meus 14 anos e, na época, odiei. Não entendia a revolta e as atitudes de Benjamin, tampouco a decisão de Elaine. A cena final eu achava um tanto sem sentido e o último ato fora do tom.
Reassistindo depois de 8 anos, um pouco depois da idade de Benjamin, percebo como assisti pela primeira vez no momento errado da vida. A insegurança sobre o futuro é mesmo o pensamento que nos define nessa idade, levando-nos a fazer coisas inconsequentes, às vezes por sede de transgredir a tradição, às vezes pela falta de sentido da vida mesmo.
Mike Nichols tem um domínio formal incrível, o que nos foi mostrado desde o seu filme de estreia. Aqui, o uso da montagem dá um ritmo leve ao filme e nos proporciona cenas marcantes, como o corte em que o movimento de Benjamin saindo da piscina se mescla ao abraço do jovem à Mrs. Robinson. A fotografia brinca o tempo todo com as sombras e, por meio delas, sugere os sentimentos das personagens: enquanto Benjamin aparece frequentemente na sombra, Mrs Robinson sempre aparece iluminada, sugerindo tanto a confusão e a insegurança dele, como a objetividade e a frieza dela.
Nessa segunda vista do filme, percebi uma coisa óbvia que não tinha ficado claro na minha adolescência: The Graduate é muito mais sobre os embates da juventude e os questionamentos da meia-idade do que sobre o adultério e o casamento. Óbvio que Mike Nichols, sendo o nosso maior ensaísta dos relacionamentos (vide Quem Tem Medo de Virginia Woolf, Ânsia de Amar e Close), aproveita as deixas do filme para também refletir sobre o casamento dos Robinson, mas ele o faz sempre em função das problemáticas levantadas pelo confronto juventude-meiaidade, reiterando o tema principal do filme.
Entendo que o filme enfrenta um problema de ritmo quando Benjamin vai à Berkeley em busca de Elaine. Por vezes, parece até mesmo um outro filme, mudando bruscamente o seu arco e ritmo. No entanto, é dessa ida à Califórnia que surge o motivo da sequência final, apresentando assim uma boa função e justificativa para aquele arco.
A cena final se tornou uma das minhas favoritas do cinema. O olhar distante carrega o peso da reflexão feita durante todo o filme, é a epítome daquela fase da vida, em que a revolta se importa muito mais com a fuga do que com o destino.
Shin Godzilla
3.6 152 Assista AgoraBom filme e um bom entretenimento.
Nos primeiros 45 minutos iniciais, fiquei vidrado com a montagem desse filme. Anno dá a velocidade de que precisam as cenas de urgência: sempre com planos e contraplanos fechados, e quase distorcidos, nos rostos das personagens, que se intercalam de forma monótona, porém, frenética, nos diálogos da reunião. Na montagem, ainda há certa ironia quando o diretor alterna as cenas de sobriedade e burocracia do governo com as cenas de horror e força do Gojira.
Digo que a montagem me encheu os olhos durante os 45 minutos iniciais não pela perda de interesse nesse aspecto do filme, mas por entender que a partir daquele momento, não haveria mais tanto espaço para novas "fórmulas" de montagem. Os esquemas são sempre os mesmos: planos e contraplanos rápidos, dollies para acompanhar as caminhadas em grupo dos burocratas engravatados e alternância de cena entre burocrata e Gojira. Não vejo essa repetição como um demérito, ela cumpre uma função narrativa que muito condiz com o contexto do filme: a vida burocrática e cheia de regras daqueles políticos.
Essa dicotomia de comportamento de burocratas e monstro é trabalhada durante o filme inteiro, mostrando, de forma quase irônica, como o governo se preocupa, com o que se preocupa, como funciona e como interage com outros Estados. A partir dessa forma, o filme assume um lado político, mantendo as raízes do filme original da década de 50, ao apontar as atitudes duvidosas dos EUA, sem cair em um maniqueísmo fácil.
No fim, me peguei pensando se a personagem da Patterson não era extremamente estereotipada e unidimensional, mas percebi que ela, na verdade, é apenas o retrato fiel do que significa os Estados Unidos.
A Hora do Pesadelo
3.8 1,2K Assista AgoraAssisti a Scream (1996) há pouco tempo e percebi como o Wes Craven tem uma relação original e corajosa com o terror. Enquanto em Scream, há uma autoconsciência satírica e irônica quanto ao subgênero slasher e ao genero de terror em geral, em Nightmare on Elm Street, o diretor se joga de fato nas convenções que seriam posteriormente ironizadas.
E ainda que seja um filme mais tradicional em sua ambientação e forma, vejo que Wes Craven mistura muito bem as cenas de horror com as de nojo e as de fantasia. Essa harmonia é interessante porque são elementos que fazem parte do próprio tema do filme: os sonhos — existindo assim uma justificativa formal para o seu uso.
Dentro desse tema, Wes Craven encontra recursos para a construção do horror de forma muito interessante: além do monstro e das mortes, a tensão é construída pelo simples fato de sabermos que aquilo acontece no mundo dos sonhos, e, assim, ficamos tensos torcendo para que ninguém durma. A trilha sonora, principalmente, no início do filme contribui bastante para a construção dessa tensão (fico pensando como esses temas musicais costumavam ser mais simples e muito mais eficientes do que os atuais).
Gosto muito como o diretor brinca com as cores e com o design de produção nesse filme. O Freddy Krueger virou um ícone da cultura pop, principalmente pela eficácia desse trabalho: as cores verde e vermelho em listras se tornaram uma marca impossível de não reconhecer. E não é à toa que, no final do filme, o diretor precisou apenas pintar a capota do carro nessas cores para fazer todo mundo entender o que estava acontecendo naquele momento.
Dou mais destaque ainda as cores utilizadas para representar a Nancy. No meio de um filme de vermelho vívido e verde asqueroso, Nancy surge em todas as cenas acompanhada do azul, seja em sua roupa ou em algum elemento do cenário (como o seu telefone). E essa cor contrastante do resto do filme reflete bem o que é a sua personagem: a mais religiosa e a mais pura, que se recusa a pecar contra a castidade, reza pedindo a proteção de Deus e dorme abraçada com um crucifixo.
Com esses inúmeros recursos, penso que A Nightmare on Elm Street seja um filme consciente da sua posição na tradição do horror, assim como foi Scream, porém, diferentemente deste, aqui Wes Craven inova essas convenções não no sentido de ironizá-las, mas, principalmente, no sentido de reafirmá-las para inserir o seu filme na mais alta prateleira dessa tradição do terror.
No Tempo das Diligências
4.1 141 Assista AgoraFilme lindo e talvez o mais importante do gênero. Foi o primeiro western falado do John Ford, e eu gosto muito de como as falas são usadas até em excesso para explorar ao máximo a personalidade de cada um. Por exemplo, nas cenas inicias, o ritmo é rápido e caótico: naquele momento, há uma grande quantidade de personagens falando, por vezes, até uns por cima dos outros, e não sabemos quem, de toda aquela multidão, fará parte da viagem. E mesmo quando a diligência começa a sua viagem, a cadência é rápida, mas logo nos acostumamos com as personalidades de cada um, que são tão marcantes que chegam a ser caricatas.
Penso que o ritmo começa a diminuir e os personagens a se desenvolver melhor a partir da entrada da personagem de John Wayne, com aquela apresentação marcante: um dolly em direção ao homem que, enquanto segura uma sela em uma mão, roda uma espingarda com a outra. É um daqueles momentos que não precisaria nem mesmo de som, a imagem mostra tudo. A partir de então, parece que a presença de Ringo apazigua o ritmo caótico do filme, enquanto aumenta a tensão entre as personagens, criando, inclusive, um novo arco para Dallas, que já fazia parte da carruagem.
Essa tensão entre os personagens cerrados em ambientes pequenos e claustrofóbicos é um dos grandes feitos de John Ford que se refletiria posteriormente em diversos outros filmes com essa mesma característica. E é até curioso pensar que um filme de Faroeste, cuja grande massa espera apenas brigas, duelos e atos heroicos, seria desenvolvido quase em sua totalidade a partir de diálogos comuns entre pessoas comuns.
No entanto, quanto à ação característica dos filmes de faroeste, ela não fica para trás nesse filme. A cena de ataque dos apaches é longa e tensa, resultado alcançado principalmente pela montagem e grandes acrobacias feitas pelo dublê. Como um colega falou em um dos comentários daqui, a cena chega a lembrar até mesmo Mad Max, com seus tiros à distância no meio do deserto.
No Tempo das Diligências é um filme lindo, paradigmático e surpreendente. Confesso que não é o meu favorito do John Ford porque ainda prefiro O Homem que Matou o Facínora.
O Pálido Olho Azul
3.3 272 Assista AgoraGenérico e extremamente repetitivo em sua estrutura
Onde Fica a Casa do Meu Amigo?
4.2 145 Assista AgoraÀs vezes, é desse calorzinho no coração de que precisamos. Tudo é muito simples, direto e inocente. A decisão do Ahmed de esconder o caderno na camisa e mentir para o senhor das janelas é uma das coisas mais lindas do cinema.
Eu adoro como o Kiarostami, em um filme tão direto que carrega um estilo documental, não abandona a mise en scène. Tudo no quadro fala da realidade daquelas crianças e relata a história de um povo. E o texto nem precisou dizer diretamente: quando, no início do filme, a mãe estende roupas no varal, um lençol cobre a sua visão para o filho — logo entendemos que a criança, naquele contexto, muitas vezes é silenciada e posta em situações de invisibilidade. E é interessante como o filme não toma um partido maniqueísta: não é que os adultos sejam maus; é que do contexto material daquela sociedade resultam esse relacionamento dos pais quanto ao trabalho e quanto às crianças.
Em uma das cenas finais, o filme reitera esse não-maniqueísmo, quando, em um plano de profundidade de campo, a criança, enquanto faz o dever de casa de seu amigo, observa a mãe retirar do varal o lençol que em cenas anteriores o escondia. Nesses momentos lembramos o porquê amamos o cinema.
Death Note
1.8 1,5K Assista AgoraNão é dos piores filmes do mundo como os usuários do filmow e os otakus querem nos fazer acreditar.
Death Note tem uma proposta que foge bastante do anime, reformulando até mesmo a personalidade de suas personagens. Até acredito que, dentro do contexto americanizado proposto, essa mudança foi necessária.
Gosto da coragem do Wingard de realizar um filme tão frontal quanto ao seu gênero, isto é, a coragem de realizar um filme que acredita fielmente nas convenções mais puras do terror -- com a presença do gore e do macabro na narrativa --, do thriller policial -- pela estrutura clássica da história de perseguição --, e até mesmo dos filmes de adolescente -- que se refletem nas personalidades das personagens e nos diálogos delas.
Obviamente, seguir por esse caminho implicaria a escolha de um estilo de direção que a justificasse. Aqui, Wingard resolveu fugir do realismo e abraçou um tom divertido e jocoso quanto ao seu enredo. Essa escolha também se encontra no uso música pelo filme, nos excessivos planos holandeses, nas cores extravagantes em algumas cenas, no slow motion e em diversos outros aspectos que caracterizaria Wingard como um maneirista tardio.
Essas escolhas fogem do que seria facilmente consumido e aceitável pelo atual mercado. E é, no mínimo, admirável a coragem e a concepção da equipe por trás do filme.
Pisando um pouco mais no chão, é óbvio que Death Note também não é um grande filme e está cheio de problemas. O ritmo do filme talvez seja um de seus principais problemas, sendo acelerado ao ponto de tirar o impacto de seus acontecimentos nos telespectadores. Além disso, não há espaço para a criação de vínculos com suas personagens, tornando-nos apáticos quanto a todos os acontecimentos do filme.
No fim, o filme não é um dos piores já feitos, é até divertido para quem não espera uma cópia fiel do anime e pode vê-lo como um exercício autoconsciente e irônico.
A Bruxa de Blair
3.1 1,6KÉ um filme-paradigma: inovador em sua forma, manipula elementos do terror clássico ao ponto de parecerem novos. E faz isso com maestria, já que, ainda que saibamos desde o início que todos ali vão morrer, o filme nunca se esvazia da tensão e nunca deixa de nos incitar a curiosidade, principalmente, pela ausência da imagem concreta da bruxa ou do assassino.
Quanto à forma, o realismo do filme, alcançado tanto pelo amadorismo da fotografia (resolução, enquadramento etc) quanto pelos diálogos improvisados, é manipulado por uma montagem que se alterna entre os pontos de vista das personagens, sempre em primeira pessoa. Além disso, elementos tradicionais da montagem, como os jumps cuts, são justificados formalmente pela rotina dos jovens: acordamos com eles, acompanhamos a sua trilha e também dormimos com ele, com cortes nos momentos em que os jovens não acham oportunos para a filmagem.
A atmosfera do filme é incrível e poderia facilmente se passar por um compilado de vídeos reais. Adoro A Bruxa de Blair.
Triângulo da Tristeza
3.6 730 Assista AgoraO Ruben Ostlund se especializou em fazer cenas de jantares, sério. Em todos os outros filmes dele há alguma grande cena que se passa em um jantar.
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista AgoraAdorei esses 64 trailers!!
Quando sair o filme me avisem
Ad Astra: Rumo às Estrelas
3.3 850 Assista AgoraOntem, assisti Ad Astra pela segunda vez. O filme melhorou muito.
Annabelle
2.7 2,7K Assista AgoraO filme sugere semelhanças ao Bebê de Rosemary o tempo inteiro, e é incrível como esses paralelos só mostram como o filme do Polanski é infinitamente superior em tudo.
Ainda assim, não acho que Annabelle seja um filme de todo horrível, acredito que a tensão, quando concentrada e restrita à casa e à família, funciona muito bem. Os maiores problemas surgem quando o filme transcende essas esferas, por exemplo, quando introduz e executa as ações do padre e da dona da livraria, ainda mais levando em consideração que ambos carregam uma função de grande importância narrativa.
Não acho justas as críticas que rebaixam o filme pelo simples fato de utilizar truques tradicionais do horror, como o jump scare. Principalmente depois da "ascensão" dos diretores da A24, filmes de terror mais tradicionais estão sendo ridicularizados sem nenhum sentido, sendo rebaixados a uma categoria menos nobres, por não sobrepor o drama ao susto. Nessa onda, o recurso do Jump Scare foi e é um dos mais injustiçados, ainda que isso não faça nenhum sentido: já que uma técnica não carrega valor em si e não pode ser julgada individualmente, retirada de um contexto. O Leonetti não é dos maiores diretores em exercício, mas, nesse filme, há diversos jumps scare que são bem orquestrados -- não sendo isso, nem de longe, um dos maiores problemas do filme.