"-Vampires pretending to be humans pretending to be vampires". "-How avant-garde."
Neil Jordan acertou de novo voltando aos monstros do horror. Ele já havia trabalhado com lobisomens em "The Company of Wolves, de 1984, e é perceptível que houve uma preocupação em incluir, neste dois excelentes filmes, as questões psicológicas que se encontram na gênese de cada um destes mitos. Enquanto o despertar da sexualidade é simbolizado pelo dilema no interesse da Chapeuzinho Vermelho pelo lobo (o qual ela deveria temer) em The Company of Wolves, em Interview with the Vampire o vampiro é o ser que sofre por ter que se alimentar eternamente de sangue humano, embora ele mesmo não deixe de ser um humano. Boa parte do sentimento angustiante, às vezes de melancolia, causado pelo filme é resultado da habilidade tanto do diretor quanto da roteirista (Anne Rice, que escreveu o livro que dá origem ao filme, além de uma série de continuações) em retratar este paradoxo que está no cerne da origem do mito. Claro, brilhante também está este belo elenco de atores, com destaque para a atuação de uma Kirsten Dunst em início de carreira, desempenhando perfeitamente um papel difícil.
Indiscutivelmente, trata-se de um bom filme, mas que se mantém popular mais pelo valor histórico do que pela qualidade do filme em si. As atuações são muito boas (destaque para a frieza de Nicole durante todo o filme) e o suspense se mantém até os últimos segundos, mas poderia ter sido melhor trabalhado quanto aos efeitos sonoros (já que não há, convenhamos, algo que se pode chamar de trilha sonora). A história é bastante interessante e se desenrola de maneira envolvente. E sim, é uma história que teria dado um prato cheio caso o Hitchcock houvesse obtido os direitos para fazer uma adaptação. Falta, no entanto, audácia em relação à técnica em Les Diaboliques, coisa que dificilmente aconteceria em um filme do Hitchcock. Fiquei curioso em relação ao remake de 96.
Uma das coisas que mais me incomoda nas releituras de clássicos que vem sendo feitas nos últimos tempos é que parece haver uma preocupação muito grande com o visual (a síndrome da "fotografia bela") e com os atores que farão parte do elenco enquanto o roteiro, e mesmo as ideias centrais a respeito dele, é deixado em segundo plano. Aí está o motivo pelo qual nem Alice in Wonderland (2010) nem Maleficent (2014) corresponderam a toda a expectativa sentida pelo público quando na espera pelo lançamento: de nada adianta ter ator ganhador de Oscar (ou do que quer que seja) no elenco se a história não agrada, se não há um sentimento de envolvimento de quem assiste com o filme. The Company of Wolves é, neste sentido, uma obra-prima. O filme conjuga o que há de melhor no horror dos anos 80 às histórias de contos de fadas, além de assumir, inesperadamente, uma posição a respeito do condicionamento da mulher a uma relação de posse por parte dos homens. E olha que a Sarah Patterson (Rosaleen) atuou em menos de meia dúzia de filmes, dos quais este é o mais conhecido. Primeiramente, inserir histórias dentro de histórias poderia ter ocasionado em uma perda de direção e, portanto, da qualidade do filme. Mas The Company of Wolves consegue manter o espectador envolvido o tempo todo, seja pelo andamento do filme em si, seja pelos pequenos detalhes, tais como as pombas saindo do poço e as cenas surrealistas (nunca esquecerei da cena dos ovos eclodindo no ninho) ou como o cenário, que contribui com um quê de artificialidade que somente acrescenta à atmosfera do filme, que se mantém o tempo todo entre fantasiosa e sombria. Outro ponto positivo (aliás, onde estão os defeitos neste filme?) são as cenas de transformação, tão impressionantes quanto as que John Carpenter havia filmado dois anos antes em The Thing. Antes de qualquer coisa, tenho que deixar registrado que mal posso esperar para ver uma outra atuação de Angela Lansbury (a Vovó), que ocupa um papel de destaque ao lado do de Sarah Patterson.
Em The House of the Devil a paranoia e a atmosfera de terror são construídas de forma gradual, e não através de sustos gratuitos. O clima de tensão por antecipação do filme pode acabar afastando alguns espectadores acostumados ao horror mais violento típico dos últimos 20 e poucos anos, mas acaba sendo um triunfo para aqueles que preferem um horror em que a tensão se desenvolve menos pelo derramamento de sangue do que pela aflição ou pela claustrofobia. A ambiência, a trilha sonora, as atuações e os belíssimos pôsteres de divulgação emulam a saudosa estética oitentista, mas The House of the Devil é um filme excelente por seus próprios méritos
(a sensação de desconforto cada vez que Sam ou Megan estão comendo ou a náusea sentida por Sam após conseguir escapar do ritual são bons exemplos destes méritos).
Em Frenzy, Hitchcock retorna a um de seus temas recorrentes: o homem inocente para o qual todas as pistas de um crime apontam (embora aqui a história não se deixe pender ao melodramático, como ocorre em The Wrong Man, de 1956). A surpresa maior aqui são as cenas despudoradas e as referências sexuais beirando o explícito. O sexo sempre apareceu nos filmes de Alfred Hitchcock, mas de forma apenas sugerida (como nos primeiros minutos de Psycho, de 1960). Aqui, o sexo é utilizado para intensificar a violência, de uma forma nunca vista antes (nem depois) nas obras do diretor. O primor técnico é igualmente notável, cheio de cenas nas quais silêncios prolongados ou barulhos suspeitos elevem a tensão a patamares que justificam o título de Hitchcock como "mestre do suspense".
Neste seu último filme, Alfred Hitchcock consegue manter o tradicional clima de suspense em uma trama na qual cão e gato procuram um pelo outro, reafirmando (não que fosse necessário) sua maestria como diretor. Embora não se trate de uma obra notável pela inovação técnica (diferentemente de Psycho, de 1960, e Vertigo, de 1958), Family Plot certamente está cheio de marcas registradas do diretor, seja nos disfarces beirando a extravagância, seja nos pequenos detalhes que fazem toda a diferença (vide esconderijos e a investigação cheia de imprevistos). Um prato cheio para qualquer aficionado pela obra do diretor.
Há um bom tempo queria conferir do que tratava este filme, que faz parte de muitas das listas de "melhores filmes dos anos 40". Gostei muito de algumas cenas, especialmente
que são espetacularmente bem executadas. Curiosamente, a personagem Irena chama mais atenção quando é sugerida através de artifícios (luz e sombras) do que quando a vemos na tela em carne e osso. O mesmo não podemos dizer de Alice (Jane Randolph), que se destaca em um papel que teria tudo pra ficar em segundo plano.
Documentário fraquíssimo, que se utiliza de metodologias gritantemente duvidosas para inferir significados (não que alguns deles não sejam interessantes como material para mais discussão sobre, que é o caso da relação do hotel com os índios nativos) aleatórios e simbologias nos elementos que compõem The Shining. Importante salientar o fato de que os "estudiosos" idealizadores do documentário não chegam a aparecer em nenhum dos 104 minutos de filme, fato que por si só descredibiliza Room 237 o bastante para que este seja assistido uma vez só e então descartado.
Fantástico, na mais literal das acepções. Ugetsu Monogatari descortina um mundo além do palpável, levando os personagens a reconhecerem suas falhas, seus erros. A Guerra e a ambição humana são os pilares, em Contos da Lua Vaga, onde se sustentam belíssimas histórias de amor. Belíssimas justamente pela legitimidade desta relação entre os personagens: o dar-se ao outro (ou mais apropriadamente: sacrificar-se pelo outro).
Secret Beyond The Door...é um ótimo filme, que mantém o suspense (e o clima meio macabro) até o final; uma ótima porta de entrada à filmografia de Fritz Lang. Aliás, a analogia entre portas trancadas e o processo de investigação mental (psicanálise freudiana) é o que faz desta obra um filme imperdível. Ao adentrarmos nos territórios da mente podemos nos deparar com elementos aparentemente desprezíveis, mas muito significativos. E em Secret Beyond The Door, alguns elementos nos conduzem a direções sinistras, compondo uma sensação de estar preso em um labirinto cada vez mais bifurcado.
Fellini é um escapista; renunciou o cinema-verdade em troca de um cinema fantástico, ou cinema-falsidade, como referido por alguns. E é isso que faz a arte desse mestre do cinema jamais perder sua força: a quebra do limiar entre consciente/inconsciente, que se dá de uma maneira teatral, às vezes grotesca e sempre imprevisível. Não é necessário filmar a realidade para expôr o medo e os conflitos interiores do ser humano. Julieta dos Espíritos é um filme indispensável. As cores parecem saltar da tela; a trilha sonora de Nino Rota é, como sempre, bela e precisa, e Giulietta Masina interpreta um personagem talvez não tão lembrado quanto Gelsomina, de A Estrada da Vida, mas certamente capaz de conquistar a admiração de muitos. No final, esta obra de falsidade plástica nos faz voltar para nossos próprios interiores e repensar se não estamos presos ao passado e onde estaria a nossa redenção. E isso é o que a faz um grande filme.
Mais um exercício estilístico do que qualquer outra coisa. Nota-se que as atenções foram voltadas mais para visual e edição do que qualquer outro elemento. Os personagens são mal desenvolvidos (aliás, por qual razão Nicole Kidman está no elenco mesmo?) e praticamente não há um ápice (tão esperado) na narrativa. É um filme pretensioso, que tem como ponto de partida a rivalidade entre mãe e filha (tema, aliás, já explorado de maneira muito superior em filmes como Sonata de Outono, do Bergman, The Graduate, do Mike Nichols, Heavenly Creatures, do Peter Jackson, apenas para citar alguns), incluindo em meio a isto um pouco de suspense psicossexual.
"No passado, presumíamos que o mundo exterior ao nosso redor representava a realidade, ainda que confuso ou incerto, e que o mundo interior de nossas mentes, seus sonhos, esperanças, ambições, representava o reino da fantasia e da imaginação. Estes papéis, ao que me parecem, foram invertidos. O método mais prudente e eficaz de lidar com o mundo ao nosso redor é considerá-lo uma completa ficção - inversamente, o único pequeno núcleo de realidade que nos resta se encontra dentro de nossas cabeças. A distinção clássica de Freud entre conteúdo latente e o real precisa agora ser aplicada ao mundo exterior da suposta realidade. Diante de tais transformações, qual é a principal tarefa com que se defronta o escritor? Será que ele ainda pode usar as técnicas as perspectivas do romance tradicional do século XIX, com sua narrativa linear, sua cronologia uniforme, seus personagens imponentes habitando seus domínios dentro de um espaço e de um tempo amplos?"
Assim escreveu J.G. Ballard referindo-se à literatura e sua condição atual. E é o que acontece no cinema de Lynch: experimentações narrativas, personagens e atos de motivações ambíguas.... Sem que seus filmes deixem de ter um tema em especial. Mulholland Dr. é um filme angular. A realidade diluída em sonho e pesadelo. Um filme que desmistifica o "sonho americano". Talvez uma crítica do diretor ao meio cinematográfico. Uma obra pós-moderna com toda a elegância e o charme dos clássicos.
Forte candidato a pior da franquia. Mal editado, roteiro que aparentemente foi escrito às pressa e atuações que deixam a desejar. Interessante a referência a O Mágico de Oz no início do filme.
Confesso que não é um dos meus favoritos dos Coen, mas ainda assim é um bom filme. Ótimo roteiro, recheado de humor inteligente e com um final hilário.
Filme excelente dos irmãos Coen; com ares de clássico (aliás, os Coen tem esta habilidade de fazer de cada obra deles um clássico). É incrível a capacidade destes dois diretores de se adaptar a diferentes gêneros cinematográficos e ainda assim deixar uma marca inconfundível e muito atrativa, marca esta que eu me inclino a chamar de maestria, genialidade quanto à direção, à produção e a roteirização.
Interessante notar a recorrência da morte na infância de uma "criança" enquanto se desenvolve uma amizade verdadeiramente cativante. Filme para ver e rever!
Ambas as adaptações (tanto a do diretor russo Andrej Tarkovsky, de 1972, quanto essa de Soderbergh) são realizadas através de certa liberdade criativa quando levando o livro em consideração; Soderbergh merece crédito pela nova adaptação, afinal de contas, Tarkovsky foi um diretor tão prolífico que uma readaptação de qualquer uma de suas obras se configura como verdadeiro desafio. Andrej Tarkovsky levou a obra para um lado mais universal/humanitário; neste Solaris de 2002 a história é contada sob uma ótica mais pessoal.
As duas primeiras partes da trilogia são, cada uma à sua maneira, subversivas. Esta terceira parte, por sua vez, subverte a própria trilogia! Percebe-se facilmente a influência do Monty Python (mais especificadamente da obra-prima deles, Monty Python and the Holy Grail, de 1975) e um maior orçamento na produção. Army of Darkness não é tão lembrado quanto Evil Dead, mas o roteiro e a ideia são brilhantes (aliás, me inclino a afirmar que o roteiro é o melhor da trilogia).
A reputação de Killer's Kiss foi suplantada pelas obras indiscutivelmente revolucionárias assinadas por Stanley Kubrick ao longo de sua filmografia posterior. Embora não se trate de uma produção megalomaníaca, este primeiro longa da diretor é um exercício de suspense e tensão digno de reconhecimento e nada descuidado. A narrativa se desenvolve sem muita ornamentação desnecessária e a edição de som é magistralmente executada.
Performance capta perfeitamente o espírito da contra-cultura do final dos anos 60. Mais tarde Roeg manteria seu estilo unicamente anti-convencional, mas esta obra que nasceu junto com as outras grandes expressões sessentistas que moldaram o movimento (citando: Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, The Piper At The Gates of Dawn, Velvet Underground & Nico, Surrealist Pillow) continua sendo uma das mais absurdamente impressivas dentro da história do cinema alternativo.
Aguirre é uma obra atemporal; uma jornada ao âmago da loucura feita não de artificialismo pomposo, mas de força humana bruta e de forças irrefreáveis da natureza. Contrapõem-se a "selvageria" hostil e desconhecida à ambição desmedida, que por fim transfigura-se em demência. Embora mais tarde Herzog tenha dirigido obras tão grandiosas quanto (Nosferatu (1979), Fitzcarraldo (1982), Grizzly Man (2005), é em Aguirre que se encontra a força criativa máxima do diretor alemão.
Hayao Miyazaki é o tipo de diretor que sempre supera as expectativas; foi o que aconteceu comigo a cada filme dele que assisti. O diretor japonês faz uso em Princesa Mononoke de um tema muito recorrente, não só na sua filmografia, mas em todos os formatos de expressão artística: a ambição que desencadeia uma luta entre homens e entre homens e natureza. Evidentemente a maestria e a criatividade do diretor dão ao filme um caráter único, imaginativo, descomunal, um mundo mitológico simultaneamente feito de inovação e tradição; Princesa Mononoke é um marco na história da animação e do cinema em si.
Convenhamos: Dèmoni não é uma obra-prima, e nem chega a ser tão divertido quanto Evil Dead (impossível não comparar as duas ideias), mas o filme tem sim valor quando relevamos seu caráter subversivo. Os 15 minutos finais são, além de divertidos, muito criativos.
Entrevista Com o Vampiro
4.1 2,2K Assista Agora"-Vampires pretending to be humans pretending to be vampires".
"-How avant-garde."
Neil Jordan acertou de novo voltando aos monstros do horror. Ele já havia trabalhado com lobisomens em "The Company of Wolves, de 1984, e é perceptível que houve uma preocupação em incluir, neste dois excelentes filmes, as questões psicológicas que se encontram na gênese de cada um destes mitos. Enquanto o despertar da sexualidade é simbolizado pelo dilema no interesse da Chapeuzinho Vermelho pelo lobo (o qual ela deveria temer) em The Company of Wolves, em Interview with the Vampire o vampiro é o ser que sofre por ter que se alimentar eternamente de sangue humano, embora ele mesmo não deixe de ser um humano. Boa parte do sentimento angustiante, às vezes de melancolia, causado pelo filme é resultado da habilidade tanto do diretor quanto da roteirista (Anne Rice, que escreveu o livro que dá origem ao filme, além de uma série de continuações) em retratar este paradoxo que está no cerne da origem do mito.
Claro, brilhante também está este belo elenco de atores, com destaque para a atuação de uma Kirsten Dunst em início de carreira, desempenhando perfeitamente um papel difícil.
As Diabólicas
4.2 208 Assista AgoraIndiscutivelmente, trata-se de um bom filme, mas que se mantém popular mais pelo valor histórico do que pela qualidade do filme em si. As atuações são muito boas (destaque para a frieza de Nicole durante todo o filme) e o suspense se mantém até os últimos segundos, mas poderia ter sido melhor trabalhado quanto aos efeitos sonoros (já que não há, convenhamos, algo que se pode chamar de trilha sonora).
A história é bastante interessante e se desenrola de maneira envolvente. E sim, é uma história que teria dado um prato cheio caso o Hitchcock houvesse obtido os direitos para fazer uma adaptação. Falta, no entanto, audácia em relação à técnica em Les Diaboliques, coisa que dificilmente aconteceria em um filme do Hitchcock.
Fiquei curioso em relação ao remake de 96.
A Companhia dos Lobos
3.6 131 Assista AgoraUma das coisas que mais me incomoda nas releituras de clássicos que vem sendo feitas nos últimos tempos é que parece haver uma preocupação muito grande com o visual (a síndrome da "fotografia bela") e com os atores que farão parte do elenco enquanto o roteiro, e mesmo as ideias centrais a respeito dele, é deixado em segundo plano. Aí está o motivo pelo qual nem Alice in Wonderland (2010) nem Maleficent (2014) corresponderam a toda a expectativa sentida pelo público quando na espera pelo lançamento: de nada adianta ter ator ganhador de Oscar (ou do que quer que seja) no elenco se a história não agrada, se não há um sentimento de envolvimento de quem assiste com o filme.
The Company of Wolves é, neste sentido, uma obra-prima. O filme conjuga o que há de melhor no horror dos anos 80 às histórias de contos de fadas, além de assumir, inesperadamente, uma posição a respeito do condicionamento da mulher a uma relação de posse por parte dos homens. E olha que a Sarah Patterson (Rosaleen) atuou em menos de meia dúzia de filmes, dos quais este é o mais conhecido.
Primeiramente, inserir histórias dentro de histórias poderia ter ocasionado em uma perda de direção e, portanto, da qualidade do filme. Mas The Company of Wolves consegue manter o espectador envolvido o tempo todo, seja pelo andamento do filme em si, seja pelos pequenos detalhes, tais como as pombas saindo do poço e as cenas surrealistas (nunca esquecerei da cena dos ovos eclodindo no ninho) ou como o cenário, que contribui com um quê de artificialidade que somente acrescenta à atmosfera do filme, que se mantém o tempo todo entre fantasiosa e sombria.
Outro ponto positivo (aliás, onde estão os defeitos neste filme?) são as cenas de transformação, tão impressionantes quanto as que John Carpenter havia filmado dois anos antes em The Thing.
Antes de qualquer coisa, tenho que deixar registrado que mal posso esperar para ver uma outra atuação de Angela Lansbury (a Vovó), que ocupa um papel de destaque ao lado do de Sarah Patterson.
Filme para ver e rever!
A Casa do Demônio
3.1 193Em The House of the Devil a paranoia e a atmosfera de terror são construídas de forma gradual, e não através de sustos gratuitos. O clima de tensão por antecipação do filme pode acabar afastando alguns espectadores acostumados ao horror mais violento típico dos últimos 20 e poucos anos, mas acaba sendo um triunfo para aqueles que preferem um horror em que a tensão se desenvolve menos pelo derramamento de sangue do que pela aflição ou pela claustrofobia.
A ambiência, a trilha sonora, as atuações e os belíssimos pôsteres de divulgação emulam a saudosa estética oitentista, mas The House of the Devil é um filme excelente por seus próprios méritos
(a sensação de desconforto cada vez que Sam ou Megan estão comendo ou a náusea sentida por Sam após conseguir escapar do ritual são bons exemplos destes méritos).
Frenesi
3.9 272 Assista AgoraEm Frenzy, Hitchcock retorna a um de seus temas recorrentes: o homem inocente para o qual todas as pistas de um crime apontam (embora aqui a história não se deixe pender ao melodramático, como ocorre em The Wrong Man, de 1956).
A surpresa maior aqui são as cenas despudoradas e as referências sexuais beirando o explícito. O sexo sempre apareceu nos filmes de Alfred Hitchcock, mas de forma apenas sugerida (como nos primeiros minutos de Psycho, de 1960). Aqui, o sexo é utilizado para intensificar a violência, de uma forma nunca vista antes (nem depois) nas obras do diretor.
O primor técnico é igualmente notável, cheio de cenas nas quais silêncios prolongados ou barulhos suspeitos elevem a tensão a patamares que justificam o título de Hitchcock como "mestre do suspense".
Trama Macabra
3.7 147 Assista AgoraNeste seu último filme, Alfred Hitchcock consegue manter o tradicional clima de suspense em uma trama na qual cão e gato procuram um pelo outro, reafirmando (não que fosse necessário) sua maestria como diretor. Embora não se trate de uma obra notável pela inovação técnica (diferentemente de Psycho, de 1960, e Vertigo, de 1958), Family Plot certamente está cheio de marcas registradas do diretor, seja nos disfarces beirando a extravagância, seja nos pequenos detalhes que fazem toda a diferença (vide esconderijos e a investigação cheia de imprevistos).
Um prato cheio para qualquer aficionado pela obra do diretor.
Sangue de Pantera
3.7 100Há um bom tempo queria conferir do que tratava este filme, que faz parte de muitas das listas de "melhores filmes dos anos 40".
Gostei muito de algumas cenas, especialmente
da cena da perseguição no parque e a da piscina,
que são espetacularmente bem executadas.
Curiosamente, a personagem Irena chama mais atenção quando é sugerida através de artifícios (luz e sombras) do que quando a vemos na tela em carne e osso. O mesmo não podemos dizer de Alice (Jane Randolph), que se destaca em um papel que teria tudo pra ficar em segundo plano.
O Labirinto de Kubrick
3.4 181Documentário fraquíssimo, que se utiliza de metodologias gritantemente duvidosas para inferir significados (não que alguns deles não sejam interessantes como material para mais discussão sobre, que é o caso da relação do hotel com os índios nativos) aleatórios e simbologias nos elementos que compõem The Shining.
Importante salientar o fato de que os "estudiosos" idealizadores do documentário não chegam a aparecer em nenhum dos 104 minutos de filme, fato que por si só descredibiliza Room 237 o bastante para que este seja assistido uma vez só e então descartado.
Contos da Lua Vaga
4.4 105 Assista AgoraFantástico, na mais literal das acepções. Ugetsu Monogatari descortina um mundo além do palpável, levando os personagens a reconhecerem suas falhas, seus erros.
A Guerra e a ambição humana são os pilares, em Contos da Lua Vaga, onde se sustentam belíssimas histórias de amor. Belíssimas justamente pela legitimidade desta relação entre os personagens: o dar-se ao outro (ou mais apropriadamente: sacrificar-se pelo outro).
O Segredo da Porta Fechada
3.7 49Secret Beyond The Door...é um ótimo filme, que mantém o suspense (e o clima meio macabro) até o final; uma ótima porta de entrada à filmografia de Fritz Lang.
Aliás, a analogia entre portas trancadas e o processo de investigação mental (psicanálise freudiana) é o que faz desta obra um filme imperdível.
Ao adentrarmos nos territórios da mente podemos nos deparar com elementos aparentemente desprezíveis, mas muito significativos. E em Secret Beyond The Door, alguns elementos nos conduzem a direções sinistras, compondo uma sensação de estar preso em um labirinto cada vez mais bifurcado.
Julieta dos Espíritos
4.0 130 Assista AgoraFellini é um escapista; renunciou o cinema-verdade em troca de um cinema fantástico, ou cinema-falsidade, como referido por alguns. E é isso que faz a arte desse mestre do cinema jamais perder sua força: a quebra do limiar entre consciente/inconsciente, que se dá de uma maneira teatral, às vezes grotesca e sempre imprevisível. Não é necessário filmar a realidade para expôr o medo e os conflitos interiores do ser humano.
Julieta dos Espíritos é um filme indispensável. As cores parecem saltar da tela; a trilha sonora de Nino Rota é, como sempre, bela e precisa, e Giulietta Masina interpreta um personagem talvez não tão lembrado quanto Gelsomina, de A Estrada da Vida, mas certamente capaz de conquistar a admiração de muitos.
No final, esta obra de falsidade plástica nos faz voltar para nossos próprios interiores e repensar se não estamos presos ao passado e onde estaria a nossa redenção. E isso é o que a faz um grande filme.
Segredos de Sangue
3.5 1,2K Assista AgoraMais um exercício estilístico do que qualquer outra coisa. Nota-se que as atenções foram voltadas mais para visual e edição do que qualquer outro elemento. Os personagens são mal desenvolvidos (aliás, por qual razão Nicole Kidman está no elenco mesmo?) e praticamente não há um ápice (tão esperado) na narrativa.
É um filme pretensioso, que tem como ponto de partida a rivalidade entre mãe e filha (tema, aliás, já explorado de maneira muito superior em filmes como Sonata de Outono, do Bergman, The Graduate, do Mike Nichols, Heavenly Creatures, do Peter Jackson, apenas para citar alguns), incluindo em meio a isto um pouco de suspense psicossexual.
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista Agora"No passado, presumíamos que o mundo exterior ao nosso redor representava a realidade, ainda que confuso ou incerto, e que o mundo interior de nossas mentes, seus sonhos, esperanças, ambições, representava o reino da fantasia e da imaginação. Estes papéis, ao que me parecem, foram invertidos. O método mais prudente e eficaz de lidar com o mundo ao nosso redor é considerá-lo uma completa ficção - inversamente, o único pequeno núcleo de realidade que nos resta se encontra dentro de nossas cabeças. A distinção clássica de Freud entre conteúdo latente e o real precisa agora ser aplicada ao mundo exterior da suposta realidade.
Diante de tais transformações, qual é a principal tarefa com que se defronta o escritor? Será que ele ainda pode usar as técnicas as perspectivas do romance tradicional do século XIX, com sua narrativa linear, sua cronologia uniforme, seus personagens imponentes habitando seus domínios dentro de um espaço e de um tempo amplos?"
Assim escreveu J.G. Ballard referindo-se à literatura e sua condição atual. E é o que acontece no cinema de Lynch: experimentações narrativas, personagens e atos de motivações ambíguas.... Sem que seus filmes deixem de ter um tema em especial.
Mulholland Dr. é um filme angular. A realidade diluída em sonho e pesadelo.
Um filme que desmistifica o "sonho americano". Talvez uma crítica do diretor ao meio cinematográfico. Uma obra pós-moderna com toda a elegância e o charme dos clássicos.
"Silêncio."
A Hora do Pesadelo 6: Pesadelo Final, A Morte de …
3.0 376 Assista AgoraForte candidato a pior da franquia. Mal editado, roteiro que aparentemente foi escrito às pressa e atuações que deixam a desejar.
Interessante a referência a O Mágico de Oz no início do filme.
Na Roda da Fortuna
3.6 97Confesso que não é um dos meus favoritos dos Coen, mas ainda assim é um bom filme.
Ótimo roteiro, recheado de humor inteligente e com um final hilário.
O que dizer da cena na qual o Hudsucker-anjo desce dos céus? Ou da cena na qual o relojoeiro para o relógio, travando o tempo?
Bravura Indômita
3.9 1,4K Assista AgoraFilme excelente dos irmãos Coen; com ares de clássico (aliás, os Coen tem esta habilidade de fazer de cada obra deles um clássico).
É incrível a capacidade destes dois diretores de se adaptar a diferentes gêneros cinematográficos e ainda assim deixar uma marca inconfundível e muito atrativa, marca esta que eu me inclino a chamar de maestria, genialidade quanto à direção, à produção e a roteirização.
Interessante notar a recorrência da morte na infância de uma "criança" enquanto se desenvolve uma amizade verdadeiramente cativante.
Filme para ver e rever!
Além do Arco-Íris Negro
3.0 91Fica evidente a preocupação de Panos Cosmatos com o visual e a sonorização do filme em detrimento do roteiro, pouco convincente.
Solaris
2.8 134Ambas as adaptações (tanto a do diretor russo Andrej Tarkovsky, de 1972, quanto essa de Soderbergh) são realizadas através de certa liberdade criativa quando levando o livro em consideração; Soderbergh merece crédito pela nova adaptação, afinal de contas, Tarkovsky foi um diretor tão prolífico que uma readaptação de qualquer uma de suas obras se configura como verdadeiro desafio.
Andrej Tarkovsky levou a obra para um lado mais universal/humanitário; neste Solaris de 2002 a história é contada sob uma ótica mais pessoal.
Uma Noite Alucinante 3
3.5 530 Assista AgoraAs duas primeiras partes da trilogia são, cada uma à sua maneira, subversivas. Esta terceira parte, por sua vez, subverte a própria trilogia! Percebe-se facilmente a influência do Monty Python (mais especificadamente da obra-prima deles, Monty Python and the Holy Grail, de 1975) e um maior orçamento na produção.
Army of Darkness não é tão lembrado quanto Evil Dead, mas o roteiro e a ideia são brilhantes (aliás, me inclino a afirmar que o roteiro é o melhor da trilogia).
A Morte Passou por Perto
3.3 142A reputação de Killer's Kiss foi suplantada pelas obras indiscutivelmente revolucionárias assinadas por Stanley Kubrick ao longo de sua filmografia posterior. Embora não se trate de uma produção megalomaníaca, este primeiro longa da diretor é um exercício de suspense e tensão digno de reconhecimento e nada descuidado. A narrativa se desenvolve sem muita ornamentação desnecessária e a edição de som é magistralmente executada.
Performance
3.6 23 Assista AgoraPerformance capta perfeitamente o espírito da contra-cultura do final dos anos 60.
Mais tarde Roeg manteria seu estilo unicamente anti-convencional, mas esta obra que nasceu junto com as outras grandes expressões sessentistas que moldaram o movimento (citando: Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, The Piper At The Gates of Dawn, Velvet Underground & Nico, Surrealist Pillow) continua sendo uma das mais absurdamente impressivas dentro da história do cinema alternativo.
Aguirre, a Cólera dos Deuses
4.1 159Aguirre é uma obra atemporal; uma jornada ao âmago da loucura feita não de artificialismo pomposo, mas de força humana bruta e de forças irrefreáveis da natureza. Contrapõem-se a "selvageria" hostil e desconhecida à ambição desmedida, que por fim transfigura-se em demência.
Embora mais tarde Herzog tenha dirigido obras tão grandiosas quanto (Nosferatu (1979), Fitzcarraldo (1982), Grizzly Man (2005), é em Aguirre que se encontra a força criativa máxima do diretor alemão.
Princesa Mononoke
4.4 944 Assista AgoraHayao Miyazaki é o tipo de diretor que sempre supera as expectativas; foi o que aconteceu comigo a cada filme dele que assisti.
O diretor japonês faz uso em Princesa Mononoke de um tema muito recorrente, não só na sua filmografia, mas em todos os formatos de expressão artística: a ambição que desencadeia uma luta entre homens e entre homens e natureza. Evidentemente a maestria e a criatividade do diretor dão ao filme um caráter único, imaginativo, descomunal, um mundo mitológico simultaneamente feito de inovação e tradição; Princesa Mononoke é um marco na história da animação e do cinema em si.
Demons: Filhos das Trevas
3.7 200Convenhamos: Dèmoni não é uma obra-prima, e nem chega a ser tão divertido quanto Evil Dead (impossível não comparar as duas ideias), mas o filme tem sim valor quando relevamos seu caráter subversivo. Os 15 minutos finais são, além de divertidos, muito criativos.