Rogério Nunes

[/spoiler]O principal é Messias, o primeiro companheiro dele é a lógica, a mulher do cachorro é a empatia humana, o negão é a fé, a mãe da garotinha é tipo a justiça feita com as próprias mãos. É como se Jesus tivesse se sacrificado por todos. A garotinha é a esperança, ela é pura e pode ser encontrada no fim do poço. O Messias se sacrificou por todos e mostrou a esperança para quem era da administração (Deus). Reparem que tudo que vem de cima, vem perfeito, os humanos deturpam tudo conforme vai descendo. Depois que ele e o negão descem nos níveis mais baixos, eles se deparam com pecados mundanos. A preguiça (a mulher com traveseiro), a inveja/soberba (o cara com cabelo branco que fala que é merecedor só por estar por cima), a ira (os dois caras violentos que mataram a mãe da garotinha), a luxúria (os cara pelados na piscininha), a ganância (o coroa que estava com dinheiro), a gula (o garoto com sidrome de down que nem tinha acabado de comer e estava falando em abrir a barriga do companheiro só pra comer o que tinha dentro dele), e até o materialismo (o filme da ênfase para o cara largar o violino em suas mãos).

Sobre os níveis e os pecados representados nas pessoas e seus objetos, existe uma analogia sutil vinculada ao protagonista para além da figura do "messias", e essa analogia remete justamente ao livro Don Quixote que ele escolheu. A história do livro conta sobre um homem que se diz cavaleiro errante e que vive em suas alucinações lutando contra moinhos de vento que ele diz ser dragões; e também de seu fiel escudeiro Sancho pança que diferentemente não é alucinado e vive (no livro) o lado racional e tenta por si só convencer Don Quixote. No filme Gorengh seria a representação de Don Quixote e seu primeiro colega de cela seria Sancho pança que mesmo em alucinações tenta convencer através de meios racionais Gorengh a fazer suas escolhas. A idéia ao final confuso do filme sobre a menina existir ou não, sobre a própria plataforma flutuante, sobre os quase infindáveis fins de um poço, sobre ele escolher estar lá por conta própria para ganhar um certificado homologado, sobre ele parar de fumar, retrata a possível alucinação de Gorengh durante o filme todo. A entrevista que ele faz sozinho com a mulher, mais parece uma consulta em uma clínica psiquiátrica, e logo depois ele surta e acaba por esfaquear o colega de cela que tenta come-lo vivo. Ele também sabia e conhecia a faca do colega de cela pelo nome. A sala ao começo do filme mostra uma porta, e depois nas outras ela já não existe. Uma interpretação alternativa sugere que ele é um louco alucinado, perigoso e que vive preso em uma clínica psiquiatrica onde as pessoas que ele encontra durante o filme também vivem presas nesse lugar.

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