O personagem de Di Caprio sempre indagado sobre seu passado marcado por dor e sofrimento nunca consegue dar uma resposta à altura das perguntas de seus inquisidores: "gosto do silêncio", disse o Glass - é porque só o silêncio parece suprir a perda de sua família. No final isso fica bem claro quando Glass perde o desejo de vingança e sua esposa aparece sem dizer uma palavra (ela que até então aparecia na mente de Glass, sob a forma da lembrança, dizendo coisas e sussurros), apenas acena e segue andando em frente, um gesto super simbólico que "liberou" o Glass de sua necessidade de vingança. Apenas o silêncio.
A intuição de Iñárritu é exatamente essa: é preciso articular o sofrimento em torno do silêncio da imagem - só ela recompõe toda a dor do enredo.
Eu diria que é um filme sobre a dor. Bem banal. E bonito.
Tive que assistir duas vezes pra comentar. Na primeira, ri mais. Na segunda, consegui curtir mais o filme na sua proposta de ser um drama mesmo - ri mais comedido, senti mais de perto a frieza do filme.
Gostei muito - principalmente por causa do pressuposto do filme: não deixo de ver as pessoas quando deixo de me ver; ao contrário, deixo de me ver quando deixo de ver as pessoas. É simples: "eu é um outro" (Rimbaud).
Já está ficando cansativa essa fórmula Marvel de fazer filmes: ameaça de destruição do planeta + questões existenciais dos (ou nos) heróis + piadinhas infames a cada 10 minutos.
Todo filme é a mesma coisa: a Terra será destruída; há um herói que pode salvá-la; porém, antes, ele precisa provar pra si mesmo que pode REALMENTE salvá-la; enquanto isso, faz umas piadinhas pra fazer o público gargalhar e, finalmente, salva o planeta.
"Juízo Final", do mestre Nelson Cavaquinho, não está à toa no filme: assim como diz Nelson, que "o amor será eterno novamente", o filme consegue reproduzir a exata medida do que a música pede: que o sol brilhe mais uma vez. Contudo, não comete a ingenuidade de não enfrentar a morte de perto - o filme tematiza a morte, exibindo pacientes em estado grave, jovens jurados de morte, o estado de exceção constante em que a periferia se encontra, etc... O que o personagem Cacau faz é admitir a necessidade de um "juízo final": Cacau encarna a guerra, o sangue nos olhos, o ódio de classe, a vontade insuperável de superar as contradições sociais, o desejo de justiça.
Um monte de gente saiu do cinema dizendo que o filme denegria a Bíblia, a religião judaico-cristã, etc... Mas não tem como: há a narrativa doutrinária/dogmática e há a narrativa artística. A primeira tenta explicar a realidade, nomeando-a, dando-lhe sentido através de um universo mítico ou mágico (falo sem denegrir: super justo enxergar o mundo assim!). A segunda nem pretende explicar a realidade - como diria Manoel de Barros, "melhor que nomear é aludir". O filme é mediano, mas o motivo não é porque foi religioso "de menos" ("porque não seguiu à risca o relato bíblico..."); pelo contrário, o filme têm suas próprias razões para ter sido fraco. Uma pena.
O filme não é sobre o que o ser humano é capaz de realizar cientificamente - não conheço Nolan pessoalmente, mas suspeito que ele não tenha "pretensões científicas". Seria sério demais para ser sublime - e para ser artístico. O filme é sobre um bobo relacionamento entre pai e filha. E só. E só deve ser isso. As divagações sobre o universo são secundárias, desprezíveis. Pai e filha. Apenas. É lindo.
Da enorme besteira que é cair nesse lenga-lenga de querer provar a existência de um Ser Absoluto - ou querer reprová-lo:
Não precisei de ler São Paulo, Santo Agostinho São Jerônimo, nem Tomás de Aquino, nem São Francisco de Assis – Para chegar a Deus. Formigas me mostraram Ele. (Manoel de Barros)
Filme horroroso. Se a obra de arte talvez seja aquilo que consegue tocar com mais violência no que é da ordem do "espantoso" e inacessível pela razão (o divino), este filme "peca" de todas as formas. Resta uma certeza: Deus (ou deus) está mais nas músicas de Nelson Cavaquinho e Roberto Carlos, nos poemas de Manoel de Barros e Adélia Prado, nos filmes de Terrence Malick e nos quadros de Rembrandt, do que nesse péssimo filme. E não se trata de não ter entendido o filme: eu o entendi muito bem - e por isso o detestei.
Não precisa ser "arendtiano" para gostar do filme. Fiquei sem palavras.
P.S.: o ator que interpreta Hans Jonas, Ulrich Noethen, é IGUALZINHO ao Giorgio Agamben, filósofo e discípulo de Heidegger e Arendt (e ator no "O Evangelho segundo São Mateus" de Pasolini).
Todos os filmes - e obras de arte - são intraduzíveis. Mas me parece que uns filmes são mais intraduzíveis que outros. É o caso de "José e Pilar". Não há o que se dizer, apenas respirar tranquilo e aliviado por saber que nós, humanos, pisamos no mesmo chão que o humano Saramago.
Bom filme - com as mesmas ressalvas de sempre quanto à exacerbada noção dos americanos de "salvadores do mundo". "Argo" é mais uma crítica ideológica ao Oriente que, enquanto obra artística é bom, mas enquanto ressonante político, nem tanto.
Louis C.K. - Live at the Beacon Theater
4.2 18Gênio.
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraVIVA DI CAPRIO
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraO filme é a crença na imagem (no poder da imagem) porque é a crença no silêncio. No silêncio das coisas. Sobretudo, no silêncio do sofrimento.
O personagem de Di Caprio sempre indagado sobre seu passado marcado por dor e sofrimento nunca consegue dar uma resposta à altura das perguntas de seus inquisidores: "gosto do silêncio", disse o Glass - é porque só o silêncio parece suprir a perda de sua família. No final isso fica bem claro quando Glass perde o desejo de vingança e sua esposa aparece sem dizer uma palavra (ela que até então aparecia na mente de Glass, sob a forma da lembrança, dizendo coisas e sussurros), apenas acena e segue andando em frente, um gesto super simbólico que "liberou" o Glass de sua necessidade de vingança. Apenas o silêncio.
A intuição de Iñárritu é exatamente essa: é preciso articular o sofrimento em torno do silêncio da imagem - só ela recompõe toda a dor do enredo.
Eu diria que é um filme sobre a dor. Bem banal. E bonito.
Rocky IV
3.6 443 Assista AgoraIronicamente, o filme-propaganda Rocky IV não teria sido possível sem as técnicas soviéticas de propaganda.
Cala a Boca Philip
3.3 49 Assista AgoraAos 10min aparece um poster na editora com "Zizek", bem grandão (e um poster de um livro seu, da VersoBooks)! Coisa linda!
Cinquenta Tons de Cinza
2.2 3,3K Assista AgoraO filme não serve nem pra dar tesão.
Entre Abelhas
3.4 832Tive que assistir duas vezes pra comentar. Na primeira, ri mais. Na segunda, consegui curtir mais o filme na sua proposta de ser um drama mesmo - ri mais comedido, senti mais de perto a frieza do filme.
Gostei muito - principalmente por causa do pressuposto do filme: não deixo de ver as pessoas quando deixo de me ver; ao contrário, deixo de me ver quando deixo de ver as pessoas. É simples: "eu é um outro" (Rimbaud).
Vingadores: Era de Ultron
3.7 3,0K Assista AgoraJá está ficando cansativa essa fórmula Marvel de fazer filmes: ameaça de destruição do planeta + questões existenciais dos (ou nos) heróis + piadinhas infames a cada 10 minutos.
Todo filme é a mesma coisa: a Terra será destruída; há um herói que pode salvá-la; porém, antes, ele precisa provar pra si mesmo que pode REALMENTE salvá-la; enquanto isso, faz umas piadinhas pra fazer o público gargalhar e, finalmente, salva o planeta.
Cansa. (Mas as piadas do Stark são muito boas!)
Proibido Proibir
3.6 146Filme muito bonito. Atuações meio gritantes (de medianas), mas os protagonistas foram incríveis (Caio Blat, sobretudo).
"Juízo Final", do mestre Nelson Cavaquinho, não está à toa no filme: assim como diz Nelson, que "o amor será eterno novamente", o filme consegue reproduzir a exata medida do que a música pede: que o sol brilhe mais uma vez. Contudo, não comete a ingenuidade de não enfrentar a morte de perto - o filme tematiza a morte, exibindo pacientes em estado grave, jovens jurados de morte, o estado de exceção constante em que a periferia se encontra, etc... O que o personagem Cacau faz é admitir a necessidade de um "juízo final": Cacau encarna a guerra, o sangue nos olhos, o ódio de classe, a vontade insuperável de superar as contradições sociais, o desejo de justiça.
Batismo de Sangue
4.0 225 Assista AgoraSão noites de silêncio
Vozes que clamam num espaço infinito
Um silêncio do homem e um silêncio de Deus.
(Frei Tito, dias antes de morrer)
O filme é um lindo agradecimento a Tito e Betto (e tantos outros) por combaterem o bom combate, acabarem a carreira, guardarem a fé.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraQue trilha maneiríssima! Jazzeira que só.
Êxodo: Deuses e Reis
3.1 1,2K Assista AgoraUm monte de gente saiu do cinema dizendo que o filme denegria a Bíblia, a religião judaico-cristã, etc... Mas não tem como: há a narrativa doutrinária/dogmática e há a narrativa artística. A primeira tenta explicar a realidade, nomeando-a, dando-lhe sentido através de um universo mítico ou mágico (falo sem denegrir: super justo enxergar o mundo assim!). A segunda nem pretende explicar a realidade - como diria Manoel de Barros, "melhor que nomear é aludir". O filme é mediano, mas o motivo não é porque foi religioso "de menos" ("porque não seguiu à risca o relato bíblico..."); pelo contrário, o filme têm suas próprias razões para ter sido fraco. Uma pena.
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraAs coisas mais bobas talvez sejam as mais sublimes.
O filme não é sobre o que o ser humano é capaz de realizar cientificamente - não conheço Nolan pessoalmente, mas suspeito que ele não tenha "pretensões científicas". Seria sério demais para ser sublime - e para ser artístico. O filme é sobre um bobo relacionamento entre pai e filha. E só. E só deve ser isso. As divagações sobre o universo são secundárias, desprezíveis. Pai e filha. Apenas. É lindo.
[spoiler][/spoiler]
Deus Não Está Morto
2.8 1,4K Assista AgoraDa enorme besteira que é cair nesse lenga-lenga de querer provar a existência de um Ser Absoluto - ou querer reprová-lo:
Não precisei de ler São Paulo, Santo Agostinho
São Jerônimo, nem Tomás de Aquino, nem São
Francisco de Assis –
Para chegar a Deus.
Formigas me mostraram Ele.
(Manoel de Barros)
Filme horroroso. Se a obra de arte talvez seja aquilo que consegue tocar com mais violência no que é da ordem do "espantoso" e inacessível pela razão (o divino), este filme "peca" de todas as formas. Resta uma certeza: Deus (ou deus) está mais nas músicas de Nelson Cavaquinho e Roberto Carlos, nos poemas de Manoel de Barros e Adélia Prado, nos filmes de Terrence Malick e nos quadros de Rembrandt, do que nesse péssimo filme. E não se trata de não ter entendido o filme: eu o entendi muito bem - e por isso o detestei.
Jards Macalé: Um Morcego na Porta Principal
4.0 6O Macao é um dos artistas mais injustiçados na música brasileira. Não obstante, é um dos mais in-justiceiros. Viva Macalé!
Phono 73 - O Canto de um Povo
4.8 12Caetano na época de Araçá Azul, hiperpsicodélico, louco. Que vontade de estar lá!
Hannah Arendt - Ideias Que Chocaram o Mundo
4.0 196Não precisa ser "arendtiano" para gostar do filme. Fiquei sem palavras.
P.S.: o ator que interpreta Hans Jonas, Ulrich Noethen, é IGUALZINHO ao Giorgio Agamben, filósofo e discípulo de Heidegger e Arendt (e ator no "O Evangelho segundo São Mateus" de Pasolini).
Corações Loucos
3.8 25Certamente, um dos melhores filmes que já vi.
Totalmente Inocentes
1.9 467Chamar o filme de ruim é um baita elogio.
José e Pilar
4.5 160 Assista AgoraTodos os filmes - e obras de arte - são intraduzíveis. Mas me parece que uns filmes são mais intraduzíveis que outros. É o caso de "José e Pilar". Não há o que se dizer, apenas respirar tranquilo e aliviado por saber que nós, humanos, pisamos no mesmo chão que o humano Saramago.
Memórias
4.0 168 Assista AgoraWoody Allen faz a gente se apaixonar por esse troço que chamamos de vida.
Therese D.
3.4 159A atuação de Audrey Tautou é absurda de tão incrível. Fria, crua, sempre nua, embora repleta de roupagens enclausuradoras.
Só senti falta de momentos mais poéticos no filme. Tudo me pareceu muito direto, certeiro. Um chá de Malick, talvez.
Contudo, um filmaço.
Zizek!
4.0 13Zizek. Foda. Apenas.
Argo
3.9 2,5KBom filme - com as mesmas ressalvas de sempre quanto à exacerbada noção dos americanos de "salvadores do mundo". "Argo" é mais uma crítica ideológica ao Oriente que, enquanto obra artística é bom, mas enquanto ressonante político, nem tanto.