Filme simplesmente estupendo! Imagens que dificilmente sairão da minha cabeça. Eu não tinha assistido ainda outro filme do Giadagnino, mas verei, com certeza. Ele transmitiu um impacto enorme na minha visão e nos outros sentidos. Deu para sentir o filme na mente e no corpo, como algo hipnótico. Me vi envolvido nas mais de duas horas de um jeito que não me via há muito tempo, com poucas exceções mais recentes. O filme acerta ao não querer seguir à risca o estupendo filme do Argento, sabendo como ter uma natureza própria. Tirou os elementos de giallo do original e colocou outros elementos de horror que couberam muito bem aqui. E a trilha do Thom Yorke tem um quê de doce, mas de um jeito que dá para sentir que tem algo errado ali. Maravilhoso. E as atuações são excelentes, com destaque para a camaleoa Tinda Swinton.
As Diabólicas (Les Diaboliques) de 1955 é um primoroso suspense psicológico. O roteiro não tem pressa em desenvolver a história, porém não demora em estabelecer as principais características dos personagens centrais. É muito bem dirigido, tem um bom ritmo, apesar da falta de pressa, e também intriga e provoca uma tensão crescente conforme a verdade vem chegando aos poucos, até o seu final bastante surpreendente. A falta de trilha sonora faz os momentos de silêncio absoluto serem angustiantes e deixa o filme mergulhado numa atmosfera mais natural, porém não menos estranha.
Agora, destaco a dinâmica entre a esposa Christina (Véra Clouzot) e a amante Nicole (Simone Signoret) do odioso Michel Delassalle (Paul Meurisse). As duas são contrapontos perfeitos. Enquanto Christina é mais insegura e a perfeita expressão de culpa, Nicole é mais fria e calculista, porém com limites, apesar desta faceta mais frágil não aparecer até o último momento. Signoret está estupenda no papel.
RECOMENDO DEMAIS!
Curiosidade: este filme francês teve um remake americano em 1996, com o título de Diabolique, com Sharon Stone no papel da amante.
A Balada de Buster Scruggs, dos irmãos Coen, é uma mistura divertida da crueza de Onde os Fracos não Têm Vez (não em todos os segmentos, deixo isso claro) com outros filmes dos Coen um pouco mais escrachados no humor. São 6 histórias que seguem em direções próprias, com diferentes tons, mas carregadas do mesmo DNA cinematográfico dos irmãos, apesar de eu tê-lo sentido um pouquinho mais contido nas mirabolâncias típicas dos roteiros de seus filmes. Recomendo.
Bom filme. Repleto de silêncios, mas barulhento como o cotidiano costuma ser. Os planos são em maioria feitos de câmera parada, movendo-se bem pontualmente, mas o que capta é tão cheio de movimento, numa edição que equilibra bem a paciência nos movimentos, mas corta nos momentos certos para nos dar uma boa noção de passagem de tempo e de ritmo. Vemos tudo pelo ponto de vista de Mamad, um garoto de poucas palavras, que dá duro no trabalho, mas tem ares de sonhador. Gostei.
Muito boa estréia de Polanski na direção de um longa. O roteiro em si é bem simples em termos de acontecimentos, com Polanski concentrando o desenvolvimento da história pelas imagens e pelas boas performances do trio de atores, que trazem uma profundidade psicológica bem sutil. Mesmo com o filme se passando praticamente todo num barco, Polanski explora muito bem o cenário inóspito ao redor e também cada uma das partes do barco, apesar de ser um filme bem claustrofóbico. O trio de atores está muito bem em seus personagens, e o jovem me causava nervoso por causa de seus gestos imprevisíveis, o que reforçava a sensação da iminência de uma grande tragédia, mesmo não tendo muita coisa acontecendo até certo ponto. O filme me surpreendeu em seu final, indo totalmente na direção oposta de minhas expectativas de como terminaria, pois o filme dava muito a entender que seguiria por uma determinada direção. Muito bom. Gostei.
Muito bom, um clássico. Apresenta uma boa e marcante composição de imagens, que se fixam na mente, mesmo com as limitações da época. O filme sofre também pela censura da época, que não permitia mostrar cenas mais violentas, mas compensa pela atmosfera de terror, que não aterroriza hoje em dia, mas é bem clássica e elegante, e também pela caracterização de Drácula e a performance marcante de Bela Lugosi. Muitas características que se perpetuariam na mitologia dos vampiros surgiram aqui.
Este primeiro filme de Almodóvar é uma comédia MUITO politicamente incorreta como há muito não se vê, o que torna complicada a tarefa de avaliar ante certos valores e mudanças de paradigmas dos dias de hoje. As situações bizarras (que não são poucas) são apresentadas num tom de puro sarcasmo, expondo sem sutilezas os comportamentos humanos mais grotescos. Mas o filme não é apenas bizarrice. Há alguns aspectos mais sérios, mas misturados ao bizarro, deixando a sensação de que você está assistindo algo muito, mas muito errado. É um filme que não poupa a quem assiste e vai depender do quanto a pessoa sabe lidar com a franqueza bizarra de Pedro Almodóvar.
De comédias dele, eu só tinha assistido ao Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (excelente), que flerta com esse lado ácido, mas já é mais dosado neste aspecto do humor de Almodóvar. Aqui, neste primeiro filme, a trasheira e a polêmica tomam conta. Gostei do filme como filme, mas estou meio confuso pelo conflito de emoções que este filme me despertou. Me pegou de surpresa, pois a sinopse bem vaga não me preparou bem para essa viagem louca. rs
Tá aí um filme que me surpreendeu. Não esperava muita coisa, apesar de ser um título de destaque na lista de video nasties. Eu achava que fosse mais um filme puramente tosco, no sentido de mal feito, mesmo, mas, mesmo não sendo um filme primoroso, tem suas intenções cumpridas de filme cru, com uma típica estética suja setentista influenciado pelo punk rock, uma galeria de personagens intragáveis e muito incômodo sonoro (que vai desde a banda horrível, que toca de cinco em cinco minutos, culminando nos assassinatos).
Sinto que há nessa bagunça de elementos a intenção de externalizar o mundo conturbado do protagonista, que se transforma de fora para dentro e depois o contrário, quando seus impulsos querem sair. Quando isto acontece, o filme parte para o gore sem medo de ser ainda mais grotesco. Não vejo este filme como um slasher propriamente dito (o assassino não é bem uma máquina de matar movida só pela compulsão, existe mais por trás de suas atitudes), mas as mortes podem ser consideradas típicas desses filmes.
Ainda há espaço para o humor negro, para uma estranheza que pode ser vista na atitude da maioria dos personagens. Uma pena que os atores aqui não são muito bons e o filme acaba aborrecendo quem assiste devido aos personagens. Abel Ferrara vai bem no papel de Reno. Apesar de Reno ser alguém irritadiço quase todo o tempo, o que faz ele ser pouco carismático, ele pelo menos me convence como alguém problemático.
Gostei. Creio que não seja uma das melhores obras de Abel Ferrara, mas este filme serve como um ensaio experimental para futuras obras subversivas de maior impacto.
Surreal ao extremo, o primeiro filme de Lynch é uma obra esteticamente impressionante e desconcertante por sua fotografia em preto e branco, que combina demais com a proposta, além de um quê de expressionismo alemão nos cenários e também nos próprios personagens.
Existe um tema central visível no que diz respeito à paternidade, mas é um filme dado a devaneios, levando a outros temas, e às metáforas visuais dignas de pesadelos, que refletem uma mente (conscientemente) perturbada. David Lynch chega com tudo com Eraserhead, uma experiência audiovisual visceral muito bizarra, mas não menos envolvente. É grotesco, porém hipnótico e difícil de largar.
Apesar de possuir elementos pontuais de horror, este não é um filme de horror. O marketing não foi dos mais felizes. E é até difícil de definir o filme dentro de um gênero específico. Além disso, Darren Aronofsky nos entrega uma obra que divide opiniões: você pode não entender a viagem proposta por ele e odiar o filme, você pode entender (ou pensar que entendeu) e amar, ou ainda você pode entender e se sentir extremamente ofendido com a mensagem. Quantas vezes, no cinema atual, você pode dizer isso de um filme?
É uma das obras mais insanas que eu já vi até hoje, no sentido de, assim como a personagem principal, eu ficar embasbacado sem saber o que está acontecendo e sem ter como parar de ver até que ponto essa loucura iria. Trata-se de um pesadelo filmado, apresentando um ambiente e situações que ferem e tornam vulneráveis a protagonista e o público, como nos melhores pesadelos. Nada aqui deve ser interpretado de maneira literal, e mesmo que você tente fazer assim, ainda é possível apreciar o filme pela experiência altamente incômoda em si (a princípio, foi como eu vi o filme, antes de considerar refletir melhor).
Muitos podem pensar que é apenas um filme que quer causar o choque pelo choque, mas quem conhece o Aronofsky, sabe que ele não faz as coisas sem um propósito, e este filme não é a sua primeira viagem neste sentido. Aqui ele não explica o que quer dizer, mas abre espaço para as mais variadas interpretações. O filme que eu vi pode não ser o mesmo filme para você. E eu acho isso muito, muito bom.
Primeiro filme de Fellini, em parceria com Alberto Lattuada, nos apresenta uma companhia de espetáculos, um diretor enfeitiçado por uma moça bela e ambiciosa, e este homem vivendo entre erros e acertos (mais erros que acertos, vale dizer) para tocar com seus projetos e também investir na carreira de sua amada.
O filme apresenta uma história simples, cativante, com vários momentos engraçados, ainda que apresente um peso necessário em seus aspectos mais dramáticos. Fellini já dá mostras, em seu primeiro filme, do criador de sonhos que ele viria a ser por meio de imagens que traduzem muito bem o espírito do espetáculo.
O destaque fica para "Meu limão, meu limoeiro" cantada na rua em plena madrugada.
Com um orçamento de 100 milhões de dólares, Mulher-Gato é quase uma obra prima cinematográfica em que você vê como esse dinheiro foi bem investido. Melhor filme da DC de todos os tempos. Uma grande obra de arte.
O diretor Pitof entrega um filme estilizado, dirigido com um cuidado em que podemos entender com clareza o que ocorre em cada corte nas cenas ação. Tudo aqui é brilhante. Principalmente o gato que a acompanha em sua jornada supimpa. Os caras aqui são bons: em vez de optarem por um gato digital, ensinaram bem o miau.
E o que dizer sobre a naturalidade com que Halle Berry pula de um lado para o outro (sim, nada disso foi efeito digital, algo que você pode notar perfeitamente), e sua atuação como Mulher-Gato? Só assistam! Ela já comove como Patience, uma moça insegura que tropeça bastante (num toque de originalidade do roteiro e da composição de personagem). A coisa só melhora quando ela se transforma.
Mas não é só Halle Berry que está bem no filme. Sharon Stone faz uma das vilãs mais marcantes dos filmes da DC, com motivações e poderes extraordinários. E Frances Conroy estava perfeita como a louca dos gatos. Frances Conroy em Mulher-Gato foi a cereja no bolo.
Mas o filme não é perfeito. Ele seria ainda melhor se fosse mais longo... Eu olhava o tempo e marcava, por exemplo, 30 minutos, mas poderia ainda estar nos 10. Eu acho que o filme poderia facilmente durar 3 horas. E eu acho que a música não foi tão invasiva quanto poderia ser, dando mais ainda um aspecto de videoclipe ao filme (afinal, saudades MTV. MTV Brasil forever). Eu também acho que o filme teve poucos cortes sem propósito, quando poderia ter mais.
Mulher-Gato é quase uma obra prima. Tem suas falhas, mas por suas qualidades (quais mesmo?) ganha uma estrela.
Em Crise temos um Bergman mais palatável, contando-nos uma história simples de entender, bem ao estilo do cinema clássico hollywoodiano, mas não faltando algo a mais. É um filme de estreia sólido, já tendo inserido pequenos pedaços de estilo do diretor, mas ainda não exatamente autoral.
Com roteiro baseado numa peça, com o próprio filme se colocando como se fosse uma peça teatral, Crise nos apresenta a modéstia da cidade pequena e a promessa da cidade grande, o comportamento volúvel da jovem Nelly ante o que ela já teve de mais aconchegante e seguro em sua vida e as promessas e - pode-se dizer - as tentações da vida adulta, feita de escolhas, e outras tantas questões existenciais.
Não é uma obra que apresenta o peso de obras futuras, mas com este filme aqui, Bergman já tinha algo a dizer, e não pode passar batido.
Os Irmãos Coen já começam a carreira com um filme maduro, já bem característico em seu tipo de cinema, ainda que o humor e a estranheza estejam contidos (porém, não menos presentes). É um filme com personagens menos caricaturais, se comparados com aqueles tantos que veríamos (como já no próximo filme, a comédia Arizona Nunca Mais), com um clima mais sóbrio.
Eu tinha visto Gosto de Sangue só uma vez, há muito tempo, e eu não lembrava de muita coisa, e revendo eu me surpreendi de novo com o roteiro. Esses irmãos são ótimos em conduzir o suspense em cima dos erros cometidos pelos personagens e os consequentes mal entendidos. E até o último instante, num final tipicamente coeniano, você fica intrigado e tenso ao ver as implicações de todo este rolo.
Há quem considere este um filme menor dos Coen, mas eu pessoalmente considero este um dos seus grandes momentos justamente por já apresentar tanto dos cineastas logo de cara. É claro que eles viriam a aprimorar o seu cinema, mas que início bom! Que início bom!
Infelizmente, tive uma experiência prejudicada pela péssima cópia em que vi este filme. As duas primeiras partes eram indecifráveis em questão de imagens, embora sentisse a profundidade em cada palavra trocada entre os personagens. Mas o filme dá uma boa guinada perto do final.
O que eu posso dizer? Eu não diria que pessoalmente amei, mas levo em consideração que, dentro do que é apresentado, Lars von Trier nos entrega sua visão por meio de uma experimentação que até cumpre seu papel. Vemos como o mundo é amargo, ao mesmo tempo em que são inseridos toques sensíveis (porém não menos duros e verdadeiros) em cada linha de diálogo. Existe um misto de beleza (pelas imagens em si, assim como pela coloração monocromática) e dureza neste filme.
Vale pela curiosidade e também por se observar já desde o início o tipo de cinema que o cineasta queria e viria a fazer.
O Matador (2017) não é o início para o cinema mais gênero no Brasil (que já acontece há um bom tempo longe das telonas em shoppings, e feito na raça), mas com certeza é um bom começo para que invistam mais em produções como esta.
Tem traços de faroeste clássico, mas com cara de Brasil, realmente. O filme é bem dirigido, bem fotografado, os atores são bons. O roteiro confunde um pouco a nossa cabeça quando coloca mais personagens na história, mas que, pelo menos para mim, não fez eu perder o fio da meada por muito tempo. Existe um aspecto de ciclo repetitivo nesta história, e aquele emaranhado de subtramas e personagens faz sentido com o tempo. Outro aspecto a se destacar é a coreografia nas cenas de ação, que são simples, porém funcionais para esta história. As mortes neste filme são bem secas, cruas e (quase sempre) sem remorso.
Dario Argento já começa com um giallo sólido e muito bem orquestrado, não apenas ensaiando o que ele melhoraria e muito lá para frente, mas já se consolidando como um diretor seguro. É claro que não podemos esquecer que, ultimamente, ele não tem estado em boa forma, mas com O Pássaro das Plumas de Cristal, iniciando aquela fase clássica dele de giallos temos um de seus grandes momentos.
Com toques hitchcockianos de suspense, em que o voyeurismo faz parte, o mistério já é estabelecido em menos de cinco minutos de filme. O que foi o que o protagonista realmente viu? Isto é martelado no início e até certo ponto deixa o filme previsível, mas lá vem o Argento e nos surpreende. Eu apenas não me convenci muito por algumas explicações na última cena, que na minha cabeça pareciam melhores, de acordo com o que o filme tinha mostrado, mas tudo bem. Há também sutis elementos de humor no roteiro, mas que não deixam o filme cair no ridículo, até por serem bem pontuais.
O filme, cinematograficamente falando, é belíssimo. Não apenas em termos simples de imagens, mas de elementos utilizados até na narrativa. Alguns traços narrativos que seriam utilizados em outros filmes de Argento já estão presentes aqui (como, por exemplo, um crime sendo testemunhado através de um vidro), e, ao mesmo tempo em que esses elementos contam a história, também formam imagens marcantes muito fortes para a estética dos filmes giallo, em especial os giallo de Argento. Você não se esquece do que viu. Sem contar que o filme é dirigido com a elegância de um bom filme clássico de suspense, em que os crimes não são filmados mostrando muito, mas são envoltos pela perturbação mental do assassino, devidamente caracterizado como um assassino de filmes giallo, como manda a cartilha.
O Pássaro das Plumas de Cristal, primeiro filme da trilogia dos animais de Dario Argento, é um bom início para um mestre italiano do suspense.
Ainda não temos aqui um Hitchcock autoral e o mestre da manipulação que ele viria a ser, mas já é possível ver, mesmo que de maneira tímida, um ou outro traço seu, mas bem pontualmente. Em nosso papel de voyeurs, a gente vê as coisas acontecerem, mas o suspense está ali, com a expectativa de determinada personagem descobrir a verdade. Veríamos isto muitas vezes na filmografia do "mordomo pomposo" (como carinhosamente eu o chamo pela postura, hehehe.)
A história em si é simples, mas até certo ponto é fácil confundir as duas atrizes principais e não saber quem é quem, quem está com quem, e por aí vai. Mas as coisas começam a fazer mais sentido perto do final, e a história muda dos ares iniciais.
O grande destaque aqui vai para Cuddles, o gracioso cãozinho. Sim, os cães sempre sabem.
Não é um filme grandioso, mas é um bom filme. Hitchcock já tinha alguma noção do que queria fazer.
O problema é que nesses tempos verborrágicos, repletos de efeitos sonoros e até sons mais "naturais", trilhas marcantes, etc, ver um filme mudo pode ser uma experiência problemática. Confesso que às vezes eu me disperso. Mas é por este motivo que estou exercitando a minha mente para me acostumar bem com esses filmes.
Bom, quanto a este filme, eu o considero menos envolvente que a primeira parte, apesar de apresentar uma trama um pouco mais elaborada em relação a esta. Infelizmente, as subtramas ficaram um tanto confusas e faltou uma maior coesão ao roteiro. Ainda assim, vale a experiência. Flitz Lang ainda teria muito a mostrar pela frente.
Curto e singelo, O Rolo Compressor e o Violinista é um filme que encanta pela sua beleza e a pureza da amizade entre duas pessoas distintas (o menino músico e homem operador de rolo compressor), mas também pela densidade de seus significados, e isto sem recorrer ao tipo de cinema mais hermético. É um filme que eu facilmente recomendaria para todos. Sem contar que é deslumbrante em suas imagens.
2017 realmente foi o ano de ótimas adaptações de Stephen King (se o filme A Torre Negra e a série The Mist forem esquecidos), e 1922 (mais um original da Netflix) é mais uma prova disso.
O filme é cinematograficamente bonito. Bom, as imagens são bonitas à luz do dia e evocam o lado mais sombrio dos personagens à noite, e casam muito bem com as sensações que o roteiro busca transmitir, e consegue a maior parte do tempo enquanto no campo simbólico. Mas senti o filme menos impactante no quesito suspense, digo, nas cenas de suspense em si. Digo, a novela não é feita de grandes picos de acontecimentos e reviravoltas a todo momento, mas desenvolve melhor esses momentos, e que no filme são um tanto crus e objetivos demais, enquanto o restante do filme possui um ritmo mais lento e um tanto contemplativo, mas não menos envolvente.
O filme também acerta na narração em off pelo Wilf (Thomas Jane, irreconhecível), pois, apesar de acompanhar o filme em boa parte, sabe quando entrar. A novela de King é narrada em primeira pessoa, e naturalmente tudo o que é mostrado no filme é narrado em detalhes na história original. Mas o filme também soube podar isto, evitando alguns momentos que poderiam cair na redundância em tela.
Apesar de alguns momentos em falta (para o bem e para o mal), uma ausência de tensão maior nas cenas de suspense em si e a atuação meio apagada do menino que faz o filho de Wilf, 1922 é um filme fiel à obra original e mais um acerto nas adaptações de Stephen King. Eu considero Jogo Perigoso a melhor adaptação de SK este ano, enquanto considero IT o melhor filme, mas 1922 não faz feio.
Jogo Perigoso (2017, original da Netflix) é mais um filme que entra para a lista de melhores adaptações de obras de Stephen King. É um filme praticamente 100% fiel ao livro (bom, claro que há umas mudanças pontuais aqui e ali, mas tudo que há de importante no livro está no filme), e o diretor Mike Flanagan ainda consegue transformar um livro considerado infilmável num thriller psicológico altamente carregado de tensão e, principalmente, muito doloroso, em especial pela ótima atuação de Carla Gugino. Ainda me pego imaginando o Darren Aronofksy adaptando esta história, mas Flanagan me parece um diretor seguro e soube entregar algo muito bom. E, não, aquele final não é desnecessário; nunca achei, mesmo quando li o livro, pois aquilo tem um significado, como tudo o que Jessie vive nesta história. Recomendo.
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Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraFilme simplesmente estupendo! Imagens que dificilmente sairão da minha cabeça. Eu não tinha assistido ainda outro filme do Giadagnino, mas verei, com certeza. Ele transmitiu um impacto enorme na minha visão e nos outros sentidos. Deu para sentir o filme na mente e no corpo, como algo hipnótico. Me vi envolvido nas mais de duas horas de um jeito que não me via há muito tempo, com poucas exceções mais recentes. O filme acerta ao não querer seguir à risca o estupendo filme do Argento, sabendo como ter uma natureza própria. Tirou os elementos de giallo do original e colocou outros elementos de horror que couberam muito bem aqui. E a trilha do Thom Yorke tem um quê de doce, mas de um jeito que dá para sentir que tem algo errado ali. Maravilhoso. E as atuações são excelentes, com destaque para a camaleoa Tinda Swinton.
As Diabólicas
4.2 208 Assista AgoraAs Diabólicas (Les Diaboliques) de 1955 é um primoroso suspense psicológico. O roteiro não tem pressa em desenvolver a história, porém não demora em estabelecer as principais características dos personagens centrais. É muito bem dirigido, tem um bom ritmo, apesar da falta de pressa, e também intriga e provoca uma tensão crescente conforme a verdade vem chegando aos poucos, até o seu final bastante surpreendente. A falta de trilha sonora faz os momentos de silêncio absoluto serem angustiantes e deixa o filme mergulhado numa atmosfera mais natural, porém não menos estranha.
Agora, destaco a dinâmica entre a esposa Christina (Véra Clouzot) e a amante Nicole (Simone Signoret) do odioso Michel Delassalle (Paul Meurisse). As duas são contrapontos perfeitos. Enquanto Christina é mais insegura e a perfeita expressão de culpa, Nicole é mais fria e calculista, porém com limites, apesar desta faceta mais frágil não aparecer até o último momento. Signoret está estupenda no papel.
RECOMENDO DEMAIS!
Curiosidade: este filme francês teve um remake americano em 1996, com o título de Diabolique, com Sharon Stone no papel da amante.
A Balada de Buster Scruggs
3.7 532 Assista AgoraA Balada de Buster Scruggs, dos irmãos Coen, é uma mistura divertida da crueza de Onde os Fracos não Têm Vez (não em todos os segmentos, deixo isso claro) com outros filmes dos Coen um pouco mais escrachados no humor. São 6 histórias que seguem em direções próprias, com diferentes tons, mas carregadas do mesmo DNA cinematográfico dos irmãos, apesar de eu tê-lo sentido um pouquinho mais contido nas mirabolâncias típicas dos roteiros de seus filmes. Recomendo.
Experiência
3.7 4Bom filme. Repleto de silêncios, mas barulhento como o cotidiano costuma ser. Os planos são em maioria feitos de câmera parada, movendo-se bem pontualmente, mas o que capta é tão cheio de movimento, numa edição que equilibra bem a paciência nos movimentos, mas corta nos momentos certos para nos dar uma boa noção de passagem de tempo e de ritmo. Vemos tudo pelo ponto de vista de Mamad, um garoto de poucas palavras, que dá duro no trabalho, mas tem ares de sonhador. Gostei.
A Faca na Água
3.8 69 Assista AgoraMuito boa estréia de Polanski na direção de um longa. O roteiro em si é bem simples em termos de acontecimentos, com Polanski concentrando o desenvolvimento da história pelas imagens e pelas boas performances do trio de atores, que trazem uma profundidade psicológica bem sutil. Mesmo com o filme se passando praticamente todo num barco, Polanski explora muito bem o cenário inóspito ao redor e também cada uma das partes do barco, apesar de ser um filme bem claustrofóbico. O trio de atores está muito bem em seus personagens, e o jovem me causava nervoso por causa de seus gestos imprevisíveis, o que reforçava a sensação da iminência de uma grande tragédia, mesmo não tendo muita coisa acontecendo até certo ponto. O filme me surpreendeu em seu final, indo totalmente na direção oposta de minhas expectativas de como terminaria, pois o filme dava muito a entender que seguiria por uma determinada direção. Muito bom. Gostei.
Drácula
3.9 295 Assista AgoraMuito bom, um clássico. Apresenta uma boa e marcante composição de imagens, que se fixam na mente, mesmo com as limitações da época. O filme sofre também pela censura da época, que não permitia mostrar cenas mais violentas, mas compensa pela atmosfera de terror, que não aterroriza hoje em dia, mas é bem clássica e elegante, e também pela caracterização de Drácula e a performance marcante de Bela Lugosi. Muitas características que se perpetuariam na mitologia dos vampiros surgiram aqui.
Pepi, Luci, Bom
3.5 118 Assista AgoraEste primeiro filme de Almodóvar é uma comédia MUITO politicamente incorreta como há muito não se vê, o que torna complicada a tarefa de avaliar ante certos valores e mudanças de paradigmas dos dias de hoje. As situações bizarras (que não são poucas) são apresentadas num tom de puro sarcasmo, expondo sem sutilezas os comportamentos humanos mais grotescos. Mas o filme não é apenas bizarrice. Há alguns aspectos mais sérios, mas misturados ao bizarro, deixando a sensação de que você está assistindo algo muito, mas muito errado. É um filme que não poupa a quem assiste e vai depender do quanto a pessoa sabe lidar com a franqueza bizarra de Pedro Almodóvar.
De comédias dele, eu só tinha assistido ao Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (excelente), que flerta com esse lado ácido, mas já é mais dosado neste aspecto do humor de Almodóvar. Aqui, neste primeiro filme, a trasheira e a polêmica tomam conta. Gostei do filme como filme, mas estou meio confuso pelo conflito de emoções que este filme me despertou. Me pegou de surpresa, pois a sinopse bem vaga não me preparou bem para essa viagem louca. rs
O Assassino da Furadeira
3.2 72 Assista AgoraTá aí um filme que me surpreendeu. Não esperava muita coisa, apesar de ser um título de destaque na lista de video nasties. Eu achava que fosse mais um filme puramente tosco, no sentido de mal feito, mesmo, mas, mesmo não sendo um filme primoroso, tem suas intenções cumpridas de filme cru, com uma típica estética suja setentista influenciado pelo punk rock, uma galeria de personagens intragáveis e muito incômodo sonoro (que vai desde a banda horrível, que toca de cinco em cinco minutos, culminando nos assassinatos).
Sinto que há nessa bagunça de elementos a intenção de externalizar o mundo conturbado do protagonista, que se transforma de fora para dentro e depois o contrário, quando seus impulsos querem sair. Quando isto acontece, o filme parte para o gore sem medo de ser ainda mais grotesco. Não vejo este filme como um slasher propriamente dito (o assassino não é bem uma máquina de matar movida só pela compulsão, existe mais por trás de suas atitudes), mas as mortes podem ser consideradas típicas desses filmes.
Ainda há espaço para o humor negro, para uma estranheza que pode ser vista na atitude da maioria dos personagens. Uma pena que os atores aqui não são muito bons e o filme acaba aborrecendo quem assiste devido aos personagens. Abel Ferrara vai bem no papel de Reno. Apesar de Reno ser alguém irritadiço quase todo o tempo, o que faz ele ser pouco carismático, ele pelo menos me convence como alguém problemático.
Gostei. Creio que não seja uma das melhores obras de Abel Ferrara, mas este filme serve como um ensaio experimental para futuras obras subversivas de maior impacto.
Eraserhead
3.9 922 Assista AgoraSurreal ao extremo, o primeiro filme de Lynch é uma obra esteticamente impressionante e desconcertante por sua fotografia em preto e branco, que combina demais com a proposta, além de um quê de expressionismo alemão nos cenários e também nos próprios personagens.
Existe um tema central visível no que diz respeito à paternidade, mas é um filme dado a devaneios, levando a outros temas, e às metáforas visuais dignas de pesadelos, que refletem uma mente (conscientemente) perturbada. David Lynch chega com tudo com Eraserhead, uma experiência audiovisual visceral muito bizarra, mas não menos envolvente. É grotesco, porém hipnótico e difícil de largar.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraApesar de possuir elementos pontuais de horror, este não é um filme de horror. O marketing não foi dos mais felizes. E é até difícil de definir o filme dentro de um gênero específico. Além disso, Darren Aronofsky nos entrega uma obra que divide opiniões: você pode não entender a viagem proposta por ele e odiar o filme, você pode entender (ou pensar que entendeu) e amar, ou ainda você pode entender e se sentir extremamente ofendido com a mensagem. Quantas vezes, no cinema atual, você pode dizer isso de um filme?
É uma das obras mais insanas que eu já vi até hoje, no sentido de, assim como a personagem principal, eu ficar embasbacado sem saber o que está acontecendo e sem ter como parar de ver até que ponto essa loucura iria. Trata-se de um pesadelo filmado, apresentando um ambiente e situações que ferem e tornam vulneráveis a protagonista e o público, como nos melhores pesadelos. Nada aqui deve ser interpretado de maneira literal, e mesmo que você tente fazer assim, ainda é possível apreciar o filme pela experiência altamente incômoda em si (a princípio, foi como eu vi o filme, antes de considerar refletir melhor).
Muitos podem pensar que é apenas um filme que quer causar o choque pelo choque, mas quem conhece o Aronofsky, sabe que ele não faz as coisas sem um propósito, e este filme não é a sua primeira viagem neste sentido. Aqui ele não explica o que quer dizer, mas abre espaço para as mais variadas interpretações. O filme que eu vi pode não ser o mesmo filme para você. E eu acho isso muito, muito bom.
Mulheres e Luzes
3.8 21 Assista AgoraPrimeiro filme de Fellini, em parceria com Alberto Lattuada, nos apresenta uma companhia de espetáculos, um diretor enfeitiçado por uma moça bela e ambiciosa, e este homem vivendo entre erros e acertos (mais erros que acertos, vale dizer) para tocar com seus projetos e também investir na carreira de sua amada.
O filme apresenta uma história simples, cativante, com vários momentos engraçados, ainda que apresente um peso necessário em seus aspectos mais dramáticos. Fellini já dá mostras, em seu primeiro filme, do criador de sonhos que ele viria a ser por meio de imagens que traduzem muito bem o espírito do espetáculo.
O destaque fica para "Meu limão, meu limoeiro" cantada na rua em plena madrugada.
Mulher-Gato
2.0 1,1KCom um orçamento de 100 milhões de dólares, Mulher-Gato é quase uma obra prima cinematográfica em que você vê como esse dinheiro foi bem investido. Melhor filme da DC de todos os tempos. Uma grande obra de arte.
O diretor Pitof entrega um filme estilizado, dirigido com um cuidado em que podemos entender com clareza o que ocorre em cada corte nas cenas ação. Tudo aqui é brilhante. Principalmente o gato que a acompanha em sua jornada supimpa. Os caras aqui são bons: em vez de optarem por um gato digital, ensinaram bem o miau.
E o que dizer sobre a naturalidade com que Halle Berry pula de um lado para o outro (sim, nada disso foi efeito digital, algo que você pode notar perfeitamente), e sua atuação como Mulher-Gato? Só assistam! Ela já comove como Patience, uma moça insegura que tropeça bastante (num toque de originalidade do roteiro e da composição de personagem). A coisa só melhora quando ela se transforma.
Mas não é só Halle Berry que está bem no filme. Sharon Stone faz uma das vilãs mais marcantes dos filmes da DC, com motivações e poderes extraordinários. E Frances Conroy estava perfeita como a louca dos gatos. Frances Conroy em Mulher-Gato foi a cereja no bolo.
Mas o filme não é perfeito. Ele seria ainda melhor se fosse mais longo... Eu olhava o tempo e marcava, por exemplo, 30 minutos, mas poderia ainda estar nos 10. Eu acho que o filme poderia facilmente durar 3 horas. E eu acho que a música não foi tão invasiva quanto poderia ser, dando mais ainda um aspecto de videoclipe ao filme (afinal, saudades MTV. MTV Brasil forever). Eu também acho que o filme teve poucos cortes sem propósito, quando poderia ter mais.
Mulher-Gato é quase uma obra prima. Tem suas falhas, mas por suas qualidades (quais mesmo?) ganha uma estrela.
Crise
3.5 37Em Crise temos um Bergman mais palatável, contando-nos uma história simples de entender, bem ao estilo do cinema clássico hollywoodiano, mas não faltando algo a mais. É um filme de estreia sólido, já tendo inserido pequenos pedaços de estilo do diretor, mas ainda não exatamente autoral.
Com roteiro baseado numa peça, com o próprio filme se colocando como se fosse uma peça teatral, Crise nos apresenta a modéstia da cidade pequena e a promessa da cidade grande, o comportamento volúvel da jovem Nelly ante o que ela já teve de mais aconchegante e seguro em sua vida e as promessas e - pode-se dizer - as tentações da vida adulta, feita de escolhas, e outras tantas questões existenciais.
Não é uma obra que apresenta o peso de obras futuras, mas com este filme aqui, Bergman já tinha algo a dizer, e não pode passar batido.
Gosto de Sangue
3.9 158 Assista AgoraOs Irmãos Coen já começam a carreira com um filme maduro, já bem característico em seu tipo de cinema, ainda que o humor e a estranheza estejam contidos (porém, não menos presentes). É um filme com personagens menos caricaturais, se comparados com aqueles tantos que veríamos (como já no próximo filme, a comédia Arizona Nunca Mais), com um clima mais sóbrio.
Eu tinha visto Gosto de Sangue só uma vez, há muito tempo, e eu não lembrava de muita coisa, e revendo eu me surpreendi de novo com o roteiro. Esses irmãos são ótimos em conduzir o suspense em cima dos erros cometidos pelos personagens e os consequentes mal entendidos. E até o último instante, num final tipicamente coeniano, você fica intrigado e tenso ao ver as implicações de todo este rolo.
Há quem considere este um filme menor dos Coen, mas eu pessoalmente considero este um dos seus grandes momentos justamente por já apresentar tanto dos cineastas logo de cara. É claro que eles viriam a aprimorar o seu cinema, mas que início bom! Que início bom!
Imagens de Alívio
2.9 3Infelizmente, tive uma experiência prejudicada pela péssima cópia em que vi este filme. As duas primeiras partes eram indecifráveis em questão de imagens, embora sentisse a profundidade em cada palavra trocada entre os personagens. Mas o filme dá uma boa guinada perto do final.
O que eu posso dizer? Eu não diria que pessoalmente amei, mas levo em consideração que, dentro do que é apresentado, Lars von Trier nos entrega sua visão por meio de uma experimentação que até cumpre seu papel. Vemos como o mundo é amargo, ao mesmo tempo em que são inseridos toques sensíveis (porém não menos duros e verdadeiros) em cada linha de diálogo. Existe um misto de beleza (pelas imagens em si, assim como pela coloração monocromática) e dureza neste filme.
Vale pela curiosidade e também por se observar já desde o início o tipo de cinema que o cineasta queria e viria a fazer.
O Matador
3.3 222 Assista AgoraO Matador (2017) não é o início para o cinema mais gênero no Brasil (que já acontece há um bom tempo longe das telonas em shoppings, e feito na raça), mas com certeza é um bom começo para que invistam mais em produções como esta.
Tem traços de faroeste clássico, mas com cara de Brasil, realmente. O filme é bem dirigido, bem fotografado, os atores são bons. O roteiro confunde um pouco a nossa cabeça quando coloca mais personagens na história, mas que, pelo menos para mim, não fez eu perder o fio da meada por muito tempo. Existe um aspecto de ciclo repetitivo nesta história, e aquele emaranhado de subtramas e personagens faz sentido com o tempo. Outro aspecto a se destacar é a coreografia nas cenas de ação, que são simples, porém funcionais para esta história. As mortes neste filme são bem secas, cruas e (quase sempre) sem remorso.
Gostei. É um bom filme.
O Pássaro das Plumas de Cristal
3.8 102Dario Argento já começa com um giallo sólido e muito bem orquestrado, não apenas ensaiando o que ele melhoraria e muito lá para frente, mas já se consolidando como um diretor seguro. É claro que não podemos esquecer que, ultimamente, ele não tem estado em boa forma, mas com O Pássaro das Plumas de Cristal, iniciando aquela fase clássica dele de giallos temos um de seus grandes momentos.
Com toques hitchcockianos de suspense, em que o voyeurismo faz parte, o mistério já é estabelecido em menos de cinco minutos de filme. O que foi o que o protagonista realmente viu? Isto é martelado no início e até certo ponto deixa o filme previsível, mas lá vem o Argento e nos surpreende. Eu apenas não me convenci muito por algumas explicações na última cena, que na minha cabeça pareciam melhores, de acordo com o que o filme tinha mostrado, mas tudo bem. Há também sutis elementos de humor no roteiro, mas que não deixam o filme cair no ridículo, até por serem bem pontuais.
O filme, cinematograficamente falando, é belíssimo. Não apenas em termos simples de imagens, mas de elementos utilizados até na narrativa. Alguns traços narrativos que seriam utilizados em outros filmes de Argento já estão presentes aqui (como, por exemplo, um crime sendo testemunhado através de um vidro), e, ao mesmo tempo em que esses elementos contam a história, também formam imagens marcantes muito fortes para a estética dos filmes giallo, em especial os giallo de Argento. Você não se esquece do que viu. Sem contar que o filme é dirigido com a elegância de um bom filme clássico de suspense, em que os crimes não são filmados mostrando muito, mas são envoltos pela perturbação mental do assassino, devidamente caracterizado como um assassino de filmes giallo, como manda a cartilha.
O Pássaro das Plumas de Cristal, primeiro filme da trilogia dos animais de Dario Argento, é um bom início para um mestre italiano do suspense.
O Jardim dos Prazeres
3.2 40Ainda não temos aqui um Hitchcock autoral e o mestre da manipulação que ele viria a ser, mas já é possível ver, mesmo que de maneira tímida, um ou outro traço seu, mas bem pontualmente. Em nosso papel de voyeurs, a gente vê as coisas acontecerem, mas o suspense está ali, com a expectativa de determinada personagem descobrir a verdade. Veríamos isto muitas vezes na filmografia do "mordomo pomposo" (como carinhosamente eu o chamo pela postura, hehehe.)
A história em si é simples, mas até certo ponto é fácil confundir as duas atrizes principais e não saber quem é quem, quem está com quem, e por aí vai. Mas as coisas começam a fazer mais sentido perto do final, e a história muda dos ares iniciais.
O grande destaque aqui vai para Cuddles, o gracioso cãozinho. Sim, os cães sempre sabem.
Não é um filme grandioso, mas é um bom filme. Hitchcock já tinha alguma noção do que queria fazer.
As Aranhas - Parte 2
3.1 5O problema é que nesses tempos verborrágicos, repletos de efeitos sonoros e até sons mais "naturais", trilhas marcantes, etc, ver um filme mudo pode ser uma experiência problemática. Confesso que às vezes eu me disperso. Mas é por este motivo que estou exercitando a minha mente para me acostumar bem com esses filmes.
Bom, quanto a este filme, eu o considero menos envolvente que a primeira parte, apesar de apresentar uma trama um pouco mais elaborada em relação a esta. Infelizmente, as subtramas ficaram um tanto confusas e faltou uma maior coesão ao roteiro. Ainda assim, vale a experiência. Flitz Lang ainda teria muito a mostrar pela frente.
As Aranhas - Parte 1
3.5 10É um filme um pouco cansativo, sim, mas vale como experiência de conferir os primórdios daquele cinemão de aventura com o qual crescemos e amamos.
O Rolo Compressor e o Violinista
4.0 47Curto e singelo, O Rolo Compressor e o Violinista é um filme que encanta pela sua beleza e a pureza da amizade entre duas pessoas distintas (o menino músico e homem operador de rolo compressor), mas também pela densidade de seus significados, e isto sem recorrer ao tipo de cinema mais hermético. É um filme que eu facilmente recomendaria para todos. Sem contar que é deslumbrante em suas imagens.
1922
3.2 797 Assista Agora2017 realmente foi o ano de ótimas adaptações de Stephen King (se o filme A Torre Negra e a série The Mist forem esquecidos), e 1922 (mais um original da Netflix) é mais uma prova disso.
O filme é cinematograficamente bonito. Bom, as imagens são bonitas à luz do dia e evocam o lado mais sombrio dos personagens à noite, e casam muito bem com as sensações que o roteiro busca transmitir, e consegue a maior parte do tempo enquanto no campo simbólico. Mas senti o filme menos impactante no quesito suspense, digo, nas cenas de suspense em si. Digo, a novela não é feita de grandes picos de acontecimentos e reviravoltas a todo momento, mas desenvolve melhor esses momentos, e que no filme são um tanto crus e objetivos demais, enquanto o restante do filme possui um ritmo mais lento e um tanto contemplativo, mas não menos envolvente.
O filme também acerta na narração em off pelo Wilf (Thomas Jane, irreconhecível), pois, apesar de acompanhar o filme em boa parte, sabe quando entrar. A novela de King é narrada em primeira pessoa, e naturalmente tudo o que é mostrado no filme é narrado em detalhes na história original. Mas o filme também soube podar isto, evitando alguns momentos que poderiam cair na redundância em tela.
Apesar de alguns momentos em falta (para o bem e para o mal), uma ausência de tensão maior nas cenas de suspense em si e a atuação meio apagada do menino que faz o filho de Wilf, 1922 é um filme fiel à obra original e mais um acerto nas adaptações de Stephen King. Eu considero Jogo Perigoso a melhor adaptação de SK este ano, enquanto considero IT o melhor filme, mas 1922 não faz feio.
Jogo Perigoso
3.5 1,1K Assista AgoraJogo Perigoso (2017, original da Netflix) é mais um filme que entra para a lista de melhores adaptações de obras de Stephen King. É um filme praticamente 100% fiel ao livro (bom, claro que há umas mudanças pontuais aqui e ali, mas tudo que há de importante no livro está no filme), e o diretor Mike Flanagan ainda consegue transformar um livro considerado infilmável num thriller psicológico altamente carregado de tensão e, principalmente, muito doloroso, em especial pela ótima atuação de Carla Gugino. Ainda me pego imaginando o Darren Aronofksy adaptando esta história, mas Flanagan me parece um diretor seguro e soube entregar algo muito bom. E, não, aquele final não é desnecessário; nunca achei, mesmo quando li o livro, pois aquilo tem um significado, como tudo o que Jessie vive nesta história. Recomendo.