Alguma coisa sobre como homens são todos iguais. Alguma coisa sobre como, independente da aparência e da forma como se porte, homens invariavelmente possuem intenções e desejos escusos e perversos. Alguma coisa sobre como homens são enfeitiçados pelo “feminino” a ponto de serem levados aos limites da loucura, como na referência a Ulisses de Homero. Alguma coisa ainda sobre mitologia grega e Zeus de cisne sobre como homens se disfarçam das mais variadas formas para penetrar a tão desejada “fenda” feminina. E alguma coisa sobre como a mulher é sempre a origem de todo mal.
Confesso que não sei ao certo se no final o Alex Garland faz algum comentário sobre a visão pagã da união entre masculino e feminino como variações do mesmo todo — e uma cutucada na apropriação católica da figura de Baphomet como símbolo da fertilidade — ou se é alguma coisa incidental sobre transgeneridade.
De qualquer forma, o filme pode ser resumido na fala daquela sua amiga: “bicha, ele vai meter o louco e falar que é um novo homem e que mudou, mas é o mesmo boy lixo de sempre”.
Tava indo tão bem com sua abordagem conscientemente sardônica, protagonista intrigante e estética análoga a cinéma-vérité... até cair no poço da autoindulgência e virar uma piada de si mesmo.
O primeiro filme, um pouco mais sutil e menos gráfico, me deixou mais enojado e apavorado do que este, (in)voluntariamente reforçando uma questão sobre filmes de terror de que, na maioria das vezes, é mais efetivo trabalhar junto com a audiência e deixar a imaginação do público completar certas lacunas do que escancarar tudo aos olhos.
Num primeiro momento me fez pensar em Sozinho Contra Todos e Coringa, mas ao final só me vinha REC 3 à cabeça.
Tal como uma criança que desesperadamente tenta chamar a atenção dos adultos desenhando nas paredes, gritando, mijando no chão e quebrando pratos, isso daqui esperneia com todo tipo de atrocidade sexual e moral pra te mostrar alguma coisa sobre a política da Sérvia. Honestamente? Acabei dormindo umas duas vezes e fiquei mais horrorizado com a correção de cor do que com qualquer outra coisa.
Não sabia que gravar em 120fps faria automaticamente todos do elenco atuarem mal. É o primeiro filme que vejo que mais parece um video game do que uma produção cinematográfica.
Apesar de curtir os trabalhos do James Gunn, demorei um pouco pra entrar na vibe da série, mas depois que entrei não saí mais.
O plot geral me lembrou o filme dele do Esquadrão Suicida -- ameaça alienígena que controla as mentes dos humanos e os zumbifica --, mas implicar com isso seria supor que a trama do longa foi original, o que não é bem o caso.
É mais uma história de redenção em que o homem branco percebe que é bom e que seus pecados vêm de qualquer outro lugar que não ele mesmo; Rousseau brilha em Hollywood.
Gosto da exposição de esgoto a céu aberto que fizeram com neonazistas, racistas, xenofóbicos, misóginos e derivados -- americanos assumindo a podridão intrínseca às suas cultura e sociedade --, mas creio que faltou um pouquinho mais de compreensão ao Gunn em relação a como essas relações de poder se estruturam pra além da aposta no óbvio aspecto freudiano.
É uma produção eficiente, carismática e bem vinda aos dias de hoje, mas que dificilmente viverá o teste do tempo justamente por apostar no protagonismo da redenção do branquelo bem intencionado ao invés de ter dado destaque aos seus coloridos coadjuvantes -- que muita cor de fato têm, agora profundidade e personalidade nem tanto, servem apenas como avatares de diversidade cultural, sexual e de gênero. Pende pra mais um famoso "inglês ver" do que pra um real se debruçar sobre tais questões e confabular em cima disso.
Contudo, acredito no potencial do James Gunn de conseguir se aprofundar nesses aspectos em produções futuras, sem deixar de lado seu deboche, irreverência e inventividade pra tratar sobre obviedades.
Evidentemente o Sam Levinson não fazia ideia do que fazer com seus personagens depois da primeira temporada e além no núcleo Rue-Jules.
A maturidade e a segurança criativa dos episódios especiais foram completamente embora nessa segunda temporada, em alguns momentos quase chegando a fazer um retcon no desenvolvimento emocional da Rue.
Além dela, outros personagens que claramente sofreram em seus arcos narrativos foram o Nate e a Cassie, um por ter virado um análogo a vilão de novela -- puro caras e bocas -- e a outra por não ter razão suficiente para ter pagado de maluca a temporada inteira.
Rue, Nate e Cassie viraram paródias deles mesmos para que Cal e Lexi pudessem brilhar em notáveis e surpreendentes desenvolvimentos narrativos que exploram a sexualidade, o significado social e psicológico da família, a origem de todo mal, a síndrome de coadjuvante e o próprio processo criativo ao se escrever narrativas.
Isoladamente, é interessante que o núcleo criativo tenha decidido fazer experimentos com a fotografia e com a montagem, abandonando a vibe videoclipe e realidade exagerada da temporada anterior em favor do uso exaustivo de luzes quentes e um amarelo que parece impresso na química da película Kodak utilizada, em conjunto com uma montagem não linear que favorece muito mais a realidade interna/introspectiva dos personagens, indo e voltando em diversos acontecentos distintos, mas com temas ou motifs afins -- seguindo ao pé da letra a fala do pai da Rue sobre memórias existirem além do espaço-tempo.
Entretanto, eu não diria que tais experimentos estéticos foram de todo felizes, especialmente se levar em conta que o uso abusivo de cores da primeira temporada conversava a nível individual com as personagens, fazendo com que o espectro de cor representasse cada drama e trauma do nosso colorido elenco, variando a cada situação e se adequando a cada contexto.
Além disso, a imparável câmera que ficava em constante movimento, seja rodopiando pelo espaço cênico ou apenas se limitando a sutis dolly-ins, adicionava ao dinamismo do enredo e às histórias pessoais cada vez mais catastróficas.
Levando isso em conta, a insistência no uso de película para ressaltar ainda mais a noção de nostalgia e de época perdida em relação à juventude se mostra injustificada, já que a produção soube fazer isso inventivamente com o digital anteriormente.
Quanto à montagem: eu louvo o uso ainda mais exagerado e hiperbólico da não linearidade nessa temporada, especialmente nos episódios da peça de teatro, alternando entre memórias, escritos e ocorrências passadas e futuras, sem deixar muito claro onde começa e termina, apenas um instável fluxo de consciência.
É mais habitual ver essa técnica na literatura, como nos escritos de Dostoiévski, mas produções como True Detective mostram que um roteiro minuciosamente planejado com a montagem pode de forma excepcional botar a audiência dentro da corrente de memórias e falas dos personagens -- e é justamente aí que entra minha ressalva quanto a como isso foi feito em Euphoria.
Não me pareceu que teve o planejamento necessário para que os diferentes departamentos da série pudessem ter feito isso com precisão. A constante impressão que fica é que Sam Levinson foi salvo diversas vezes pela galera da pós produção, seja na colorimetria ou na montagem propriamente dita.
Já quanto ao roteiro, bem, Sam Levinson quis fazer isso sozinho. O criador da série teria muito proveito se se utilizasse de uma sala de roteiristas na terceira temporada, já que seus malabarismos visuais não estão mais surtindo seus efeitos entorpecedores.
Ao invés de terem elencado um pequeno grupo de protagonistas com uma previsível final girl pra serem os bons moços em meio a uma multidão de sanguessugas financeiros que morrem enlatados naquele ônibus, teríamos tido um filme muito mais interessante se tivessem ido mais a fundo na "travestização" do Leatherface -- aludindo às questões de gênero sugeridas no clássico primeiro filme --, botando ele de vestido e com a máscara humana repleta de maquiagem mal aplicada pra correr atrás de cada "invasor" da cidade, como um jogo de gato e rato, explorando cada canto daquela cidadezinha abandonada há décadas pelo mundo e por qualquer grau de decência.
Um homem de psique quebrada por anos de abusos crescendo num lar de canibais incestuosos, cometendo todo tipo de crime medonho, finalmente encontrou refúgio nos braços de uma mulher que escolheu acolher ele sem saber de todos seus crimes. Assim, viveu tardiamente toda sua infância e adolescência na ternura de um lugar esquecido e abandonado, tendo sua cuidadora como única figura de respeito, autoridade e calor. Subitamente seu sossego é quebrado por pestes invasoras que aniquilam o mais próximo que ele teve de amor e carinho. Então, cabe a ele -- a figura de um enorme assassino travestido com o rosto de sua cuidadora -- exterminar todos que ousaram invadir seu pequeno mundo. Nisso, veríamos seus traumas e desejos manifestados por atos hediondos e caracterização ironicamente infantil e feminilizada, emulando ao mesmo tempo a juventude e a "mãe" perdidas, tentando desesperadamente elaborar seus estados internos.
Isso sim teria muito mais simbolismo e significância do que o que tentaram fazer aqui.
Apesar do lenga lenga melodramático de draminhas do ensino médio, a série me ganhou com personagens engenhosos e sagazes e com aquela sequência caótica do contágio no refeitório.
Se já é difícil dirigir cenas de ação individuais, imagina a dor de cabeça que deve ser quando há dezenas de pessoas em quadro, coisas sendo jogadas, gente pulando e caindo, sangue pingando pra todo lado e todo mundo maquiado -- é um show da galera da direção e da continuidade.
Finalmente vemos uma obra explorando a origem do vírus, desde seu motivo até seu funcionamento genético -- não é o tipo de coisa que me faz falta em produções do gênero mas achei bem instigante essa escolha criativa.
Outro ponto alto é brincar com as probabilidades de infecção e trabalhar com assintomáticos e "híbridos": além de fazer um paralelo com os dias atuais, ainda dá uma piscadela para a trajetória da mitologia dos vampiros.
Mesmo com problemáticas acerca de como aborda o bullying e seus efeitos psicológicos e sociais e de personagens unidimensionais e desprovidos de arco narrativo, é admirável o trabalho hercúleo de acompanhar diversos núcleos de sobreviventes nas mais diversas classes hierárquicas da sociedade coreana e de não subestimar a inteligência dos protagonistas e, por consequência, de seu público.
Uma mistura de Nightcrawler com Grave ambientada na emergente Zona Oeste carioca, com todos seus terrenos baldios, prédios padronizados e cafonas, condomínios fechados e pacato marasmo da vida adolescente num bairro residencial sem muita coisa pra fazer. Um retrato interessante do que a alienação social e emocional é capaz de fazer no corpo em desenvolvimento e psicológico sem afeto. Vidas vazias, obsessões mórbidas e corporalidades inquietas.
É engraçado como o Adam McKay consegue com suas estripulias e malabares convencer as pessoas de que ele é muito mais inteligente do que de fato é. Seus filmes são sagazes, têm sacadas de pontual brilhantismo e a montagem costuma evitar que se pese muito a mão em diálogos que elaboram um pouco mais do que deveriam os pontos principais do filme. Chega um momento em que você fica "okay, belexa, já entendi!", mas você acaba por se deixar levar pelos atores bonitos e carismáticos com boaquinhas que soltam piadocas irreverentes e escrachadas. A narrativa tem umas barriguinhas, uma repetição de argumentos anteriores e um leve senso de "não sei muito como terminar meu filme" por conta do quão caótico é o tempo todo. Não me leve a mal, eu ADOREI que seja o filme mais caótico desse diretor, contudo isso levou ele a atirar pra muitos lados na esperança de atingir muitas coisas ao mesmo tempo -- de fato, acertou em cheio na grande maioria, mas o DiCaprio tomando o tempo de todo mundo com suas crises de ansiedade e ego frustrado acabou apagando outras figuras do seu mesmo calíbre, como Cate Blanchett, Jonah Hill, Meryl Streep e, até mesmo, Jennifer Lawrence, que somos convencidos de que teria mesmo tempo de cena e arco desenvolvido, mas que não rolou. É uma contundente e pensada sátira sobre nossos dias, mas se estende demais em meio a sua autoindulgência.
Plástico. Tarantino. Spike Lee. Idris Elba. Jonathan Majors. Regina King. Zazie Beetz. Lakeith Stanfield. Ousado. Provocador. Tira onda com a tua cara. Sabe quando dar zoom e quando fazer matching cuts. Isso daqui é uma obra prima em todas as cores e planos possíveis. Há muito tempo que eu não me sentia numa montanha russa vendo filme e tendo insights sobre a vida e o fazer humano. Eu gritava e exasperava, me arrepiava e gargalhava. Como é gostoso ter uma signigicativa experiência estética. Viva novos diretores! Viva novas histórias e narrativas! Viva novos personagens! Que se desmonte a roda e a reconstrua com novos parafusos -- a visão e o som de novas eras.
Sem inspiração, genérico e pouco inventivo, O Longo Dia das Bruxas nos apresenta uma série de personagens másculos, com a mesmíssima estrutura facial análoga a do Handsome Squidward e parecendo que são dublados pelos mesmos atores.
Design de personagens decepcionante, uma narrativa com claras dificuldades de ligar um ponto a outro, o que deixa todo e qualquer evento episódico -- poderia-se argumentar que é para "simbolizar" o péssimo trabalho que o Batman faz como detetive nessa história --, além de apresentar uma gama de personagens sem desenvolver nenhum deles.
Por algum motivo acharam razoável emburrecer a Selina Kyle, tendo como cereja do bolo a mulher revelando a identidade do Batman numa exasperação de surpresa. Pelo menos o Troy Baker salva o filme em alguns momentos com seu simulacro de Coringa do Mark Hamill; até ver os créditos achei que fosse o intérprete de Luke Skywalker no elenco.
Eu poderia falar sobre a animação esquisita que em alguns momentos esquece a proporção dos personagens e sobre como a decisão artística de fazer um outline deles é uma saída fácil e faz todos parecerem recortes de papelão, mas o filme não merece tanta atenção assim.
Fiquei completamente fascinado com as cenas do Michael Myers vagando em meio à multidão, alheia e ignorante àquilo que está ao seu redor -- "Ele está entre nós".
O ar escapou diversas vezes da minha boca ao ver o Michael no canto do quadro e nos momentos em que a câmera ora em primeira pessoa, ora na altura de seus ombros fazia com que nos escondessemos no escuro junto a ele, intercalando com breves instantes de admiração e observação da "vida lá fora". Michael é vazio, oco e desprovido de vivacidade. É um animal tanto em instinto predatório quanto no de autopreservação.
Independente das tretas e intenções presentes nos bastidores, o produto final apresenta uma curiosa e insightful oportunidade de acompanhar uma máquina de matar nos momentos de "intervalo", quando está no "modo de espera" entre um ato funesto e outro.
Não me lembro de ter presenciado outra circunstância tão voyeurística como essa a não ser em Janela Indiscreta -- sobe uma sensação indizível pela espinha.
Muito bem sacado o debate existencial entre o casal pós transformação e suas travessuras quase infantis. Quebra com as expectativas sobre a atmosfera nefasta que o próprio filme cria em torno de seus monstros e mostra uma outra face sobre suas relações consigo mesmos e até sobre seus motivos, ou falta deles.
Com isso, faz alguns comentários interessantes sobre a estrutura de slashers, suas várias razões de ser e se realmente é importante que todo vilão tenha um motivo super hiper mega elaborado por trás de suas ações. Caos irracional e impensado também é válido e tem seu quê de amedrontador.
É bobo, despretensioso e consciente disso, o que dá uma margem significativa para trabalhar os aspectos técnicos, como fotografia e direção de arte, que mostram uma cidade "lived in", além de usarem os clássicos tons de azuis e iluminação em chiaroscuro para questionar os motifs classicamente atrelados a esses artíficios.
Em suma, por mais que o filme não inove em muita coisa, é bem sacado e sabe o que tá fazendo, basta saber olhar para o lugar certo.
O assassino mais feministo de toda a história dos slashers, O TERROR DOS MACHISTAS kkkkkkkkk ri horrores dessa obra prima. Como é bom um terrorzinho cômico feito conscientemente e com todo deboche possível, ao mesmo tempo que respeita suas origens e presta reverência em momentos oportunos. Kathryn Newton deixou um pouco a desejar, mas os BRACINHOS DO VINCE VAUGHN CORRENDO SÃO TUDO PRA MIM AAAAAAAAAAAAAAA
Filmão perfeito pra ver no fim de semana e espairecer a cabeça ❤️
Men: Faces do Medo
3.2 416 Assista AgoraAlguma coisa sobre como homens são todos iguais. Alguma coisa sobre como, independente da aparência e da forma como se porte, homens invariavelmente possuem intenções e desejos escusos e perversos. Alguma coisa sobre como homens são enfeitiçados pelo “feminino” a ponto de serem levados aos limites da loucura, como na referência a Ulisses de Homero. Alguma coisa ainda sobre mitologia grega e Zeus de cisne sobre como homens se disfarçam das mais variadas formas para penetrar a tão desejada “fenda” feminina. E alguma coisa sobre como a mulher é sempre a origem de todo mal.
Confesso que não sei ao certo se no final o Alex Garland faz algum comentário sobre a visão pagã da união entre masculino e feminino como variações do mesmo todo — e uma cutucada na apropriação católica da figura de Baphomet como símbolo da fertilidade — ou se é alguma coisa incidental sobre transgeneridade.
De qualquer forma, o filme pode ser resumido na fala daquela sua amiga: “bicha, ele vai meter o louco e falar que é um novo homem e que mudou, mas é o mesmo boy lixo de sempre”.
O Homem do Norte
3.7 954 Assista Agora"A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena."
Operação Obscura
2.7 53 Assista AgoraNão sabia que dava pra manter uma testa franzida por tanto tempo.
A Centopéia Humana 2
2.6 937Tava indo tão bem com sua abordagem conscientemente sardônica, protagonista intrigante e estética análoga a cinéma-vérité... até cair no poço da autoindulgência e virar uma piada de si mesmo.
O primeiro filme, um pouco mais sutil e menos gráfico, me deixou mais enojado e apavorado do que este, (in)voluntariamente reforçando uma questão sobre filmes de terror de que, na maioria das vezes, é mais efetivo trabalhar junto com a audiência e deixar a imaginação do público completar certas lacunas do que escancarar tudo aos olhos.
Num primeiro momento me fez pensar em Sozinho Contra Todos e Coringa, mas ao final só me vinha REC 3 à cabeça.
A Serbian Film: Terror Sem Limites
2.5 2,0KTal como uma criança que desesperadamente tenta chamar a atenção dos adultos desenhando nas paredes, gritando, mijando no chão e quebrando pratos, isso daqui esperneia com todo tipo de atrocidade sexual e moral pra te mostrar alguma coisa sobre a política da Sérvia. Honestamente? Acabei dormindo umas duas vezes e fiquei mais horrorizado com a correção de cor do que com qualquer outra coisa.
Medida Provisória
3.6 432Lázaro Ramos como diretor é um excelentíssimo ator.
Projeto Gemini
2.8 460 Assista AgoraNão sabia que gravar em 120fps faria automaticamente todos do elenco atuarem mal. É o primeiro filme que vejo que mais parece um video game do que uma produção cinematográfica.
Caranguejo Negro
2.7 123 Assista AgoraNoomi Rapace consegue brilhar até na mais pura esterilidade narrativa. Eu imploro pra essa mulher parar de embarcar nesses caça níqueis da Netflix.
O Livro de Boba Fett (1ª Temporada)
3.5 208 Assista AgoraQuando o ponto mais fraco de uma série é o personagem que dá título a ela.
Pacificador (1ª Temporada)
4.2 339 Assista AgoraApesar de curtir os trabalhos do James Gunn, demorei um pouco pra entrar na vibe da série, mas depois que entrei não saí mais.
O plot geral me lembrou o filme dele do Esquadrão Suicida -- ameaça alienígena que controla as mentes dos humanos e os zumbifica --, mas implicar com isso seria supor que a trama do longa foi original, o que não é bem o caso.
É mais uma história de redenção em que o homem branco percebe que é bom e que seus pecados vêm de qualquer outro lugar que não ele mesmo; Rousseau brilha em Hollywood.
Gosto da exposição de esgoto a céu aberto que fizeram com neonazistas, racistas, xenofóbicos, misóginos e derivados -- americanos assumindo a podridão intrínseca às suas cultura e sociedade --, mas creio que faltou um pouquinho mais de compreensão ao Gunn em relação a como essas relações de poder se estruturam pra além da aposta no óbvio aspecto freudiano.
É uma produção eficiente, carismática e bem vinda aos dias de hoje, mas que dificilmente viverá o teste do tempo justamente por apostar no protagonismo da redenção do branquelo bem intencionado ao invés de ter dado destaque aos seus coloridos coadjuvantes -- que muita cor de fato têm, agora profundidade e personalidade nem tanto, servem apenas como avatares de diversidade cultural, sexual e de gênero. Pende pra mais um famoso "inglês ver" do que pra um real se debruçar sobre tais questões e confabular em cima disso.
Contudo, acredito no potencial do James Gunn de conseguir se aprofundar nesses aspectos em produções futuras, sem deixar de lado seu deboche, irreverência e inventividade pra tratar sobre obviedades.
Euphoria (2ª Temporada)
4.0 543Evidentemente o Sam Levinson não fazia ideia do que fazer com seus personagens depois da primeira temporada e além no núcleo Rue-Jules.
A maturidade e a segurança criativa dos episódios especiais foram completamente embora nessa segunda temporada, em alguns momentos quase chegando a fazer um retcon no desenvolvimento emocional da Rue.
Além dela, outros personagens que claramente sofreram em seus arcos narrativos foram o Nate e a Cassie, um por ter virado um análogo a vilão de novela -- puro caras e bocas -- e a outra por não ter razão suficiente para ter pagado de maluca a temporada inteira.
Rue, Nate e Cassie viraram paródias deles mesmos para que Cal e Lexi pudessem brilhar em notáveis e surpreendentes desenvolvimentos narrativos que exploram a sexualidade, o significado social e psicológico da família, a origem de todo mal, a síndrome de coadjuvante e o próprio processo criativo ao se escrever narrativas.
Isoladamente, é interessante que o núcleo criativo tenha decidido fazer experimentos com a fotografia e com a montagem, abandonando a vibe videoclipe e realidade exagerada da temporada anterior em favor do uso exaustivo de luzes quentes e um amarelo que parece impresso na química da película Kodak utilizada, em conjunto com uma montagem não linear que favorece muito mais a realidade interna/introspectiva dos personagens, indo e voltando em diversos acontecentos distintos, mas com temas ou motifs afins -- seguindo ao pé da letra a fala do pai da Rue sobre memórias existirem além do espaço-tempo.
Entretanto, eu não diria que tais experimentos estéticos foram de todo felizes, especialmente se levar em conta que o uso abusivo de cores da primeira temporada conversava a nível individual com as personagens, fazendo com que o espectro de cor representasse cada drama e trauma do nosso colorido elenco, variando a cada situação e se adequando a cada contexto.
Além disso, a imparável câmera que ficava em constante movimento, seja rodopiando pelo espaço cênico ou apenas se limitando a sutis dolly-ins, adicionava ao dinamismo do enredo e às histórias pessoais cada vez mais catastróficas.
Levando isso em conta, a insistência no uso de película para ressaltar ainda mais a noção de nostalgia e de época perdida em relação à juventude se mostra injustificada, já que a produção soube fazer isso inventivamente com o digital anteriormente.
Quanto à montagem: eu louvo o uso ainda mais exagerado e hiperbólico da não linearidade nessa temporada, especialmente nos episódios da peça de teatro, alternando entre memórias, escritos e ocorrências passadas e futuras, sem deixar muito claro onde começa e termina, apenas um instável fluxo de consciência.
É mais habitual ver essa técnica na literatura, como nos escritos de Dostoiévski, mas produções como True Detective mostram que um roteiro minuciosamente planejado com a montagem pode de forma excepcional botar a audiência dentro da corrente de memórias e falas dos personagens -- e é justamente aí que entra minha ressalva quanto a como isso foi feito em Euphoria.
Não me pareceu que teve o planejamento necessário para que os diferentes departamentos da série pudessem ter feito isso com precisão. A constante impressão que fica é que Sam Levinson foi salvo diversas vezes pela galera da pós produção, seja na colorimetria ou na montagem propriamente dita.
Já quanto ao roteiro, bem, Sam Levinson quis fazer isso sozinho. O criador da série teria muito proveito se se utilizasse de uma sala de roteiristas na terceira temporada, já que seus malabarismos visuais não estão mais surtindo seus efeitos entorpecedores.
A Lenda do Cavaleiro Verde
3.6 475 Assista AgoraEventualmente terás que lidar com tudo aquilo que está jogando pra de baixo do tapete.
O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface
2.2 697 Assista AgoraAo invés de terem elencado um pequeno grupo de protagonistas com uma previsível final girl pra serem os bons moços em meio a uma multidão de sanguessugas financeiros que morrem enlatados naquele ônibus, teríamos tido um filme muito mais interessante se tivessem ido mais a fundo na "travestização" do Leatherface -- aludindo às questões de gênero sugeridas no clássico primeiro filme --, botando ele de vestido e com a máscara humana repleta de maquiagem mal aplicada pra correr atrás de cada "invasor" da cidade, como um jogo de gato e rato, explorando cada canto daquela cidadezinha abandonada há décadas pelo mundo e por qualquer grau de decência.
Um homem de psique quebrada por anos de abusos crescendo num lar de canibais incestuosos, cometendo todo tipo de crime medonho, finalmente encontrou refúgio nos braços de uma mulher que escolheu acolher ele sem saber de todos seus crimes. Assim, viveu tardiamente toda sua infância e adolescência na ternura de um lugar esquecido e abandonado, tendo sua cuidadora como única figura de respeito, autoridade e calor. Subitamente seu sossego é quebrado por pestes invasoras que aniquilam o mais próximo que ele teve de amor e carinho. Então, cabe a ele -- a figura de um enorme assassino travestido com o rosto de sua cuidadora -- exterminar todos que ousaram invadir seu pequeno mundo. Nisso, veríamos seus traumas e desejos manifestados por atos hediondos e caracterização ironicamente infantil e feminilizada, emulando ao mesmo tempo a juventude e a "mãe" perdidas, tentando desesperadamente elaborar seus estados internos.
Isso sim teria muito mais simbolismo e significância do que o que tentaram fazer aqui.
All Of Us Are Dead (1ª Temporada)
3.7 288 Assista AgoraApesar do lenga lenga melodramático de draminhas do ensino médio, a série me ganhou com personagens engenhosos e sagazes e com aquela sequência caótica do contágio no refeitório.
Se já é difícil dirigir cenas de ação individuais, imagina a dor de cabeça que deve ser quando há dezenas de pessoas em quadro, coisas sendo jogadas, gente pulando e caindo, sangue pingando pra todo lado e todo mundo maquiado -- é um show da galera da direção e da continuidade.
Finalmente vemos uma obra explorando a origem do vírus, desde seu motivo até seu funcionamento genético -- não é o tipo de coisa que me faz falta em produções do gênero mas achei bem instigante essa escolha criativa.
Outro ponto alto é brincar com as probabilidades de infecção e trabalhar com assintomáticos e "híbridos": além de fazer um paralelo com os dias atuais, ainda dá uma piscadela para a trajetória da mitologia dos vampiros.
Mesmo com problemáticas acerca de como aborda o bullying e seus efeitos psicológicos e sociais e de personagens unidimensionais e desprovidos de arco narrativo, é admirável o trabalho hercúleo de acompanhar diversos núcleos de sobreviventes nas mais diversas classes hierárquicas da sociedade coreana e de não subestimar a inteligência dos protagonistas e, por consequência, de seu público.
Mate-me Por Favor
3.0 231 Assista AgoraUma mistura de Nightcrawler com Grave ambientada na emergente Zona Oeste carioca, com todos seus terrenos baldios, prédios padronizados e cafonas, condomínios fechados e pacato marasmo da vida adolescente num bairro residencial sem muita coisa pra fazer. Um retrato interessante do que a alienação social e emocional é capaz de fazer no corpo em desenvolvimento e psicológico sem afeto. Vidas vazias, obsessões mórbidas e corporalidades inquietas.
Titane
3.5 393 Assista AgoraEU NUNCA ESTIVE TÃO BIRUTA DA CABEÇA O.O
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraÉ engraçado como o Adam McKay consegue com suas estripulias e malabares convencer as pessoas de que ele é muito mais inteligente do que de fato é. Seus filmes são sagazes, têm sacadas de pontual brilhantismo e a montagem costuma evitar que se pese muito a mão em diálogos que elaboram um pouco mais do que deveriam os pontos principais do filme. Chega um momento em que você fica "okay, belexa, já entendi!", mas você acaba por se deixar levar pelos atores bonitos e carismáticos com boaquinhas que soltam piadocas irreverentes e escrachadas. A narrativa tem umas barriguinhas, uma repetição de argumentos anteriores e um leve senso de "não sei muito como terminar meu filme" por conta do quão caótico é o tempo todo. Não me leve a mal, eu ADOREI que seja o filme mais caótico desse diretor, contudo isso levou ele a atirar pra muitos lados na esperança de atingir muitas coisas ao mesmo tempo -- de fato, acertou em cheio na grande maioria, mas o DiCaprio tomando o tempo de todo mundo com suas crises de ansiedade e ego frustrado acabou apagando outras figuras do seu mesmo calíbre, como Cate Blanchett, Jonah Hill, Meryl Streep e, até mesmo, Jennifer Lawrence, que somos convencidos de que teria mesmo tempo de cena e arco desenvolvido, mas que não rolou. É uma contundente e pensada sátira sobre nossos dias, mas se estende demais em meio a sua autoindulgência.
Vingança & Castigo
3.6 206 Assista AgoraPlástico. Tarantino. Spike Lee. Idris Elba. Jonathan Majors. Regina King. Zazie Beetz. Lakeith Stanfield. Ousado. Provocador. Tira onda com a tua cara. Sabe quando dar zoom e quando fazer matching cuts. Isso daqui é uma obra prima em todas as cores e planos possíveis. Há muito tempo que eu não me sentia numa montanha russa vendo filme e tendo insights sobre a vida e o fazer humano. Eu gritava e exasperava, me arrepiava e gargalhava. Como é gostoso ter uma signigicativa experiência estética. Viva novos diretores! Viva novas histórias e narrativas! Viva novos personagens! Que se desmonte a roda e a reconstrua com novos parafusos -- a visão e o som de novas eras.
Missa da Meia-Noite
3.9 732Finalmente o Mike Flanagan descobriu que existem cores quentes, luz dura e iluminação natural pra sua fotografia
Batman e o Longo Dia das Bruxas - Parte 1
3.7 86 Assista AgoraSem inspiração, genérico e pouco inventivo, O Longo Dia das Bruxas nos apresenta uma série de personagens másculos, com a mesmíssima estrutura facial análoga a do Handsome Squidward e parecendo que são dublados pelos mesmos atores.
Design de personagens decepcionante, uma narrativa com claras dificuldades de ligar um ponto a outro, o que deixa todo e qualquer evento episódico -- poderia-se argumentar que é para "simbolizar" o péssimo trabalho que o Batman faz como detetive nessa história --, além de apresentar uma gama de personagens sem desenvolver nenhum deles.
Por algum motivo acharam razoável emburrecer a Selina Kyle, tendo como cereja do bolo a mulher revelando a identidade do Batman numa exasperação de surpresa. Pelo menos o Troy Baker salva o filme em alguns momentos com seu simulacro de Coringa do Mark Hamill; até ver os créditos achei que fosse o intérprete de Luke Skywalker no elenco.
Eu poderia falar sobre a animação esquisita que em alguns momentos esquece a proporção dos personagens e sobre como a decisão artística de fazer um outline deles é uma saída fácil e faz todos parecerem recortes de papelão, mas o filme não merece tanta atenção assim.
Nhe.
Halloween 2: O Pesadelo Continua
3.4 481 Assista AgoraFiquei completamente fascinado com as cenas do Michael Myers vagando em meio à multidão, alheia e ignorante àquilo que está ao seu redor -- "Ele está entre nós".
O ar escapou diversas vezes da minha boca ao ver o Michael no canto do quadro e nos momentos em que a câmera ora em primeira pessoa, ora na altura de seus ombros fazia com que nos escondessemos no escuro junto a ele, intercalando com breves instantes de admiração e observação da "vida lá fora". Michael é vazio, oco e desprovido de vivacidade. É um animal tanto em instinto predatório quanto no de autopreservação.
Independente das tretas e intenções presentes nos bastidores, o produto final apresenta uma curiosa e insightful oportunidade de acompanhar uma máquina de matar nos momentos de "intervalo", quando está no "modo de espera" entre um ato funesto e outro.
Não me lembro de ter presenciado outra circunstância tão voyeurística como essa a não ser em Janela Indiscreta -- sobe uma sensação indizível pela espinha.
Sem Conexão: Parte 2
1.5 108Muito bem sacado o debate existencial entre o casal pós transformação e suas travessuras quase infantis. Quebra com as expectativas sobre a atmosfera nefasta que o próprio filme cria em torno de seus monstros e mostra uma outra face sobre suas relações consigo mesmos e até sobre seus motivos, ou falta deles.
Com isso, faz alguns comentários interessantes sobre a estrutura de slashers, suas várias razões de ser e se realmente é importante que todo vilão tenha um motivo super hiper mega elaborado por trás de suas ações. Caos irracional e impensado também é válido e tem seu quê de amedrontador.
É bobo, despretensioso e consciente disso, o que dá uma margem significativa para trabalhar os aspectos técnicos, como fotografia e direção de arte, que mostram uma cidade "lived in", além de usarem os clássicos tons de azuis e iluminação em chiaroscuro para questionar os motifs classicamente atrelados a esses artíficios.
Em suma, por mais que o filme não inove em muita coisa, é bem sacado e sabe o que tá fazendo, basta saber olhar para o lugar certo.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraOpulência estéril.
Freaky: No Corpo de um Assassino
3.2 464O assassino mais feministo de toda a história dos slashers, O TERROR DOS MACHISTAS kkkkkkkkk ri horrores dessa obra prima. Como é bom um terrorzinho cômico feito conscientemente e com todo deboche possível, ao mesmo tempo que respeita suas origens e presta reverência em momentos oportunos. Kathryn Newton deixou um pouco a desejar, mas os BRACINHOS DO VINCE VAUGHN CORRENDO SÃO TUDO PRA MIM AAAAAAAAAAAAAAA
Filmão perfeito pra ver no fim de semana e espairecer a cabeça ❤️