Blade Runner é uma obra infelizmente para poucos, um cyberpunk intimista e sucinto no que apresenta. A fotografia, a música e as atuações são quase contemplativas. Os detalhes são tantos que enriquecem uma narrativa até simples. Esse filme consegue deixar permanecer o mesmo espirito da obra original, e faz ecoar com muito respeito e qualidade algo tão cult. Concordo com Ridley Scott que quase 3 horas encorpou o filme sem necessidade, mas Villeneuve é fantástico quando trabalha temas como esse, não só de ficção cientifica, mas a sutileza humana mesmo em algo tão artificial.
Falar da direção de Spielberg é chover no molhado, mais uma vez tratando de temas "sérios", como no filme Munich (esse bastante pessimista), ele consegue com muita elegância tratar de um tema tão complicado. A guerra fria. Alguns acusam o cineasta de melodramático, pode ate ser, mais aqui ele saiu muito bem, deixando claro suas defesas morais, não agindo de forma maniquísta. Mostrando os comunistas soviéticos como vilões, assustadores e comedores de criancinha. Embora ao mostrar os dois lados ideológicos, tende de forma muito leve, levantar o pendão, da justiça, e liberdade americanos, usando como pano de fundo o grande Advogado James Donovan (tom Hanks).
Há de se destacar a grande atuação de Hanks, que transparece moral, zê-lo, justiça, honestidade e bom caráter, sendo ele a melhor escolha nesse papel, pois soa simpático ao apresentar todas as qualidades. Ele conduz a trama absorvendo o publico, de forma que estamos junto com ele defendo ideais como se fossem nossos.
Destaco que esse filme é uma bela amostra de como se deve agir em nome da Juris, sendo o papel de Donovan crucial nessa disputa geopolítica, deixando claro que suas convicções baseadas na Constituição são seus basilares, mesmo para defesa do pior inimigo da America naquele período. Onde ele vem lembrar que mesmo naquela situação, o preso deve receber apoio e dignidade, e para ser possível esperar o julgamento de forma justa e eficaz. Ele foi convidado a defender um espião Russo, no momento onde a cultura do medo comunista, difundido (e bem demonstrado no filme) pelo macartismo que se tornou a cultura da paranoia e medo, vindo se espalhar pelo globo.
Assim esse filme é uma bela exposição, sínica de Spielberg sobre a forma de agir e pensar do contexto politico. Lembrando que o mesmo acontece dos dois lados antagônicos. Deixando nas mãos do público julgar o mais justo. Aborda um período onde a menor sombra de comunismo era tido como crime contra a nação EUA e isso era tratado com cadeira elétrica, com julgamentos fantasiosos e mais do que ficcionais.
A atuação do brilhante Mark Rylance que entrega o ponderado, irônico e divertido Abel, que quase nos engana sobre sua situação, parecendo resignado com a força politica em questão, sabendo que não passa de uma peça do tabuleiro, e não tem valor nenhum como pessoa. Assim ele forma uma bela dupla com Hanks, que sempre está incomodado com fazer o correto, olhar com verdade para vida humana, e chega a repetir por toda a película, "que cada vida importa, cada uma delas".
Com um roteiro competente, e direção focada, temos um dos melhores filmes do ano, com ótima fotografia e com decisões inteligentes, Spielberg acertou em cheio com esse filme, sendo um belo filme jurídico, politico, dramático, de espionagem com pitadas brilhantes de humor. Fazendo tudo de forma muito orgânica e sem prejuízo. Bravo mestre Spielberg.
Depois de Rashomon, muitos diretores querem trabalhar filmes com diversos pontos de vista. Mas esse além de irreal, é muito cansativo no corte de história. Deveriam aprender como se contar algo assim, como em cidade de Deus.
Bela atuação de Steve Carrel, irreconhecível no papel de Du pont. Uma pena ter saído num ano tão disputado no Oscar, onde qualquer um que ganhasse seria muito justo. Merecia pelo menos premio de maquiagem. Com uma história que só teve um lado contando a história, é de se esperar que o filme tenha que preencher muitas lacunas. Realmente sufocante, inesperada e catastrófica história. A vida real tá aí para surpreender cada um de nós.
Antes de começar a ver o filme, acreditava se tratar de um filme de drama de tribunal, um filme jurídico, mas nos primeiros minutos do longa, nos deparamos com um filme de trama policial, com personagens canastrões, mas com narrativa bem original. Filme baseado no best seller de Michael Conelly, ( que eu não li, infelizmente) onde esse advogado, tem como seu escritório, o banco de um sedã Lincoln, rodando pelos tribunais defendendo pequenos casos.
Aqui vamos acompanhar a vida daquilo que apelidamos como "Advogado de porta de cadeia", odiado pelos policias e sua ex-esposa, promotora, por ter escolhido essa forma de "trabalho", de soltar aqueles que muitos consideram culpados. E logo de cara, conhecemos sua natureza e seu modus operandi, ele faz parte das ruas, e toda sua malícia, versatilidade, é usada para conseguir aquilo que ele pretende, ganhar muito dinheiro usando o sistema falho.
Mick Haller, interpretado por Matthew McConaughey, é um personagem de natureza ambígua, que exige muito mais carisma do que atuação, mesmo com um jeito quase canastrão, ele nos convence, nem lembrando de longe sua atuação em "Tempo de matar", onde ele compõe um Advogado. O filme não busca aprofundar em temas como, "o que é justiça?, Existe justiça? Legitimidade, princípios e valores, são meros subterfúgios para construção do roteiro, o que nesse caso é muito bom. O filme procura levar o espectador muito mais pela trama do que pelo discurso, o que faz dele uma grata surpresa.
As cenas são muito bem construídas, como um mise en scène e diálogos já pensados, exatamente como num tribunal, onde quase tudo soa tão verdadeiro e tão falso a cada minuto que passa. Essa dinâmica foi bastante enriquecida pelo carisma de McConaughey, trazendo seu sotaque arrastado, aliado a frases baixas ao pé do ouvido, soando quase como um convite, uma ameaça, ou um aviso.
E como um anti-herói ele passa pela curva moral. Depois de habitualmente ludibriar a todos, ele se vê enganado, e vivendo num inferno diante de um caso que saiu do seu controle, ele começa a ter que usar todas as suas habilidades, mas agora para corrigir vários erros do presente e do passado. A escolha do ator Ryan Phillippe, foi importante, já que ele contrapõe muito bem a atuação de McConaughey, deixando transparecer para o advogado, seu amadurecimento diante do outro, mimado e playboy.
Esse filme, é uma ótima pedida, tanto para os amantes dos filmes jurídicos, quanto para aqueles que gostam de suspense e ótimas histórias.
E vamos falar de Kingsman. Eu gosto bastante das HQs de Mark Millar, seu jeito subversivo de falar de temas relacionado a heróis, e sempre brincar com esses aspectos, procurando inovar na linguagem que esta abordando, seja vigilantes urbanos, seja espiões, ou seja menininhas assassinas. Já quando se trata dos seus trabalhos no universo Marvel, eu já não acompanho tanto... Esse é o terceiro filme que vejo, de Hqs adaptadas de suas obras. O primeiro, "Kick-Ass", gostei bastante do humor negro, e a forma caricata, onde ele se permite rir de suas próprias criações, a violência mesclada com inocência e exageros, e seu aforismo de tratar algo tão fora da curva, do que esta sendo mostrados nas mídias de super heróis atualmente. Seu segundo longa, "Wanted", já não foi tão satisfatório, mau adaptado e cheio de cenas que até para as obras de Millar, são cafonas e clichês a esmo. Gosto bem mais do quadrinho do que do filme. E o terceiro é sua melhor adaptação, filme competente, divertido, e que supera tudo que foi feito até aqui. Li em algum lugar que Millar e o diretor Matthew Vaughn, viram "Cassino Royale" e de imediato tiveram a ideia de escrever essa obra, e trazendo para a tela, eles elevaram as loucuras e exageros (ótimos por sinal) a potencia máxima. É uma bela homenagem aos filmes oitentistas de espião, mesmo em tom de comédia, vimos uma bela paródia de 007. Cenas de ação competentes, que conseguem transformar um ator como Colin Firth, num habilidoso lutador, e exímio assassino. Quase nos esquecemos dos seus papeis burocráticos de outrora, tamanha a qualidade e diversão das cenas, vale ressaltar a cena da igreja, que foi uma das maiores desculpas, para ação desenfreada, humor negro, liberdade criativa, e subversão vista nos últimos anos no cinema. Agora mais uma vez, ficou claro, a tendencia de lutas e armas de fogo, no cinema, com filmes como "John Wick", e agora esse, me lembrando os clássicos de John Woo. Outra coisa bem interessante, é a desconstrução de esteriótipos feitas por Vaughn, com heróis super clássicos, e elegantes, que escondem habilidades mortais, em contraponto à vilões, coloridos, estapafúrdios, de língua presa, que deixa em evidencia a deficiente do personagem. Com uma linguagem jovem, mas que não apela para o público teen, ele consegue cativar todos os públicos, mesmo aqueles não tão adaptados e essa veia de comédia. Com algumas aparições surpreendentes, para o público nerd é um prato cheio. Aliás, o filme é um presente, para qualquer um que goste de bom filme, que te propõe algo e entrega de forma excelente, e afirmo com certeza, é um dos filmes mais divertidos do ano.
E vamos falar de relatos selvagens. Esse filme, com drama, humor negro, e um pouco de suspense, vem trazendo seis historias diferentes, mas que tem algo em comum, a perda de controle, sempre municiada pelas coisas triviais do dia a dia. A vingança é o plot central, o que uni muito bem essa antologia. Lugares comuns como Aviões, lanchonetes em beira de estrada, viagem de carro, e casamentos, são lugares banais, que se tornam palco de um dia de fúria de cada personagem, ali o diretor emoldura de forma particular, a relação das pessoas com as situações. O humor carregado por momentos quase dramáticos, levam o tom de cada história, contada em forma de episódios, voltadas para o sadismo urbano. Mesmo algumas delas sendo altamente previsíveis, acredito que foi proposital, o diretor quase nos surpreende, deixando claro para onde a historia será guiada, e de repente rimos de nós mesmos, com desfechos mais que óbvios. A fita é picotada, em cortes narrativos que nunca nos deixam saber mais sobre cada um deles, e isso é intrigante, já que mesmo assim, com poucos minutos, nos vemos ali do lado de cada um, quase vivendo a situação e decidindo o que fazer. As histórias são curtas o que contribui muito para o andamento do filme. Acredito que o filme de Michael Douglas (Dia de fúria) serviu de base, mas o cinema argentino soube brincar muito bem com a estética. Com Ricardo Darín no elenco é garantia de coisa boa. E se compreende o porque de tanto sucesso de crítica e público.
Limites sempre são perguntados quando algo extrapola aquilo que consideramos comum, isso em sentido latu, pode ser no amor que se torna obsessão, num prazer que se torna um vício, ou disciplina que se torna algo totalmente destrutivo. Esse filme faz lembrar "Nascido para matar" de Kubrick, onde existe a figura do Sargento que de forma sádica, preconceituosa e fanática, ensina seus recrutas a se tornarem os melhores naquilo que se propõem. Sendo levados a desumanização e tortura, física e psicológica.
O jovem baterista Andrew Neyman, tem o sonho de se tornar o maior baterista de sua época, vocacionado desde pequeno à música, procura na pessoa do professor Terence Fletcher, encontrar sua perfeição e aceitação. Mas se depara com sua avidez nos excessos e sua exigente forma de ensinar, transformando o equilíbrio físico e mental de seus alunos, em frangalhos. Fletcher leciona na mais conceituada instituição de ensino superior de musica, e na sua banda de Jazz da faculdade, busca os melhores profissionais, transformando a vida deles num ambiente hostil e militarizado. Assim desencadeia um desequilíbrio emocional na vida de Andrew, que reflete em suas relações sociais e familiares.
A atuação de J.K. Simons reflete sua vitória de melhor ator coadjuvante no Oscar, ele emoldura muito bem esse papel, com seu jeito seguro e egocêntrico, provoca seus alunos ao limite e tem todos sob controle, ao ponto que conduz a classe com ferocidade tal, que alguns até choram diante do seu olhar de desprezo ou descontentamento. Como no momento que ao entrar na sala já exige que todos estejam em seus postos, e prontos para tocar ao menor movimento do condutor, consegue de forma quase sobrenatural achar defeitos imperceptíveis, e punir seus alunos, atingindo-os emocionalmente. E de forma contraposta, Fletcher também demonstra seu lado "humano" se emocionando ao ouvir uma execução perfeita, ao conversar com uma filha de um amigo ou lembrar de uma aluno que faleceu. E seu olhar e expressões são grandes armadilhas a todo momento, sendo que no momento que ele se torna agradável, busca em conversas descontraídas, descobrir onde afetar seus alunos, levando cada um deles a competição, humilhação e choque.
Milles Teller (Andrew) compõe um belo personagem, complexo já que tem que lidar com suas ambições, alegrias distorcidas e devoção a música, e nos deixa ambíguos em relação a isso, já que mesmo ele sendo afetado brutalmente pela sua relação com Fletcher, seu amor incondicional a música nos faz torcer por ele. A montagem do filme foi o que mais gostei, os belos cortes de câmera, aumentando a tensão, a música maravilhosa (adoro jazz sou suspeito) que tem sua beleza atingida pelas horríveis cenas de abusos e excessos, e os focos entre instrumentos, olhares, partituras e esforço dos artistas, de forma frenética, fazem o expectador ficar grudado na cadeira. Cada acorde, cada ensaio, e pratica quase extasiante, foi muito bem orquestrada pelo diretor. De forma que mesmo não sendo acostumados com esse estilo, somos enebriados com essa onda de emoções opostas.
Em seu final, Whiplash vem discutir a linha tênue entre o incentivo, e o destrutivo, e os métodos usados para se conseguir trabalhos de alto nível, o filme não usa um discurso moralista, mas fala muito bem dos resultados de uma obstinação. Muitas vezes jovens perseguindo seus sonhos se deixam humilhar e colapsar diante de alguém, que esta numa situação de inquisidor, alguém que determinara até onde seu sonho vai chegar. Mas de forma arrebatadora temos um final que vem dizer que a beleza da música vence, e saímos do filme entusiasmados e emocionados. https://www.facebook.com/cinemassivo
Que conclusão épica, cenas coreografadas incríveis, as pequenas falhas não atrapalharam em nada essa execução final, um dos melhores filmes pop de ação que assiste, tem peso, tem drama e tem diversão, muito bom. Leia meu ultimo comentário sobre Samurai X: Inferno em Kyoto aqui; http://filmow.com/comentarios/5134179/
O diretor Iñarritu e o fotógrafo Emmanuel Lubezki conseguiram aquilo que eu mais admiro em um filme, falar sobre algo, sem precisar explicar de forma mastigada aquilo que quer deixar como mensagem, e cito a fotografia de Emmanuel, porque ele consegue superar aquilo que me cativou em (A árvore da vida, Gravidade e Filhos da esperança), o belo uso da câmera para explicar algo que palavras não conseguiriam. Já de Iñarritu sempre espero belas montagens, roteiro sólido e muita crítica, e ele fez por merecer todo esse alvoroço em volta desse longa.
Birdman é um filme que brinca com "coincidências", e digo brinca, porque é bem claro que seu humor ácido está em todas as escolhas do filme, desde seu casting, até suas falas. O filme se trata da produção de uma peça de teatro, escrita, dirigida e protagonizada por Riggan Thomas (Michael Keaton), tentando mostrar a todos que ele não apenas um ator de um filme conhecido de herói, mas que ele sabe produzir arte, assim Iñarritu começa a primeira das várias referências a vida de Keaton, já que na vida real, ele deixou esse papel em 1992 e desde então não produziu nada de relevante.
O filme é cortado de forma eficiente, fazendo parecer que estamos vendo uma peça de teatro, com Riggan sendo o protagonista, e seus amigos e familiares entram e saem de cena servindo de apoio ao personagem, apesar da câmera emular um único plano-sequência, o tempo passa normalmente, apoiando a ideia do teatro, já que esse tipo de câmera, procura definir a não passagem do tempo. O diretor de fotografia conduz muito bem o clima de pressão posicionando a lente nas costas do personagem, com a câmera o seguindo por toda parte, em lugares pequenos e confinados, e definindo bem a passagem de tempo surpreendente com elipses bem construídas. A linguagem foi bem usada, já que dá mais enfase naquele momento da vida de Riggan, onde ele pensa sobre as escolhas que fez, sobre como as pessoas o enxergam, seu potencial talento, e como as coisas parecem dar errado na pré produção da peça. E isso é evocado também pela sua relação com as pessoas, sua filha recém saída de uma clínica de reabilitação, seu amigo e agente que teme o fiasco da peça, uma possível gravidez, e a crítica de teatro do New york times (Duncan) que jura que irá afundá-lo, soma-se isso a voz que Riggan escuta de Birdman sempre o lembrando que poderia ter feito escolhas mais rentáveis.
A música abre margem para a parte surrealista que é exposta no filme, com uma sonoridade sem ritmo, com um jazz que não casa com a cena, proposital, sendo criada para incomodar, como um artifício dramático que enfatiza o desmoronar emocional do personagem diante dos problemas, acompanhado por floreios metalinguísticos, onde o personagem cria sua defesa interna, quando acredita mover objetos inanimados, e sua interação nada real com Birdman, seu alter ego.
As atuações do elenco de apoio são cheias de complexidade e com rimas e piadas, não só sobre os atores do filme quanto relacionadas a crítica que o filme procura fazer. Emma Stone como a filha de Riggan mostra a maturidade da atriz em trazer um personagem cheia de nuances, é a filha rejeitada, que esta se reerguendo, que mesmo não acreditando no pai, está o apoiando. Mike (Edward Norton) brilhante em criar uma paródia de sí mesmo, deixando claro sobre como as pessoas o vêem como ator, brilhante e arrogante, eficiente mais difícil de trabalhar, ele consegue criar um contra ponto genial com Riggan. E a dupla Emma Stone e Zach Galifianakis, que mesmo com menos destaque mostram que não são apenas atores que trabalham em sua zona de conforto, podem fazer mais. E escolher esses personagens centrais é bater exatamente na crítica que o filme vem fazer sobre a produção de arte enlatada nos tempos atuais. (Norton/Hulk, Emma/Gwen Stacy, Keaton/Batman).
Birdman critica tudo e todos, e consegue ser bem justo em todos esses aspectos, ele procurar nos fazer pensar sobre a relevância que temos no mundo e sobre o que fazemos sobre isso, procura falar sobre a necessidade de ser amado continuamente, e ainda sobre o envelhecer e suas escolhas, em como não conseguimos fugir disso. Critica o cinema entretenimento, quando em determinado momento do filme, o personagem se torna o Birdman, e voa e fazendo coisas miraculosas, com explosões e feitos especiais. Quase dizendo, é isso que vocês gostam não é? Critica a própria ideia de crítica, fazendo a gente se perguntar sobre quem deve achar algo bom, ruim ou relevante, o público alvo ou a crítica especializada. Sobre como existe um embate entre a industria de celebridades e atores clássicos e comprometidos com a Arte. Ainda a vulgarização de todo esse celeuma pela mídia e imprensa, com produção de notícias absurdas fabricadas por puro capricho midiático.
Cabe ainda ressaltar a brilhante atuação de Michael Keaton, que no papel de sua vida, consegue mostrar a fragilidade, a idade e o comprometimento físico do ator, em contra ponto a arrogância e ganância do personagem, onde ele olha para dentro e vê um cara frágil, e dentro de sua presunção acredita ter grandiosas habilidades. E isso é ressaltado por Iñarritu tanto na cena da Times Square quanto na cena que ele destrói o camarim.
O final abusa de sua metalinguagem e premia seu personagem com aquilo que ele mais almejava, mostrar a todos sua grandeza, o ato de voar no final é a afirmação que ele conseguiu o que queria.
Fico feliz dessa guinada dos diretores mexicanos, em dois anos consecutivos tive o prazer de ver dois trabalhos excelentes, (Gravidade e Birdman), e consolida a carreira de Iñarritu, merecidamente.
O Diretor Jon Favreau depois de dirigir alguns blockbusters do nivel de "Homem de ferro" decide trabalhar como ator principal, num filme sobre as coisas simples da vida, comida e música, seus dramas, fracassos e uma boa dose de comédia, e nessa aventura meio "road movie" ele trás consigo um elenco muito eficaz.
Favreau é Carl Casper, um chefe de cozinha que embora seja muito criativo, tem sua inventividade podada pelo dono do restaurante vivido pelo ator Dustin Hoffman, e um belo dia o maior crítico do meio, visita o restaurante para avaliar os pratos, e acaba com o menu fazendo uma crítica altamente destrutiva. Aliado a isso sua vida pessoal vive aos frangalhos, com sua ex-mulher (Sofía Vergara) tentando ajuda-lo a se reerguer dessa crise, indicando que talvez ele deva começar do zero, se permitir reinventar, e recomenda um food truck ( trailers modificados como mini restaurantes). A partir desse momento embarcamos numa viagem, cheio de musica boa, belas sacadas visuais, ritmo alegre e muita comida boa.
Apesar dessa premissa, Chef é um belo filme, que vem falar que mesmo em adversidades, e percalços, dá para se erguer, com muito bom humor e coragem de recomeçar, o filme mostra como esse personagem, com um nome saído quase de uma história de Stan lee, nos cativa, por ser um cara comum, uma faceta já conhecida, um chefe talentoso e um pai, sua relação com o filho, expressa exatamente o momento conturbado que Carl vive, ele nem consegue ser o profissional que quer e nem o pai presente, sendo a todo momento superficial, nesses aspectos.
O longa nos enche não só com belas imagens, mostrando a produção dos pratos, nos fazendo salivar, nós acreditamos no que está na tela, vamos degustando, embalados com ritmos caribenhos e jazz de primeira qualidade, o uso dos recursos de internet, como redes sociais, e a velocidade de comunicação, é bem empregada no filme, tanto evidenciando o bem, e o mau que isso pode causar.
Do segundo ato em diante, temos 4 personagens bem claros nessa jornada épica, O chefe, o filho, o grande amigo cozinheiro Martin (John Leguizamo), e "El jefe" o trailer, todos os ângulos de câmera, todo ambiente alegre e divertido, todos os diálogos pontuais, e todos os acontecimentos mais que previsíveis, passam de mão em mão por esses 4 personagens. O que de maneira nenhuma, faz desse filme ruim, ele é divertido, bem fechado e cumpre o que promete.
Com pequenas participações mas grandes momentos, temos no elenco Robert Downey Jr, Scarlett Johansson e Oliver Platt, dando mais charme, a onda de amizade transborda o filme, o que faz dele despretensioso, que merece ser assistido, apesar de não ser aqueles gigantes arrasam quarteirão, é um filme do bem, que eleva o astral, e como uma boa comida, há qualquer hora é uma boa pedida.
Além de fazer os melhores filmes na linha " badass " e western spaghetti, Clint Eastwood há muitos anos vem produzindo bons filmes, entre esses gosto bastante de " Sobre meninos e lobos, Menina de ouro e Os imperdoáveis ". E todos esses filmes de alguma maneira levam a bandeira das crenças de Clint, e do povo americano, seu nacionalismo americano, e sua ideologia armamentista.
Falar desse filme sem falar antes do seu diretor, seria complicado, já que meu motivo pessoal de ver o filme, foi o nome de Clint no final do trailer, porque a premissa é bem batida, é o típico filme americano de propaganda bélica, de recrutamento, onde cada aspecto de honra, valor, patriotismo, heroísmo e defesa de valores subjetivos, como liberdade e justiça, são jogados no expectador, quase justificando cada morte e crime cometido por seus personagens.
O filme trata da vida do franco-atirador Chris kyle, (Bradley Cooper) considerado e ovacionado como o soldado mais letal em campo, que levava uma vida simples do interior e teve seu chamado militar, quando a embaixada do EUA foi atentada por terroristas da Jihad Islâmica no ano de 1998 em Nairobi, no Quénia. Colocando o nome de um dos participantes, na lista dos 10 maiores procurados pelo governo americano, Osama Bin Laden. E logo em seguida os atentados do 11 de setembro, que definitivamente fizeram Chris dedicar toda uma vida a proteger seu país, do mau.
Depois de muitos anos, vivendo nas areias do oriente médio, matando e fazendo aquilo que ele sabia melhor, abater alvos, ele não conseguia mais ter seu lado humano de volta, quando em casa, estava com a mente totalmente voltada para guerra, alienada em toda a situação de conflito, e vemos o reflexo disso em todo o comportamento do soldado, na guerra se sentia em casa, em casa se sentia um completo estranho. E os danos disso em sua família, já é mais do que esperado.
Eu particularmente não esperava que alguns temas espinhosos fossem abordados nesse filme, (como foi feito em Soldado anonimo, e Zona verde por exemplo) mas pelo menos aquela proposta do trailer, esperava que se cumprisse, mas isso foi logo esquecido, estávamos lá vendo um grupo de soldados amigos, resolverem os conflitos semanais, e arrumar um vilão, quase cinemático para ser o algoz do herói do filme, e isso me deixou bastante frustrado.
Quando você apresenta um soldado que teve que atirar e matar, crianças, mulheres civis, e todos os tipos de alvo possíveis, enquanto empunha seu rifle, pensando na família e em seus filhos em casa, espera-se que todo esse conflito interno seria trabalhado no filme, mas o que se vê que só dele internalizar que cumpria seu dever, ouvir dos outros que ele era um herói, e que mesmo os seus familiares tentarem fazê-lo entender as incongruências dessa guerra, e ele bater continência diante do seu "dever", calando qualquer reflexo de culpa, faz toda essa premissa ser uma mera falácia, apenas publicidade sem um questionamento de fato.
O filme se resume, em um bom soldado, pai de família exemplar, cidadão irrepreensível, herói, que deu tudo de si pelos seus amigos do exército, e que cumpriu de forma exemplar seu dever. Apenas um trabalho extremamente unidimensional. É pouco para um filme do Clint, que tão bem discutiu a guerra, em "Cartas de Iwo Jima e A conquista da honra". Olhar um filme que externa em uma frase toda a ideologia furada e perversa de "todas as mortes foram justificadas”. Os Estados Unidos é o melhor país do mundo e vale tudo para defendê-lo. Os outros são os outros" estraga qualquer traço de qualidade do filme.
Na parte técnica ele é perfeito, com uma bela edição de áudio, e tudo aquilo que se espera de um filme assim, mas que tropeça demais na sua mensagem óbvia assustadora e rasa.
Com filmes incríveis e alguns tropeços, a nuvem da ficção científica tem voltado, por obras como Gravidade, Prometheus (esse bem ruim), Elysium, Oblivion e Star trek, variamos entre a Ficção Científica Hard, e as mais brandas, voltadas para o entretenimento. Até os projetos da TV, tem sentido o bom momento, com "Fundação" de Asimov sendo futuramente adaptado pela HBO.
Particularmente tenho uma queda pelo tema, tanto na literatura quanto na grande tela, e recomendo muito as maiores obras do gênero; O Dia em que a Terra Parou (51), 2001: Uma Odisséia no Espaço, (o maior para mim), Planeta dos Macacos (68), O Exterminador do futuro, Contato, Blade Runner, Matrix, Gattaca. Cito ainda algumas menções honrosas como; 12 macacos, Alien o oitavo passageiro, e Segredo do abismo.
Mas, porque citar todos esses filmes para falar de Interstellar? Porque as idéias na ficção científica conversam entre si, existe uma intertextualidade nas obras, onde dificilmente, você terá plenitude de entendimento sem conhecer as facetas discutidas.
Entrando na obra do Nolan, o filme discute vários temas em 3 atos, e é para isso que a ficção é feita, para falar sobre grandes verdades universais, usando uma história grandiosa para isso, tal qual o tema.
No primeiro ato ele mostra um futuro distópico, um mundo destruído por grandes pragas, que agora sufocado e faminto, se vê numa situação rural, sem perspectiva de melhora, lutando para se adaptar nessa nova realidade. Engraçado notar que esse mundo criado por Nolan, não existe saques, violência e desespero, existe uma certa resignação, todos procuram se ajudar, uma cooperação. O único aspecto que senti falta foi apresentar a situação global alem da fazenda. Mesmo estando subentendido.
O segundo ato, ele já se passa como uma Ficção espacial, com motivações já batidas mas de contornos dramáticos, e aqui o filme brilha, onde o grupo de astronautas partem em busca de um novo lar para a raça humana. Do ponto de vista técnico, é magnífico ver conceitos tão abstratos na ciência serem demonstrados de forma simples e genial. Pontos para Nolan que na parte da interação dos atores com as maquinas, e seus equipamentos, não usou de recursos visuais, trazendo uma melhor interação e verossimilhança da situação. E também conseguiu criar obras visuais, no espaço, dignas de elogios dos fãs e cientistas do ramo. Desde a base da NASA, até as naves de exploração, e inclusive os polêmicos robôs, eu gostei de tudo que vi. Detalhe que, salvo a parte da voz dos robôs (TARS e CASE) que deveriam ter um tratamento de áudio melhor, muitas vezes não conseguia diferir quem falava o quê. Mas sobre o design, a homenagem a Kubrick está bem clara, desde a sua simplicidade visual mista com a complexidade de funcionamento.
Acredito que Nolan quis sair da sua zona de conforto. Acostumado em criar filmes obsessivos, onde cada personagem tem seu motor baseado em uma busca desenfreada, aqui ele decidiu dar pinceladas de seu trabalho, mas falar sobre o amor, apenas no mais genuíno, ele teve êxito, o de pai e filha, mas acabou não conseguindo a qualidade pretendida. Quando se tratava da relação de Cooper ( (Matthew McConaughey) e sua filha Murphy (Mackenzie Foy/Jessica Chastein), a qualidade dos atores fez toda diferença, chega a ser tocante e nos importamos com o que está em jogo, tanto quando Cooper estava na terra, quanto no espaço. A cena dos videos que Cooper recebeu, onde para ele foram minutos, mas para a humanidade foram 23 anos, engoli seco, pois foi bem transmitido o tamanho do dano temporal que ele recebeu, do emocional, e aqui mais uma vez McConaughey mostra porque é um dos maiores atores nessa fase atual, com plano fechado ele destrói o espectador com toda sua carga dramática. Tal qual na cena de plano fechado dentro do caminhão, onde ele deixa sua família indo tentar salvar a todos. Em contrapartida o núcleo da família Brand, não tem o mesmo apelo, já que Amelie (Anne Hathaway) é parada, sempre em diálogos verborrágicos sem emoção, em nenhum momento se acredita, nos sentimentos e emoções trazidas por Hathaway, é quase uma falha de direção de Nolan, que mesmo com atores como Michael Caine, não consegue evoluir esse núcleo, já em outros momentos, Caine, com poucos minutos de tela, tem atuação pontual, como Jhon Lithgow.
Outro momento ruim do filme são os diálogos expositivos, que tanto travam a trama, quanto não deixa o público de ficção cientifica fazer o que mais gosta, que é pensar. Mesmo para quem não está ambientado, não existe a necessidade de explicar tanto os conceitos científicos, e emburrece em momentos que o filme freia, repetindo a explicação de Murphy Law, Buraco negro e Buracos de minhoca. Ainda mais dentro da missão, já nas portas dos acontecimentos. Isso ao invés de imergir o expectador, faz as quase 3 horas do filme se arrastarem ainda mais. E isso me soa como erro de montagem, já que existem diálogos orgânicos, bem executados,quando se fala na descrença da ida do homem a lua, sobre a NASA estar quase de forma clandestina, no detalhe das diferenças dos uniformes dos astronautas, no que tange o tempo da corrida espacial, (trajes de Matt damon e Cooper) por exemplo. E mesmo teorias batidíssimas como o experimento do Gato de Schrödinger mostrado de forma incrível no filme, o uso da teoria da relatividade, muito bem montada no filme e por aí vai.
Então chegamos o que considero bem desastroso, mesmo sendo muito bonito e teórico-filosófico, o terceiro ato do filme. Não gostei da forma como Nolan concluiu sua obra, essa metafísica sobre a não-linearidade espaço-temporal entre causa e efeito. O que na realidade foi um Deus Ex quantum que o crítico Pablo Villaça apontou e eu concordo. Mesmo sendo uma teoria já abordada na mídia por series como Doctor Who Battle Star, e levemente tratada pela ciência por Carl Sagan. Eu esperava algo bem diferente do que foi mostrado. Ele tentou fechar as pontas soltas e quase tropeçou. Gostei dele colocar todo o instinto de sobrevivência, como algo ruim no personagem de Damon, e também ele sugerir de forma convincente que os "ELES" somos nós no futuro, controlando a gravidade o tempo e espaço. Mas a forma como ele cai de paraquedas junto com a filha, tornando o quarto dela, o encontro das respostas para o dilema da trama, me soou quase fantasioso e providencial. Falar que ali ele voltou ao passado é não entender o filme, o problema ali não é de furo de roteiro, mas de decisão. Diria, quase se acovardou, o querido Nolan usando a quarta dimensão.
Mas mesmo criticando vários pontos, eu adorei o filme, e ele ser bombardeado de discussões só demonstra o como ele ainda vai ser muito lembrado, foi a grande ambição de Christopher Nolan, que por poucos segundos, não acertou em cheio. Mesmo irregular ele deve ser visto e apreciado.
Para ninguém falar que só comento de filme "tênis verde", eis aqui um belo representante da ação desenfreada por motivos toscos, que tanto nos alegram, e ninguem melhor para representar um filme assim do que Denze... her... Keanu Reeves! Ele anda longe da ribalta, e acho que por suas próprias opções, a historia aqui faz uma alusão sobre a situação de Reeves no cinema, ele sempre foi o arrematador de bilheteria, estava sempre em alta e decidiu se afastar, ao ponto de grandes estúdios de Hollywood não o chamarem mais, ele tem produzido filmes de baixo orçamento, experimentais e de homenagens, documentários que passam desapercebidos. E esse parece ser o retorno do "bicho-papão".
Filme despretensioso, que tem tido boas críticas e bilheteria, e se trata daquele filme recheado de bons atores, como Michael Nyqvist, Willem Dafoe, e John Leguizamo. John Wick é a história batida, do ex assassino que volta a ativa por conta de bandidos que lhe tiram tudo de bom que lhe resta, fazendo ele ligar o botão da vingança, deixando vários corpos pelo caminho. Apesar de não ser inovador, (lógico) e nem tem essa ideia, ele trás ótimas sequencias de ação, boas coreografias e boas atuações, de forma que não conseguimos respirar entre uma tomada e outra.
O filme se encaixa bem ao jeito de Reeves, e com um leve tom de humor ácido, ele ri dele mesmo quando retrata em várias cenas o mito, com histórias absurdas, quase trovadorescas.
Assim veja esse filme como se deve, sem ser algo épico, e nem pretende ser, nada alem de um grande filme de ação. O que de fato ele é.
Me lembro do diretor Alexander Payne, do filme comovente "Os descendentes", onde ele tratou muito bem, sobre família, sobre morte, sobre passado refletindo no presente, traições, e sobre escolhas, todas essas alteradas com a simples inclusão de dinheiro. Uma grande bolada, faz com que todos os interesses venham a tona da pior maneira possível. E aqui em Nebraska, ele apresenta os mesmos elementos, mas com uma carga de humor, quase sutil que acrescenta toda uma singeleza a história.
Tudo começa quando o fragilizado emocionalmente David, começa a se preocupar com o fragilizado mentalmente, Woody, seu pai, que acredita ter ganhado um milhão de dólares em uma propaganda de revistas. Seu pai quer ir a cidade de Lincoln buscar o prêmio, David tenta fazer o pai desistir, e sem sucesso, toda a família de Woody decide embarcar na fantasia para aplacar a tristeza e insanidade do pai.
Nesse Road movie melancólico, vamos descobrindo as mazelas do relacionamento familiar, o problema de bebida do pai, seu afastamento dos filhos, e sua relação nada amorosa com a mãe. E quando decidem passar pela cidade onde viveram a juventude, os encontros com a família deixam a história mais cheia de nuances, com histórias dessa época que trazem tanto nostalgia, quanto tristeza.
Aqui a música e a fotografia, preta e branca, tem um fator importante, já que exalta aquela atmosfera sem vida das pessoas, onde nada de relevante acontece, fazendo refletir a vida pacata e corriqueira nas atitudes dos personagens. As mágoas e ressentimentos guardados vão aflorando, não só entre Woody e sua família, quanto nos seus familiares, que querem uma parte do fantasioso prêmio de Woody. O jeito doce e triste de David, contrasta bem com a rabugice de pai, e as conversas que em outro longa seriam melodramáticas e cheias de frases emotivas, aqui é crua e fria, dando um tapa no espectador que espera muitos clichês.
Os personagens se revelam complexos, e aos poucos nos diálogos, vamos entendendo melhor como era a relação do casal, onde inicialmente se entendia um casal onde a mulher sofria com os vícios e doenças comportamentais do marido, agora se nota um Woody, bom e gentil, e que tentou se adaptar a toda aquela relação conturbada, e de forma sensível, vamos nos apegando a cada um deles. A mãe Kate vivida pela atriz June Squibb é um show a parte, com seu temperamento forte e ácido, nos leva da antipatia ao riso, e o humor é a coisa que mais impressiona no longa. Ter escalado atores comediantes foi muito acertado, e mesmo aparecendo pouco, Bob Odenkirk (nosso eterno Saul goodman) esteve muito a vontade, tanto nas partes dramáticas quanto hilárias.
Enfim, Nebraska é a relação de um pai cheio de falhas, e um bom filho, que decidiu olhar para dentro do seu velho e entender que existia algo além de toda a rigidez e tristeza, e toda essa desilusão é respondida, quando David pergunta ao pai se ele tinha ainda vontade de algo da juventude, e o pai responde olhando para o nada; "eu não me lembro", deixando evidente que aquela fantasia é tudo que lhe resta para reparar o seu passado nada heroico.
Muitas vezes a nossa vida é tão cheia de reviravoltas, de medos, de encontros e desilusões, nos deparamos com situações adversas e encontramos pessoas que fazem a vida ter mais sentido. Criamos planos e mudamos de planos, nos mudamos e começamos tudo de novo. Não sei vocês, mas sempre pensei, "nossa, tudo isso que vivi, daria um filme, ou um livro", quem sabe. Mas nada de tão espetacular, coisas triviais, coisas sublimes e que nos marcam, desde a infância, a juventude e a velhice.
E exatamente sobre isso que o filme, (já adianto, excelente filme), do diretor Richard Linklater, vem tratar. Filme esse que ganhou ontem 3 globos de ouro de forma merecidíssima, porque soube retratar que nossas dramas pessoais, nossas falhas, e escolhas erradas, são tão importantes quanto qualquer história "fantástica" contada por aí.
Rodado ao longo de 12 anos, ele usa a passagem de tempo do ator Ellar Coltrane, vivendo o personagem Mason Jr. E nessa viagem temporal, acompanhamos também sua família, vivida por Patricia Arquette, Ethan Hawke, Lorelei Linklater filha do diretor.
Vivemos coisas triviais, mas não menos importantes, desde suas descobertas na escola, até a entrada na faculdade, de ter que lidar com um corte de cabelo desastroso, até convivência difícil com padastros. E enquanto vemos o envelhecimento de Coltrane( Mason), também passamos pela de sua irmã e de seus familiares e amigos, cada ruga, cada corte de cabelo, e cada influência que acumulamos, com acontecimentos cotidianos. Ver as rugas de Ethan Hawke e toda abordagem que lhe foi dada, do pai que paralisou seu estilo de vida no mesmo carro, nas mesmas roupas, até seu amadurecimento, com terno e bigode, e sua esposa família, emoldurados numa minivan, mostra como é sutil a qualidade do filme, acompanhamos isso, sem nenhuma explicação, sem nenhuma frase, sentimos como se vivêssemos aquilo. A mãe de Mason, (Patricia Arquette) denotada com cortes de cabelos diferentes, na sua passagem de tempo, suas péssimas escolhas amorosas, e sua luta para vencer, sua dedicação a família, fez valer prêmio que recebeu ontem, já que ela é o laço de toda a trama, da vida e dos personagens tão reais como eu e você.
O diretor não se deixou levar apenas pela ação do tempo na vida de cada um deles, mesmo isso já sendo intrigante, mas aproveitou e discutiu temas existenciais, coisas que todos nós nos perguntamos, em dado momento da vida, as influências que sofremos dos lugares onde passamos, discussões políticas, músicas e até armas e bíblias, tudo isso exercendo a montagem complexa de cada ser humano, condensado na vida de Mason.
As abordagens de problemas familiares não foi deixada de lado, desde alcoolismo, violência familiar, e até separações de pais. E como isso acerta em cheio, o crescimento dos filhos. E no final temos Mason, um cara do bem, que mesmo passando tudo aquilo, ele conseguiu se tornar um jovem cheio de sonhos por realizar, que no seu olhar e na sua voz demonstra amor e gentileza.
Mesmo se tratando de um filme que aborda a vida cotidiana típica americana ela consegue ser universal, já que trata de forma simples e real, de temas que de uma maneira ou outra chega a todos nós, muitas vezes eu era o Mason, outras vezes Mason era um primo ou amigo, e concluímos que somos o mesmo quadro pintados por artistas variados. Sabendo retratar de forma tocante como poucos, fui surpreendido pelo diretor Richard Linklater, no final senti a mesma dor da mãe que vê seu filho indo embora seguir seu próprio caminho, e a alegria do começo, de uma nova etapa na vida de Mason. Quase fui um pouco de cada um, na ambiguidade de sentimentos deixados pelo filme. E amanhã terá mais, sempre haverá algo mais.
Jake Gyllenhaal tem se especializado em um cinema mais obscuro, onde a violência urbana e as piores facetas da sórdida natureza humana, acham refúgio. Destacando como um ator versátil, tem personagens loucos e viajados de ácido como em Donnie Darko, filmes "Disney" como "O príncipe da pérsia", fez um dos melhores filmes sobre guerra moderna, em "Soldado anônimo", e até ficções científicas "hollywoodnescas" como "Contra o tempo", mas repito, sua verdadeira vocação reside num bom e velho thriller urbano. Depois de "Zodiaco" ele encarnou belos personagens complexos, as vezes mocinhos, e alguns vilões e isso tem dado muito certo. Vide "Os suspeitos", "Marcados para morrer", "The Shoes - Time to Dance" e até " O homem duplicado".
Nesse longa ele faz uma junção leve de autismo e sociopatia, fazendo seu personagem (Lou Bloom) um cara intrigante, perspicaz e ambicioso no uso mais pejorativo da palavra. Muito bem dirigido por Dan Gilroy roteirista de o Pior Bourne e de Gigantes de aço, nos apresenta esse ladrão pé de chinelo que no momento de insight, ao avistar um acidente, testemunha o trabalho nada nobre, de um câmera, ratos de notícias marrons, que pesca imagens dos piores momentos das pessoas para vender para jornais sensacionalistas. É verossímil todo filme, haja vista que em nosso país, existem em todos os canais aos montes, jornais do mesmo tipo, que vive da carniça e podridão da vida alheia, para vender noticias e saciar a sede dos telespectadores da mesma estirpe. Aquilo que deveria ser motivo de lástima e tristeza, não passa de entretenimento do mais puro sadismo. Noticias são fabricadas a rodo, aumentando a cultura do medo, impulsionada pela audiência e ela pela noticia gore, num vórtex de esgoto ao céu aberto. Eis minha crítica, não pude fugir, é a mesma do filme.
E Lou Bloom rapidamente deixa de ser aquele que registra essas cenas lamentáveis, e se torna o editor criativo delas, montando e conduzindo a história da melhor forma comercial, como um produto, da pior espécie imoral possível. Desde fotos alteradas, até posicionamento de corpos em acidentes, documentando tudo aquilo que servirá melhor para contar a história que eles quiserem para o público, fugindo da realidade dos fatos. Assim o personagem pouco atraente, magro e desfigurado pela busca apenas do resultado, em detrimento da moral, alça sua ambição em tudo e todos, sem nenhuma vida, mesmo quando sorri, não existe realidade, já que ele busca apenas conseguir alcançar seus objetivos, custando o que custar.
A obra em si, acerta em diversos pontos, mas deixa mesmo na sua competência um ar pessimista, já que em nenhum momento vemos traços de redenção e humanidade, onde esse tipo de jornalismo, (se é que se pode chamar disso) tem tomado todos os espaços daquilo que poderia ser chamado de noticia, fazendo de cada um de nós seres que não leva mais conta a miséria alheia.
Me lembro de certa vez entrar num restaurante, há quase 20 anos, e escutar um som de uma voz tão incrível e diferente, que fui logo perguntando, "puxa, que musica, quem será o cantor?" Naquele momento, pensei ser um cantor de soul americano, e fiquei intrigado, mal pude acreditar ao saber que era Tim Maia. Confesso que nunca me interessei nas músicas, já que aquela pegada de gingado, e metais que era usado nos últimos tempos sempre me afastou do som dele. Foi quando escutei o primeiro disco de 1970, e a musica que ouvi, que me deixou essa lembrança, no restaurante, foi "Jurema".
Com o tempo tive contato com a história louca de Tim, sua infância, sua fama de drogas, palavrões, mulheres e problemas com álcool, era um rock star, e sua passagem foi tão enfurecida, tão meteórica que parecia um filme.
Apesar de ser da globo filmes, posso assegurar que foi a melhor biografia sobre um personagem do cenário musical brasileiro, já produzido, se comparado com outras obras como o livro de Nelson Motta, "Vale tudo; O som e a fúria de Tim Maia" existe a sensação de coisas faltando, mas ele é competente, mostrando a evolução, da infância pobre e suburbana em Niterói, a descoberta da musica, e seu contato embrionário com o que viria a ser os grandes nomes da história da música nacional, como Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jorge Ben, Rita Lee, e até o nascimento da Bossa nova.
O filme não polpa nada de bom e ruim na vida e obra do cantor, deixando em evidência seu jeito falastrão, briguento, malandro, explosivo, esbanjador e destemperado. Seus abusos e seus crimes, mas também sua genialidade poética, bem expressada nas músicas e no balanço do soul music. Presenciamos quase uma viagem no tempo musical, conhecemos personagens icônicos e a relação de Tim com eles, indo de amor e ódio com bastante facilidade.
Sobre a caracterização e ambientação, a produção conseguiu de forma competente apresentar toda a loucura temporal da vida de Tim, desde o figurino, aos carros, a linguagem da época, os acontecimentos do período, e como cada um desses anos vão moldando o gosto musical e o estilo de vida de Tim.
No quesito atuação, aqui temos diversos problemas, desde de atuações medíocres a quase humor caricato, como é o caso de George Sauma, que não consegue apresentar um Roberto Carlos convincente, é quase uma paródia de humor, fazendo com que momentos importantes da vida de Tim, sejam deslocados por conta disso, outra coisa que incomodou e a junção de todas as mulheres da vida de Tim no personagem de Aline Moraes (Janaína), onde caberia várias personagens fortes, que obviamente serviram de musas, nas epopeias musicais de Tim, temos uma única figura, algo que deixa bem evidente que não se encaixaria aquilo que foi apresentado em cena, alguém com uma vida tão escrachada e dada a "porralouquices" como Tim, nunca estaria envolto em tramas atemporais com a mesma mulher. A atuação de de cauã Reymond é quase um piloto automático, e a sua voz em off, praticamente não trás qualquer emoção a trama, atrapalhando onde deveria ajudar. E finalmente Babu Santana (Tim Maia Adulto) se distancia consideravelmente em qualidade de Robson Nunes (Tim Maia jovem), sendo atuações opostas demais, como se fossem duas pessoas diferentes, mas aqui acredito que tenha sido erro de direção, já que quando se faz o salto temporal, é muito brusca e a diferença e sentida de imediato.
Contudo isso não atrapalha o andamento da obra, o filme é divertido, dramático, e convidativo, até mesmo para aqueles que ainda não gostem de Tim, passem a gostar, o seu amor e empenho musical, é bem realizado e faz com que o espectador queira saber mais sobre a vida do sindico, e ouvir toda a obra do rei do soul music brasileiro.
Star Trek: Sem Fronteiras
3.8 566 Assista AgoraAnton Yelchin
;(
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraBlade Runner é uma obra infelizmente para poucos, um cyberpunk intimista e sucinto no que apresenta. A fotografia, a música e as atuações são quase contemplativas. Os detalhes são tantos que enriquecem uma narrativa até simples.
Esse filme consegue deixar permanecer o mesmo espirito da obra original, e faz ecoar com muito respeito e qualidade algo tão cult.
Concordo com Ridley Scott que quase 3 horas encorpou o filme sem necessidade, mas Villeneuve é fantástico quando trabalha temas como esse, não só de ficção cientifica, mas a sutileza humana mesmo em algo tão artificial.
Um filme para fã.
Cinquenta Tons Mais Escuros
2.5 763 Assista AgoraO roteirista, o montador, e a direção desse filme deveriam ser presos.
Drácula: A História Nunca Contada
3.2 1,4K Assista AgoraQue filme fraco, Meldels... Assistam entrevista com vampiro, o antigo baseado no Bran Stoker. Por favor. Queria desver...
Anatomia de Um Assassino
3.1 26Parecia um episódio de "além da imaginação".
Ponte dos Espiões
3.7 694Falar da direção de Spielberg é chover no molhado, mais uma vez tratando de temas "sérios", como no filme Munich (esse bastante pessimista), ele consegue com muita elegância tratar de um tema tão complicado. A guerra fria.
Alguns acusam o cineasta de melodramático, pode ate ser, mais aqui ele saiu muito bem, deixando claro suas defesas morais, não agindo de forma maniquísta. Mostrando os comunistas soviéticos como vilões, assustadores e comedores de criancinha. Embora ao mostrar os dois lados ideológicos, tende de forma muito leve, levantar o pendão, da justiça, e liberdade americanos, usando como pano de fundo o grande Advogado James Donovan (tom Hanks).
Há de se destacar a grande atuação de Hanks, que transparece moral, zê-lo, justiça, honestidade e bom caráter, sendo ele a melhor escolha nesse papel, pois soa simpático ao apresentar todas as qualidades. Ele conduz a trama absorvendo o publico, de forma que estamos junto com ele defendo ideais como se fossem nossos.
Destaco que esse filme é uma bela amostra de como se deve agir em nome da Juris, sendo o papel de Donovan crucial nessa disputa geopolítica, deixando claro que suas convicções baseadas na Constituição são seus basilares, mesmo para defesa do pior inimigo da America naquele período. Onde ele vem lembrar que mesmo naquela situação, o preso deve receber apoio e dignidade, e para ser possível esperar o julgamento de forma justa e eficaz. Ele foi convidado a defender um espião Russo, no momento onde a cultura do medo comunista, difundido (e bem demonstrado no filme) pelo macartismo que se tornou a cultura da paranoia e medo, vindo se espalhar pelo globo.
Assim esse filme é uma bela exposição, sínica de Spielberg sobre a forma de agir e pensar do contexto politico. Lembrando que o mesmo acontece dos dois lados antagônicos. Deixando nas mãos do público julgar o mais justo. Aborda um período onde a menor sombra de comunismo era tido como crime contra a nação EUA e isso era tratado com cadeira elétrica, com julgamentos fantasiosos e mais do que ficcionais.
A atuação do brilhante Mark Rylance que entrega o ponderado, irônico e divertido Abel, que quase nos engana sobre sua situação, parecendo resignado com a força politica em questão, sabendo que não passa de uma peça do tabuleiro, e não tem valor nenhum como pessoa. Assim ele forma uma bela dupla com Hanks, que sempre está incomodado com fazer o correto, olhar com verdade para vida humana, e chega a repetir por toda a película, "que cada vida importa, cada uma delas".
Com um roteiro competente, e direção focada, temos um dos melhores filmes do ano, com ótima fotografia e com decisões inteligentes, Spielberg acertou em cheio com esse filme, sendo um belo filme jurídico, politico, dramático, de espionagem com pitadas brilhantes de humor. Fazendo tudo de forma muito orgânica e sem prejuízo.
Bravo mestre Spielberg.
Ponto de Vista
3.4 384 Assista AgoraDepois de Rashomon, muitos diretores querem trabalhar filmes com diversos pontos de vista. Mas esse além de irreal, é muito cansativo no corte de história. Deveriam aprender como se contar algo assim, como em cidade de Deus.
Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
3.3 809 Assista AgoraBela atuação de Steve Carrel, irreconhecível no papel de Du pont. Uma pena ter saído num ano tão disputado no Oscar, onde qualquer um que ganhasse seria muito justo. Merecia pelo menos premio de maquiagem. Com uma história que só teve um lado contando a história, é de se esperar que o filme tenha que preencher muitas lacunas. Realmente sufocante, inesperada e catastrófica história. A vida real tá aí para surpreender cada um de nós.
007 Contra Spectre
3.3 1,0K Assista AgoraBurocrático, insosso.
O Poder e a Lei
3.8 611 Assista grátisVamos falar do filme, " O poder e a Lei".
Antes de começar a ver o filme, acreditava se tratar de um filme de drama de tribunal, um filme jurídico, mas nos primeiros minutos do longa, nos deparamos com um filme de trama policial, com personagens canastrões, mas com narrativa bem original. Filme baseado no best seller de Michael Conelly, ( que eu não li, infelizmente) onde esse advogado, tem como seu escritório, o banco de um sedã Lincoln, rodando pelos tribunais defendendo pequenos casos.
Aqui vamos acompanhar a vida daquilo que apelidamos como "Advogado de porta de cadeia", odiado pelos policias e sua ex-esposa, promotora, por ter escolhido essa forma de "trabalho", de soltar aqueles que muitos consideram culpados. E logo de cara, conhecemos sua natureza e seu modus operandi, ele faz parte das ruas, e toda sua malícia, versatilidade, é usada para conseguir aquilo que ele pretende, ganhar muito dinheiro usando o sistema falho.
Mick Haller, interpretado por Matthew McConaughey, é um personagem de natureza ambígua, que exige muito mais carisma do que atuação, mesmo com um jeito quase canastrão, ele nos convence, nem lembrando de longe sua atuação em "Tempo de matar", onde ele compõe um Advogado.
O filme não busca aprofundar em temas como, "o que é justiça?, Existe justiça? Legitimidade, princípios e valores, são meros subterfúgios para construção do roteiro, o que nesse caso é muito bom. O filme procura levar o espectador muito mais pela trama do que pelo discurso, o que faz dele uma grata surpresa.
As cenas são muito bem construídas, como um mise en scène e diálogos já pensados, exatamente como num tribunal, onde quase tudo soa tão verdadeiro e tão falso a cada minuto que passa. Essa dinâmica foi bastante enriquecida pelo carisma de McConaughey, trazendo seu sotaque arrastado, aliado a frases baixas ao pé do ouvido, soando quase como um convite, uma ameaça, ou um aviso.
E como um anti-herói ele passa pela curva moral. Depois de habitualmente ludibriar a todos, ele se vê enganado, e vivendo num inferno diante de um caso que saiu do seu controle, ele começa a ter que usar todas as suas habilidades, mas agora para corrigir vários erros do presente e do passado.
A escolha do ator Ryan Phillippe, foi importante, já que ele contrapõe muito bem a atuação de McConaughey, deixando transparecer para o advogado, seu amadurecimento diante do outro, mimado e playboy.
Esse filme, é uma ótima pedida, tanto para os amantes dos filmes jurídicos, quanto para aqueles que gostam de suspense e ótimas histórias.
Kingsman: Serviço Secreto
4.0 2,2K Assista AgoraE vamos falar de Kingsman.
Eu gosto bastante das HQs de Mark Millar, seu jeito subversivo de falar de temas relacionado a heróis, e sempre brincar com esses aspectos, procurando inovar na linguagem que esta abordando, seja vigilantes urbanos, seja espiões, ou seja menininhas assassinas. Já quando se trata dos seus trabalhos no universo Marvel, eu já não acompanho tanto...
Esse é o terceiro filme que vejo, de Hqs adaptadas de suas obras. O primeiro, "Kick-Ass", gostei bastante do humor negro, e a forma caricata, onde ele se permite rir de suas próprias criações, a violência mesclada com inocência e exageros, e seu aforismo de tratar algo tão fora da curva, do que esta sendo mostrados nas mídias de super heróis atualmente.
Seu segundo longa, "Wanted", já não foi tão satisfatório, mau adaptado e cheio de cenas que até para as obras de Millar, são cafonas e clichês a esmo. Gosto bem mais do quadrinho do que do filme.
E o terceiro é sua melhor adaptação, filme competente, divertido, e que supera tudo que foi feito até aqui.
Li em algum lugar que Millar e o diretor Matthew Vaughn, viram "Cassino Royale" e de imediato tiveram a ideia de escrever essa obra, e trazendo para a tela, eles elevaram as loucuras e exageros (ótimos por sinal) a potencia máxima. É uma bela homenagem aos filmes oitentistas de espião, mesmo em tom de comédia, vimos uma bela paródia de 007.
Cenas de ação competentes, que conseguem transformar um ator como Colin Firth, num habilidoso lutador, e exímio assassino. Quase nos esquecemos dos seus papeis burocráticos de outrora, tamanha a qualidade e diversão das cenas, vale ressaltar a cena da igreja, que foi uma das maiores desculpas, para ação desenfreada, humor negro, liberdade criativa, e subversão vista nos últimos anos no cinema. Agora mais uma vez, ficou claro, a tendencia de lutas e armas de fogo, no cinema, com filmes como "John Wick", e agora esse, me lembrando os clássicos de John Woo.
Outra coisa bem interessante, é a desconstrução de esteriótipos feitas por Vaughn, com heróis super clássicos, e elegantes, que escondem habilidades mortais, em contraponto à vilões, coloridos, estapafúrdios, de língua presa, que deixa em evidencia a deficiente do personagem. Com uma linguagem jovem, mas que não apela para o público teen, ele consegue cativar todos os públicos, mesmo aqueles não tão adaptados e essa veia de comédia.
Com algumas aparições surpreendentes, para o público nerd é um prato cheio. Aliás, o filme é um presente, para qualquer um que goste de bom filme, que te propõe algo e entrega de forma excelente, e afirmo com certeza, é um dos filmes mais divertidos do ano.
Relatos Selvagens
4.4 2,9K Assista AgoraE vamos falar de relatos selvagens.
Esse filme, com drama, humor negro, e um pouco de suspense, vem trazendo seis historias diferentes, mas que tem algo em comum, a perda de controle, sempre municiada pelas coisas triviais do dia a dia. A vingança é o plot central, o que uni muito bem essa antologia.
Lugares comuns como Aviões, lanchonetes em beira de estrada, viagem de carro, e casamentos, são lugares banais, que se tornam palco de um dia de fúria de cada personagem, ali o diretor emoldura de forma particular, a relação das pessoas com as situações.
O humor carregado por momentos quase dramáticos, levam o tom de cada história, contada em forma de episódios, voltadas para o sadismo urbano. Mesmo algumas delas sendo altamente previsíveis, acredito que foi proposital, o diretor quase nos surpreende, deixando claro para onde a historia será guiada, e de repente rimos de nós mesmos, com desfechos mais que óbvios.
A fita é picotada, em cortes narrativos que nunca nos deixam saber mais sobre cada um deles, e isso é intrigante, já que mesmo assim, com poucos minutos, nos vemos ali do lado de cada um, quase vivendo a situação e decidindo o que fazer. As histórias são curtas o que contribui muito para o andamento do filme.
Acredito que o filme de Michael Douglas (Dia de fúria) serviu de base, mas o cinema argentino soube brincar muito bem com a estética. Com Ricardo Darín no elenco é garantia de coisa boa. E se compreende o porque de tanto sucesso de crítica e público.
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraLimites sempre são perguntados quando algo extrapola aquilo que consideramos comum, isso em sentido latu, pode ser no amor que se torna obsessão, num prazer que se torna um vício, ou disciplina que se torna algo totalmente destrutivo.
Esse filme faz lembrar "Nascido para matar" de Kubrick, onde existe a figura do Sargento que de forma sádica, preconceituosa e fanática, ensina seus recrutas a se tornarem os melhores naquilo que se propõem. Sendo levados a desumanização e tortura, física e psicológica.
O jovem baterista Andrew Neyman, tem o sonho de se tornar o maior baterista de sua época, vocacionado desde pequeno à música, procura na pessoa do professor Terence Fletcher, encontrar sua perfeição e aceitação. Mas se depara com sua avidez nos excessos e sua exigente forma de ensinar, transformando o equilíbrio físico e mental de seus alunos, em frangalhos. Fletcher leciona na mais conceituada instituição de ensino superior de musica, e na sua banda de Jazz da faculdade, busca os melhores profissionais, transformando a vida deles num ambiente hostil e militarizado. Assim desencadeia um desequilíbrio emocional na vida de Andrew, que reflete em suas relações sociais e familiares.
A atuação de J.K. Simons reflete sua vitória de melhor ator coadjuvante no Oscar, ele emoldura muito bem esse papel, com seu jeito seguro e egocêntrico, provoca seus alunos ao limite e tem todos sob controle, ao ponto que conduz a classe com ferocidade tal, que alguns até choram diante do seu olhar de desprezo ou descontentamento. Como no momento que ao entrar na sala já exige que todos estejam em seus postos, e prontos para tocar ao menor movimento do condutor, consegue de forma quase sobrenatural achar defeitos imperceptíveis, e punir seus alunos, atingindo-os emocionalmente. E de forma contraposta, Fletcher também demonstra seu lado "humano" se emocionando ao ouvir uma execução perfeita, ao conversar com uma filha de um amigo ou lembrar de uma aluno que faleceu.
E seu olhar e expressões são grandes armadilhas a todo momento, sendo que no momento que ele se torna agradável, busca em conversas descontraídas, descobrir onde afetar seus alunos, levando cada um deles a competição, humilhação e choque.
Milles Teller (Andrew) compõe um belo personagem, complexo já que tem que lidar com suas ambições, alegrias distorcidas e devoção a música, e nos deixa ambíguos em relação a isso, já que mesmo ele sendo afetado brutalmente pela sua relação com Fletcher, seu amor incondicional a música nos faz torcer por ele. A montagem do filme foi o que mais gostei, os belos cortes de câmera, aumentando a tensão, a música maravilhosa (adoro jazz sou suspeito) que tem sua beleza atingida pelas horríveis cenas de abusos e excessos, e os focos entre instrumentos, olhares, partituras e esforço dos artistas, de forma frenética, fazem o expectador ficar grudado na cadeira. Cada acorde, cada ensaio, e pratica quase extasiante, foi muito bem orquestrada pelo diretor. De forma que mesmo não sendo acostumados com esse estilo, somos enebriados com essa onda de emoções opostas.
Em seu final, Whiplash vem discutir a linha tênue entre o incentivo, e o destrutivo, e os métodos usados para se conseguir trabalhos de alto nível, o filme não usa um discurso moralista, mas fala muito bem dos resultados de uma obstinação. Muitas vezes jovens perseguindo seus sonhos se deixam humilhar e colapsar diante de alguém, que esta numa situação de inquisidor, alguém que determinara até onde seu sonho vai chegar. Mas de forma arrebatadora temos um final que vem dizer que a beleza da música vence, e saímos do filme entusiasmados e emocionados.
https://www.facebook.com/cinemassivo
Samurai X: O Fim de uma Lenda
4.0 136 Assista AgoraQue conclusão épica, cenas coreografadas incríveis, as pequenas falhas não atrapalharam em nada essa execução final, um dos melhores filmes pop de ação que assiste, tem peso, tem drama e tem diversão, muito bom.
Leia meu ultimo comentário sobre Samurai X: Inferno em Kyoto aqui;
http://filmow.com/comentarios/5134179/
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraO diretor Iñarritu e o fotógrafo Emmanuel Lubezki conseguiram aquilo que eu mais admiro em um filme, falar sobre algo, sem precisar explicar de forma mastigada aquilo que quer deixar como mensagem, e cito a fotografia de Emmanuel, porque ele consegue superar aquilo que me cativou em (A árvore da vida, Gravidade e Filhos da esperança), o belo uso da câmera para explicar algo que palavras não conseguiriam.
Já de Iñarritu sempre espero belas montagens, roteiro sólido e muita crítica, e ele fez por merecer todo esse alvoroço em volta desse longa.
Birdman é um filme que brinca com "coincidências", e digo brinca, porque é bem claro que seu humor ácido está em todas as escolhas do filme, desde seu casting, até suas falas. O filme se trata da produção de uma peça de teatro, escrita, dirigida e protagonizada por Riggan Thomas (Michael Keaton), tentando mostrar a todos que ele não apenas um ator de um filme conhecido de herói, mas que ele sabe produzir arte, assim Iñarritu começa a primeira das várias referências a vida de Keaton, já que na vida real, ele deixou esse papel em 1992 e desde então não produziu nada de relevante.
O filme é cortado de forma eficiente, fazendo parecer que estamos vendo uma peça de teatro, com Riggan sendo o protagonista, e seus amigos e familiares entram e saem de cena servindo de apoio ao personagem, apesar da câmera emular um único plano-sequência, o tempo passa normalmente, apoiando a ideia do teatro, já que esse tipo de câmera, procura definir a não passagem do tempo.
O diretor de fotografia conduz muito bem o clima de pressão posicionando a lente nas costas do personagem, com a câmera o seguindo por toda parte, em lugares pequenos e confinados, e definindo bem a passagem de tempo surpreendente com elipses bem construídas. A linguagem foi bem usada, já que dá mais enfase naquele momento da vida de Riggan, onde ele pensa sobre as escolhas que fez, sobre como as pessoas o enxergam, seu potencial talento, e como as coisas parecem dar errado na pré produção da peça. E isso é evocado também pela sua relação com as pessoas, sua filha recém saída de uma clínica de reabilitação, seu amigo e agente que teme o fiasco da peça, uma possível gravidez, e a crítica de teatro do New york times (Duncan) que jura que irá afundá-lo, soma-se isso a voz que Riggan escuta de Birdman sempre o lembrando que poderia ter feito escolhas mais rentáveis.
A música abre margem para a parte surrealista que é exposta no filme, com uma sonoridade sem ritmo, com um jazz que não casa com a cena, proposital, sendo criada para incomodar, como um artifício dramático que enfatiza o desmoronar emocional do personagem diante dos problemas, acompanhado por floreios metalinguísticos, onde o personagem cria sua defesa interna, quando acredita mover objetos inanimados, e sua interação nada real com Birdman, seu alter ego.
As atuações do elenco de apoio são cheias de complexidade e com rimas e piadas, não só sobre os atores do filme quanto relacionadas a crítica que o filme procura fazer. Emma Stone como a filha de Riggan mostra a maturidade da atriz em trazer um personagem cheia de nuances, é a filha rejeitada, que esta se reerguendo, que mesmo não acreditando no pai, está o apoiando. Mike (Edward Norton) brilhante em criar uma paródia de sí mesmo, deixando claro sobre como as pessoas o vêem como ator, brilhante e arrogante, eficiente mais difícil de trabalhar, ele consegue criar um contra ponto genial com Riggan. E a dupla Emma Stone e Zach Galifianakis, que mesmo com menos destaque mostram que não são apenas atores que trabalham em sua zona de conforto, podem fazer mais. E escolher esses personagens centrais é bater exatamente na crítica que o filme vem fazer sobre a produção de arte enlatada nos tempos atuais. (Norton/Hulk, Emma/Gwen Stacy, Keaton/Batman).
Birdman critica tudo e todos, e consegue ser bem justo em todos esses aspectos, ele procurar nos fazer pensar sobre a relevância que temos no mundo e sobre o que fazemos sobre isso, procura falar sobre a necessidade de ser amado continuamente, e ainda sobre o envelhecer e suas escolhas, em como não conseguimos fugir disso. Critica o cinema entretenimento, quando em determinado momento do filme, o personagem se torna o Birdman, e voa e fazendo coisas miraculosas, com explosões e feitos especiais. Quase dizendo, é isso que vocês gostam não é?
Critica a própria ideia de crítica, fazendo a gente se perguntar sobre quem deve achar algo bom, ruim ou relevante, o público alvo ou a crítica especializada. Sobre como existe um embate entre a industria de celebridades e atores clássicos e comprometidos com a Arte. Ainda a vulgarização de todo esse celeuma pela mídia e imprensa, com produção de notícias absurdas fabricadas por puro capricho midiático.
Cabe ainda ressaltar a brilhante atuação de Michael Keaton, que no papel de sua vida, consegue mostrar a fragilidade, a idade e o comprometimento físico do ator, em contra ponto a arrogância e ganância do personagem, onde ele olha para dentro e vê um cara frágil, e dentro de sua presunção acredita ter grandiosas habilidades. E isso é ressaltado por Iñarritu tanto na cena da Times Square quanto na cena que ele destrói o camarim.
O final abusa de sua metalinguagem e premia seu personagem com aquilo que ele mais almejava, mostrar a todos sua grandeza, o ato de voar no final é a afirmação que ele conseguiu o que queria.
Fico feliz dessa guinada dos diretores mexicanos, em dois anos consecutivos tive o prazer de ver dois trabalhos excelentes, (Gravidade e Birdman), e consolida a carreira de Iñarritu, merecidamente.
Chef
3.7 784 Assista AgoraO Diretor Jon Favreau depois de dirigir alguns blockbusters do nivel de "Homem de ferro" decide trabalhar como ator principal, num filme sobre as coisas simples da vida, comida e música, seus dramas, fracassos e uma boa dose de comédia, e nessa aventura meio "road movie" ele trás consigo um elenco muito eficaz.
Favreau é Carl Casper, um chefe de cozinha que embora seja muito criativo, tem sua inventividade podada pelo dono do restaurante vivido pelo ator Dustin Hoffman, e um belo dia o maior crítico do meio, visita o restaurante para avaliar os pratos, e acaba com o menu fazendo uma crítica altamente destrutiva. Aliado a isso sua vida pessoal vive aos frangalhos, com sua ex-mulher (Sofía Vergara) tentando ajuda-lo a se reerguer dessa crise, indicando que talvez ele deva começar do zero, se permitir reinventar, e recomenda um food truck ( trailers modificados como mini restaurantes). A partir desse momento embarcamos numa viagem, cheio de musica boa, belas sacadas visuais, ritmo alegre e muita comida boa.
Apesar dessa premissa, Chef é um belo filme, que vem falar que mesmo em adversidades, e percalços, dá para se erguer, com muito bom humor e coragem de recomeçar, o filme mostra como esse personagem, com um nome saído quase de uma história de Stan lee, nos cativa, por ser um cara comum, uma faceta já conhecida, um chefe talentoso e um pai, sua relação com o filho, expressa exatamente o momento conturbado que Carl vive, ele nem consegue ser o profissional que quer e nem o pai presente, sendo a todo momento superficial, nesses aspectos.
O longa nos enche não só com belas imagens, mostrando a produção dos pratos, nos fazendo salivar, nós acreditamos no que está na tela, vamos degustando, embalados com ritmos caribenhos e jazz de primeira qualidade, o uso dos recursos de internet, como redes sociais, e a velocidade de comunicação, é bem empregada no filme, tanto evidenciando o bem, e o mau que isso pode causar.
Do segundo ato em diante, temos 4 personagens bem claros nessa jornada épica, O chefe, o filho, o grande amigo cozinheiro Martin (John Leguizamo), e "El jefe" o trailer, todos os ângulos de câmera, todo ambiente alegre e divertido, todos os diálogos pontuais, e todos os acontecimentos mais que previsíveis, passam de mão em mão por esses 4 personagens. O que de maneira nenhuma, faz desse filme ruim, ele é divertido, bem fechado e cumpre o que promete.
Com pequenas participações mas grandes momentos, temos no elenco Robert Downey Jr, Scarlett Johansson e Oliver Platt, dando mais charme, a onda de amizade transborda o filme, o que faz dele despretensioso, que merece ser assistido, apesar de não ser aqueles gigantes arrasam quarteirão, é um filme do bem, que eleva o astral, e como uma boa comida, há qualquer hora é uma boa pedida.
Sniper Americano
3.6 1,9K Assista AgoraAlém de fazer os melhores filmes na linha " badass " e western spaghetti, Clint Eastwood há muitos anos vem produzindo bons filmes, entre esses gosto bastante de " Sobre meninos e lobos, Menina de ouro e Os imperdoáveis ". E todos esses filmes de alguma maneira levam a bandeira das crenças de Clint, e do povo americano, seu nacionalismo americano, e sua ideologia armamentista.
Falar desse filme sem falar antes do seu diretor, seria complicado, já que meu motivo pessoal de ver o filme, foi o nome de Clint no final do trailer, porque a premissa é bem batida, é o típico filme americano de propaganda bélica, de recrutamento, onde cada aspecto de honra, valor, patriotismo, heroísmo e defesa de valores subjetivos, como liberdade e justiça, são jogados no expectador, quase justificando cada morte e crime cometido por seus personagens.
O filme trata da vida do franco-atirador Chris kyle, (Bradley Cooper) considerado e ovacionado como o soldado mais letal em campo, que levava uma vida simples do interior e teve seu chamado militar, quando a embaixada do EUA foi atentada por terroristas da Jihad Islâmica no ano de 1998 em Nairobi, no Quénia. Colocando o nome de um dos participantes, na lista dos 10 maiores procurados pelo governo americano, Osama Bin Laden. E logo em seguida os atentados do 11 de setembro, que definitivamente fizeram Chris dedicar toda uma vida a proteger seu país, do mau.
Depois de muitos anos, vivendo nas areias do oriente médio, matando e fazendo aquilo que ele sabia melhor, abater alvos, ele não conseguia mais ter seu lado humano de volta, quando em casa, estava com a mente totalmente voltada para guerra, alienada em toda a situação de conflito, e vemos o reflexo disso em todo o comportamento do soldado, na guerra se sentia em casa, em casa se sentia um completo estranho. E os danos disso em sua família, já é mais do que esperado.
Eu particularmente não esperava que alguns temas espinhosos fossem abordados nesse filme, (como foi feito em Soldado anonimo, e Zona verde por exemplo) mas pelo menos aquela proposta do trailer, esperava que se cumprisse, mas isso foi logo esquecido, estávamos lá vendo um grupo de soldados amigos, resolverem os conflitos semanais, e arrumar um vilão, quase cinemático para ser o algoz do herói do filme, e isso me deixou bastante frustrado.
Quando você apresenta um soldado que teve que atirar e matar, crianças, mulheres civis, e todos os tipos de alvo possíveis, enquanto empunha seu rifle, pensando na família e em seus filhos em casa, espera-se que todo esse conflito interno seria trabalhado no filme, mas o que se vê que só dele internalizar que cumpria seu dever, ouvir dos outros que ele era um herói, e que mesmo os seus familiares tentarem fazê-lo entender as incongruências dessa guerra, e ele bater continência diante do seu "dever", calando qualquer reflexo de culpa, faz toda essa premissa ser uma mera falácia, apenas publicidade sem um questionamento de fato.
O filme se resume, em um bom soldado, pai de família exemplar, cidadão irrepreensível, herói, que deu tudo de si pelos seus amigos do exército, e que cumpriu de forma exemplar seu dever. Apenas um trabalho extremamente unidimensional. É pouco para um filme do Clint, que tão bem discutiu a guerra, em "Cartas de Iwo Jima e A conquista da honra".
Olhar um filme que externa em uma frase toda a ideologia furada e perversa de "todas as mortes foram justificadas”. Os Estados Unidos é o melhor país do mundo e vale tudo para defendê-lo. Os outros são os outros" estraga qualquer traço de qualidade do filme.
Na parte técnica ele é perfeito, com uma bela edição de áudio, e tudo aquilo que se espera de um filme assim, mas que tropeça demais na sua mensagem óbvia assustadora e rasa.
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraCom filmes incríveis e alguns tropeços, a nuvem da ficção científica tem voltado, por obras como Gravidade, Prometheus (esse bem ruim), Elysium, Oblivion e Star trek, variamos entre a Ficção Científica Hard, e as mais brandas, voltadas para o entretenimento. Até os projetos da TV, tem sentido o bom momento, com "Fundação" de Asimov sendo futuramente adaptado pela HBO.
Particularmente tenho uma queda pelo tema, tanto na literatura quanto na grande tela, e recomendo muito as maiores obras do gênero; O Dia em que a Terra Parou (51), 2001: Uma Odisséia no Espaço, (o maior para mim), Planeta dos Macacos (68), O Exterminador do futuro, Contato, Blade Runner, Matrix, Gattaca. Cito ainda algumas menções honrosas como; 12 macacos, Alien o oitavo passageiro, e Segredo do abismo.
Mas, porque citar todos esses filmes para falar de Interstellar? Porque as idéias na ficção científica conversam entre si, existe uma intertextualidade nas obras, onde dificilmente, você terá plenitude de entendimento sem conhecer as facetas discutidas.
Entrando na obra do Nolan, o filme discute vários temas em 3 atos, e é para isso que a ficção é feita, para falar sobre grandes verdades universais, usando uma história grandiosa para isso, tal qual o tema.
No primeiro ato ele mostra um futuro distópico, um mundo destruído por grandes pragas, que agora sufocado e faminto, se vê numa situação rural, sem perspectiva de melhora, lutando para se adaptar nessa nova realidade. Engraçado notar que esse mundo criado por Nolan, não existe saques, violência e desespero, existe uma certa resignação, todos procuram se ajudar, uma cooperação. O único aspecto que senti falta foi apresentar a situação global alem da fazenda. Mesmo estando subentendido.
O segundo ato, ele já se passa como uma Ficção espacial, com motivações já batidas mas de contornos dramáticos, e aqui o filme brilha, onde o grupo de astronautas partem em busca de um novo lar para a raça humana. Do ponto de vista técnico, é magnífico ver conceitos tão abstratos na ciência serem demonstrados de forma simples e genial.
Pontos para Nolan que na parte da interação dos atores com as maquinas, e seus equipamentos, não usou de recursos visuais, trazendo uma melhor interação e verossimilhança da situação. E também conseguiu criar obras visuais, no espaço, dignas de elogios dos fãs e cientistas do ramo. Desde a base da NASA, até as naves de exploração, e inclusive os polêmicos robôs, eu gostei de tudo que vi. Detalhe que, salvo a parte da voz dos robôs (TARS e CASE) que deveriam ter um tratamento de áudio melhor, muitas vezes não conseguia diferir quem falava o quê. Mas sobre o design, a homenagem a Kubrick está bem clara, desde a sua simplicidade visual mista com a complexidade de funcionamento.
Acredito que Nolan quis sair da sua zona de conforto. Acostumado em criar filmes obsessivos, onde cada personagem tem seu motor baseado em uma busca desenfreada, aqui ele decidiu dar pinceladas de seu trabalho, mas falar sobre o amor, apenas no mais genuíno, ele teve êxito, o de pai e filha, mas acabou não conseguindo a qualidade pretendida. Quando se tratava da relação de Cooper ( (Matthew McConaughey) e sua filha Murphy (Mackenzie Foy/Jessica Chastein), a qualidade dos atores fez toda diferença, chega a ser tocante e nos importamos com o que está em jogo, tanto quando Cooper estava na terra, quanto no espaço. A cena dos videos que Cooper recebeu, onde para ele foram minutos, mas para a humanidade foram 23 anos, engoli seco, pois foi bem transmitido o tamanho do dano temporal que ele recebeu, do emocional, e aqui mais uma vez McConaughey mostra porque é um dos maiores atores nessa fase atual, com plano fechado ele destrói o espectador com toda sua carga dramática. Tal qual na cena de plano fechado dentro do caminhão, onde ele deixa sua família indo tentar salvar a todos. Em contrapartida o núcleo da família Brand, não tem o mesmo apelo, já que Amelie (Anne Hathaway) é parada, sempre em diálogos verborrágicos sem emoção, em nenhum momento se acredita, nos sentimentos e emoções trazidas por Hathaway, é quase uma falha de direção de Nolan, que mesmo com atores como Michael Caine, não consegue evoluir esse núcleo, já em outros momentos, Caine, com poucos minutos de tela, tem atuação pontual, como Jhon Lithgow.
Outro momento ruim do filme são os diálogos expositivos, que tanto travam a trama, quanto não deixa o público de ficção cientifica fazer o que mais gosta, que é pensar. Mesmo para quem não está ambientado, não existe a necessidade de explicar tanto os conceitos científicos, e emburrece em momentos que o filme freia, repetindo a explicação de Murphy Law, Buraco negro e Buracos de minhoca. Ainda mais dentro da missão, já nas portas dos acontecimentos. Isso ao invés de imergir o expectador, faz as quase 3 horas do filme se arrastarem ainda mais. E isso me soa como erro de montagem, já que existem diálogos orgânicos, bem executados,quando se fala na descrença da ida do homem a lua, sobre a NASA estar quase de forma clandestina, no detalhe das diferenças dos uniformes dos astronautas, no que tange o tempo da corrida espacial, (trajes de Matt damon e Cooper) por exemplo. E mesmo teorias batidíssimas como o experimento do Gato de Schrödinger mostrado de forma incrível no filme, o uso da teoria da relatividade, muito bem montada no filme e por aí vai.
Então chegamos o que considero bem desastroso, mesmo sendo muito bonito e teórico-filosófico, o terceiro ato do filme. Não gostei da forma como Nolan concluiu sua obra, essa metafísica sobre a não-linearidade espaço-temporal entre causa e efeito. O que na realidade foi um Deus Ex quantum que o crítico Pablo Villaça apontou e eu concordo. Mesmo sendo uma teoria já abordada na mídia por series como Doctor Who Battle Star, e levemente tratada pela ciência por Carl Sagan. Eu esperava algo bem diferente do que foi mostrado. Ele tentou fechar as pontas soltas e quase tropeçou. Gostei dele colocar todo o instinto de sobrevivência, como algo ruim no personagem de Damon, e também ele sugerir de forma convincente que os "ELES" somos nós no futuro, controlando a gravidade o tempo e espaço. Mas a forma como ele cai de paraquedas junto com a filha, tornando o quarto dela, o encontro das respostas para o dilema da trama, me soou quase fantasioso e providencial. Falar que ali ele voltou ao passado é não entender o filme, o problema ali não é de furo de roteiro, mas de decisão. Diria, quase se acovardou, o querido Nolan usando a quarta dimensão.
Mas mesmo criticando vários pontos, eu adorei o filme, e ele ser bombardeado de discussões só demonstra o como ele ainda vai ser muito lembrado, foi a grande ambição de Christopher Nolan, que por poucos segundos, não acertou em cheio.
Mesmo irregular ele deve ser visto e apreciado.
John Wick: De Volta ao Jogo
3.8 1,8K Assista AgoraPara ninguém falar que só comento de filme "tênis verde", eis aqui um belo representante da ação desenfreada por motivos toscos, que tanto nos alegram, e ninguem melhor para representar um filme assim do que Denze... her... Keanu Reeves!
Ele anda longe da ribalta, e acho que por suas próprias opções, a historia aqui faz uma alusão sobre a situação de Reeves no cinema, ele sempre foi o arrematador de bilheteria, estava sempre em alta e decidiu se afastar, ao ponto de grandes estúdios de Hollywood não o chamarem mais, ele tem produzido filmes de baixo orçamento, experimentais e de homenagens, documentários que passam desapercebidos. E esse parece ser o retorno do "bicho-papão".
Filme despretensioso, que tem tido boas críticas e bilheteria, e se trata daquele filme recheado de bons atores, como Michael Nyqvist, Willem Dafoe, e John Leguizamo.
John Wick é a história batida, do ex assassino que volta a ativa por conta de bandidos que lhe tiram tudo de bom que lhe resta, fazendo ele ligar o botão da vingança, deixando vários corpos pelo caminho.
Apesar de não ser inovador, (lógico) e nem tem essa ideia, ele trás ótimas sequencias de ação, boas coreografias e boas atuações, de forma que não conseguimos respirar entre uma tomada e outra.
O filme se encaixa bem ao jeito de Reeves, e com um leve tom de humor ácido, ele ri dele mesmo quando retrata em várias cenas o mito, com histórias absurdas, quase trovadorescas.
Assim veja esse filme como se deve, sem ser algo épico, e nem pretende ser, nada alem de um grande filme de ação. O que de fato ele é.
Nebraska
4.1 1,0K Assista AgoraMe lembro do diretor Alexander Payne, do filme comovente "Os descendentes", onde ele tratou muito bem, sobre família, sobre morte, sobre passado refletindo no presente, traições, e sobre escolhas, todas essas alteradas com a simples inclusão de dinheiro. Uma grande bolada, faz com que todos os interesses venham a tona da pior maneira possível.
E aqui em Nebraska, ele apresenta os mesmos elementos, mas com uma carga de humor, quase sutil que acrescenta toda uma singeleza a história.
Tudo começa quando o fragilizado emocionalmente David, começa a se preocupar com o fragilizado mentalmente, Woody, seu pai, que acredita ter ganhado um milhão de dólares em uma propaganda de revistas. Seu pai quer ir a cidade de Lincoln buscar o prêmio, David tenta fazer o pai desistir, e sem sucesso, toda a família de Woody decide embarcar na fantasia para aplacar a tristeza e insanidade do pai.
Nesse Road movie melancólico, vamos descobrindo as mazelas do relacionamento familiar, o problema de bebida do pai, seu afastamento dos filhos, e sua relação nada amorosa com a mãe. E quando decidem passar pela cidade onde viveram a juventude, os encontros com a família deixam a história mais cheia de nuances, com histórias dessa época que trazem tanto nostalgia, quanto tristeza.
Aqui a música e a fotografia, preta e branca, tem um fator importante, já que exalta aquela atmosfera sem vida das pessoas, onde nada de relevante acontece, fazendo refletir a vida pacata e corriqueira nas atitudes dos personagens. As mágoas e ressentimentos guardados vão aflorando, não só entre Woody e sua família, quanto nos seus familiares, que querem uma parte do fantasioso prêmio de Woody. O jeito doce e triste de David, contrasta bem com a rabugice de pai, e as conversas que em outro longa seriam melodramáticas e cheias de frases emotivas, aqui é crua e fria, dando um tapa no espectador que espera muitos clichês.
Os personagens se revelam complexos, e aos poucos nos diálogos, vamos entendendo melhor como era a relação do casal, onde inicialmente se entendia um casal onde a mulher sofria com os vícios e doenças comportamentais do marido, agora se nota um Woody, bom e gentil, e que tentou se adaptar a toda aquela relação conturbada, e de forma sensível, vamos nos apegando a cada um deles. A mãe Kate vivida pela atriz June Squibb é um show a parte, com seu temperamento forte e ácido, nos leva da antipatia ao riso, e o humor é a coisa que mais impressiona no longa. Ter escalado atores comediantes foi muito acertado, e mesmo aparecendo pouco, Bob Odenkirk (nosso eterno Saul goodman) esteve muito a vontade, tanto nas partes dramáticas quanto hilárias.
Enfim, Nebraska é a relação de um pai cheio de falhas, e um bom filho, que decidiu olhar para dentro do seu velho e entender que existia algo além de toda a rigidez e tristeza, e toda essa desilusão é respondida, quando David pergunta ao pai se ele tinha ainda vontade de algo da juventude, e o pai responde olhando para o nada; "eu não me lembro", deixando evidente que aquela fantasia é tudo que lhe resta para reparar o seu passado nada heroico.
A Entrega
3.4 227 Assista AgoraMuito triste ver o ultimo papel de James Gandolfini. *(
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraMuitas vezes a nossa vida é tão cheia de reviravoltas, de medos, de encontros e desilusões, nos deparamos com situações adversas e encontramos pessoas que fazem a vida ter mais sentido. Criamos planos e mudamos de planos, nos mudamos e começamos tudo de novo.
Não sei vocês, mas sempre pensei, "nossa, tudo isso que vivi, daria um filme, ou um livro", quem sabe. Mas nada de tão espetacular, coisas triviais, coisas sublimes e que nos marcam, desde a infância, a juventude e a velhice.
E exatamente sobre isso que o filme, (já adianto, excelente filme), do diretor Richard Linklater, vem tratar. Filme esse que ganhou ontem 3 globos de ouro de forma merecidíssima, porque soube retratar que nossas dramas pessoais, nossas falhas, e escolhas erradas, são tão importantes quanto qualquer história "fantástica" contada por aí.
Rodado ao longo de 12 anos, ele usa a passagem de tempo do ator Ellar Coltrane, vivendo o personagem Mason Jr. E nessa viagem temporal, acompanhamos também sua família, vivida por Patricia Arquette, Ethan Hawke, Lorelei Linklater filha do diretor.
Vivemos coisas triviais, mas não menos importantes, desde suas descobertas na escola, até a entrada na faculdade, de ter que lidar com um corte de cabelo desastroso, até convivência difícil com padastros.
E enquanto vemos o envelhecimento de Coltrane( Mason), também passamos pela de sua irmã e de seus familiares e amigos, cada ruga, cada corte de cabelo, e cada influência que acumulamos, com acontecimentos cotidianos. Ver as rugas de Ethan Hawke e toda abordagem que lhe foi dada, do pai que paralisou seu estilo de vida no mesmo carro, nas mesmas roupas, até seu amadurecimento, com terno e bigode, e sua esposa família, emoldurados numa minivan, mostra como é sutil a qualidade do filme, acompanhamos isso, sem nenhuma explicação, sem nenhuma frase, sentimos como se vivêssemos aquilo.
A mãe de Mason, (Patricia Arquette) denotada com cortes de cabelos diferentes, na sua passagem de tempo, suas péssimas escolhas amorosas, e sua luta para vencer, sua dedicação a família, fez valer prêmio que recebeu ontem, já que ela é o laço de toda a trama, da vida e dos personagens tão reais como eu e você.
O diretor não se deixou levar apenas pela ação do tempo na vida de cada um deles, mesmo isso já sendo intrigante, mas aproveitou e discutiu temas existenciais, coisas que todos nós nos perguntamos, em dado momento da vida, as influências que sofremos dos lugares onde passamos, discussões políticas, músicas e até armas e bíblias, tudo isso exercendo a montagem complexa de cada ser humano, condensado na vida de Mason.
As abordagens de problemas familiares não foi deixada de lado, desde alcoolismo, violência familiar, e até separações de pais. E como isso acerta em cheio, o crescimento dos filhos. E no final temos Mason, um cara do bem, que mesmo passando tudo aquilo, ele conseguiu se tornar um jovem cheio de sonhos por realizar, que no seu olhar e na sua voz demonstra amor e gentileza.
Mesmo se tratando de um filme que aborda a vida cotidiana típica americana ela consegue ser universal, já que trata de forma simples e real, de temas que de uma maneira ou outra chega a todos nós, muitas vezes eu era o Mason, outras vezes Mason era um primo ou amigo, e concluímos que somos o mesmo quadro pintados por artistas variados.
Sabendo retratar de forma tocante como poucos, fui surpreendido pelo diretor Richard Linklater, no final senti a mesma dor da mãe que vê seu filho indo embora seguir seu próprio caminho, e a alegria do começo, de uma nova etapa na vida de Mason. Quase fui um pouco de cada um, na ambiguidade de sentimentos deixados pelo filme. E amanhã terá mais, sempre haverá algo mais.
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraJake Gyllenhaal tem se especializado em um cinema mais obscuro, onde a violência urbana e as piores facetas da sórdida natureza humana, acham refúgio. Destacando como um ator versátil, tem personagens loucos e viajados de ácido como em Donnie Darko, filmes "Disney" como "O príncipe da pérsia", fez um dos melhores filmes sobre guerra moderna, em "Soldado anônimo", e até ficções científicas "hollywoodnescas" como "Contra o tempo", mas repito, sua verdadeira vocação reside num bom e velho thriller urbano. Depois de "Zodiaco" ele encarnou belos personagens complexos, as vezes mocinhos, e alguns vilões e isso tem dado muito certo. Vide "Os suspeitos", "Marcados para morrer", "The Shoes - Time to Dance" e até " O homem duplicado".
Nesse longa ele faz uma junção leve de autismo e sociopatia, fazendo seu personagem (Lou Bloom) um cara intrigante, perspicaz e ambicioso no uso mais pejorativo da palavra. Muito bem dirigido por Dan Gilroy roteirista de o Pior Bourne e de Gigantes de aço, nos apresenta esse ladrão pé de chinelo que no momento de insight, ao avistar um acidente, testemunha o trabalho nada nobre, de um câmera, ratos de notícias marrons, que pesca imagens dos piores momentos das pessoas para vender para jornais sensacionalistas. É verossímil todo filme, haja vista que em nosso país, existem em todos os canais aos montes, jornais do mesmo tipo, que vive da carniça e podridão da vida alheia, para vender noticias e saciar a sede dos telespectadores da mesma estirpe. Aquilo que deveria ser motivo de lástima e tristeza, não passa de entretenimento do mais puro sadismo. Noticias são fabricadas a rodo, aumentando a cultura do medo, impulsionada pela audiência e ela pela noticia gore, num vórtex de esgoto ao céu aberto. Eis minha crítica, não pude fugir, é a mesma do filme.
E Lou Bloom rapidamente deixa de ser aquele que registra essas cenas lamentáveis, e se torna o editor criativo delas, montando e conduzindo a história da melhor forma comercial, como um produto, da pior espécie imoral possível. Desde fotos alteradas, até posicionamento de corpos em acidentes, documentando tudo aquilo que servirá melhor para contar a história que eles quiserem para o público, fugindo da realidade dos fatos. Assim o personagem pouco atraente, magro e desfigurado pela busca apenas do resultado, em detrimento da moral, alça sua ambição em tudo e todos, sem nenhuma vida, mesmo quando sorri, não existe realidade, já que ele busca apenas conseguir alcançar seus objetivos, custando o que custar.
A obra em si, acerta em diversos pontos, mas deixa mesmo na sua competência um ar pessimista, já que em nenhum momento vemos traços de redenção e humanidade, onde esse tipo de jornalismo, (se é que se pode chamar disso) tem tomado todos os espaços daquilo que poderia ser chamado de noticia, fazendo de cada um de nós seres que não leva mais conta a miséria alheia.
Tim Maia - Não Há Nada Igual
3.6 593 Assista AgoraMe lembro de certa vez entrar num restaurante, há quase 20 anos, e escutar um som de uma voz tão incrível e diferente, que fui logo perguntando, "puxa, que musica, quem será o cantor?" Naquele momento, pensei ser um cantor de soul americano, e fiquei intrigado, mal pude acreditar ao saber que era Tim Maia. Confesso que nunca me interessei nas músicas, já que aquela pegada de gingado, e metais que era usado nos últimos tempos sempre me afastou do som dele. Foi quando escutei o primeiro disco de 1970, e a musica que ouvi, que me deixou essa lembrança, no restaurante, foi "Jurema".
Com o tempo tive contato com a história louca de Tim, sua infância, sua fama de drogas, palavrões, mulheres e problemas com álcool, era um rock star, e sua passagem foi tão enfurecida, tão meteórica que parecia um filme.
Apesar de ser da globo filmes, posso assegurar que foi a melhor biografia sobre um personagem do cenário musical brasileiro, já produzido, se comparado com outras obras como o livro de Nelson Motta, "Vale tudo; O som e a fúria de Tim Maia" existe a sensação de coisas faltando, mas ele é competente, mostrando a evolução, da infância pobre e suburbana em Niterói, a descoberta da musica, e seu contato embrionário com o que viria a ser os grandes nomes da história da música nacional, como Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jorge Ben, Rita Lee, e até o nascimento da Bossa nova.
O filme não polpa nada de bom e ruim na vida e obra do cantor, deixando em evidência seu jeito falastrão, briguento, malandro, explosivo, esbanjador e destemperado. Seus abusos e seus crimes, mas também sua genialidade poética, bem expressada nas músicas e no balanço do soul music. Presenciamos quase uma viagem no tempo musical, conhecemos personagens icônicos e a relação de Tim com eles, indo de amor e ódio com bastante facilidade.
Sobre a caracterização e ambientação, a produção conseguiu de forma competente apresentar toda a loucura temporal da vida de Tim, desde o figurino, aos carros, a linguagem da época, os acontecimentos do período, e como cada um desses anos vão moldando o gosto musical e o estilo de vida de Tim.
No quesito atuação, aqui temos diversos problemas, desde de atuações medíocres a quase humor caricato, como é o caso de George Sauma, que não consegue apresentar um Roberto Carlos convincente, é quase uma paródia de humor, fazendo com que momentos importantes da vida de Tim, sejam deslocados por conta disso, outra coisa que incomodou e a junção de todas as mulheres da vida de Tim no personagem de Aline Moraes (Janaína), onde caberia várias personagens fortes, que obviamente serviram de musas, nas epopeias musicais de Tim, temos uma única figura, algo que deixa bem evidente que não se encaixaria aquilo que foi apresentado em cena, alguém com uma vida tão escrachada e dada a "porralouquices" como Tim, nunca estaria envolto em tramas atemporais com a mesma mulher. A atuação de de cauã Reymond é quase um piloto automático, e a sua voz em off, praticamente não trás qualquer emoção a trama, atrapalhando onde deveria ajudar. E finalmente Babu Santana (Tim Maia Adulto) se distancia consideravelmente em qualidade de Robson Nunes (Tim Maia jovem), sendo atuações opostas demais, como se fossem duas pessoas diferentes, mas aqui acredito que tenha sido erro de direção, já que quando se faz o salto temporal, é muito brusca e a diferença e sentida de imediato.
Contudo isso não atrapalha o andamento da obra, o filme é divertido, dramático, e convidativo, até mesmo para aqueles que ainda não gostem de Tim, passem a gostar, o seu amor e empenho musical, é bem realizado e faz com que o espectador queira saber mais sobre a vida do sindico, e ouvir toda a obra do rei do soul music brasileiro.