São filmes como esse que me lembram das razões pelas quais faço Cinema.
Uma aula completa, do início ao fim, não só de Cinema, mas também sobre como se fazer uma linda e comovente história com personagems que se destroem, destroem aos outros e destroem suas relações por não saberem lidar com seu sofrimento, sua culpa e seus fracassos.
São pessoas honestas, reais, lindas, incríveis e transformadoras. Há sempre uma luz no fim do túnel.
É engraçado como Rua Cloverfield, 10 foi concebido como um projeto sem qualquer relação com o filme de monstros Cloverfield mas foi incorporado com sucesso como sua continuação, enquanto isso daqui teve sua concepção como uma sequência de uma franquia que já tentou de tudo e no final acaba mostrando que serviria melhor como qualquer outra coisa, até mesmo como um projeto independente à parte, menos como o “último” seguimento de Halloween.
Só vale a pena pelo embate “final” entre a Laurie, que brilha nos poucos momentos em que o diretor e os QUATRO roteiristas lembram que a protagonista da franquia há 40 anos existe, e o Michael Myers, que por algum motivo decidiu viver como o rato das Tartarugas Ninjas e fazer escolinha dentro do esgoto.
A Jamie Lee Curtis como sempre faz valer seu status de nepobaby e imbui de emoções e significados subjacentes a trajetória de uma mulher eternamente maculada e perseguida pelos crimes da figura masculina que obsessivamente tenta destruir tudo em sua vida — se vingando ao botar pra fora todas suas frustrações e sonhos perdidos por traumas muito mal resolvidos. Como mulher e como pessoa, a Laurie merece destruir o mal que a persegue simplesmente por existir e finalmente ter o mínimo de sossego possível.
Simbolicamente seu ato final é inspirador e emocionalmente carregado de sentidos. Nós te vemos e nos orgulhamos de você, Laurie Strode.
Apesar do filme se cagar todo ao se achar muito mais inteligente do que realmente é, colocando uma reviravolta sem pé nem cabeça — tão mal costurada que precisa de uma narração incesssante para ser explicada aos pormenores —, me causou uma baita surpresa pela caracterização do Poe.
Conhecido por seus contos de mistério e poemas belamente melancólicos, poderia se esperar que a sua versão ficctícia aqui apresentada se mostrasse igualmente soturna e beirando à depressão, mas não. Somos introduzidos a um jovem, sim, marcadamente esquisito e traumatizado, mas também cheio de empolgação, com certos tiques idiossincráticos, ridículo e engraçado em meio à sua pompa juvenil, carregado de floreios e com uma vitalidade invejável.
Eu amei esse Poe.
Mesmo que idealizado e ficcional, dá uma ponta de esperança a uma figura que teve uma vida tão trágica e mergulhada na penúria. É uma tocante homenagem a um sujeito que contribuiu tanto ao imaginário público e à construção da cultura ocidental.
Obrigado por terem feito um Poe momentaneamente “feliz”.
O tipo de filme que se acha muito mais inteligente do que é.
Dá pra imaginar a cara da roteirista em êxtase egoico na cena em que as quatro últimas meninas utilizam todo tipo de termo e expressão pós-linguagem para insultar uma a outra — coitada, ela deve ter se sentido TÃO sagaz com todas essas piscadelas ao público. Nhe.
A razão da morte inicial é tão telegrafada que faz com que todo o desenrolar se torne virtualmente inútil porque se sustenta por inteiro no fator surpresa a ser revelado no final. Contudo as atrizes fazem um verdadeiro tour de force com suas personagens insuportáveis e tiram leite de pedra em suas performances.
É um retrato até que acurado do mutável e extremamente sensível tempo em que vivemos, mas o tom que não se encontra, perdido entre sátira, autoindulgência, egocentrismo da equipe criativa e uma eventual tentativa de pisar em terrenos mais sérios e profundos faz com que a presente obra nunca saiba direito ao que veio.
Em última instância, talvez por isso, reflete perfeitamente a realidade dos jovens que decide criticar.
Nossa… mas o que rolou? Engenhosidade, criatividade, inventividade mergulhadas numa gororoba de humor sardônico e terror vagabundo torna isso daqui uma das mais absurdas experiências cinematográficas que já tive o privilégio de assistir. Vejam.
Bom ver Paco Plaza de volta à boa forma depois do fiasco consciente e proposital de sua chutada no balde, mais conhecida como REC 3.
Almudena Amor carregou o filme nas costas esplendorosamente como se nada fosse, a despeito das viscerais emoções que tinha que manifestar apenas com seu corpo, esguio e performático, seu rosto, expressivo e volátil, e seu olhos, profundos e inquietos.
Uma interpretação muitas vezes solitária que prenuncia potenciais trabalhos interessantes para seu futuro de atriz estreiante. Veremos.
Agora o que eu nunca mais quero ver é dentro das profundezas do olhar dessa velha macabra. Amém.
Impressionante como o filme se caga todo por não saber como concluir a própria história.
Tava num ritmo interessante enquanto se mantinha como um “horror de costumes”, tecendo breves mas pertinentes comentários sobre choque cultural e estudo de hábitos sociais — nada extraordinário, mas instigante o suficiente para me fazer indagar sobre como seria o final daquele fim de semana constrangedor, desconfortável, mas engraçado e desconcertante.
E, então, do nada, sem lé com cré, acontece aquela sequência das fotos, com o diretor e roteirista virando seu longa do avesso e tornando a narrativa na mais genérica possível. É, os brados retumbantes da trilha musical injustificadamente tensa em momentos de imagens sem um significante intrinsecamente angustiante à la A24 já anunciavam a bomba que vinha por aí. Decepcionante.
Confesso que a possibilidade de um desfecho anticlimático, como até então estava sendo o ritmo do filme, com a certeza de que o “stalker” era apenas um esquisito pacato e sua contraparte uma solitária alienada, com ambos retornando às suas patéticas e desinteressantes vidas me estava sendo mais apetitoso e coerente do que o que se revela ao final.
Tematicamente ambas possíveis escolhas fazendo sentido e seguem a linha do estudo da personagem e da análise social sobre seu entorno dramático, mas ao meu ver há um significante muito mais pungente naquilo tudo ter sido apenas um mal entendido entre dois desajustados.
Para mim, esse entendimento mútuo de que não há nada de importante sobre eles ou sobre a fantasia que concretizarem em suas mentes, o desnudar do patético em suas existências me é muito mais aterrorizante ou angustiante do que o que ali de fato ocorreu.
Como alguém que já passou por situações semelhantes, me vi na pele da Gypsy, relembrando de todos meus traumas, de tudo ao que me submeteram, da sensação de impotência, de confusão, as dúvidas sobre mim mesmo e minhas capacidades, se sequer sou um indivíduo autônomo, e do medo, do paralisante e sufocante medo… acerca de tudo, de todos, de mim mesmo e do meu próprio corpo.
E… nossa, a morte da Dee Dee é completamente catártica.
Espero que a Gypsy consiga ter o amparo psiquiátrico, terapêutico, familiar e emocional que tanto merece quando sair da prisão. Somos tanto vítimas quanto algozes nessa vida.
Um exemplo pontual de quando uma fotografia bem desenhada e planejada com a montagem serve como mero atrativo quando não imbuída de simbolismo que adicione algum significado extra aos personagens ou à trama.
Ah, e um Tom Holland genérico aparece ao longo do filme.
Surpreendentemente carregado de alma, vigor e autenticidade em meio ao sistema fordista da Marvel, este daqui é facilmente o melhor filme do MCU até o momento. Taika deixa sua marca ao ironizar e ridicularizar repetidas e incansáveis vezes sua própria obra, num patente contraste à maneira pesada e quase religiosa a como produções de super heróis têm sido tratadas ultimamente, em especial por sua leva de fãs que sentem uma espécie de posse em relação aos filmes e personagens que tanto idolatram.
Assim como os gregos tinham seus anfiteatros e representações populares de figuras míticas, nós também temos nossos deuses da vez, representados em toda sua divindade através de enormes e pequenas telas, para todos urrarem e aplaudirem como se estivessem num Coliseu da vida.
Mas assim como com tudo que se torna extremamente sério, popular e de gosto majoritário, há de se abrir uma brecha para o ridículo, para o escracho, para o reconhecimento do absurdo e sua tomada de consciência.
Um manchild abobalhado que antes era representado como um soturno e respeitado deus. Seu machado enciumado de seu martelo apropriado por outra. A volta de seu grande amor, uma inteligência sem igual que foge da morte certa ao mudar de roupa e cabelo e empunhar uma arma mística. Uma pedra ambulante que se reproduz ao juntar as mãos num mar de lava.
Absurdos óbvios e outros mais sutis que ressaltam o cúmulo do ridículo da existência daquilo que idolatramos e defendemos com tanto afinco — refletindo o patético de nossa própria vida.
Como uma mosca, Taika se infiltrou num espaço muito apertado e restrito; e como a mosca de Raul Seixas, caiu na graça de todos ao irritar, perturbar e tirar nossa atenção da sopa tão densa e gostosa à nossa frente.
Toda essa histeria coletiva, essa comoção injusticada, em torno do Eddie — a Barb 2.0 — enquanto a Max tá lá sendo tratada como a mosca da bosta do cavalo do dublê do ator que não participou do filme.
Impressionante como o subplot da Rússia não acrescentou EM NADA ao arco geral da temporada — serviu apenas pra tirar os “adultos” de perto do perigo central da trama e pra fazer a gente babar no corpo do David Harbour. Nhe.
Ainda tentando entender como a série conseguiu mudar de tom e atmosfera tão abruptamente após a morte da personagem da Juliette Lewis. Rapidamente todos se tornam paródias de si mesmos, as regras internas da sustentação narrativa mudam conforme a conveniência do roteiro e das inúmeras possibilidades abertas para os mistérios, razão de ser da cidade e de seus personagens, rumo da trama etc conseguiram escolher as mais estapafúrdias e simplórias.
Levanta muitas bolas sobre ideias e questões filosóficas, “de onde viemos e aonde vamos?”, “qual a melhor escolha moral para manter uma sociedade viva?”, “vale a pena matar um para salvar muitos?”, “o que é bom?”, “o que é moral?”, “é socialmente válido brincar de deus, especialmente depois de meus peões terem adquirido consciência?”, “o que são leis e como melhor reforçá-las/impô-las?”, “é correto matar?”, “é correto privar a liberdade?”, “o que é a liberdade frente um perigo maior?”, “é válido correr para a morte certa só para não ser um escravo dos ditames alheios?”, “vigiar e punir funciona?”, “qual a forma mais eficaz de propagar ideias e convencer um grande número de pessoas de que estou certo?”… perguntas que nos fazemos incessantemente desde o amanhecer da humanidade, que nos angustiam diariamente e serviram como um evidente propulsor temático para a presente obra, mas que foram chutadas para escanteio.
A premissa da série infelizmente faz se manter no campo das ideias ao em sua execução apenas entregar promessas vazias de nula resolução. E Wayward Pines, assim como o chip rastreador retirado da perna do Ethan, rapidamente desaparece em meio a confusão narrativa, abandona potenciais caminhos e termina por não ir a lugar nenhum.
Óbvio, direto e nada sutil. A escrita de Ben Affleck e Matt Damon — com uma pitada de uma terceira roteirista que só tá lá pra dar uma impressão de legitimação social para o trabalho dos três homens envolvidos na principal parte criativa do filme — deixa a desejar num aprofundamento temático, além de se mostrar extremamente repetitiva.
Impressionante como vemos diversos momentos acontecendo de variadas formas sob diferentes primas e mesmo assim pouco se aprende sobre os protagonistas homens ao longo de mais de duas horas de duração, a maior parte de suas características são mostradas e inferidas logo nos primeiros 40 minutos.
Infelizmente a verdadeira estrela do filme é, seja voluntaria ou involuntariamente mas para todos os propósitos, ofuscada em detrimento de picuinha masculina. É fofoca sobre herança pra cá, maus negócios sobre propriedade pra lá, meteção às escondidas pro Ben Affleck fazer gracinha… isso tudo enquanto mal e porcamente aprendemos sobre os estados internos e privacidade da personagem da Jodie Comer, que tinha TANTO a oferecer.
Como foi crescer isolada do mundo por um nobre mal visto pela corte francesa? Como ela se tornou tão culta? Como sua inteligência e erudição poderiam ser mostradas em tela ao invés de apenas mencionadas? Como ela faz pra esconder sua audácia a fim de aparentar ser boa moça? Sobre o que ela e as amigas tanto conversam e que podem ser assunto de fofoca feminina na roça da França do século XIV? Os míseros minutos que temos só dela regendo o castelo enquanto o brucutu do Matt Damon se encontra fora do país é um aperitivo tão mais palatável e intrigante do que o prato principal…
Para além disso, quando a narrativa se torna cada vez mais consciente de seu propósito social, não vai além do óbvio. Sim, já esperávamos que duvidassem dela, que fosse abusada pelo marido quando revelasse o ocorrido, que fosse açoitada social e moralmente pela sociedade hipócrita à sua volta… mas eu fiquei tão tentado a bisbilhotar os pensamentos da mulher que insistiu e ousou no espaço público, a despeito de todos os obstáculos e a falta de crença nela. De onde saiu esse fogo? Essa coragem? Por que o mullet de Matt Damon e o cabelo descolorido de Ben Affleck ganharam tão mais destaque? Ah, sim, eles escreveram e produziram o filme e foram intoxicados pelo sucesso que parcerias anteriores já geraram.
Neste sentido, Ridley Scott fez um mamão com açúcar bem competente e agradável, nada que um diretor tão experienciado e com tanta bagagem não pudesse oferecer de olhos fechados e com a atenção voltada para outro filme que estava para lançar simultaneamente. Me pego pensando se se a premissa fosse dada às mãos de uma roteirista e uma diretora não tão famosas e com um ardente desejo de explorar a verdadeira protagonista da história não resultaria num épico interno sobre uma mulher injustamente acusada de falso testemunho e abusada não só pelas mãos dos homens à sua volta, mas também pelas línguas que controlam seu espaço social na França medieval.
Acredito que uma narrativa vista pela posição dela e guiada por suas ações traria muito mais sabor ao público do que prazer egoico aos pretensos roteiristas e tenebrosos atores que encabeçaram isso daqui — ao menos Ben Aflleck teve um lapso de humildade ao deixar seu papel para o Adam Driver, se recolhendo à sua insignificância para ficar com um personagem menor.
Voo 370: O Avião que Desapareceu
3.1 56Manual de como não fazer um documentário
A Baleia
4.0 1,0KSão filmes como esse que me lembram das razões pelas quais faço Cinema.
Uma aula completa, do início ao fim, não só de Cinema, mas também sobre como se fazer uma linda e comovente história com personagems que se destroem, destroem aos outros e destroem suas relações por não saberem lidar com seu sofrimento, sua culpa e seus fracassos.
São pessoas honestas, reais, lindas, incríveis e transformadoras. Há sempre uma luz no fim do túnel.
A Tortura do Silêncio
3.9 142 Assista AgoraFilmes noir realmente não são pra mim
Halloween Ends
2.3 537É engraçado como Rua Cloverfield, 10 foi concebido como um projeto sem qualquer relação com o filme de monstros Cloverfield mas foi incorporado com sucesso como sua continuação, enquanto isso daqui teve sua concepção como uma sequência de uma franquia que já tentou de tudo e no final acaba mostrando que serviria melhor como qualquer outra coisa, até mesmo como um projeto independente à parte, menos como o “último” seguimento de Halloween.
Só vale a pena pelo embate “final” entre a Laurie, que brilha nos poucos momentos em que o diretor e os QUATRO roteiristas lembram que a protagonista da franquia há 40 anos existe, e o Michael Myers, que por algum motivo decidiu viver como o rato das Tartarugas Ninjas e fazer escolinha dentro do esgoto.
A Jamie Lee Curtis como sempre faz valer seu status de nepobaby e imbui de emoções e significados subjacentes a trajetória de uma mulher eternamente maculada e perseguida pelos crimes da figura masculina que obsessivamente tenta destruir tudo em sua vida — se vingando ao botar pra fora todas suas frustrações e sonhos perdidos por traumas muito mal resolvidos. Como mulher e como pessoa, a Laurie merece destruir o mal que a persegue simplesmente por existir e finalmente ter o mínimo de sossego possível.
Simbolicamente seu ato final é inspirador e emocionalmente carregado de sentidos. Nós te vemos e nos orgulhamos de você, Laurie Strode.
O Pálido Olho Azul
3.3 275Apesar do filme se cagar todo ao se achar muito mais inteligente do que realmente é, colocando uma reviravolta sem pé nem cabeça — tão mal costurada que precisa de uma narração incesssante para ser explicada aos pormenores —, me causou uma baita surpresa pela caracterização do Poe.
Conhecido por seus contos de mistério e poemas belamente melancólicos, poderia se esperar que a sua versão ficctícia aqui apresentada se mostrasse igualmente soturna e beirando à depressão, mas não. Somos introduzidos a um jovem, sim, marcadamente esquisito e traumatizado, mas também cheio de empolgação, com certos tiques idiossincráticos, ridículo e engraçado em meio à sua pompa juvenil, carregado de floreios e com uma vitalidade invejável.
Eu amei esse Poe.
Mesmo que idealizado e ficcional, dá uma ponta de esperança a uma figura que teve uma vida tão trágica e mergulhada na penúria. É uma tocante homenagem a um sujeito que contribuiu tanto ao imaginário público e à construção da cultura ocidental.
Obrigado por terem feito um Poe momentaneamente “feliz”.
Morte Morte Morte
3.1 645O tipo de filme que se acha muito mais inteligente do que é.
Dá pra imaginar a cara da roteirista em êxtase egoico na cena em que as quatro últimas meninas utilizam todo tipo de termo e expressão pós-linguagem para insultar uma a outra — coitada, ela deve ter se sentido TÃO sagaz com todas essas piscadelas ao público. Nhe.
A razão da morte inicial é tão telegrafada que faz com que todo o desenrolar se torne virtualmente inútil porque se sustenta por inteiro no fator surpresa a ser revelado no final. Contudo as atrizes fazem um verdadeiro tour de force com suas personagens insuportáveis e tiram leite de pedra em suas performances.
É um retrato até que acurado do mutável e extremamente sensível tempo em que vivemos, mas o tom que não se encontra, perdido entre sátira, autoindulgência, egocentrismo da equipe criativa e uma eventual tentativa de pisar em terrenos mais sérios e profundos faz com que a presente obra nunca saiba direito ao que veio.
Em última instância, talvez por isso, reflete perfeitamente a realidade dos jovens que decide criticar.
Maria Bakalova merecia mais.
Uma Noite Alucinante 2
3.8 713 Assista AgoraNossa… mas o que rolou? Engenhosidade, criatividade, inventividade mergulhadas numa gororoba de humor sardônico e terror vagabundo torna isso daqui uma das mais absurdas experiências cinematográficas que já tive o privilégio de assistir. Vejam.
Pearl
3.9 1,0KMia Goth comanda esse mundo e nós somos apenas vermes privilegiados vivendo nele.
A Avó
3.0 168Que lindo o amor sáfico.
Bom ver Paco Plaza de volta à boa forma depois do fiasco consciente e proposital de sua chutada no balde, mais conhecida como REC 3.
Almudena Amor carregou o filme nas costas esplendorosamente como se nada fosse, a despeito das viscerais emoções que tinha que manifestar apenas com seu corpo, esguio e performático, seu rosto, expressivo e volátil, e seu olhos, profundos e inquietos.
Uma interpretação muitas vezes solitária que prenuncia potenciais trabalhos interessantes para seu futuro de atriz estreiante. Veremos.
Agora o que eu nunca mais quero ver é dentro das profundezas do olhar dessa velha macabra. Amém.
Noites Brutais
3.4 1,1KComo pode um único filme ter 5 ou 6 finais consecutivos e todos terríveis.
Serial Kelly
2.8 51Cinema nacional é bom demais
1899 (1ª Temporada)
3.6 394Fraquinho… Não passa de Zack & Cody: Gêmeos a Bordo versão Dark.
Não Fale o Mal
3.6 692Impressionante como o filme se caga todo por não saber como concluir a própria história.
Tava num ritmo interessante enquanto se mantinha como um “horror de costumes”, tecendo breves mas pertinentes comentários sobre choque cultural e estudo de hábitos sociais — nada extraordinário, mas instigante o suficiente para me fazer indagar sobre como seria o final daquele fim de semana constrangedor, desconfortável, mas engraçado e desconcertante.
E, então, do nada, sem lé com cré, acontece aquela sequência das fotos, com o diretor e roteirista virando seu longa do avesso e tornando a narrativa na mais genérica possível. É, os brados retumbantes da trilha musical injustificadamente tensa em momentos de imagens sem um significante intrinsecamente angustiante à la A24 já anunciavam a bomba que vinha por aí. Decepcionante.
Candy: Uma história de paixão e Crime
3.5 45A ficção nunca será tão absurda quanto a vida real.
Observador
3.4 283Confesso que a possibilidade de um desfecho anticlimático, como até então estava sendo o ritmo do filme, com a certeza de que o “stalker” era apenas um esquisito pacato e sua contraparte uma solitária alienada, com ambos retornando às suas patéticas e desinteressantes vidas me estava sendo mais apetitoso e coerente do que o que se revela ao final.
Tematicamente ambas possíveis escolhas fazendo sentido e seguem a linha do estudo da personagem e da análise social sobre seu entorno dramático, mas ao meu ver há um significante muito mais pungente naquilo tudo ter sido apenas um mal entendido entre dois desajustados.
Para mim, esse entendimento mútuo de que não há nada de importante sobre eles ou sobre a fantasia que concretizarem em suas mentes, o desnudar do patético em suas existências me é muito mais aterrorizante ou angustiante do que o que ali de fato ocorreu.
The Act
4.3 392Como alguém que já passou por situações semelhantes, me vi na pele da Gypsy, relembrando de todos meus traumas, de tudo ao que me submeteram, da sensação de impotência, de confusão, as dúvidas sobre mim mesmo e minhas capacidades, se sequer sou um indivíduo autônomo, e do medo, do paralisante e sufocante medo… acerca de tudo, de todos, de mim mesmo e do meu próprio corpo.
E… nossa, a morte da Dee Dee é completamente catártica.
Espero que a Gypsy consiga ter o amparo psiquiátrico, terapêutico, familiar e emocional que tanto merece quando sair da prisão. Somos tanto vítimas quanto algozes nessa vida.
Maus Momentos no Hotel Royale
3.6 345 Assista AgoraUm exemplo pontual de quando uma fotografia bem desenhada e planejada com a montagem serve como mero atrativo quando não imbuída de simbolismo que adicione algum significado extra aos personagens ou à trama.
Ah, e um Tom Holland genérico aparece ao longo do filme.
Prisioneiro da Madrugada
2.9 22Excelente no que promete, decepcionante no que cumpre.
Trem-Bala
3.6 591Pra um filme chamado Trem Bala é irônico que seu maior problema seja justamente o ritmo (e as piadas sem graça repetidas ad nauseam).
Agente Oculto
3.2 384Por que o Chris Evans tá interpretando o personagem dele de Knives Out de novo?
Thor: Amor e Trovão
2.9 974Surpreendentemente carregado de alma, vigor e autenticidade em meio ao sistema fordista da Marvel, este daqui é facilmente o melhor filme do MCU até o momento. Taika deixa sua marca ao ironizar e ridicularizar repetidas e incansáveis vezes sua própria obra, num patente contraste à maneira pesada e quase religiosa a como produções de super heróis têm sido tratadas ultimamente, em especial por sua leva de fãs que sentem uma espécie de posse em relação aos filmes e personagens que tanto idolatram.
Assim como os gregos tinham seus anfiteatros e representações populares de figuras míticas, nós também temos nossos deuses da vez, representados em toda sua divindade através de enormes e pequenas telas, para todos urrarem e aplaudirem como se estivessem num Coliseu da vida.
Mas assim como com tudo que se torna extremamente sério, popular e de gosto majoritário, há de se abrir uma brecha para o ridículo, para o escracho, para o reconhecimento do absurdo e sua tomada de consciência.
Um manchild abobalhado que antes era representado como um soturno e respeitado deus. Seu machado enciumado de seu martelo apropriado por outra. A volta de seu grande amor, uma inteligência sem igual que foge da morte certa ao mudar de roupa e cabelo e empunhar uma arma mística. Uma pedra ambulante que se reproduz ao juntar as mãos num mar de lava.
Absurdos óbvios e outros mais sutis que ressaltam o cúmulo do ridículo da existência daquilo que idolatramos e defendemos com tanto afinco — refletindo o patético de nossa própria vida.
Como uma mosca, Taika se infiltrou num espaço muito apertado e restrito; e como a mosca de Raul Seixas, caiu na graça de todos ao irritar, perturbar e tirar nossa atenção da sopa tão densa e gostosa à nossa frente.
Stranger Things (4ª Temporada)
4.2 1,0KToda essa histeria coletiva, essa comoção injusticada, em torno do Eddie — a Barb 2.0 — enquanto a Max tá lá sendo tratada como a mosca da bosta do cavalo do dublê do ator que não participou do filme.
Impressionante como o subplot da Rússia não acrescentou EM NADA ao arco geral da temporada — serviu apenas pra tirar os “adultos” de perto do perigo central da trama e pra fazer a gente babar no corpo do David Harbour. Nhe.
Wayward Pines (1ª Temporada)
3.8 203Ainda tentando entender como a série conseguiu mudar de tom e atmosfera tão abruptamente após a morte da personagem da Juliette Lewis. Rapidamente todos se tornam paródias de si mesmos, as regras internas da sustentação narrativa mudam conforme a conveniência do roteiro e das inúmeras possibilidades abertas para os mistérios, razão de ser da cidade e de seus personagens, rumo da trama etc conseguiram escolher as mais estapafúrdias e simplórias.
Levanta muitas bolas sobre ideias e questões filosóficas, “de onde viemos e aonde vamos?”, “qual a melhor escolha moral para manter uma sociedade viva?”, “vale a pena matar um para salvar muitos?”, “o que é bom?”, “o que é moral?”, “é socialmente válido brincar de deus, especialmente depois de meus peões terem adquirido consciência?”, “o que são leis e como melhor reforçá-las/impô-las?”, “é correto matar?”, “é correto privar a liberdade?”, “o que é a liberdade frente um perigo maior?”, “é válido correr para a morte certa só para não ser um escravo dos ditames alheios?”, “vigiar e punir funciona?”, “qual a forma mais eficaz de propagar ideias e convencer um grande número de pessoas de que estou certo?”… perguntas que nos fazemos incessantemente desde o amanhecer da humanidade, que nos angustiam diariamente e serviram como um evidente propulsor temático para a presente obra, mas que foram chutadas para escanteio.
A premissa da série infelizmente faz se manter no campo das ideias ao em sua execução apenas entregar promessas vazias de nula resolução. E Wayward Pines, assim como o chip rastreador retirado da perna do Ethan, rapidamente desaparece em meio a confusão narrativa, abandona potenciais caminhos e termina por não ir a lugar nenhum.
O Último Duelo
3.9 326Óbvio, direto e nada sutil. A escrita de Ben Affleck e Matt Damon — com uma pitada de uma terceira roteirista que só tá lá pra dar uma impressão de legitimação social para o trabalho dos três homens envolvidos na principal parte criativa do filme — deixa a desejar num aprofundamento temático, além de se mostrar extremamente repetitiva.
Impressionante como vemos diversos momentos acontecendo de variadas formas sob diferentes primas e mesmo assim pouco se aprende sobre os protagonistas homens ao longo de mais de duas horas de duração, a maior parte de suas características são mostradas e inferidas logo nos primeiros 40 minutos.
Infelizmente a verdadeira estrela do filme é, seja voluntaria ou involuntariamente mas para todos os propósitos, ofuscada em detrimento de picuinha masculina. É fofoca sobre herança pra cá, maus negócios sobre propriedade pra lá, meteção às escondidas pro Ben Affleck fazer gracinha… isso tudo enquanto mal e porcamente aprendemos sobre os estados internos e privacidade da personagem da Jodie Comer, que tinha TANTO a oferecer.
Como foi crescer isolada do mundo por um nobre mal visto pela corte francesa? Como ela se tornou tão culta? Como sua inteligência e erudição poderiam ser mostradas em tela ao invés de apenas mencionadas? Como ela faz pra esconder sua audácia a fim de aparentar ser boa moça? Sobre o que ela e as amigas tanto conversam e que podem ser assunto de fofoca feminina na roça da França do século XIV? Os míseros minutos que temos só dela regendo o castelo enquanto o brucutu do Matt Damon se encontra fora do país é um aperitivo tão mais palatável e intrigante do que o prato principal…
Para além disso, quando a narrativa se torna cada vez mais consciente de seu propósito social, não vai além do óbvio. Sim, já esperávamos que duvidassem dela, que fosse abusada pelo marido quando revelasse o ocorrido, que fosse açoitada social e moralmente pela sociedade hipócrita à sua volta… mas eu fiquei tão tentado a bisbilhotar os pensamentos da mulher que insistiu e ousou no espaço público, a despeito de todos os obstáculos e a falta de crença nela. De onde saiu esse fogo? Essa coragem? Por que o mullet de Matt Damon e o cabelo descolorido de Ben Affleck ganharam tão mais destaque? Ah, sim, eles escreveram e produziram o filme e foram intoxicados pelo sucesso que parcerias anteriores já geraram.
Neste sentido, Ridley Scott fez um mamão com açúcar bem competente e agradável, nada que um diretor tão experienciado e com tanta bagagem não pudesse oferecer de olhos fechados e com a atenção voltada para outro filme que estava para lançar simultaneamente. Me pego pensando se se a premissa fosse dada às mãos de uma roteirista e uma diretora não tão famosas e com um ardente desejo de explorar a verdadeira protagonista da história não resultaria num épico interno sobre uma mulher injustamente acusada de falso testemunho e abusada não só pelas mãos dos homens à sua volta, mas também pelas línguas que controlam seu espaço social na França medieval.
Acredito que uma narrativa vista pela posição dela e guiada por suas ações traria muito mais sabor ao público do que prazer egoico aos pretensos roteiristas e tenebrosos atores que encabeçaram isso daqui — ao menos Ben Aflleck teve um lapso de humildade ao deixar seu papel para o Adam Driver, se recolhendo à sua insignificância para ficar com um personagem menor.