A mensagem não precisa de um mensageiro. Um país não precisa de um mito. A sociedade não precisa de religiões ditando um estilo de vida, tampouco definindo quem está salvo e quem está condenado. As pessoas não precisam de digitais influencers nem de coaches lhes dizendo o que vestir, o que comprar ou como ser feliz. Toda revolução só depende de indivíduos inconformados e dispostos a enfrentar as dificuldades de lutar contra "o sistema" em busca de mudanças.
Em sua estreia como diretora, Sofia Coppola já demonstrava olhar apurado, sensibilidade e competência para abordar questões importantes de forma contundente e envolvente. Desvelando com precisão os bolores que se desenvolvem sob uma casca de aparente normalidade e perfeição, ela revela também a humanidade por trás daqueles rostinhos bonitos e olhares distantes. Outros grandes acertos do filme estão na direção das atrizes, que entregam interpretações muito boas, assim como a delicada fotografia e a impecável trilha sonora. As Virgens Suicidas representa um excelente marco inicial na carreira da cineasta.
Ganhador de cinco Oscar, três Globo de Ouro, entre diversos outros prêmios, Beleza Americana surpreendeu o público e a crítica com uma série de reflexões acerca do famoso “american way of life”. Confrontando a hipocrisia de um modelo de vida aparentemente feliz sustentado pela sociedade americana, o roteiro de Alan Ball põe em questão não apenas a felicidade, mas tópicos como obrigações, aparência, normalidade, sucesso, superficialidade, autoestima, inadequação, autoaceitação e autodescoberta.
Adaptado por Luiz Bolognesi a partir do livro autobiográfico de Austregésilo Carrano Bueno, o filme teve uma excelente recepção, garantindo nove prêmios no Festival de Brasília em 2000 e sete no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2002. Com uma linguagem visual crua, bem próxima ao estilo documental (vide o belo trabalho de fotografia e o uso da câmera na mão), Laís Bodanzky proporciona uma viagem sensorial amarga, que funciona como denúncia dos terrores praticados pelo sistema psiquiátrico brasileiro.
Adaptado do romance homônimo de Chico Buarque, Estorvo representou o Brasil na competição do 53º Festival de Cinema de Cannes. O enredo acompanha um homem que acorda com o som da campainha e, através do olho mágico da porta, se depara com um indivíduo de terno e gravata que o lembra alguém, apesar de não se recordar quem. A partir disso, tomado por uma sensação inexplicável de que sua vida está ameaçada, o protagonista foge sem destino, desconfiando de tudo e de todos.
Com ritmo acelerado, narrativa fragmentada, personagens estranhos e uma atmosfera de paranoia, o longa conduz o espectador em uma viagem experimental incômoda. Confundindo real e imaginário a partir de uma linguagem visual criativa, inovadora e urgente, Ruy Guerra propõe (assim como Chico Buarque em seu livro) uma reflexão sobre o mal-estar moral e político da sociedade contemporânea. Vale ressaltar o incrível trabalho do diretor de fotografia Marcelo Durst, que, inclusive, rendeu ao filme o prêmio de Melhor Fotografia no Festival de Gramado em 2000.
Ganhador de cinco Oscar, incluindo o de Melhor Filme, entre diversos outros prêmios (como o Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama e o BAFTA de Melhor Filme), Gladiador foi muito bem-sucedido em trazer de volta às telonas a grandiosidade do Império Romano. Mesmo com as incongruências históricas presentes no roteiro escrito a seis mãos (por David Franzoni, John Logan e William Nicholson) e da sua linearidade previsível, a direção de Ridley Scott consegue fazer da narrativa um entretenimento envolvente, apesar da sua longa duração (2h 35min). As incríveis coreografias das lutas, os impressionantes efeitos especiais e a acertada (e premiada com o Oscar) trilha sonora composta por Hans Zimmer são outros elementos que colaboraram para o sucesso do longa.
Vencedor da Palma de Ouro da 53ª edição do Festival de Cinema de Cannes (entre outras condecorações, como o Prêmio do Cinema Europeu de Melhor Filme e o Prêmio Goya de Melhor Filme Europeu), Dançando no Escuro é uma das obras-primas do polêmico Lars von Trier. A trama acontece no interior dos Estados Unidos durante os anos 60 e traz à cena Selma (incrivelmente interpretada pela Björk), uma imigrante checa que trabalha em uma fábrica, mas cujas paixões são a música e o teatro. Portadora de uma doença hereditária e degenerativa que a condena à perda gradativa da visão até o nível da cegueira, a protagonista se sacrifica para juntar dinheiro a fim de pagar uma cirurgia para evitar que Gene, seu único filho, sofra os males da mesma doença. O que lhe dá forças para resistir às agruras da vida são a fascinação pelos musicais hollywoodianos e o sonho de protagonizá-los. Esse sonho é nutrido pelos ensaios para um musical que realiza durante as noites em um grupo de teatro. Entre a fábrica, as aulas de teatro, a cegueira gradativa, o escapismo da realidade e a sordidez humana, acompanhamos Selma, seus sonhos e seus dilemas.
Björk entrega uma interpretação visceral e surpreendente, tendo, inclusive, recebido o Prêmio de interpretação feminina do Festival de Cannes pela sua atuação. Ela também é responsável pela composição da trilha sonora, a qual consegue transmitir, por meio do desconcerto e da estranheza, a carga emocional coerente com cada cena. Já a direção de von Trier busca transpor à tela a poesia singela e angustiante de uma vida marcada por perdas e abstinência, mas cujo brilho nos olhos nem mesmo a cegueira consegue roubar. Marco na carreira do cineasta dinamarquês, tanto pela sua repercussão quanto pela inovação de gênero – sendo o único musical (na verdade, antimusical) por ele produzido até então –, o longa apresenta de forma crua uma realidade áspera enfrentada com a força do sonho e da esperança.
Realizado há meio século (1970) pelo Grupo Dziga Vertov, O Vento do Leste é um filme atemporal. Trata-se de uma obra que busca "combater o conceito burguês da representação, arrancar os meios de produção das garras da ideologia dominante." Para tanto, propõe uma série de reflexões que vão além do cinema e da sua produção: falam abertamente sobre a necessidade da formação de um criticismo/senso crítico (muito mais do que uma mera crítica - no sentido de opinião, seja "especializada", seja despretensiosa).
Duas citações ao longo do filme se coadunam numa relação não necessariamente de causa-efeito, mas como uma explanação da temática debatida, voltando-se, neste caso, especificamente para a sétima arte (sobre o seu papel artístico-ideológico em contrapartida ao seu uso comercial, que trabalha em prol da disseminação e massificação de estereótipos e conceitos propostos pelos detentores da mídia). Ambas as citações podem, inclusive, ser resumidas na emblemática cena que traz Glauber Rocha em uma encruzilhada cantando uma música de Caetano Veloso (famosa na voz de Gal Costa): "É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte." O cineasta ali se encontra de modo a sinalizar que caminho leva a que tipo de cinema (ou que caminho é percorrido para se chegar a determinado tipo de cinema): de um lado, o cinema desconhecido, o cinema da aventura; de outro, o cinema perigoso, divino e maravilhoso.
A primeira delas discorre sobre os intuitos da grande mídia com suas produções:
"Hollywood se apresenta como cinema, maravilha, sonho. Um sonho que se deve pagar para assistir. Mas esse sonho também é uma arma nas mãos de Hollywood. Hollywood faz acreditar que esse sonho é real, mais real que a própria realidade. Hollywood fará de tudo para você acreditar nisso. Hollywood quer que você acredite que a imagem de um cavalo é um cavalo e que a imagem de um cavalo é mais real que um cavalo, o que não é. Para alcançar esse fim, todos os meios são aceitáveis: figurinos, maquiagem, travestismo, representação. Todos os anos, Hollywood condecora os melhores diretores do mundo. O jogo continua. A imagem imperialista da realidade se passa como se fosse a própria realidade."
A segunda dessas citações aponta a direção (como Glauber na encruzilhada) para os cineastas que pretendem fazer mais do que entretenimento, não fomentando os ideais dominantes, e sim realizar um trabalho em prol da luta contra o imperialismo e seus valores:
"Você sabe que não existe cinema fora do sistema de classes, não existe cinema fora da luta de classes. Mas o que significa isso? Significa que a potência material dominante da sociedade, a classe dominante, também cria as imagens dominantes de e para os seus filmes. São imagens de sua dominação. Você está em luta, mas em que consiste essa luta? Você faz um filme. Faz imagens e sons. O que deve ser feito? Você tem os meios à sua disposição. O que fazer para evitar a criação de imagens e sons que vêm da dominação da classe dominante? Sim, o que fazer? Ousar saber de onde partir. Onde você está?"
"They say it's the last song. They don't know us, you see. It's only the last song if we let it be." ("Dizem que é a última canção. Eles não nos conhecem. Só será a última canção se deixarmos que seja.")
Parando para pensar, é muito estranho percebermos que até 2017 não havíamos tido nenhum filme protagonizado por uma mulher nos dois grandes universos cinematográficos de super-heróis (DC e Marvel). Esse caminho foi inaugurado sob a direção de Patty Jenkins e protagonizado por Gal Gadot: o bem-sucedido Mulher-Maravilha, que despertou no público e na indústria do entretenimento a atenção para a importância da representatividade feminina nesse segmento do cinema.
Seguida de forma não tão eficaz pela Marvel (com seu insosso, superficial e decepcionante Capitã Marvel), a DC/Warner segue firme em sua proposta de solidificação do protagonismo feminino nas telonas. Para tanto, este ano será dedicado especificamente a figuras femininas do DCEU (Universo Estendido da DC). Além do retorno da poderosa amazona no seu novo filme solo (Mulher-Maravilha 1984), a DC/Warner já inicia o ano com tudo, metendo o pé na porta e disparando tiros de confete com o lançamento de Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa.
A narrativa meio alucinada, um tanto fragmentada, repleta de idas e vindas alude ao fluxo de pensamento da Arlequina, a forma como sua mente funciona enquanto conta a história. O ritmo acelerado mantém o espectador entretido e imerso na trama o tempo todo, conseguindo, ainda assim, introduzir as subtramas de forma clara e interessante, apesar de sucinta. A intensidade narrativa e a frequência quase contínua de acontecimentos não dão tempo para o filme amornar. Mesmo em momentos aparentemente tranquilos, como a hora do café da manhã da Arlequina com o seu amado pão com ovo ou quando ela e Cassandra Cain estão sentadas no sofá comendo sucrilhos e vendo TV, de repente irrompe um turbilhão de fatos ou nos sentimos tão próximos das personagens que o tédio passa longe.
A fotografia contrasta as cores, o brilho, a energia e a diversão em meio ao caos com a realidade dura, cinzenta, suja e opaca. Vislumbramos alguém (que acaba encontrando companhia) que procura escapar da realidade amarga e áspera, mas que vive sendo trazida de volta ao chão pela gravidade, que tenta impedi-la de flutuar entre confetes e pernas quebradas. As coreografias são muito bem planejadas e executadas, tornando as cenas de ação extremamente divertidas e violentas, com a exploração criativa de elementos (como uso de porretes, perseguição sobre patins, a presença de uma casa de horror, tiros de confetes) que expõem a violência sem pender para o gore.
Outro ponto que merece destaque são as cenas que traduzem a feminilidade em meio ao caos, como um soco nos peitos (que substitui o famoso chute no saco quando se trata de homens) e o empréstimo de um elástico para prender os cabelos em meio à luta. Isso é reflexo da visão feminina responsável pelo filme: a direção de Cathy Yan e o roteiro de Christina Hodson, que fazem um trabalho efetivo dentro da sua proposta ao pensarem formas criativas e divertidas de compor uma história sobre empoderamento feminino no universo de super-heróis. Mesmo as falhas, os furos no roteiro, a irregularidade narrativa e o decepcionante confronto com o Máscara Negra acabam sendo releváveis devido ao envolvimento do público com a trama e, especificamente, com a Arlequina, pois Margot Robbie multicolore as cenas e carrega o filme nas costas com seu carisma, apesar do espaço destinado às demais personagens.
Mais do que um filme sobre mulheres, e sim um filme feito por mulheres, Aves de Rapina consegue ser efetivo em sua proposta justamente devido ao olhar feminino que o norteia. O longa retrata o processo de conquista do espaço feminino como uma verdadeira luta contra a oposição masculina. Apresentando uma Gotham dominada por homens, faz surgir um grupo de personagens femininas que, apesar de seguirem percursos individuais, quando eles se cruzam, deixam de lado suas diferenças para batalharem pela causa que as une. Com isso, podemos perceber a metáfora do movimento feminista, que une mulheres plurais em busca de espaço, voz, direitos e até mesmo sobrevivência em uma sociedade, infelizmente, ainda dominada por pensamentos e conceitos machistas e patriarcais.
Com um título emblemático, que sintetiza e traduz a força do tema tratado, "Deus é Mulher e seu Nome é Petúnia" nos conduz a um processo de confrontação de valores e regras socioculturalmente constituídos. Por meio da figura de uma mulher desconforme a diversos padrões, os papéis sociais assumidos por homens e mulheres são questionados, gerando reflexões contundentes e objetivas.
Petúnia (Zorica Nusheva) tem 32 anos, ainda mora com os pais, está acima do peso, solteira e desempregada (na verdade, nunca conseguiu um emprego com sua formação em História). Frequentemente julgada por sua mãe e pelas pessoas ao redor, ela representa o fracasso em inúmeros aspectos. É uma figura deslocada, sem espaço em uma sociedade pautada por padrões. E o pior: sem chances de encontrar um lugar que não seja o da marginalização. Não bastasse ser mulher, o que já lhe assegura uma posição inferior em uma comunidade machista, ela é tachada de gorda, feia, encalhada e inapta para o mercado de trabalho. Ou seja, Petúnia é uma verdadeira outsider.
Essa figura destoante aos padrões põe em xeque a estrutura patriarcal e religiosa local ao participar de uma cerimônia restrita aos homens. Quando se joga às águas de um rio em disputa com os homens e pega a cruz jogada pelo padre em um ritual de comemoração pelo feriado da Epifania, a protagonista rompe a tradição litúrgica. Mais do que isso: ao fugir com o sacro objeto, ela suscita a intolerância e a revolta da população masculina e dos religiosos, sendo, inclusive, procurada e detida por policiais devido ao seu ato.
Longe de ser afeita à religião, é possível perceber que Petúnia age, inicialmente, movida pelo desejo de se agarrar a algo que possa mudar a sua sorte. Mas com o desenrolar da narrativa, ao ser constrangida, assediada, coagida e ameaça pelos policiais e até mesmo pelo padre, ela se atém cada vez mais ao objeto, em vez de dele abrir mão, o que todos os discursos lhe dizem para fazer. A cruz deixa de ser vista por ela como possibilidade sorte e prosperidade e se torna uma insígnia da sua postura subversiva e empoderada. Permanecer como sua dona passa a ser questão de honra e afirmação de um direito conquistado, visto que o obteve em disputa com tantos homens.
Inspirada por um caso verídico, a diretora e roteirista Teona Struga Mitevska apresenta uma narrativa que expõe como "ainda estamos na Idade das Trevas na Macedônia" (infelizmente, não apenas na Macedônia). Mais que isso, faz surgir, em meio ao contexto macedônico machista e conservador, uma mulher que contesta o regime e as suas normas patriarcais. De forma clara e crua, Mitevska revela a arbitrariedade dos ditames socioculturais a partir da imagem de uma mulher cuja própria existência é uma afronta aos padrões. Uma mulher que, em busca de espaço na sociedade, rompe não só as barreiras de gênero, mas também outros limiares que a segregavam.
Baseado no livro best-seller homônimo (escrito por Andrew Solomon), o longa dirigido por Rachel Dretzin é um documentário que exibe um pouco da história e da luta de algumas pessoas marcadas pela excepcionalidade. Porém não conhecemos apenas as pessoas cuja diversidade é apresentada, mas suas famílias, bem como as configurações familiares e sociais que permeiam esses núcleos. Adentramos os lares e nos deparamos com as relações públicas e privadas, com suas adversidades, com suas conquistas, com suas singularidades e (des)conformidades, todos os traços que os tornam humanos, como todos somos. Isso é justamente o que desmistifica o afastamento provocado pelo preconceito e pela imposição de padrões. Uma vez vistas na singeleza de sua humanidade, essas figuras revelam-se gente, e não anormais.
O filme põe em questão o fato de que tais diferenças não são fruto ou responsabilidade dos pais, que podem, muitas vezes, se culpar ou serem tomados por outrem como culpados. Em casos de deficiências congênitas, os genitores (especialmente as mães) podem se martirizar, julgando como fator determinante da deficiência algo que fizeram ou deixaram de fazer durante o período de gestação. Já quando o estigma é associado ao comportamento e até mesmo, de forma errônea, a uma escolha, como a sexualidade desviante do padrão heterossexual ou a prática de ações criminosas, tanto os próprios pais se culpam quanto são tidos pelos outros como os (ir)responsáveis. O julgamento que os indivíduos sofrem acaba sendo aplicado também aos pais, que passam a ser considerados como não exemplares, colocando-se em dúvida a educação que esses filhos receberam (ou não). A não conformação aos padrões, nesses casos, é encarada como resultado de uma educação falha. Todavia o documentário nos leva a perceber que esses traços identitários não devem ser considerados como frutos de falhas, mas vistos como aquilo que são: características que compõem a identidade singular desses indivíduos.
Além disso, questionam-se a patologização da anormalidade ("anormalidade" tida como aquilo que não é normal, ou seja, que foge à norma, aos padrões) e o consequente ímpeto de normalização (de adequar tudo e todos a regras) que toma conta do ser humano. O simples fato de algo não fazer parte de um padrão requer intervenção e adequação? Isso o torna uma doença que precisa ser curada? É o que indaga Andrew Solomon: "Como decidir o que devemos curar e o que devemos celebrar?", citando determinadas condições que, há tempos atrás, eram consideradas patologias que necessitavam de cura, mas, felizmente, hoje são enxergadas com mais naturalidade e até mesmo assumidas com orgulho por determinados grupos de pessoas.
Longe da Árvore propõe uma reflexão sobre identidade, família, sociedade e aceitação da diversidade. O documentário, por fim, configura-se como um estudo antropológico das diferenças físicas, mentais e sociais, mas, ao mesmo tempo, um exercício de humanidade e empatia.
Como um charlatão ególatra é capaz de produzir um filme com o dinheiro de otários manipulados e depois fazer com que esses mesmos otários manipulados o tornem campeão de bilheteria ao comprarem todos os ingressos de todas as sessões espalhadas pelo país e fiquem distribuindo-os desesperadamente no intuito de que as salas vazias sejam habitadas por algum indivíduo: parte 2.
A produção é sim muito boa. O suspense instaurado é bom apesar da previsibilidade em certos momentos devido à construção protagonística de determinados personagens. Só que é difícil de engolir o melodrama excessivo e a vitimização de riquinhos do bem que só queriam gastar sua grana num hotel de luxo num país exótico (tendo acesso a requintes com os quais a população de miseráveis que viviam para lhes servir jamais sonharia), porém de repente são surpreendidos por vilões que ameaçam destruir não apenas a sua viagem, mas suas vidinhas.
O famoso coitadismo norte-americano e a demonização da cultura alheia de forma "justificada" por se tratar de uma produção baseada em fatos.
Adeus à Linguagem
3.5 118 Assista Agora"Em breve, todo mundo vai precisar de um intérprete para entender as palavras que saem da sua própria boca."
O Poço
3.7 2,1K Assista AgoraA mensagem não precisa de um mensageiro.
Um país não precisa de um mito.
A sociedade não precisa de religiões ditando um estilo de vida, tampouco definindo quem está salvo e quem está condenado.
As pessoas não precisam de digitais influencers nem de coaches lhes dizendo o que vestir, o que comprar ou como ser feliz.
Toda revolução só depende de indivíduos inconformados e dispostos a enfrentar as dificuldades de lutar contra "o sistema" em busca de mudanças.
As Virgens Suicidas
3.8 1,4K Assista AgoraEm sua estreia como diretora, Sofia Coppola já demonstrava olhar apurado, sensibilidade e competência para abordar questões importantes de forma contundente e envolvente. Desvelando com precisão os bolores que se desenvolvem sob uma casca de aparente normalidade e perfeição, ela revela também a humanidade por trás daqueles rostinhos bonitos e olhares distantes. Outros grandes acertos do filme estão na direção das atrizes, que entregam interpretações muito boas, assim como a delicada fotografia e a impecável trilha sonora. As Virgens Suicidas representa um excelente marco inicial na carreira da cineasta.
Beleza Americana
4.1 2,9K Assista AgoraGanhador de cinco Oscar, três Globo de Ouro, entre diversos outros prêmios, Beleza Americana surpreendeu o público e a crítica com uma série de reflexões acerca do famoso “american way of life”. Confrontando a hipocrisia de um modelo de vida aparentemente feliz sustentado pela sociedade americana, o roteiro de Alan Ball põe em questão não apenas a felicidade, mas tópicos como obrigações, aparência, normalidade, sucesso, superficialidade, autoestima, inadequação, autoaceitação e autodescoberta.
Bicho de Sete Cabeças
4.0 1,1K Assista AgoraAdaptado por Luiz Bolognesi a partir do livro autobiográfico de Austregésilo Carrano Bueno, o filme teve uma excelente recepção, garantindo nove prêmios no Festival de Brasília em 2000 e sete no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2002. Com uma linguagem visual crua, bem próxima ao estilo documental (vide o belo trabalho de fotografia e o uso da câmera na mão), Laís Bodanzky proporciona uma viagem sensorial amarga, que funciona como denúncia dos terrores praticados pelo sistema psiquiátrico brasileiro.
Estorvo
2.9 31Adaptado do romance homônimo de Chico Buarque, Estorvo representou o Brasil na competição do 53º Festival de Cinema de Cannes. O enredo acompanha um homem que acorda com o som da campainha e, através do olho mágico da porta, se depara com um indivíduo de terno e gravata que o lembra alguém, apesar de não se recordar quem. A partir disso, tomado por uma sensação inexplicável de que sua vida está ameaçada, o protagonista foge sem destino, desconfiando de tudo e de todos.
Com ritmo acelerado, narrativa fragmentada, personagens estranhos e uma atmosfera de paranoia, o longa conduz o espectador em uma viagem experimental incômoda. Confundindo real e imaginário a partir de uma linguagem visual criativa, inovadora e urgente, Ruy Guerra propõe (assim como Chico Buarque em seu livro) uma reflexão sobre o mal-estar moral e político da sociedade contemporânea. Vale ressaltar o incrível trabalho do diretor de fotografia Marcelo Durst, que, inclusive, rendeu ao filme o prêmio de Melhor Fotografia no Festival de Gramado em 2000.
Gladiador
4.2 1,7K Assista AgoraGanhador de cinco Oscar, incluindo o de Melhor Filme, entre diversos outros prêmios (como o Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama e o BAFTA de Melhor Filme), Gladiador foi muito bem-sucedido em trazer de volta às telonas a grandiosidade do Império Romano. Mesmo com as incongruências históricas presentes no roteiro escrito a seis mãos (por David Franzoni, John Logan e William Nicholson) e da sua linearidade previsível, a direção de Ridley Scott consegue fazer da narrativa um entretenimento envolvente, apesar da sua longa duração (2h 35min). As incríveis coreografias das lutas, os impressionantes efeitos especiais e a acertada (e premiada com o Oscar) trilha sonora composta por Hans Zimmer são outros elementos que colaboraram para o sucesso do longa.
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista AgoraVencedor da Palma de Ouro da 53ª edição do Festival de Cinema de Cannes (entre outras condecorações, como o Prêmio do Cinema Europeu de Melhor Filme e o Prêmio Goya de Melhor Filme Europeu), Dançando no Escuro é uma das obras-primas do polêmico Lars von Trier. A trama acontece no interior dos Estados Unidos durante os anos 60 e traz à cena Selma (incrivelmente interpretada pela Björk), uma imigrante checa que trabalha em uma fábrica, mas cujas paixões são a música e o teatro. Portadora de uma doença hereditária e degenerativa que a condena à perda gradativa da visão até o nível da cegueira, a protagonista se sacrifica para juntar dinheiro a fim de pagar uma cirurgia para evitar que Gene, seu único filho, sofra os males da mesma doença. O que lhe dá forças para resistir às agruras da vida são a fascinação pelos musicais hollywoodianos e o sonho de protagonizá-los. Esse sonho é nutrido pelos ensaios para um musical que realiza durante as noites em um grupo de teatro. Entre a fábrica, as aulas de teatro, a cegueira gradativa, o escapismo da realidade e a sordidez humana, acompanhamos Selma, seus sonhos e seus dilemas.
Björk entrega uma interpretação visceral e surpreendente, tendo, inclusive, recebido o Prêmio de interpretação feminina do Festival de Cannes pela sua atuação. Ela também é responsável pela composição da trilha sonora, a qual consegue transmitir, por meio do desconcerto e da estranheza, a carga emocional coerente com cada cena. Já a direção de von Trier busca transpor à tela a poesia singela e angustiante de uma vida marcada por perdas e abstinência, mas cujo brilho nos olhos nem mesmo a cegueira consegue roubar. Marco na carreira do cineasta dinamarquês, tanto pela sua repercussão quanto pela inovação de gênero – sendo o único musical (na verdade, antimusical) por ele produzido até então –, o longa apresenta de forma crua uma realidade áspera enfrentada com a força do sonho e da esperança.
O Vento do Leste
4.1 13Realizado há meio século (1970) pelo Grupo Dziga Vertov, O Vento do Leste é um filme atemporal. Trata-se de uma obra que busca "combater o conceito burguês da representação, arrancar os meios de produção das garras da ideologia dominante." Para tanto, propõe uma série de reflexões que vão além do cinema e da sua produção: falam abertamente sobre a necessidade da formação de um criticismo/senso crítico (muito mais do que uma mera crítica - no sentido de opinião, seja "especializada", seja despretensiosa).
Duas citações ao longo do filme se coadunam numa relação não necessariamente de causa-efeito, mas como uma explanação da temática debatida, voltando-se, neste caso, especificamente para a sétima arte (sobre o seu papel artístico-ideológico em contrapartida ao seu uso comercial, que trabalha em prol da disseminação e massificação de estereótipos e conceitos propostos pelos detentores da mídia). Ambas as citações podem, inclusive, ser resumidas na emblemática cena que traz Glauber Rocha em uma encruzilhada cantando uma música de Caetano Veloso (famosa na voz de Gal Costa): "É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte." O cineasta ali se encontra de modo a sinalizar que caminho leva a que tipo de cinema (ou que caminho é percorrido para se chegar a determinado tipo de cinema): de um lado, o cinema desconhecido, o cinema da aventura; de outro, o cinema perigoso, divino e maravilhoso.
A primeira delas discorre sobre os intuitos da grande mídia com suas produções:
"Hollywood se apresenta como cinema, maravilha, sonho. Um sonho que se deve pagar para assistir. Mas esse sonho também é uma arma nas mãos de Hollywood.
Hollywood faz acreditar que esse sonho é real, mais real que a própria realidade. Hollywood fará de tudo para você acreditar nisso. Hollywood quer que você acredite que a imagem de um cavalo é um cavalo e que a imagem de um cavalo é mais real que um cavalo, o que não é. Para alcançar esse fim, todos os meios são aceitáveis: figurinos, maquiagem, travestismo, representação.
Todos os anos, Hollywood condecora os melhores diretores do mundo. O jogo continua. A imagem imperialista da realidade se passa como se fosse a própria realidade."
A segunda dessas citações aponta a direção (como Glauber na encruzilhada) para os cineastas que pretendem fazer mais do que entretenimento, não fomentando os ideais dominantes, e sim realizar um trabalho em prol da luta contra o imperialismo e seus valores:
"Você sabe que não existe cinema fora do sistema de classes, não existe cinema fora da luta de classes.
Mas o que significa isso? Significa que a potência material dominante da sociedade, a classe dominante, também cria as imagens dominantes de e para os seus filmes. São imagens de sua dominação.
Você está em luta, mas em que consiste essa luta? Você faz um filme. Faz imagens e sons. O que deve ser feito? Você tem os meios à sua disposição.
O que fazer para evitar a criação de imagens e sons que vêm da dominação da classe dominante? Sim, o que fazer? Ousar saber de onde partir. Onde você está?"
Gritos e Sussurros
4.3 472"É tudo uma teia de mentiras. Uma monumental teia de mentiras."
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista Agora"They say it's the last song. They don't know us, you see. It's only the last song if we let it be." ("Dizem que é a última canção. Eles não nos conhecem. Só será a última canção se deixarmos que seja.")
Raiva
3.2 14"Nas terras mortas onde não há pão, os pobres nascem pobres, os riscos nascem riscos; os pobres morrem pobres, os ricos morrem ricos."
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
3.4 1,4KParando para pensar, é muito estranho percebermos que até 2017 não havíamos tido nenhum filme protagonizado por uma mulher nos dois grandes universos cinematográficos de super-heróis (DC e Marvel). Esse caminho foi inaugurado sob a direção de Patty Jenkins e protagonizado por Gal Gadot: o bem-sucedido Mulher-Maravilha, que despertou no público e na indústria do entretenimento a atenção para a importância da representatividade feminina nesse segmento do cinema.
Seguida de forma não tão eficaz pela Marvel (com seu insosso, superficial e decepcionante Capitã Marvel), a DC/Warner segue firme em sua proposta de solidificação do protagonismo feminino nas telonas. Para tanto, este ano será dedicado especificamente a figuras femininas do DCEU (Universo Estendido da DC). Além do retorno da poderosa amazona no seu novo filme solo (Mulher-Maravilha 1984), a DC/Warner já inicia o ano com tudo, metendo o pé na porta e disparando tiros de confete com o lançamento de Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa.
A narrativa meio alucinada, um tanto fragmentada, repleta de idas e vindas alude ao fluxo de pensamento da Arlequina, a forma como sua mente funciona enquanto conta a história. O ritmo acelerado mantém o espectador entretido e imerso na trama o tempo todo, conseguindo, ainda assim, introduzir as subtramas de forma clara e interessante, apesar de sucinta. A intensidade narrativa e a frequência quase contínua de acontecimentos não dão tempo para o filme amornar. Mesmo em momentos aparentemente tranquilos, como a hora do café da manhã da Arlequina com o seu amado pão com ovo ou quando ela e Cassandra Cain estão sentadas no sofá comendo sucrilhos e vendo TV, de repente irrompe um turbilhão de fatos ou nos sentimos tão próximos das personagens que o tédio passa longe.
A fotografia contrasta as cores, o brilho, a energia e a diversão em meio ao caos com a realidade dura, cinzenta, suja e opaca. Vislumbramos alguém (que acaba encontrando companhia) que procura escapar da realidade amarga e áspera, mas que vive sendo trazida de volta ao chão pela gravidade, que tenta impedi-la de flutuar entre confetes e pernas quebradas. As coreografias são muito bem planejadas e executadas, tornando as cenas de ação extremamente divertidas e violentas, com a exploração criativa de elementos (como uso de porretes, perseguição sobre patins, a presença de uma casa de horror, tiros de confetes) que expõem a violência sem pender para o gore.
Outro ponto que merece destaque são as cenas que traduzem a feminilidade em meio ao caos, como um soco nos peitos (que substitui o famoso chute no saco quando se trata de homens) e o empréstimo de um elástico para prender os cabelos em meio à luta. Isso é reflexo da visão feminina responsável pelo filme: a direção de Cathy Yan e o roteiro de Christina Hodson, que fazem um trabalho efetivo dentro da sua proposta ao pensarem formas criativas e divertidas de compor uma história sobre empoderamento feminino no universo de super-heróis. Mesmo as falhas, os furos no roteiro, a irregularidade narrativa e o decepcionante confronto com o Máscara Negra acabam sendo releváveis devido ao envolvimento do público com a trama e, especificamente, com a Arlequina, pois Margot Robbie multicolore as cenas e carrega o filme nas costas com seu carisma, apesar do espaço destinado às demais personagens.
Mais do que um filme sobre mulheres, e sim um filme feito por mulheres, Aves de Rapina consegue ser efetivo em sua proposta justamente devido ao olhar feminino que o norteia. O longa retrata o processo de conquista do espaço feminino como uma verdadeira luta contra a oposição masculina. Apresentando uma Gotham dominada por homens, faz surgir um grupo de personagens femininas que, apesar de seguirem percursos individuais, quando eles se cruzam, deixam de lado suas diferenças para batalharem pela causa que as une. Com isso, podemos perceber a metáfora do movimento feminista, que une mulheres plurais em busca de espaço, voz, direitos e até mesmo sobrevivência em uma sociedade, infelizmente, ainda dominada por pensamentos e conceitos machistas e patriarcais.
Deus é Mulher, E Seu Nome é Petúnia
3.7 29Com um título emblemático, que sintetiza e traduz a força do tema tratado, "Deus é Mulher e seu Nome é Petúnia" nos conduz a um processo de confrontação de valores e regras socioculturalmente constituídos. Por meio da figura de uma mulher desconforme a diversos padrões, os papéis sociais assumidos por homens e mulheres são questionados, gerando reflexões contundentes e objetivas.
Petúnia (Zorica Nusheva) tem 32 anos, ainda mora com os pais, está acima do peso, solteira e desempregada (na verdade, nunca conseguiu um emprego com sua formação em História). Frequentemente julgada por sua mãe e pelas pessoas ao redor, ela representa o fracasso em inúmeros aspectos. É uma figura deslocada, sem espaço em uma sociedade pautada por padrões. E o pior: sem chances de encontrar um lugar que não seja o da marginalização. Não bastasse ser mulher, o que já lhe assegura uma posição inferior em uma comunidade machista, ela é tachada de gorda, feia, encalhada e inapta para o mercado de trabalho. Ou seja, Petúnia é uma verdadeira outsider.
Essa figura destoante aos padrões põe em xeque a estrutura patriarcal e religiosa local ao participar de uma cerimônia restrita aos homens. Quando se joga às águas de um rio em disputa com os homens e pega a cruz jogada pelo padre em um ritual de comemoração pelo feriado da Epifania, a protagonista rompe a tradição litúrgica. Mais do que isso: ao fugir com o sacro objeto, ela suscita a intolerância e a revolta da população masculina e dos religiosos, sendo, inclusive, procurada e detida por policiais devido ao seu ato.
Longe de ser afeita à religião, é possível perceber que Petúnia age, inicialmente, movida pelo desejo de se agarrar a algo que possa mudar a sua sorte. Mas com o desenrolar da narrativa, ao ser constrangida, assediada, coagida e ameaça pelos policiais e até mesmo pelo padre, ela se atém cada vez mais ao objeto, em vez de dele abrir mão, o que todos os discursos lhe dizem para fazer. A cruz deixa de ser vista por ela como possibilidade sorte e prosperidade e se torna uma insígnia da sua postura subversiva e empoderada. Permanecer como sua dona passa a ser questão de honra e afirmação de um direito conquistado, visto que o obteve em disputa com tantos homens.
Inspirada por um caso verídico, a diretora e roteirista Teona Struga Mitevska apresenta uma narrativa que expõe como "ainda estamos na Idade das Trevas na Macedônia" (infelizmente, não apenas na Macedônia). Mais que isso, faz surgir, em meio ao contexto macedônico machista e conservador, uma mulher que contesta o regime e as suas normas patriarcais. De forma clara e crua, Mitevska revela a arbitrariedade dos ditames socioculturais a partir da imagem de uma mulher cuja própria existência é uma afronta aos padrões. Uma mulher que, em busca de espaço na sociedade, rompe não só as barreiras de gênero, mas também outros limiares que a segregavam.
Longe da Árvore
4.3 15 Assista AgoraBaseado no livro best-seller homônimo (escrito por Andrew Solomon), o longa dirigido por Rachel Dretzin é um documentário que exibe um pouco da história e da luta de algumas pessoas marcadas pela excepcionalidade. Porém não conhecemos apenas as pessoas cuja diversidade é apresentada, mas suas famílias, bem como as configurações familiares e sociais que permeiam esses núcleos. Adentramos os lares e nos deparamos com as relações públicas e privadas, com suas adversidades, com suas conquistas, com suas singularidades e (des)conformidades, todos os traços que os tornam humanos, como todos somos. Isso é justamente o que desmistifica o afastamento provocado pelo preconceito e pela imposição de padrões. Uma vez vistas na singeleza de sua humanidade, essas figuras revelam-se gente, e não anormais.
O filme põe em questão o fato de que tais diferenças não são fruto ou responsabilidade dos pais, que podem, muitas vezes, se culpar ou serem tomados por outrem como culpados. Em casos de deficiências congênitas, os genitores (especialmente as mães) podem se martirizar, julgando como fator determinante da deficiência algo que fizeram ou deixaram de fazer durante o período de gestação. Já quando o estigma é associado ao comportamento e até mesmo, de forma errônea, a uma escolha, como a sexualidade desviante do padrão heterossexual ou a prática de ações criminosas, tanto os próprios pais se culpam quanto são tidos pelos outros como os (ir)responsáveis. O julgamento que os indivíduos sofrem acaba sendo aplicado também aos pais, que passam a ser considerados como não exemplares, colocando-se em dúvida a educação que esses filhos receberam (ou não). A não conformação aos padrões, nesses casos, é encarada como resultado de uma educação falha. Todavia o documentário nos leva a perceber que esses traços identitários não devem ser considerados como frutos de falhas, mas vistos como aquilo que são: características que compõem a identidade singular desses indivíduos.
Além disso, questionam-se a patologização da anormalidade ("anormalidade" tida como aquilo que não é normal, ou seja, que foge à norma, aos padrões) e o consequente ímpeto de normalização (de adequar tudo e todos a regras) que toma conta do ser humano. O simples fato de algo não fazer parte de um padrão requer intervenção e adequação? Isso o torna uma doença que precisa ser curada? É o que indaga Andrew Solomon: "Como decidir o que devemos curar e o que devemos celebrar?", citando determinadas condições que, há tempos atrás, eram consideradas patologias que necessitavam de cura, mas, felizmente, hoje são enxergadas com mais naturalidade e até mesmo assumidas com orgulho por determinados grupos de pessoas.
Longe da Árvore propõe uma reflexão sobre identidade, família, sociedade e aceitação da diversidade. O documentário, por fim, configura-se como um estudo antropológico das diferenças físicas, mentais e sociais, mas, ao mesmo tempo, um exercício de humanidade e empatia.
Rejeitados pelo Diabo
3.7 617 Assista Agora"Eu sou o demônio e estou aqui para fazer o trabalho do demônio."
Os 3 Infernais
2.7 143 Assista Agora"Olá, América. Sentiram minha falta?"
Nada a Perder 2: Não Se Pode Esconder a Verdade
1.7 63Como um charlatão ególatra é capaz de produzir um filme com o dinheiro de otários manipulados e depois fazer com que esses mesmos otários manipulados o tornem campeão de bilheteria ao comprarem todos os ingressos de todas as sessões espalhadas pelo país e fiquem distribuindo-os desesperadamente no intuito de que as salas vazias sejam habitadas por algum indivíduo: parte 2.
Bacurau
4.3 2,7K Assista AgoraBacurau é brasilidade, é luta, é sobrevivência, é resistência!
Bacurau é uma mostra de que a arte ainda (r)existe no Brasil, mesmo em tempos sombrios e de ausência de incentivo a esse tipo de produção.
O Rei Leão
3.8 1,6K Assista AgoraBem produzido, esteticamente belo, porém artificial e sem emoção.
Melhor manter a memória do desenho.
O Bar Luva Dourada
3.5 340"Tanto o riso quanto o vômito saem da mesma garganta."
Atentado ao Hotel Taj Mahal
4.0 254 Assista AgoraA produção é sim muito boa. O suspense instaurado é bom apesar da previsibilidade em certos momentos devido à construção protagonística de determinados personagens. Só que é difícil de engolir o melodrama excessivo e a vitimização de riquinhos do bem que só queriam gastar sua grana num hotel de luxo num país exótico (tendo acesso a requintes com os quais a população de miseráveis que viviam para lhes servir jamais sonharia), porém de repente são surpreendidos por vilões que ameaçam destruir não apenas a sua viagem, mas suas vidinhas.
O famoso coitadismo norte-americano e a demonização da cultura alheia de forma "justificada" por se tratar de uma produção baseada em fatos.
O Gênio e o Louco
3.8 102 Assista Agora"If love... then what?"
("Se amor... então o quê?")
O Mau Exemplo de Cameron Post
3.4 318 Assista Agora"Fazer as pessoas odiarem a si mesmas não é abuso emocional?"