'Pig' é escrito e dirigido por Michael Sarnoski (em sua estreia na direção), a partir de uma história de Vanessa Block e Sarnoski. O filme é estrelado por Nicolas Cage como um caçador de trufas que vive sozinho no deserto do Oregon e deve retornar ao seu passado em Portland em busca da sua amada porca farejadora depois que ela é sequestrada.
'Pig' é totalmente fora do trivial, totalmente ambíguo, um drama muito subjetivo, sobre redescobertas e aceitações, sobre o medo e a dor, sobre o amor e a solidão, sobre perdas e recomeços, sobre traumas e realizações. Um filme melancólico, contemplativo, intrigante, niilista, carregado emocionalmente, pesado dramaticamente, que tem o dom de nos fazer pensar nas diversas camadas da vida do protagonista Rob (Cage). O longa é muito hábil, muito crível, muito verossímil na forma de abordar o roteiro, pois o roteiro é composto por algumas camadas que vamos analisando profundamente e descobrindo ao longo da trama. Temos uma rápida introdução nos elucidando sobre a vida atual de Rob e sua porca, quando de repente o roteiro muda a sua engrenagem e nos confronta diretamente com uma busca incansável pelo animal sequestrado, o fazendo enfrentar diversas partes de sua vida que ele havia deixado para trás e que ele não gostaria de revivê-la, e principalmente confrontar certas pessoas que ele também havia deixado em seu passado.
Este é o ponto de maior virtude e de maior destaque em 'Ping', a forma enigmática, subjetiva e intrigante que vamos descobrindo e pegando as coisas no ar, a forma que vamos desvendando tudo que está escondido nas entrelinhas do roteiro, tudo que está nos subtextos - é fantástico! Eu adoro filmes que nos faz pensar, que nos faz analisar cada ponto, cada detalhe, cada cena, cada diálogo, que nos deixa intrigado e nos expõe à diversos pensamentos e análises distintas. Outro ponto que me deixou perplexo e que elevou ainda mais a ótima qualidade do roteiro de Michael Sarnoski e Vanessa Block: partindo do princípio de um sequestro, que necessariamente teríamos a sede por vingança (como induz erroneamente o subtítulo do filme no Brasil), aqui temos uma outra releitura dos fatos, uma abordagem que se desenvolve como um drama psicológico minimalista, que nos direciona diretamente para esse outro lado do Rob em suas redescobertas, enfrentando seus traumas, suas nuances, explorando as marcas do seu passado e o quanto elas ainda o impactava em seu cotidiano presente.
'Pig' é um enorme trabalho na carreira do Nicolas Cage, pois ao longo dos anos muitas pessoas o viam como uma espécie de piada, por se tratar dos inúmeros filmes ruins que ele fez ao longo dos anos, principalmente após ter ganhado o Oscar por "Despedida em Las Vegas", em 1996. Realmente a carreira cinematográfica do Nicolas Cage vive de altos e baixos, muito se deu pelos vários problemas pessoais que ele enfrentou ao longo de sua vida. Tanto é que ultimamente ele simplesmente decidiu fugir dos holofotes e das badalações das grandes produções hollywoodiana e mirar em projetos menos milionários, mais certeiros eu diria, exatamente como 'Pig'. Em 'Pig' Nicolas Cage tem uma entrega absurda, uma belíssima atuação como eu não via ele entregar há muitos anos. Muitos estão considerando como a sua melhor atuação da carreira, o que de fato não acho nenhum absurdo, mas eu particularmente não gosto de fazer esta afirmação, uma vez que eu não conferi todos os seus trabalhos. Mas de fato é um grandioso trabalho de interpretação do Cage, muito seguro, muito coeso, com uma carga dramática bem ajustada e um ar totalmente introspectivo na medida certa. Cage sempre foi um grande ator, já esteve no hall dos maiores atores da sua geração, sempre teve muita entrega e um grande potencial, às suas escolhas que não foram as mais acertadas ao longo de sua carreira, mas quando assistimos trabalhos como 'Pig' isso só evidencia o grande ator que ele sempre foi. Cage esteve indicado no Critics' Choice Movie Award na categoria de Melhor Ator (concordo plenamente).
Completando o elenco de 'Pig' ainda tivemos a ótima apresentação de Alex Wolff como Amir. Um filhinho de papai totalmente ao inverso de Rob, por ostentar roupas de grifes e um carrão, quando na verdade Rob era um sujeito que não dava a mínima para a sua aparência, já Amir fazia questão de sempre se exibir muito bem vestido. Um contraponto perfeito do roteiro ao colocar frente a frente o Rob e o Amir, ainda mais quando o Rob necessitava da ajuda de Amir pela busca da sua porca, ou seja, mais uma forma de nos explicitar as diferentes formas de abordagem do roteiro em relação as diferentes classes sociais, ou a colocação de cada um na sociedade atual, muito pelas escolhas individuais de cada um, como no caso do próprio Rob e seu trauma do passado. Alex Wolff já havia brilhado em "Hereditário" e aqui ele dá mais um show, mais uma grande apresentação, nos mostrando aquela desconstrução e aquela descaracterização do seu personagem ao final (aquela cena do jantar com o pai é incrível). Adam Arkin (Grey's Anatomy) está muito bem no filme, seu personagem Darius é bem asqueroso e de certa forma até doentio. Toda aquela cena do jantar junto com Amir e Rob, e principalmente as revelações subsequentes são um dos pontos alto do filme - realmente um show dos três em cena. Estes três pra mim foram os de maiores destaques dentro do elenco, o restante contribuíram bem em cada personagem e engrandeceram ainda mais à obra.
A fotografia do longa é muito boa, salta ao nossos olhos, principalmente nas partes densa da névoa sombria da floresta aonde vivia Rob e sua porca. A trilha sonora agrega muito bem na trama, aquela típica trilha sonora que não é uma obra-prima mas está bem inserida nos momentos mais oportunos, cujo os momentos sempre nos evidenciava com um acontecimento e aquela trilha sonora mais pacata de fundo. A direção de Michael Sarnoski é muito boa, ainda mais para um estreante. Sarnoski soube pegar os ângulos mais certeiros das cenas, onde nos elucidava cada acontecimento com detalhes mínimos, principalmente aqueles takes onde a câmera passeava de dentro para fora de um cômodo - ótimo mesmo o seu trabalho na direção do longa, tem muito futuro pela frente.
'Pig' foi indicado no Gotham Independent Film Award e Directors Guild of America Award na categoria de Melhor Filme, além da indicação do Nicolas Cage de Melhor Ator no Critics' Choice, e ganhou o Independent Spirit Award de Melhor Primeiro Roteiro.[21/04/2022]
"Coração Valente" foi lançado em Julho de 1995, dirigido e co-produzido por Mel Gibson, que interpreta Sir William Wallace, um guerreiro escocês do final do século XIII. O filme retrata a vida de Wallace liderando os escoceses na 'Primeira Guerra da Independência Escocesa' contra o Rei Edward I (Patrick McGoohan) da Inglaterra, logo após os soldados ingleses terem assassinado a sua esposa Murron MacClannough (Catherine McCormack) em plena noite de núpcias. A história é inspirada no poema épico do século 15 de Blind Harry, 'The Actes and Deidis of the Illustre and Vallyeant Campioun Schir William Wallace', e foi adaptado para a tela por Randall Wallace.
Os anos 90 foi uma década de ouro dos cinemas, pois era uma época em que as grandes obras cinematográficas nos retratava grandes histórias, grandes contos, grandes passagens, era uma época totalmente diferente de se fazer cinema. Sem dúvidas "Coração Valente" está incluso nessa lista de ouro dos cinemas do anos 90, pois o longa de Mel Gibson é um épico, uma lenda, uma obra de arte cinematográfica, uma pérola da sétima arte, uma verdadeira obra-prima da história dos cinemas. "Coração Valente" foi um 'marco' na história dos cinemas, um verdadeiro arrasa-quarteirões, alvo de inúmeras críticas (tanto positivas quanto negativas), alvo de grandes discursões, pois em todos os cantos só se falavam do longa de Mel Gibson, uns amavam e defendiam o filme, outros já criticavam pelo fato dos seus numerosos desvios históricos (de acordo com a opinião de cada um, e de acordo com o consenso dos historiadores, é claro).
Eu considero "Coração Valente" não só como um dos melhores filmes dos anos 90, mas uma das mais belas películas cinematográficas de todos os tempos. Mel Gibson fez história com o seu épico, foi um verdadeiro divisor de águas, sendo muito bem lembrado por todos até hoje (quase 27 anos depois), cuja história serviu de inspiração para vários filmes que viria nos anos seguintes, como por exemplo a obra-prima de Ridley Scott, "Gladiador", pra citar uma. Uma verdadeira obra-prima nunca é esquecida e sempre é lembrada, é comentada, é homenageada, é inspirada, e "Coração Valente" é exatamente tudo isso, pois pra mim o filme não ficou datado, não ficou ultrapassado, envelheceu muito bem. Os anos 90 era uma época que ainda não estávamos em um período tão evidente com a internet como hoje, e o longa explodiu da forma que foi, fez todo o alvoroço, foi badaladíssimo, principalmente no Oscar, imagine se tivesse a força que a internet tem hoje em dia, tanto pelo lado positivo quanto negativo. E hoje em dia é praticamente impossível não se esbarrar nos inúmeros memes que o filme carrega, isso só evidencia o quanto o poderoso épico de Mel Gibson é lembrado, seja da forma que for.
O roteiro de Randall Wallace (diretor e roteirista de Fomos Heróis - 2002) é magnífico, uma história soberba, primorosa, avassaladora, que transcorria entre o drama, o romance, a intriga e o heroísmo desesperado pela liberdade da Escócia. Pois o longa nos retrata exatamente a figura histórica de William Wallace como um guerreiro, um patriota escocês, um herói medieval, por outro lado temos uma faceta em até certo ponto mais romântica, mais idealista, mais pertinente, mais humanizada, porém sempre sanguinária. A narrativa do filme é esplendorosa, pois temos pontos que nos remete a um conjunto de acontecimentos que fundamentam a história que nos está sendo contada, pois em nenhum momento eu considero o filme maniqueísta historicamente. O mesmo digo das batalhas, pois pra mim "Coração Valente" nos traz verdadeiras batalhas épicas, do mais alto escalão da história dos cinemas, que nos relata os inúmeros confrontos de uma forma amarga, cruel e muito sanguinolenta, que nos incomodava em todos os sentidos, nos deixando completamente perplexo (principalmente no último ato do filme). Como não destacar aquela cena icônica do discurso de William sobre a liberdade que ele fez no campo de batalha encorajando e aflorando todo o seu exército contra os ingleses (que estavam em maior número). Cena épica, sensacional, maravilhosa, que ficou imortalizada. A própria cena da grande batalha é muito sangrenta, sem nenhum pudor, uma brutalidade absurda, uma marca registrada dos filmes desse gênero nos anos 90. Apenas mais uma das várias cenas épicas e icônicas desse clássico.
Outro ponto que eleva ainda mais a qualidade dessa obra-prima: a trilha sonora do gênio, do mestre, do icônico James Horner. Horner sempre foi um verdadeiro gênio na história das trilhas sonoras, que já nos brindou com verdadeiras pérolas da sétima arte como "Aliens, O Resgate", "Uma Mente Brilhante", "O Menino do Pijama Listrado" e "Titanic" (apenas pra contextualizar algumas das suas inúmeras obras-primas), e em "Coração Valente" temos mais uma obra de arte. Uma trilha sonora profunda, pesada, avassaladora, que seguia cada passo da história de uma forma brilhante, sempre nos evidenciando com diferentes ritmos, diferentes melodias, diferentes sons, com composições que iam de violinos, violões, pianos, até a clássica gaita escocesa - um verdadeiro marco, um verdadeiro show! Destaque para a cena que William Wallace grita proclamando a sua vitória com aquela trilha sonora de fundo ensurdecedora, é realmente magnífico. Poxa, gênios como James Horner jamais deveriam falecer - muito triste!
A fotografia do longa é outro grande destaque, belíssima, lindíssima, com enquadramentos perfeitos, principalmente nas cenas das batalhas. A direção de arte e a cenografia também estão incríveis, com cenários magníficos (como os gigantescos campos de batalhas), muito fiéis à época, ricos nos detalhes. Os figurinos e as maquiagens são um verdadeiro luxo, pois tudo estava rigorosamente bem arquitetado dentro dos padrões da época, tanto pelo lado dos plebeus, quanto pelo lado dos reis e seus súditos. A montagem é excelente, a edição é perfeita, assim como os efeitos sonoros, que se destacavam com bastante clareza, incrível, ainda mais se tratando de um filme feito nos anos 90, onde não tínhamos a tecnologia que temos hoje.
Eu não tenho nenhuma dúvida que "Coração Valente" é o melhor trabalho da carreira de Mel Gibson (juntamente com A Paixão de Cristo), tanto em direção, quanto em atuação e principalmente em personagem, onde temos o icônico William Wallace. Em direção Gibson nos entregou um trabalho competente, magnífico, primoroso, feito com muita atenção e com muita dedicação, principalmente nas batalhas, onde tínhamos um trabalho de câmeras impecáveis, sempre frisando cada movimento dos embates, sempre nos elucidando o quanto os confrontos eram brutais e sanguinolentos, sendo muito bem coroado com o Oscar de direção. Em atuação Gibson estava em seu momento, estava no seu ápice, estava em seus tempos áureos, e o William Wallace lhe caiu como uma luva, pois não existiria ninguém melhor do que ele para dar vida a um personagem tão épico, tão histórico e tão icônico, que ficou eternizado em sua filmografia e principalmente na história dos cinemas.
Completando o elenco com a Catherine McCormack (Jogo de Espiões), a Murron MacClannough, grande amor de William inicialmente e a grande responsável em lhe suavizar e lhe humanizar, mas em contrapartida também foi a principal válvula para acender a faísca do conflito. Atuação impecável de Catherine, um doce de atriz. Patrick McGoohan (falecido em 2009), o Rei Inglês Edward, um ser perverso, inescrupuloso, doentio, com uma forma de governar totalmente contraditória. Atuação de gênio já resume todo o trabalho entregue por Patrick McGoohan. Sophie Marceau (007 - O Mundo Não é o Bastante), a Princesa Isabelle da França, que até tentou um certo envolvimento com William, mas não deu tempo, porém acredito que esse envolvimento era mais trazido para o campo do interesse. A cena final dela lamentando todo os acontecimentos que estavam por vir e que ela não poderia impedir é sensacional, uma belíssima atuação e entrega de Sophie Marceau. Brendan Gleeson (Harnish Campbell), Peter Hanly (Edward Príncipe de Gales), Brian Cox (Argyle Wallace), todos entregaram trabalhos primorosos. Ainda tivemos a participação do irmão mais novo de Mel Gibson, Donal Gibson.
"Coração Valente" foi o grande vencedor do Oscar de 1996, o longa foi indicado em 10 categorias e ganhou 5: Efeitos Sonoros, Maquiagem, Fotografia, Direção e, claro, Melhor Filme. Também ganhou três prêmios BAFTA (Fotografia, Figurino e Som) e um Globo de Ouro (Diretor).
Aquela cena final do William Wallace gritando 'FREEDOOOOOOOM' imortalizou na história dos cinemas, e ainda ecoa pelos quatro cantos do planeta e da minha mente. Isso é o que eu chamo de cena clássica e épica dos cinemas!
Verdadeiro clássico dos anos 90. Campeão do Oscar de Melhor Filme de 1996. Pérola cinematográfica. Obra de arte histórica. Épico. Icônico. Lendário. Obra-prima incontestável. [15/04/2022]
'A Pior Pessoa do Mundo' é um filme norueguês escrito e dirigido por Joachim Trier (juntamente com seu parceiro Eskil Vogt). É o terceiro longa da chamada trilogia de Oslo, ao lado de 'Reprise' (2006) e 'Oslo, 31 de Agosto' (2011). O longa se passa em Oslo, capital da Noruega, e nos conta a história de Julie (Renate Reinsve). Uma jovem muito bonita, inteligente, sensual, porém muito indecisa em tudo na vida, desde a profissão que deseja seguir, até os seus envolvimentos amorosos.
'A Pior Pessoa do Mundo' funciona como uma comédia romântica inserida em um drama. Julie é uma mulher que está beirando os 30 anos e vive em uma constante crise existencial que se mistura entre sua juventude, que está se acabando, até suas próprias aceitações, decisões, desejos e prazeres de uma idade mais adulta. Julie ainda não tem filhos, não se decidiu em qual carreira profissional deseja seguir, não se decide com qual namorado quer ficar, ela vive em um misto constante de dúvidas, incertezas, inseguranças, tentando se encontrar e se aceitar da forma que ela é, ou da forma que ela deseja ser.
Este é o maior trunfo da obra de Joachim Trier, o poder que o filme tem em conversar diretamente com o espectador, em explorar o nosso lado humano, que sempre foi regado com inseguranças, incertezas, traumas, medos, frustrações, misturado com desejos, ambições, transições. A força que o longa tem em mergulhar diretamente em nossa mente e aflorar o nosso lado existencial (a nossa crise existencial), pois todos nós sempre passamos por conflitos internos caracterizados pela impressão de que a vida carece de algum sentido, de algum propósito, aquela confusão sobre a identidade pessoal em sua definição, temos várias nuances em diferentes vertentes. É exatamente dessa forma que eu vejo toda a história da Julie.
O roteiro de Joachim Trier e Eskil Vogt é maravilhoso, de alto nível, feito com uma inteligência absurda, pois temos um tema que pode parecer complexo, intrigante e dramático, ao mesmo temo que se desenvolve como uma comédia romântica, engraçada, leve e prazerosa. Este é o verdadeiro ponto alto do roteiro, a forma suave como ele se desenvolve, ao mesmo tempo que temos viradas inesperadas que nos causa impacto, que nos prende diretamente na trama da Julie. Achei muito interessante a decisão em dividir toda a história em um prólogo, um epílogo e 12 capítulos, o que poderia facilmente soar como uma decisão controversa se não fosse feito de uma forma assertiva, e de fato foi. Realmente o roteiro do longa é muito eficiente, muito coerente, muito formidável, Joachim Trier e Eskil Vogt foram muito competentes ao nos entregar um roteiro inteligente, feito de uma forma verossímil que conversa diretamente com todos nós. Indicação mais do que justa no Oscar, e digo mais, eu realmente fico na dúvida se 'Belfast' deveria ter levado a estatueta, pois o que temos aqui em relação à roteiro deveria ser premiado de alguma forma.
A direção de Joachim Trier é outro ponto que tem que ser destacado, pois o seu trabalho de câmeras é absurdo, feito de uma forma inteligente e competente totalmente imersa na trama. Todos os seus takes eram certeiros e acompanhavam perfeitamente todos os acontecimentos, como por exemplo às várias cenas em que ele apostava na nudez bem explícita e nas cenas de sexo bem explícitas, onde sua câmera acompanhava fielmente cada passo, cada movimento, cada detalhe, sempre com muita atenção - show! Se Joachim Trier aparecesse indicado a Melhor Diretor no Oscar não seria nenhum absurdo. A trilha sonora também foi outro acerto no longa. Uma trilha sonora leve e divertida nos momentos mais comédia, com várias músicas conhecidas mundialmente, porém bem densa e comovente nos momentos mais dramáticos - um contraponto perfeito. A fotografia é muito boa e bem destacada (um exemplo é a cena em que Julie corre pelas ruas, ali a fotografia se destaca ainda mais). A direção de arte é muito bem feita, assim como a cenografia, ambientação, edição, montagem, tudo muito bem caprichado.
Joachim Trier tinha todo o seu elenco nas mãos e soube explorá-los com perfeição. Renate Reinsve é o principal nome do longa e a de maior destaque, sem dúvidas. Me impressionei com a entrega de Renate, uma atuação muito rica, muito prazerosa, muito bem acertada, onde ela não parecia estar atuando mas sim vivendo em seu dia a dia normalmente. Uma atuação muito leve, muito suave, muito segura, sem precisar se esforçar pra entregar nada, agindo naturalmente, espontaneamente, verdadeiramente, porém quando a trama lhe exigia uma carga mais dramática ela também sabia entregar com perfeição. Renate Reinsve além de linda é carismática, é extrovertida, é espontânea, é competente, uma atriz completa, virei fã. Renate Reinsve conquistou o Prêmio Festival de Cinema de Cannes de Melhor Atriz, e uma indicação ao Satellite e ao BAFTA de Melhor Atriz. E eu vou ser bem sincero, assim como eu defendi a indicação da Lady Gaga no Oscar desse ano, eu também defendo uma indicação para a Renate Reinsve, pois o que ela nos entregou em 'A Pior Pessoa do Mundo' poderia facilmente lhe incluir na categoria de Melhor Atriz, pelo menos para coroar este trabalho magnífico.
Anders Danielsen Lie (Aksel, o primeiro amor de Julie 15 anos mais velho que ela) foi outro ator que me impressionou, mais precisamente nas cenas finais, quando ele percebe realmente que se distanciou da Julie (ou realmente a perdeu de vez), dando um verdadeiro show de atuação naquela cena em que ele abre seu coração para ela, aflorando e expondo toda sua carga dramática - outra bela atuação! Herbert Nordrum (Eivind, segundo interesse de Julie) é outro ator que nos chamou a atenção no longa, pois a forma que seu personagem conhece e se envolve com a Julie é um tanto quanto curiosa e totalmente inusitada. Herbert Nordrum dos três foi o que esteve mais abaixo em questão de atuação, mas ainda assim ele foi muito bem em compor o seu personagem e nos entregar o que realmente o filme lhe pedia.
'A Pior Pessoa do Mundo' estreou no Festival de Cannes 2021 em 8 de julho. O longa foi muito bem aceito, criticado e elogiado ao longo dos festivais de premiações, adquirindo indicações no BAFTA (Atriz e Filme Estrangeiro), no Critics Choice Awards (Filme Estrangeiro), no Satellite Awards (Atriz e Filme Estrangeiro) e no Oscar, onde o longa apareceu indicado nas categorias de Roteiro Original e Filme Estrangeiro. E mais uma vez sendo bem sincero: eu daria o prêmio de Filme estrangeiro para o longa se não tivesse na disputa aquela obra de arte japonesa, 'Drive My Car'.
'A Pior Pessoa do Mundo' é um belíssimo filme, muito bem dirigido, muito bem construído, muito bem idealizado, muito bem atuado. Um filme bastante reflexivo, que vai nos fazer pensar em diferentes camadas de nossas vidas, que vai nos expor à realidades cruas e secas sobre os nossos propósitos e sentidos na vida, que vai nos aflorar sobre nosso existencialismo - realmente um filme para fazermos uma autoavaliação - fantástico! Isso só prova cada vez mais que também temos ótimos filmes e belíssimas obras cinematográficas fora do mundo hollywoodiano, 'A Pior Pessoa do Mundo' está aí para se provar como um ótimo filme do cinema norueguês. [09/04/2022]
Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw (Fast and Furious Presents: Hobbs and Shaw)
'Hobbs & Shaw' é dirigido por David Leitch (diretor de Deadpool 2) e escrito por Chris Morgan (roteirista dos outros Velozes) e Drew Pearce (roteirista de Homem de Ferro 3), a partir de uma história de Morgan. É um spin-off da franquia 'Velozes e Furiosos' ambientado após os eventos de 'Velozes e Furiosos' (2017) e antes dos eventos de F9 (2021). O filme traz Dwayne Johnson e Jason Statham reprisando seus papéis da série principal como Luke Hobbs e Deckard Shaw, respectivamente, e também estrelado por Idris Elba, Vanessa Kirby, Eiza González, Cliff Curtis e Helen Mirren. A trama segue o improvável par dos personagens titulares enquanto eles se unem à irmã de Shaw (Kirby) para combater um terrorista ciberneticamente aprimorado (Elba) que ameaça o mundo com um vírus mortal. A estrela da série e produtor Vin Diesel disse pela primeira vez em 2015 que possíveis spin-offs estavam em desenvolvimento inicial, e Hobbs & Shaw foi anunciado oficialmente em outubro de 2017, sendo lançado em agosto de 2019.
Quando ouvi os rumores sobre um possível spin-off da franquia 'Velozes e Furiosos' eu fiquei bastante curioso, pois sou um fã de longa data da saga e via nos personagens de Dwayne Johnson e Jason Statham um certo potencial para tal evento, mas confesso que não dei a mínima, principalmente pelo rumo que a série tinha tomado em seus últimos anos. Tanto é que só estou conferindo o filme hoje, com quase três anos do seu lançamento.
'Velozes e Furiosos' sempre foi uma franquia marcada pelos roteiros galhofas e seus acontecimentos totalmente mentirosos e impossíveis (por exemplo o último filme lançado no ano passado). Uma franquia totalmente descompromissada com a realidade e despretensiosa com ideias e roteiros bem elaborados, feito unicamente com a intenção de entreter, divertir e nos prender naquele blockbuster bem pipoca. E nesse quesito 'Hobbs & Shaw' acerta em cheio, pois o longa é totalmente coerente no que se propõe, que é exatamente ser um filme de ação totalmente descompromissado com a realidade. 'Hobbs & Shaw' é pastelão mesmo e não tem vergonha disso, pois o filme entrega o que promete, que é nos divertir e nos entreter com sequências de ação que são de tirar o fôlego.
Quando você decidi assistir 'Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw' você já vai esperando tudo que irá acontecer, mesmo que você nunca tenha assistido nenhum filme da franquia original, mas só pelos trailers você já identifica a proposta do filme. Então não adianta criticar que o filme é mentiroso, foge da realidade, é absurdo, é clichê, é caça-níquel, e eu concordo que é, mas 'Hobbs & Shaw' é exatamente tudo isso misturado, esse é o direcionamento do filme, essa é a verdadeira proposta do filme. E eu não tenho nenhum receio em afirmar que 'Hobbs & Shaw' é um dos melhores filmes de ação daquele ano, e é muito melhor que 'Velozes e Furiosos 9'.
Dwayne Johnson e Jason Statham são um verdadeiro espetáculo em cena, pois já conhecendo os seus personagens da franquia original, já podemos esperar tudo do mais impossível e mentiroso que eles podem nos entregar, e é exatamente tudo isso que eles nos entrega - desde às sequências mais absurdas de uma queda livre de um prédio até segurar um helicóptero por uma corrente unicamente com a força - praticamente o Hulk...rsrs! Porém os dois são mitos, showman, cada um à sua maneira, como a inteligência do Shaw e a força bruta de Hobbs, e vê aquele embate entre os dois pra decidir quem é o mais foda é impagável. Realmente Dwayne Johnson e Jason Statham são os protagonistas perfeitos para a história, entregam exatamente o que o filme precisa, nasceram pra estrelarem filmes de ação, são ótimos nesse quesito, e pra quem curte um bom filme de ação, não tem como não achar foda os seus personagens.
A adição da belíssima Vanessa Kirby (de Missão Impossível - Efeito Fallout e Pieces of a Woman) foi um grande acerto, pois sua personagem Hattie Shaw (irmã de Deckard Shaw) funciona perfeitamente dentro da trama, fazendo uma ligação muito interessante com a história e adquirindo uma química certeira com o Hobbs e o Shaw (poderiam levá-la para a franquia principal sem nenhum receio). Vanessa Kirby é uma ótima atriz e é muito boa e muito funcional em filmes de ação, como no próprio ' Missão Impossível - Efeito Fallout'. Trio perfeito para o longa - Dwayne Johnson, Jason Statham e Vanessa Kirby. Idris Elba poderia mudar esse trio para um quarteto facilmente, pois seu vilão ciberneticamente aprimorado é muito bom e muito mentiroso (kkkkk). Pra mim também acertaram na escolha do vilão e na escolha do Idris Elba. Aquela cena final do embate entre Hobbs e Shaw contra Brixton é incrível, são sequências de ação do mais alto nível.
Gostei da parte que envolveu a família do Hobbs, achei interessante entrar nesse ponto e de alguma forma tentar explorar esse seu arco pessoal, apesar que poderiam ter explorado um pouco mais (quem sabe no próximo filme). Por falar em família, a família Shaw esteve quase que toda reunida, faltando apenas o Owen Shaw (Luke Evans). E como não poderia ser diferente, a mamãe Shaw (Helen Mirren) foi uma graça, deu mais um show em suas breves aparições. Impossível não se deliciar com a presença de Helen Mirren em um filme da franquia 'Velozes e Furiosos', ele é sempre maravilhosa, uma verdadeira dama, com aquele seu ar sempre soberano e intocável. Vanessa Kirby caiu como uma luva para esta família, como podemos constatar naquela cena final dos três na prisão.
Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw é sim um bom filme de ação, fugindo mais uma vez dos rachas de carros que elevou o nome da franquia lá no início dos anos 2000, mas isso também não é nenhuma surpresa, visto que nos últimos filmes da franquia original esta parte também foi meio que deixado de lado. O longa funciona perfeitamente em sua ideia original, e é isso que importa, nos entrega o que realmente queríamos em um filme dessa temática e ainda mais tirado da franquia 'Velozes e Furiosos'. 'Hobbs & Shaw' me divertiu, me entreteve, garantiu minhas 2h com muita diversão e funcionou como uma válvula de escape depois de um dia cansativo e estressante de trabalho, pois no final das contas eu acho que essa é a verdadeira proposta desse filme, nos aliviar, nos suavizar e nos divertir.
E vamos aguardar a sequência já confirmada em Abril de 2020 pelo próprio Dwayne Johnson, que afirmou que o próximo filme está em desenvolvimento e o roteiro será do Chris Morgan. [08/04/2022]
'O Leitor' é um drama romântico de 2008 dirigido por Stephen Daldry (Billy Elliot e As Horas) e escrito por David Hare, baseado no romance alemão (Der Vorleser) de 1995 de Bernhard Schlink. É estrelado por Kate Winslet, Ralph Fiennes e David Kross. Foi o último filme dos produtores Anthony Minghella e Sydney Pollack, que morreram antes de seu lançamento.
O filme conta a história de Michael Berg (David Kross / Ralph Fiennes), um advogado alemão que, aos 15 anos de idade, em 1958, mantém um relacionamento sexual com uma mulher mais velha, Hanna Schmitz (Kate Winslet). Ela desaparece apenas para ressurgir anos depois como um dos réus em um julgamento de crimes de guerra decorrentes de suas ações como guarda em um campo de concentração nazista. Michael percebe que Hanna está guardando um segredo pessoal que ela acredita ser pior do que seu passado nazista – um segredo que, se revelado, poderia ajudá-la no julgamento.
O longa é uma verdadeira pérola da sétima arte, pois temos um roteiro absurdamente complexo, criativo, niilista, cujo resultado é nos entregue de forma densa, pesada, pragmática, nos soando como uma obra peculiar, verdadeira, introspectiva, intragável e ao mesmo tempo emocionante. O filme nos faz pensarmos em diferentes temas, seja pelo relacionamento do casal, ou pelos crimes desumanos durante a segunda guerra, ou o problema visto socialmente pelo analfabetismo, mas ao tratar especificamente sobre o Holocausto, podemos refletir um pouco sobre o que seria ético, legal e/ou moral. Exatamente um dos pontos cruciais do roteiro de David Hare que o torna tão peculiar e coeso, o contraponto entre um romance regado à sexo, ou até mesmo o nascimento de uma linda história de amor entre duas pessoas com uma certa diferença de idade, com o confronto de um tema tão pesado e importante para a humanidade, o nazismo juntamente com o Holocausto nos campos de concentração de auschwitz (mesmo sem um aprofundamento em tal tema).
O primeiro ato do filme é de uma beleza e uma delicadeza genuína e muito peculiar, pois temos a descoberta do primeiro amor por parte de Michael (David Kross) e o desejo sexual pelo garoto por parte de Hanna. Stephen Daldry acerta muito bem ao nos relatar inúmeras cenas de nudez por parte da Kate e do David, mas de uma forma singular, artística, sem soar ofensiva ou apelativa, o mesmo vale para às várias cenas sexuais entre eles. Eu pude assistir estas cenas com um olhar mais ambíguo, mais romântico, sem me sentir ofendido ou desrespeitado, ou achar que a obra poderia levantar discussões com temas voltados para a pedofilia ou algo do tipo. Exatamente outro ponto muito bem acertado na obra de Stephen Daldry, a sua forma única, poética e artística em nos trazer a sua adaptação unicamente com a intenção voltada para a arte cinematográfica, sem levantar bandeiras entre o certo ou o errado, sem entrar em discursos sobre ética e moralismo, tanto pelo lado do romance e da nudez do casal em questão, quanto pelo posicionamento político e nazista levantado em cima da protagonista Hanna. Pois alguns historiadores criticaram o filme por fazer de Hanna Schmitz um objeto de simpatia do público e acusaram os cineastas de revisionismo do Holocausto - o que discordo veementemente!
Kate Winslet (nossa eterna Rose DeWitt Bukater) é a verdadeira dona do filme! Kate está no papel da sua vida, interpretando uma das melhores personagens de toda a sua carreira. Hanna levava a sua vida trabalhando normalmente até conhecer Michael, pois a partir daí a sua vida dá uma verdadeira virada, com o seu envolvimento sexual com o garoto e a sua paixão em ouvir às leituras que ele fazia para ela sempre antes do sexo. O nível de atuação e entrega de Kate na pele da Hanna chega a nos assustar, pois ela conseguia ir do cômico ao drama instantaneamente, nos mostrando suas múltiplas facetas, sua personalidade dramática, suas expressões de prazeres e de sofrimentos, ambas praticamente interligadas. Temos inúmeras cenas onde Kate entrega atuações em altíssimo nível: às próprias cenas eróticas, a cena da sua condenação, seu reencontro com Michael, entre várias outras. Kate ganhou tudo que foi indicada naquele ano, fez a limpa em todas premiações, muito justo por sinal. Como por exemplo o próprio Oscar de Melhor Atriz, onde Kate concorria contra aquela atuação estupenda de Angelina Jolie por 'A Troca', mas realmente aquele ano era o ano da Kate Winslet - completamente perfeita!
David Kross (da obra-prima Cavalo de Guerra) fez um ótimo contraponto com a Kate Winslet, alcançou uma ótima química, ao ponto de nos fazer simpatizarmos pelo casal durante toda a trama. Michael é um garoto que estava se descobrindo e descobrindo todos os prazeres que a vida podia lhe oferecer, principalmente os prazeres sexuais e amorosos. Porém com o passar do tempo vieram grandes responsabilidades, ao ponto de lhe exigir medidas e decisões que o influenciaria pelo resto de sua vida. Uma baita atuação de David Kross, muito segura nos momentos sexuais e de nudez, bem dosada nos momentos mais românticos e mais dramáticos, conseguindo uma ótima atuação contracenando ao lado da Kate Winslet, o que não seria nada fácil, principalmente em cenas eróticas com uma atriz do calibre da Kate e quando se tem apenas 18 anos - David Kross mandou muito bem!
Ralph Fiennes (o inescrupuloso Amon Goeth de A Lista de Schindler) completa com sua atuação fina, prazerosa, rica, charmosa, um verdadeiro gentleman na arte de atuar. Fiennes deu vida ao Michael mais velho, um personagem visivelmente sofrível, resguardado, depressivo, com um ar introspectivo, complexo, misterioso, que guardava todos os seus segredos pra si. O último ato do filme é inteiramente do Ralph Fiennes, onde ele brilha e se destaca ao lado da Kate Winslet, juntos nos levaram às lágrimas, literalmente, principalmente na última cena com a Hanna e na última com sua filha, quando ele decide lhe contar toda a sua história de adolescência - um final simplesmente avassalador, daqueles que a gente jamais esquecerá.
Tecnicamente o longa de Stephen Daldry é uma das melhores obras-primas do cinema naquele ano! Ouso a falar que em 'O Leitor' temos uma das melhores trilhas sonoras de Alberto Iglesias, que foi injustamente esnobada no Oscar daquele ano (é academia). Uma trilha sonora forte, pesada, incômoda, tensa, regada as mais belas e suaves melodias tiradas de pianos e violinos, o que definitivamente nos emocionava verdadeiramente, principalmente no último ato do filme - nota 10 para a obra-prima de Alberto Iglesias. A fotografia do mestre Roger Deakins e Chris Menges é completamente sublime a avassaladora. É incrível como a fotografia se sobressaia e acompanhava em todas as cenas, saltando aos nossos olhos (bela indicação ao Oscar). A direção de arte, cenografia, figurinos e maquiagens estão todos perfeitos e foram feitos com o maior cuidado e atenção possível, com um destaque maior para o trabalho de maquiagem e cabelo feito na Kate Winslet no último ato do filme, que a deixou praticamente irreconhecível e bem envelhecida. A direção de Stephen Daldry é muito bem ajustada e muito rica nos detalhes, com um trabalho de câmeras magistral, que só nos imergia em sua trama cada vez mais - indicação mais do que justa ao Oscar.
Na temporada de premiações de 2009 'O Leitor' foi bem reconhecido e bem indicado (mas poderia ter sido ainda melhor). O longa ganhou inúmeras indicações ao longo dos festivais, incluindo SAG's, Critics, BAFTA e Globo de Ouro. Além, é claro, do Oscar, onde esteve indicado em Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Diretor, Melhor Atriz e Melhor Filme, perdendo para 'Quem Quer Ser Um Milionário?', e levando apenas a estatueta da Kate Winslet.
Me recordo de ter assistido 'O Leitor' uma vez lá em 2009, logo após o Oscar, porém na época eu não tinha o olhar crítico e a visão que eu tenho hoje. Me lembro de ter gostado demais do filme e ter me emocionado com o último ato, e hoje não foi diferente, me emocionei exatamente na mesma parte. Hoje com um olhar mais crítico posso afirmar que 'O Leitor' é um belíssimo filme, uma pérola cinematográfica, uma obra de arte esplendorosa, pois o longa tem o dom de nos fazer sorrir, suspirar, paralisar, se emocionar e se encantar verdadeiramente. Um filme único, forte, pesado, incômodo, mas também leve, primoroso, emocionante e singular, que vai dos prazeres e das descobertas amorosas e sexuais até os temas mais fortes, importantes e significativos na história da humanidade - perfeito! Difícil encontrar uma obra hoje em dia que nos faça aflorar um misto de sentimentos diferentes em apenas 2h. 5 estrela para esta obra-prima artística, poética e contemporânea do cinema moderno de Stephen Daldry! [01/04/2022]
'Drive My Car' é um belíssimo drama do cinema japonês co-escrito e dirigido por Ryusuke Hamaguchi. É baseado e inspirado no conto de mesmo nome do renomado autor japonês Haruki Murakami, em seu livro de coletânea de contos de 2014, Homens sem Mulheres, enquanto se inspira em outras histórias. O filme segue Yūsuke Kafuku (interpretado por Hidetoshi Nishijima) enquanto dirige uma produção multilíngue de "Tio Vânia" em Hiroshima e lida com a morte de sua esposa, Oto (interpretada por Reika Kirishima).
O cinema asiático está em bastante evidência nos últimos anos, principalmente após a vitória histórica de 'Parasita' no Oscar de 2020. Se naquele ano tivemos uma grande obra do cinema coreano, este ano temos uma grande obra do cinema japonês.
'Drive My Car' é diferente de tudo que eu já assisti, um jeito totalmente diferente de se fazer cinema, praticamente fugindo de tudo que pode soar trivial no cinema moderno. Um filme contemplativo, intrigante, complexo, intimista, carregado dramaticamente e com várias camadas que sobrepõe cada personagem na trama, que nos confronta diretamente com o luto e a solidão em várias nuances e em diferente vertentes. O longa nos evidencia com a descaracterização e a desconstrução do ser humano quando lhe é imposto em diferentes consequências da vida. Uma obra profunda, tocante, singular, primorosa, que nos conscientiza sobre o medo, o trauma, a frustração humana em diferentes aspectos e em diferentes pontos de vista, e sempre com uma forma totalmente verossímil.
O roteiro de Ryusuke Hamaguchi e Takamasa Oe é a verdadeira cereja do bolo, pois temos um roteiro coerente, formidável, com um texto muito bem escrito e muito bem adaptado, onde se dividi magistralmente em 3 atos que se conversam entre si. O enredo tem um ótimo desenvolvimento e uma ótima transição entre os 3 atos, nos apresentando e estabelecendo cada personagem que faz e fez parte da vida e da história de Yusuke. A narrativa é excelente, pois a forma adotada para contar toda a história é simplesmente perfeita, com um transporte temporal para nos elucidar sobre cada ponto de virada na trama, seja no primeiro ato, no segundo, ou no terceiro - genial!
Outro ponto que me deixou completamente boquiaberto ao final do filme....suas 3h de duração que me pareceram 1. Vou ser bem sincero, eu não senti em nenhum momento que o longa tinha praticamente 3h de duração, pois o filme é tão envolvente que prende a sua atenção em todas as cenas, você quer buscar sempre além, quer ir cada vez mais longe - é incrível! Pois um filme com quase 3h de duração seria mais do que inevitável (e até normal) cansar o espectador e o fazer perder o interesse pela história que estava sendo contada. Mas não, pelo contrário, o longa não é arrastado, não é cansativo, por mais que seu ritmo seja lento, mas você se prende no texto, nos diálogos afiadíssimos e nas ótimas interpretações. Porém, vou entender perfeitamente quem não conseguir sentir o filme, quem não conseguir se prender na história como eu me prendi, quem achar o filme cansativo e arrastado, pois o longa foge completamente dos filmes triviais modernos, por se tratar de uma obra mais intimista que mantém um ritmo mais lento, mais profundo, que definitivamente não vai prender o espectador pelo dinamismo e sim pela peculiaridade que nos está sendo contada toda a história.
Ryusuke Hamaguchi está completamente perfeito na direção do longa, um trabalho muito competente, onde em todos os momentos nos evidenciava sobre a dor, o sofrimento, a angústia, a frustração e o trauma de cada um ali presente, feito unicamente pelas lentes de sua câmera em diferentes takes certeiros - mais do que merecida a sua indicação ao Oscar. A fotografia de Hidetoshi Shinomiya é muito bem apresentada em cena, acompanha muito bem os diferentes locais imerso dentro desse 'road movie'. A trilha sonora da cantora e compositora Eiko Ishibashi é bem intimista, bem local, agrega ainda mais na obra, apesar de ser uma trilha mais modesta. Assim como a direção de arte de Kensaki Jo, que está muito bem montada e arquitetada.
Em questões de elenco é outro show à parte! Temos um elenco afiado que entregaram ótimas atuações! Como no caso do Hidetoshi Nishijima (o Yusuke Kufuku), que fez um personagem carregado emocionalmente e que transplantava toda essa carga dramática em tela - ótima atuação! Toko Miura (que fez a Misaki Watari) é outra que esteve perfeita em praticamente 100% do tempo. Foi impressionante e gratificante acompanhar às idas e vindas de Misaki e Yusuke a bordo do Saab 900, onde nos evidenciaram com suas histórias semelhantes e que se conversava entre si ao final - cena belíssima aquela dos dois abraçados naquele cenário de gelo, e uma bela atuação de Toko Miura. Reika Kirishima (que fez Oto Kafuku, esposa de Yusuke) tem um destaque excepcional no primeiro ato do filme, sendo dela praticamente todas as cenas de maiores relevâncias naquela parte - belíssima atriz, aquela cena do sexo é um absurdo de interpretação, tá louco!!! Masaki Okada (que fez o Koji Takatsuki) foi outro ator que gostei demais, sua atuação condizia perfeitamente no que se propunha o seu personagem em cena - aquela cena bem dialogada entre Koji e Yusuke é outra barbaridade de interpretação de ambos os atores.
Na temporada de premiações Drive My Car é o principal nome entre os filmes internacionais, inclusive já levou a estatueta no Globo de Ouro, no BAFTA e no Critics. No Oscar o longa está indicado em 4 categorias, sendo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Diretor, Melhor Filme Internacional (principal favorito) e Melhor Filme.
Desde que foi anunciado a lista dos indicados ao Oscar eu fiquei muito curioso com 'Drive My Car', afinal de contas o longa japonês foi indicado em Filme Estrangeiro e com certeza não foi à toa a sua indicação na principal categoria da noite, Melhor Filme. Assim como a indicação de Ryusuke Hamaguchi em direção, que a princípio eu fiquei me perguntando se realmente ele merecia estar entre os indicados nessa categoria, e hoje eu afirmo com toda certeza que sim, merece e muito. A princípio eu também me perguntei se por acaso o Ryusuke não estaria ocupando a vaga que deveria ser do Denis Villeneuve (Duna), e hoje eu vejo que eu estava completamente errado, a vaga que deveria ser do Denis Villeneuve quem está ocupando injustamente é o Paul Thomas Anderson pelo seu fraco filme 'Licorice Pizza'. Já na principal disputa da noite, 'Drive My Car' é sim um dos principais favoritos para levar a estatueta, apesar das atenções ultimamente estarem voltadas para 'Ataque dos Cães' e principalmente para 'CODA'. Meu favorito na categoria Melhor Filme é 'Ataque dos Cães', pois dentre os 10 indicados é disparado o melhor filme de todos e o que de fato merece ser o campeão da noite. Mas se por acaso a academia decidir premiar o longa japonês, pra mim não será nenhuma surpresa, afinal de contas 'Drive My Car' é um belíssimo filme e também é merecedor da principal estatueta do Oscar, mesmo não tendo a minha torcida.[25/03/2022]
'Belfast' é um filme britânico escrito, produzido e dirigido por Kenneth Branagh. O Longa é estrelado por Caitriona Balfe, Judi Dench, Jamie Dornan, Ciarán Hinds, Colin Morgan, Lewis McAskie, Lara McDonnell e o estreante Jude Hill. Belfast é a capital da Irlanda do Norte, local onde Branagh nasceu, sendo o palco principal para ele contar o seu filme mais pessoal, mais intimista, pois o longa é exatamente baseado em uma história real da sua infância.
O longa segue exatamente a infância de Buddy (Jude Hill) em Belfast, no ano de 1969, época em que estava acontecendo o "The Troubles" (um conflito de grande violência pelo estatuto político da Irlanda do Norte).
É interessante notar que Kenneth Branagh nasceu em 1960 e o filme começa em agosto de 1969, sendo assim ele deveria ter entre 8 a 9 anos na época. Um ponto muito inteligente que Branagh trouxe em seu roteiro ao encaixar a sua história sendo contada a partir da perspectiva de Buddy (que parecia ter mais ou menos essa idade). Pois é exatamente assim que a história de Branagh se desenvolve, pelos olhos de Buddy, um garotinho que vivia com sua família naquela época turbulenta. Buddy era de uma família protestante da classe trabalhadora, que lutava para conseguir saldar as suas dívidas e obter uma vida melhor futuramente.
Este é o ponto mais singelo e mais tocante na obra de Branagh, pois ele uniu um contraponto perfeito pelos olhos de Buddy ao nos mostrar a sua inocência, a sua pureza, os seus sonhos, sendo confrontados diretamente com a brutalidade dos conflitos entre os católicos e os protestantes, os confrontos entre os manifestantes e a polícia, os massacres da guerra civil. Acredito que Branagh decidiu contar a sua história em preto e branco pra literalmente nos passar a falta de vida, de alegria, de cores naquele momento da sua infância, que por mais que tínhamos momentos mais leves por parte de Buddy e seus avós, mas sempre inserido dentro daquele pano de fundo de guerras, conflitos e violência. Até por isso quando o filme nos apresentava um acontecimento que estava fora desse contexto, nos era contado em cores, como na cena do cinema e do teatro.
Branagh escreve um dos seus roteiros mais geniais em 'Belfast', que por mais que aquele momento era tomado pelos acontecimentos do "The Troubles", por mais que o Buddy estava em meio às mudanças culturais e sendo exposto diretamente a violência extrema, por mais que a sua família estava enfrentando dificuldades e tendo que tomar decisões difíceis, mas o seu toque singelo estava em sua forma mais íntima de nos passar a sua inocência nas descobertas que o pequenino Buddy estava fazendo. Por exemplo o seu primeiro amor, como era puro a descoberta daquele nascimento do primeiro amor de infância entre Buddy e Catherine (Olive Tennant). Como era gostoso e gratificante acompanhar a relação de Buddy com seus avós, juntamente com os conselhos que seu vô lhe dava em como se aproximar de Catherine. Os próprios conselhos da vida que seus avós que lhe dava era uma coisa genial. Os pequenos delitos que Buddy cometia ao roubar os chocolates da lojinha, ou ao se juntar na gangue e saquear o sabão em pó no supermercado, outro ponto bastante interessante, em como uma criança na idade do Buddy era facilmente influenciada. A cena final do Buddy se despedindo da Catherine é muito singela e verdadeira, quando seu pai lhe dá aquele conselho que ele vai levar pelo resto de sua vida - uma cena tocante e profunda, genial!
Além do roteiro de Branagh ser bastante intimista, a sua forma de filmar também é bem íntima, pois ele emprega a sua câmera acompanhando os passos de Buddy em todos os momentos, sempre captando os takes em suas diferentes reações e expressões (como em várias cenas em que ele se mostra surpreso com algo que estava acontecendo). A trilha sonora de Van Morrison é um dos principais pontos positivos dentro do longa de Branagh. É impressionante como a trilha sonora está bem casada dentro da trama, como ela acompanha bem a trama, como ela influencia diretamente em todas as cenas e dita o ritmo certeiro de cada acontecimento - destaque para a sua belíssima composição, "Down to Joy", que está concorrendo ao Oscar. 'Belfast' tem uma das mais belas fotografias que eu já vi em um filme este ano, até por se tratar de uma película em preto e branco, onde contribui demais para a fotografia - méritos para o diretor Haris Zambarloukos (de Mamma Mia! e Thor). Até agora estou me perguntando como o filme não ganhou indicação por fotografia no Oscar, mais uma bola fora este ano academia. A direção de arte, juntamente com a cenografia, é outro ponto que merece destaque, pois está muito bem caprichada e muito fiel dentro da proposta do tema abordado pelo filme.
O elenco de 'Belfast' é uma obra-prima à parte! Um elenco onde todos estão bem, todos tem atuações bem destacadas, criamos uma empatia por todos, torcemos por todos, sofremos por todos. Branagh foi muito feliz ao escolher o seu elenco (cujo vários membros da produção também nasceram em Belfast), um elenco muito bem ajustado, onde todos possuíam uma ótima química. Eu gostei muito do elenco de 'Coda' e de 'West Side Story', mas depois de conferir esta obra eu afirmo que 'Belfast' tem o melhor elenco dessa temporada de premiações - sem sombra de dúvida.
Jude Hill é um doce, um ator-mirim que se destaca dentre o elenco adulto, entregando um verdadeiro show em cena. Impossível não simpatizarmos com ele, impossível não nos emocionarmos com ele, ele nos cativa e prende a nossa atenção em todos os momentos (e olha que ele estava fazendo a sua estreia nos cinemas). A categoria Revelação no Critics este ano está disputadíssima, pois além de ter amado a atuação do Jude Hill, ainda temos Emilia Jones (Coda), Saniyya Sidney (King Richard) e Rachel Zegler (West Side Story). Vai ser difícil decidir a minha torcida, mas vou ficar dividido entre o Jude Hill e a Emilia Jones.
Caitríona Balfe (de Ford vs. Ferrari) está ótima, entrega uma atuação soberba e tem uma carga dramática bem dosada, e assim como Jamie Dornan (de Cinquenta Tons de Cinza), que também está maravilhoso, formam o casal dos pais de Buddy, que por sua vez possuem uma ótima química entre eles. Judi Dench (de Shakespeare Apaixonado) e Ciarán Hinds (de Munique e Sangue Negro) estão maravilhosos como os avós do Buddy. Uma das melhores cenas era exatamente os diálogos (conselhos) entre os avós e Buddy, onde eu conseguia sentir o amor verdadeiro pela sétima arte bem explicita nas atuações de Judi Dench e Ciarán Hinds. Completando a família com Lewis McAskie (Will, o irmão mais velho de Buddy) e Josie Walker (como a tia Violet). Sem deixar de mencionar a Lara McDonnell (Moira), amiga inseparável de Buddy.
'Belfast' foi indicado em 7 categorias no Globo de Ouro, incluindo Canção Original, Roteiro, Atriz Coadjuvante (Caitríona Balfe), Ator Coadjuvante (Jamie Dornan e Ciarán Hinds), Direção e Filme Drama. No SAG's o filme esteve indicado em 2 categorias, Atriz Coadjuvante e Elenco. No Critics o longa está indicado em Edição, Direção de Arte, Fotografia, Roteiro Original, Direção, Elenco, Revelação, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante (os 2 atores) e Melhor Filme (sendo bem sincero, eu daria o prêmio de Elenco para 'Belfast'). No BAFTA o longa está indicado em 6 categorias, incluindo as principais de Melhor Filme e Melhor Filme Britânico, sendo esnobado em Direção (BAFTA sendo BAFTA). No Oscar o longa está nomeado em 7 categorias, incluindo Som, Canção Original, Roteiro Original, Atriz Coadjuvante (Judi Dench, Caitríona Balfe ficou de fora), Ator Coadjuvante (Ciarán Hinds, Jamie Dornan também ficou de fora), Direção e Melhor Filme.
Kenneth Branagh nos traz o seu filme mais intimista, mais pessoal, e eu simplesmente amo esse estilo intimista em nos relatar uma parte da sua infância, que me remete diretamente a obra-prima de Alfonso Cuarón (Roma). Outro ponto que me prende e me emociona em obras como 'Belfast', é a forma em nos contar a história pela perspectiva de um ator-mirim, como no magnífico 'O Quarto de Jack' e a obra-prima 'O Menino do Pijama Listrado'. 'Belfast' de fato é a obra-prima mais intimista de Kenneth Branagh, o longa é realmente excelente, possui um belíssimo elenco, que nos entrega ótimas atuações, tecnicamente é uma obra-prima, e vai brigar diretamente no Oscar. Por falar em Oscar, acredito que o longa de Branagh não deve brigar em Som, Direção, Ator e Atriz Coadjuvante, já em Canção e Roteiro podem ter uma chance, porém a grande briga ficará na principal categoria da noite, Melhor Filme, onde eu vejo o longa com grandes possibilidades para levar a estatueta. E a partir de agora, 'Belfast' e 'Ataque dos Cães' são os meus favoritos na principal categoria do Oscar 2022. [11/03/2022]
O longa é escrito e dirigido pelo grande cineasta espanhol, Pedro Almodóvar, cuja produção conta com Agustín Almodóvar, seu irmão mais novo, e Esther Garcia. Almodóvar sempre foi reconhecido como um dos mais cultuado cineastas autorais dos cinemas, por empregar seu estilo cinematográfico único, e sempre nos apresentar as suas obras com sagacidade, inteligência, por sempre nos imergir em suas histórias fortes, pesadas, dramáticas, por sempre nos trazer seus roteiros bem elaborados e nos impor a sua forma novelística de nos fazer mergulhar em suas tramas.
Em "Madres Paralelas", Almodóvar nos traz um roteiro inteligente, sagaz, intrigante, curioso, enigmático, que nos prende e nos instiga a querer desvendar tudo que está por trás de cada história, dos personagem, queremos desvendar tudo que está nas entrelinhas do roteiro. Exatamente nesse ponto que eu considero o roteiro de Almodóvar bem astuto, pois ele é realizado de uma forma que nos intriga, que nos deixa curioso o tempo todo. Almodóvar vai costurando as linhas do seu roteiro aos poucos, sem nos entregar nada instantaneamente (ou inicialmente), vamos criando inúmeras possibilidades e vamos sendo confrontados com cada acontecimento. Pois o longa possui dois temas distintos, que inicialmente podem parecer um roteiro perdido, uma narrativa confusa, mas se realmente pararmos para analisar friamente, eles se ligam extraordinariamente ao final.
"Madres Paralelas" pode funcionar como uma novela, um conto, ou algo parecido, pois Almodóvar decide nos confrontar com uma história excêntrica sobre às dores da maternidade, o resgate do passado, a crise existencial, o drama e o peso de ser mãe solteira, tanto adolescente quanto na meia-idade. Ao mesmo tempo que ele propõe e desenvolve um tema que está diretamente inserido em um contexto político histórico, a guerra civil espanhola.
Penélope Cruz é a alma do filme, realmente compreendo a sua indicação ao Oscar. Penélope dá vida à Janis Martinez, uma mulher na meia-idade que engravida (por acidente) e tem que conviver com o peso de ser uma mãe sozinha e solteira, mesmo que ela tenha condições financeiras para isso. Janis mostra uma personalidade forte e destemida, ao mesmo tempo ela se sente vulnerável, sensível, perdida, tentando se conectar, ou reconectar, à sua vida com o mundo ao seu redor, por todos os acontecimentos que ela está sendo submetida naquele momento. Ótima atuação da Penélope Cruz....podíamos sentir suas dores, seus traumas, suas nuances, seus conflitos, tudo imposto unicamente pelo seu olhar, com uma carga mais dramática muito bem dosada - sim, temos mais um bela atuação da Penélope Cruz!
A atriz espanhola Milena Smit faz um contraponto bem acertado com a Penélope Cruz. Milena traz uma personagem (Ana) que está dentro do mesmo contexto de ser mãe, ainda mais uma mãe adolescente, solteira, sozinha, sem o apoio dos pais na criação da sua filha. Milena Smit foi uma grata surpresa, gostei da sua atuação, deu o toque certo dentro da história do Almodóvar. Israel Elejalde está bem como Arturo, o problemático caso de Janis, e até então, pai de sua filha. Completando com Aitana Sánchez-Gijón, que fez Teresa, a mãe de Ana - mais uma boa atuação, totalmente dentro do que a sua personagem exigia para a história.
Um dos pontos que mais me chama a atenção nas obras do Almodóvar, está exatamente na sua forma intimista de executar as suas filmagens. Almodóvar dá uma atenção e um carinho ao movimento literário que prioriza a expressão dos sentimentos mais íntimos dos seus personagens em cenas - aproximando cada vez mais a câmera, em um ângulo que dava o exato foco no que estava sendo proposto naquele ambiente. A trilha sonora de Alberto Iglesias (compositor daquela maravilhosa trilha de "O Leitor", com a Kate Winslet) acompanhava fielmente cada passo dos personagens, pois a mesma se destacava em um ritmo mais intenso nos momentos de tensão e nos momentos mais dramáticos - uma trilha sonora muito bem notada e sentida ao longo da trama. A fotografia de José Luis Alcaine também merece um destaque, realmente estava muito bem executada.
Quando eu afirmo que Almodóvar trouxe um roteiro muito inteligente.....vamos aos fatos:
Um ponto que eu achei bastante curioso e muito intrigante no roteiro do Almodóvar, foi exatamente os dois temas que ele estava abordando em seu longa - por um lado a maternidade e suas dores, e por outro às questões políticas. É fato que a personagem da Penélope Cruz (Janis) buscava incansavelmente descobrir sobre suas origens e de alguma forma tentar honrar a memória do seu bisavô. Exatamente dentro desse contexto que ela busca ajuda com o Arturo, que era arqueólogo, para escavar o local que poderia está os ossos de seu bisavô e dos antepassados que foram assassinados durante a ditadura espanhola.
Mas e como ligar esses dois temas dentro da história?
Bem, eu acredito que a Janis era uma pessoa que sempre buscava a verdade do seu passado, isso de fato era muito importante para ela (é ai que entra o tema político em querer saber a verdade escavando os ossos). Por isso, quando Janis descobre que não era a mãe da pequena Cecília, e que a filha morta da Ana de fato não era dela, Janis entra em um completo dilema pessoal em querer contar a verdade para Ana, pois ela não aguentava a ideia de ocultar a verdade sobre os fatos, exatamente o que fizeram quando ocultaram os fatos verdadeiros sobre seu bisavô na guerra.
Janis poderia muito bem mentir sobre a Cecília para Ana, de fato ela poderia ficar com sua "filha" para sempre, mas como ela iria conseguir conviver com essa incoerência, uma vez que ela própria sempre buscava a coerência (a verdade) sobre o assassinato do seu bisavô na guerra.
Logo após a cena em que o Arturo conta para Janis que se separou da sua esposa por ter contado para ela sobre a sua infidelidade, é exatamente o momento em que Janis fica ainda mais conturbada em saber como é difícil suportar uma mentira, tanto a mentira sobre a filha verdadeira da Ana, quanto a mentira que lhe contaram a vida toda sobre seu bisavô e os antepassados da guerra. É......se esta reflexão dos dois temas se unindo no roteiro do Almodóvar não for considerado inteligente e sagaz....eu não sei mais o que é!
Na temporada de premiações, "Madres Paralelas" esteve indicado no Globo de Ouro nas categorias Trilha Sonora e Filme Estrangeiro. O BAFTA indicou o longa a Filme Estrangeiro. No Oscar o longa tem duas indicações, Trilha Sonora e Atriz, sendo esnobado em Filme Estrangeiro (como também foi no Critics). Sobre Melhor Atriz, acho o trabalho da Penélope Cruz ótimo e de fato ela mereceu uma indicação, mas pra mim ela corre por fora, vejo a Nicole, a Jessica e a Kristen um passo à frente, principalmente a Kristen.
Pedro Almodóvar nos entrega uma bela obra intimista, "Madres Paralelas" é um ótimo drama, bastante refletivo, interpretativo, curioso e intrigante. Mais um belo filme do cinema espanhol. [04/03/2022]
"Spencer" é uma cinebiografia inserida em um drama psicológico de ficção histórica, dirigido por Pablo Larraín e escrito por Steven Knight. O filme é sobre a crise existencial da princesa Diana e se passa em um fim de semana em Sandringham House, no Natal de 1991, nos relatando a sua decisão em querer se divorciar do príncipe Charles, o Príncipe de Gales, e deixar a família real britânica. Kristen Stewart e Jack Farthing estrelam como a princesa Diana e o príncipe Charles, respectivamente, acompanhados por Timothy Spall, Sean Harris e Sally Hawkins.
Vale lembrar que tudo que nos é contado no filme é feito de forma especulativa, lúdica, com uma liberdade criativa, com teorias sobre o que de fato pode ter acontecido na vida da Princesa Diana durante aquela época turbulenta em sua vida, o quê culminou com os acontecimentos que antecederam o natal daquele ano e os dias subsequentes após o seu pedido oficial de divórcio. De fato pode ser uma obra com ares fictício, mas totalmente imersa em uma história verdadeira e angustiante. Uma fábula inspirada em uma tragédia real!
"Spencer" é o típico filme feito para a sua protagonista brilhar. Tudo é pensado exatamente dentro desse contexto, tudo é trazido com os minuciosos detalhes, com todos os cuidados, com muita atenção, tudo é voltado para a Princesa Diana (Kristen Stewart), lhe transformando no pilar central da trama e tudo que acontecia girava ao seu redor.
Pablo Larraín conseguiu nos imergir dentro daquela passagem na vida da Diana com muita competência e de uma forma totalmente crível. É realmente impressionante e assustador ao nos confrontarmos com o modo de vida que a Diana levava em seu dia a dia, praticamente um passarinho preso dentro da gaiola, sendo totalmente controlada e vigiada, cuja próprias roupas sequer ela podia escolher quais queriam usar. Conseguimos sentir a sua angústia, a sua dor, o seu desespero, pois até o seu belíssimo colar de pérolas lhe sufocava como uma coleira em seu pescoço. Diana nos expõe a sua opressão, tensão, abuso, vulnerabilidade, desgaste mental, sanidade mental, pressão psicológica, crise existencial, pois em sua vida ela sofria constantes perseguições da família real e dos paparazzis.
"Spencer" é uma belíssima cinebiografia da Princesa Diana. Por mais que o roteiro se desenvolva de forma fictícia, quem viveu os anos 90 vai conseguir sentir veracidade em tudo que está sendo entregue em cena. Méritos para o diretor Pablo Larraín, que conseguiu nos entregar uma direção competente, ajustada, refinada, pois seus inúmeros takes eram sempre certeiros em diferentes ângulos do rosto da Lady Di, sempre nos evidenciando sobre os diferentes momentos e situações que ela estava enfrentando. O roteiro de Steven Knight é outro ponto certeiro, pois ele entrega exatamente o que se propõe, se desenvolvendo bem dentro daquele pequeno período na vida da Lady Di.
A direção de arte e a cenografia estão soberbas, nos entregando um cenário dentro da mansão real (ou a mansão de férias natalina) totalmente voltada para os anos 90 (méritos para Sebastián Sepúlveda). Os cenários, os objetos de cena, os figurinos, os adereços, os apetrechos, às maquiagens e cabelos estavam realmente incríveis e totalmente fiéis à época. Como não destacar os figurinos luxuosos da Lady Di, juntamente com a sua maquiagem e seus penteados - grande responsável em deixar a Kristen 100% fiel e caracterizada de Princesa Diana (méritos para Jacqueline Durran). A fotografia de Claire Mathon é outro ponto crucial, se destacava em todas as cenas, principalmente as cenas dentro da mansão. A trilha sonora do grande Jonny Greenwood é avassaladora, pois suas composições soavam perfeitas quando confrontadas com os momentos de angústia do dia a dia da Princesa Diana - um casamento perfeito!
Um trabalho sublime, encantador, avassalador, primoroso, genial, estupendo, magnífico, me deixando completamente apaixonado pela Kristen Stewart em "Spencer". Kristen estudou à fundo a Princesa Diana, assistiu séries, filmes, leu relatos, documentários, buscou informações em tudo que se referia à personalidade que ela iria interpretar nos cinemas. Um verdadeiro estudo na personagem, onde ela buscou se especializar nos sotaques britânicos, nos trejeitos, nas facetas, nos olhares, nas expressões, na postura, no jeito de andar, tudo para ficar o mais próximo possível da princesa Diana. Kristen ainda contou com a ajuda de antigos conselheiros da realeza para viver uma versão mais semelhante dos hábitos de Lady Di. Kristen está perfeita, totalmente dentro da personagem, muito bem caracterizada, uma atuação monstruosa, sendo praticamente impossível reconhecê-la em tela, estávamos realmente assistindo a Princesa Diana. Pra quem viveu na época da Princesa Diana, vai se impressionar com a tamanha semelhança que a Kristen alcançou com esta atuação. Kristen realmente calou todos os críticos, pois ela sofreu ao longa de sua carreira marcada pela Bella de "Crepúsculo". Eu mesmo confesso que sempre achei às suas atuações inexpressivas, nunca me cativou, mas agora eu estou engolindo o meu preconceito e admitindo que Kristen Stewart é uma belíssima atriz e nos entregou um trabalho estupendo como Princesa Diana. Mais uma performance para brigar diretamente no Oscar (ela já levou o prêmio no Hollywood Critics Association ), Kristen vem forte e acaba de se tornar uma das minhas preferidas nessa temporada de premiações (juntamente com a Jessica Chastain).
Completando o elenco ainda tivemos Jack Farthing como Charles, Príncipe de Gales, sem grandes destaques, apenas para contextualizar a história da Lady Di. Timothy Spall como Major Alistair Gregory, sendo uma espécie de mordomo totalmente invasivo e inoportuno (pra não dizer chato pra cacete) no dia a dia da Princesa Diana. E minha querida atriz Sally Hawkins (da qual gosto muito) como Maggie, a Costureira Real e confidente de Lady Di.
No Globo de Ouro "Spencer" teve apenas a indicação da Kristen Stewart. No Critics, além da indicação da Kristen, ainda teve uma para o Jonny Greenwood. O BAFTA ignorou totalmente "Spencer", não indicou em nenhuma categoria, mas há quem diga que a família real pode ter interferido diretamente na decisão, afinal de contas o BAFTA é uma premiação britânica. No Oscar também só tem a indicação da Kristen, porém, eu indicaria fácil na categoria de Melhor Filme, se até "Licorice Pizza" foi, porquê "Spencer" não poderia? Aliás, pra mim, "Spencer" é muito mais filme.
Esta é a temporada das cinebiografias: temos "King Richard", "Being the Ricardos", "Os Olhos de Tammy Faye", "Tick, Tick... Boom!" e completando a lista, "Spencer".
"Spencer" é um ótimo filme, bem editado, bem montado, bem arquitetado, muito bem transplantado para a tela. Tecnicamente o filme é perfeito, tem um roteiro acertado e uma atuação estupidamente maravilhosa da Kristen Stewart. Pablo Larraín nos entrega uma bela cinebiografia dessa específica passagem na vida dessa figura tão importante, tão admirada e tão influente. A Princesa Diana foi e ainda é um ícone mundial, ainda brilha na cultura pop e é lembrada, respeitada, condecorada e homenageada até hoje. A mulher mais fotografada do mundo, Princesa de Gales, Lady Di, uma verdadeira Dama, uma verdadeira Lenda, a Princesa do Povo. Diana Frances Spencer - de uma simples plebeia para uma princesa!!! [01/03/2022]
Paul Thomas Anderson é um diretor que admiro demais, um verdadeiro mestre nos roteiros e na direção dos seus filmes. Ao longo dos anos já nos entregou obras maravilhosas como "Boogie Nights", "Magnólia", "O Mestre", "Sangue Negro" e "Trama Fantasma". Considero "Sangue Negro" como a sua melhor obra-prima até hoje.
"Licorice Pizza" é o mais novo trabalho do diretor, que também assina os roteiros (como de praxe). O longa é uma ideia original de PTA, que novamente se reencontra com a família HAIM (da qual ele é um amigo próximo) depois de realizar vários dos videoclipes do grupo. PTA convida a Alana Haim para estrear nos cinemas e dividir o protagonismo juntamente com Cooper Hoffman, que também está fazendo a sua estreia.
"Licorice Pizza" é o trabalho mais diferente de PTA, é totalmente o inverso do que sempre esperamos dele, ou do que estamos mais acostumados. O longa funciona como uma comédia romântica nostálgica, com algumas pitadas de drama, cuja narrativa se desenvolve mais leve, numa marcante história de “coming of age”. Também pode funcionar com uma carta de amor aos filmes e os seus realizadores da década de 70, pois é completamente notável a forma adotada por PTA ao dirigir o seu filme com ares daquela época. A paleta de cores que observamos em tela é mais envelhecida, com um tom mais amarelado puxando para o acinzentado, cuja fotografia (do próprio PTA) se destaca exatamente nesses pontos. Os próprios figurinos dos jovens daquela década é muito bem notado no elenco (principalmente na Alana e no Cooper Hoffman). A direção de arte é muito atraente, a cenografia é ótima, pois os cenários e todos os seus objetos estão completamente fiéis aos anos 70. Não posso esquecer de mencionar a trilha sonora de Jonny Greenwood que está completamente magnífica. Uma trilha sonora contemporânea, ajustada, muito bem encaixada e notada ao longo da trama, que enriquecia às qualidades técnicas do filme.
A história acompanha os dois jovens que se apaixonam no Vale de São Fernando, Califórnia, na década de 1970. Temos Alana Haim no papel de Alana Kane, uma jovem de 25 anos que se apaixona por um insistente adolescente de 15 anos, Gary Valentine, interpretado por Cooper Hoffman, filho do falecido Philip Seymour Hoffman.
De fato "Licorice Pizza" tem o estilo de PTA, quem conhece o diretor e acompanha às suas obras vai consegui pegar várias coisas que ele traz de seus trabalhos anteriores. Porém, devo confessar que esse estilo de comédia romântica mais humorada não me pegou, não me envolveu, não me conquistou, pelo contrário, achei uma história bem mediana, bem bobinha, um romance bem água com açúcar, bem chatinho. Típica história romântica que não se desenvolve, não engrena, estaciona, mesmo sendo influenciado por um romance da década de 70, onde literalmente poderia se desenvolver dessa forma que foi contada. Outro ponto, não simpatizei com o casal, não consegui me conectar com eles, não consegui torcer por ninguém, não tive aquela atração pela a sua história. Pra mim faltou clima, faltou química, faltou imersão, faltou alma, faltou estrutura, faltou muita coisa para eu me conectar com aquele romance. Não sei se de repente o fato dos dois estarem estreando nos cinemas interferiu, ou não, mas de fato toda a história criada por PTA ao realizar 'Licorice Pizza' não me agradou.
Por falar em estreias, Alana Haim vem da música para os cinemas, e ela faz uma atuação ok, nada acima da média, apenas ok. Não podemos negar que Alana está bem natural na personagem, traz uma atuação normal, como se fosse ela mesma no seu dia a dia, e isso funciona muito bem, pois era exatamente isso que o filme pedia. Porém, eu vejo a Alana Haim como um diamante bruto, que precisa ser lapidado, precisa de um amadurecimento, e isso é um fato, afinal de contas aqui é seu primeiro trabalho. Mas ela tem talento, tem potencial para ir cada vez mais longe, se escolher os papéis corretos.
Cooper Hoffman está no mesmo nível da Alana Haim, consegue levar o seu personagem bem, em até certos pontos, mas também não tem um grande destaque, apenas compõe a trama. Também acredito que o tempo ajudará no seu amadurecimento cinematográfico, afinal de contas seu pai era um verdadeiro gênio da sétima arte. Ainda tivemos as belas participações de Sean Penn, um verdadeiro showman em cena (aquela cena da moto é muito boa), e Bradley Cooper, nos agraciando com mais uma das suas belas atuações (como o Bradley Cooper é um ator fenomenal - Ave Maria!!!).
No Globo de Ouro o longa de PTA recebeu indicações em Roteiro, Atriz (Alana), Ator (Cooper) e Filme Comédia/Musical. No Critics o longa recebeu 8 nomeações, incluindo as principais de Ator, Atriz, Direção e Elenco. No BAFTA também recebeu 5 indicações, também incluindo as principais e principalmente a de Melhor Filme.
Falando do Oscar: devo mencionar que "Licorice Pizza" está indicado em três categorias, Roteiro Original, Direção e Melhor Filme. Disto isto, devo expor a minha indignação com a academia (mais uma vez), pois é completamente notável que o PTA está indicado a Melhor Diretor somente por ser o PTA, pois em nenhum momento o seu trabalho em "Licorice Pizza" condiz com a sua indicação. Tudo bem que de fato o PTA é um mestre na direção e em "Licorice Pizza" ele faz um trabalho competente, mas não chega aos pés do Denis Villeneuve em "Duna", que foi completamente esnobado pela academia - me desculpem, mas eu achei a indicação do PTA muito forçada e me soou como uma injustiça. O mesmo vale para a categoria de Melhor Filme, pois "Licorice Pizza" está indicado somente por ser um trabalho do PTA e a categoria contar com 10 vagas, porque em nenhum momento o longa faz jus à esta indicação. Tínhamos filmes melhores e que poderiam facilmente entrar nessa vaga, como o caso de "Tick, Tick... Boom!". Este caso me remete diretamente ao Oscar 2018, onde também tínhamos um filme bem mediano (Lady Bird) que foi erroneamente indicado na categoria de Melhor Filme. Pra falar a verdade: "Licorice Pizza" é o "Lady Bird" dessa temporada.
No mais, "Licorice Pizza" se destaca apenas por ser um trabalho do Paul Thomas Anderson e pelas às suas qualidades técnicas, mas de fato este é o trabalho menos inspirado do diretor, o que definitivamente o coloca como um dos seus piores filmes. Pra mim completamente passável e totalmente esquecível! [28/02/2022]
(uma estrela por ser um trabalho do PTA e a outra pelas qualidades técnicas)
Os Olhos de Tammy Faye é uma cinebiografia dramática dirigido por Michael Showalter, baseado no documentário de 2000 de mesmo nome de Fenton Bailey e Randy Barbato de World of Wonder. O longa conta a história de Tammy Faye Bakker (interpretada por Jessica Chastain), desde seu humilde começo crescendo em International Falls, Minnesota, até a ascensão e queda de sua carreira de televangelismo e casamento com Jim Bakker (interpretado por Andrew Garfield). O roteiro é escrito por Abe Sylvia, enquanto Jessica Chastain também é um dos produtores do filme.
Assim como no filme "Being the Ricardos", onde tínhamos a cinebiografia de Lucille Ball, aqui temos a cinebiografia de Tammy Faye, o curioso é o fato de eu não conhecer ambas personalidades e suas respectivas histórias. Dito isto, da mesma forma como eu analisei "Being the Ricardos" vou analisar "Os Olhos de Tammy Faye" unicamente pela minha experiência com o filme, sem afirmar se os acontecimentos ocorreram corretamente na ordem cronológica, se teve veracidade nos fatos contados da vida de Tammy e Jim, até porque sem conhecer a história real, fica difícil apontar se a forma como Michael Showalter decidiu contar a história da vida do casal está certa ou errada.
O longa se dividi em duas partes, na primeira hora temos a melhor parte de todo o filme, pois é nela que começamos a conhecer a vida de Tammy Faye ainda criança. Começamos a acompanhar a criação de Tammy, a forma como seus pais moldava a sua cabeça em relação a religião e a igreja, toda sua curiosidade em descobrir o que as pessoas faziam reunidas nas pequenas igrejas. Logo após temos o começo do envolvimento de Tammy e Jim nos anos 60 (por sinal uma parte maravilhosa de Jessica e Andrew), passamos a acompanhar o casamento e a forma como eles começaram a galgar no meio religioso, utilizando-se das pregações de Jim e as apresentações dos bonecos de fantoches de Tammy para chamar a atenção das crianças, que por sua vez chamaria a atenção dos pais para frequentarem as igrejas. Juntamente com a primeira gravidez de Tammy, que viria logo na sequência.
Na segunda parte do filme temos a criação da PTL Club, se tornando a maior rede de transmissão religiosa do mundo. O que viria a elevar a Tammy Faye ao posto de maior apresentadora gospel da TV norte-americana. Mas também nessa segunda parte temos a mudança no tom do filme, que inicialmente era leve e extrovertido, agora já era tenso e pesado, pois começamos a acompanhar a queda da televangelista e de seu marido nos anos 70 e 80, começaram aparecer as primeiras infelicidades no casamento, às traições, os escândalos sexuais, os rivais, a imprensa e as irregularidades fiscais. Definitivamente acompanhamos da ascensão a queda do casamento e do império de Tammy Faye.
O longa de Michael Showalter é muito bom, é muito gostoso de acompanhar, pois toda a história da Tammy Faye é contada de uma forma completamente acertada, sendo leve e tensa nos momentos corretos, conseguindo nos imergir na trama e nos simpatizar pelo casal. Com um destaque mais do que merecido para o trabalho de maquiagem e cabelo, que estão completamente estonteantes. Tammy sempre se destacou pelas suas maquiagens, seus penteados, seus cílios, nada mais justo do que a sua cinebiografia acertar em grande estilo nessas qualidades técnicas. Outro ponto a destacar no trabalho de maquiagem, a forma como o casal eram envelhecidos de acordo com o passar dos anos - magnífico! A direção de arte e a cenografia estão soberbas, impossível não nos maravilharmos com os belos cenários que compõem o longa, muito bem montados, muito bem projetados, com objetos de cenas e figurinos que nos remetia diretamente às décadas de 60, 70, 80 e 90. A fotografia se destaca muito bem, assim como a trilha sonora, que está bem ajustada de acordo com os acontecimentos que permeava a trama.
É inegável que a Jessica Chastain e o Andrew Garfield são os donos do filme, pois ambos estão perfeitos em suas respectivas atuações, ambos conseguem uma química invejável, conseguem comprar a nossa atenção e a nossa empatia instantaneamente.
Jessica incorpora a Tammy Faye de uma forma tão natural, tão leve, tão espetacular, tão minimalista, tão forte, que nos ganha em todas às suas aparições em cenas. É impressionante a facilidade que a Jessica tem para atuar em diferentes situações, pois quando o filme lhe pede uma atuação mais serena, mais jovial, mais moleca ela nos entrega uma Tammy que tinha aquele seu jeito inocente, doce, meigo, que estava descobrindo o seu amor pelos ensinamentos de Deus e descobrindo a sua paixão pelo Jim. Porém, quando o filme muda de tom, sua atuação acompanha diretamente a mudança, pois temos uma Tammy mais sisuda, mais tempestuosa, mais dramática, mais vulnerável, uma atuação que condizia com tudo que ela estava passando naquele momento da sua vida. Que a Jessica Chastain é uma atriz maravilhosa, espetacular, fenomenal, isso todos nós já sabemos, mas o que ela nos entrega na pele da Tammy Faye é para ser aplaudida de pé em completo êxtase. Jessica atua com a alma e o coração, tem uma performance excelente, interpreta muito bem, canta maravilhosamente bem (destaque para a sua última cena), uma apresentação e uma entrega completamente perfeita, sem um erro. Jessica foi indicada no Globo de Ouro, perdendo para a Nicole Kidman, está indicada no Critics, e ontem à noite levou o prêmio no SAG's (justíssimo por sinal). No Oscar a disputa será mais acirrada, pois temos a Nicole com um leve favoritismo, mas na minha modesta opinião, eu gostei mais da atuação da Jessica do que da Nicole, disto isto, eu daria a estatueta para a Jessica Chastain sem pestanejar.
Andrew Garfield vem se destacando como um dos melhores atores da sua geração, e não é de hoje. Aqui temos um Andrew totalmente solto, leve, inspirado, carismático (sua marca registrada), envolvente, que nos impressionou mais uma vez com a sua atuação. Andrew interpretou um Jim que inicialmente era visto como o par perfeito de Tammy, aquele casal perfeito, como observamos logo ao início com o seu relato do pacto que ele fez perante Deus, nos evidenciando o que o levou a querer seguir a palavra de Deus. Outro destaque estava em sua forma de pregar os desígnios de Deus, sendo bastante incisivo, enfático, firme, convincente, mas sempre de uma forma leve, e com um sorriso no rosto esbanjando toda a sua simpatia (foi exatamente assim que ele começou a conquistar a atenção da Tammy Faye). Tudo isso condiz com a bela atuação que Andrew nos entrega, pois assim como a Jessica, ele também tem variações de tom em sua atuação, que são muito dignas por sinal. Andrew Garfield já nos entregou ótimos trabalhos e belíssimas atuações como em "A Rede Social", "Silêncio", "Até o Último Homem" e recentemente em "Tick, Tick…Boom!" e "Os Olhos de Tammy Faye". Andrew foi indicado ao Oscar por "Até o Último Homem" e está indicado por "Tick, Tick…Boom!". Na minha opinião, já passou da hora do Andrew Garfield ser reconhecido pela academia, pois ele é um ator completo, ele já fez drama, já fez comédia, já fez musical, já fez super-herói, já fez romance, e tudo em alto nível, que sempre o eleva, o destaca e o coloca em busca dos principais prêmios nos festivais. E só pra deixar registrado, eu indicaria o Andrew pelo seu trabalho apresentado em "Os Olhos de Tammy Faye", pra mim cabe tranquilamente uma indicação a coadjuvante no Oscar, ou em qualquer premiação, sem nenhum exagero.
O longa de Michael Showalter está indicado no Critics, no BAFTA e no Oscar na categoria de Maquiagem e Cabelo.
"Os Olhos de Tammy Faye" é uma ótima cinebiografia, é leve, divertida, prazerosa, gostosa, que não pesa a mão em discursos sobre religião, e não defende nenhuma tese e nem impõe nada sobre a fé, ou a crença de cada um, o que poderia facilmente cansar e desinteressar o espectador, pelo contrário, temos apenas uma releitura de como foi a vida de Tammy Faye e Jim Bakker. Há muito tempo que eu não assistia um filme biográfico tão bom quanto este. Tecnicamente o longa é bem feito e bem caprichado. O roteiro é bem funcional e dita o ritmo correto que a trama percorre durante às suas 2h. O filme não é cansativo, não é arrastado, nos prende gradativamente e tem um ritmo acertado. Às atuações nos ganha imediatamente, pois temos um bom elenco de apoio, mas o que realmente nos conquista e eleva o nível do filme são estes dois nomes: Andrew Garfield e Jessica Chastain. [28/02/2022]
A Tragédia de Macbeth é um longa (original Apple Films) histórico americano de 2021 escrito e dirigido por Joel Coen e baseado na peça Macbeth de William Shakespeare. É o primeiro filme dirigido por um dos irmãos Coen sem o envolvimento do outro. O filme é estrelado por Denzel Washington, Frances McDormand, Bertie Carvel, Alex Hassell, Corey Hawkins, Harry Melling, Kathryn Hunter e Brendan Gleeson.
Eu tive uma grande curiosidade ao descobrir que pela primeira vez os irmãos Coen iriam se separar em um filme, pois isso me soava um tanto quanto arriscado, visto que eles sempre trabalharam juntos e nos entregou verdadeiras pérolas cinematográficas como "Fargo" e "Onde os Fracos Não Têm Vez" (pra citar duas). Criei grandes expectativas ao imaginar como seria a direção e o roteiro de Joel Coen, sem o seu irmão Ethan Coen, em "A Tragédia de Macbeth". Pois bem, aqui temos uma ótima adaptação Shakespeariana em preto e branco feita por Joel Coen, juntamente com a sua esposa Frances McDormand, que além de atuar, também está presente na produção do longa.
Joel nos entrega uma ótima uma peça teatral filmada como um longa-metragem. Um verdadeiro teatro, desde às apresentações, às atuações, os diálogos, os monólogos, os cenários, os figurinos, às filmagens, que muita das vezes eram bem próximas dos rostos dos personagens em cena, captando todas as suas expressões faciais. A direção de Joel está muito segura, pois o trabalho de câmeras que ele adota em seu filme é incrível, muita das vezes feito com câmeras fixas, em ângulos fixos, uma filmagem com ares teatrais, totalmente imersa na peça, no conto, na trama que estava sendo apresentada.
A cenografia do longa é bem ajustada e funciona dentro do que o filme precisa, pois temos cenários voltados para o reino, para o castelo, que nos remete diretamente aos cenários de uma peça teatral, exatamente por isso que o longa se desenvolve quase que 100% do seu tempo em cenários fechados e não em ambientes mais abertos. A direção de arte (que está indicada ao Oscar) é bastante competente e acompanha bem a construção dos cenários, figurinos e maquiagens, estando presente no enquadramento com a direção de fotografia. Por falar em fotografia, Bruno Delbonnel está completamente sublime ao destacar a fotografia do longa, a película em preto e branco favorece muito a fotografia, pois a mesma está belíssima. Delbonnel está indicado ao Oscar, mas o páreo é duríssimo, pois ele enfrenta Dan Lautsen (O Beco do Pesadelo), Ari Wegner (Ataque dos Cães), Greig Fraser (Duna) e Janusz Kominski (Amor Sublime Amor). A trilha sonora de Carter Burwell é branda, suave, tensa nos momentos certeiros, dita o ritmo da trama.
Denzel Washington está muito bem como Lord Macbeth, é realmente incrível como ele se dá bem em longas que são voltados para uma peça teatral, como ele domina bem os diálogos e os monólogos, como foi em "Fences", um longa que também funciona com uma peça teatral (trabalho que também lhe rendeu uma indicação ao Oscar). Denzel faz o que sabe de melhor ao interpretar um personagem tirano, ambicioso, ardiloso, maquiavélico, que desejava ocupar o trono a qualquer custo, mesmo que isso o levasse diretamente para a tragédia de Macbeth. Obviamente o Denzel já esteve em trabalhos mais inspirados e mais ambiciosos, já nos entregou melhores atuações, porém, devo afirmar que aqui ele traz uma atuação mais teatral na medida certa, que está bem ajustada e compõe muito bem o propósito do seu personagem. Denzel Washington tem uma boa atuação e realmente ele está bem no personagem, mas sinceramente não acho que seja uma atuação para indicá-lo ao Oscar.
Frances McDormand é uma atriz refinada, requintada, renomada, oscarizada, uma das melhores atrizes de todos os tempos (e não é de hoje). Frances dá vida a Lady Macbeth, o braço direito de seu marido (Lord Macbeth) e peça-chave no desenrolar de toda a trama, sendo a principal responsável em instigá-lo em seus desejos e ambições perante à sua visão de que ele será o próximo rei da Escócia. Uma personagem astuta, sagaz, fria, calculista, que planejava às suas ideias mirabolantes e às colocava sempre em prática (ou pelo menos tentava). Frances e Denzel formam a dupla perfeita do longa, um contraponto muito funcional pra história. Destaque para a cena do sonambulismo, onde Frances eleva a sua atuação e nos mostra outra faceta da Lady Macbeth - perfeita!
Jamais poderia deixar de mencionar a atriz Kathryn Hunter. Kathryn chega a nos assustar e nos deixar boquiabertos perante a sua performance ao incorporar uma bruxa maléfica, sombria, pitoresca, que usava da sua astúcia ao discursar para convencer o Lord Macbeth a seguir em busca da sua visão. Eu fiquei completamente impressionado ao presenciar o alto nível de atuação que Kathryn Hunter deu ao nos exibir seu contorcionismo, seus trejeitos, suas expressões sádicas, sua faceta tirana, sua voz sombria - um verdadeiro show em cena, sem nenhum exagero.
Ainda tivemos Corey Hawkins como Macduff, mais uma boa atuação, principalmente no embate final com o Lord Macbeth. Alex Hassell como Ross, se destacando bem como uma espécie de conselheiro. Completando com Brendan Gleeson como King Duncan, Bertie Carvel como Banquo, Harry Melling como Malcolm e Moses Ingram como Lady Macduff.
No Globo de ouro e no SAG's o longa foi indicado somente em Ator (Denzel). No BAFTA também só tem uma indicação, que é Fotografia. No Critics tem duas indicações, Fotografia e Ator. No Oscar o longa está indicado em três categorias, Direção de Arte, Fotografia e Melhor Ator, e na minha opinião, não é favorito em nenhuma.
A Tragédia de Macbeth é uma bela adaptação Shakespeariana, de fato Joel Coen conseguiu nos imergir diretamente em uma peça teatral totalmente introduzida em um longa-metragem, funcionando perfeitamente. O filme é bom, às atuações teatrais são boas, a película em preto e branco é sublime e o resultado final do primeiro trabalho solo de Joel Coen é bastante convincente. [27/02/2022]
Duna é dirigido por Denis Villeneuve e escrito por Jon Spaihts e Eric Roth (juntamente com o próprio Villeneuve). É a primeira de uma adaptação em duas partes do romance de 1965 de Frank Herbert, cobrindo principalmente a primeira metade do livro. O filme é a terceira adaptação de Duna após o filme de David Lynch de 1984, que foi um fracasso de crítica e comercial, e a minissérie de John Harrison em 2000. Após uma tentativa frustrada da Paramount Pictures de produzir uma nova adaptação, a Legendary Entertainment adquiriu os direitos de filme e TV de Duna em 2016, com Villeneuve assinando como diretor em fevereiro de 2017.
Villeneuve nos entrega um longa de fantasia, ficção científica, aventura, levemente inserido no drama. Acredito que Denis Villeneuve foi o nome certo para a direção de Duna, pois o próprio já trabalhou em produções voltadas para a ficção e fantasia, como em seus longas "A Chegada" e "Blade Runner 2049". Villeneuve trouxe toda a sua experiência e deu os toques certeiros na direção do longa, deixando o filme praticamente com a sua cara, pois quem já assistiu "A Chegada", vai notar imediatamente vários pontos trazidos por Villeneuve para Duna, como os seus trabalhos de filmagens e seus takes aéreos (que estão espetaculares), acompanhando diretamente o movimento de cada acontecimento que se desenvolvia e se movia em cena - completamente perfeita a direção de Villeneuve em Duna, nota 10. Já quero de antemão deixar aqui a minha profunda indignação com a 'irrelevante' academia (mais uma vez), pois não indicar o Villeneuve a direção no Oscar é praticamente um crime que presenciamos (exatamente como o BAFTA também fez).
É muito interessante e satisfatório observar (ao longa da trama) às inúmeras referências trazidas para Duna de filmes como a franquia "Star Wars" e "Matrix". Às próprias coreografias das lutas nos remete diretamente à "Star Wars", funcionando como uma espécie de homenagem ao épico de George Lucas - eu achei fantástico!
Tecnicamente o longa de Denis Villeneuve é uma obra-prima do gênero. Como a fotografia de Greig Fraser, que se destaca como uma obra-prima visual. É impressionante como a fotografia de Duna é bela, magnífica, estonteante, se destacando notavelmente em todas às cenas e sendo a grande responsável pela nossa imersão nos cenários gigantesco do longa. Greig Fraser está indicado ao Oscar e vai brigar diretamente com Dan Lautsen (O Beco do Pesadelo), Ari Wegner (Ataque dos Cães) e Janusz Kominski (Amor Sublime Amor). A trilha sonora do gênio Hans Zimmer é outra obra-prima, pois a mesma é única, contemporânea, intimista, que se destaca nos momentos mais oportunos, como na tensão de um ataque, um embate, uma guerra, uma morte, onde a trilha estava mais suave e ia se elevando (aumentando o ritmo) de acordo com os seguimentos dos acontecimentos em tela - magnífico! Hans Zimmer já levou o Globo de Ouro e na minha opinião, é favorito ao Oscar.
Completando com às partes técnicas temos: os efeitos visuais que estão soberbos e se destaca bem em todas às cenas. A edição e mixagem de som de Mac Ruth é majestosa. A direção de arte de Tibor Lazar é outra obra-prima, como nos impressiona a estética do filme, onde a narrativa casava perfeitamente com a unidade visual do longa. A cenografia também merece um destaque, pois estamos diante de cenários completamente estonteantes. Cabelo e maquiagem também tem que ser mencionado, assim como os figurinos de Jacqueline West e Robert Morgan, que são um show visual em cena, impossível não ser contagiado pelos belíssimos figurinos dos reinos de Duna. O longa é muito bem editado, muito bem montado, méritos para Joe Walker.
Eu não conheço a obra de Frank Herbert, tampouco assisti o longa de David Lynch, dito isto, devo destacar o principal ponto fraco do longa de Denis Villeneuve. Eu gostei do roteiro do filme, acho que ele percorre um caminho correto de acordo com os acontecimentos que permeia toda a história, mas o que me incomoda está no enredo, mais precisamente no desenvolvimento onde nos é apresentado e estabelecido os personagens. O longa peca exatamente no ritmo, pois a primeira hora é completamente arrastada, o ritmo é extremamente lento, falta imersão, dessa forma o desinteresse pela trama é inevitável, fazendo o espectador se cansar até chegar a segunda hora do filme (que até melhora um pouco). Pra quem já leu o livro, ou assistiu o longa de 1984, ou já conferiu a minissérie, estará mais familiarizado com esta parte (ou talvez não), poderá levar esta parte arrastada do filme numa boa, sem se incomodar como eu me incomodei, mas no meu caso o ritmo do longa me cansou bastante, chegando até me desanimar em algumas partes. Acredito que esta primeira parte da adaptação de Duna funcione mais como um prólogo, uma apresentação dos personagens na trama que irá se desenrolar no segundo filme, porém acredito que toda esta apresentação e desenvolvimento fez o ritmo do filme cair muito e se destacar como um ponto negativo do longa de Denis Villeneuve.
Timothée Chalamet entrega um boa atuação na pele do Paul Atreides, o descendente da Casa Atreides. Timothée segura bem o personagem, até se destacando em algumas partes, principalmente às que envolvia sua mãe. Rebecca Ferguson é a Lady Jessica, a mãe de Paul. Rebecca está mediana, sua atuação em até certo ponto condiz com a sua personagem, mas nada de grande destaque, não vi como um grande trabalho. Oscar Isaac é o duque Leto Atreides. Isaac tem uma curiosa participação na história, e se destaca com bastante relevância para os acontecimentos que irão ocorrer na segunda parte do longa. Uma boa atuação entregue por Oscar Isaac. Josh Brolin é o Gurney Halleck, e ele está bem no filme, apesar de ficar me perguntando o que de fato aconteceu com o seu personagem na segunda metade da história. O grande Stellan Skarsgård está irreconhecível como o Barão Vladimir Harkonnen, e nos entrega mais uma atuação digna do grande ator que é.
Dave Bautista nos entregou o brutal Glossu Rabban. Bautista teve menos tempo de tela, porém foi bem até onde conseguiu. Jason Momoa foi um dos meus personagens preferido da história, o espadachim Duncan Idaho. É sempre gratificante vê o Jason Momoa atuar em personagens que lhe exige força, ímpeto, coragem, e aqui ele nos entrega exatamente isso. O belíssimo ator Javier Bardem nos brinda com mais uma ótima atuação na pele do sagaz Stilgar. É impressionante como em todos os papeis que o Bardem atua, ele nos contagia e nos deixa maravilhado - que baita ator que é o Javier Bardem. Zendaya deu vida à Chani, uma misteriosa jovem Fremen que aparece nas visões de Paul, Chani é o contraponto de Paul e seu interesse amoroso. Zendaya está mais contida, mais mediana, acredito que seu maior destaque virá no segundo filme, acredito que inicialmente o roteiro não lhe favoreceu nessa primeira parte da adaptação.
Duna foi indicado em 3 categorias no Globo de Ouro, Direção, Melhor Filme Drama, e venceu na categoria Trilha Sonora. No Critics Duna empatou com "Ataque dos Cães", recebendo 10 nomeações, entre elas às principais de Direção e Melhor Filme. No SAG's o longa tem uma indicação em Melhor Elenco de Dublês em Filme. No BAFTA o longa é o campeão de indicações, tendo recebido 11, porém com tantas indicações, faltou uma das principais, Melhor Diretor pro Villeneuve (Valeu pela incoerência BAFTA). O mesmo discurso vale para o Oscar, que indicou Duna em 10 categorias (ficando atrás somente de Ataque dos Cães), mas a direção de Villeneuve foi completamente esnobada - que absurdo academia...AFF!
Duna é um bom filme, ele consegue entregar o que se propõe, que é exatamente uma aventura na fantasia. Os maiores destaques é sem dúvidas às partes técnicas, que são um show à parte, mas peca exatamente no que prenderia a atenção do público, que é o ritmo do filme, por ser extremamente lento, arrastado e cansativo. Villeneuve de fato faz um bom trabalho em Duna, ele acerta em umas coisas e erra em outras, mas isso pode servir de lição para a continuação da segunda parte do filme. Duna apresenta resquício de espetáculo, tem grandeza, tem uma ótima premissa, acredito que a adaptação tem potencial para se tornar um dos épicos na lista das obras-primas da fantasia, da ficção e da aventura - como "Avatar", "O Senhor dos Anéis" "Matrix", "Aliens" e "Star Wars", mas se for feito da forma correta.[20/02/2022]
Mare of Easttown é uma série limitada de drama criminal americana criada por Brad Ingelsby para a HBO. Dirigida por Craig Zobel e escrita por Ingelsby, a série estreou em 18 de abril de 2021 e foi concluída em 30 de maio de 2021, composta por sete episódios. É estrelado por Kate Winslet como a personagem-título, uma detetive investigando um assassinato em uma pequena cidade perto da Filadélfia. Julianne Nicholson, Jean Smart, Angourie Rice, Evan Peters, Sosie Bacon, David Denman, Neal Huff, James McArdle, Guy Pearce, Cailee Spaeny, John Douglas Thompson e Joe Tippett aparecem em papéis coadjuvantes.
A série foi aclamada pelos críticos, que elogiaram sua história, personagens, atuações e representação das mulheres. A série recebeu 16 indicações no 73º Primetime Emmy Awards e ganhou quatro, incluindo Melhor Atriz Principal para Kate Winslet, Melhor Ator Coadjuvante para Evan Peters e Melhor Atriz Coadjuvante para Julianne Nicholson. No Globo de Ouro a série foi indicada em Melhor Série Limitada, Série Antológica ou Telefilme, e levou a estatueta por Melhor Atriz para Kate Winslet. No SAG's a série está indicada a Melhor Ator em Minissérie ou Filme para TV para Evan Peters, Atriz para Jean Smart e Kate Winslet, e Melhor Elenco de Dublês em Série de TV.
Mare of Easttown aborda e adentra em vários pontos como o drama, o suspense, a investigação policial, a desconstrução, a descaracterização e a humanização dos personagens. A série funciona perfeitamente ao nos relatar um marcante drama familiar com bastante autenticidade e veracidade, ao nos confrontar diretamente com todos os acontecimentos que permeia todos os conflitos familiares de Mare Sheehan (Winslet). Nesse quesito a série é completamente fantástica e satisfatória, ao abordar uma protagonista que está vulnerável, deprimida, amargurada, ressentida, infeliz, perdida emocionalmente e amorosamente, tendo que enfrentar a sua profissão em seu dia a dia, ao investigar o assassinato de uma jovem e o desaparecimento de outra, em um período em que a sua vida pessoal está praticamente se desmoronando aos seus pés. Em até certo ponto o roteiro foi bem escrito (só na parte final que não me agradou e explicarei mais à frente), pois tudo que estava inserido na série nos prendia gradativamente e aguçava o nosso desejo de ir mais além e descobrir, junto com Mare, todos os acontecimentos que se passava ao redor de Easttown. Todos os temas abordados pela série são feitos de forma verossímil.
Outro ponto que eu achei curioso e me motivou cada vez mais dentro da história, foram os arcos pessoais e os dramas vividos por cada um que fazia parte daquela cidade e daquele universo. De certa forma o enredo estabelece e nos apresenta os seus personagens, logo em seguida já nos confronta diretamente com um arco pessoal de cada um que está envolvido na trama. Quanto ao arco pessoal da Mare, eu acho que foi o melhor dentro da série, pois foi bem desenvolvido, bem apresentado, feito com bastante veracidade e que nos comovia e nos causava empatia instantaneamente. Já nos coadjuvantes o roteiro peca ao tentar dar ênfase em um arco pessoal de praticamente todos os personagens. Ok, acho muito digno esta tentativa, pois isso faria nos aproximar e nos importar com às vidas de cada um ali presente (além da Mare), mas me pareceu feito às pressas e sem um aprofundamento nos personagens, me soando apenas como uma mera tentativa de abranger à todos e nos causar empatia pelo o que estava sendo mostrado no arco pessoal de cada um. Acredito que se a série tivesse mais episódios, ou uma segunda temporada, isto poderia ser muito melhor desenvolvido e nos apresentado.
Kate Winslet carrega a série praticamente nas costas, é realmente impressionante o que esta mulher faz na pele da destemida Mare Sheehan. Winslet está estupidamente bem na personagem e nos proporciona uma das mais belas atuações de sua carreira. Kate Winslet foi muito bem reconhecida e premiada no Emmy Awards e no Globo de Ouro. Jean Smart como Helen Fahey, a mãe de Mare, teve uma ótima atuação, era muito interessante aqueles confrontos de ideias e opiniões entre ela e a Mare. Evan Peters como Detetive Colin Zabel, o detetive do condado chamado para ajudar Mare. Mais uma ótima atuação dentro da série, como eu gostei da atuação do Peters, que se iniciou com um desafeto com a Mare e no final já estava adquirindo uma certa química com ela. Julianne Nicholson como Lori Ross, a melhor amiga de Mare, outra atuação grandiosa e muito bem acertada, se destacando principalmente entre as cenas que tínhamos uns diálogos bastante contundentes.
Angourie Rice (como essa atriz é linda....Meu Deus!) como Siobhan Sheehan, filha de Mare. Rice tem em suas mãos uma personagem muito interessante e que poderia render muito mais na história, dado aos seus acontecimentos, seus envolvimentos e principalmente por ser a filha adolescente (meio rebelde) que sempre entrava em constantes conflitos com a Mare (entra exatamente no ponto que eu destaquei acima, faltou desenvolver mais o seu arco pessoal). David Denman como Frank Sheehan, ex-marido de Mare, um personagem muito intrigante e que influenciava diretamente a Mare. Boa atuação de David Denman. Neal Huff como o padre Dan Hastings, primo de Mare, um padre católico e pastor da Igreja de São Miguel, que se mostrava uma figura sempre meio obscura. James McArdle como Deacon Mark Burton, um diácono católico transferido para St. Michael's após alegações de má conduta sexual em sua paróquia anterior (personagem que eu sempre tive um pé-atrás na série). O grande ator Guy Pearce como Richard Ryan, um autor e professor de escrita criativa que se envolveu com Mare, mas na minha opinião, apenas pra compor a história, sem uma grande relevância.
Cailee Spaeny como Erin McMenamin, uma mãe solteira adolescente que é maltratada por seu ex-namorado (falarei dela na barra de spoiler). John Douglas Thompson como Chefe Carter, chefe de Mare no departamento de polícia (sua melhor cena é aquela que ele afasta a Mare do cargo). Joe Tippett como John Ross, marido de Lori e primo do pai de Erin, Kenny (ao final seu personagem ganha bastante relevância na trama). Sosie Bacon como Carrie Layden, a mãe do neto de Mare, Drew, e ex-namorada do falecido filho de Mare, Kevin (outra grande atuação dentro da série, principalmente ao confrontar a Mare pelo seu filho).
Erin McMenamin foi a personagem que eu tive empatia logo em sua primeira cena, pois a sua história dentro da série me soou verdadeiramente, como várias histórias da vida real que acompanhamos diariamente ao nosso redor. Uma garota de 17 anos que se envolve com homens mais velhos, que engravida e tem que enfrentar todas as dificuldades que às suas escolhas lhe impôs, que decidi se prostituir para arrecadar dinheiro para fazer a cirurgia de ouvido do filho. Ela já é órfã de mãe e cria seu filho praticamente sozinha, além de ser maltratada em casa pelo pai e humilhada pelo ex-namorado e sua namorada atual, ou seja, a vida nunca foi fácil para Erin, principalmente pelas suas próprias escolhas. Como não trazer toda essa história para o nosso cotidiano de hoje em dia?
O primeiro episódio já é fantástico (um dos melhores de toda série), pois como destaquei acima, a Erin foi a personagem que eu me conectei instantaneamente (além da Mare, é claro), por isso me surpreendi tanto ao ser confrontado com o seu assassinato. Eu fiquei paralisado ao ver que a Erin tinha sido brutalmente assassinada logo ao final do primeiro episódio da série, e a forma como ela foi encontrada também me abalou, totalmente (ou praticamente) nua e com um tiro na testa (poxa, eu fiquei triste nessa hora). Eu não imaginava que ela seria o ponto de partida da série em relação às investigações da Mare. Uma pena, pois eu gostei muito da atuação da Cailee Spaeny e queria que ela estivesse viva em toda a série.
O quinto episódio é outro excelente, pois é nesse ponto que temos os embates e confrontos de Mare e Zabel com o sequestrador que mantinha aprisionada no sótão a Katie Bailey (Caitlin Houlahan), a garota que desapareceu de Easttown um ano antes (juntamente com uma outra garota que depois se junta à ela no sótão). Mas também é nesse episódio que temos a triste e dolorosa morte do Detetive Colin Zabel, com um tiro na testa disparado pelo sequestrador durante o confronto.
Quero deixar registrado aqui o meu descontentamento, minha desaprovação e minha frustração com a revelação do assassino da Erin McMenamin no ultimo episódio da série. É sério que a série deixou todos os plot twist para o último episódio? Realmente tinha a necessidade de inventar todos esses plot twist para revelar o verdadeiro culpado? Esta forma adotada pelo roteiro para nos revelar o verdadeiro assassino da Erin foi completamente estapafúrdia, pífia, mal feita, despreparada, desprovida de imaginação. Não tinha a menor necessidade em um único episódio mudar o então assassino três vezes, passando pelo Billy (Robbie Tann), depois o John, pra só então tentar nos surpreender (a mim não surpreendeu, pelo contrário, me decepcionou) que o verdadeiro assassino de Erin McMenamin era o Ryan Ross (Cameron Mann), filho de Lori e John, um garoto de 13 anos. Definitivamente esta parte foi a maior deslizada, a maior derrapada da série, pra mim uma grande falha de roteiro, poderiam muito bem ter parado e entregado que o verdadeiro assassino era o John, acho que ficaria muito mais coerente e aceitável - não gostei do final!
Mare of Easttown é uma série muito boa, muito gostosa de acompanhar, nos prende em todos os episódios e nos surpreende várias vezes. Eu gostei demais da série (mesmo com o ponto que eu destaquei na barra de spoiler), adorei os personagens e principalmente a Mare. Realmente eu não sei a probabilidade da série ganhar mais uma temporada, pelo o que li, a própria Kate Winslet revelou uma grande vontade de voltar para uma segunda temporada, e a própria HBO também não descartou esta possibilidade. Eu realmente torço muito pra que a série não termine aqui e que renda mais alguns episódios, porque o elenco é muito bom e poderiam nos proporcionar mais uma ótima temporada de Mare of Easttown. [19/02/2022]
O novo trabalho do mestre Guillermo del Toro é um remake do filme noir de 1947 chamado "O Beco das Almas Perdidas", sendo baseado no romance homônimo de William Lindsay Gresham de 1946. O longa é dirigido e roteirizado pelo Del Toro (juntamente com a canadense Kim Morgan), contando com J. Miles Dale e Bradley Cooper na produção. Inicialmente Del Toro anunciou o seu novo projeto em dezembro de 2017, logo após o seu último longa-metragem, "A Forma da Água", porém as gravações teve algumas pausas devido à pandemia do Coronavírus.
É realmente incrível como este filme é a cara do Del Toro, como tem suas marcas, suas características autorais, sua visão de cinema, sua forma de conduzir a direção, quem conhece o diretor e acompanha os seus trabalhos (assim como eu, que sou fã) vai perceber imediatamente todo os seu propósitos e se localizar instantaneamente com o seu mais novo trabalho. Dessa vez Del Toro deixa um pouco de lado as suas fábulas e seus contos para nos imergir em um drama, um suspense, um Thriller, misturado com horror, pesadelo, mistério, sendo bem dosado com a ação, a complexidade, mas sem deixar de lado aquela boa dose de fantasia (sua marca registrada). Del Toro sempre nos impressionou em suas produções por nos confrontar com seus inúmeros monstros, mas aqui ele vai além, ele nos apresenta algo mais enigmático, mais grotesco, mais perturbante, que é a forma monstruosa do próprio ser humano, ou talvez a sua forma de evolução até chegar nessa posição. Sim, temos um Del Toro ainda mais inovador e surpreendente - magnífico!
"O Beco do Pesadelo" é dividido em duas partes, nas quais ambas se conversam e se amarram perfeitamente ao final. Temos a primeira parte do longa, onde somos confrontados com o dom da surpresa, do inesperado, onde começamos a nossa caminhada e suas descobertas junto com o Stanton Carlisle (Bradley Cooper). Nesse primeiro ato o longa funciona a todo vapor e nos prende gradativamente, pois estamos diante de um ambiente circense, onde somos confrontados com a mágica, o ilusionismo, onde tudo funciona e flui com muito dinamismo, nos apresentando uma parte do roteiro um tanto quanto extrovertida e leve (dado ao contexto do filme).
Já no segundo ato é a parte que o longa cai um pouco de ritmo, se torna mais cansativo, pois esta parte o filme já muda totalmente de tom, se tornando mais tenso, ficando mais pesado, mais complexo e mais intrigante. Pois nessa parte o roteiro brinca (no bom sentido) com o espectador ao nos confrontarmos entre o embate de ideias de Stanton Carlisle e a Doutora Lilith Ritter (Cate Blanchett), aquele jogo de gato e rato, recheado com diálogos ácidos, bem construídos e envolventes. Exatamente nesse ponto que o longa de Del Toro nos cansa um pouco, pois acredito que ele quis nos entregar uma parte bem detalhada, bem arquitetada, bem complexa, bem intrigante, porém ele se alongou demais, o que contribuiu diretamente pra queda de ritmo do filme, deixando esta parte um pouco monótona.
Tirando esse pequeno deslize (se é que podemos considerar assim), o longa de Del Toro é muito bem projetado, muito bem arquitetado, muito bem transplantado pra tela, pois temos um roteiro bem coeso, onde tudo se interliga e se amarra perfeitamente ao final (vide a primeira e a última cena, onde as duas se amarram perfeitamente), nada fica solto e tudo funciona em perfeita harmonia. A direção de Del Toro se sobressai novamente, pois temos mais um trabalho absurdo e muito competente. Ter o Del Toro na direção de um longa já é sinônimo de show e de um trabalho bem feito, e aqui só comprovamos esta afirmação, pois com um elenco desse porte, ele conduz cada um em seu determinado caminho com muita perfeição e objetividade (Del Toro foi reconhecido por sua direção somente no Critics).
Tecnicamente o longa de Del Toro é perfeito! Temos uma fotografia do Dan Laustsen completamente impecável, é assustador como a fotografia do longa se destaca em praticamente 100% das cenas. Que trabalho genial entregue pelo Dan Laustsen, justíssima indicação ao Oscar. A direção de arte de Tamara Deverell (também indicada ao Oscar) é muito notável e competente, pois ela materializa as ideias e conceitos quase abstratos do roteiro, de certa forma ela colabora diretamente para que as ideias do Del Toro sejam representadas fisicamente em tela. Uma direção de arte rica em detalhes e que atua em estreita parceria com a equipe de direção de fotografia. A cenografia é magnífica, pois tudo no filme se destaca, como os cenários, os objetos trazidos para compor os cenários (completamente fiel aos anos 40). Os figurinos de Luís Sequeira (indicado ao Oscar) estão um luxo de beleza, se destacando bem em cada um dos personagens, principalmente nas damas que compõem toda história (o que dizer dos vestidos estonteantes da Cate Blanchett). A trilha sonora de Nathan Johnson é boa, até se destacada em cena, mas nada comparado com a trilha sonora de Alexandre Desplat (campeão do Oscar pela "A Forma da Água"), mas ainda ele conseguiu uma indicação no Critics.
Bradley Cooper dá vida ao Stanton "Stan" Carlisle, um ser trapaceiro, mesquinho, vigarista, manipulador, charlatão, aproveitador. É interessante acompanhar às mudanças de personalidades na atuação do Cooper, que se inicia mais branda, mais curiosa, dado ao momento, logo após ele muda totalmente a chavinha, já nos mostra uma personalidade obscura, maquiavélica, ardilosa, totalmente inversa do seu início. Cooper dá um show em cena, é realmente impressionante como ele está bem no personagem.
Cate Blanchett não atua, ela dá aula! É praticamente impossível apontar um filme em toda a sua carreira que ela esteja no mínimo mediana em cena. Em "O Beco do Pesadelo" Cate dá mais um show de atuação, mais uma aula de interpretação na pele da intrigante Doutora Lilith Ritter, nos apresentando sua faceta misteriosa, complexa, excêntrica, adentrando no nosso psicológico, e nos comprando com um sorriso letal. É muito interessante acompanhar aquele jogo de gato e rato entre ela e o Bradley Cooper. Cate Blanchett é realmente uma belíssima atriz, uma das melhores de todos os tempos (sem nenhuma dúvida). Muito me surpreendeu a Cate está indicada somente no SAG's, na minha opinião caberia sim uma indicação ao Oscar.
Toni Collette é mais uma atriz magnífica que compõe este elenco estrelado. Collette fez a madame Zeena, que interfere diretamente nas primeiras decisões do Stan, sendo a grande responsável em instigar todos os seus desejos e ambições. Collette participa somente do primeiro ato do filme, porém ela nos entrega o que sabe fazer de melhor na arte de atuar (é sempre um grande prazer poder contemplar uma atuação da Toni Collette). Rooney Mara fez a Molly, que inicialmente pode até ser considerada como a mocinha inocente da história, mas com o passar do tempo podemos observar que ela não passava de uma cobaia do Stan, sendo que ele se aproveitou de sua inocência amorosa para aplicar os seus golpes e suas traições. Rooney Mara nos entregou uma atuação mais introspectiva, mais contida, sem um grande avanço na personagem, porém ela não esteve mal, conseguiu entregar uma boa atuação.
Willem Dafoe é um verdadeiro gênio da sétima arte e vê-lo atuar é sempre um colírio para os olhos de qualquer cinéfilo. Dafoe deu vida ao personagem Clem, sendo peça-chave na história de vida de Stan e muitas das vezes o confrontando com suas próprias ideias e decisões. Uma atuação completamente soberana de Willem Dafoe. David Strathairn fez o Pete, talvez o personagem mais engraçado, mais extrovertido e mais carismático da história. Sem dúvidas, Pete foi o mentor por trás do Stan, aquele que ensinou os seus truques, que o incentivou a possivelmente seguir este caminho das farsas. David Strathairn é um ator muito carismático, e isto só contribuiu ainda mais para a sua atuação nesse personagem. Ainda tivemos às participações de Ron Perlman (o eterno Hellboy do Del Toro), Richard Jenkins e a Mary Steenburgen, completando este belíssimo elenco.
"O Beco do Pesadelo" foi indicado em 8 categorias no Critics, sendo Trilha Sonora, Efeitos Visuais, Cabelo e Maquiagem, Figurino, Direção de Arte, Fotografia, Direção e Melhor Filme. No BAFTA o longa obteve indicações em Figurino, Direção de Arte e Fotografia. No SAG's obteve apenas a única indicação para a Cate Blanchett. No Globo de Ouro o longa foi completamente esquecido, completamente esnobado em todas as categorias (devo dizer: no irrelevante Globo de Ouro). No Oscar o longa aparece concorrendo nas categorias de Direção de Arte, Figurino, Fotografia e Melhor Filme. O novo longa do Del Toro não teve a mesma força nessa temporada de premiações como foi com "A Forma da Água" lá em 2018, onde ele se sagrou campeão do Oscar de Melhor Filme.
Devo finalizar afirmando que pra mim o Del Toro entregou mais um grandioso trabalho, que entra diretamente no mesmo Hall de "O Labirinto do Fauno" e "A Forma da Água". "O Beco do Pesadelo" é mágico, assustador, surpreendente, complexo, intrigante, psicológico, divertido e acima de tudo - traz a assinatura desse mestre das fábulas e fantasias - Guillermo del Toro! [16/02/2022]
O longa é escrito e dirigido por Aaron Sorkin, e nos retrata diretamente à cinebiografia de Lucille Ball (muito bem interpretada pela talentosíssima Nicole Kidman). A trama transcorre durante uma semana específica de produção da série 'I Love Lucy' (um dos maiores sucessos na TV americana nos anos 50), nos evidenciando como a Lucy Ball se tornou uma das grandes lendas do entretenimento hollywoodiano. Lucy foi uma das maiores personalidades em sua época, uma artista completa, ela foi atriz, comediante, cantora, modelo, executiva cinematográfica, e produtora televisiva norte-americana.
"Being the Ricardos" pode ser interpretado como uma biografia, ou até mesmo um documentário do casal Lucille Ball e Desi Arnaz (Javier Bardem), pois acompanhamos diretamente todo o processo de criação pelo qual cada um é submetido ao longa de suas vidas, desde suas descobertas, passando pelas suas pretensões, almejando às suas ambições, até chegar em suas inevitáveis frustrações. Somos confrontados com os bastidores de gravação do sitcom 'I Love Lucy', juntamente com a inevitável crise no casamento, o que poderia colocar em risco (e até arruinar) a vida profissional de cada um. Ainda acompanhamos a surpresa da descoberta da gravidez da Lucy (durante o programa), e a acusação de comunista que lhe caiu sobre os ombros.
Particularmente eu prefiro o Aaron Sorkin como roteirista do que diretor, e isso está muito evidente nos roteiros que ele assina em "Steve Jobs", "O Homem que Mudou o Jogo", "Jogos do Poder", e ganhando o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por "A Rede Social", em 2011. Já em direção, Sorkin nos entregou obras que pra mim são completamente contestáveis, como "A Grande Jogada", de 2017, e o próprio "Being the Ricardos". Não posso falar de "Os 7 de Chicago" porque ainda não assisti.
Eu não conheço a fundo a biografia de vida da Lucille Ball, portanto eu não posso afirmar sobre os acontecimentos que permeia o roteiro do longa de Sorkin, ou até mesmo sua ordem cronológica dos fatos que nos foi entregue, mas acredito que o Sorkin utilizou uma liberdade criativa em seu roteiro, e de certa forma misturou vários pontos entre si, tentando focar em vários acontecimentos naquela única semana da vida da Lucy, que pra mim ficou um tanto quanto perdido e meio desconexo. O roteiro em si tenta focar no drama, na ambição, na incerteza, mas depois já romantiza, já suaviza, e entra com uma válvula de escape mais leve (em certas partes soando até mais cômico). E o roteiro ainda vai mais além, quando tenta tocar em uma certa parte política, se utilizando apenas como um mero elemento de discurso, ao nos apresentar a acusação sobre o comunismo da Lucy Ball, mas de uma forma totalmente vaga, vazia, sem um aprofundamento, me soando apenas como uma parte obrigatória do roteiro que deveriam mencionar de alguma forma.
Acredito que o Sorkin quis focar em vários acontecimentos da vida da Lucy Ball, mas faltou tempo (até tempo de duração do filme), faltou desenvolvimento, e o tiro saiu pela culatra, acabou ficando um roteiro sem coesão e sem harmonia (e ainda está concorrendo nas premiações deste ano....estou pasmo!). Definitivamente este novo trabalho do Aaron Sorkin não me pegou, não me cativou, não consegui me conectar, não consegui me envolver com a trama, em todos os momentos eu estava com aquela sensação de que faltava alguma coisa. Por ser um roteiro baseado em uma história real (que poderia agradar mais facilmente), eu achei a história chata, maçante, monótona, chegando até a me entediar (principalmente no primeiro ato).
A fotografia do longa é muito boa, fazendo um bom uso do preto e branco, se destacando ainda mais com aquele contraponto entre às cenas coloridas e às cenas em preto e branco. A trilha sonora de Daniel Pemberton é boa, está aceitável, com destaque maior paras às cenas em musicais e cantadas pelo Javier Bardem (Daniel Pemberton ainda conseguiu uma indicação no BAFTA). Apesar que eu ainda senti uns pequenos (porém notáveis) problemas de montagem e edição.
O principal (e único) ponto positivo no longa está justamente no elenco. Nicole Kidman é uma das melhores atrizes de sua geração e nunca nos decepciona. Kidman dá uma personalidade bem estruturada e muito segura para a sua interpretação dessa personalidade tão influente em sua época, Lucille Ball. Kidman está leve, solta, alegre, se diverte em cena, nem parece uma atuação. Kidman está em perfeita harmonia e sintonia com Javier Bardem, alcançando uma ótima química em cada cena que nos era apresentada. Nicole Kidman já levou este ano o Globo de Ouro e está concorrendo no SAG's, Critics, sendo totalmente esnobada no BAFTA. No Oscar ela integra a lista de Melhor Atriz, e na minha opinião, com chances claríssimas de levar o prêmio (uma das favoritas).
Javier Bardem conversa diretamente com a Nicole Kidman, pois juntos eles tiveram às melhores atuações do longa. Bardem dá alma, dá definição, dá uma direção muito bem ajustada em sua interpretação na pele do cubano Desi Arnaz, onde ele se destaca atuando, performando, cantando e até arriscando uns pequenos passos de dança. Uma atuação rica em detalhes, com um timing perfeito e um resultado muito satisfatório, que lhe rendeu indicações no Globo de Ouro e no SAG's, sendo esnobado no BAFTA e no Critics. No Oscar Bardem também está indicado, mas a meu ver, completamente fora da disputa entre Benedict Cumberbatch, Andrew Garfield e Will Smith (meu favorito).
J. K. Simmons é um ator que eu gosto muito, já tive experiências incríveis com ele, como em "Whiplash", de 2014, onde ele entrega uma atuação que me deixou boquiaberto até hoje. Aqui ele nos entrega um personagem bastante curioso e intrigante, mas que funciona perfeitamente em cena, e principalmente no que o roteiro lhe impõe. Gostei da atuação do J. K. Simmons em "Being the Ricardos", não está no mesmo nível de "Whiplash" (muito óbvio), mas já lhe garante uma indicação de Coadjuvante no Oscar, que na minha opinião, ficará apenas como lembrança, mas dificilmente ele terá forças para ganhar. (ele também está indicado no Critics)
É realmente impressionante como os serviços de streeming vem ganhando, a cada ano, mais força e destaques nas premiações: como a Netflix este ano com "Tick, Tick... Boom!", "Não Olhe para Cima" e "Ataque dos Cães", e a Apple TV com "A Tragédia de Macbeth". "Being the Ricardos" é a nova aposta da Amazon Prime para esta temporada de premiações, porém o longa do Aaron Sorkin corre bem por fora, obtendo pouquíssimas indicações: no SAG's o filme teve apenas uma indicação para o Javier Bardem. No Critics obteve apenas três indicações - para a Nicole Kidman, J. K. Simmons e Roteiro Original para o Sorkin. No BAFTA o longa obteve nomeações de Roteiro Original e Trilha Sonora (esnobando todos do elenco). No Globo de ouro o longa ganhou a estatueta com a Nicole Kidman e obteve mais duas indicações, Ator e Roteiro. Uma das poucas vezes em que eu concordei plenamente com às indicações do Oscar, foi em "Being the Ricardos", pois pra mim o filme falha em vários pontos e acerta somente em três, que são exatamente os três indicados ao Oscar, Ator, Ator Coadjuvante e Atriz.
"Being the Ricardos" é um filme bem mediano, bem fraco, que pra mim não funcionou em praticamente nada, salva-se o elenco. Aaron Sorkin já domina os roteiros (em produções passadas), mas falta evoluir como diretor, falta acertar a mão, falta nos apresentar um trabalho que salte aos nossos olhos também em direção. "Being the Ricardos" se segura apenas pelos seus protagonistas, pois é muito claro que o objetivo traçado pelo Sorkin não foi alcançado.
Não posso deixar de mencionar uma cena do filme que aparece uns belos quadros da sétima arte ao fundo que são: "Suspicion", de 1942, do Alfred Hitchcock / "Stromboli", de 1951, do Roberto Rossellini / "Swing Time", de 1936, do George Stevens / "Top Hat", de 1935, do Mark Sandrich. [12/02/2022]
"West Side Story" é um remake do filme de 1961, dirigido por Robert Wise e Jerome Robbins, sendo uma adaptação do musical da Broadway, de 1957, de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim. O longa é magistralmente dirigido pelo gênio Steven Spielberg, com com roteiro de Tony Kushner, sendo vagamente baseado no romance de Romeu e Julieta, de William Shakespeare. O próprio roteirista, Tony Kushner, disse que esperava que este roteiro se aproximasse mais da adaptação da Broadway, do que da própria adaptação do filme de 1961.
"West Side Story" pode ser considerado um conto, uma passagem, uma peça teatral, um musical, porém com uma boa dose de drama, de romance, de forma leve, singela, divertida, extrovertida, mas tocando diretamente (ou indiretamente) em pontos como o racismo, a desigualdade social, o preconceito racial, o preconceito cultural, a intolerância, os conflitos de identidade, a violência contra os imigrantes, a discriminação feminina e até o assédio. O que realmente me surpreendeu foi a forma adotada para explicitar estes pontos que eu destaquei, com uma forma ácida, porém leve, sem pesar a mão, sendo desenvolvido e nos entregue diretamente de dentro das peças e coreografias musicais, o que de certa forma nos imergia e nos envolvia cada vez mais com toda a história que estava sendo contada.
Steven Spielberg é um verdadeiro gênio da sétima arte e estamos diante de mais uma prova disso. A forma como ele dirige as cenas, como ele tem todo o elenco nas mãos, juntamente com um trabalho de câmeras, onde tínhamos a exata sensação de que a câmera estivesse realmente dançando e acompanhando cada passo das coreografias - é uma coisa magnífica! A forma como Spielberg nos entrega todo o seu trabalho sendo filmado, contracenado, interpretado e atuado diretamente de uma película dos anos 60. Exatamente mais um ponto muito positivo de todo o trabalho desenvolvido pelo o Spielberg, pois estamos diante de uma obra totalmente inspirada e influenciada nos próprios filmes dos anos 60. É impressionante como tudo se conversa entre si, por exemplo: a fotografia do mestre Janusz Kamiński (responsável pela as fotografias de pérolas como "A Lista de Schindler", "O Resgate do Soldado Ryan" e "Cavalo de Guerra") está totalmente imersa nos trabalhos de câmeras do Spielberg, uma conversa com a outra, pois temos uma fotografia completamente absurda em "West Side Story" (nota 10 para a direção do Spielberg e a fotografia do Kamiński).
A coreografia de Justin Peck é mais um ponto positivo no longa, pois as combinações de coreografia + fotografia + movimento de câmera são absurdas de tão genial. "West Side Story" é muito bem coreografado, muito bem dançado, muito bem cantado, muito bem atuado, muito bem interpretado, tudo funciona de forma leve, delicada e prazerosa. As músicas são muito boas e muito gostosas de ouvir e acompanhar, com um destaque para a canção "In America" (impossível não vibrar com esta música). Exatamente um dos pontos alto do filme, a trilha sonora, que está incrível e muito bem encaixada e amarrada na trama. A trilha sonora de "West Side Story" é primorosa, rica, abrangente, influente, que com certeza eu buscarei para guardar com muito carinho.
A direção de arte é ótima e trabalha em completa harmonia com a fotografia. A cenografia é estupenda, pois acompanha com muita perfeição os cenários, os objetos de cena, os figurinos, suas cores e seu tratamento estético. Como não se maravilhar com todo carinho e atenção que nos foi entregue os detalhes como os carros, as ruas, as lojas, os figurinos (méritos para Paul Tazewell), tudo muito bem feito e totalmente fiel à Nova York dos anos 50 e 60. A edição de som de Gary Rydstrom (campeão do Oscar por "O Exterminador do Futuro 2", "Jurassic Park", "Titanic" e "O Resgate do Soldado Ryan") também é muito boa e se destaca ao longo das apresentações musicais. A montagem de Michael Kahn ("Poltergeist" e "A Lista de Schindler") é muito bem feita e muito bem arquitetada.
O longa do Spielberg beira a perfeição, porém, devo destacar dois pontos que me incomodaram: primeiro, a forma como foi retratado o romance entre Tony (Ansel Elgort) e Maria (Rachel Zegler) me soou vazio e sem um desenvolvimento que pudesse nos convencer diretamente. Eles praticamente já se conhecem e se apaixonam instantaneamente, não tem um aprofundamento, não tem um tempo de eles sequer se conhecerem melhor, dessa forma me pareceu um pouco forçado (tudo bem que o romance foi vagamente inspirado em Romeu e Julieta). Segundo, a tradução das legendas para o português nas partes dos musicais ficaram totalmente desconexas, ao ponto de me irritar ao querer acompanhar a tradução do que estava sendo cantado. Acho que a forma que eles tentaram traduzir as rimas para o português que não deram certo.
O maior destaque do longa é sem dúvidas a Ariana DeBose, o filme é praticamente dela. Ariana é uma atriz completa, ela canta, dança, interpreta, atua, contracena, faz tudo com muita segurança, com muita entrega, com muita voracidade, com muito carinho, nos entrega uma atuação completamente magnífica na pele da Anita. Típica atuação impecável, sem um erro, sem um deslize, domina completamente a personagem, ocupa toda a tela com muita dignidade e grandeza - que atuação da Ariana DeBose senhoras e senhores! Ariana está indicada em todas as premiações desse ano, incluindo o Globo de Ouro (que ela já levou a estatueta), SAG, Critics, BAFTA e Oscar. Ouso a dizer que no Oscar ela é a principal favorita ao prêmio da noite, por mais que eu tenha adorado a Kirsten Dunst (Ataque dos Cães) e a Jessie Buckley (A Filha Perdida), acho que dificilmente ela perca o Oscar de Atriz Coadjuvante.
Rachel Zegler é uma jovem atriz que me encantou desde a sua primeira cena no filme. Ela é doce, bela, delicada, primorosa, carismática, graciosa, meiga, que atua com o coração, com muita leveza, com muita dedicação, com muita atenção. Zegler tem uma voz muito doce ao cantar, tem um olhar muito profundo ao atuar, é de uma sutileza e uma singularidade tão bela que me deixou completamente apaixonado por ela (estou muito curioso para vê-la em "A Branca de Neve e os Sete Anões"). Zegler levou o Globo de Ouro e está indicada a Melhor Revelação no Critics. Torcerei muito por ela, apesar de ter amado a Emilia Jones (CODA) e adorado a Saniyya Sidney (King Richard).
O que me chamou a atenção foi na cena em que a Rachel Zegler e a Ariana DeBose estavam cantando e olhando fixamente uma para a outra, as suas expressões, os seus olhares, a forma como elas estavam realmente cantando exatamente naquele momento, sem o uso da dublagem, elas estavam realmente cantando e atuando uma com a outra na mesma hora em que ambas estavam sendo filmadas - maravilhoso!
Ansel Elgort foi um ator que me chamou muita a atenção em "Baby Driver" - 2017. Lá já podíamos notar esta sua veia para musicais, esta sua competência para atuar e cantar, e aqui está totalmente comprovado. Elgort tem um papel muito importante na trama, principalmente por querer se livrar das marcas do seu passado e pela paixão que acaba de se acender pela a Maria. Queria muito que este casal tivesse mais química, tivesse sido mais explorado, eles tinham muito mais para entregar do que de fato foi entregue.
Rita Moreno foi um grande acerto do Spielberg, pois vê-la em cena só aumentou a nossa emoção e satisfação em acompanhar este remake de "West Side Story". Rita Moreno interpretou a Anita na versão de 1961 e levou o Oscar pela sua atuação.
Mike Faist foi uma grata surpresa, pois não o conhecia, não sabia que ele era este ótimo ator. Ótima atuação, o que lhe rendeu uma indicação ao BAFTA. Assim como o próprio David Alvarez (também não o conhecia), que esteve muito bem em cena ao contracenar com a Ariana DeBose, ótima química entre os dois, principalmente entre as coreografias musicais.
"West Side Story" levou as estatuetas no Globo de Ouro por Atriz Coadjuvante (Ariana DeBose), Atriz (Rachel Zegler) e Melhor Filme Comédia/Musical (que eu concordo plenamente). Em direção o Spielberg perdeu a estatueta para a Jane Campion (que eu concordo mais uma vez). No Critics o longa lidera as indicações (juntamente com "Belfast"), sendo para Figurino, Edição, Design de Produção, Fotografia, Roteiro Adaptado, Direção, Elenco, Revelação (Rachel Zegler), Atriz Coadjuvante (Ariana DeBose) e Melhor Filme. No SAG o filme tem apenas a indicação de Atriz Coadjuvante para a Ariana DeBose. No BAFTA o longa aparece indicado em Som, Design de Produção, Elenco, Ator Coadjuvante (Mike Faist) e Atriz Coadjuvante. No Oscar o longa obteve 7 indicações, incluindo as principais categorias, Atriz Coadjuvante, Direção e Melhor Filme.
O ano de 2022 está sendo o ano que está me fazendo quebrar todos os tipos de preconceitos que eu tinha pelos musicais. Pois este ano já fui surpreendido positivamente pelo maravilhoso "Tick, Tick... Boom!" e agora com esta bela obra do Spielberg. "West Side Story" é uma belíssima peça teatral em forma de musical, uma ótima readaptação, uma obra completamente magnífica, beirando a perfeição dos musicais.
"West Side Story" vem muito forte no Oscar, é sim um filme para ficarmos de olho, principalmente nas categorias principais (onde eu acho que o filme ganha mais força). Nas categorias técnicas eu acho que o longa pode angariar algumas estatuetas (como em fotografia e som). Já na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, eu acredito que ninguém tira o prêmio das mãos da Ariana DeBose. Em direção eu acho que teremos uma briga muito boa entre a Jane Campion e o Steven Spielberg (como já aconteceu em 1994, quando o Spielberg levou a melhor pela "A Lista de Schindler"), mas também não devemos desconsiderar os outros concorrentes e principalmente o japonês Ryûsuke Hamaguchi, de "Drive My Car". Já em Melhor Filme que teremos o grande embate da noite, e eu coloco "West Side Story" como um dos principais favoritos ao maior prêmio da noite, pois não podemos esquecer que a sua versão de 1961 levou o Oscar de Melhor Filme, e os americanos amam premiar os musicais. [09/02/2022]
Perdidos no Espaço - 3ª Temporada (Lost in Space - Season 3)
"Perdidos no Espaço" foi uma série que me atraiu logo de cara, até por se tratar de um tema que eu sempre gostei de acompanhar, o sci-fi, e pensando exatamente nessa temática, a série tinha tudo pra funcionar, tudo pra dar certo, mas não foi isso que aconteceu ao longo das 3 temporadas.
A premissa da série era muito boa, até por se tratar de um reboot da série homônima que rodou nos anos 60, mas infelizmente nada aqui funciona, nada se concretiza e tudo vai por água abaixo. A série não funciona como drama, não funciona como aventura, não funciona como uma exploração, não funciona como família, é tudo muito perdido, muito bagunçado, sem coesão, sem originalidade, sem aprofundamento. O roteiro é o ponto mais falho de todas as temporadas, e aqui não é diferente. O roteiro é raso, sem desenvolvimento, desconexo, mal escrito, mal projetado, que vive tentando se achar, tentando se acertar, mas que falha miseravelmente em tudo que se propõe a fazer dentro da série.
A terceira temporada de "Perdidos no Espaço" não funciona como uma série dramática, pois ao longo dos episódios temos inúmeras tentativas de nos conectarmos com o drama de cada personagem, mas sem um aprofundamento, sem um desenvolvimento, não conseguimos se importar com ninguém, não conseguimos ter empatia por ninguém, não torcemos por ninguém. A temporada ainda falha brutalmente ao querer (mais uma vez) explorar um arco pessoal de alguns dos personagens, como uma forma de comprar a nossa simpatia, mas fica uma coisa tão desconexa, tão acelerada, tão rasa, tão fria, que chega a dar vergonha alheia. A série não funciona como aventura, pois as partes em que realmente eles são colocados em perigo, que poderia render uma grande aventura espacial, vira um total clichê, não somos surpreendidos, pois já sabemos que com a família Robinson tudo vai dar certo no final e eles não sofrerão nenhuma consequência. A série não funciona como exploração, pois temos episódios que poderiam facilmente render uma boa dose de exploração, como nos planetas, nas naves perdidas, em personagens novos (exatamente por ser uma série sci-fi), mas tudo é mal explorado, sem um objetivo claro e trazido de forma muito simples.
Até como família a série falha, pois não temos aquele laço familiar, aquele verdadeiro vínculo afetivo: que por mais que a mãe se preocupasse com os filhos, que o pai se importasse em proteger os filhos, que os irmãos se preocupassem uns com os outros, mas tudo é feito de uma forma banal, fria, sem aquela química, sem aquele carisma que realmente nos fizesse se importar com aquela família, nos preocupar com aquela família, torcer pela aquela família, que até se algum dos membros da família viesse a morrer ao final da temporada, não nos causaria nenhum impacto.
O elenco é outro ponto falho e muito desconexo dentro da trama. Eu reclamei da Dr. Smith (Parker Posey) em todas as temporadas e aqui não será diferente. Pra mim uma personagem sem o total sentido dentro da série, que inicialmente (na temporada 1) foi colocada como uma espécie de antagonista fajuta, logo após (temporada 2) foi tachada como heroína ao final, e agora ela retorna (quando achávamos que estivesse morta) unicamente pra compor o elenco, sem a menor necessidade e totalmente perdida. É triste ver uma atriz do calibre da Parker Posey (uma das principais atrizes do cinema independente norte-americano) em um projeto tão mesquinho e com uma personagem tão perdida e desconexa (deixando bem claro que ela não teve a menor culpa, pois a sua personagem foi mal escrita e mal encaixada dentro desse péssimo roteiro).
Maxwell Jenkins passou as três temporadas tentando se achar, tentando se acertar com o personagem Will Robinson, mas não funcionou, não se achou, ao contrário, virou um personagem chato, irrelevante, vazio, que ao final ainda tivemos a tentativa furada do roteiro em comprar a nossa simpatia por ele (pelos seus acontecimentos), mas que definitivamente soou piegas demais. Toby Stephens é mais um talento desperdiçado dentro da temporada (e de toda a série). Seu personagem John Robinson até funciona como a figura de um pai, de um protetor para com a sua família, mas suas ações e suas decisões são tão confrontadas dentro da série, ao ponto de nos perguntarmos qual era o seu verdadeiro propósito ali. Toby Stephens não está bem no personagem, não entrega uma boa atuação, ao contrário, sua interpretação soa como vazia, desprovida de sentimentos e com o passar dos episódios, ela só vai esfriando cada vez mais.
Molly Parker, Taylor Russell e Mina Sundwall ainda salvam o elenco. Maureen Robinson (Molly Parker) esteve bem nas duas temporadas anteriores e nessa terceira ela ainda se mantém praticamente no mesmo nível. Maureen sempre esteve um pé à frente dos problemas, sempre se portava como uma pessoa sagaz, astuta, inteligente, decidida, pra mim a melhor personagem dentro de toda a série. Molly Parker entrega uma boa atuação, nada estratosférico, mas consegue nos chamar a atenção pela sua interpretação. Penny Robinson (Mina Sundwall) ainda consegue manter aquela personagem que eu comecei a gostar na segunda temporada, ela vem em uma crescente e até consegue alguns destaques, apesar de achar que nessa temporada ela está mais preocupada em moldar a sua vida adolescente (relacionamentos e afins). Judy Robinson (Taylor Russell) é a segunda melhor personagem da série. É muito bom ver o crescimento da Judy dentro de cada temporada, pois na primeira ela não teve muito destaque, na segunda ela cresceu muito, e nessa terceira ela está ainda melhor. Judy é muito inteligente, muito decidida, muito perspicaz, age na hora certa, toma decisões na hora certa e se tornou uma figura de muita relevância dentro do contexto de toda série. Eu gostei muito da forma de atuar da Taylor Russell, acho que se ela escolher bem os seus papéis daqui pra frente, ela só tem a crescer cada vez mais.
Tecnicamente a série continua muito boa! Os efeitos visuais continuam em alto nível, o CGI é muito bem trabalhado, os efeitos especiais é bem explorado (como no caso do próprio robô), a fotografia é excelente e muito bem executada em praticamente 100% do tempo, a cenografia é de cair o queixo e está totalmente perceptível em todos os cenários (principalmente dentro das naves). E por fim a trilha sonora, que agrega muito bem dentro da série e acompanha bem cada episódio (com um destaque maior para o tema de abertura da série).
No mais, "Perdidos no Espaço" era uma série muito promissora, que nos despertava diversas curiosidades sobre o tema, que nos instigava sobre a ficção cientifica que está inserida dentro da série, que possuía todos os requisitos para dar certo, mas a série se tornou melodramática, piegas, enfadonha, onde carece de ritmo, carece de imersão, e que definitivamente não deu certo e se tornará facilmente esquecida. [07/02/2022]
O primeiro longa dirigido e roteirizado pela Maggie Gyllenhaal (casada com Peter Sarsgaard e irmã do Jake Gyllenhaal) é uma produção original Netflix, baseado no livro de mesmo nome escrito por Elena Ferrante.
"A Filha Perdida" é um filme difícil, profundo, misterioso, que nos incomoda, nos confronta com várias realidades e suas experiências traumáticas, como a obsessão e a sua forma de retratar a maternidade, que não segue em uma linha cronológica, que muita das vezes nos confunde, por terem acontecimentos atrasados e adiantados em um curto espaço de tempo (típica produção que não segue aquela linha de começo, meio e fim). A própria protagonista, Leda (Olivia Colman), é tão perdida e confusa na trama quanto nós, pois observamos suas nuances, seus traumas, suas alegrias, seus sofrimentos, suas frustrações, de uma forma totalmente misturada e de certa forma até bagunçada. O elenco em si também é confuso, parece que eles estão ali unicamente para nos confundir sem um propósito e confundir a cabeça da própria Leda. De certa forma podemos aprender com as experiências de vida da Leda: que você nunca conseguirá viver sempre seguindo uma linha reta (como na clara alusão na cena em que ela descasca a laranja sem deixar que a sua casca se quebre, e ainda ela ensina isso para a sua filha ), não existe uma cartilha que devemos seguir à risca, devemos vivenciar nossos medos e traumas e confrontar os nossos próprios fantasmas.
Por outro lado o longa ainda peca em vários pontos: como o fato do roteiro ser de certa forma bagunçado e se perder em algumas partes. A forma como o roteiro aborda alguns pontos dentro da trama soa como confuso, deixando aquele emaranhado de perguntas em nossas cabeças e sem explicações - como o fato do contraponto que o longa faz com os flashbacks entre a Leda jovem (Jessie Buckley) e a Leda da meia-idade (Olivia Colman). A narrativa por sua vez também é confusa, falta ritmo, falta imersão, não conseguimos se apegar por ninguém, falta empatia, falta química, o que irá dificultar muito a experiência como um todo, soando até como monótono em algumas partes e se retratando como uma obra sem alma.
Os pontos positivos são: A direção da Maggie é incrível, a forma como ela conduz os takes, os focos, que muita das vezes eram diretamente tomado da própria visão da protagonista, como se nós estivéssemos vivenciando o drama da Leda pelos seus próprios olhos, pela sua própria perspectiva. Assim como os planos mais abertos e principalmente os mais fechados, que davam os focos exatamente nos rostos dos personagens, mostrando perfeitamente as suas diferentes expressões (aproximando bem a câmera). A Maggie dirige o seu longa de uma forma singela, com uma sensibilidade em retratar a mensagem que ela queria nos passar, sem a necessidade de entrar em um discurso que poderia soar como piegas. A fotografia também merece destaque, pois acompanha e casa perfeitamente em cada cena, se mostrando ainda mais explorável e perceptível nos takes mais abertos da Maggie nas cenas da praia. Já a trilha sonora é mediana, não chega a se destacar, mas também não chega a comprometer, é uma trilha mais tímida, mais pacata, dado o contexto do longa. Nessas condições eu considero a trilha sonora como um ponto positivo.
Gostei bastante das atuações e considero mais um ponto positivo! Olivia Colman é uma atriz maravilhosa e o que ela nos entrega aqui é claramente mais um grande trabalho. Colman dá vida a uma mulher introspectiva, solitária, amargurada, que esta arrasada pela as suas próprias memórias do passado, mas em contrapartida ela se mostra com uma personalidade forte, muito particular, que carrega uma individualidade que a favorece e ao mesmo tempo lhe prejudica. Colman pode até ter atuações melhores (como em "A Favorita" que lhe rendeu o Oscar), mas aqui ela está diferente do que esperamos, fora do trivial, e ao meu ver a sua atuação tem um tom solitário que funciona muito bem casado com a sua dramaticidade. Colman foi indicada em várias premiações e na minha opinião cabe sim a sua indicação, pelo menos para destacar este belo trabalho, vale como lembrança.
A linda Dakota Johnson traz uma personalidade ambígua para a sua personagem, com uma profundidade no olhar que transmitia toda sua insegurança, sua vulnerabilidade, sua instabilidade, seus medos, suas dores, suas aflições. Era como se a Nina se espelhasse na Leda (Colman) e vice e versa, como se uma fosse a experiência da outra, onde a própria Leda conseguia ver o seu passado através da Nina. Confesso que não sou de acompanhar os trabalhos da Dakota, mas aqui ela me surpreendeu positivamente, ela está ótima na personagem e tem uma atuação muito digna.
Jessie Buckley é outro grande destaque no longa. Jessie faz a Leda mais jovem, que parecia não estar pronta para lidar com a maternidade, que aparentemente não possuía os instintos maternos, ou aquela aptidão para ser mãe, tão logo de duas filhas. Leda também tinha suas nuances e aflorava todos os seus sentimentos, explicitando as suas inseguranças. Jessie tem uma ótima atuação, muito bem executada, performada, fazendo aquele contraponto muito interessante da sua Leda jovem para com a Leda mais de meia-idade da Colman. Jessie está indicada no BAFTA e eu concordo com a sua nomeação, mas acho que dificilmente ela levará, ficará apenas como lembrança.
Temos algumas alusões, menções, citações ao decorrer do filme que constantemente nos obriga a tirar as nossas próprias interpretações/conclusões. Eu tirei minhas próprias conclusões e fiz as minhas próprias interpretações. Agora se está certo ou errado, se vão concordar ou discordar....enfim!!!
Na cena em que a Leda (Colman) conversa com a Nina funciona como uma espécie de terapia, para ambas, sendo exatamente o momento em que você começa a ligar as pontas soltas, começa a fazer sentido aquela sua obsessão pela Nina como mãe de uma criança, até pelo fato da Leda revelar para a Nina que abandonou as suas filhas por 3 anos quando elas ainda eram crianças. Isso fez aflorar seus pensamentos e suas lembranças do passado, pelas suas lembranças lhe machucar e seus pensamentos lhe corroer por dentro. Sem falar que é uma bela performance da Olivia Colman, por toda sua dramaticidade entregue nesta cena.
Na cena em que a Leda (Colman) decidi partir em busca da filha da Nina que se perdeu (ou a própria Leda a tomou pra si), funciona com uma espécie de objetivo de mãe frustrada, como se sair em busca daquela criança que se perdeu fosse de alguma forma aliviá-la de seus traumas e fantasmas do seu passado, até por a própria Leda ter abandonado as filhas.
A cena em que a pinha cai diretamente nas costas da Leda (Colman), deixando uma marca, um machucado (como uma marca da vida pelo o que ela passou), que logo em seguida é amenizado pela Callie (Dagmara Domińczyk), mas unicamente pelo fato da Leda ter encontrado a filha perdida da Nina. Parece uma forma politicamente correta de se recompensar um bem que você fez para outra pessoa em sua vida, mas com um conceito estereotipado, ou de uma forma vulgar, falsa, fria, como se fosse uma obrigação o fato da Callie passar a pomada para aliviar o machucado da Leda, unicamente pelo "bem" que ela fez para todos, mesmo sem o claro interesse (se é que podemos considerar dessa forma).
O fato da Leda (Colman) ter roubado a boneca da filha da Nina me parece mais uma alusão a maternidade (ou por tudo que ela passou), até pelo fato da Nina querer proteger sua filha como mãe e sua filha querer estar sempre com a boneca. Possivelmente pelo fato da Leda ter abandonado as suas filhas no passado, por querer de certa forma estar com elas como aquela boneca sempre estava com a criança. Parece que realmente a Leda falha como mãe até em posse da boneca, pois tem cenas em que ela entra em constantes conflitos com a boneca, como na cena em que ela joga a boneca pela janela e ela se quebra toda ao chegar ao chão, ou o fato de ela jogar a boneca no lixo e depois se arrepender, exatamente como ela abandonou as suas duas filhas e depois se arrependeu amargamente. Também fico me perguntando se a filha perdida pudesse de certa forma ser aquela boneca, como uma espécie de alusão que o filme faz com a Leda, até pelo fato da boneca estar em evidência o tempo todo em quase todas as cenas, e mais em posse da Leda do que da filha da Nina. Também cheguei a cogitar que a filha perdida pudesse ser a própria Nina, ou não, enfim!
A cena inicial e a cena final (quando a Leda cai na beira da praia), eu fiquei me perguntando se tudo aquilo realmente existiu, ou se ela realmente morreu, ou se tudo não passou de uma ilusão.
No Globo de Ouro o longa foi indicado em Direção (Maggie) e Atriz (Colman). No SAG obteve apenas a indicação para a Olivia Colman. No Critics está indicado em Atriz para Colman e Roteiro Adaptado para Maggie. No BAFTA (recentemente anunciado) o longa está indicado em Atriz Coadjuvante para Jessie Buckley e Roteiro Adaptado para a Maggie, esnobando a Olivia Colman, que até então vinha sendo indicada em todas as premiações.
Em seu trabalho de estreia como diretora e roteirista, Maggie Gyllenhaal já nos entrega um longa que dividi inúmeras opiniões, aquele típico 8 ou 80, ame ou odeie. Por mais que o filme peque no roteiro e na narrativa, eu gostei das atuações, das alusões e da direção. No final o longa ainda nos entrega um final ambíguo, livre de amarras, fora do trivial, que você pode facilmente tirar as suas próprias conclusões do que de fato aconteceu com a Leda. Pra mim "A Filha Perdida" é um filme muito subjetivo, que com certeza vai decepcionar uma pessoa e agradar uma outra, já eu fico no lado que se agradou com o filme. Pra mim o longa da Maggie Gyllenhaal tem o saldo mais positivo do que negativo.[05/02/2022]
"CODA" é dirigido e roteirizado pela americana Sian Heder, o longa é uma refilmagem americana em inglês do filme francês, La Famille Bélier de 2014, dirigido por Éric Lartigau. O nome original do filme, CODA, é a sigla que significa "Child of Deaf Adults" ou "Filho de Adultos Surdos", ou também pode significar uma passagem final da música em uma composição.
"CODA" é uma obra tocante, singela, intimista, singular, realista, verdadeira, que vai te emocionar, vai te fazer sorrir, ao mesmo tempo em que nos concentramos e torcemos com os números musicais. O longa uni a comédia, o drama e a música com muita maestria, pois ao longo da trama temos vários momentos cômicos por parte da família Rossi, em contrapartida, temos todo o drama vivido pela própria família e pela própria Ruby (Emilia Jones), com a sua decisão em continuar ajudando sua família ou ir atrás dos seus sonhos. O longa ainda toca (de uma forma mais leve) em pontos como a inclusão na sociedade das pessoas 'surdas-mudas', nos mostrando verdadeiramente como são o dia a dia dessas pessoas, como elas vivem em uma sociedade preconceituosa e prepotente, tendo que se adequar aos ambientes e enfrentar todas as suas dificuldades.
A direção e o roteiro da Sian Heder é muito bom e muito bem desenvolvido, pois somos confrontados em uma comédia dramática pelo ponto de vista da família Rossi, com um contraponto de amadurecimento, descobrimento, realização, dedicação e perseverança pelo ponto de vista da Ruby. O roteiro pode até ser considerado um clichê, pois inicialmente já imaginamos todo o percurso e o final do longa, e também muitas das coisas que vemos nesse filme, já tínhamos visto em outros. Mas é exatamente nesse ponto que o roteiro nos ganha, pela sua simplicidade e singularidade em contar a sua história, e nesse quesito ele é bem escrito e funciona muito bem.
A forma como a Sian Heder dirige a sua obra é fenomenal, pois ela constrói as cenas com muita objetividade e muita atenção, dando o espaço e o tempo necessário para o desenvolvimento de todo o elenco. As atuações nos cativa e funciona de uma forma tão boa, que fica completamente impossível não se afeiçoar por eles, a empatia é alcançada imediatamente. O elenco de "CODA" é tão bom que facilmente nos apegamos e torcemos por eles, sem tomar partido de nenhum lado da história, unicamente sentimos a dor e a alegria de cada um, se importamos com cada um, queremos proteger cada um. Nesse quesito o roteiro de Sian Heder é totalmente funcional e nos prende gradativamente, espontaneamente, sem o apelo emocional, sem se tornar um caça-lágrimas - o que de fato é muito plausível!
Emilia Jones é um show em cena, um verdadeiro espetáculo, não tem como não simpatizarmos por ela, não se apegarmos a ela. Ruby era a única da família que ouvia e falava normalmente, dessa forma ela era muito importante para o dia a dia de sua família, pois através dela que todos conseguiam se comunicar. Porém, Ruby era uma jovem que estava se descobrindo entre o amor e a sua verdadeira vocação, e queria ir em busca do seu sonho, mesmo que pra isso ela tivesse que se desprender da sua família. Emilia nos entregou uma bela atuação, que transcorreu de forma muito segura na personagem, dosando muito bem os momentos mais dramáticos e mais eufóricos. Emilia Jones é uma jovem atriz que soube se preparar para a personagem: ela passou nove meses aprendendo a linguagem de sinais americana, tendo aulas de canto e aprendendo a operar uma traineira de pesca - realmente uma grande entrega! Emilia está indicada no Critics como Melhor Revelação.
Eugenio Derbez é um ator muito bom, muito bom mesmo! Bernardo Villalobos é o professor de coral que viu o potencial e o talento de Ruby, dessa forma, ele é o principal responsável por aflorar (colocar pra fora) todo o seu potencial vocal. Mr. V também foi o que mais acreditou e incentivou a Ruby a ingressar na faculdade de música. Grande atuação do mexicano Eugenio Derbez, que nos mostrou aquele professor sisudo, mais linha dura, que queria extrair o máximo da perfeição vocal dos seus alunos (principalmente da Ruby). Uma atuação completamente perfeita! Troy Kotsur (que fez o Frank) entrega um personagem com uma veia cômica e outra dramática, e de fato funcionou muito bem, ele soube utilizar de suas vertentes para construir um personagem muito eficaz para o desenrolar de toda trama. Troy ganhou um Gotham Award e foi indicado para o Globo de Ouro, o Critics, o SAG e o Independent Spirit Award. Marlee Matlin (que fez a Jackie) fez o contraponto perfeito com Troy, entregou o papel de mãe verdadeira (do jeito dela) e de esposa dedicada (também da forma dela). Marlee é a única atriz surda a ganhar o Oscar de Melhor Atriz em um papel principal, tendo conquistado o prêmio por sua atuação em "Children of a Lesser God" (Filhos do silêncio de 1986). Daniel Durant (que fez o Leo) completa a família, e mesmo sem entregar uma atuação do mesmo nível do elenco já citado, ele tem uma colaboração direta para o funcionamento de toda engrenagem (a família) na trama. Troy Kotsur, Daniel Durant e Marlee Matlin são surdos e mudos, porém, a Marlee adquiriu a habilidade da fala e já emprestou a sua voz para a série animada "Family Guy" (Uma Família da Pesada de 1999).
Não posso deixar de mencionar as principais cenas do filme, aquelas de maiores destaques, aquelas que realmente engrandece toda a obra de Sian Heder.
O longa se passa quase que inteiramente mudo, se tornando um enorme desafio em cena, principalmente para a Emilia Jones. Porém, devo destacar as belíssimas cenas de diálogos mudos, principalmente uma em específico entre a Ruby e a Jackie, que realmente me prendeu e me conquistou, quando ela estava contando e aconselhando a filha sobre os perigos da vida, ainda mais por ela ser jovem - eu achei sensacional esta cena. A belíssima cena em que o Frank pede para a Ruby cantar para ele e ele coloca a mão na garganta dela, na intensão de sentir as vibrações causadas pela sua voz - cena completamente magnífica! A cena onde a Ruby canta na audição fazendo os sinais para que a sua família (que estava sentada acima) pudesse entender a música, ou, as palavras que ela estava cantando. Outra cena maravilhosa, a cena da apresentação musical, em que a Ruby está cantando com o Miles (Ferdia Walsh-Peelo) e de repente tudo fica em um completo silêncio, nessa hora passamos a acompanhar a sua apresentação pela perspectiva da sua família, pelos olhos dos seus pais. É exatamente nessa hora que observamos eles olhando para as reações das pessoas ao redor, uma forma que eles encontraram de observar que as pessoas de fato estavam gostando da apresentação da Ruby, e que de fato ela era realmente muito boa cantando. E aquela cena final do Troy se esforçando para soltar um tímido "GO", quando se despedia de sua filha. Acho aquela cena de uma beleza sem igual, dentro de tantas belas cenas do filme, esta realmente me tocou verdadeiramente, pela emoção da família em liberar a sua filha em busca do seu sonho, e pela forte emoção que estava explícita no pai em se despedir da sua filha - genial!
"CODA" foi muito aclamado pela crítica e levou o prêmio especial do júri de elenco na competição dramática dos EUA em sua estreia mundial no Festival de Cinema de Sundance de 2021. No Critics o longa aparece nas categorias Roteiro Adaptado (Sian Heder), Revelação (Emilia Jones), Ator Coadjuvante (Troy Kotsur) e Melhor Filme. No SAG está indicado a Melhor Elenco, além da indicação para o Troy a Ator Coadjuvante, e eu vou sem bem sincero: eu daria o prêmio de Melhor Elenco em Filme para o "CODA" no SAG, mesmo faltando eu conferir "Belfast". De fato o belo trabalho da Sian Heder vai lhe render algumas indicações no BAFTA e no Oscar. No Oscar o longa com certeza estará entre os indicados a Melhor Filme, mas sinceramente eu não o vejo como um franco favorito na briga pela estatueta, ao contrário, acho que "CODA" ficará somente com a nomeação, o que não é nenhum demérito, mas acho que o filme corre por fora e não tem forças para brigar pela principal categoria da noite.[30/01/2022]
Eu nunca fui um adpeto à musicais, sempre tive um certo preconceito, um pé-atrás, sendo que o único musical que de fato me conquistou foi "Os Miseráveis". Fui conferir 'Tick, Tick... Boom!' por uma indicação de um amigo e também pela temporada de premiações.
'Tick, Tick... Boom!' simplesmente explodiu a minha cabeça, jamais poderia imaginar como este filme é bom, como ele te conquista, como ele te prende, de uma forma leve, gostosa, prazerosa, que sequer você percebe o tempo passar.
Confesso não conhecer os trabalhos do Lin-Manuel Miranda, mas pelo o que eu pesquisei, sei que ele foi o idealizador e escritor de "Hamilton", além de ser uma artista completo. Miranda é ator, rapper, compositor, dramaturgo, cantor, produtor, letrista, além de já ter ganhado vários prêmios e ter revolucionado a Broadway. Em 'Tick, Tick... Boom!' Miranda nos traz um longa que foi baseado no musical semi-autobiográfico de Jonathan Larson. Larson foi um escritor e compositor de peças mais intimistas, que abordava temas muito delicados como drogas, AIDS e a homossexualidade, assuntos esses que também foram abordados em 'Tick, Tick... Boom!' e 'Rent' (este último eu ainda não conheço).
Lin-Manuel Miranda faz a sua estreia como diretor e nos entrega um excelente trabalho feito com muita dedicação, com muita coesão, com muita atenção, com muito respeito, e como uma forma de homenagear Jonathan Larson em sua própria criação. Steven Levenson nos entrega um belíssimo roteiro onde tudo funciona em perfeita harmonia, tudo muito bem interligado, tudo muito bem transplantado em cena, você não se perde, não se cansa, ao contrário, você é completamente envolvido e imergido na trama de uma forma completamente satisfatória e magnífica.
O longa já começa de uma forma excelente ao nos mostrar o jovem compositor Jon (Andrew Garfield) nos contando sobre o Tick, Tick, o que de certa forma funcionava exatamente como um bomba relógio, que sempre estava em sua cabeça, que sempre nos pegava em cada cena, como se esperássemos sempre o Boom. Curiosamente também ao início temos uma das melhores músicas de todo o filme, que é exatamente a parte em que ele relata o seu medo de chegar aos 30 anos. Me identifiquei demais com esta parte, até por pensar exatamente da mesma forma quando eu estava chegando nos meus 30 anos, aquela fase em que eu estava saindo da juventude para a idade adulta mais velha, ou de certa forma, eu também pensava que estava ficando ultrapassado. Aliás, preciso destacar aqui que todas as músicas do filme são excelentes, eu gostei de todas, vou pesquisar uma por uma pra guardar comigo para sempre.
Pra mim 'Tick, Tick... Boom!' é um musical, mas um musical diferente, que ora nos mostrava o lúdico em contrapartida já nos confrontava com a vulnerabilidade em cena. O longa funciona em duas fases diferentes, inicialmente somos imergidos em um tom mais extrovertido, mais alegre, logo em seguida já caminhamos para um tom mais denso, mais pesado, é exatamente este contraponto entre o drama e a leveza que me cativou no filme. O longa é realmente um musical mais dramático, até por navegarmos no drama do próprio Jon em busca da sua realização pessoal e profissional. Na medida que também somos inseridos no drama da sua namorada Susan (Alexandra Shipp), que também tem seu sonho, seu objetivo e busca realizá-lo, mesmo que pra isso ela tenha que abrir mão do seu relacionamento com o Jon. Também temos o drama do seu melhor amigo Michael (Robin de Jesús), por todas as suas decisões e suas consequências, se destacando como uma das melhores partes de todo o filme ao final. Outro ponto que me deixou maravilhado era como as canções acompanhava cada mudança de tom no filme, ora sendo mais eufórica em momentos mais leve e ora mais pesada em momentos mais dramáticos, fazendo aquele contraponto entre a realidade e a imaginação.
Andrew Garfield é o coração do filme, é impressionante como ele está bem inserido no personagem, como ele atua com a alma, com bastante leveza, simpatia, carisma, sendo extrovertido e dramático nas horas certas. Típico personagem em que nos cria empatia, amor, admiração, euforia, com aquele misto de tristeza e aperto no coração com o decorrer da trama. Andrew é um ator incrível, que já nos entregou maravilhosas atuações como o Padre Rodrigues em "Silêncio" (2016) e o soldado Desmond Doss em "Até o Último Homem" (2017). Em 2017 Andrew ganhou a sua primeira indicação ao Oscar na categoria Melhor Ator pelo seu trabalho estupendo em "Até o Último Homem". Este ano ele já levou o Globo de Ouro de Melhor Ator Comédia/Musical (muito justo por sinal) e está indicado no SAGs e no Critics. No Oscar é o grande ponto em questão, Andrew Garfield com certeza ganhará uma merecida indicação à Melhor Ator, mas concorrerá com atuações de Benedict Cumberbatch e Will Smith, que dificultará muito a sua vitória na categoria. Estou admirado, pois eu não sabia que o Andrew Garfield cantasse tão bem.
Alexandra Shipp também entrega um ótimo trabalho e uma grande atuação. Gostei muito da sua personagem, esteve o tempo todo em perfeita harmonia e obteve uma ótima química com o Andrew Garfield - destaque para a maravilhosa cena musical entre ela e a Vanessa Hudgens (mais uma bela musica do filme). Robin de Jesús é mais um que entrega um grandiosa atuação, mais um que esteve em perfeita harmonia com Andrew Garfield, principalmente no último ato do filme, onde ele chega ao ápice de seu personagem. Bradley Whitford (meu velho conhecido da série The Handmaid's Tale) está bem no filme, ele entrega um personagem com a dosagem certa para todo o desenrolar da trama, gostei muito do seu trabalho. Vanessa Hudgens me surpreendeu positivamente, não imaginava que a sua personagem fosse tão boa no filme, e de fato ela foi excelente (até pelo fato dela já ser cantora, dançarina...enfim!). Temos várias cenas memoráveis da Vanessa durante todo filme: como a sua performance musical na cena junto com o Andrew Garfield, assim como a cena em que ela canta junto com a Alexandra Shipp - sensacional!
'Tick, Tick... Boom!' teve duas indicações no Globo de Ouro, levando a estatueta de Melhor Ator Comédia/Musical para Andrew Garfield e perdendo a estatueta de Melhor Filme Comédia/Musical justamente para "Amor, Sublime Amor". No Critics o longa aparece em duas categorias (Melhor Filme e Ator), e no SAGs somente na categoria de Melhor Ator para o Andrew Garfield. Estou muito curioso nas indicações do Oscar, quero muito saber em quais categorias que o longa aparecerá entre os indicados. Eu aposto nas categorias de Melhor Ator e Melhor Filme, nas demais é uma incógnita, a gente nunca sabe o que se passa na cabeça das pessoas que indicam e que votam na academia.
Assim como "Os Miseráveis" me fez quebrar o preconceito com musicais lá em 2013, 'Tick, Tick... Boom!' me fez quebrar mais uma vez este ano. Eu estou completamente maravilhado com o filme, completamente agradecido ao Lin-Manuel Miranda por nos entregar esta obra musical tão magnífica e tão intimista, completamente agraciado pela bela atuação e entrega do Andrew Garfield. 'Tick, Tick... Boom!' é sim um belíssimo drama musical, que por mais que você não goste de musicais, mas você precisa dar uma chance de ser surpreendido e impactado, assim como eu fui. [25/01/2022]
(Curiosamente eu assisti ao filme hoje, no dia 25 de janeiro, exatamente o mesmo dia em que Jonathan Larson faleceu em 1996)
O longa dirigido por Reinaldo Marcus Green e roteirizado por Zach Baylin realmente nos impressiona pela audácia aplicada em nos surpreender, em nos contar uma história em que possivelmente todos (assim como eu) achavam que seria sobre a vida das duas maiores tenistas da história - Venus e Serena Williams. Até podemos considerar que sim, que o roteiro também abrange o início da vida de cada uma (até mais da Venus), mas o fato que realmente me ganhou e me surpreendeu, é exatamente o foco em nos entregar uma cinebiografia pela perspectiva do Richard Williams (o pai delas, que foi magistralmente interpretado por Will Smith).
O roteiro de Zach Baylin nos confronta diretamente com a verdadeira fé, garra, força, motivação, ambição, determinação por parte do Richard, ao focar no treino das filhas usando seus métodos próprios para torná-las campeãs. Richard já havia traçado o seu plano em sua cabeça de tornar as suas filhas campeãs desde o início, ele sempre esteve focado nesse objetivo como pai, como treinador, como incentivador, enfrentando todas as suas dificuldades e principalmente com o objetivo de afastá-las das ruas, até por residirem em um bairro pobre e violento. Richard sempre teve que conviver com o preconceito, com a desigualdade, com a indiferença, até por ter sido criado na época da segregação racial, dessa forma ele estava remando contra a maré ao dedicar a sua vida em tornar as suas duas filhas negras em futuras campeãs no tênis, consequentemente um esporte voltado para os brancos.
Will Smith mais uma vez nos impressiona e nos impacta com mais uma bela atuação, assim como já havia feito em suas performances em "Beleza Oculta", "À Procura da Felicidade" e "Sete Vidas". Will Smith é um ator incrível, que usa uma versatilidade incrível em suas atuações, que consegue nos levar do riso ao choro em questões de segundos. Em 'King Richard' ele traz um personagem que era tido como um velho ranzinzo, rabugento, reclamão, chato, aquele mau humor imposto pela vida, que lhe obrigava a criar aquela casca dura pra se defender e defender a sua família de tudo e de todos ao seu redor. A caracterização do Will Smith estava muito fiel ao personagem, assim como o trabalho de maquiagem, que o deixou mais envelhecido, que nos mostrava aquele rosto sofrido e cansado. Will Smith tem uma veia para o drama, ele sempre consegue nos impactar em suas atuações, exatamente como ele faz aqui, ao nos entregar um personagem que está completamente carregado emocionalmente. Depois de alguns trabalhos que facilmente já poderia ter lhe rendido a estatueta do Oscar, eu acho que de fato chegou a sua hora (Will Smith já levou o Globo de Ouro e está indicado em praticamente todas as premiações).
Saniyya Sidney faz um grande trabalho ao interpretar a jovem Venus Williams, principalmente na cena do jogo final, onde podemos comprovar ainda mais o seu grande talento para atuar. Saniyya já nos chamou a atenção em "Fences", onde ela interpretava a pequenina Raynell, filha do casal Troy e Rose (Denzel Washington e Viola Davis), logo em sua estreia nos cinemas com apenas 10 anos. Saniyya Sidney está indicada no Critics à Melhor Revelação. Demi Singleton fez a Serena Williams, e de certa forma ela não teve o mesmo destaque da Saniyya, mas ai já foi uma decisão de roteiro (que explicarei adiante). Aunjanue Ellis faz a esposa Brandi Williams, sendo mais uma que entrega uma ótima atuação. Aunjanue faz aquela esposa que apoia o marido em suas decisões, que sempre está ao seu lado para o que der e vier, sempre ativa e que não aceita a submissão, tanto que uma das melhores cenas do filme é exatamente um confronto de ideias e opiniões entre ela e o Richard (Aunjanue Ellis foi indicada à Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro e está indicada no Critics). Sem deixar de mencionar o Jon Bernthal, que esteve ótimo como o treinador Rick Macci.
A fotografia do longa é boa, de certa forma até mais escurecida e acinzentada, que nos dava a dimensão de todo o drama familiar, e mesmo nas cenas em que teoricamente exigiria uma fotografia mais viva e animada (como na cena da disputa final), ela continuava com aquele tom mais denso. A trilha sonora de Kris Bowers (Green Book: O Guia) está bem dosada, bem adicionada e acompanha muito bem a trama. A direção de arte também se destaca, a cenografia é muito boa, assim como a montagem, a edição, tudo se destaca pelas riquezas de detalhes.
O roteiro de Zach Baylin nos ganha exatamente pela forma como ele decide contar a história focada propriamente no Richard Williams e não em suas duas filhas que aspiravam ao estrelato. De fato o filme é sobre o Richard, sobre a sua visão da história, sobre a sua forma adotada para treinar as suas duas filhas, até por isso que nos perguntamos: porquê será que a Venus teve um maior destaque (um maior tempo de tela) do que a Serena? Até pelo fato de ela ser a mais velha e o Richard já ter em sua mente (seu plano) em tornar a Venus como a número 1 do mundo e a Serena como a maior tenista de todos os tempos - exatamente na cena em que o Richard conversa com a Serena, que por sinal é uma cena maravilhosa!
"King Richard" esteve indicado no Globo de Ouro em quatro categorias, levando apenas a de Melhor Ator para Will Smith e perdendo a categoria principal de Melhor Filme Drama para "Ataque dos Cães". No Critics o longa está indicado em Melhor Canção ("Be Alive" da Beyoncé), Roteiro Original (Zach Baylin), Revelação (Saniyya Sidney), Melhor Atriz Coadjuvante (Aunjanue Ellis), Ator (Will Smith) e Melhor Filme. No SAG o filme só aparece nas categorias de Melhor Elenco e Melhor Ator, para Will Smith. A grande disputa de "King Richard" ficará para o Oscar, que com certeza estará entre os favoritos da noite. Eu ainda não assisti a todos os indicados (até porque a lista ainda não saiu), mas eu acredito que a maior disputa de "King Richard" será com "Ataque dos Cães". Na categoria de Melhor Ator eu acredito que a disputa ficará entre Benedict Cumberbatch e Will Smith, e se eu tivesse que decidir entre os dois, seria muito difícil, mas eu escolheria o Will Smith por muito pouco, apesar do trabalho do Benedict em "Ataque dos Cães" está estupendo. Já pensando na disputa de Melhor Filme somente entre esses dois, eu daria a estatueta para "Ataque dos Cães", que por mais que "King Richard" seja carregado em um excelente drama familiar verdadeiro, "Ataque dos Cães" é mais completo, mais surpreendente e mais fantástico como um todo. [18/01/2022]
Um elenco estrelado por Lady Gaga, Adam Driver, Jared Leto, Jeremy Irons, Al Pacino e o gênio Ridley Scott na direção, é a verdadeira receita para o sucesso. O longa é baseado no livro The House of Gucci: A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greed, escrito por Sara Gay Forden.
Eu diria que o último filme excelente do Ridley Scott foi "Perdido em Marte", de lá pra cá seus últimos trabalhos foram de razoáveis para ruins, como é o caso de "Todo o Dinheiro do Mundo", que por sinal é um filme muito ruim. Casa Gucci chega para quebrar esta sequência ruim do Scott, e de fato o longa é muito bom, muito divertido, muito gostoso de acompanhar, te prende desde o início até o final dos créditos.
Começando pelos pontos positivos: Temos uma direção de arte estupidamente perfeita, com uma cenografia e uma ambientação do mais alto nível de qualidade. É realmente impressionante como os cenários do filme são perfeitos e estão perfeitos, como os carros, as cidades, as casas, os móveis, são tudo muito fiéis ao fato do longa se passar entre os anos 70 e 90, e justamente todos os detalhes corroboram para a qualidade ser cada vez mais sentida e mais perceptível. As maquiagens e cabelos também estão muito bem ajustadas pra época, assim como os figurinos do mais alto padrão de requinte e elegância (como os inúmeros modelitos usados pela Patrizia Gucci), e de fato não poderia ser diferente em um longa justamente sobre os padrões da moda.
A fotografia de Dariusz Wolski é muito bem destacada ao longo da trama e colabora intensamente em cada cena, principalmente entre os cenários mais abertos e gelados, onde os contraste de cores da fotografia tende a melhorar muito. A trilha sonora de Harry Gregson-Williams é um casamento perfeito com a trama e acompanha muito bem os passos dos personagens. Com músicas conhecidas (algumas Italianas) e destacadas dentro do mundo da moda, que intensifica ainda mais as qualidades técnicas do longa (teve várias cenas em que sem querer eu me pegava cantando as músicas, principalmente ao final).
O ponto mais positivo do longa do Ridley Scott é sem dúvidas o elenco e suas atuações, que simplesmente estavam completamente impecáveis. Pra mim a melhor atuação do filme é sem dúvidas do Jared Leto, que nos entrega mais um belíssimo trabalho na pele do Paolo Gucci. É realmente impressionante a sua capacidade de caracterização, de concentração, de interpretação, de atuação, com aqueles seus trejeitos e sotaques, que o deixou completamente irreconhecível, que me deixou completamente embasbacado e se perguntando se realmente era o Jared Leto ali. Mais um trabalho de alto nível e de grande entrega, assim como ele já havia nos impressionado em 2014 em "Clube de Compras Dallas" (trabalho que lhe rendeu o Oscar). Que ator que é esse Jared Leto senhoras e senhores! Ele está indicado no Critics Choice e no SAG Awards na categoria Ator Coadjuvante, e com certeza brigará no Oscar pela estatueta junto com Kodi Smit-McPhee. (sem esquecer do BAFTA)
Lady Gaga é a segunda melhor do filme. Mais uma atuação em alto nível, assim com ela já havia nos entregado em "Nasce uma Estrela", que por sinal briga em pé de igualdade pela a sua melhor atuação. É difícil apontar em qual dos dois trabalhos ela está melhor, acho que são trabalhos diferentes e atuações completamente opostas, mas o fato é que são performances memoráveis e prazerosas. Gaga traz uma personagem que tem muitas vertentes, muitas facetas, que consegue navegar com muita propriedade no drama, na comédia, na sátira, na ira, se passando por uma boa moça para conseguir conquistar a sua presa e ainda mais maquiavélica para planejar e atacar. Uma interpretação que nos mostrava todo o seu poder em cena e a sua capacidade em atuar de forma serena e de forma letal, fazendo aquele contraponto no drama e no cinismo - SENSACIONAL - vide a sua última cena no tribunal (que performance meus amigos). Gaga esteve indicada no Globo de Ouro (mas não levou), está indicada no Critics Choice e no SAG Awards, e com certeza estará no BAFTA e no Oscar. Agora se de fato ela vai levar, aí já é outra história.
Adam Driver esteve muito bem como Maurizio Gucci, o grande ponto em questão do filme, o divisor de águas. Uma atuação muito segura, jogando na segurança, sem sair da sua zona de conforto, porém sem um grande destaque (como foi com a Gaga e o Leto), mas de fato conseguiu manter o padrão de atuação de todo o elenco. Jeremy Irons também entrega uma atuação bem fiel ao personagem, contribuiu muito bem. Assim como o mestre Al Pacino, que nos deu muitas risadas com seu personagem mais cômico. Em questões de atuações não tem muito o que falar de Al Pacino, sempre será aquele gênio que já estamos acostumados. Completando o elenco ainda tivemos a Salma Hayek como Giuseppina "Pina" Auriemma, com ótimas cenas com a Patrizia por sinal. Jack Huston como Domenico De Sole e Camille Cottin como Paola Franchi (uma personagem um tanto quanto estranha eu diria).
Agora os pontos negativos: Eu diria que o roteiro do longa não é nada excepcional, nada muito complexo, de fato não é um ponto fora da curva. Eu diria que é um roteiro bem simples, até pelo fato da própria história da família Gucci ser encontrada facilmente na internet, e ainda por cima o wikipédia entrega todos os acontecimentos e exatamente o que acontece com o Maurizio Gucci e todos os seus envolvidos. Então em questões de roteiros não tinha muito o que fazer, realmente teriam que jogar na segurança, como de fato fizeram. Outro ponto que me incomodou foi os avanços no tempo do filme, eu achei muito rápido e de certa forma até sem coesão, com acontecimentos que saltavam de um lado para o outro de uma forma muito abrupta, com uns cortes de cenas mal feitos. Acho que isso se deu pelo fato do filme querer abranger toda a história da família Gucci, desde lá no início quando a Patrizia conhece o Maurizio, até os acontecimentos finais de cada um. Exatamente por isso que o roteiro acelerava muito em algumas passagens de tempo.
Casa Gucci foi completamente esnobado no Globo de Ouro, com apenas uma indicação para Melhor Atriz em Filme Drama para Lady Gaga. No Critics Choice Awards o longa aparece indicado nas categorias Melhor Atriz para Gaga e Melhor Ator Coadjuvante para Jared Leto, além de Melhor Figurino e Melhor Cabelo e Maquiagem. No SAG Awards o filme concorre em Melhor Ator Coadjuvante para Jared Leto, Melhor Atriz para Gaga e Melhor Elenco. No BAFTA saiu uma pré-lista de indicados e o filme aparece em várias categorias, inclusive nas principais (agora é esperar a lista de indicações definitivas). Agora a minha grande dúvida é no Oscar, em quais categorias o filme aparecerá? Será que ficará apenas com as categorias técnicas de figurino, cabelo e maquiagem? A Lady Gaga com certeza estará indicada à Melhor Atriz, mas e o Jared Leto? A Academia vai bancar a sua indicação? E Melhor Filme? Será que o Longa aparecerá entre os indicados na principal categoria da noite? Eu acredito que não.
Casa Gucci é um ótimo filme, muito leve, muito prazeroso, daqueles que nos diverte e prende a nossa atenção o tempo todo dentro da sala de cinema. De fato o novo trabalho do Ridley Scott tem sim seus probleminhas de roteiros, mas nos ganha pelas belíssimas qualidades técnicas e um elenco que entrega atuações afiadíssimas. Eu adorei o filme do início ao fim, me divertiu demais e me deixou completamente paralisado na cena final da Gaga no tribunal - quando ela profere a frase - 'You can call me Signora Gucci' - fechando com chave de ouro ao som da bela canção "Baby Can I Hold You" de "Luciano Pavarotti & Tracy Chapman" - simplesmente magnífico! [17/01/2022]
Jane Campion (campeã do Oscar de Melhor Roteiro Original pelo "O Piano" de 1993) escreve e dirige o longa que é baseado no romance de mesmo nome de Thomas Savage (escritor americano falecido em 2003).
Campion nos traz uma obra enigmática e muito inteligente que usa como pano de fundo o cenário do faroeste, que necessariamente pode ser considerado um ambiente predominantemente masculino, para tocar em pontos como a intolerância, a rivalidade, a dualidade, o machismo, a homofobia, a intransigência e até o alcoolismo e a opressão. Campion não faz questão de retratar a sua obra de uma forma completamente aberta (onde tudo esteja bem explicado), ela usa de uma forma que tudo esteja nas entrelinhas, que necessariamente ocorra em subtextos com um misto de ríspido e delicado, agressivo e sensível, tenso e suave, o que nos deixa completamente imerso na trama.
O roteiro de Jane Campion é bem escrito, bem trabalhado, bem orquestrado, bem transportado para a tela, onde tudo funciona com autenticidade e coesão. Como a maneira em que é mostrada aquela certa rivalidade entre os dois irmãos, mas de uma forma leve e não completamente aflorada. A inveja também é destacada juntamente com a oposição, mas sempre de uma forma sutil. A descaracterização, a quebra de barreiras, a intolerância, a desconstrução da imagem, o confronto de ideias, tudo está nas entrelinhas do roteiro. Campion acerta exatamente nessa forma que o roteiro tem de lidar com cada ponto em que é trazido para a trama, onde nos prende pela sutileza, pela curiosidade, por despertar a nossa vontade de querer ir cada vez mais além.
Phil Burbank (Benedict Cumberbatch) é aquele típico personagem com pinta de 'caubói machão', um ser inatingível, intocável, superior, que fazia o que queria e falava o que queria. Um ser prepotente, invejoso, odioso, preconceituoso, intolerante, mas no fundo era vazio, amargurado, infeliz, que vivia de aparências e com um rótulo que no fundo não o representava verdadeiramente. Benedict Cumberbatch entrega uma atuação completamente primorosa, genial, forte, impactante, com uma grande entrega e uma performance magnífica. É realmente impressionante o quanto Benedict estava incorporado no personagem, pelo seus trejeitos, suas expressões faciais, seu linguajar chulo e pesado - sensacional! Benedict Cumberbatch estava indicado no Globo de Ouro na categoria Melhor Ator (perdendo para o Will Smith, por 'King Richard: Criando Campeãs'). Ainda está indicado no Critics, no SAG's e com certeza também estará no BAFTA e no Oscar.
Peter (Kodi Smit-McPhee) é aquele contraponto do Phil, é completamente o inverso do rótulo de 'caubói machão'. Peter é um jovem doce, sonhador, sensível, delicado, que ainda está se descobrindo. Outro acerto do roteiro da Jane Campion é exatamente o confronto/embate entre Phil e Peter, sendo muito necessário para o desenrolar de toda a trama e com um plot twist completamente avassalador, curioso, impressionante e magnífico. Kodi Smit-McPhee traz um personagem com uma grande carga dramática, que nos entrega toda essa dramaticidade em cena, chegando ao seu ápice em sua última cena, quando ele está sentado com o rolo de cordas feito pelo Phil no chão - perfeito! Kodi Smit-McPhee está no papel da sua vida em "Ataque dos Cães", sendo muito bem premiado com o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante. Ele também está indicado no Critics, no SAG's e também estará no BAFTA e no Oscar.
Kirsten Dunst completa a trinca de ouro de "Ataque dos Cães". Kirsten é Rose, uma viúva que inicialmente vive com seu filho adolescente Peter, mas com a sua mudança de vida e até de status social, ela passa a ser confrontada por Phil (seu cunhado), o que de certa forma lhe causa muito desconforto e uma entrega ao alcoolismo, principalmente com a aproximação entre Peter e Phil. Kirsten é mais uma desse elenco que entrega uma atuação em altíssimo nível, com uma personagem sofrida, amargurada, carregada emocionalmente, que também se sentia insegura e amedrontada, dando um completo show em cena, uma aula de atuação. Destaque para a cena do jantar em que ela trava sentada no piano - uma maravilha de atuação! Kirsten Dunst foi indicada à Melhor Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro, perdendo para Ariana DeBose, por "Amor, Sublime Amor". Está indicada no Critics, no SAG's, e assim como o Kodi e o Benedict, também estará no BAFTA e no Oscar.
Jesse Plemons é George Burbank, irmão do Phil e casado com a Rose! Na minha opinião, Jesse entrega uma atuação ok, nada surpreendente, mas é notável que ele está abaixo do trio mencionado acima.
A detalhista trilha sonora de Jonny Greenwood acompanha cada cena com muita harmonia, conseguindo nos aproximar de cada personagem e nos imergindo profundamente na trama (aquela típica trilha sonora que é o coração do filme). A fotografia de Ari Wegner é completamente sublime e genial. A própria Jane Campion faz um trabalho absurdo na direção do longa. Aqueles focos de câmeras mais abertos nos dava a exata dimensão de como era filmar em um cenário que se passava no ano de 1925, assim como os focos mais fechados dentro do estábulo e nos rostos dos personagens. A cenografia, edição, direção de arte, figurinos, tudo muito perfeito e feito com muito amor à arte cinematográfica.
O longa de Jane Campion beira a perfeição, porém: o ritmo inicial do filme é lento e demora um pouco para engrenar, não chega a ser arrastado, mas confesso que me incomodou um pouco. Isso não quer dizer que o filme seja cansativo, apenas não consegui me envolver logo de cara, talvez pelo tom mais pacato inicialmente. Isso não tira o brilho dessa maravilhosa obra, apenas um certo pontinho que eu não poderia deixar de mencionar.
O mais interessante do longa é a forma como ele te dá margens para algumas interpretações como:
Peter pode ser considerado uma vítima inicialmente, mas como o passar do tempo você o descobre como o verdadeiro vilão. Me pareceu uma espécie de comportamento psicopata, por sua forma de acariciar os animais e logo após matá-los. O que me leva a acreditar que ele possa ter matado o próprio pai para proteger a mãe, pelo fato do pai também ser um alcoólatra. Também acredito que o Peter premeditou a morte do Phil, até pela cena em que a Rose vê o Peter e o Phil partindo sozinhos para as montanhas, o que poderia a fazer acreditar que seu filho estivesse em perigo sozinho com o Phil, quando na verdade quem estava em perigo era o próprio Phil, porquê a Rose já sabia do que seu filho era capaz.
A própria Rose ora poderia ser a vítima, ora poderia também ser a vilã, por nutrir um certo ciúme para com o seu filho, ou até por saber do que seu filho era capaz (por ela saber que ele era um psicopata) e talvez pelo seu próprio desejo que seu filho matasse o Phil.
Phil por sua vez é o ser mais mascarado da história, que mais tem a esconder, que mais vive de aparências. Eu acredito que o Phil teve um certo romance com Bronco Henry, até pela forma amável em que ele sempre fala dele e pela a cena em que o Phil conta para o Peter que o Bronco Henry salvou a sua vida quando ambos dormiram juntos e pelados, ou até posso considerar que o Phil foi abusado. Na verdade o Phil era exatamente como o Peter quando era jovem, também tinha aquele jeito meio afeminado, o que de certa forma o fez criar aquela aparência de 'machão' e aquele jeito intolerante com o Peter, para esconder o seu verdadeiro segredo. Eu confirmei a minha tese exatamente na cena em que o Peter acha o local secreto do Phil, onde ele guarda as revistas de fisiculturismo.
Na verdade o Peter tem aquele jeito frágil, afeminado e inocente, enquanto o Phil aquele jeito de 'machão', carrancudo e intolerante, mas um é exatamente o inverso do outro. Peter é de fato o letal e o Phil a vítima final.
Com certeza o Peter matou o Phil no final quando o entregou o couro do boi contaminado, contaminando o corte na mão do Phil. Isso fica bem claro quando o Peter começa a fumar aquele cigarro na frente do Phil, como uma forma de comemorar a execução do seu objetivo. Objetivo esse em que a Rose também tem a sua parcela de culpa, por ajudar a sumir com todos os couros da fazenda (dando para os índios), uma forma que ela encontrou de ter o único couro do boi contaminado para que o Phil terminasse a corda do Peter. Está ai mais uma prova de que a Rose não era tão vítima quanto parecia.
No Globo de Ouro "Ataque dos Cães" teve indicações nas categorias Melhor Trilha Sonora (Jonny Greenwood), Melhor Roteiro (Jane Campion), Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante que já mencionei acima, além das estatuetas por Direção para Jane Campion, Melhor Ator Coadjuvante para Kodi Smit-McPhee e a principal categoria da noite - Melhor Filme Drama. No Critics Choice Awards o longa está indicado nas categorias Trilha, Edição, Fotografia, Roteiro Adaptado, Elenco, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante, Ator, Diretor e Melhor Filme. No SAG Awards o longa aparece indicado em três categorias: Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante e Ator.
"Ataque dos Cães" é um dos grandes favoritos para esta época de premiações, com certeza o longa aparecerá em várias categorias no BAFTA e no Oscar. No Oscar eu aposto em indicações para trilha sonora, fotografia, os três atores já mencionados, direção e com certeza a Melhor Filme. E digo mais: o longa de Jane Campion é um dos fortes candidatos para levar o maior prêmio da noite, mesmo sem ainda ter conferido os demais concorrentes. [15/01/2022]
Pig: A Vingança
3.5 306Pig
'Pig' é escrito e dirigido por Michael Sarnoski (em sua estreia na direção), a partir de uma história de Vanessa Block e Sarnoski. O filme é estrelado por Nicolas Cage como um caçador de trufas que vive sozinho no deserto do Oregon e deve retornar ao seu passado em Portland em busca da sua amada porca farejadora depois que ela é sequestrada.
'Pig' é totalmente fora do trivial, totalmente ambíguo, um drama muito subjetivo, sobre redescobertas e aceitações, sobre o medo e a dor, sobre o amor e a solidão, sobre perdas e recomeços, sobre traumas e realizações. Um filme melancólico, contemplativo, intrigante, niilista, carregado emocionalmente, pesado dramaticamente, que tem o dom de nos fazer pensar nas diversas camadas da vida do protagonista Rob (Cage). O longa é muito hábil, muito crível, muito verossímil na forma de abordar o roteiro, pois o roteiro é composto por algumas camadas que vamos analisando profundamente e descobrindo ao longo da trama. Temos uma rápida introdução nos elucidando sobre a vida atual de Rob e sua porca, quando de repente o roteiro muda a sua engrenagem e nos confronta diretamente com uma busca incansável pelo animal sequestrado, o fazendo enfrentar diversas partes de sua vida que ele havia deixado para trás e que ele não gostaria de revivê-la, e principalmente confrontar certas pessoas que ele também havia deixado em seu passado.
Este é o ponto de maior virtude e de maior destaque em 'Ping', a forma enigmática, subjetiva e intrigante que vamos descobrindo e pegando as coisas no ar, a forma que vamos desvendando tudo que está escondido nas entrelinhas do roteiro, tudo que está nos subtextos - é fantástico! Eu adoro filmes que nos faz pensar, que nos faz analisar cada ponto, cada detalhe, cada cena, cada diálogo, que nos deixa intrigado e nos expõe à diversos pensamentos e análises distintas. Outro ponto que me deixou perplexo e que elevou ainda mais a ótima qualidade do roteiro de Michael Sarnoski e Vanessa Block: partindo do princípio de um sequestro, que necessariamente teríamos a sede por vingança (como induz erroneamente o subtítulo do filme no Brasil), aqui temos uma outra releitura dos fatos, uma abordagem que se desenvolve como um drama psicológico minimalista, que nos direciona diretamente para esse outro lado do Rob em suas redescobertas, enfrentando seus traumas, suas nuances, explorando as marcas do seu passado e o quanto elas ainda o impactava em seu cotidiano presente.
'Pig' é um enorme trabalho na carreira do Nicolas Cage, pois ao longo dos anos muitas pessoas o viam como uma espécie de piada, por se tratar dos inúmeros filmes ruins que ele fez ao longo dos anos, principalmente após ter ganhado o Oscar por "Despedida em Las Vegas", em 1996. Realmente a carreira cinematográfica do Nicolas Cage vive de altos e baixos, muito se deu pelos vários problemas pessoais que ele enfrentou ao longo de sua vida. Tanto é que ultimamente ele simplesmente decidiu fugir dos holofotes e das badalações das grandes produções hollywoodiana e mirar em projetos menos milionários, mais certeiros eu diria, exatamente como 'Pig'.
Em 'Pig' Nicolas Cage tem uma entrega absurda, uma belíssima atuação como eu não via ele entregar há muitos anos. Muitos estão considerando como a sua melhor atuação da carreira, o que de fato não acho nenhum absurdo, mas eu particularmente não gosto de fazer esta afirmação, uma vez que eu não conferi todos os seus trabalhos. Mas de fato é um grandioso trabalho de interpretação do Cage, muito seguro, muito coeso, com uma carga dramática bem ajustada e um ar totalmente introspectivo na medida certa. Cage sempre foi um grande ator, já esteve no hall dos maiores atores da sua geração, sempre teve muita entrega e um grande potencial, às suas escolhas que não foram as mais acertadas ao longo de sua carreira, mas quando assistimos trabalhos como 'Pig' isso só evidencia o grande ator que ele sempre foi. Cage esteve indicado no Critics' Choice Movie Award na categoria de Melhor Ator (concordo plenamente).
Completando o elenco de 'Pig' ainda tivemos a ótima apresentação de Alex Wolff como Amir. Um filhinho de papai totalmente ao inverso de Rob, por ostentar roupas de grifes e um carrão, quando na verdade Rob era um sujeito que não dava a mínima para a sua aparência, já Amir fazia questão de sempre se exibir muito bem vestido. Um contraponto perfeito do roteiro ao colocar frente a frente o Rob e o Amir, ainda mais quando o Rob necessitava da ajuda de Amir pela busca da sua porca, ou seja, mais uma forma de nos explicitar as diferentes formas de abordagem do roteiro em relação as diferentes classes sociais, ou a colocação de cada um na sociedade atual, muito pelas escolhas individuais de cada um, como no caso do próprio Rob e seu trauma do passado.
Alex Wolff já havia brilhado em "Hereditário" e aqui ele dá mais um show, mais uma grande apresentação, nos mostrando aquela desconstrução e aquela descaracterização do seu personagem ao final (aquela cena do jantar com o pai é incrível).
Adam Arkin (Grey's Anatomy) está muito bem no filme, seu personagem Darius é bem asqueroso e de certa forma até doentio. Toda aquela cena do jantar junto com Amir e Rob, e principalmente as revelações subsequentes são um dos pontos alto do filme - realmente um show dos três em cena. Estes três pra mim foram os de maiores destaques dentro do elenco, o restante contribuíram bem em cada personagem e engrandeceram ainda mais à obra.
A fotografia do longa é muito boa, salta ao nossos olhos, principalmente nas partes densa da névoa sombria da floresta aonde vivia Rob e sua porca. A trilha sonora agrega muito bem na trama, aquela típica trilha sonora que não é uma obra-prima mas está bem inserida nos momentos mais oportunos, cujo os momentos sempre nos evidenciava com um acontecimento e aquela trilha sonora mais pacata de fundo. A direção de Michael Sarnoski é muito boa, ainda mais para um estreante. Sarnoski soube pegar os ângulos mais certeiros das cenas, onde nos elucidava cada acontecimento com detalhes mínimos, principalmente aqueles takes onde a câmera passeava de dentro para fora de um cômodo - ótimo mesmo o seu trabalho na direção do longa, tem muito futuro pela frente.
'Pig' foi indicado no Gotham Independent Film Award e Directors Guild of America Award na categoria de Melhor Filme, além da indicação do Nicolas Cage de Melhor Ator no Critics' Choice, e ganhou o Independent Spirit Award de Melhor Primeiro Roteiro.[21/04/2022]
Coração Valente
4.1 1,3K Assista AgoraCoração Valente (Braveheart)
"Coração Valente" foi lançado em Julho de 1995, dirigido e co-produzido por Mel Gibson, que interpreta Sir William Wallace, um guerreiro escocês do final do século XIII. O filme retrata a vida de Wallace liderando os escoceses na 'Primeira Guerra da Independência Escocesa' contra o Rei Edward I (Patrick McGoohan) da Inglaterra, logo após os soldados ingleses terem assassinado a sua esposa Murron MacClannough (Catherine McCormack) em plena noite de núpcias. A história é inspirada no poema épico do século 15 de Blind Harry, 'The Actes and Deidis of the Illustre and Vallyeant Campioun Schir William Wallace', e foi adaptado para a tela por Randall Wallace.
Os anos 90 foi uma década de ouro dos cinemas, pois era uma época em que as grandes obras cinematográficas nos retratava grandes histórias, grandes contos, grandes passagens, era uma época totalmente diferente de se fazer cinema. Sem dúvidas "Coração Valente" está incluso nessa lista de ouro dos cinemas do anos 90, pois o longa de Mel Gibson é um épico, uma lenda, uma obra de arte cinematográfica, uma pérola da sétima arte, uma verdadeira obra-prima da história dos cinemas. "Coração Valente" foi um 'marco' na história dos cinemas, um verdadeiro arrasa-quarteirões, alvo de inúmeras críticas (tanto positivas quanto negativas), alvo de grandes discursões, pois em todos os cantos só se falavam do longa de Mel Gibson, uns amavam e defendiam o filme, outros já criticavam pelo fato dos seus numerosos desvios históricos (de acordo com a opinião de cada um, e de acordo com o consenso dos historiadores, é claro).
Eu considero "Coração Valente" não só como um dos melhores filmes dos anos 90, mas uma das mais belas películas cinematográficas de todos os tempos. Mel Gibson fez história com o seu épico, foi um verdadeiro divisor de águas, sendo muito bem lembrado por todos até hoje (quase 27 anos depois), cuja história serviu de inspiração para vários filmes que viria nos anos seguintes, como por exemplo a obra-prima de Ridley Scott, "Gladiador", pra citar uma. Uma verdadeira obra-prima nunca é esquecida e sempre é lembrada, é comentada, é homenageada, é inspirada, e "Coração Valente" é exatamente tudo isso, pois pra mim o filme não ficou datado, não ficou ultrapassado, envelheceu muito bem. Os anos 90 era uma época que ainda não estávamos em um período tão evidente com a internet como hoje, e o longa explodiu da forma que foi, fez todo o alvoroço, foi badaladíssimo, principalmente no Oscar, imagine se tivesse a força que a internet tem hoje em dia, tanto pelo lado positivo quanto negativo. E hoje em dia é praticamente impossível não se esbarrar nos inúmeros memes que o filme carrega, isso só evidencia o quanto o poderoso épico de Mel Gibson é lembrado, seja da forma que for.
O roteiro de Randall Wallace (diretor e roteirista de Fomos Heróis - 2002) é magnífico, uma história soberba, primorosa, avassaladora, que transcorria entre o drama, o romance, a intriga e o heroísmo desesperado pela liberdade da Escócia. Pois o longa nos retrata exatamente a figura histórica de William Wallace como um guerreiro, um patriota escocês, um herói medieval, por outro lado temos uma faceta em até certo ponto mais romântica, mais idealista, mais pertinente, mais humanizada, porém sempre sanguinária. A narrativa do filme é esplendorosa, pois temos pontos que nos remete a um conjunto de acontecimentos que fundamentam a história que nos está sendo contada, pois em nenhum momento eu considero o filme maniqueísta historicamente. O mesmo digo das batalhas, pois pra mim "Coração Valente" nos traz verdadeiras batalhas épicas, do mais alto escalão da história dos cinemas, que nos relata os inúmeros confrontos de uma forma amarga, cruel e muito sanguinolenta, que nos incomodava em todos os sentidos, nos deixando completamente perplexo (principalmente no último ato do filme).
Como não destacar aquela cena icônica do discurso de William sobre a liberdade que ele fez no campo de batalha encorajando e aflorando todo o seu exército contra os ingleses (que estavam em maior número). Cena épica, sensacional, maravilhosa, que ficou imortalizada.
A própria cena da grande batalha é muito sangrenta, sem nenhum pudor, uma brutalidade absurda, uma marca registrada dos filmes desse gênero nos anos 90. Apenas mais uma das várias cenas épicas e icônicas desse clássico.
Outro ponto que eleva ainda mais a qualidade dessa obra-prima: a trilha sonora do gênio, do mestre, do icônico James Horner. Horner sempre foi um verdadeiro gênio na história das trilhas sonoras, que já nos brindou com verdadeiras pérolas da sétima arte como "Aliens, O Resgate", "Uma Mente Brilhante", "O Menino do Pijama Listrado" e "Titanic" (apenas pra contextualizar algumas das suas inúmeras obras-primas), e em "Coração Valente" temos mais uma obra de arte. Uma trilha sonora profunda, pesada, avassaladora, que seguia cada passo da história de uma forma brilhante, sempre nos evidenciando com diferentes ritmos, diferentes melodias, diferentes sons, com composições que iam de violinos, violões, pianos, até a clássica gaita escocesa - um verdadeiro marco, um verdadeiro show!
Destaque para a cena que William Wallace grita proclamando a sua vitória com aquela trilha sonora de fundo ensurdecedora, é realmente magnífico. Poxa, gênios como James Horner jamais deveriam falecer - muito triste!
A fotografia do longa é outro grande destaque, belíssima, lindíssima, com enquadramentos perfeitos, principalmente nas cenas das batalhas. A direção de arte e a cenografia também estão incríveis, com cenários magníficos (como os gigantescos campos de batalhas), muito fiéis à época, ricos nos detalhes. Os figurinos e as maquiagens são um verdadeiro luxo, pois tudo estava rigorosamente bem arquitetado dentro dos padrões da época, tanto pelo lado dos plebeus, quanto pelo lado dos reis e seus súditos. A montagem é excelente, a edição é perfeita, assim como os efeitos sonoros, que se destacavam com bastante clareza, incrível, ainda mais se tratando de um filme feito nos anos 90, onde não tínhamos a tecnologia que temos hoje.
Eu não tenho nenhuma dúvida que "Coração Valente" é o melhor trabalho da carreira de Mel Gibson (juntamente com A Paixão de Cristo), tanto em direção, quanto em atuação e principalmente em personagem, onde temos o icônico William Wallace. Em direção Gibson nos entregou um trabalho competente, magnífico, primoroso, feito com muita atenção e com muita dedicação, principalmente nas batalhas, onde tínhamos um trabalho de câmeras impecáveis, sempre frisando cada movimento dos embates, sempre nos elucidando o quanto os confrontos eram brutais e sanguinolentos, sendo muito bem coroado com o Oscar de direção. Em atuação Gibson estava em seu momento, estava no seu ápice, estava em seus tempos áureos, e o William Wallace lhe caiu como uma luva, pois não existiria ninguém melhor do que ele para dar vida a um personagem tão épico, tão histórico e tão icônico, que ficou eternizado em sua filmografia e principalmente na história dos cinemas.
Completando o elenco com a Catherine McCormack (Jogo de Espiões), a Murron MacClannough, grande amor de William inicialmente e a grande responsável em lhe suavizar e lhe humanizar, mas em contrapartida também foi a principal válvula para acender a faísca do conflito. Atuação impecável de Catherine, um doce de atriz. Patrick McGoohan (falecido em 2009), o Rei Inglês Edward, um ser perverso, inescrupuloso, doentio, com uma forma de governar totalmente contraditória. Atuação de gênio já resume todo o trabalho entregue por Patrick McGoohan. Sophie Marceau (007 - O Mundo Não é o Bastante), a Princesa Isabelle da França, que até tentou um certo envolvimento com William, mas não deu tempo, porém acredito que esse envolvimento era mais trazido para o campo do interesse. A cena final dela lamentando todo os acontecimentos que estavam por vir e que ela não poderia impedir é sensacional, uma belíssima atuação e entrega de Sophie Marceau. Brendan Gleeson (Harnish Campbell), Peter Hanly (Edward Príncipe de Gales), Brian Cox (Argyle Wallace), todos entregaram trabalhos primorosos. Ainda tivemos a participação do irmão mais novo de Mel Gibson, Donal Gibson.
"Coração Valente" foi o grande vencedor do Oscar de 1996, o longa foi indicado em 10 categorias e ganhou 5: Efeitos Sonoros, Maquiagem, Fotografia, Direção e, claro, Melhor Filme. Também ganhou três prêmios BAFTA (Fotografia, Figurino e Som) e um Globo de Ouro (Diretor).
Aquela cena final do William Wallace gritando 'FREEDOOOOOOOM' imortalizou na história dos cinemas, e ainda ecoa pelos quatro cantos do planeta e da minha mente. Isso é o que eu chamo de cena clássica e épica dos cinemas!
Verdadeiro clássico dos anos 90. Campeão do Oscar de Melhor Filme de 1996. Pérola cinematográfica. Obra de arte histórica. Épico. Icônico. Lendário. Obra-prima incontestável. [15/04/2022]
A Pior Pessoa do Mundo
4.0 608 Assista AgoraA Pior Pessoa do Mundo (Verdens verste menneske)
'A Pior Pessoa do Mundo' é um filme norueguês escrito e dirigido por Joachim Trier (juntamente com seu parceiro Eskil Vogt). É o terceiro longa da chamada trilogia de Oslo, ao lado de 'Reprise' (2006) e 'Oslo, 31 de Agosto' (2011). O longa se passa em Oslo, capital da Noruega, e nos conta a história de Julie (Renate Reinsve). Uma jovem muito bonita, inteligente, sensual, porém muito indecisa em tudo na vida, desde a profissão que deseja seguir, até os seus envolvimentos amorosos.
'A Pior Pessoa do Mundo' funciona como uma comédia romântica inserida em um drama. Julie é uma mulher que está beirando os 30 anos e vive em uma constante crise existencial que se mistura entre sua juventude, que está se acabando, até suas próprias aceitações, decisões, desejos e prazeres de uma idade mais adulta. Julie ainda não tem filhos, não se decidiu em qual carreira profissional deseja seguir, não se decide com qual namorado quer ficar, ela vive em um misto constante de dúvidas, incertezas, inseguranças, tentando se encontrar e se aceitar da forma que ela é, ou da forma que ela deseja ser.
Este é o maior trunfo da obra de Joachim Trier, o poder que o filme tem em conversar diretamente com o espectador, em explorar o nosso lado humano, que sempre foi regado com inseguranças, incertezas, traumas, medos, frustrações, misturado com desejos, ambições, transições. A força que o longa tem em mergulhar diretamente em nossa mente e aflorar o nosso lado existencial (a nossa crise existencial), pois todos nós sempre passamos por conflitos internos caracterizados pela impressão de que a vida carece de algum sentido, de algum propósito, aquela confusão sobre a identidade pessoal em sua definição, temos várias nuances em diferentes vertentes. É exatamente dessa forma que eu vejo toda a história da Julie.
O roteiro de Joachim Trier e Eskil Vogt é maravilhoso, de alto nível, feito com uma inteligência absurda, pois temos um tema que pode parecer complexo, intrigante e dramático, ao mesmo temo que se desenvolve como uma comédia romântica, engraçada, leve e prazerosa. Este é o verdadeiro ponto alto do roteiro, a forma suave como ele se desenvolve, ao mesmo tempo que temos viradas inesperadas que nos causa impacto, que nos prende diretamente na trama da Julie. Achei muito interessante a decisão em dividir toda a história em um prólogo, um epílogo e 12 capítulos, o que poderia facilmente soar como uma decisão controversa se não fosse feito de uma forma assertiva, e de fato foi. Realmente o roteiro do longa é muito eficiente, muito coerente, muito formidável, Joachim Trier e Eskil Vogt foram muito competentes ao nos entregar um roteiro inteligente, feito de uma forma verossímil que conversa diretamente com todos nós. Indicação mais do que justa no Oscar, e digo mais, eu realmente fico na dúvida se 'Belfast' deveria ter levado a estatueta, pois o que temos aqui em relação à roteiro deveria ser premiado de alguma forma.
A direção de Joachim Trier é outro ponto que tem que ser destacado, pois o seu trabalho de câmeras é absurdo, feito de uma forma inteligente e competente totalmente imersa na trama. Todos os seus takes eram certeiros e acompanhavam perfeitamente todos os acontecimentos, como por exemplo às várias cenas em que ele apostava na nudez bem explícita e nas cenas de sexo bem explícitas, onde sua câmera acompanhava fielmente cada passo, cada movimento, cada detalhe, sempre com muita atenção - show! Se Joachim Trier aparecesse indicado a Melhor Diretor no Oscar não seria nenhum absurdo. A trilha sonora também foi outro acerto no longa. Uma trilha sonora leve e divertida nos momentos mais comédia, com várias músicas conhecidas mundialmente, porém bem densa e comovente nos momentos mais dramáticos - um contraponto perfeito. A fotografia é muito boa e bem destacada (um exemplo é a cena em que Julie corre pelas ruas, ali a fotografia se destaca ainda mais). A direção de arte é muito bem feita, assim como a cenografia, ambientação, edição, montagem, tudo muito bem caprichado.
Joachim Trier tinha todo o seu elenco nas mãos e soube explorá-los com perfeição.
Renate Reinsve é o principal nome do longa e a de maior destaque, sem dúvidas. Me impressionei com a entrega de Renate, uma atuação muito rica, muito prazerosa, muito bem acertada, onde ela não parecia estar atuando mas sim vivendo em seu dia a dia normalmente. Uma atuação muito leve, muito suave, muito segura, sem precisar se esforçar pra entregar nada, agindo naturalmente, espontaneamente, verdadeiramente, porém quando a trama lhe exigia uma carga mais dramática ela também sabia entregar com perfeição. Renate Reinsve além de linda é carismática, é extrovertida, é espontânea, é competente, uma atriz completa, virei fã. Renate Reinsve conquistou o Prêmio Festival de Cinema de Cannes de Melhor Atriz, e uma indicação ao Satellite e ao BAFTA de Melhor Atriz. E eu vou ser bem sincero, assim como eu defendi a indicação da Lady Gaga no Oscar desse ano, eu também defendo uma indicação para a Renate Reinsve, pois o que ela nos entregou em 'A Pior Pessoa do Mundo' poderia facilmente lhe incluir na categoria de Melhor Atriz, pelo menos para coroar este trabalho magnífico.
Anders Danielsen Lie (Aksel, o primeiro amor de Julie 15 anos mais velho que ela) foi outro ator que me impressionou, mais precisamente nas cenas finais, quando ele percebe realmente que se distanciou da Julie (ou realmente a perdeu de vez), dando um verdadeiro show de atuação naquela cena em que ele abre seu coração para ela, aflorando e expondo toda sua carga dramática - outra bela atuação! Herbert Nordrum (Eivind, segundo interesse de Julie) é outro ator que nos chamou a atenção no longa, pois a forma que seu personagem conhece e se envolve com a Julie é um tanto quanto curiosa e totalmente inusitada. Herbert Nordrum dos três foi o que esteve mais abaixo em questão de atuação, mas ainda assim ele foi muito bem em compor o seu personagem e nos entregar o que realmente o filme lhe pedia.
'A Pior Pessoa do Mundo' estreou no Festival de Cannes 2021 em 8 de julho. O longa foi muito bem aceito, criticado e elogiado ao longo dos festivais de premiações, adquirindo indicações no BAFTA (Atriz e Filme Estrangeiro), no Critics Choice Awards (Filme Estrangeiro), no Satellite Awards (Atriz e Filme Estrangeiro) e no Oscar, onde o longa apareceu indicado nas categorias de Roteiro Original e Filme Estrangeiro. E mais uma vez sendo bem sincero: eu daria o prêmio de Filme estrangeiro para o longa se não tivesse na disputa aquela obra de arte japonesa, 'Drive My Car'.
'A Pior Pessoa do Mundo' é um belíssimo filme, muito bem dirigido, muito bem construído, muito bem idealizado, muito bem atuado. Um filme bastante reflexivo, que vai nos fazer pensar em diferentes camadas de nossas vidas, que vai nos expor à realidades cruas e secas sobre os nossos propósitos e sentidos na vida, que vai nos aflorar sobre nosso existencialismo - realmente um filme para fazermos uma autoavaliação - fantástico! Isso só prova cada vez mais que também temos ótimos filmes e belíssimas obras cinematográficas fora do mundo hollywoodiano, 'A Pior Pessoa do Mundo' está aí para se provar como um ótimo filme do cinema norueguês. [09/04/2022]
Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw
3.1 455Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw (Fast and Furious Presents: Hobbs and Shaw)
'Hobbs & Shaw' é dirigido por David Leitch (diretor de Deadpool 2) e escrito por Chris Morgan (roteirista dos outros Velozes) e Drew Pearce (roteirista de Homem de Ferro 3), a partir de uma história de Morgan. É um spin-off da franquia 'Velozes e Furiosos' ambientado após os eventos de 'Velozes e Furiosos' (2017) e antes dos eventos de F9 (2021). O filme traz Dwayne Johnson e Jason Statham reprisando seus papéis da série principal como Luke Hobbs e Deckard Shaw, respectivamente, e também estrelado por Idris Elba, Vanessa Kirby, Eiza González, Cliff Curtis e Helen Mirren. A trama segue o improvável par dos personagens titulares enquanto eles se unem à irmã de Shaw (Kirby) para combater um terrorista ciberneticamente aprimorado (Elba) que ameaça o mundo com um vírus mortal.
A estrela da série e produtor Vin Diesel disse pela primeira vez em 2015 que possíveis spin-offs estavam em desenvolvimento inicial, e Hobbs & Shaw foi anunciado oficialmente em outubro de 2017, sendo lançado em agosto de 2019.
Quando ouvi os rumores sobre um possível spin-off da franquia 'Velozes e Furiosos' eu fiquei bastante curioso, pois sou um fã de longa data da saga e via nos personagens de Dwayne Johnson e Jason Statham um certo potencial para tal evento, mas confesso que não dei a mínima, principalmente pelo rumo que a série tinha tomado em seus últimos anos. Tanto é que só estou conferindo o filme hoje, com quase três anos do seu lançamento.
'Velozes e Furiosos' sempre foi uma franquia marcada pelos roteiros galhofas e seus acontecimentos totalmente mentirosos e impossíveis (por exemplo o último filme lançado no ano passado). Uma franquia totalmente descompromissada com a realidade e despretensiosa com ideias e roteiros bem elaborados, feito unicamente com a intenção de entreter, divertir e nos prender naquele blockbuster bem pipoca. E nesse quesito 'Hobbs & Shaw' acerta em cheio, pois o longa é totalmente coerente no que se propõe, que é exatamente ser um filme de ação totalmente descompromissado com a realidade. 'Hobbs & Shaw' é pastelão mesmo e não tem vergonha disso, pois o filme entrega o que promete, que é nos divertir e nos entreter com sequências de ação que são de tirar o fôlego.
Quando você decidi assistir 'Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw' você já vai esperando tudo que irá acontecer, mesmo que você nunca tenha assistido nenhum filme da franquia original, mas só pelos trailers você já identifica a proposta do filme. Então não adianta criticar que o filme é mentiroso, foge da realidade, é absurdo, é clichê, é caça-níquel, e eu concordo que é, mas 'Hobbs & Shaw' é exatamente tudo isso misturado, esse é o direcionamento do filme, essa é a verdadeira proposta do filme. E eu não tenho nenhum receio em afirmar que 'Hobbs & Shaw' é um dos melhores filmes de ação daquele ano, e é muito melhor que 'Velozes e Furiosos 9'.
Dwayne Johnson e Jason Statham são um verdadeiro espetáculo em cena, pois já conhecendo os seus personagens da franquia original, já podemos esperar tudo do mais impossível e mentiroso que eles podem nos entregar, e é exatamente tudo isso que eles nos entrega - desde às sequências mais absurdas de uma queda livre de um prédio até segurar um helicóptero por uma corrente unicamente com a força - praticamente o Hulk...rsrs! Porém os dois são mitos, showman, cada um à sua maneira, como a inteligência do Shaw e a força bruta de Hobbs, e vê aquele embate entre os dois pra decidir quem é o mais foda é impagável. Realmente Dwayne Johnson e Jason Statham são os protagonistas perfeitos para a história, entregam exatamente o que o filme precisa, nasceram pra estrelarem filmes de ação, são ótimos nesse quesito, e pra quem curte um bom filme de ação, não tem como não achar foda os seus personagens.
A adição da belíssima Vanessa Kirby (de Missão Impossível - Efeito Fallout e Pieces of a Woman) foi um grande acerto, pois sua personagem Hattie Shaw (irmã de Deckard Shaw) funciona perfeitamente dentro da trama, fazendo uma ligação muito interessante com a história e adquirindo uma química certeira com o Hobbs e o Shaw (poderiam levá-la para a franquia principal sem nenhum receio). Vanessa Kirby é uma ótima atriz e é muito boa e muito funcional em filmes de ação, como no próprio ' Missão Impossível - Efeito Fallout'. Trio perfeito para o longa - Dwayne Johnson, Jason Statham e Vanessa Kirby.
Idris Elba poderia mudar esse trio para um quarteto facilmente, pois seu vilão ciberneticamente aprimorado é muito bom e muito mentiroso (kkkkk). Pra mim também acertaram na escolha do vilão e na escolha do Idris Elba. Aquela cena final do embate entre Hobbs e Shaw contra Brixton é incrível, são sequências de ação do mais alto nível.
Gostei da parte que envolveu a família do Hobbs, achei interessante entrar nesse ponto e de alguma forma tentar explorar esse seu arco pessoal, apesar que poderiam ter explorado um pouco mais (quem sabe no próximo filme). Por falar em família, a família Shaw esteve quase que toda reunida, faltando apenas o Owen Shaw (Luke Evans). E como não poderia ser diferente, a mamãe Shaw (Helen Mirren) foi uma graça, deu mais um show em suas breves aparições. Impossível não se deliciar com a presença de Helen Mirren em um filme da franquia 'Velozes e Furiosos', ele é sempre maravilhosa, uma verdadeira dama, com aquele seu ar sempre soberano e intocável. Vanessa Kirby caiu como uma luva para esta família, como podemos constatar naquela cena final dos três na prisão.
Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw é sim um bom filme de ação, fugindo mais uma vez dos rachas de carros que elevou o nome da franquia lá no início dos anos 2000, mas isso também não é nenhuma surpresa, visto que nos últimos filmes da franquia original esta parte também foi meio que deixado de lado. O longa funciona perfeitamente em sua ideia original, e é isso que importa, nos entrega o que realmente queríamos em um filme dessa temática e ainda mais tirado da franquia 'Velozes e Furiosos'. 'Hobbs & Shaw' me divertiu, me entreteve, garantiu minhas 2h com muita diversão e funcionou como uma válvula de escape depois de um dia cansativo e estressante de trabalho, pois no final das contas eu acho que essa é a verdadeira proposta desse filme, nos aliviar, nos suavizar e nos divertir.
E vamos aguardar a sequência já confirmada em Abril de 2020 pelo próprio Dwayne Johnson, que afirmou que o próximo filme está em desenvolvimento e o roteiro será do Chris Morgan. [08/04/2022]
O Leitor
4.1 1,8K Assista AgoraO Leitor (The Reader)
'O Leitor' é um drama romântico de 2008 dirigido por Stephen Daldry (Billy Elliot e As Horas) e escrito por David Hare, baseado no romance alemão (Der Vorleser) de 1995 de Bernhard Schlink. É estrelado por Kate Winslet, Ralph Fiennes e David Kross. Foi o último filme dos produtores Anthony Minghella e Sydney Pollack, que morreram antes de seu lançamento.
O filme conta a história de Michael Berg (David Kross / Ralph Fiennes), um advogado alemão que, aos 15 anos de idade, em 1958, mantém um relacionamento sexual com uma mulher mais velha, Hanna Schmitz (Kate Winslet). Ela desaparece apenas para ressurgir anos depois como um dos réus em um julgamento de crimes de guerra decorrentes de suas ações como guarda em um campo de concentração nazista. Michael percebe que Hanna está guardando um segredo pessoal que ela acredita ser pior do que seu passado nazista – um segredo que, se revelado, poderia ajudá-la no julgamento.
O longa é uma verdadeira pérola da sétima arte, pois temos um roteiro absurdamente complexo, criativo, niilista, cujo resultado é nos entregue de forma densa, pesada, pragmática, nos soando como uma obra peculiar, verdadeira, introspectiva, intragável e ao mesmo tempo emocionante. O filme nos faz pensarmos em diferentes temas, seja pelo relacionamento do casal, ou pelos crimes desumanos durante a segunda guerra, ou o problema visto socialmente pelo analfabetismo, mas ao tratar especificamente sobre o Holocausto, podemos refletir um pouco sobre o que seria ético, legal e/ou moral. Exatamente um dos pontos cruciais do roteiro de David Hare que o torna tão peculiar e coeso, o contraponto entre um romance regado à sexo, ou até mesmo o nascimento de uma linda história de amor entre duas pessoas com uma certa diferença de idade, com o confronto de um tema tão pesado e importante para a humanidade, o nazismo juntamente com o Holocausto nos campos de concentração de auschwitz (mesmo sem um aprofundamento em tal tema).
O primeiro ato do filme é de uma beleza e uma delicadeza genuína e muito peculiar, pois temos a descoberta do primeiro amor por parte de Michael (David Kross) e o desejo sexual pelo garoto por parte de Hanna. Stephen Daldry acerta muito bem ao nos relatar inúmeras cenas de nudez por parte da Kate e do David, mas de uma forma singular, artística, sem soar ofensiva ou apelativa, o mesmo vale para às várias cenas sexuais entre eles. Eu pude assistir estas cenas com um olhar mais ambíguo, mais romântico, sem me sentir ofendido ou desrespeitado, ou achar que a obra poderia levantar discussões com temas voltados para a pedofilia ou algo do tipo. Exatamente outro ponto muito bem acertado na obra de Stephen Daldry, a sua forma única, poética e artística em nos trazer a sua adaptação unicamente com a intenção voltada para a arte cinematográfica, sem levantar bandeiras entre o certo ou o errado, sem entrar em discursos sobre ética e moralismo, tanto pelo lado do romance e da nudez do casal em questão, quanto pelo posicionamento político e nazista levantado em cima da protagonista Hanna. Pois alguns historiadores criticaram o filme por fazer de Hanna Schmitz um objeto de simpatia do público e acusaram os cineastas de revisionismo do Holocausto - o que discordo veementemente!
Kate Winslet (nossa eterna Rose DeWitt Bukater) é a verdadeira dona do filme!
Kate está no papel da sua vida, interpretando uma das melhores personagens de toda a sua carreira. Hanna levava a sua vida trabalhando normalmente até conhecer Michael, pois a partir daí a sua vida dá uma verdadeira virada, com o seu envolvimento sexual com o garoto e a sua paixão em ouvir às leituras que ele fazia para ela sempre antes do sexo. O nível de atuação e entrega de Kate na pele da Hanna chega a nos assustar, pois ela conseguia ir do cômico ao drama instantaneamente, nos mostrando suas múltiplas facetas, sua personalidade dramática, suas expressões de prazeres e de sofrimentos, ambas praticamente interligadas. Temos inúmeras cenas onde Kate entrega atuações em altíssimo nível: às próprias cenas eróticas, a cena da sua condenação, seu reencontro com Michael, entre várias outras.
Kate ganhou tudo que foi indicada naquele ano, fez a limpa em todas premiações, muito justo por sinal. Como por exemplo o próprio Oscar de Melhor Atriz, onde Kate concorria contra aquela atuação estupenda de Angelina Jolie por 'A Troca', mas realmente aquele ano era o ano da Kate Winslet - completamente perfeita!
David Kross (da obra-prima Cavalo de Guerra) fez um ótimo contraponto com a Kate Winslet, alcançou uma ótima química, ao ponto de nos fazer simpatizarmos pelo casal durante toda a trama. Michael é um garoto que estava se descobrindo e descobrindo todos os prazeres que a vida podia lhe oferecer, principalmente os prazeres sexuais e amorosos. Porém com o passar do tempo vieram grandes responsabilidades, ao ponto de lhe exigir medidas e decisões que o influenciaria pelo resto de sua vida. Uma baita atuação de David Kross, muito segura nos momentos sexuais e de nudez, bem dosada nos momentos mais românticos e mais dramáticos, conseguindo uma ótima atuação contracenando ao lado da Kate Winslet, o que não seria nada fácil, principalmente em cenas eróticas com uma atriz do calibre da Kate e quando se tem apenas 18 anos - David Kross mandou muito bem!
Ralph Fiennes (o inescrupuloso Amon Goeth de A Lista de Schindler) completa com sua atuação fina, prazerosa, rica, charmosa, um verdadeiro gentleman na arte de atuar. Fiennes deu vida ao Michael mais velho, um personagem visivelmente sofrível, resguardado, depressivo, com um ar introspectivo, complexo, misterioso, que guardava todos os seus segredos pra si. O último ato do filme é inteiramente do Ralph Fiennes, onde ele brilha e se destaca ao lado da Kate Winslet, juntos nos levaram às lágrimas, literalmente, principalmente na última cena com a Hanna e na última com sua filha, quando ele decide lhe contar toda a sua história de adolescência - um final simplesmente avassalador, daqueles que a gente jamais esquecerá.
Tecnicamente o longa de Stephen Daldry é uma das melhores obras-primas do cinema naquele ano!
Ouso a falar que em 'O Leitor' temos uma das melhores trilhas sonoras de Alberto Iglesias, que foi injustamente esnobada no Oscar daquele ano (é academia). Uma trilha sonora forte, pesada, incômoda, tensa, regada as mais belas e suaves melodias tiradas de pianos e violinos, o que definitivamente nos emocionava verdadeiramente, principalmente no último ato do filme - nota 10 para a obra-prima de Alberto Iglesias. A fotografia do mestre Roger Deakins e Chris Menges é completamente sublime a avassaladora. É incrível como a fotografia se sobressaia e acompanhava em todas as cenas, saltando aos nossos olhos (bela indicação ao Oscar). A direção de arte, cenografia, figurinos e maquiagens estão todos perfeitos e foram feitos com o maior cuidado e atenção possível, com um destaque maior para o trabalho de maquiagem e cabelo feito na Kate Winslet no último ato do filme, que a deixou praticamente irreconhecível e bem envelhecida. A direção de Stephen Daldry é muito bem ajustada e muito rica nos detalhes, com um trabalho de câmeras magistral, que só nos imergia em sua trama cada vez mais - indicação mais do que justa ao Oscar.
Na temporada de premiações de 2009 'O Leitor' foi bem reconhecido e bem indicado (mas poderia ter sido ainda melhor). O longa ganhou inúmeras indicações ao longo dos festivais, incluindo SAG's, Critics, BAFTA e Globo de Ouro. Além, é claro, do Oscar, onde esteve indicado em Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Diretor, Melhor Atriz e Melhor Filme, perdendo para 'Quem Quer Ser Um Milionário?', e levando apenas a estatueta da Kate Winslet.
Me recordo de ter assistido 'O Leitor' uma vez lá em 2009, logo após o Oscar, porém na época eu não tinha o olhar crítico e a visão que eu tenho hoje. Me lembro de ter gostado demais do filme e ter me emocionado com o último ato, e hoje não foi diferente, me emocionei exatamente na mesma parte. Hoje com um olhar mais crítico posso afirmar que 'O Leitor' é um belíssimo filme, uma pérola cinematográfica, uma obra de arte esplendorosa, pois o longa tem o dom de nos fazer sorrir, suspirar, paralisar, se emocionar e se encantar verdadeiramente. Um filme único, forte, pesado, incômodo, mas também leve, primoroso, emocionante e singular, que vai dos prazeres e das descobertas amorosas e sexuais até os temas mais fortes, importantes e significativos na história da humanidade - perfeito!
Difícil encontrar uma obra hoje em dia que nos faça aflorar um misto de sentimentos diferentes em apenas 2h.
5 estrela para esta obra-prima artística, poética e contemporânea do cinema moderno de Stephen Daldry! [01/04/2022]
Drive My Car
3.8 389 Assista AgoraDrive My Car
'Drive My Car' é um belíssimo drama do cinema japonês co-escrito e dirigido por Ryusuke Hamaguchi. É baseado e inspirado no conto de mesmo nome do renomado autor japonês Haruki Murakami, em seu livro de coletânea de contos de 2014, Homens sem Mulheres, enquanto se inspira em outras histórias. O filme segue Yūsuke Kafuku (interpretado por Hidetoshi Nishijima) enquanto dirige uma produção multilíngue de "Tio Vânia" em Hiroshima e lida com a morte de sua esposa, Oto (interpretada por Reika Kirishima).
O cinema asiático está em bastante evidência nos últimos anos, principalmente após a vitória histórica de 'Parasita' no Oscar de 2020. Se naquele ano tivemos uma grande obra do cinema coreano, este ano temos uma grande obra do cinema japonês.
'Drive My Car' é diferente de tudo que eu já assisti, um jeito totalmente diferente de se fazer cinema, praticamente fugindo de tudo que pode soar trivial no cinema moderno. Um filme contemplativo, intrigante, complexo, intimista, carregado dramaticamente e com várias camadas que sobrepõe cada personagem na trama, que nos confronta diretamente com o luto e a solidão em várias nuances e em diferente vertentes. O longa nos evidencia com a descaracterização e a desconstrução do ser humano quando lhe é imposto em diferentes consequências da vida. Uma obra profunda, tocante, singular, primorosa, que nos conscientiza sobre o medo, o trauma, a frustração humana em diferentes aspectos e em diferentes pontos de vista, e sempre com uma forma totalmente verossímil.
O roteiro de Ryusuke Hamaguchi e Takamasa Oe é a verdadeira cereja do bolo, pois temos um roteiro coerente, formidável, com um texto muito bem escrito e muito bem adaptado, onde se dividi magistralmente em 3 atos que se conversam entre si. O enredo tem um ótimo desenvolvimento e uma ótima transição entre os 3 atos, nos apresentando e estabelecendo cada personagem que faz e fez parte da vida e da história de Yusuke. A narrativa é excelente, pois a forma adotada para contar toda a história é simplesmente perfeita, com um transporte temporal para nos elucidar sobre cada ponto de virada na trama, seja no primeiro ato, no segundo, ou no terceiro - genial!
Outro ponto que me deixou completamente boquiaberto ao final do filme....suas 3h de duração que me pareceram 1. Vou ser bem sincero, eu não senti em nenhum momento que o longa tinha praticamente 3h de duração, pois o filme é tão envolvente que prende a sua atenção em todas as cenas, você quer buscar sempre além, quer ir cada vez mais longe - é incrível! Pois um filme com quase 3h de duração seria mais do que inevitável (e até normal) cansar o espectador e o fazer perder o interesse pela história que estava sendo contada. Mas não, pelo contrário, o longa não é arrastado, não é cansativo, por mais que seu ritmo seja lento, mas você se prende no texto, nos diálogos afiadíssimos e nas ótimas interpretações.
Porém, vou entender perfeitamente quem não conseguir sentir o filme, quem não conseguir se prender na história como eu me prendi, quem achar o filme cansativo e arrastado, pois o longa foge completamente dos filmes triviais modernos, por se tratar de uma obra mais intimista que mantém um ritmo mais lento, mais profundo, que definitivamente não vai prender o espectador pelo dinamismo e sim pela peculiaridade que nos está sendo contada toda a história.
Ryusuke Hamaguchi está completamente perfeito na direção do longa, um trabalho muito competente, onde em todos os momentos nos evidenciava sobre a dor, o sofrimento, a angústia, a frustração e o trauma de cada um ali presente, feito unicamente pelas lentes de sua câmera em diferentes takes certeiros - mais do que merecida a sua indicação ao Oscar. A fotografia de Hidetoshi Shinomiya é muito bem apresentada em cena, acompanha muito bem os diferentes locais imerso dentro desse 'road movie'. A trilha sonora da cantora e compositora Eiko Ishibashi é bem intimista, bem local, agrega ainda mais na obra, apesar de ser uma trilha mais modesta. Assim como a direção de arte de Kensaki Jo, que está muito bem montada e arquitetada.
Em questões de elenco é outro show à parte!
Temos um elenco afiado que entregaram ótimas atuações!
Como no caso do Hidetoshi Nishijima (o Yusuke Kufuku), que fez um personagem carregado emocionalmente e que transplantava toda essa carga dramática em tela - ótima atuação! Toko Miura (que fez a Misaki Watari) é outra que esteve perfeita em praticamente 100% do tempo. Foi impressionante e gratificante acompanhar às idas e vindas de Misaki e Yusuke a bordo do Saab 900, onde nos evidenciaram com suas histórias semelhantes e que se conversava entre si ao final - cena belíssima aquela dos dois abraçados naquele cenário de gelo, e uma bela atuação de Toko Miura. Reika Kirishima (que fez Oto Kafuku, esposa de Yusuke) tem um destaque excepcional no primeiro ato do filme, sendo dela praticamente todas as cenas de maiores relevâncias naquela parte - belíssima atriz, aquela cena do sexo é um absurdo de interpretação, tá louco!!! Masaki Okada (que fez o Koji Takatsuki) foi outro ator que gostei demais, sua atuação condizia perfeitamente no que se propunha o seu personagem em cena - aquela cena bem dialogada entre Koji e Yusuke é outra barbaridade de interpretação de ambos os atores.
Na temporada de premiações Drive My Car é o principal nome entre os filmes internacionais, inclusive já levou a estatueta no Globo de Ouro, no BAFTA e no Critics. No Oscar o longa está indicado em 4 categorias, sendo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Diretor, Melhor Filme Internacional (principal favorito) e Melhor Filme.
Desde que foi anunciado a lista dos indicados ao Oscar eu fiquei muito curioso com 'Drive My Car', afinal de contas o longa japonês foi indicado em Filme Estrangeiro e com certeza não foi à toa a sua indicação na principal categoria da noite, Melhor Filme. Assim como a indicação de Ryusuke Hamaguchi em direção, que a princípio eu fiquei me perguntando se realmente ele merecia estar entre os indicados nessa categoria, e hoje eu afirmo com toda certeza que sim, merece e muito. A princípio eu também me perguntei se por acaso o Ryusuke não estaria ocupando a vaga que deveria ser do Denis Villeneuve (Duna), e hoje eu vejo que eu estava completamente errado, a vaga que deveria ser do Denis Villeneuve quem está ocupando injustamente é o Paul Thomas Anderson pelo seu fraco filme 'Licorice Pizza'.
Já na principal disputa da noite, 'Drive My Car' é sim um dos principais favoritos para levar a estatueta, apesar das atenções ultimamente estarem voltadas para 'Ataque dos Cães' e principalmente para 'CODA'. Meu favorito na categoria Melhor Filme é 'Ataque dos Cães', pois dentre os 10 indicados é disparado o melhor filme de todos e o que de fato merece ser o campeão da noite. Mas se por acaso a academia decidir premiar o longa japonês, pra mim não será nenhuma surpresa, afinal de contas 'Drive My Car' é um belíssimo filme e também é merecedor da principal estatueta do Oscar, mesmo não tendo a minha torcida.[25/03/2022]
Belfast
3.5 292 Assista AgoraBelfast
'Belfast' é um filme britânico escrito, produzido e dirigido por Kenneth Branagh. O Longa é estrelado por Caitriona Balfe, Judi Dench, Jamie Dornan, Ciarán Hinds, Colin Morgan, Lewis McAskie, Lara McDonnell e o estreante Jude Hill. Belfast é a capital da Irlanda do Norte, local onde Branagh nasceu, sendo o palco principal para ele contar o seu filme mais pessoal, mais intimista, pois o longa é exatamente baseado em uma história real da sua infância.
O longa segue exatamente a infância de Buddy (Jude Hill) em Belfast, no ano de 1969, época em que estava acontecendo o "The Troubles" (um conflito de grande violência pelo estatuto político da Irlanda do Norte).
É interessante notar que Kenneth Branagh nasceu em 1960 e o filme começa em agosto de 1969, sendo assim ele deveria ter entre 8 a 9 anos na época. Um ponto muito inteligente que Branagh trouxe em seu roteiro ao encaixar a sua história sendo contada a partir da perspectiva de Buddy (que parecia ter mais ou menos essa idade). Pois é exatamente assim que a história de Branagh se desenvolve, pelos olhos de Buddy, um garotinho que vivia com sua família naquela época turbulenta. Buddy era de uma família protestante da classe trabalhadora, que lutava para conseguir saldar as suas dívidas e obter uma vida melhor futuramente.
Este é o ponto mais singelo e mais tocante na obra de Branagh, pois ele uniu um contraponto perfeito pelos olhos de Buddy ao nos mostrar a sua inocência, a sua pureza, os seus sonhos, sendo confrontados diretamente com a brutalidade dos conflitos entre os católicos e os protestantes, os confrontos entre os manifestantes e a polícia, os massacres da guerra civil. Acredito que Branagh decidiu contar a sua história em preto e branco pra literalmente nos passar a falta de vida, de alegria, de cores naquele momento da sua infância, que por mais que tínhamos momentos mais leves por parte de Buddy e seus avós, mas sempre inserido dentro daquele pano de fundo de guerras, conflitos e violência. Até por isso quando o filme nos apresentava um acontecimento que estava fora desse contexto, nos era contado em cores, como na cena do cinema e do teatro.
Branagh escreve um dos seus roteiros mais geniais em 'Belfast', que por mais que aquele momento era tomado pelos acontecimentos do "The Troubles", por mais que o Buddy estava em meio às mudanças culturais e sendo exposto diretamente a violência extrema, por mais que a sua família estava enfrentando dificuldades e tendo que tomar decisões difíceis, mas o seu toque singelo estava em sua forma mais íntima de nos passar a sua inocência nas descobertas que o pequenino Buddy estava fazendo. Por exemplo o seu primeiro amor, como era puro a descoberta daquele nascimento do primeiro amor de infância entre Buddy e Catherine (Olive Tennant). Como era gostoso e gratificante acompanhar a relação de Buddy com seus avós, juntamente com os conselhos que seu vô lhe dava em como se aproximar de Catherine. Os próprios conselhos da vida que seus avós que lhe dava era uma coisa genial. Os pequenos delitos que Buddy cometia ao roubar os chocolates da lojinha, ou ao se juntar na gangue e saquear o sabão em pó no supermercado, outro ponto bastante interessante, em como uma criança na idade do Buddy era facilmente influenciada. A cena final do Buddy se despedindo da Catherine é muito singela e verdadeira, quando seu pai lhe dá aquele conselho que ele vai levar pelo resto de sua vida - uma cena tocante e profunda, genial!
Além do roteiro de Branagh ser bastante intimista, a sua forma de filmar também é bem íntima, pois ele emprega a sua câmera acompanhando os passos de Buddy em todos os momentos, sempre captando os takes em suas diferentes reações e expressões (como em várias cenas em que ele se mostra surpreso com algo que estava acontecendo). A trilha sonora de Van Morrison é um dos principais pontos positivos dentro do longa de Branagh. É impressionante como a trilha sonora está bem casada dentro da trama, como ela acompanha bem a trama, como ela influencia diretamente em todas as cenas e dita o ritmo certeiro de cada acontecimento - destaque para a sua belíssima composição, "Down to Joy", que está concorrendo ao Oscar. 'Belfast' tem uma das mais belas fotografias que eu já vi em um filme este ano, até por se tratar de uma película em preto e branco, onde contribui demais para a fotografia - méritos para o diretor Haris Zambarloukos (de Mamma Mia! e Thor). Até agora estou me perguntando como o filme não ganhou indicação por fotografia no Oscar, mais uma bola fora este ano academia. A direção de arte, juntamente com a cenografia, é outro ponto que merece destaque, pois está muito bem caprichada e muito fiel dentro da proposta do tema abordado pelo filme.
O elenco de 'Belfast' é uma obra-prima à parte! Um elenco onde todos estão bem, todos tem atuações bem destacadas, criamos uma empatia por todos, torcemos por todos, sofremos por todos. Branagh foi muito feliz ao escolher o seu elenco (cujo vários membros da produção também nasceram em Belfast), um elenco muito bem ajustado, onde todos possuíam uma ótima química. Eu gostei muito do elenco de 'Coda' e de 'West Side Story', mas depois de conferir esta obra eu afirmo que 'Belfast' tem o melhor elenco dessa temporada de premiações - sem sombra de dúvida.
Jude Hill é um doce, um ator-mirim que se destaca dentre o elenco adulto, entregando um verdadeiro show em cena. Impossível não simpatizarmos com ele, impossível não nos emocionarmos com ele, ele nos cativa e prende a nossa atenção em todos os momentos (e olha que ele estava fazendo a sua estreia nos cinemas). A categoria Revelação no Critics este ano está disputadíssima, pois além de ter amado a atuação do Jude Hill, ainda temos Emilia Jones (Coda), Saniyya Sidney (King Richard) e Rachel Zegler (West Side Story). Vai ser difícil decidir a minha torcida, mas vou ficar dividido entre o Jude Hill e a Emilia Jones.
Caitríona Balfe (de Ford vs. Ferrari) está ótima, entrega uma atuação soberba e tem uma carga dramática bem dosada, e assim como Jamie Dornan (de Cinquenta Tons de Cinza), que também está maravilhoso, formam o casal dos pais de Buddy, que por sua vez possuem uma ótima química entre eles. Judi Dench (de Shakespeare Apaixonado) e Ciarán Hinds (de Munique e Sangue Negro) estão maravilhosos como os avós do Buddy. Uma das melhores cenas era exatamente os diálogos (conselhos) entre os avós e Buddy, onde eu conseguia sentir o amor verdadeiro pela sétima arte bem explicita nas atuações de Judi Dench e Ciarán Hinds. Completando a família com Lewis McAskie (Will, o irmão mais velho de Buddy) e Josie Walker (como a tia Violet). Sem deixar de mencionar a Lara McDonnell (Moira), amiga inseparável de Buddy.
'Belfast' foi indicado em 7 categorias no Globo de Ouro, incluindo Canção Original, Roteiro, Atriz Coadjuvante (Caitríona Balfe), Ator Coadjuvante (Jamie Dornan e Ciarán Hinds), Direção e Filme Drama. No SAG's o filme esteve indicado em 2 categorias, Atriz Coadjuvante e Elenco. No Critics o longa está indicado em Edição, Direção de Arte, Fotografia, Roteiro Original, Direção, Elenco, Revelação, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante (os 2 atores) e Melhor Filme (sendo bem sincero, eu daria o prêmio de Elenco para 'Belfast'). No BAFTA o longa está indicado em 6 categorias, incluindo as principais de Melhor Filme e Melhor Filme Britânico, sendo esnobado em Direção (BAFTA sendo BAFTA). No Oscar o longa está nomeado em 7 categorias, incluindo Som, Canção Original, Roteiro Original, Atriz Coadjuvante (Judi Dench, Caitríona Balfe ficou de fora), Ator Coadjuvante (Ciarán Hinds, Jamie Dornan também ficou de fora), Direção e Melhor Filme.
Kenneth Branagh nos traz o seu filme mais intimista, mais pessoal, e eu simplesmente amo esse estilo intimista em nos relatar uma parte da sua infância, que me remete diretamente a obra-prima de Alfonso Cuarón (Roma). Outro ponto que me prende e me emociona em obras como 'Belfast', é a forma em nos contar a história pela perspectiva de um ator-mirim, como no magnífico 'O Quarto de Jack' e a obra-prima 'O Menino do Pijama Listrado'.
'Belfast' de fato é a obra-prima mais intimista de Kenneth Branagh, o longa é realmente excelente, possui um belíssimo elenco, que nos entrega ótimas atuações, tecnicamente é uma obra-prima, e vai brigar diretamente no Oscar. Por falar em Oscar, acredito que o longa de Branagh não deve brigar em Som, Direção, Ator e Atriz Coadjuvante, já em Canção e Roteiro podem ter uma chance, porém a grande briga ficará na principal categoria da noite, Melhor Filme, onde eu vejo o longa com grandes possibilidades para levar a estatueta. E a partir de agora, 'Belfast' e 'Ataque dos Cães' são os meus favoritos na principal categoria do Oscar 2022. [11/03/2022]
Mães Paralelas
3.7 412Mães Paralelas (Madres Paralelas)
O longa é escrito e dirigido pelo grande cineasta espanhol, Pedro Almodóvar, cuja produção conta com Agustín Almodóvar, seu irmão mais novo, e Esther Garcia. Almodóvar sempre foi reconhecido como um dos mais cultuado cineastas autorais dos cinemas, por empregar seu estilo cinematográfico único, e sempre nos apresentar as suas obras com sagacidade, inteligência, por sempre nos imergir em suas histórias fortes, pesadas, dramáticas, por sempre nos trazer seus roteiros bem elaborados e nos impor a sua forma novelística de nos fazer mergulhar em suas tramas.
Em "Madres Paralelas", Almodóvar nos traz um roteiro inteligente, sagaz, intrigante, curioso, enigmático, que nos prende e nos instiga a querer desvendar tudo que está por trás de cada história, dos personagem, queremos desvendar tudo que está nas entrelinhas do roteiro. Exatamente nesse ponto que eu considero o roteiro de Almodóvar bem astuto, pois ele é realizado de uma forma que nos intriga, que nos deixa curioso o tempo todo. Almodóvar vai costurando as linhas do seu roteiro aos poucos, sem nos entregar nada instantaneamente (ou inicialmente), vamos criando inúmeras possibilidades e vamos sendo confrontados com cada acontecimento. Pois o longa possui dois temas distintos, que inicialmente podem parecer um roteiro perdido, uma narrativa confusa, mas se realmente pararmos para analisar friamente, eles se ligam extraordinariamente ao final.
"Madres Paralelas" pode funcionar como uma novela, um conto, ou algo parecido, pois Almodóvar decide nos confrontar com uma história excêntrica sobre às dores da maternidade, o resgate do passado, a crise existencial, o drama e o peso de ser mãe solteira, tanto adolescente quanto na meia-idade. Ao mesmo tempo que ele propõe e desenvolve um tema que está diretamente inserido em um contexto político histórico, a guerra civil espanhola.
Penélope Cruz é a alma do filme, realmente compreendo a sua indicação ao Oscar.
Penélope dá vida à Janis Martinez, uma mulher na meia-idade que engravida (por acidente) e tem que conviver com o peso de ser uma mãe sozinha e solteira, mesmo que ela tenha condições financeiras para isso. Janis mostra uma personalidade forte e destemida, ao mesmo tempo ela se sente vulnerável, sensível, perdida, tentando se conectar, ou reconectar, à sua vida com o mundo ao seu redor, por todos os acontecimentos que ela está sendo submetida naquele momento.
Ótima atuação da Penélope Cruz....podíamos sentir suas dores, seus traumas, suas nuances, seus conflitos, tudo imposto unicamente pelo seu olhar, com uma carga mais dramática muito bem dosada - sim, temos mais um bela atuação da Penélope Cruz!
A atriz espanhola Milena Smit faz um contraponto bem acertado com a Penélope Cruz. Milena traz uma personagem (Ana) que está dentro do mesmo contexto de ser mãe, ainda mais uma mãe adolescente, solteira, sozinha, sem o apoio dos pais na criação da sua filha. Milena Smit foi uma grata surpresa, gostei da sua atuação, deu o toque certo dentro da história do Almodóvar. Israel Elejalde está bem como Arturo, o problemático caso de Janis, e até então, pai de sua filha. Completando com Aitana Sánchez-Gijón, que fez Teresa, a mãe de Ana - mais uma boa atuação, totalmente dentro do que a sua personagem exigia para a história.
Um dos pontos que mais me chama a atenção nas obras do Almodóvar, está exatamente na sua forma intimista de executar as suas filmagens. Almodóvar dá uma atenção e um carinho ao movimento literário que prioriza a expressão dos sentimentos mais íntimos dos seus personagens em cenas - aproximando cada vez mais a câmera, em um ângulo que dava o exato foco no que estava sendo proposto naquele ambiente. A trilha sonora de Alberto Iglesias (compositor daquela maravilhosa trilha de "O Leitor", com a Kate Winslet) acompanhava fielmente cada passo dos personagens, pois a mesma se destacava em um ritmo mais intenso nos momentos de tensão e nos momentos mais dramáticos - uma trilha sonora muito bem notada e sentida ao longo da trama. A fotografia de José Luis Alcaine também merece um destaque, realmente estava muito bem executada.
Quando eu afirmo que Almodóvar trouxe um roteiro muito inteligente.....vamos aos fatos:
Um ponto que eu achei bastante curioso e muito intrigante no roteiro do Almodóvar, foi exatamente os dois temas que ele estava abordando em seu longa - por um lado a maternidade e suas dores, e por outro às questões políticas.
É fato que a personagem da Penélope Cruz (Janis) buscava incansavelmente descobrir sobre suas origens e de alguma forma tentar honrar a memória do seu bisavô. Exatamente dentro desse contexto que ela busca ajuda com o Arturo, que era arqueólogo, para escavar o local que poderia está os ossos de seu bisavô e dos antepassados que foram assassinados durante a ditadura espanhola.
Mas e como ligar esses dois temas dentro da história?
Bem, eu acredito que a Janis era uma pessoa que sempre buscava a verdade do seu passado, isso de fato era muito importante para ela (é ai que entra o tema político em querer saber a verdade escavando os ossos). Por isso, quando Janis descobre que não era a mãe da pequena Cecília, e que a filha morta da Ana de fato não era dela, Janis entra em um completo dilema pessoal em querer contar a verdade para Ana, pois ela não aguentava a ideia de ocultar a verdade sobre os fatos, exatamente o que fizeram quando ocultaram os fatos verdadeiros sobre seu bisavô na guerra.
Janis poderia muito bem mentir sobre a Cecília para Ana, de fato ela poderia ficar com sua "filha" para sempre, mas como ela iria conseguir conviver com essa incoerência, uma vez que ela própria sempre buscava a coerência (a verdade) sobre o assassinato do seu bisavô na guerra.
Logo após a cena em que o Arturo conta para Janis que se separou da sua esposa por ter contado para ela sobre a sua infidelidade, é exatamente o momento em que Janis fica ainda mais conturbada em saber como é difícil suportar uma mentira, tanto a mentira sobre a filha verdadeira da Ana, quanto a mentira que lhe contaram a vida toda sobre seu bisavô e os antepassados da guerra.
É......se esta reflexão dos dois temas se unindo no roteiro do Almodóvar não for considerado inteligente e sagaz....eu não sei mais o que é!
Na temporada de premiações, "Madres Paralelas" esteve indicado no Globo de Ouro nas categorias Trilha Sonora e Filme Estrangeiro. O BAFTA indicou o longa a Filme Estrangeiro. No Oscar o longa tem duas indicações, Trilha Sonora e Atriz, sendo esnobado em Filme Estrangeiro (como também foi no Critics). Sobre Melhor Atriz, acho o trabalho da Penélope Cruz ótimo e de fato ela mereceu uma indicação, mas pra mim ela corre por fora, vejo a Nicole, a Jessica e a Kristen um passo à frente, principalmente a Kristen.
Pedro Almodóvar nos entrega uma bela obra intimista, "Madres Paralelas" é um ótimo drama, bastante refletivo, interpretativo, curioso e intrigante. Mais um belo filme do cinema espanhol. [04/03/2022]
Spencer
3.6 569 Assista AgoraSpencer
"Spencer" é uma cinebiografia inserida em um drama psicológico de ficção histórica, dirigido por Pablo Larraín e escrito por Steven Knight. O filme é sobre a crise existencial da princesa Diana e se passa em um fim de semana em Sandringham House, no Natal de 1991, nos relatando a sua decisão em querer se divorciar do príncipe Charles, o Príncipe de Gales, e deixar a família real britânica. Kristen Stewart e Jack Farthing estrelam como a princesa Diana e o príncipe Charles, respectivamente, acompanhados por Timothy Spall, Sean Harris e Sally Hawkins.
Vale lembrar que tudo que nos é contado no filme é feito de forma especulativa, lúdica, com uma liberdade criativa, com teorias sobre o que de fato pode ter acontecido na vida da Princesa Diana durante aquela época turbulenta em sua vida, o quê culminou com os acontecimentos que antecederam o natal daquele ano e os dias subsequentes após o seu pedido oficial de divórcio. De fato pode ser uma obra com ares fictício, mas totalmente imersa em uma história verdadeira e angustiante. Uma fábula inspirada em uma tragédia real!
"Spencer" é o típico filme feito para a sua protagonista brilhar. Tudo é pensado exatamente dentro desse contexto, tudo é trazido com os minuciosos detalhes, com todos os cuidados, com muita atenção, tudo é voltado para a Princesa Diana (Kristen Stewart), lhe transformando no pilar central da trama e tudo que acontecia girava ao seu redor.
Pablo Larraín conseguiu nos imergir dentro daquela passagem na vida da Diana com muita competência e de uma forma totalmente crível. É realmente impressionante e assustador ao nos confrontarmos com o modo de vida que a Diana levava em seu dia a dia, praticamente um passarinho preso dentro da gaiola, sendo totalmente controlada e vigiada, cuja próprias roupas sequer ela podia escolher quais queriam usar. Conseguimos sentir a sua angústia, a sua dor, o seu desespero, pois até o seu belíssimo colar de pérolas lhe sufocava como uma coleira em seu pescoço. Diana nos expõe a sua opressão, tensão, abuso, vulnerabilidade, desgaste mental, sanidade mental, pressão psicológica, crise existencial, pois em sua vida ela sofria constantes perseguições da família real e dos paparazzis.
"Spencer" é uma belíssima cinebiografia da Princesa Diana. Por mais que o roteiro se desenvolva de forma fictícia, quem viveu os anos 90 vai conseguir sentir veracidade em tudo que está sendo entregue em cena. Méritos para o diretor Pablo Larraín, que conseguiu nos entregar uma direção competente, ajustada, refinada, pois seus inúmeros takes eram sempre certeiros em diferentes ângulos do rosto da Lady Di, sempre nos evidenciando sobre os diferentes momentos e situações que ela estava enfrentando. O roteiro de Steven Knight é outro ponto certeiro, pois ele entrega exatamente o que se propõe, se desenvolvendo bem dentro daquele pequeno período na vida da Lady Di.
A direção de arte e a cenografia estão soberbas, nos entregando um cenário dentro da mansão real (ou a mansão de férias natalina) totalmente voltada para os anos 90 (méritos para Sebastián Sepúlveda). Os cenários, os objetos de cena, os figurinos, os adereços, os apetrechos, às maquiagens e cabelos estavam realmente incríveis e totalmente fiéis à época. Como não destacar os figurinos luxuosos da Lady Di, juntamente com a sua maquiagem e seus penteados - grande responsável em deixar a Kristen 100% fiel e caracterizada de Princesa Diana (méritos para Jacqueline Durran). A fotografia de Claire Mathon é outro ponto crucial, se destacava em todas as cenas, principalmente as cenas dentro da mansão. A trilha sonora do grande Jonny Greenwood é avassaladora, pois suas composições soavam perfeitas quando confrontadas com os momentos de angústia do dia a dia da Princesa Diana - um casamento perfeito!
Um trabalho sublime, encantador, avassalador, primoroso, genial, estupendo, magnífico, me deixando completamente apaixonado pela Kristen Stewart em "Spencer".
Kristen estudou à fundo a Princesa Diana, assistiu séries, filmes, leu relatos, documentários, buscou informações em tudo que se referia à personalidade que ela iria interpretar nos cinemas. Um verdadeiro estudo na personagem, onde ela buscou se especializar nos sotaques britânicos, nos trejeitos, nas facetas, nos olhares, nas expressões, na postura, no jeito de andar, tudo para ficar o mais próximo possível da princesa Diana. Kristen ainda contou com a ajuda de antigos conselheiros da realeza para viver uma versão mais semelhante dos hábitos de Lady Di.
Kristen está perfeita, totalmente dentro da personagem, muito bem caracterizada, uma atuação monstruosa, sendo praticamente impossível reconhecê-la em tela, estávamos realmente assistindo a Princesa Diana. Pra quem viveu na época da Princesa Diana, vai se impressionar com a tamanha semelhança que a Kristen alcançou com esta atuação.
Kristen realmente calou todos os críticos, pois ela sofreu ao longa de sua carreira marcada pela Bella de "Crepúsculo". Eu mesmo confesso que sempre achei às suas atuações inexpressivas, nunca me cativou, mas agora eu estou engolindo o meu preconceito e admitindo que Kristen Stewart é uma belíssima atriz e nos entregou um trabalho estupendo como Princesa Diana.
Mais uma performance para brigar diretamente no Oscar (ela já levou o prêmio no Hollywood Critics Association ), Kristen vem forte e acaba de se tornar uma das minhas preferidas nessa temporada de premiações (juntamente com a Jessica Chastain).
Completando o elenco ainda tivemos Jack Farthing como Charles, Príncipe de Gales, sem grandes destaques, apenas para contextualizar a história da Lady Di. Timothy Spall como Major Alistair Gregory, sendo uma espécie de mordomo totalmente invasivo e inoportuno (pra não dizer chato pra cacete) no dia a dia da Princesa Diana. E minha querida atriz Sally Hawkins (da qual gosto muito) como Maggie, a Costureira Real e confidente de Lady Di.
No Globo de Ouro "Spencer" teve apenas a indicação da Kristen Stewart. No Critics, além da indicação da Kristen, ainda teve uma para o Jonny Greenwood. O BAFTA ignorou totalmente "Spencer", não indicou em nenhuma categoria, mas há quem diga que a família real pode ter interferido diretamente na decisão, afinal de contas o BAFTA é uma premiação britânica. No Oscar também só tem a indicação da Kristen, porém, eu indicaria fácil na categoria de Melhor Filme, se até "Licorice Pizza" foi, porquê "Spencer" não poderia? Aliás, pra mim, "Spencer" é muito mais filme.
Esta é a temporada das cinebiografias: temos "King Richard", "Being the Ricardos", "Os Olhos de Tammy Faye", "Tick, Tick... Boom!" e completando a lista, "Spencer".
"Spencer" é um ótimo filme, bem editado, bem montado, bem arquitetado, muito bem transplantado para a tela. Tecnicamente o filme é perfeito, tem um roteiro acertado e uma atuação estupidamente maravilhosa da Kristen Stewart. Pablo Larraín nos entrega uma bela cinebiografia dessa específica passagem na vida dessa figura tão importante, tão admirada e tão influente. A Princesa Diana foi e ainda é um ícone mundial, ainda brilha na cultura pop e é lembrada, respeitada, condecorada e homenageada até hoje. A mulher mais fotografada do mundo, Princesa de Gales, Lady Di, uma verdadeira Dama, uma verdadeira Lenda, a Princesa do Povo.
Diana Frances Spencer - de uma simples plebeia para uma princesa!!! [01/03/2022]
Licorice Pizza
3.5 598Licorice Pizza
Paul Thomas Anderson é um diretor que admiro demais, um verdadeiro mestre nos roteiros e na direção dos seus filmes. Ao longo dos anos já nos entregou obras maravilhosas como "Boogie Nights", "Magnólia", "O Mestre", "Sangue Negro" e "Trama Fantasma". Considero "Sangue Negro" como a sua melhor obra-prima até hoje.
"Licorice Pizza" é o mais novo trabalho do diretor, que também assina os roteiros (como de praxe). O longa é uma ideia original de PTA, que novamente se reencontra com a família HAIM (da qual ele é um amigo próximo) depois de realizar vários dos videoclipes do grupo. PTA convida a Alana Haim para estrear nos cinemas e dividir o protagonismo juntamente com Cooper Hoffman, que também está fazendo a sua estreia.
"Licorice Pizza" é o trabalho mais diferente de PTA, é totalmente o inverso do que sempre esperamos dele, ou do que estamos mais acostumados. O longa funciona como uma comédia romântica nostálgica, com algumas pitadas de drama, cuja narrativa se desenvolve mais leve, numa marcante história de “coming of age”. Também pode funcionar com uma carta de amor aos filmes e os seus realizadores da década de 70, pois é completamente notável a forma adotada por PTA ao dirigir o seu filme com ares daquela época. A paleta de cores que observamos em tela é mais envelhecida, com um tom mais amarelado puxando para o acinzentado, cuja fotografia (do próprio PTA) se destaca exatamente nesses pontos. Os próprios figurinos dos jovens daquela década é muito bem notado no elenco (principalmente na Alana e no Cooper Hoffman). A direção de arte é muito atraente, a cenografia é ótima, pois os cenários e todos os seus objetos estão completamente fiéis aos anos 70.
Não posso esquecer de mencionar a trilha sonora de Jonny Greenwood que está completamente magnífica. Uma trilha sonora contemporânea, ajustada, muito bem encaixada e notada ao longo da trama, que enriquecia às qualidades técnicas do filme.
A história acompanha os dois jovens que se apaixonam no Vale de São Fernando, Califórnia, na década de 1970. Temos Alana Haim no papel de Alana Kane, uma jovem de 25 anos que se apaixona por um insistente adolescente de 15 anos, Gary Valentine, interpretado por Cooper Hoffman, filho do falecido Philip Seymour Hoffman.
De fato "Licorice Pizza" tem o estilo de PTA, quem conhece o diretor e acompanha às suas obras vai consegui pegar várias coisas que ele traz de seus trabalhos anteriores. Porém, devo confessar que esse estilo de comédia romântica mais humorada não me pegou, não me envolveu, não me conquistou, pelo contrário, achei uma história bem mediana, bem bobinha, um romance bem água com açúcar, bem chatinho. Típica história romântica que não se desenvolve, não engrena, estaciona, mesmo sendo influenciado por um romance da década de 70, onde literalmente poderia se desenvolver dessa forma que foi contada. Outro ponto, não simpatizei com o casal, não consegui me conectar com eles, não consegui torcer por ninguém, não tive aquela atração pela a sua história. Pra mim faltou clima, faltou química, faltou imersão, faltou alma, faltou estrutura, faltou muita coisa para eu me conectar com aquele romance. Não sei se de repente o fato dos dois estarem estreando nos cinemas interferiu, ou não, mas de fato toda a história criada por PTA ao realizar 'Licorice Pizza' não me agradou.
Por falar em estreias, Alana Haim vem da música para os cinemas, e ela faz uma atuação ok, nada acima da média, apenas ok. Não podemos negar que Alana está bem natural na personagem, traz uma atuação normal, como se fosse ela mesma no seu dia a dia, e isso funciona muito bem, pois era exatamente isso que o filme pedia. Porém, eu vejo a Alana Haim como um diamante bruto, que precisa ser lapidado, precisa de um amadurecimento, e isso é um fato, afinal de contas aqui é seu primeiro trabalho. Mas ela tem talento, tem potencial para ir cada vez mais longe, se escolher os papéis corretos.
Cooper Hoffman está no mesmo nível da Alana Haim, consegue levar o seu personagem bem, em até certos pontos, mas também não tem um grande destaque, apenas compõe a trama. Também acredito que o tempo ajudará no seu amadurecimento cinematográfico, afinal de contas seu pai era um verdadeiro gênio da sétima arte. Ainda tivemos as belas participações de Sean Penn, um verdadeiro showman em cena (aquela cena da moto é muito boa), e Bradley Cooper, nos agraciando com mais uma das suas belas atuações (como o Bradley Cooper é um ator fenomenal - Ave Maria!!!).
No Globo de Ouro o longa de PTA recebeu indicações em Roteiro, Atriz (Alana), Ator (Cooper) e Filme Comédia/Musical. No Critics o longa recebeu 8 nomeações, incluindo as principais de Ator, Atriz, Direção e Elenco. No BAFTA também recebeu 5 indicações, também incluindo as principais e principalmente a de Melhor Filme.
Falando do Oscar: devo mencionar que "Licorice Pizza" está indicado em três categorias, Roteiro Original, Direção e Melhor Filme. Disto isto, devo expor a minha indignação com a academia (mais uma vez), pois é completamente notável que o PTA está indicado a Melhor Diretor somente por ser o PTA, pois em nenhum momento o seu trabalho em "Licorice Pizza" condiz com a sua indicação. Tudo bem que de fato o PTA é um mestre na direção e em "Licorice Pizza" ele faz um trabalho competente, mas não chega aos pés do Denis Villeneuve em "Duna", que foi completamente esnobado pela academia - me desculpem, mas eu achei a indicação do PTA muito forçada e me soou como uma injustiça.
O mesmo vale para a categoria de Melhor Filme, pois "Licorice Pizza" está indicado somente por ser um trabalho do PTA e a categoria contar com 10 vagas, porque em nenhum momento o longa faz jus à esta indicação. Tínhamos filmes melhores e que poderiam facilmente entrar nessa vaga, como o caso de "Tick, Tick... Boom!". Este caso me remete diretamente ao Oscar 2018, onde também tínhamos um filme bem mediano (Lady Bird) que foi erroneamente indicado na categoria de Melhor Filme. Pra falar a verdade: "Licorice Pizza" é o "Lady Bird" dessa temporada.
No mais, "Licorice Pizza" se destaca apenas por ser um trabalho do Paul Thomas Anderson e pelas às suas qualidades técnicas, mas de fato este é o trabalho menos inspirado do diretor, o que definitivamente o coloca como um dos seus piores filmes. Pra mim completamente passável e totalmente esquecível! [28/02/2022]
(uma estrela por ser um trabalho do PTA e a outra pelas qualidades técnicas)
Os Olhos de Tammy Faye
3.3 177 Assista AgoraOs Olhos de Tammy Faye (The Eyes of Tammy Faye)
Os Olhos de Tammy Faye é uma cinebiografia dramática dirigido por Michael Showalter, baseado no documentário de 2000 de mesmo nome de Fenton Bailey e Randy Barbato de World of Wonder. O longa conta a história de Tammy Faye Bakker (interpretada por Jessica Chastain), desde seu humilde começo crescendo em International Falls, Minnesota, até a ascensão e queda de sua carreira de televangelismo e casamento com Jim Bakker (interpretado por Andrew Garfield). O roteiro é escrito por Abe Sylvia, enquanto Jessica Chastain também é um dos produtores do filme.
Assim como no filme "Being the Ricardos", onde tínhamos a cinebiografia de Lucille Ball, aqui temos a cinebiografia de Tammy Faye, o curioso é o fato de eu não conhecer ambas personalidades e suas respectivas histórias. Dito isto, da mesma forma como eu analisei "Being the Ricardos" vou analisar "Os Olhos de Tammy Faye" unicamente pela minha experiência com o filme, sem afirmar se os acontecimentos ocorreram corretamente na ordem cronológica, se teve veracidade nos fatos contados da vida de Tammy e Jim, até porque sem conhecer a história real, fica difícil apontar se a forma como Michael Showalter decidiu contar a história da vida do casal está certa ou errada.
O longa se dividi em duas partes, na primeira hora temos a melhor parte de todo o filme, pois é nela que começamos a conhecer a vida de Tammy Faye ainda criança. Começamos a acompanhar a criação de Tammy, a forma como seus pais moldava a sua cabeça em relação a religião e a igreja, toda sua curiosidade em descobrir o que as pessoas faziam reunidas nas pequenas igrejas. Logo após temos o começo do envolvimento de Tammy e Jim nos anos 60 (por sinal uma parte maravilhosa de Jessica e Andrew), passamos a acompanhar o casamento e a forma como eles começaram a galgar no meio religioso, utilizando-se das pregações de Jim e as apresentações dos bonecos de fantoches de Tammy para chamar a atenção das crianças, que por sua vez chamaria a atenção dos pais para frequentarem as igrejas. Juntamente com a primeira gravidez de Tammy, que viria logo na sequência.
Na segunda parte do filme temos a criação da PTL Club, se tornando a maior rede de transmissão religiosa do mundo. O que viria a elevar a Tammy Faye ao posto de maior apresentadora gospel da TV norte-americana. Mas também nessa segunda parte temos a mudança no tom do filme, que inicialmente era leve e extrovertido, agora já era tenso e pesado, pois começamos a acompanhar a queda da televangelista e de seu marido nos anos 70 e 80, começaram aparecer as primeiras infelicidades no casamento, às traições, os escândalos sexuais, os rivais, a imprensa e as irregularidades fiscais. Definitivamente acompanhamos da ascensão a queda do casamento e do império de Tammy Faye.
O longa de Michael Showalter é muito bom, é muito gostoso de acompanhar, pois toda a história da Tammy Faye é contada de uma forma completamente acertada, sendo leve e tensa nos momentos corretos, conseguindo nos imergir na trama e nos simpatizar pelo casal. Com um destaque mais do que merecido para o trabalho de maquiagem e cabelo, que estão completamente estonteantes. Tammy sempre se destacou pelas suas maquiagens, seus penteados, seus cílios, nada mais justo do que a sua cinebiografia acertar em grande estilo nessas qualidades técnicas. Outro ponto a destacar no trabalho de maquiagem, a forma como o casal eram envelhecidos de acordo com o passar dos anos - magnífico! A direção de arte e a cenografia estão soberbas, impossível não nos maravilharmos com os belos cenários que compõem o longa, muito bem montados, muito bem projetados, com objetos de cenas e figurinos que nos remetia diretamente às décadas de 60, 70, 80 e 90. A fotografia se destaca muito bem, assim como a trilha sonora, que está bem ajustada de acordo com os acontecimentos que permeava a trama.
É inegável que a Jessica Chastain e o Andrew Garfield são os donos do filme, pois ambos estão perfeitos em suas respectivas atuações, ambos conseguem uma química invejável, conseguem comprar a nossa atenção e a nossa empatia instantaneamente.
Jessica incorpora a Tammy Faye de uma forma tão natural, tão leve, tão espetacular, tão minimalista, tão forte, que nos ganha em todas às suas aparições em cenas. É impressionante a facilidade que a Jessica tem para atuar em diferentes situações, pois quando o filme lhe pede uma atuação mais serena, mais jovial, mais moleca ela nos entrega uma Tammy que tinha aquele seu jeito inocente, doce, meigo, que estava descobrindo o seu amor pelos ensinamentos de Deus e descobrindo a sua paixão pelo Jim. Porém, quando o filme muda de tom, sua atuação acompanha diretamente a mudança, pois temos uma Tammy mais sisuda, mais tempestuosa, mais dramática, mais vulnerável, uma atuação que condizia com tudo que ela estava passando naquele momento da sua vida.
Que a Jessica Chastain é uma atriz maravilhosa, espetacular, fenomenal, isso todos nós já sabemos, mas o que ela nos entrega na pele da Tammy Faye é para ser aplaudida de pé em completo êxtase. Jessica atua com a alma e o coração, tem uma performance excelente, interpreta muito bem, canta maravilhosamente bem (destaque para a sua última cena), uma apresentação e uma entrega completamente perfeita, sem um erro. Jessica foi indicada no Globo de Ouro, perdendo para a Nicole Kidman, está indicada no Critics, e ontem à noite levou o prêmio no SAG's (justíssimo por sinal). No Oscar a disputa será mais acirrada, pois temos a Nicole com um leve favoritismo, mas na minha modesta opinião, eu gostei mais da atuação da Jessica do que da Nicole, disto isto, eu daria a estatueta para a Jessica Chastain sem pestanejar.
Andrew Garfield vem se destacando como um dos melhores atores da sua geração, e não é de hoje. Aqui temos um Andrew totalmente solto, leve, inspirado, carismático (sua marca registrada), envolvente, que nos impressionou mais uma vez com a sua atuação. Andrew interpretou um Jim que inicialmente era visto como o par perfeito de Tammy, aquele casal perfeito, como observamos logo ao início com o seu relato do pacto que ele fez perante Deus, nos evidenciando o que o levou a querer seguir a palavra de Deus. Outro destaque estava em sua forma de pregar os desígnios de Deus, sendo bastante incisivo, enfático, firme, convincente, mas sempre de uma forma leve, e com um sorriso no rosto esbanjando toda a sua simpatia (foi exatamente assim que ele começou a conquistar a atenção da Tammy Faye). Tudo isso condiz com a bela atuação que Andrew nos entrega, pois assim como a Jessica, ele também tem variações de tom em sua atuação, que são muito dignas por sinal.
Andrew Garfield já nos entregou ótimos trabalhos e belíssimas atuações como em "A Rede Social", "Silêncio", "Até o Último Homem" e recentemente em "Tick, Tick…Boom!" e "Os Olhos de Tammy Faye". Andrew foi indicado ao Oscar por "Até o Último Homem" e está indicado por "Tick, Tick…Boom!". Na minha opinião, já passou da hora do Andrew Garfield ser reconhecido pela academia, pois ele é um ator completo, ele já fez drama, já fez comédia, já fez musical, já fez super-herói, já fez romance, e tudo em alto nível, que sempre o eleva, o destaca e o coloca em busca dos principais prêmios nos festivais. E só pra deixar registrado, eu indicaria o Andrew pelo seu trabalho apresentado em "Os Olhos de Tammy Faye", pra mim cabe tranquilamente uma indicação a coadjuvante no Oscar, ou em qualquer premiação, sem nenhum exagero.
O longa de Michael Showalter está indicado no Critics, no BAFTA e no Oscar na categoria de Maquiagem e Cabelo.
"Os Olhos de Tammy Faye" é uma ótima cinebiografia, é leve, divertida, prazerosa, gostosa, que não pesa a mão em discursos sobre religião, e não defende nenhuma tese e nem impõe nada sobre a fé, ou a crença de cada um, o que poderia facilmente cansar e desinteressar o espectador, pelo contrário, temos apenas uma releitura de como foi a vida de Tammy Faye e Jim Bakker. Há muito tempo que eu não assistia um filme biográfico tão bom quanto este. Tecnicamente o longa é bem feito e bem caprichado. O roteiro é bem funcional e dita o ritmo correto que a trama percorre durante às suas 2h. O filme não é cansativo, não é arrastado, nos prende gradativamente e tem um ritmo acertado. Às atuações nos ganha imediatamente, pois temos um bom elenco de apoio, mas o que realmente nos conquista e eleva o nível do filme são estes dois nomes: Andrew Garfield e Jessica Chastain. [28/02/2022]
A Tragédia de Macbeth
3.7 192 Assista AgoraA Tragédia de Macbeth (The Tragedy of Macbeth)
A Tragédia de Macbeth é um longa (original Apple Films) histórico americano de 2021 escrito e dirigido por Joel Coen e baseado na peça Macbeth de William Shakespeare. É o primeiro filme dirigido por um dos irmãos Coen sem o envolvimento do outro. O filme é estrelado por Denzel Washington, Frances McDormand, Bertie Carvel, Alex Hassell, Corey Hawkins, Harry Melling, Kathryn Hunter e Brendan Gleeson.
Eu tive uma grande curiosidade ao descobrir que pela primeira vez os irmãos Coen iriam se separar em um filme, pois isso me soava um tanto quanto arriscado, visto que eles sempre trabalharam juntos e nos entregou verdadeiras pérolas cinematográficas como "Fargo" e "Onde os Fracos Não Têm Vez" (pra citar duas). Criei grandes expectativas ao imaginar como seria a direção e o roteiro de Joel Coen, sem o seu irmão Ethan Coen, em "A Tragédia de Macbeth". Pois bem, aqui temos uma ótima adaptação Shakespeariana em preto e branco feita por Joel Coen, juntamente com a sua esposa Frances McDormand, que além de atuar, também está presente na produção do longa.
Joel nos entrega uma ótima uma peça teatral filmada como um longa-metragem. Um verdadeiro teatro, desde às apresentações, às atuações, os diálogos, os monólogos, os cenários, os figurinos, às filmagens, que muita das vezes eram bem próximas dos rostos dos personagens em cena, captando todas as suas expressões faciais. A direção de Joel está muito segura, pois o trabalho de câmeras que ele adota em seu filme é incrível, muita das vezes feito com câmeras fixas, em ângulos fixos, uma filmagem com ares teatrais, totalmente imersa na peça, no conto, na trama que estava sendo apresentada.
A cenografia do longa é bem ajustada e funciona dentro do que o filme precisa, pois temos cenários voltados para o reino, para o castelo, que nos remete diretamente aos cenários de uma peça teatral, exatamente por isso que o longa se desenvolve quase que 100% do seu tempo em cenários fechados e não em ambientes mais abertos. A direção de arte (que está indicada ao Oscar) é bastante competente e acompanha bem a construção dos cenários, figurinos e maquiagens, estando presente no enquadramento com a direção de fotografia. Por falar em fotografia, Bruno Delbonnel está completamente sublime ao destacar a fotografia do longa, a película em preto e branco favorece muito a fotografia, pois a mesma está belíssima. Delbonnel está indicado ao Oscar, mas o páreo é duríssimo, pois ele enfrenta Dan Lautsen (O Beco do Pesadelo), Ari Wegner (Ataque dos Cães), Greig Fraser (Duna) e Janusz Kominski (Amor Sublime Amor). A trilha sonora de Carter Burwell é branda, suave, tensa nos momentos certeiros, dita o ritmo da trama.
Denzel Washington está muito bem como Lord Macbeth, é realmente incrível como ele se dá bem em longas que são voltados para uma peça teatral, como ele domina bem os diálogos e os monólogos, como foi em "Fences", um longa que também funciona com uma peça teatral (trabalho que também lhe rendeu uma indicação ao Oscar). Denzel faz o que sabe de melhor ao interpretar um personagem tirano, ambicioso, ardiloso, maquiavélico, que desejava ocupar o trono a qualquer custo, mesmo que isso o levasse diretamente para a tragédia de Macbeth. Obviamente o Denzel já esteve em trabalhos mais inspirados e mais ambiciosos, já nos entregou melhores atuações, porém, devo afirmar que aqui ele traz uma atuação mais teatral na medida certa, que está bem ajustada e compõe muito bem o propósito do seu personagem. Denzel Washington tem uma boa atuação e realmente ele está bem no personagem, mas sinceramente não acho que seja uma atuação para indicá-lo ao Oscar.
Frances McDormand é uma atriz refinada, requintada, renomada, oscarizada, uma das melhores atrizes de todos os tempos (e não é de hoje). Frances dá vida a Lady Macbeth, o braço direito de seu marido (Lord Macbeth) e peça-chave no desenrolar de toda a trama, sendo a principal responsável em instigá-lo em seus desejos e ambições perante à sua visão de que ele será o próximo rei da Escócia. Uma personagem astuta, sagaz, fria, calculista, que planejava às suas ideias mirabolantes e às colocava sempre em prática (ou pelo menos tentava). Frances e Denzel formam a dupla perfeita do longa, um contraponto muito funcional pra história. Destaque para a cena do sonambulismo, onde Frances eleva a sua atuação e nos mostra outra faceta da Lady Macbeth - perfeita!
Jamais poderia deixar de mencionar a atriz Kathryn Hunter. Kathryn chega a nos assustar e nos deixar boquiabertos perante a sua performance ao incorporar uma bruxa maléfica, sombria, pitoresca, que usava da sua astúcia ao discursar para convencer o Lord Macbeth a seguir em busca da sua visão. Eu fiquei completamente impressionado ao presenciar o alto nível de atuação que Kathryn Hunter deu ao nos exibir seu contorcionismo, seus trejeitos, suas expressões sádicas, sua faceta tirana, sua voz sombria - um verdadeiro show em cena, sem nenhum exagero.
Ainda tivemos Corey Hawkins como Macduff, mais uma boa atuação, principalmente no embate final com o Lord Macbeth. Alex Hassell como Ross, se destacando bem como uma espécie de conselheiro. Completando com Brendan Gleeson como King Duncan, Bertie Carvel como Banquo, Harry Melling como Malcolm e Moses Ingram como Lady Macduff.
No Globo de ouro e no SAG's o longa foi indicado somente em Ator (Denzel). No BAFTA também só tem uma indicação, que é Fotografia. No Critics tem duas indicações, Fotografia e Ator. No Oscar o longa está indicado em três categorias, Direção de Arte, Fotografia e Melhor Ator, e na minha opinião, não é favorito em nenhuma.
A Tragédia de Macbeth é uma bela adaptação Shakespeariana, de fato Joel Coen conseguiu nos imergir diretamente em uma peça teatral totalmente introduzida em um longa-metragem, funcionando perfeitamente. O filme é bom, às atuações teatrais são boas, a película em preto e branco é sublime e o resultado final do primeiro trabalho solo de Joel Coen é bastante convincente. [27/02/2022]
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraDuna (Dune)
Duna é dirigido por Denis Villeneuve e escrito por Jon Spaihts e Eric Roth (juntamente com o próprio Villeneuve). É a primeira de uma adaptação em duas partes do romance de 1965 de Frank Herbert, cobrindo principalmente a primeira metade do livro. O filme é a terceira adaptação de Duna após o filme de David Lynch de 1984, que foi um fracasso de crítica e comercial, e a minissérie de John Harrison em 2000. Após uma tentativa frustrada da Paramount Pictures de produzir uma nova adaptação, a Legendary Entertainment adquiriu os direitos de filme e TV de Duna em 2016, com Villeneuve assinando como diretor em fevereiro de 2017.
Villeneuve nos entrega um longa de fantasia, ficção científica, aventura, levemente inserido no drama. Acredito que Denis Villeneuve foi o nome certo para a direção de Duna, pois o próprio já trabalhou em produções voltadas para a ficção e fantasia, como em seus longas "A Chegada" e "Blade Runner 2049". Villeneuve trouxe toda a sua experiência e deu os toques certeiros na direção do longa, deixando o filme praticamente com a sua cara, pois quem já assistiu "A Chegada", vai notar imediatamente vários pontos trazidos por Villeneuve para Duna, como os seus trabalhos de filmagens e seus takes aéreos (que estão espetaculares), acompanhando diretamente o movimento de cada acontecimento que se desenvolvia e se movia em cena - completamente perfeita a direção de Villeneuve em Duna, nota 10. Já quero de antemão deixar aqui a minha profunda indignação com a 'irrelevante' academia (mais uma vez), pois não indicar o Villeneuve a direção no Oscar é praticamente um crime que presenciamos (exatamente como o BAFTA também fez).
É muito interessante e satisfatório observar (ao longa da trama) às inúmeras referências trazidas para Duna de filmes como a franquia "Star Wars" e "Matrix". Às próprias coreografias das lutas nos remete diretamente à "Star Wars", funcionando como uma espécie de homenagem ao épico de George Lucas - eu achei fantástico!
Tecnicamente o longa de Denis Villeneuve é uma obra-prima do gênero.
Como a fotografia de Greig Fraser, que se destaca como uma obra-prima visual. É impressionante como a fotografia de Duna é bela, magnífica, estonteante, se destacando notavelmente em todas às cenas e sendo a grande responsável pela nossa imersão nos cenários gigantesco do longa. Greig Fraser está indicado ao Oscar e vai brigar diretamente com Dan Lautsen (O Beco do Pesadelo), Ari Wegner (Ataque dos Cães) e Janusz Kominski (Amor Sublime Amor). A trilha sonora do gênio Hans Zimmer é outra obra-prima, pois a mesma é única, contemporânea, intimista, que se destaca nos momentos mais oportunos, como na tensão de um ataque, um embate, uma guerra, uma morte, onde a trilha estava mais suave e ia se elevando (aumentando o ritmo) de acordo com os seguimentos dos acontecimentos em tela - magnífico! Hans Zimmer já levou o Globo de Ouro e na minha opinião, é favorito ao Oscar.
Completando com às partes técnicas temos: os efeitos visuais que estão soberbos e se destaca bem em todas às cenas. A edição e mixagem de som de Mac Ruth é majestosa. A direção de arte de Tibor Lazar é outra obra-prima, como nos impressiona a estética do filme, onde a narrativa casava perfeitamente com a unidade visual do longa. A cenografia também merece um destaque, pois estamos diante de cenários completamente estonteantes. Cabelo e maquiagem também tem que ser mencionado, assim como os figurinos de Jacqueline West e Robert Morgan, que são um show visual em cena, impossível não ser contagiado pelos belíssimos figurinos dos reinos de Duna. O longa é muito bem editado, muito bem montado, méritos para Joe Walker.
Eu não conheço a obra de Frank Herbert, tampouco assisti o longa de David Lynch, dito isto, devo destacar o principal ponto fraco do longa de Denis Villeneuve. Eu gostei do roteiro do filme, acho que ele percorre um caminho correto de acordo com os acontecimentos que permeia toda a história, mas o que me incomoda está no enredo, mais precisamente no desenvolvimento onde nos é apresentado e estabelecido os personagens. O longa peca exatamente no ritmo, pois a primeira hora é completamente arrastada, o ritmo é extremamente lento, falta imersão, dessa forma o desinteresse pela trama é inevitável, fazendo o espectador se cansar até chegar a segunda hora do filme (que até melhora um pouco). Pra quem já leu o livro, ou assistiu o longa de 1984, ou já conferiu a minissérie, estará mais familiarizado com esta parte (ou talvez não), poderá levar esta parte arrastada do filme numa boa, sem se incomodar como eu me incomodei, mas no meu caso o ritmo do longa me cansou bastante, chegando até me desanimar em algumas partes. Acredito que esta primeira parte da adaptação de Duna funcione mais como um prólogo, uma apresentação dos personagens na trama que irá se desenrolar no segundo filme, porém acredito que toda esta apresentação e desenvolvimento fez o ritmo do filme cair muito e se destacar como um ponto negativo do longa de Denis Villeneuve.
Timothée Chalamet entrega um boa atuação na pele do Paul Atreides, o descendente da Casa Atreides. Timothée segura bem o personagem, até se destacando em algumas partes, principalmente às que envolvia sua mãe. Rebecca Ferguson é a Lady Jessica, a mãe de Paul. Rebecca está mediana, sua atuação em até certo ponto condiz com a sua personagem, mas nada de grande destaque, não vi como um grande trabalho. Oscar Isaac é o duque Leto Atreides. Isaac tem uma curiosa participação na história, e se destaca com bastante relevância para os acontecimentos que irão ocorrer na segunda parte do longa. Uma boa atuação entregue por Oscar Isaac. Josh Brolin é o Gurney Halleck, e ele está bem no filme, apesar de ficar me perguntando o que de fato aconteceu com o seu personagem na segunda metade da história. O grande Stellan Skarsgård está irreconhecível como o Barão Vladimir Harkonnen, e nos entrega mais uma atuação digna do grande ator que é.
Dave Bautista nos entregou o brutal Glossu Rabban. Bautista teve menos tempo de tela, porém foi bem até onde conseguiu. Jason Momoa foi um dos meus personagens preferido da história, o espadachim Duncan Idaho. É sempre gratificante vê o Jason Momoa atuar em personagens que lhe exige força, ímpeto, coragem, e aqui ele nos entrega exatamente isso. O belíssimo ator Javier Bardem nos brinda com mais uma ótima atuação na pele do sagaz Stilgar. É impressionante como em todos os papeis que o Bardem atua, ele nos contagia e nos deixa maravilhado - que baita ator que é o Javier Bardem. Zendaya deu vida à Chani, uma misteriosa jovem Fremen que aparece nas visões de Paul, Chani é o contraponto de Paul e seu interesse amoroso. Zendaya está mais contida, mais mediana, acredito que seu maior destaque virá no segundo filme, acredito que inicialmente o roteiro não lhe favoreceu nessa primeira parte da adaptação.
Duna foi indicado em 3 categorias no Globo de Ouro, Direção, Melhor Filme Drama, e venceu na categoria Trilha Sonora. No Critics Duna empatou com "Ataque dos Cães", recebendo 10 nomeações, entre elas às principais de Direção e Melhor Filme. No SAG's o longa tem uma indicação em Melhor Elenco de Dublês em Filme. No BAFTA o longa é o campeão de indicações, tendo recebido 11, porém com tantas indicações, faltou uma das principais, Melhor Diretor pro Villeneuve (Valeu pela incoerência BAFTA). O mesmo discurso vale para o Oscar, que indicou Duna em 10 categorias (ficando atrás somente de Ataque dos Cães), mas a direção de Villeneuve foi completamente esnobada - que absurdo academia...AFF!
Duna é um bom filme, ele consegue entregar o que se propõe, que é exatamente uma aventura na fantasia. Os maiores destaques é sem dúvidas às partes técnicas, que são um show à parte, mas peca exatamente no que prenderia a atenção do público, que é o ritmo do filme, por ser extremamente lento, arrastado e cansativo. Villeneuve de fato faz um bom trabalho em Duna, ele acerta em umas coisas e erra em outras, mas isso pode servir de lição para a continuação da segunda parte do filme. Duna apresenta resquício de espetáculo, tem grandeza, tem uma ótima premissa, acredito que a adaptação tem potencial para se tornar um dos épicos na lista das obras-primas da fantasia, da ficção e da aventura - como "Avatar", "O Senhor dos Anéis" "Matrix", "Aliens" e "Star Wars", mas se for feito da forma correta.[20/02/2022]
Mare of Easttown
4.4 658 Assista AgoraMare of Easttown
Mare of Easttown é uma série limitada de drama criminal americana criada por Brad Ingelsby para a HBO. Dirigida por Craig Zobel e escrita por Ingelsby, a série estreou em 18 de abril de 2021 e foi concluída em 30 de maio de 2021, composta por sete episódios. É estrelado por Kate Winslet como a personagem-título, uma detetive investigando um assassinato em uma pequena cidade perto da Filadélfia. Julianne Nicholson, Jean Smart, Angourie Rice, Evan Peters, Sosie Bacon, David Denman, Neal Huff, James McArdle, Guy Pearce, Cailee Spaeny, John Douglas Thompson e Joe Tippett aparecem em papéis coadjuvantes.
A série foi aclamada pelos críticos, que elogiaram sua história, personagens, atuações e representação das mulheres. A série recebeu 16 indicações no 73º Primetime Emmy Awards e ganhou quatro, incluindo Melhor Atriz Principal para Kate Winslet, Melhor Ator Coadjuvante para Evan Peters e Melhor Atriz Coadjuvante para Julianne Nicholson. No Globo de Ouro a série foi indicada em Melhor Série Limitada, Série Antológica ou Telefilme, e levou a estatueta por Melhor Atriz para Kate Winslet. No SAG's a série está indicada a Melhor Ator em Minissérie ou Filme para TV para Evan Peters, Atriz para Jean Smart e Kate Winslet, e Melhor Elenco de Dublês em Série de TV.
Mare of Easttown aborda e adentra em vários pontos como o drama, o suspense, a investigação policial, a desconstrução, a descaracterização e a humanização dos personagens. A série funciona perfeitamente ao nos relatar um marcante drama familiar com bastante autenticidade e veracidade, ao nos confrontar diretamente com todos os acontecimentos que permeia todos os conflitos familiares de Mare Sheehan (Winslet). Nesse quesito a série é completamente fantástica e satisfatória, ao abordar uma protagonista que está vulnerável, deprimida, amargurada, ressentida, infeliz, perdida emocionalmente e amorosamente, tendo que enfrentar a sua profissão em seu dia a dia, ao investigar o assassinato de uma jovem e o desaparecimento de outra, em um período em que a sua vida pessoal está praticamente se desmoronando aos seus pés. Em até certo ponto o roteiro foi bem escrito (só na parte final que não me agradou e explicarei mais à frente), pois tudo que estava inserido na série nos prendia gradativamente e aguçava o nosso desejo de ir mais além e descobrir, junto com Mare, todos os acontecimentos que se passava ao redor de Easttown. Todos os temas abordados pela série são feitos de forma verossímil.
Outro ponto que eu achei curioso e me motivou cada vez mais dentro da história, foram os arcos pessoais e os dramas vividos por cada um que fazia parte daquela cidade e daquele universo. De certa forma o enredo estabelece e nos apresenta os seus personagens, logo em seguida já nos confronta diretamente com um arco pessoal de cada um que está envolvido na trama. Quanto ao arco pessoal da Mare, eu acho que foi o melhor dentro da série, pois foi bem desenvolvido, bem apresentado, feito com bastante veracidade e que nos comovia e nos causava empatia instantaneamente. Já nos coadjuvantes o roteiro peca ao tentar dar ênfase em um arco pessoal de praticamente todos os personagens. Ok, acho muito digno esta tentativa, pois isso faria nos aproximar e nos importar com às vidas de cada um ali presente (além da Mare), mas me pareceu feito às pressas e sem um aprofundamento nos personagens, me soando apenas como uma mera tentativa de abranger à todos e nos causar empatia pelo o que estava sendo mostrado no arco pessoal de cada um. Acredito que se a série tivesse mais episódios, ou uma segunda temporada, isto poderia ser muito melhor desenvolvido e nos apresentado.
Kate Winslet carrega a série praticamente nas costas, é realmente impressionante o que esta mulher faz na pele da destemida Mare Sheehan. Winslet está estupidamente bem na personagem e nos proporciona uma das mais belas atuações de sua carreira. Kate Winslet foi muito bem reconhecida e premiada no Emmy Awards e no Globo de Ouro. Jean Smart como Helen Fahey, a mãe de Mare, teve uma ótima atuação, era muito interessante aqueles confrontos de ideias e opiniões entre ela e a Mare. Evan Peters como Detetive Colin Zabel, o detetive do condado chamado para ajudar Mare. Mais uma ótima atuação dentro da série, como eu gostei da atuação do Peters, que se iniciou com um desafeto com a Mare e no final já estava adquirindo uma certa química com ela. Julianne Nicholson como Lori Ross, a melhor amiga de Mare, outra atuação grandiosa e muito bem acertada, se destacando principalmente entre as cenas que tínhamos uns diálogos bastante contundentes.
Angourie Rice (como essa atriz é linda....Meu Deus!) como Siobhan Sheehan, filha de Mare. Rice tem em suas mãos uma personagem muito interessante e que poderia render muito mais na história, dado aos seus acontecimentos, seus envolvimentos e principalmente por ser a filha adolescente (meio rebelde) que sempre entrava em constantes conflitos com a Mare (entra exatamente no ponto que eu destaquei acima, faltou desenvolver mais o seu arco pessoal). David Denman como Frank Sheehan, ex-marido de Mare, um personagem muito intrigante e que influenciava diretamente a Mare. Boa atuação de David Denman. Neal Huff como o padre Dan Hastings, primo de Mare, um padre católico e pastor da Igreja de São Miguel, que se mostrava uma figura sempre meio obscura. James McArdle como Deacon Mark Burton, um diácono católico transferido para St. Michael's após alegações de má conduta sexual em sua paróquia anterior (personagem que eu sempre tive um pé-atrás na série). O grande ator Guy Pearce como Richard Ryan, um autor e professor de escrita criativa que se envolveu com Mare, mas na minha opinião, apenas pra compor a história, sem uma grande relevância.
Cailee Spaeny como Erin McMenamin, uma mãe solteira adolescente que é maltratada por seu ex-namorado (falarei dela na barra de spoiler). John Douglas Thompson como Chefe Carter, chefe de Mare no departamento de polícia (sua melhor cena é aquela que ele afasta a Mare do cargo). Joe Tippett como John Ross, marido de Lori e primo do pai de Erin, Kenny (ao final seu personagem ganha bastante relevância na trama). Sosie Bacon como Carrie Layden, a mãe do neto de Mare, Drew, e ex-namorada do falecido filho de Mare, Kevin (outra grande atuação dentro da série, principalmente ao confrontar a Mare pelo seu filho).
Erin McMenamin foi a personagem que eu tive empatia logo em sua primeira cena, pois a sua história dentro da série me soou verdadeiramente, como várias histórias da vida real que acompanhamos diariamente ao nosso redor. Uma garota de 17 anos que se envolve com homens mais velhos, que engravida e tem que enfrentar todas as dificuldades que às suas escolhas lhe impôs, que decidi se prostituir para arrecadar dinheiro para fazer a cirurgia de ouvido do filho. Ela já é órfã de mãe e cria seu filho praticamente sozinha, além de ser maltratada em casa pelo pai e humilhada pelo ex-namorado e sua namorada atual, ou seja, a vida nunca foi fácil para Erin, principalmente pelas suas próprias escolhas. Como não trazer toda essa história para o nosso cotidiano de hoje em dia?
O primeiro episódio já é fantástico (um dos melhores de toda série), pois como destaquei acima, a Erin foi a personagem que eu me conectei instantaneamente (além da Mare, é claro), por isso me surpreendi tanto ao ser confrontado com o seu assassinato. Eu fiquei paralisado ao ver que a Erin tinha sido brutalmente assassinada logo ao final do primeiro episódio da série, e a forma como ela foi encontrada também me abalou, totalmente (ou praticamente) nua e com um tiro na testa (poxa, eu fiquei triste nessa hora). Eu não imaginava que ela seria o ponto de partida da série em relação às investigações da Mare. Uma pena, pois eu gostei muito da atuação da Cailee Spaeny e queria que ela estivesse viva em toda a série.
O quinto episódio é outro excelente, pois é nesse ponto que temos os embates e confrontos de Mare e Zabel com o sequestrador que mantinha aprisionada no sótão a Katie Bailey (Caitlin Houlahan), a garota que desapareceu de Easttown um ano antes (juntamente com uma outra garota que depois se junta à ela no sótão). Mas também é nesse episódio que temos a triste e dolorosa morte do Detetive Colin Zabel, com um tiro na testa disparado pelo sequestrador durante o confronto.
Quero deixar registrado aqui o meu descontentamento, minha desaprovação e minha frustração com a revelação do assassino da Erin McMenamin no ultimo episódio da série. É sério que a série deixou todos os plot twist para o último episódio? Realmente tinha a necessidade de inventar todos esses plot twist para revelar o verdadeiro culpado? Esta forma adotada pelo roteiro para nos revelar o verdadeiro assassino da Erin foi completamente estapafúrdia, pífia, mal feita, despreparada, desprovida de imaginação.
Não tinha a menor necessidade em um único episódio mudar o então assassino três vezes, passando pelo Billy (Robbie Tann), depois o John, pra só então tentar nos surpreender (a mim não surpreendeu, pelo contrário, me decepcionou) que o verdadeiro assassino de Erin McMenamin era o Ryan Ross (Cameron Mann), filho de Lori e John, um garoto de 13 anos.
Definitivamente esta parte foi a maior deslizada, a maior derrapada da série, pra mim uma grande falha de roteiro, poderiam muito bem ter parado e entregado que o verdadeiro assassino era o John, acho que ficaria muito mais coerente e aceitável - não gostei do final!
Mare of Easttown é uma série muito boa, muito gostosa de acompanhar, nos prende em todos os episódios e nos surpreende várias vezes. Eu gostei demais da série (mesmo com o ponto que eu destaquei na barra de spoiler), adorei os personagens e principalmente a Mare. Realmente eu não sei a probabilidade da série ganhar mais uma temporada, pelo o que li, a própria Kate Winslet revelou uma grande vontade de voltar para uma segunda temporada, e a própria HBO também não descartou esta possibilidade. Eu realmente torço muito pra que a série não termine aqui e que renda mais alguns episódios, porque o elenco é muito bom e poderiam nos proporcionar mais uma ótima temporada de Mare of Easttown. [19/02/2022]
O Beco do Pesadelo
3.5 498 Assista AgoraO Beco do Pesadelo (Nightmare Alley)
O novo trabalho do mestre Guillermo del Toro é um remake do filme noir de 1947 chamado "O Beco das Almas Perdidas", sendo baseado no romance homônimo de William Lindsay Gresham de 1946. O longa é dirigido e roteirizado pelo Del Toro (juntamente com a canadense Kim Morgan), contando com J. Miles Dale e Bradley Cooper na produção. Inicialmente Del Toro anunciou o seu novo projeto em dezembro de 2017, logo após o seu último longa-metragem, "A Forma da Água", porém as gravações teve algumas pausas devido à pandemia do Coronavírus.
É realmente incrível como este filme é a cara do Del Toro, como tem suas marcas, suas características autorais, sua visão de cinema, sua forma de conduzir a direção, quem conhece o diretor e acompanha os seus trabalhos (assim como eu, que sou fã) vai perceber imediatamente todo os seu propósitos e se localizar instantaneamente com o seu mais novo trabalho. Dessa vez Del Toro deixa um pouco de lado as suas fábulas e seus contos para nos imergir em um drama, um suspense, um Thriller, misturado com horror, pesadelo, mistério, sendo bem dosado com a ação, a complexidade, mas sem deixar de lado aquela boa dose de fantasia (sua marca registrada). Del Toro sempre nos impressionou em suas produções por nos confrontar com seus inúmeros monstros, mas aqui ele vai além, ele nos apresenta algo mais enigmático, mais grotesco, mais perturbante, que é a forma monstruosa do próprio ser humano, ou talvez a sua forma de evolução até chegar nessa posição. Sim, temos um Del Toro ainda mais inovador e surpreendente - magnífico!
"O Beco do Pesadelo" é dividido em duas partes, nas quais ambas se conversam e se amarram perfeitamente ao final. Temos a primeira parte do longa, onde somos confrontados com o dom da surpresa, do inesperado, onde começamos a nossa caminhada e suas descobertas junto com o Stanton Carlisle (Bradley Cooper). Nesse primeiro ato o longa funciona a todo vapor e nos prende gradativamente, pois estamos diante de um ambiente circense, onde somos confrontados com a mágica, o ilusionismo, onde tudo funciona e flui com muito dinamismo, nos apresentando uma parte do roteiro um tanto quanto extrovertida e leve (dado ao contexto do filme).
Já no segundo ato é a parte que o longa cai um pouco de ritmo, se torna mais cansativo, pois esta parte o filme já muda totalmente de tom, se tornando mais tenso, ficando mais pesado, mais complexo e mais intrigante. Pois nessa parte o roteiro brinca (no bom sentido) com o espectador ao nos confrontarmos entre o embate de ideias de Stanton Carlisle e a Doutora Lilith Ritter (Cate Blanchett), aquele jogo de gato e rato, recheado com diálogos ácidos, bem construídos e envolventes. Exatamente nesse ponto que o longa de Del Toro nos cansa um pouco, pois acredito que ele quis nos entregar uma parte bem detalhada, bem arquitetada, bem complexa, bem intrigante, porém ele se alongou demais, o que contribuiu diretamente pra queda de ritmo do filme, deixando esta parte um pouco monótona.
Tirando esse pequeno deslize (se é que podemos considerar assim), o longa de Del Toro é muito bem projetado, muito bem arquitetado, muito bem transplantado pra tela, pois temos um roteiro bem coeso, onde tudo se interliga e se amarra perfeitamente ao final (vide a primeira e a última cena, onde as duas se amarram perfeitamente), nada fica solto e tudo funciona em perfeita harmonia. A direção de Del Toro se sobressai novamente, pois temos mais um trabalho absurdo e muito competente. Ter o Del Toro na direção de um longa já é sinônimo de show e de um trabalho bem feito, e aqui só comprovamos esta afirmação, pois com um elenco desse porte, ele conduz cada um em seu determinado caminho com muita perfeição e objetividade (Del Toro foi reconhecido por sua direção somente no Critics).
Tecnicamente o longa de Del Toro é perfeito!
Temos uma fotografia do Dan Laustsen completamente impecável, é assustador como a fotografia do longa se destaca em praticamente 100% das cenas. Que trabalho genial entregue pelo Dan Laustsen, justíssima indicação ao Oscar. A direção de arte de Tamara Deverell (também indicada ao Oscar) é muito notável e competente, pois ela materializa as ideias e conceitos quase abstratos do roteiro, de certa forma ela colabora diretamente para que as ideias do Del Toro sejam representadas fisicamente em tela. Uma direção de arte rica em detalhes e que atua em estreita parceria com a equipe de direção de fotografia. A cenografia é magnífica, pois tudo no filme se destaca, como os cenários, os objetos trazidos para compor os cenários (completamente fiel aos anos 40). Os figurinos de Luís Sequeira (indicado ao Oscar) estão um luxo de beleza, se destacando bem em cada um dos personagens, principalmente nas damas que compõem toda história (o que dizer dos vestidos estonteantes da Cate Blanchett). A trilha sonora de Nathan Johnson é boa, até se destacada em cena, mas nada comparado com a trilha sonora de Alexandre Desplat (campeão do Oscar pela "A Forma da Água"), mas ainda ele conseguiu uma indicação no Critics.
Bradley Cooper dá vida ao Stanton "Stan" Carlisle, um ser trapaceiro, mesquinho, vigarista, manipulador, charlatão, aproveitador. É interessante acompanhar às mudanças de personalidades na atuação do Cooper, que se inicia mais branda, mais curiosa, dado ao momento, logo após ele muda totalmente a chavinha, já nos mostra uma personalidade obscura, maquiavélica, ardilosa, totalmente inversa do seu início. Cooper dá um show em cena, é realmente impressionante como ele está bem no personagem.
Cate Blanchett não atua, ela dá aula! É praticamente impossível apontar um filme em toda a sua carreira que ela esteja no mínimo mediana em cena. Em "O Beco do Pesadelo" Cate dá mais um show de atuação, mais uma aula de interpretação na pele da intrigante Doutora Lilith Ritter, nos apresentando sua faceta misteriosa, complexa, excêntrica, adentrando no nosso psicológico, e nos comprando com um sorriso letal. É muito interessante acompanhar aquele jogo de gato e rato entre ela e o Bradley Cooper. Cate Blanchett é realmente uma belíssima atriz, uma das melhores de todos os tempos (sem nenhuma dúvida). Muito me surpreendeu a Cate está indicada somente no SAG's, na minha opinião caberia sim uma indicação ao Oscar.
Toni Collette é mais uma atriz magnífica que compõe este elenco estrelado. Collette fez a madame Zeena, que interfere diretamente nas primeiras decisões do Stan, sendo a grande responsável em instigar todos os seus desejos e ambições. Collette participa somente do primeiro ato do filme, porém ela nos entrega o que sabe fazer de melhor na arte de atuar (é sempre um grande prazer poder contemplar uma atuação da Toni Collette). Rooney Mara fez a Molly, que inicialmente pode até ser considerada como a mocinha inocente da história, mas com o passar do tempo podemos observar que ela não passava de uma cobaia do Stan, sendo que ele se aproveitou de sua inocência amorosa para aplicar os seus golpes e suas traições. Rooney Mara nos entregou uma atuação mais introspectiva, mais contida, sem um grande avanço na personagem, porém ela não esteve mal, conseguiu entregar uma boa atuação.
Willem Dafoe é um verdadeiro gênio da sétima arte e vê-lo atuar é sempre um colírio para os olhos de qualquer cinéfilo. Dafoe deu vida ao personagem Clem, sendo peça-chave na história de vida de Stan e muitas das vezes o confrontando com suas próprias ideias e decisões. Uma atuação completamente soberana de Willem Dafoe. David Strathairn fez o Pete, talvez o personagem mais engraçado, mais extrovertido e mais carismático da história. Sem dúvidas, Pete foi o mentor por trás do Stan, aquele que ensinou os seus truques, que o incentivou a possivelmente seguir este caminho das farsas. David Strathairn é um ator muito carismático, e isto só contribuiu ainda mais para a sua atuação nesse personagem. Ainda tivemos às participações de Ron Perlman (o eterno Hellboy do Del Toro), Richard Jenkins e a Mary Steenburgen, completando este belíssimo elenco.
"O Beco do Pesadelo" foi indicado em 8 categorias no Critics, sendo Trilha Sonora, Efeitos Visuais, Cabelo e Maquiagem, Figurino, Direção de Arte, Fotografia, Direção e Melhor Filme. No BAFTA o longa obteve indicações em Figurino, Direção de Arte e Fotografia. No SAG's obteve apenas a única indicação para a Cate Blanchett. No Globo de Ouro o longa foi completamente esquecido, completamente esnobado em todas as categorias (devo dizer: no irrelevante Globo de Ouro). No Oscar o longa aparece concorrendo nas categorias de Direção de Arte, Figurino, Fotografia e Melhor Filme. O novo longa do Del Toro não teve a mesma força nessa temporada de premiações como foi com "A Forma da Água" lá em 2018, onde ele se sagrou campeão do Oscar de Melhor Filme.
Devo finalizar afirmando que pra mim o Del Toro entregou mais um grandioso trabalho, que entra diretamente no mesmo Hall de "O Labirinto do Fauno" e "A Forma da Água". "O Beco do Pesadelo" é mágico, assustador, surpreendente, complexo, intrigante, psicológico, divertido e acima de tudo - traz a assinatura desse mestre das fábulas e fantasias - Guillermo del Toro! [16/02/2022]
Apresentando os Ricardos
3.2 179Apresentando os Ricardos (Being the Ricardos)
O longa é escrito e dirigido por Aaron Sorkin, e nos retrata diretamente à cinebiografia de Lucille Ball (muito bem interpretada pela talentosíssima Nicole Kidman). A trama transcorre durante uma semana específica de produção da série 'I Love Lucy' (um dos maiores sucessos na TV americana nos anos 50), nos evidenciando como a Lucy Ball se tornou uma das grandes lendas do entretenimento hollywoodiano. Lucy foi uma das maiores personalidades em sua época, uma artista completa, ela foi atriz, comediante, cantora, modelo, executiva cinematográfica, e produtora televisiva norte-americana.
"Being the Ricardos" pode ser interpretado como uma biografia, ou até mesmo um documentário do casal Lucille Ball e Desi Arnaz (Javier Bardem), pois acompanhamos diretamente todo o processo de criação pelo qual cada um é submetido ao longa de suas vidas, desde suas descobertas, passando pelas suas pretensões, almejando às suas ambições, até chegar em suas inevitáveis frustrações. Somos confrontados com os bastidores de gravação do sitcom 'I Love Lucy', juntamente com a inevitável crise no casamento, o que poderia colocar em risco (e até arruinar) a vida profissional de cada um. Ainda acompanhamos a surpresa da descoberta da gravidez da Lucy (durante o programa), e a acusação de comunista que lhe caiu sobre os ombros.
Particularmente eu prefiro o Aaron Sorkin como roteirista do que diretor, e isso está muito evidente nos roteiros que ele assina em "Steve Jobs", "O Homem que Mudou o Jogo", "Jogos do Poder", e ganhando o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por "A Rede Social", em 2011. Já em direção, Sorkin nos entregou obras que pra mim são completamente contestáveis, como "A Grande Jogada", de 2017, e o próprio "Being the Ricardos". Não posso falar de "Os 7 de Chicago" porque ainda não assisti.
Eu não conheço a fundo a biografia de vida da Lucille Ball, portanto eu não posso afirmar sobre os acontecimentos que permeia o roteiro do longa de Sorkin, ou até mesmo sua ordem cronológica dos fatos que nos foi entregue, mas acredito que o Sorkin utilizou uma liberdade criativa em seu roteiro, e de certa forma misturou vários pontos entre si, tentando focar em vários acontecimentos naquela única semana da vida da Lucy, que pra mim ficou um tanto quanto perdido e meio desconexo. O roteiro em si tenta focar no drama, na ambição, na incerteza, mas depois já romantiza, já suaviza, e entra com uma válvula de escape mais leve (em certas partes soando até mais cômico). E o roteiro ainda vai mais além, quando tenta tocar em uma certa parte política, se utilizando apenas como um mero elemento de discurso, ao nos apresentar a acusação sobre o comunismo da Lucy Ball, mas de uma forma totalmente vaga, vazia, sem um aprofundamento, me soando apenas como uma parte obrigatória do roteiro que deveriam mencionar de alguma forma.
Acredito que o Sorkin quis focar em vários acontecimentos da vida da Lucy Ball, mas faltou tempo (até tempo de duração do filme), faltou desenvolvimento, e o tiro saiu pela culatra, acabou ficando um roteiro sem coesão e sem harmonia (e ainda está concorrendo nas premiações deste ano....estou pasmo!). Definitivamente este novo trabalho do Aaron Sorkin não me pegou, não me cativou, não consegui me conectar, não consegui me envolver com a trama, em todos os momentos eu estava com aquela sensação de que faltava alguma coisa. Por ser um roteiro baseado em uma história real (que poderia agradar mais facilmente), eu achei a história chata, maçante, monótona, chegando até a me entediar (principalmente no primeiro ato).
A fotografia do longa é muito boa, fazendo um bom uso do preto e branco, se destacando ainda mais com aquele contraponto entre às cenas coloridas e às cenas em preto e branco. A trilha sonora de Daniel Pemberton é boa, está aceitável, com destaque maior paras às cenas em musicais e cantadas pelo Javier Bardem (Daniel Pemberton ainda conseguiu uma indicação no BAFTA). Apesar que eu ainda senti uns pequenos (porém notáveis) problemas de montagem e edição.
O principal (e único) ponto positivo no longa está justamente no elenco.
Nicole Kidman é uma das melhores atrizes de sua geração e nunca nos decepciona. Kidman dá uma personalidade bem estruturada e muito segura para a sua interpretação dessa personalidade tão influente em sua época, Lucille Ball. Kidman está leve, solta, alegre, se diverte em cena, nem parece uma atuação. Kidman está em perfeita harmonia e sintonia com Javier Bardem, alcançando uma ótima química em cada cena que nos era apresentada. Nicole Kidman já levou este ano o Globo de Ouro e está concorrendo no SAG's, Critics, sendo totalmente esnobada no BAFTA. No Oscar ela integra a lista de Melhor Atriz, e na minha opinião, com chances claríssimas de levar o prêmio (uma das favoritas).
Javier Bardem conversa diretamente com a Nicole Kidman, pois juntos eles tiveram às melhores atuações do longa. Bardem dá alma, dá definição, dá uma direção muito bem ajustada em sua interpretação na pele do cubano Desi Arnaz, onde ele se destaca atuando, performando, cantando e até arriscando uns pequenos passos de dança. Uma atuação rica em detalhes, com um timing perfeito e um resultado muito satisfatório, que lhe rendeu indicações no Globo de Ouro e no SAG's, sendo esnobado no BAFTA e no Critics. No Oscar Bardem também está indicado, mas a meu ver, completamente fora da disputa entre Benedict Cumberbatch, Andrew Garfield e Will Smith (meu favorito).
J. K. Simmons é um ator que eu gosto muito, já tive experiências incríveis com ele, como em "Whiplash", de 2014, onde ele entrega uma atuação que me deixou boquiaberto até hoje. Aqui ele nos entrega um personagem bastante curioso e intrigante, mas que funciona perfeitamente em cena, e principalmente no que o roteiro lhe impõe. Gostei da atuação do J. K. Simmons em "Being the Ricardos", não está no mesmo nível de "Whiplash" (muito óbvio), mas já lhe garante uma indicação de Coadjuvante no Oscar, que na minha opinião, ficará apenas como lembrança, mas dificilmente ele terá forças para ganhar. (ele também está indicado no Critics)
É realmente impressionante como os serviços de streeming vem ganhando, a cada ano, mais força e destaques nas premiações: como a Netflix este ano com "Tick, Tick... Boom!", "Não Olhe para Cima" e "Ataque dos Cães", e a Apple TV com "A Tragédia de Macbeth". "Being the Ricardos" é a nova aposta da Amazon Prime para esta temporada de premiações, porém o longa do Aaron Sorkin corre bem por fora, obtendo pouquíssimas indicações: no SAG's o filme teve apenas uma indicação para o Javier Bardem. No Critics obteve apenas três indicações - para a Nicole Kidman, J. K. Simmons e Roteiro Original para o Sorkin. No BAFTA o longa obteve nomeações de Roteiro Original e Trilha Sonora (esnobando todos do elenco). No Globo de ouro o longa ganhou a estatueta com a Nicole Kidman e obteve mais duas indicações, Ator e Roteiro. Uma das poucas vezes em que eu concordei plenamente com às indicações do Oscar, foi em "Being the Ricardos", pois pra mim o filme falha em vários pontos e acerta somente em três, que são exatamente os três indicados ao Oscar, Ator, Ator Coadjuvante e Atriz.
"Being the Ricardos" é um filme bem mediano, bem fraco, que pra mim não funcionou em praticamente nada, salva-se o elenco. Aaron Sorkin já domina os roteiros (em produções passadas), mas falta evoluir como diretor, falta acertar a mão, falta nos apresentar um trabalho que salte aos nossos olhos também em direção. "Being the Ricardos" se segura apenas pelos seus protagonistas, pois é muito claro que o objetivo traçado pelo Sorkin não foi alcançado.
Não posso deixar de mencionar uma cena do filme que aparece uns belos quadros da sétima arte ao fundo que são: "Suspicion", de 1942, do Alfred Hitchcock / "Stromboli", de 1951, do Roberto Rossellini / "Swing Time", de 1936, do George Stevens / "Top Hat", de 1935, do Mark Sandrich. [12/02/2022]
Amor, Sublime Amor
3.4 355 Assista AgoraAmor, Sublime Amor (West Side Story)
"West Side Story" é um remake do filme de 1961, dirigido por Robert Wise e Jerome Robbins, sendo uma adaptação do musical da Broadway, de 1957, de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim. O longa é magistralmente dirigido pelo gênio Steven Spielberg, com com roteiro de Tony Kushner, sendo vagamente baseado no romance de Romeu e Julieta, de William Shakespeare. O próprio roteirista, Tony Kushner, disse que esperava que este roteiro se aproximasse mais da adaptação da Broadway, do que da própria adaptação do filme de 1961.
"West Side Story" pode ser considerado um conto, uma passagem, uma peça teatral, um musical, porém com uma boa dose de drama, de romance, de forma leve, singela, divertida, extrovertida, mas tocando diretamente (ou indiretamente) em pontos como o racismo, a desigualdade social, o preconceito racial, o preconceito cultural, a intolerância, os conflitos de identidade, a violência contra os imigrantes, a discriminação feminina e até o assédio. O que realmente me surpreendeu foi a forma adotada para explicitar estes pontos que eu destaquei, com uma forma ácida, porém leve, sem pesar a mão, sendo desenvolvido e nos entregue diretamente de dentro das peças e coreografias musicais, o que de certa forma nos imergia e nos envolvia cada vez mais com toda a história que estava sendo contada.
Steven Spielberg é um verdadeiro gênio da sétima arte e estamos diante de mais uma prova disso. A forma como ele dirige as cenas, como ele tem todo o elenco nas mãos, juntamente com um trabalho de câmeras, onde tínhamos a exata sensação de que a câmera estivesse realmente dançando e acompanhando cada passo das coreografias - é uma coisa magnífica! A forma como Spielberg nos entrega todo o seu trabalho sendo filmado, contracenado, interpretado e atuado diretamente de uma película dos anos 60. Exatamente mais um ponto muito positivo de todo o trabalho desenvolvido pelo o Spielberg, pois estamos diante de uma obra totalmente inspirada e influenciada nos próprios filmes dos anos 60. É impressionante como tudo se conversa entre si, por exemplo: a fotografia do mestre Janusz Kamiński (responsável pela as fotografias de pérolas como "A Lista de Schindler", "O Resgate do Soldado Ryan" e "Cavalo de Guerra") está totalmente imersa nos trabalhos de câmeras do Spielberg, uma conversa com a outra, pois temos uma fotografia completamente absurda em "West Side Story" (nota 10 para a direção do Spielberg e a fotografia do Kamiński).
A coreografia de Justin Peck é mais um ponto positivo no longa, pois as combinações de coreografia + fotografia + movimento de câmera são absurdas de tão genial. "West Side Story" é muito bem coreografado, muito bem dançado, muito bem cantado, muito bem atuado, muito bem interpretado, tudo funciona de forma leve, delicada e prazerosa. As músicas são muito boas e muito gostosas de ouvir e acompanhar, com um destaque para a canção "In America" (impossível não vibrar com esta música). Exatamente um dos pontos alto do filme, a trilha sonora, que está incrível e muito bem encaixada e amarrada na trama. A trilha sonora de "West Side Story" é primorosa, rica, abrangente, influente, que com certeza eu buscarei para guardar com muito carinho.
A direção de arte é ótima e trabalha em completa harmonia com a fotografia. A cenografia é estupenda, pois acompanha com muita perfeição os cenários, os objetos de cena, os figurinos, suas cores e seu tratamento estético. Como não se maravilhar com todo carinho e atenção que nos foi entregue os detalhes como os carros, as ruas, as lojas, os figurinos (méritos para Paul Tazewell), tudo muito bem feito e totalmente fiel à Nova York dos anos 50 e 60. A edição de som de Gary Rydstrom (campeão do Oscar por "O Exterminador do Futuro 2", "Jurassic Park", "Titanic" e "O Resgate do Soldado Ryan") também é muito boa e se destaca ao longo das apresentações musicais. A montagem de Michael Kahn ("Poltergeist" e "A Lista de Schindler") é muito bem feita e muito bem arquitetada.
O longa do Spielberg beira a perfeição, porém, devo destacar dois pontos que me incomodaram: primeiro, a forma como foi retratado o romance entre Tony (Ansel Elgort) e Maria (Rachel Zegler) me soou vazio e sem um desenvolvimento que pudesse nos convencer diretamente. Eles praticamente já se conhecem e se apaixonam instantaneamente, não tem um aprofundamento, não tem um tempo de eles sequer se conhecerem melhor, dessa forma me pareceu um pouco forçado (tudo bem que o romance foi vagamente inspirado em Romeu e Julieta). Segundo, a tradução das legendas para o português nas partes dos musicais ficaram totalmente desconexas, ao ponto de me irritar ao querer acompanhar a tradução do que estava sendo cantado. Acho que a forma que eles tentaram traduzir as rimas para o português que não deram certo.
O maior destaque do longa é sem dúvidas a Ariana DeBose, o filme é praticamente dela. Ariana é uma atriz completa, ela canta, dança, interpreta, atua, contracena, faz tudo com muita segurança, com muita entrega, com muita voracidade, com muito carinho, nos entrega uma atuação completamente magnífica na pele da Anita. Típica atuação impecável, sem um erro, sem um deslize, domina completamente a personagem, ocupa toda a tela com muita dignidade e grandeza - que atuação da Ariana DeBose senhoras e senhores! Ariana está indicada em todas as premiações desse ano, incluindo o Globo de Ouro (que ela já levou a estatueta), SAG, Critics, BAFTA e Oscar. Ouso a dizer que no Oscar ela é a principal favorita ao prêmio da noite, por mais que eu tenha adorado a Kirsten Dunst (Ataque dos Cães) e a Jessie Buckley (A Filha Perdida), acho que dificilmente ela perca o Oscar de Atriz Coadjuvante.
Rachel Zegler é uma jovem atriz que me encantou desde a sua primeira cena no filme. Ela é doce, bela, delicada, primorosa, carismática, graciosa, meiga, que atua com o coração, com muita leveza, com muita dedicação, com muita atenção. Zegler tem uma voz muito doce ao cantar, tem um olhar muito profundo ao atuar, é de uma sutileza e uma singularidade tão bela que me deixou completamente apaixonado por ela (estou muito curioso para vê-la em "A Branca de Neve e os Sete Anões"). Zegler levou o Globo de Ouro e está indicada a Melhor Revelação no Critics. Torcerei muito por ela, apesar de ter amado a Emilia Jones (CODA) e adorado a Saniyya Sidney (King Richard).
O que me chamou a atenção foi na cena em que a Rachel Zegler e a Ariana DeBose estavam cantando e olhando fixamente uma para a outra, as suas expressões, os seus olhares, a forma como elas estavam realmente cantando exatamente naquele momento, sem o uso da dublagem, elas estavam realmente cantando e atuando uma com a outra na mesma hora em que ambas estavam sendo filmadas - maravilhoso!
Ansel Elgort foi um ator que me chamou muita a atenção em "Baby Driver" - 2017. Lá já podíamos notar esta sua veia para musicais, esta sua competência para atuar e cantar, e aqui está totalmente comprovado. Elgort tem um papel muito importante na trama, principalmente por querer se livrar das marcas do seu passado e pela paixão que acaba de se acender pela a Maria. Queria muito que este casal tivesse mais química, tivesse sido mais explorado, eles tinham muito mais para entregar do que de fato foi entregue.
Rita Moreno foi um grande acerto do Spielberg, pois vê-la em cena só aumentou a nossa emoção e satisfação em acompanhar este remake de "West Side Story". Rita Moreno interpretou a Anita na versão de 1961 e levou o Oscar pela sua atuação.
Mike Faist foi uma grata surpresa, pois não o conhecia, não sabia que ele era este ótimo ator. Ótima atuação, o que lhe rendeu uma indicação ao BAFTA. Assim como o próprio David Alvarez (também não o conhecia), que esteve muito bem em cena ao contracenar com a Ariana DeBose, ótima química entre os dois, principalmente entre as coreografias musicais.
"West Side Story" levou as estatuetas no Globo de Ouro por Atriz Coadjuvante (Ariana DeBose), Atriz (Rachel Zegler) e Melhor Filme Comédia/Musical (que eu concordo plenamente). Em direção o Spielberg perdeu a estatueta para a Jane Campion (que eu concordo mais uma vez). No Critics o longa lidera as indicações (juntamente com "Belfast"), sendo para Figurino, Edição, Design de Produção, Fotografia, Roteiro Adaptado, Direção, Elenco, Revelação (Rachel Zegler), Atriz Coadjuvante (Ariana DeBose) e Melhor Filme. No SAG o filme tem apenas a indicação de Atriz Coadjuvante para a Ariana DeBose. No BAFTA o longa aparece indicado em Som, Design de Produção, Elenco, Ator Coadjuvante (Mike Faist) e Atriz Coadjuvante. No Oscar o longa obteve 7 indicações, incluindo as principais categorias, Atriz Coadjuvante, Direção e Melhor Filme.
O ano de 2022 está sendo o ano que está me fazendo quebrar todos os tipos de preconceitos que eu tinha pelos musicais. Pois este ano já fui surpreendido positivamente pelo maravilhoso "Tick, Tick... Boom!" e agora com esta bela obra do Spielberg. "West Side Story" é uma belíssima peça teatral em forma de musical, uma ótima readaptação, uma obra completamente magnífica, beirando a perfeição dos musicais.
"West Side Story" vem muito forte no Oscar, é sim um filme para ficarmos de olho, principalmente nas categorias principais (onde eu acho que o filme ganha mais força). Nas categorias técnicas eu acho que o longa pode angariar algumas estatuetas (como em fotografia e som). Já na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, eu acredito que ninguém tira o prêmio das mãos da Ariana DeBose. Em direção eu acho que teremos uma briga muito boa entre a Jane Campion e o Steven Spielberg (como já aconteceu em 1994, quando o Spielberg levou a melhor pela "A Lista de Schindler"), mas também não devemos desconsiderar os outros concorrentes e principalmente o japonês Ryûsuke Hamaguchi, de "Drive My Car". Já em Melhor Filme que teremos o grande embate da noite, e eu coloco "West Side Story" como um dos principais favoritos ao maior prêmio da noite, pois não podemos esquecer que a sua versão de 1961 levou o Oscar de Melhor Filme, e os americanos amam premiar os musicais. [09/02/2022]
Perdidos no Espaço (3ª Temporada)
3.8 55 Assista AgoraPerdidos no Espaço - 3ª Temporada (Lost in Space - Season 3)
"Perdidos no Espaço" foi uma série que me atraiu logo de cara, até por se tratar de um tema que eu sempre gostei de acompanhar, o sci-fi, e pensando exatamente nessa temática, a série tinha tudo pra funcionar, tudo pra dar certo, mas não foi isso que aconteceu ao longo das 3 temporadas.
A premissa da série era muito boa, até por se tratar de um reboot da série homônima que rodou nos anos 60, mas infelizmente nada aqui funciona, nada se concretiza e tudo vai por água abaixo. A série não funciona como drama, não funciona como aventura, não funciona como uma exploração, não funciona como família, é tudo muito perdido, muito bagunçado, sem coesão, sem originalidade, sem aprofundamento. O roteiro é o ponto mais falho de todas as temporadas, e aqui não é diferente. O roteiro é raso, sem desenvolvimento, desconexo, mal escrito, mal projetado, que vive tentando se achar, tentando se acertar, mas que falha miseravelmente em tudo que se propõe a fazer dentro da série.
A terceira temporada de "Perdidos no Espaço" não funciona como uma série dramática, pois ao longo dos episódios temos inúmeras tentativas de nos conectarmos com o drama de cada personagem, mas sem um aprofundamento, sem um desenvolvimento, não conseguimos se importar com ninguém, não conseguimos ter empatia por ninguém, não torcemos por ninguém. A temporada ainda falha brutalmente ao querer (mais uma vez) explorar um arco pessoal de alguns dos personagens, como uma forma de comprar a nossa simpatia, mas fica uma coisa tão desconexa, tão acelerada, tão rasa, tão fria, que chega a dar vergonha alheia. A série não funciona como aventura, pois as partes em que realmente eles são colocados em perigo, que poderia render uma grande aventura espacial, vira um total clichê, não somos surpreendidos, pois já sabemos que com a família Robinson tudo vai dar certo no final e eles não sofrerão nenhuma consequência. A série não funciona como exploração, pois temos episódios que poderiam facilmente render uma boa dose de exploração, como nos planetas, nas naves perdidas, em personagens novos (exatamente por ser uma série sci-fi), mas tudo é mal explorado, sem um objetivo claro e trazido de forma muito simples.
Até como família a série falha, pois não temos aquele laço familiar, aquele verdadeiro vínculo afetivo: que por mais que a mãe se preocupasse com os filhos, que o pai se importasse em proteger os filhos, que os irmãos se preocupassem uns com os outros, mas tudo é feito de uma forma banal, fria, sem aquela química, sem aquele carisma que realmente nos fizesse se importar com aquela família, nos preocupar com aquela família, torcer pela aquela família, que até se algum dos membros da família viesse a morrer ao final da temporada, não nos causaria nenhum impacto.
O elenco é outro ponto falho e muito desconexo dentro da trama.
Eu reclamei da Dr. Smith (Parker Posey) em todas as temporadas e aqui não será diferente. Pra mim uma personagem sem o total sentido dentro da série, que inicialmente (na temporada 1) foi colocada como uma espécie de antagonista fajuta, logo após (temporada 2) foi tachada como heroína ao final, e agora ela retorna (quando achávamos que estivesse morta) unicamente pra compor o elenco, sem a menor necessidade e totalmente perdida. É triste ver uma atriz do calibre da Parker Posey (uma das principais atrizes do cinema independente norte-americano) em um projeto tão mesquinho e com uma personagem tão perdida e desconexa (deixando bem claro que ela não teve a menor culpa, pois a sua personagem foi mal escrita e mal encaixada dentro desse péssimo roteiro).
Maxwell Jenkins passou as três temporadas tentando se achar, tentando se acertar com o personagem Will Robinson, mas não funcionou, não se achou, ao contrário, virou um personagem chato, irrelevante, vazio, que ao final ainda tivemos a tentativa furada do roteiro em comprar a nossa simpatia por ele (pelos seus acontecimentos), mas que definitivamente soou piegas demais. Toby Stephens é mais um talento desperdiçado dentro da temporada (e de toda a série). Seu personagem John Robinson até funciona como a figura de um pai, de um protetor para com a sua família, mas suas ações e suas decisões são tão confrontadas dentro da série, ao ponto de nos perguntarmos qual era o seu verdadeiro propósito ali. Toby Stephens não está bem no personagem, não entrega uma boa atuação, ao contrário, sua interpretação soa como vazia, desprovida de sentimentos e com o passar dos episódios, ela só vai esfriando cada vez mais.
Molly Parker, Taylor Russell e Mina Sundwall ainda salvam o elenco.
Maureen Robinson (Molly Parker) esteve bem nas duas temporadas anteriores e nessa terceira ela ainda se mantém praticamente no mesmo nível. Maureen sempre esteve um pé à frente dos problemas, sempre se portava como uma pessoa sagaz, astuta, inteligente, decidida, pra mim a melhor personagem dentro de toda a série. Molly Parker entrega uma boa atuação, nada estratosférico, mas consegue nos chamar a atenção pela sua interpretação. Penny Robinson (Mina Sundwall) ainda consegue manter aquela personagem que eu comecei a gostar na segunda temporada, ela vem em uma crescente e até consegue alguns destaques, apesar de achar que nessa temporada ela está mais preocupada em moldar a sua vida adolescente (relacionamentos e afins). Judy Robinson (Taylor Russell) é a segunda melhor personagem da série. É muito bom ver o crescimento da Judy dentro de cada temporada, pois na primeira ela não teve muito destaque, na segunda ela cresceu muito, e nessa terceira ela está ainda melhor. Judy é muito inteligente, muito decidida, muito perspicaz, age na hora certa, toma decisões na hora certa e se tornou uma figura de muita relevância dentro do contexto de toda série. Eu gostei muito da forma de atuar da Taylor Russell, acho que se ela escolher bem os seus papéis daqui pra frente, ela só tem a crescer cada vez mais.
Tecnicamente a série continua muito boa!
Os efeitos visuais continuam em alto nível, o CGI é muito bem trabalhado, os efeitos especiais é bem explorado (como no caso do próprio robô), a fotografia é excelente e muito bem executada em praticamente 100% do tempo, a cenografia é de cair o queixo e está totalmente perceptível em todos os cenários (principalmente dentro das naves). E por fim a trilha sonora, que agrega muito bem dentro da série e acompanha bem cada episódio (com um destaque maior para o tema de abertura da série).
No mais, "Perdidos no Espaço" era uma série muito promissora, que nos despertava diversas curiosidades sobre o tema, que nos instigava sobre a ficção cientifica que está inserida dentro da série, que possuía todos os requisitos para dar certo, mas a série se tornou melodramática, piegas, enfadonha, onde carece de ritmo, carece de imersão, e que definitivamente não deu certo e se tornará facilmente esquecida. [07/02/2022]
A Filha Perdida
3.6 573A Filha Perdida (The Lost Daughter)
O primeiro longa dirigido e roteirizado pela Maggie Gyllenhaal (casada com Peter Sarsgaard e irmã do Jake Gyllenhaal) é uma produção original Netflix, baseado no livro de mesmo nome escrito por Elena Ferrante.
"A Filha Perdida" é um filme difícil, profundo, misterioso, que nos incomoda, nos confronta com várias realidades e suas experiências traumáticas, como a obsessão e a sua forma de retratar a maternidade, que não segue em uma linha cronológica, que muita das vezes nos confunde, por terem acontecimentos atrasados e adiantados em um curto espaço de tempo (típica produção que não segue aquela linha de começo, meio e fim). A própria protagonista, Leda (Olivia Colman), é tão perdida e confusa na trama quanto nós, pois observamos suas nuances, seus traumas, suas alegrias, seus sofrimentos, suas frustrações, de uma forma totalmente misturada e de certa forma até bagunçada.
O elenco em si também é confuso, parece que eles estão ali unicamente para nos confundir sem um propósito e confundir a cabeça da própria Leda. De certa forma podemos aprender com as experiências de vida da Leda: que você nunca conseguirá viver sempre seguindo uma linha reta (como na clara alusão na cena em que ela descasca a laranja sem deixar que a sua casca se quebre, e ainda ela ensina isso para a sua filha ), não existe uma cartilha que devemos seguir à risca, devemos vivenciar nossos medos e traumas e confrontar os nossos próprios fantasmas.
Por outro lado o longa ainda peca em vários pontos: como o fato do roteiro ser de certa forma bagunçado e se perder em algumas partes. A forma como o roteiro aborda alguns pontos dentro da trama soa como confuso, deixando aquele emaranhado de perguntas em nossas cabeças e sem explicações - como o fato do contraponto que o longa faz com os flashbacks entre a Leda jovem (Jessie Buckley) e a Leda da meia-idade (Olivia Colman). A narrativa por sua vez também é confusa, falta ritmo, falta imersão, não conseguimos se apegar por ninguém, falta empatia, falta química, o que irá dificultar muito a experiência como um todo, soando até como monótono em algumas partes e se retratando como uma obra sem alma.
Os pontos positivos são:
A direção da Maggie é incrível, a forma como ela conduz os takes, os focos, que muita das vezes eram diretamente tomado da própria visão da protagonista, como se nós estivéssemos vivenciando o drama da Leda pelos seus próprios olhos, pela sua própria perspectiva. Assim como os planos mais abertos e principalmente os mais fechados, que davam os focos exatamente nos rostos dos personagens, mostrando perfeitamente as suas diferentes expressões (aproximando bem a câmera). A Maggie dirige o seu longa de uma forma singela, com uma sensibilidade em retratar a mensagem que ela queria nos passar, sem a necessidade de entrar em um discurso que poderia soar como piegas. A fotografia também merece destaque, pois acompanha e casa perfeitamente em cada cena, se mostrando ainda mais explorável e perceptível nos takes mais abertos da Maggie nas cenas da praia. Já a trilha sonora é mediana, não chega a se destacar, mas também não chega a comprometer, é uma trilha mais tímida, mais pacata, dado o contexto do longa. Nessas condições eu considero a trilha sonora como um ponto positivo.
Gostei bastante das atuações e considero mais um ponto positivo!
Olivia Colman é uma atriz maravilhosa e o que ela nos entrega aqui é claramente mais um grande trabalho. Colman dá vida a uma mulher introspectiva, solitária, amargurada, que esta arrasada pela as suas próprias memórias do passado, mas em contrapartida ela se mostra com uma personalidade forte, muito particular, que carrega uma individualidade que a favorece e ao mesmo tempo lhe prejudica. Colman pode até ter atuações melhores (como em "A Favorita" que lhe rendeu o Oscar), mas aqui ela está diferente do que esperamos, fora do trivial, e ao meu ver a sua atuação tem um tom solitário que funciona muito bem casado com a sua dramaticidade. Colman foi indicada em várias premiações e na minha opinião cabe sim a sua indicação, pelo menos para destacar este belo trabalho, vale como lembrança.
A linda Dakota Johnson traz uma personalidade ambígua para a sua personagem, com uma profundidade no olhar que transmitia toda sua insegurança, sua vulnerabilidade, sua instabilidade, seus medos, suas dores, suas aflições. Era como se a Nina se espelhasse na Leda (Colman) e vice e versa, como se uma fosse a experiência da outra, onde a própria Leda conseguia ver o seu passado através da Nina. Confesso que não sou de acompanhar os trabalhos da Dakota, mas aqui ela me surpreendeu positivamente, ela está ótima na personagem e tem uma atuação muito digna.
Jessie Buckley é outro grande destaque no longa. Jessie faz a Leda mais jovem, que parecia não estar pronta para lidar com a maternidade, que aparentemente não possuía os instintos maternos, ou aquela aptidão para ser mãe, tão logo de duas filhas. Leda também tinha suas nuances e aflorava todos os seus sentimentos, explicitando as suas inseguranças. Jessie tem uma ótima atuação, muito bem executada, performada, fazendo aquele contraponto muito interessante da sua Leda jovem para com a Leda mais de meia-idade da Colman. Jessie está indicada no BAFTA e eu concordo com a sua nomeação, mas acho que dificilmente ela levará, ficará apenas como lembrança.
Temos algumas alusões, menções, citações ao decorrer do filme que constantemente nos obriga a tirar as nossas próprias interpretações/conclusões. Eu tirei minhas próprias conclusões e fiz as minhas próprias interpretações. Agora se está certo ou errado, se vão concordar ou discordar....enfim!!!
Na cena em que a Leda (Colman) conversa com a Nina funciona como uma espécie de terapia, para ambas, sendo exatamente o momento em que você começa a ligar as pontas soltas, começa a fazer sentido aquela sua obsessão pela Nina como mãe de uma criança, até pelo fato da Leda revelar para a Nina que abandonou as suas filhas por 3 anos quando elas ainda eram crianças. Isso fez aflorar seus pensamentos e suas lembranças do passado, pelas suas lembranças lhe machucar e seus pensamentos lhe corroer por dentro. Sem falar que é uma bela performance da Olivia Colman, por toda sua dramaticidade entregue nesta cena.
Na cena em que a Leda (Colman) decidi partir em busca da filha da Nina que se perdeu (ou a própria Leda a tomou pra si), funciona com uma espécie de objetivo de mãe frustrada, como se sair em busca daquela criança que se perdeu fosse de alguma forma aliviá-la de seus traumas e fantasmas do seu passado, até por a própria Leda ter abandonado as filhas.
A cena em que a pinha cai diretamente nas costas da Leda (Colman), deixando uma marca, um machucado (como uma marca da vida pelo o que ela passou), que logo em seguida é amenizado pela Callie (Dagmara Domińczyk), mas unicamente pelo fato da Leda ter encontrado a filha perdida da Nina. Parece uma forma politicamente correta de se recompensar um bem que você fez para outra pessoa em sua vida, mas com um conceito estereotipado, ou de uma forma vulgar, falsa, fria, como se fosse uma obrigação o fato da Callie passar a pomada para aliviar o machucado da Leda, unicamente pelo "bem" que ela fez para todos, mesmo sem o claro interesse (se é que podemos considerar dessa forma).
O fato da Leda (Colman) ter roubado a boneca da filha da Nina me parece mais uma alusão a maternidade (ou por tudo que ela passou), até pelo fato da Nina querer proteger sua filha como mãe e sua filha querer estar sempre com a boneca. Possivelmente pelo fato da Leda ter abandonado as suas filhas no passado, por querer de certa forma estar com elas como aquela boneca sempre estava com a criança. Parece que realmente a Leda falha como mãe até em posse da boneca, pois tem cenas em que ela entra em constantes conflitos com a boneca, como na cena em que ela joga a boneca pela janela e ela se quebra toda ao chegar ao chão, ou o fato de ela jogar a boneca no lixo e depois se arrepender, exatamente como ela abandonou as suas duas filhas e depois se arrependeu amargamente. Também fico me perguntando se a filha perdida pudesse de certa forma ser aquela boneca, como uma espécie de alusão que o filme faz com a Leda, até pelo fato da boneca estar em evidência o tempo todo em quase todas as cenas, e mais em posse da Leda do que da filha da Nina. Também cheguei a cogitar que a filha perdida pudesse ser a própria Nina, ou não, enfim!
A cena inicial e a cena final (quando a Leda cai na beira da praia), eu fiquei me perguntando se tudo aquilo realmente existiu, ou se ela realmente morreu, ou se tudo não passou de uma ilusão.
No Globo de Ouro o longa foi indicado em Direção (Maggie) e Atriz (Colman). No SAG obteve apenas a indicação para a Olivia Colman. No Critics está indicado em Atriz para Colman e Roteiro Adaptado para Maggie. No BAFTA (recentemente anunciado) o longa está indicado em Atriz Coadjuvante para Jessie Buckley e Roteiro Adaptado para a Maggie, esnobando a Olivia Colman, que até então vinha sendo indicada em todas as premiações.
Em seu trabalho de estreia como diretora e roteirista, Maggie Gyllenhaal já nos entrega um longa que dividi inúmeras opiniões, aquele típico 8 ou 80, ame ou odeie. Por mais que o filme peque no roteiro e na narrativa, eu gostei das atuações, das alusões e da direção. No final o longa ainda nos entrega um final ambíguo, livre de amarras, fora do trivial, que você pode facilmente tirar as suas próprias conclusões do que de fato aconteceu com a Leda. Pra mim "A Filha Perdida" é um filme muito subjetivo, que com certeza vai decepcionar uma pessoa e agradar uma outra, já eu fico no lado que se agradou com o filme. Pra mim o longa da Maggie Gyllenhaal tem o saldo mais positivo do que negativo.[05/02/2022]
No Ritmo do Coração
4.1 755 Assista AgoraNo Ritmo do Coração (CODA)
"CODA" é dirigido e roteirizado pela americana Sian Heder, o longa é uma refilmagem americana em inglês do filme francês, La Famille Bélier de 2014, dirigido por Éric Lartigau. O nome original do filme, CODA, é a sigla que significa "Child of Deaf Adults" ou "Filho de Adultos Surdos", ou também pode significar uma passagem final da música em uma composição.
"CODA" é uma obra tocante, singela, intimista, singular, realista, verdadeira, que vai te emocionar, vai te fazer sorrir, ao mesmo tempo em que nos concentramos e torcemos com os números musicais. O longa uni a comédia, o drama e a música com muita maestria, pois ao longo da trama temos vários momentos cômicos por parte da família Rossi, em contrapartida, temos todo o drama vivido pela própria família e pela própria Ruby (Emilia Jones), com a sua decisão em continuar ajudando sua família ou ir atrás dos seus sonhos. O longa ainda toca (de uma forma mais leve) em pontos como a inclusão na sociedade das pessoas 'surdas-mudas', nos mostrando verdadeiramente como são o dia a dia dessas pessoas, como elas vivem em uma sociedade preconceituosa e prepotente, tendo que se adequar aos ambientes e enfrentar todas as suas dificuldades.
A direção e o roteiro da Sian Heder é muito bom e muito bem desenvolvido, pois somos confrontados em uma comédia dramática pelo ponto de vista da família Rossi, com um contraponto de amadurecimento, descobrimento, realização, dedicação e perseverança pelo ponto de vista da Ruby. O roteiro pode até ser considerado um clichê, pois inicialmente já imaginamos todo o percurso e o final do longa, e também muitas das coisas que vemos nesse filme, já tínhamos visto em outros. Mas é exatamente nesse ponto que o roteiro nos ganha, pela sua simplicidade e singularidade em contar a sua história, e nesse quesito ele é bem escrito e funciona muito bem.
A forma como a Sian Heder dirige a sua obra é fenomenal, pois ela constrói as cenas com muita objetividade e muita atenção, dando o espaço e o tempo necessário para o desenvolvimento de todo o elenco. As atuações nos cativa e funciona de uma forma tão boa, que fica completamente impossível não se afeiçoar por eles, a empatia é alcançada imediatamente. O elenco de "CODA" é tão bom que facilmente nos apegamos e torcemos por eles, sem tomar partido de nenhum lado da história, unicamente sentimos a dor e a alegria de cada um, se importamos com cada um, queremos proteger cada um. Nesse quesito o roteiro de Sian Heder é totalmente funcional e nos prende gradativamente, espontaneamente, sem o apelo emocional, sem se tornar um caça-lágrimas - o que de fato é muito plausível!
Emilia Jones é um show em cena, um verdadeiro espetáculo, não tem como não simpatizarmos por ela, não se apegarmos a ela. Ruby era a única da família que ouvia e falava normalmente, dessa forma ela era muito importante para o dia a dia de sua família, pois através dela que todos conseguiam se comunicar. Porém, Ruby era uma jovem que estava se descobrindo entre o amor e a sua verdadeira vocação, e queria ir em busca do seu sonho, mesmo que pra isso ela tivesse que se desprender da sua família. Emilia nos entregou uma bela atuação, que transcorreu de forma muito segura na personagem, dosando muito bem os momentos mais dramáticos e mais eufóricos. Emilia Jones é uma jovem atriz que soube se preparar para a personagem: ela passou nove meses aprendendo a linguagem de sinais americana, tendo aulas de canto e aprendendo a operar uma traineira de pesca - realmente uma grande entrega! Emilia está indicada no Critics como Melhor Revelação.
Eugenio Derbez é um ator muito bom, muito bom mesmo! Bernardo Villalobos é o professor de coral que viu o potencial e o talento de Ruby, dessa forma, ele é o principal responsável por aflorar (colocar pra fora) todo o seu potencial vocal. Mr. V também foi o que mais acreditou e incentivou a Ruby a ingressar na faculdade de música. Grande atuação do mexicano Eugenio Derbez, que nos mostrou aquele professor sisudo, mais linha dura, que queria extrair o máximo da perfeição vocal dos seus alunos (principalmente da Ruby). Uma atuação completamente perfeita!
Troy Kotsur (que fez o Frank) entrega um personagem com uma veia cômica e outra dramática, e de fato funcionou muito bem, ele soube utilizar de suas vertentes para construir um personagem muito eficaz para o desenrolar de toda trama. Troy ganhou um Gotham Award e foi indicado para o Globo de Ouro, o Critics, o SAG e o Independent Spirit Award. Marlee Matlin (que fez a Jackie) fez o contraponto perfeito com Troy, entregou o papel de mãe verdadeira (do jeito dela) e de esposa dedicada (também da forma dela). Marlee é a única atriz surda a ganhar o Oscar de Melhor Atriz em um papel principal, tendo conquistado o prêmio por sua atuação em "Children of a Lesser God" (Filhos do silêncio de 1986). Daniel Durant (que fez o Leo) completa a família, e mesmo sem entregar uma atuação do mesmo nível do elenco já citado, ele tem uma colaboração direta para o funcionamento de toda engrenagem (a família) na trama. Troy Kotsur, Daniel Durant e Marlee Matlin são surdos e mudos, porém, a Marlee adquiriu a habilidade da fala e já emprestou a sua voz para a série animada "Family Guy" (Uma Família da Pesada de 1999).
Não posso deixar de mencionar as principais cenas do filme, aquelas de maiores destaques, aquelas que realmente engrandece toda a obra de Sian Heder.
O longa se passa quase que inteiramente mudo, se tornando um enorme desafio em cena, principalmente para a Emilia Jones. Porém, devo destacar as belíssimas cenas de diálogos mudos, principalmente uma em específico entre a Ruby e a Jackie, que realmente me prendeu e me conquistou, quando ela estava contando e aconselhando a filha sobre os perigos da vida, ainda mais por ela ser jovem - eu achei sensacional esta cena.
A belíssima cena em que o Frank pede para a Ruby cantar para ele e ele coloca a mão na garganta dela, na intensão de sentir as vibrações causadas pela sua voz - cena completamente magnífica!
A cena onde a Ruby canta na audição fazendo os sinais para que a sua família (que estava sentada acima) pudesse entender a música, ou, as palavras que ela estava cantando.
Outra cena maravilhosa, a cena da apresentação musical, em que a Ruby está cantando com o Miles (Ferdia Walsh-Peelo) e de repente tudo fica em um completo silêncio, nessa hora passamos a acompanhar a sua apresentação pela perspectiva da sua família, pelos olhos dos seus pais. É exatamente nessa hora que observamos eles olhando para as reações das pessoas ao redor, uma forma que eles encontraram de observar que as pessoas de fato estavam gostando da apresentação da Ruby, e que de fato ela era realmente muito boa cantando.
E aquela cena final do Troy se esforçando para soltar um tímido "GO", quando se despedia de sua filha. Acho aquela cena de uma beleza sem igual, dentro de tantas belas cenas do filme, esta realmente me tocou verdadeiramente, pela emoção da família em liberar a sua filha em busca do seu sonho, e pela forte emoção que estava explícita no pai em se despedir da sua filha - genial!
"CODA" foi muito aclamado pela crítica e levou o prêmio especial do júri de elenco na competição dramática dos EUA em sua estreia mundial no Festival de Cinema de Sundance de 2021. No Critics o longa aparece nas categorias Roteiro Adaptado (Sian Heder), Revelação (Emilia Jones), Ator Coadjuvante (Troy Kotsur) e Melhor Filme. No SAG está indicado a Melhor Elenco, além da indicação para o Troy a Ator Coadjuvante, e eu vou sem bem sincero: eu daria o prêmio de Melhor Elenco em Filme para o "CODA" no SAG, mesmo faltando eu conferir "Belfast". De fato o belo trabalho da Sian Heder vai lhe render algumas indicações no BAFTA e no Oscar. No Oscar o longa com certeza estará entre os indicados a Melhor Filme, mas sinceramente eu não o vejo como um franco favorito na briga pela estatueta, ao contrário, acho que "CODA" ficará somente com a nomeação, o que não é nenhum demérito, mas acho que o filme corre por fora e não tem forças para brigar pela principal categoria da noite.[30/01/2022]
CODA aquece o nosso coração!
tick, tick... BOOM!
3.8 451Tick, Tick... Boom!
Eu nunca fui um adpeto à musicais, sempre tive um certo preconceito, um pé-atrás, sendo que o único musical que de fato me conquistou foi "Os Miseráveis". Fui conferir 'Tick, Tick... Boom!' por uma indicação de um amigo e também pela temporada de premiações.
'Tick, Tick... Boom!' simplesmente explodiu a minha cabeça, jamais poderia imaginar como este filme é bom, como ele te conquista, como ele te prende, de uma forma leve, gostosa, prazerosa, que sequer você percebe o tempo passar.
Confesso não conhecer os trabalhos do Lin-Manuel Miranda, mas pelo o que eu pesquisei, sei que ele foi o idealizador e escritor de "Hamilton", além de ser uma artista completo. Miranda é ator, rapper, compositor, dramaturgo, cantor, produtor, letrista, além de já ter ganhado vários prêmios e ter revolucionado a Broadway. Em 'Tick, Tick... Boom!' Miranda nos traz um longa que foi baseado no musical semi-autobiográfico de Jonathan Larson. Larson foi um escritor e compositor de peças mais intimistas, que abordava temas muito delicados como drogas, AIDS e a homossexualidade, assuntos esses que também foram abordados em 'Tick, Tick... Boom!' e 'Rent' (este último eu ainda não conheço).
Lin-Manuel Miranda faz a sua estreia como diretor e nos entrega um excelente trabalho feito com muita dedicação, com muita coesão, com muita atenção, com muito respeito, e como uma forma de homenagear Jonathan Larson em sua própria criação. Steven Levenson nos entrega um belíssimo roteiro onde tudo funciona em perfeita harmonia, tudo muito bem interligado, tudo muito bem transplantado em cena, você não se perde, não se cansa, ao contrário, você é completamente envolvido e imergido na trama de uma forma completamente satisfatória e magnífica.
O longa já começa de uma forma excelente ao nos mostrar o jovem compositor Jon (Andrew Garfield) nos contando sobre o Tick, Tick, o que de certa forma funcionava exatamente como um bomba relógio, que sempre estava em sua cabeça, que sempre nos pegava em cada cena, como se esperássemos sempre o Boom. Curiosamente também ao início temos uma das melhores músicas de todo o filme, que é exatamente a parte em que ele relata o seu medo de chegar aos 30 anos. Me identifiquei demais com esta parte, até por pensar exatamente da mesma forma quando eu estava chegando nos meus 30 anos, aquela fase em que eu estava saindo da juventude para a idade adulta mais velha, ou de certa forma, eu também pensava que estava ficando ultrapassado. Aliás, preciso destacar aqui que todas as músicas do filme são excelentes, eu gostei de todas, vou pesquisar uma por uma pra guardar comigo para sempre.
Pra mim 'Tick, Tick... Boom!' é um musical, mas um musical diferente, que ora nos mostrava o lúdico em contrapartida já nos confrontava com a vulnerabilidade em cena. O longa funciona em duas fases diferentes, inicialmente somos imergidos em um tom mais extrovertido, mais alegre, logo em seguida já caminhamos para um tom mais denso, mais pesado, é exatamente este contraponto entre o drama e a leveza que me cativou no filme. O longa é realmente um musical mais dramático, até por navegarmos no drama do próprio Jon em busca da sua realização pessoal e profissional. Na medida que também somos inseridos no drama da sua namorada Susan (Alexandra Shipp), que também tem seu sonho, seu objetivo e busca realizá-lo, mesmo que pra isso ela tenha que abrir mão do seu relacionamento com o Jon. Também temos o drama do seu melhor amigo Michael (Robin de Jesús), por todas as suas decisões e suas consequências, se destacando como uma das melhores partes de todo o filme ao final. Outro ponto que me deixou maravilhado era como as canções acompanhava cada mudança de tom no filme, ora sendo mais eufórica em momentos mais leve e ora mais pesada em momentos mais dramáticos, fazendo aquele contraponto entre a realidade e a imaginação.
Andrew Garfield é o coração do filme, é impressionante como ele está bem inserido no personagem, como ele atua com a alma, com bastante leveza, simpatia, carisma, sendo extrovertido e dramático nas horas certas. Típico personagem em que nos cria empatia, amor, admiração, euforia, com aquele misto de tristeza e aperto no coração com o decorrer da trama. Andrew é um ator incrível, que já nos entregou maravilhosas atuações como o Padre Rodrigues em "Silêncio" (2016) e o soldado Desmond Doss em "Até o Último Homem" (2017). Em 2017 Andrew ganhou a sua primeira indicação ao Oscar na categoria Melhor Ator pelo seu trabalho estupendo em "Até o Último Homem". Este ano ele já levou o Globo de Ouro de Melhor Ator Comédia/Musical (muito justo por sinal) e está indicado no SAGs e no Critics. No Oscar é o grande ponto em questão, Andrew Garfield com certeza ganhará uma merecida indicação à Melhor Ator, mas concorrerá com atuações de Benedict Cumberbatch e Will Smith, que dificultará muito a sua vitória na categoria. Estou admirado, pois eu não sabia que o Andrew Garfield cantasse tão bem.
Alexandra Shipp também entrega um ótimo trabalho e uma grande atuação. Gostei muito da sua personagem, esteve o tempo todo em perfeita harmonia e obteve uma ótima química com o Andrew Garfield - destaque para a maravilhosa cena musical entre ela e a Vanessa Hudgens (mais uma bela musica do filme). Robin de Jesús é mais um que entrega um grandiosa atuação, mais um que esteve em perfeita harmonia com Andrew Garfield, principalmente no último ato do filme, onde ele chega ao ápice de seu personagem. Bradley Whitford (meu velho conhecido da série The Handmaid's Tale) está bem no filme, ele entrega um personagem com a dosagem certa para todo o desenrolar da trama, gostei muito do seu trabalho. Vanessa Hudgens me surpreendeu positivamente, não imaginava que a sua personagem fosse tão boa no filme, e de fato ela foi excelente (até pelo fato dela já ser cantora, dançarina...enfim!). Temos várias cenas memoráveis da Vanessa durante todo filme: como a sua performance musical na cena junto com o Andrew Garfield, assim como a cena em que ela canta junto com a Alexandra Shipp - sensacional!
'Tick, Tick... Boom!' teve duas indicações no Globo de Ouro, levando a estatueta de Melhor Ator Comédia/Musical para Andrew Garfield e perdendo a estatueta de Melhor Filme Comédia/Musical justamente para "Amor, Sublime Amor". No Critics o longa aparece em duas categorias (Melhor Filme e Ator), e no SAGs somente na categoria de Melhor Ator para o Andrew Garfield. Estou muito curioso nas indicações do Oscar, quero muito saber em quais categorias que o longa aparecerá entre os indicados. Eu aposto nas categorias de Melhor Ator e Melhor Filme, nas demais é uma incógnita, a gente nunca sabe o que se passa na cabeça das pessoas que indicam e que votam na academia.
Assim como "Os Miseráveis" me fez quebrar o preconceito com musicais lá em 2013, 'Tick, Tick... Boom!' me fez quebrar mais uma vez este ano. Eu estou completamente maravilhado com o filme, completamente agradecido ao Lin-Manuel Miranda por nos entregar esta obra musical tão magnífica e tão intimista, completamente agraciado pela bela atuação e entrega do Andrew Garfield. 'Tick, Tick... Boom!' é sim um belíssimo drama musical, que por mais que você não goste de musicais, mas você precisa dar uma chance de ser surpreendido e impactado, assim como eu fui. [25/01/2022]
(Curiosamente eu assisti ao filme hoje, no dia 25 de janeiro, exatamente o mesmo dia em que Jonathan Larson faleceu em 1996)
King Richard: Criando Campeãs
3.8 410King Richard: Criando Campeãs (King Richard)
O longa dirigido por Reinaldo Marcus Green e roteirizado por Zach Baylin realmente nos impressiona pela audácia aplicada em nos surpreender, em nos contar uma história em que possivelmente todos (assim como eu) achavam que seria sobre a vida das duas maiores tenistas da história - Venus e Serena Williams. Até podemos considerar que sim, que o roteiro também abrange o início da vida de cada uma (até mais da Venus), mas o fato que realmente me ganhou e me surpreendeu, é exatamente o foco em nos entregar uma cinebiografia pela perspectiva do Richard Williams (o pai delas, que foi magistralmente interpretado por Will Smith).
O roteiro de Zach Baylin nos confronta diretamente com a verdadeira fé, garra, força, motivação, ambição, determinação por parte do Richard, ao focar no treino das filhas usando seus métodos próprios para torná-las campeãs. Richard já havia traçado o seu plano em sua cabeça de tornar as suas filhas campeãs desde o início, ele sempre esteve focado nesse objetivo como pai, como treinador, como incentivador, enfrentando todas as suas dificuldades e principalmente com o objetivo de afastá-las das ruas, até por residirem em um bairro pobre e violento. Richard sempre teve que conviver com o preconceito, com a desigualdade, com a indiferença, até por ter sido criado na época da segregação racial, dessa forma ele estava remando contra a maré ao dedicar a sua vida em tornar as suas duas filhas negras em futuras campeãs no tênis, consequentemente um esporte voltado para os brancos.
Will Smith mais uma vez nos impressiona e nos impacta com mais uma bela atuação, assim como já havia feito em suas performances em "Beleza Oculta", "À Procura da Felicidade" e "Sete Vidas". Will Smith é um ator incrível, que usa uma versatilidade incrível em suas atuações, que consegue nos levar do riso ao choro em questões de segundos. Em 'King Richard' ele traz um personagem que era tido como um velho ranzinzo, rabugento, reclamão, chato, aquele mau humor imposto pela vida, que lhe obrigava a criar aquela casca dura pra se defender e defender a sua família de tudo e de todos ao seu redor. A caracterização do Will Smith estava muito fiel ao personagem, assim como o trabalho de maquiagem, que o deixou mais envelhecido, que nos mostrava aquele rosto sofrido e cansado. Will Smith tem uma veia para o drama, ele sempre consegue nos impactar em suas atuações, exatamente como ele faz aqui, ao nos entregar um personagem que está completamente carregado emocionalmente. Depois de alguns trabalhos que facilmente já poderia ter lhe rendido a estatueta do Oscar, eu acho que de fato chegou a sua hora (Will Smith já levou o Globo de Ouro e está indicado em praticamente todas as premiações).
Saniyya Sidney faz um grande trabalho ao interpretar a jovem Venus Williams, principalmente na cena do jogo final, onde podemos comprovar ainda mais o seu grande talento para atuar. Saniyya já nos chamou a atenção em "Fences", onde ela interpretava a pequenina Raynell, filha do casal Troy e Rose (Denzel Washington e Viola Davis), logo em sua estreia nos cinemas com apenas 10 anos. Saniyya Sidney está indicada no Critics à Melhor Revelação. Demi Singleton fez a Serena Williams, e de certa forma ela não teve o mesmo destaque da Saniyya, mas ai já foi uma decisão de roteiro (que explicarei adiante). Aunjanue Ellis faz a esposa Brandi Williams, sendo mais uma que entrega uma ótima atuação. Aunjanue faz aquela esposa que apoia o marido em suas decisões, que sempre está ao seu lado para o que der e vier, sempre ativa e que não aceita a submissão, tanto que uma das melhores cenas do filme é exatamente um confronto de ideias e opiniões entre ela e o Richard (Aunjanue Ellis foi indicada à Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro e está indicada no Critics). Sem deixar de mencionar o Jon Bernthal, que esteve ótimo como o treinador Rick Macci.
A fotografia do longa é boa, de certa forma até mais escurecida e acinzentada, que nos dava a dimensão de todo o drama familiar, e mesmo nas cenas em que teoricamente exigiria uma fotografia mais viva e animada (como na cena da disputa final), ela continuava com aquele tom mais denso. A trilha sonora de Kris Bowers (Green Book: O Guia) está bem dosada, bem adicionada e acompanha muito bem a trama. A direção de arte também se destaca, a cenografia é muito boa, assim como a montagem, a edição, tudo se destaca pelas riquezas de detalhes.
O roteiro de Zach Baylin nos ganha exatamente pela forma como ele decide contar a história focada propriamente no Richard Williams e não em suas duas filhas que aspiravam ao estrelato. De fato o filme é sobre o Richard, sobre a sua visão da história, sobre a sua forma adotada para treinar as suas duas filhas, até por isso que nos perguntamos: porquê será que a Venus teve um maior destaque (um maior tempo de tela) do que a Serena? Até pelo fato de ela ser a mais velha e o Richard já ter em sua mente (seu plano) em tornar a Venus como a número 1 do mundo e a Serena como a maior tenista de todos os tempos - exatamente na cena em que o Richard conversa com a Serena, que por sinal é uma cena maravilhosa!
"King Richard" esteve indicado no Globo de Ouro em quatro categorias, levando apenas a de Melhor Ator para Will Smith e perdendo a categoria principal de Melhor Filme Drama para "Ataque dos Cães". No Critics o longa está indicado em Melhor Canção ("Be Alive" da Beyoncé), Roteiro Original (Zach Baylin), Revelação (Saniyya Sidney), Melhor Atriz Coadjuvante (Aunjanue Ellis), Ator (Will Smith) e Melhor Filme. No SAG o filme só aparece nas categorias de Melhor Elenco e Melhor Ator, para Will Smith. A grande disputa de "King Richard" ficará para o Oscar, que com certeza estará entre os favoritos da noite.
Eu ainda não assisti a todos os indicados (até porque a lista ainda não saiu), mas eu acredito que a maior disputa de "King Richard" será com "Ataque dos Cães". Na categoria de Melhor Ator eu acredito que a disputa ficará entre Benedict Cumberbatch e Will Smith, e se eu tivesse que decidir entre os dois, seria muito difícil, mas eu escolheria o Will Smith por muito pouco, apesar do trabalho do Benedict em "Ataque dos Cães" está estupendo. Já pensando na disputa de Melhor Filme somente entre esses dois, eu daria a estatueta para "Ataque dos Cães", que por mais que "King Richard" seja carregado em um excelente drama familiar verdadeiro, "Ataque dos Cães" é mais completo, mais surpreendente e mais fantástico como um todo. [18/01/2022]
Casa Gucci
3.2 708 Assista AgoraCasa Gucci (House of Gucci)
Um elenco estrelado por Lady Gaga, Adam Driver, Jared Leto, Jeremy Irons, Al Pacino e o gênio Ridley Scott na direção, é a verdadeira receita para o sucesso. O longa é baseado no livro The House of Gucci: A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greed, escrito por Sara Gay Forden.
Eu diria que o último filme excelente do Ridley Scott foi "Perdido em Marte", de lá pra cá seus últimos trabalhos foram de razoáveis para ruins, como é o caso de "Todo o Dinheiro do Mundo", que por sinal é um filme muito ruim. Casa Gucci chega para quebrar esta sequência ruim do Scott, e de fato o longa é muito bom, muito divertido, muito gostoso de acompanhar, te prende desde o início até o final dos créditos.
Começando pelos pontos positivos:
Temos uma direção de arte estupidamente perfeita, com uma cenografia e uma ambientação do mais alto nível de qualidade. É realmente impressionante como os cenários do filme são perfeitos e estão perfeitos, como os carros, as cidades, as casas, os móveis, são tudo muito fiéis ao fato do longa se passar entre os anos 70 e 90, e justamente todos os detalhes corroboram para a qualidade ser cada vez mais sentida e mais perceptível. As maquiagens e cabelos também estão muito bem ajustadas pra época, assim como os figurinos do mais alto padrão de requinte e elegância (como os inúmeros modelitos usados pela Patrizia Gucci), e de fato não poderia ser diferente em um longa justamente sobre os padrões da moda.
A fotografia de Dariusz Wolski é muito bem destacada ao longo da trama e colabora intensamente em cada cena, principalmente entre os cenários mais abertos e gelados, onde os contraste de cores da fotografia tende a melhorar muito. A trilha sonora de Harry Gregson-Williams é um casamento perfeito com a trama e acompanha muito bem os passos dos personagens. Com músicas conhecidas (algumas Italianas) e destacadas dentro do mundo da moda, que intensifica ainda mais as qualidades técnicas do longa (teve várias cenas em que sem querer eu me pegava cantando as músicas, principalmente ao final).
O ponto mais positivo do longa do Ridley Scott é sem dúvidas o elenco e suas atuações, que simplesmente estavam completamente impecáveis.
Pra mim a melhor atuação do filme é sem dúvidas do Jared Leto, que nos entrega mais um belíssimo trabalho na pele do Paolo Gucci. É realmente impressionante a sua capacidade de caracterização, de concentração, de interpretação, de atuação, com aqueles seus trejeitos e sotaques, que o deixou completamente irreconhecível, que me deixou completamente embasbacado e se perguntando se realmente era o Jared Leto ali. Mais um trabalho de alto nível e de grande entrega, assim como ele já havia nos impressionado em 2014 em "Clube de Compras Dallas" (trabalho que lhe rendeu o Oscar). Que ator que é esse Jared Leto senhoras e senhores! Ele está indicado no Critics Choice e no SAG Awards na categoria Ator Coadjuvante, e com certeza brigará no Oscar pela estatueta junto com Kodi Smit-McPhee. (sem esquecer do BAFTA)
Lady Gaga é a segunda melhor do filme. Mais uma atuação em alto nível, assim com ela já havia nos entregado em "Nasce uma Estrela", que por sinal briga em pé de igualdade pela a sua melhor atuação. É difícil apontar em qual dos dois trabalhos ela está melhor, acho que são trabalhos diferentes e atuações completamente opostas, mas o fato é que são performances memoráveis e prazerosas. Gaga traz uma personagem que tem muitas vertentes, muitas facetas, que consegue navegar com muita propriedade no drama, na comédia, na sátira, na ira, se passando por uma boa moça para conseguir conquistar a sua presa e ainda mais maquiavélica para planejar e atacar. Uma interpretação que nos mostrava todo o seu poder em cena e a sua capacidade em atuar de forma serena e de forma letal, fazendo aquele contraponto no drama e no cinismo - SENSACIONAL - vide a sua última cena no tribunal (que performance meus amigos). Gaga esteve indicada no Globo de Ouro (mas não levou), está indicada no Critics Choice e no SAG Awards, e com certeza estará no BAFTA e no Oscar. Agora se de fato ela vai levar, aí já é outra história.
Adam Driver esteve muito bem como Maurizio Gucci, o grande ponto em questão do filme, o divisor de águas. Uma atuação muito segura, jogando na segurança, sem sair da sua zona de conforto, porém sem um grande destaque (como foi com a Gaga e o Leto), mas de fato conseguiu manter o padrão de atuação de todo o elenco. Jeremy Irons também entrega uma atuação bem fiel ao personagem, contribuiu muito bem. Assim como o mestre Al Pacino, que nos deu muitas risadas com seu personagem mais cômico. Em questões de atuações não tem muito o que falar de Al Pacino, sempre será aquele gênio que já estamos acostumados. Completando o elenco ainda tivemos a Salma Hayek como Giuseppina "Pina" Auriemma, com ótimas cenas com a Patrizia por sinal. Jack Huston como Domenico De Sole e Camille Cottin como Paola Franchi (uma personagem um tanto quanto estranha eu diria).
Agora os pontos negativos:
Eu diria que o roteiro do longa não é nada excepcional, nada muito complexo, de fato não é um ponto fora da curva. Eu diria que é um roteiro bem simples, até pelo fato da própria história da família Gucci ser encontrada facilmente na internet, e ainda por cima o wikipédia entrega todos os acontecimentos e exatamente o que acontece com o Maurizio Gucci e todos os seus envolvidos. Então em questões de roteiros não tinha muito o que fazer, realmente teriam que jogar na segurança, como de fato fizeram. Outro ponto que me incomodou foi os avanços no tempo do filme, eu achei muito rápido e de certa forma até sem coesão, com acontecimentos que saltavam de um lado para o outro de uma forma muito abrupta, com uns cortes de cenas mal feitos. Acho que isso se deu pelo fato do filme querer abranger toda a história da família Gucci, desde lá no início quando a Patrizia conhece o Maurizio, até os acontecimentos finais de cada um. Exatamente por isso que o roteiro acelerava muito em algumas passagens de tempo.
Casa Gucci foi completamente esnobado no Globo de Ouro, com apenas uma indicação para Melhor Atriz em Filme Drama para Lady Gaga. No Critics Choice Awards o longa aparece indicado nas categorias Melhor Atriz para Gaga e Melhor Ator Coadjuvante para Jared Leto, além de Melhor Figurino e Melhor Cabelo e Maquiagem. No SAG Awards o filme concorre em Melhor Ator Coadjuvante para Jared Leto, Melhor Atriz para Gaga e Melhor Elenco. No BAFTA saiu uma pré-lista de indicados e o filme aparece em várias categorias, inclusive nas principais (agora é esperar a lista de indicações definitivas). Agora a minha grande dúvida é no Oscar, em quais categorias o filme aparecerá? Será que ficará apenas com as categorias técnicas de figurino, cabelo e maquiagem? A Lady Gaga com certeza estará indicada à Melhor Atriz, mas e o Jared Leto? A Academia vai bancar a sua indicação? E Melhor Filme? Será que o Longa aparecerá entre os indicados na principal categoria da noite? Eu acredito que não.
Casa Gucci é um ótimo filme, muito leve, muito prazeroso, daqueles que nos diverte e prende a nossa atenção o tempo todo dentro da sala de cinema. De fato o novo trabalho do Ridley Scott tem sim seus probleminhas de roteiros, mas nos ganha pelas belíssimas qualidades técnicas e um elenco que entrega atuações afiadíssimas. Eu adorei o filme do início ao fim, me divertiu demais e me deixou completamente paralisado na cena final da Gaga no tribunal - quando ela profere a frase - 'You can call me Signora Gucci' - fechando com chave de ouro ao som da bela canção "Baby Can I Hold You" de "Luciano Pavarotti & Tracy Chapman" - simplesmente magnífico! [17/01/2022]
"Father, Son, and House of Gucci"
Ataque dos Cães
3.7 933Ataque dos Cães (The Power of the Dog)
Jane Campion (campeã do Oscar de Melhor Roteiro Original pelo "O Piano" de 1993) escreve e dirige o longa que é baseado no romance de mesmo nome de Thomas Savage (escritor americano falecido em 2003).
Campion nos traz uma obra enigmática e muito inteligente que usa como pano de fundo o cenário do faroeste, que necessariamente pode ser considerado um ambiente predominantemente masculino, para tocar em pontos como a intolerância, a rivalidade, a dualidade, o machismo, a homofobia, a intransigência e até o alcoolismo e a opressão. Campion não faz questão de retratar a sua obra de uma forma completamente aberta (onde tudo esteja bem explicado), ela usa de uma forma que tudo esteja nas entrelinhas, que necessariamente ocorra em subtextos com um misto de ríspido e delicado, agressivo e sensível, tenso e suave, o que nos deixa completamente imerso na trama.
O roteiro de Jane Campion é bem escrito, bem trabalhado, bem orquestrado, bem transportado para a tela, onde tudo funciona com autenticidade e coesão. Como a maneira em que é mostrada aquela certa rivalidade entre os dois irmãos, mas de uma forma leve e não completamente aflorada. A inveja também é destacada juntamente com a oposição, mas sempre de uma forma sutil. A descaracterização, a quebra de barreiras, a intolerância, a desconstrução da imagem, o confronto de ideias, tudo está nas entrelinhas do roteiro. Campion acerta exatamente nessa forma que o roteiro tem de lidar com cada ponto em que é trazido para a trama, onde nos prende pela sutileza, pela curiosidade, por despertar a nossa vontade de querer ir cada vez mais além.
Phil Burbank (Benedict Cumberbatch) é aquele típico personagem com pinta de 'caubói machão', um ser inatingível, intocável, superior, que fazia o que queria e falava o que queria. Um ser prepotente, invejoso, odioso, preconceituoso, intolerante, mas no fundo era vazio, amargurado, infeliz, que vivia de aparências e com um rótulo que no fundo não o representava verdadeiramente. Benedict Cumberbatch entrega uma atuação completamente primorosa, genial, forte, impactante, com uma grande entrega e uma performance magnífica. É realmente impressionante o quanto Benedict estava incorporado no personagem, pelo seus trejeitos, suas expressões faciais, seu linguajar chulo e pesado - sensacional! Benedict Cumberbatch estava indicado no Globo de Ouro na categoria Melhor Ator (perdendo para o Will Smith, por 'King Richard: Criando Campeãs'). Ainda está indicado no Critics, no SAG's e com certeza também estará no BAFTA e no Oscar.
Peter (Kodi Smit-McPhee) é aquele contraponto do Phil, é completamente o inverso do rótulo de 'caubói machão'. Peter é um jovem doce, sonhador, sensível, delicado, que ainda está se descobrindo. Outro acerto do roteiro da Jane Campion é exatamente o confronto/embate entre Phil e Peter, sendo muito necessário para o desenrolar de toda a trama e com um plot twist completamente avassalador, curioso, impressionante e magnífico. Kodi Smit-McPhee traz um personagem com uma grande carga dramática, que nos entrega toda essa dramaticidade em cena, chegando ao seu ápice em sua última cena, quando ele está sentado com o rolo de cordas feito pelo Phil no chão - perfeito! Kodi Smit-McPhee está no papel da sua vida em "Ataque dos Cães", sendo muito bem premiado com o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante. Ele também está indicado no Critics, no SAG's e também estará no BAFTA e no Oscar.
Kirsten Dunst completa a trinca de ouro de "Ataque dos Cães". Kirsten é Rose, uma viúva que inicialmente vive com seu filho adolescente Peter, mas com a sua mudança de vida e até de status social, ela passa a ser confrontada por Phil (seu cunhado), o que de certa forma lhe causa muito desconforto e uma entrega ao alcoolismo, principalmente com a aproximação entre Peter e Phil. Kirsten é mais uma desse elenco que entrega uma atuação em altíssimo nível, com uma personagem sofrida, amargurada, carregada emocionalmente, que também se sentia insegura e amedrontada, dando um completo show em cena, uma aula de atuação. Destaque para a cena do jantar em que ela trava sentada no piano - uma maravilha de atuação! Kirsten Dunst foi indicada à Melhor Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro, perdendo para Ariana DeBose, por "Amor, Sublime Amor". Está indicada no Critics, no SAG's, e assim como o Kodi e o Benedict, também estará no BAFTA e no Oscar.
Jesse Plemons é George Burbank, irmão do Phil e casado com a Rose! Na minha opinião, Jesse entrega uma atuação ok, nada surpreendente, mas é notável que ele está abaixo do trio mencionado acima.
A detalhista trilha sonora de Jonny Greenwood acompanha cada cena com muita harmonia, conseguindo nos aproximar de cada personagem e nos imergindo profundamente na trama (aquela típica trilha sonora que é o coração do filme). A fotografia de Ari Wegner é completamente sublime e genial. A própria Jane Campion faz um trabalho absurdo na direção do longa. Aqueles focos de câmeras mais abertos nos dava a exata dimensão de como era filmar em um cenário que se passava no ano de 1925, assim como os focos mais fechados dentro do estábulo e nos rostos dos personagens. A cenografia, edição, direção de arte, figurinos, tudo muito perfeito e feito com muito amor à arte cinematográfica.
O longa de Jane Campion beira a perfeição, porém: o ritmo inicial do filme é lento e demora um pouco para engrenar, não chega a ser arrastado, mas confesso que me incomodou um pouco. Isso não quer dizer que o filme seja cansativo, apenas não consegui me envolver logo de cara, talvez pelo tom mais pacato inicialmente. Isso não tira o brilho dessa maravilhosa obra, apenas um certo pontinho que eu não poderia deixar de mencionar.
O mais interessante do longa é a forma como ele te dá margens para algumas interpretações como:
Peter pode ser considerado uma vítima inicialmente, mas como o passar do tempo você o descobre como o verdadeiro vilão. Me pareceu uma espécie de comportamento psicopata, por sua forma de acariciar os animais e logo após matá-los. O que me leva a acreditar que ele possa ter matado o próprio pai para proteger a mãe, pelo fato do pai também ser um alcoólatra. Também acredito que o Peter premeditou a morte do Phil, até pela cena em que a Rose vê o Peter e o Phil partindo sozinhos para as montanhas, o que poderia a fazer acreditar que seu filho estivesse em perigo sozinho com o Phil, quando na verdade quem estava em perigo era o próprio Phil, porquê a Rose já sabia do que seu filho era capaz.
A própria Rose ora poderia ser a vítima, ora poderia também ser a vilã, por nutrir um certo ciúme para com o seu filho, ou até por saber do que seu filho era capaz (por ela saber que ele era um psicopata) e talvez pelo seu próprio desejo que seu filho matasse o Phil.
Phil por sua vez é o ser mais mascarado da história, que mais tem a esconder, que mais vive de aparências. Eu acredito que o Phil teve um certo romance com Bronco Henry, até pela forma amável em que ele sempre fala dele e pela a cena em que o Phil conta para o Peter que o Bronco Henry salvou a sua vida quando ambos dormiram juntos e pelados, ou até posso considerar que o Phil foi abusado. Na verdade o Phil era exatamente como o Peter quando era jovem, também tinha aquele jeito meio afeminado, o que de certa forma o fez criar aquela aparência de 'machão' e aquele jeito intolerante com o Peter, para esconder o seu verdadeiro segredo. Eu confirmei a minha tese exatamente na cena em que o Peter acha o local secreto do Phil, onde ele guarda as revistas de fisiculturismo.
Na verdade o Peter tem aquele jeito frágil, afeminado e inocente, enquanto o Phil aquele jeito de 'machão', carrancudo e intolerante, mas um é exatamente o inverso do outro. Peter é de fato o letal e o Phil a vítima final.
Com certeza o Peter matou o Phil no final quando o entregou o couro do boi contaminado, contaminando o corte na mão do Phil. Isso fica bem claro quando o Peter começa a fumar aquele cigarro na frente do Phil, como uma forma de comemorar a execução do seu objetivo. Objetivo esse em que a Rose também tem a sua parcela de culpa, por ajudar a sumir com todos os couros da fazenda (dando para os índios), uma forma que ela encontrou de ter o único couro do boi contaminado para que o Phil terminasse a corda do Peter. Está ai mais uma prova de que a Rose não era tão vítima quanto parecia.
No Globo de Ouro "Ataque dos Cães" teve indicações nas categorias Melhor Trilha Sonora (Jonny Greenwood), Melhor Roteiro (Jane Campion), Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante que já mencionei acima, além das estatuetas por Direção para Jane Campion, Melhor Ator Coadjuvante para Kodi Smit-McPhee e a principal categoria da noite - Melhor Filme Drama. No Critics Choice Awards o longa está indicado nas categorias Trilha, Edição, Fotografia, Roteiro Adaptado, Elenco, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante, Ator, Diretor e Melhor Filme. No SAG Awards o longa aparece indicado em três categorias: Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante e Ator.
"Ataque dos Cães" é um dos grandes favoritos para esta época de premiações, com certeza o longa aparecerá em várias categorias no BAFTA e no Oscar. No Oscar eu aposto em indicações para trilha sonora, fotografia, os três atores já mencionados, direção e com certeza a Melhor Filme. E digo mais: o longa de Jane Campion é um dos fortes candidatos para levar o maior prêmio da noite, mesmo sem ainda ter conferido os demais concorrentes. [15/01/2022]