Um desprezível desperdício de tempo, Anaconda 3 faz o longa anterior da série soar como uma obra-prima. Com um orçamento visivelmente limitado e personagens penosamente genéricos, o filme falha até mesmo em criar cenas de mortes criativas e conta com uma anaconda digital saída direto de um Playstation. E caso queira mais um motivo para evitar essa bomba - David Hasselhoff!
Com exceção de uma bem executada cena envolvendo uma queda de cachoeira, Anaconda 2 é decepcionantemente mais tépido e preguiçoso que o original, pecando ao não estabelecer uma atmosfera densa ou envolvente e abusando de efeitos especiais deploráveis em sua artificialidade digital. Apesar da quantidade de cobras gigantes envolvidas e um elenco numeroso (todos rostos desconhecidos), Anaconda 2 esquece de providenciar o mais importante - o elemento surpresa e a boa diversão “trash”, algo que o divertido primeiro filme fez com maestria e de forma muito mais visceral.
Water for Elephants é um bom filme – a fotografia é esplêndida, a ambientação convence, o roteiro é focado e prazeroso e a direção de Francis Lawrence competente e refinada; infelizmente, este é um projeto que jamais atinge seu potencial máximo devido a dois protagonistas sem o menor indício de química e que, conseqüentemente, falham em transmitir a intensidade pretendida por um romance de porte tão épico. Dois personagens roubam a cena – Rosie (a adorável elefanta do circo) e Christopher Walker como August, o bipolar e psicótico antagonista que, aliás, se revela um personagem infinitamente mais interessante e complexo que os mocinhos. Reese Witherspoon, usualmente uma presença vívida e intensa em seus filmes, aqui surge opaca e letárgica, transformando um personagem supostamente encantador e fascinante (mesmo que sem muita densidade) em uma boneca inanimada e de semblante lúgubre. Robert Pattinson, em seu primeiro grande papel após a saga Twilight, aparece levemente apático e não demonstra a energia necessária para carregar o filme nas costas; não que o ator seja incompetente ou de presença antipática (pelo contrário), é apenas que, para um papel tão emotivo, um ator dotado de mais carisma e ternura seria mais apropriado. Apesar dessa disparidade no aspecto romântico, Water for Elephants oferece muitos prazeres, o cotidiano das pessoas do circo é mostrado de forma bela e convidativa e, graças a uma impecável direção de arte, o filme envolve o espectador e encontra uma tônica adequada à sua proposta fílmica - esta recordativa de clássicos épicos da Golden Age de Hollywood -, se concluindo de forma satisfatoriamente tocante (em boa parte graças ao excelente Hal Holbrook como a versão idosa de Pattinson e uma eficiente montagem) e se validando como um escapismo competente e visualmente estimulante.
Ao final da década de 70, Audrey já havia se tornado uma presença rara em filmes, tendo abandonado a indústria Hollywoodiana para focar na família e desenvolver projetos filantrópicos; é uma pena, portanto, que a atriz tenha escolhido um filme tão patético para retornar (mesmo que brevemente) às telas. Terence Young, que já havia dirigido Hepburn no infinitamente superior Wait Until Dark, implorou para que a atriz protagonizasse esse desastre cinematográfico e, após muita insistência, teve seu desejo realizado. Assim nasceu o terrível Bloodline, um pseudo-thriller baseado no romance de Sidney Shelton de mesmo nome e que peca em absolutamente todos os aspectos possíveis, desde a edição desengonçada até o complicado (porém longe de complexo) roteiro. Audrey Hepburn, aqui já com 50 anos e adorável como sempre (vestida dos pés à cabeça de Givenchy), se esforça arduamente para tornar seu personagem interessante e para fazer algum sentido da bizarra narrativa, que, aliás, foi adaptada para a idade de Hepburn; não que isso importe muito, afinal, o roteiro possui buracos e discrepâncias aos montes e é abdicado de qualquer tensão ou inteligência; a idade dos personagens (ou mesmo quem eles são) é de fato a menor preocupação em um filme que mal parece saber do que ele mesmo se trata. A ridícula trama gira em torno de Elizabeth (Hepburn), que após o assassinato do pai (um famoso e bem sucedido empresário), se torna inesperadamente a herdeira da empresa, causando assim, o descontentamento de sócios que visavam tomar o poder dos negócios; a partir daí, Elizabeth começa a sofrer diversas tentativas de assassinato, sendo que, apenas a última delas (o clímax) desperta qualquer tipo de reação no espectador - Audrey Hepburn no escuro com um assassino, onde já vi isso antes? Ainda que ao primeiro terço do longa note-se um esforço para que a trama siga um rumo coerente, mais tarde, sub-tramas surgem sem o menor propósito e não tarda para que todos os incontáveis personagens e complicações exploradas até então soem como uma grande perda de tempo, sendo que, a esperada revelação final, acontece de forma absurdamente desinteressante e incongruente com o que foi apresentado até então. É difícil acreditar que Bloodline foi realizado por um diretor veterano – zooms deselegantes, cenas desconexas e trilha sonora risivelmente inadequada tomam conta de toda a projeção, tornando Bloodline um exercício em como não fazer um filme e uma experiência tediosa – devo dar destaque à hilariante cena em que uma Audrey Hepburn claramente confusa, perambula por um castelo enquanto flashbacks da juventude do pai surgem de forma completamente abstrusa e inoportuna. Devo constatar que no momento em que vi pornografia explícita e Audrey Hepburn em um mesmo filme, imediatamente questionei as intenções do mesmo e não pude deixar de qualificá-lo como uma desagradável bomba cinematográfica.
O projeto todo parece contaminado por uma letargia cujo efeito transcende o das péssimas atuações e não deixa escapar nem o próprio tubarão, aqui um boneco de massa pessimamente animado e protagonista do clímax mais risível da série. Com um pouco mais de energia, Jaws 4 poderia até ter se tornado um competente divertimento trash, mas à disposição de um roteiro tão inoportuno e cenas de ação tão insossas, nem como prazer culposo essa desnecessária continuação funciona.
Ao invés de recriar a proposta do original, Jaws 2 sabiamente aposta mais na ação e se valida como bom entretenimento, ainda que, naturalmente, não possua o impacto ou a intensidade incitante do primeiro.
Utilizando sabiamente como artifício de tensão uma das mais conhecidas trilhas sonoras de todos os tempos e apostando em um suspense cuja intensidade não depende de exageros típicos do gênero “monstros da natureza” para desenvolver uma crescente tensão, Jaws é uma experiência aterrorizante e minuciosamente orquestrada por Steven Spielberg, culminando em um memorável clímax ainda impressionante para os padrões cinematográficos atuais.
Ainda que Judi Dench e Maggie Smith formem uma dupla capaz de elevar qualquer filme a um patamar de louvação, em Ladies in Lavender elas encontram material digno de suas brilhantes nuances e criam personagens riquíssimos e tocantes. Este é um filme de desenrolar lento, cuja força reside em momentos sutis e é claro, nas performances magistrais das duas damas, contemplando temas como sexualidade, solidão e arrependimento de forma contida e clamando a vida e o desejo que pulsam em nós seres-humanos mesmo quando nosso corpo físico já se mostra desgastado. Destaque para a cena clímax envolvendo a belíssima música de Joshua Bell.
Indiscutivelmente menos eficaz que o primeiro apesar de exagerar nas proporções, roteiro tépido salvo por alguns bons momentos e enaltecido pela sempre cativante Elle Woods de Whiterspoon.
Insidious é um filme de terror genérico levemente acima da média, eficaz em partes mas ultimamente vazio em idéias, colapsando em um risível e inadequado clímax que aluna qualquer tensão construída até então. Filmado parcialmente em grande angular e utilizando-se de uma fotografia insaturada, o filme procura criar uma atmosfera de inconstância e desconforto e, ainda que sustos ocasionais possam divertir os menos exigentes, o longa se revela pouco ambicioso e depende de desgastados recursos fílmicos para provocar reações no espectador. Este é aquele tipo de filme no qual uma mãe, após notar marcas de sangue no lençol do filho com o formato de mãos demoníacas, se recusa a falar sobre o ocorrido com o marido ou a tomar qualquer tipo de providência, se limitando a sentar-se na calçada com o olhar perdido. Não que as atuações sejam ruins, afinal, o filme conta com competentes atores como Barbara Hershey e Patrick Wilson, é apenas que o roteiro os sabota com situações pouco inspiradas e diálogos sem o mínimo de personalidade.
Scream 4 pseudo-critica os clichês do gênero “slasher” mas imediatamente depois se enrola no mesmos de forma tediosa, tornando-se infinitamente hipócrita e, como se não satisfeito com tamanha tolice, ainda tenta ganhar relevância social ao abusar de infantis e constantes referências à internet e ao efeito da globalização na vida social moderna. Reunindo todo o elenco sobrevivente dos últimos três filmes e encaixando ainda uma imensa quantidade de novos personagens – estes extremamente caricaturais e desinteressantes -, Scream 4 aposta no excesso desde a irritante seqüência metalingüística que abre o longa e mal aproveita a possibilidade de tantas mortes, já que as seqüências de assassinato são – com algumas poucas exceções - porcamente recicladas de outros filmes do gênero e abdicadas de qualquer tensão. A auto-referenciação continua de Scream 4 – recurso que os roteiristas provavelmente acharam genial e inovador – é extremamente irritante e vazia e, ainda que o longa consiga provocar algumas risadas graças ao exagero das sangrentas mortes e do comportamento absurdo de seus personagens, ultimamente falha como comédia e terror, soando mais como um tremendo esforço de uma equipe para parecer “cool” e relevante. Evite Scream 4 e alugue novamente Scary Movie, pelo menos o último não tenta ser nada mais do que uma grande estupidez.
Bonnie & Clyde – com sua mistura caótica e genial de violência, romance e realismo – estabeleceu uma nova linguagem ao cinema americano e deixou audiências boquiabertas diante de sua ousadia e de seus – na época – inovadores recursos estéticos, estes com inspiração clara na Nouvelle Vague. O filme retrata a trajetória do famoso casal Bonnie Parker e Clyde Barrow, que, por motivos nada convencionais, se tornaram ícones americanos e objetos de fascínio, responsáveis por aterrorizar o país com inúmeros assaltos de banco e assassinatos durante a Grande Depressão. Talvez o maior motivo pelo qual o filme tenha causado tanto furor na época, seja pelo fato deste não condenar seus protagonistas ao mostrar a estória do casal com toda sua humanidade explícita (ainda que a violência gráfica e crua jamais glamourize suas ações), levando o espectador não só a se identificar com a dupla como também a torcer pela sua sobrevivência, apesar, é claro, da conduta obviamente egoísta e lunática dos mesmos. Contando com uma bela fotografia de Burnett Guffey, que investe em tons de terra e de sépia (talvez uma alusão à obsessão que o casal tinha em tirar fotos de si mesmos armados e em poses irônicas), o filme nos imerge em um mundo de secura, desilusão e descontentamento; quando Bonnie e Clyde enxergam na vida criminal uma escapatória de seus respectivos mundos falidos, nós compreendemos aquela decisão e, graças à direção afiada de Arthur Penn, somos envolvidos por sequências impecavelmente executadas que vão desde intensas perseguições na estrada até uma contida exploração da dinâmica dos protagonistas na cama; aliás, é admirável que um filme com tantas mudanças de tom não perca seu ritmo nem por um instante, ganhando complexidade, humor e intensidade em medidas minuciosamente dosadas. Parte do brilho de Bonnie & Clyde vem das afinadíssimas atuações; Warren Beatty joga seu jeito canastrão a seu favor e cria em Clyde Barrow um sujeito antipático e mesquinho, porém igualmente vulnerável e fascinante; a forma como o roteiro o lapida também merece destaque, se nas primeiras cenas Clyde surge como o típico “bad boy” conquistador, mais tarde ele é totalmente desconstruído e revela em sua dicotomia uma humanidade cativante. A bela Faye Dunaway dá uma atuação inesquecível; o filme se inicia com um close-up em seus lascivos lábios vermelhos e, em seguida, acompanhamos a jovem nua se retorcendo ociosamente em seu quarto; com tal descrição, somos expostos não só à natureza libidinosa de Bonnie como também à sua frustração interna e carência por excitação, o que a torna a isca perfeita para o espetáculo fatídico que a espera. A atuação mais impressionante do longa fica por conta de Estelle Parsons como Blanch Barrow (a única dos cinco indicadas ao Oscar do elenco a levar a estatueta), a histérica esposa do irmão de Clyde que, inesperadamente, junta-se ao grupo corrupto; em seu personagem está evidenciada toda a hipocrisia que o filme denuncia com brilhante malícia – enquanto em primeiro instante Blanche desaprova o comportamento ilícito dos protagonistas com gritos de repugnância, mais tarde ela é a primeira a questionar o porquê de não receber a mesma quantia de dinheiro roubado que os outros, afinal, ela também está envolvida. O filme acompanha os personagens principais sempre com a noção de que o inesperado os cerca e, com o desenrolar da trama, cria cenas e diálogos inesquecíveis, que vão desde a hilária cena na qual a dupla de corruptos ironicamente se fotografa abraçada com um policial amarrado até a clássica fala “we rob banks” (cujo impacto vem da naturalidade com a qual Beaty a expressa). Contando ainda com um intenso e chocante desfecho que certamente levou Tarantino à múltiplos orgasmos, Bonnie & Clyde é talvez o maior marco do cinema americano da década de 60 e uma obra-prima que ressona na mente muito além de seus 112 minutos de projeção.
Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull é um esforço desnecessário por parte de Spielberg, cujo apelo jamais transcende o da nostalgia; o filme corteja a tônica da série com eficiência mas peca por não entusiasmar, já que investe em uma trama absurda e até inadequada à proposta da trilogia que o antecede - Aliens em um filme de Indiana Jones? Algo aqui cheira errado. Harrison Ford, de volta no icônico papel-título, está adequado, a idade (agora avançada) do ator apenas contribui para um saudosismo por parte dos próprios espectadores; a adição de Shia LeBouf como o filho de Indie também é bem-vinda, o personagem demonstra personalidade o suficiente para comandar a trama ao mesmo tempo que dá espaço para o verdadeiro herói brilhar. As sequências de ação, usualmente grandiosas e excitantes nos filmes da série, aqui surgem tediosas; até mesmo a perseguição de jipes na floresta, uma cena que toma seu tempo com diversas tomadas e situações, falha ao não se preocupar em criar qualquer momentum e ao abusar de recursos digitais – aliás, é irônico pensar que os títulos anteriores apresentem efeitos especiais mais realistas e convincentes do que os vistos aqui (destaque para a artificialidade dos macaquinhos que acompanham LeBouf em uma risível cena envolvendo cipós). Talvez o maior triunfo de Skull, seja aquele que já se tornou marca de Spielberg, a atenção para a estória humana, ainda que esta esteja envolta por tiroteios, formigas assassinas e quedas colossais do topo de cataratas; a relação fraternal entre Indie e o filho Mutt é explorada com humor e autenticidade, enquanto a volta do personagem de Karen Allen apenas alimenta essa dinâmica e cria formidáveis cenas de interação familiar. Uma decepção no projeto é - surpreendentemente - Cate Blanchet; a atriz, cuja imponência e intensidade já lhe renderam um Oscar por interpretar Katherine Hepburn, surge aqui como uma vilã excessivamente caricata e abdicada de qualquer humor, resultando em um personagem raso e até pouco memorável considerando seu peso na trama e a grande atriz por trás dele. O doloroso terceiro ato do longa, que envolve aliens, espaçonaves e referências bíblicas tolas, soa quase anacrônico considerando o mundo icônico já estabelecido pela série e chega a irritar por tamanha excessividade. Caso a série continue a prosperar (e ela certamente tem apelo e condições para isso), é imprescindível que – a exemplo dos três primeiros capítulos - se sustente de um roteiro mais afiado e de ideias mais inspiradas que as apresentadas desmazeladamente no agradavelmente nostálgico mas decepcionante Kingdom of the Crystal Skull.
Kika é Almodóvar sem escrúpulos e declaradamente escrachado, aqui ele abusa de situações cômicas excessivas (e divertidíssimas) e conta com uma atuação magnífica da carismática Verónica Forqué. A afobada trama gira em torno de Kika (Forqué), uma maquiadora chamada à mansão de Nicolas – um escritor inglês renomado – para maquiar seu enteado recém-falecido Ramón; o calor sexual de Kika é tanto que o jovem volta à vida e inevitavelmente os dois inciam um relacionamento, e não tarda para que Kika também se envolva com o pai. Não obstante a tal emaranhado melodramático, a narrativa engloba ainda o suicídio da mãe de Ramón (mais tarde suspeita-se tratar de um assassinato), a relação incestuosa da empregada lésbica de Kika (a sempre ótima e caricaturesca Rossy de Palma) com o irmão estuprador e a obsessão fetichista da excêntrica e perversa psicóloga Andrea Caracortada com a desgraça alheia (fascinante interpretação de Victoria Abril em figurinos bizarros), obsessão hiperbolizada em seu sensacionalista programa de TV trash “Lo peor del dia” - este certamente rendendo os momentos mais hilários e inspirados do longa. Culminando em uma cena absurdamente cômica de estupro - na qual Almodóvar, como de praxe, critica a perversão e hipocrisia de seus personagens – Kika se torna um exercício em excesso, indiscutivelmente divertido mas que peca por nunca desenvolver relações autênticas e multifacetadas entre seus personagens, resultando em um desfecho dramático pouco envolvente e destoante em tom do restante do longa. Almodóvar adorna o filme com uma direção de arte intencionalmente “kitsch” (sendo o apartamento de Kika o ápice de tal escolha) e investe em uma fotografia insaturada e vívida que, adequadamente, reflete a alma da protagonista em toda sua efusividade e exuberância cafona. Kika não está entre os melhores trabalhos de Almodóvar e certamente se beneficiaria de uma trama mais centrada, ainda sim, contagia com seu humor malicioso e excelentes atuações, além de, é claro, contar com a típica ousadia perversa do diretor.
Carregado de homoerotismo e melodrama, La ley del deseo é um formidável exemplo da genialidade de Almodóvar na fase inicial de sua carreira. Aqui, o diretor explora temas recorrentes em seus trabalhos: homossexualidade, transgenerismo, religião e perversão; o foco é no diretor de filmes eróticos Pablo Quintero e seus muitos casos com homens mais novos, ele é movido pelo desejo e faz questão de que este seja o paradigma de suas relações, algo que torna o psicótico Antonio Benítez – um homem gay reprimido interpretado impecavelmente por um jovem Antonio Banderas - obcecado e dependente do afeto de Pablo. Ainda que repleto de cenas pesadas e gráficas, o longa apresenta uma tônica muito mais afetada do que pungente, investindo em humor negro e revelando uma sagaz ironia nas decisões mais absurdas e inconseqüentes de seus personagens. Ainda que La ley del deseo explore o universo masculino como centro, quem rouba a cena é Carmen Maura (musa de Almodóvar), sua performance como uma mulher transexual impetuosa, vibrante e insegura, ilumina o filme e o torna imediatamente memorável – a cena em que esta se joga em um banho de mangueira espontaneamente durante um passeio na rua está entre as melhores do filme. Repleto de cenas inspiradas e sempre explorando a dicotomia de seus personagens para denunciar perversão e hipocrisia, La ley del deseo é indispensável para fãs do cinema de Almodóvar.
Rio - terceiro trabalho de animação dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha - retrata a cidade-título em tônica extremamente saudosista e otimista, a cidade é ostentada em uma glória sem fim e ganha aspecto paradisíaco; para isso, conta com uma animação de tirar o fôlego que, desde a sedutora (e até tocante) abertura, imerge o espectador em um mundo de vivacidade, cor e música. Ainda que a aproximação do Rio de Janeiro e de sua cultura pelo longa seja um tanto pueril, esta intenção se justifica pela própria tonalidade leve que este aborda durante toda a projeção – ainda que seja inevitável criticar a unidimensionalidade de seus personagens e a forma previsível com a qual seus conflitos desgastados se desenrolam, é inegável o charme de toda a produção, que conta com personagens afáveis, engraçadinhos e belamente animados. Visualmente, Rio é um espetáculo digno de aplausos; constantes planos aéreos revelam não só uma incrível atenção para detalhes por parte da produção, como também o caráter de cartão postal que o filme passa a assimilar com tanto patriotismo estético, algo inculpável, já que cada seqüência se mostra extremamente bem realizada e acompanhada de uma fantástica trilha sonora evocativa de sons típicos do samba. Alguns números musicais são inseridos desajeitadamente durante a trama, estes – apesar de longe de desagradáveis – se mostram desnecessários e por vezes soam como um mero recurso preguiçoso para dar ritmo ao roteiro. Enquanto Rio frustra por não desenvolver idéias mais interessantes visto o esplendor visual da produção, também diverte pela própria leveza e por fazer de si mesmo um grande espetáculo turístico, algo evidenciado no grandioso desfile na Sapucaí que toma lugar no terceiro ato.
Viva Las Vegas é uma diversão datada, extremamente pueril e absolutamente irresistível. Elvis protagonizou diversos filmes ingênuos durante as décadas de 50 e 60, mas aqui, pela primeira vez, ele é colocado ao lado de uma co-estrela de mesmo calibre - a belíssima Ann-Margret, que não só alcança o rei do rock quando o assunto é presença de palco e apelo sexual como também o ofusca e faz do filme seu próprio espetáculo. A química entre Elvis e Ann-Margret é palpável, os dois tiveram uma relacionamento fora das telas bastante divulgado por tablóides na época, e aqui, se mostram de fato uma dupla explosiva, o roteiro os submete à divertidas seqüências viçosas - o casal anda de moto, simula um duelo faroeste e pratica “water skiing” ao som de muitas risadas; o destaque dessa interação faiscante, porém, vai para o dueto “The Lady Loves Me”, um jogo de amor e ódio irresistível devido à própria inocência e infantilidade da canção - Elvis insiste em ganhar a garota esnobando seu charme enquanto ela o dispensa com respostas afiadas e provocativas. Os números musicais, como de se esperar, são elétricos e tomam mais da metade do tempo de duração - Viva Las Vegas nunca se torna entediante, é uma experiência quase alucinatória onde cor, música e coreografia eclipsam a rasa trama e se tornam o próprio filme; o frenesi da hilariante coreografia de “What’d I Say”, Elvis cantando o clássico “C’mon Everybody” enquanto Ann-Margret o responde com rebolados e palmas ou a própria moça cantando “My Rival” aleatoriamente enquanto arruma a cozinha, fornecem à Viva Las Vegas um estoque de momentos clássicos que certamente imploram por replay logo após o término; ainda devo mencionar os números finais de ambas as estrelas, “Appreciation” (onde temos uma Ann glamourosa e provocativa) e é claro, o que envolve a canção tema performada com muito gosto por Elvis. O filme ainda se conclui com uma cena de corrida surpreendentemente bem orquestrada, na qual Elvis luta pelo primeiro lugar ao meio de carros deslizando em barrancos e contando com uma aflita Ann-Margret torcendo por sua vitória a bordo de um helicóptero. Escapismo puro e incontrito regado a muito talento, Viva Las Vegas é imperdível para aficionados pela cultura pop americana sessentista e para fãs dos grandes ícones Elvis e Ann-Margret.
Les Amants é um belo filme orquestrado por uma atuação magnífica e envolvente de Jeanne Moreau, aqui interpretando uma mulher da alta sociedade também chamada Jeanne - obcecada com moda, negligenciada pelo marido e aflita na busca de uma satisfação externa, esta dúbia e inconstante. Jeanne, infeliz em sua relação conjugal, passa todo fim de semana que pode em Paris, acompanhada de sua melhor amiga e sempre em busca de uma ousadia, algo que a liberte de sua prisão existencial; o filme explora a carência de Jeanne com sutileza e através de planos que se limitam a revelar o ócio insuportável da protagonista, cria densidade e aos poucos decifra a bela e frágil dama. O longa culmina em uma bela seqüência entre Jeanne e um inesperado amante, na qual através de planos longos e uma fotografia estourada, Malle cria uma atmosfera onírica – o casal mergulha um no outro como se escapando momentaneamente de qualquer aflição e se entregando à luxúria, ao erotismo. O que torna Les Amants um filme diferencial é como Malle evita julgar seus personagens com falsos moralismos ou desfechos estreitos, deixando que a protagonista se perca em sua própria impetuosidade e que carregue o filme junto. A ironia de Les Amants se dá pela noção de que seus personagens não se amam ou mesmo se enxergam; eles reprimem, eles traem, eles transam, mas sempre em um nível de superficialidade angustiante. Mesmo em seu momento de maior êxtase passional, Jeanne não ama de verdade, mas angustiada com sua vida rasa e burocrática, procura na aventura amorosa uma escapada, um devaneio, sendo que esta aventura, ultimamente, se revela uma esperança falsa e equivocada, já que nela não existe consistência, é uma estrada certamente sedutora, mas também sem caminho, noção evocada por Malle na melancólica seqüência final de forma simples e bela – acompanhada é claro, pela pungente música tema de Brahms.
Viva Maria! é uma mistura desassisada de gêneros que diverte pela própria excessividade, o filme passeia entre o slapstick, o western e o cabaret, sempre centrado no poder estelar das duas musas francesas Brigitte Bardot e Jeanne Moreau, que mais polares impossível, revelam uma dinâmica de amor-ódio que funciona peculiarmente bem. Bardot, eterna lolita e dona de longos cabelos dourados esvoaçantes, está mais bela do que nunca – aqui ela é Maria, a filha de um terrorista irlandês que após a morte do pai foge a bordo dos vagões de um circo viajante; é ali que ela conhece a outra Maria, interpretada pela mais sutil e densa mas igualmente estonteante Jeanne Moreau, a grande estrela do circo que coincidentemente acabara de perder a parceira de dança. É aproveitando tal oportunidade que as Marias se juntam e obviamente viram estrelas, o que resulta em excelentes sequências burlescas que exploram não só a sensualidade absurda das estrelas como também a irresistível química entre a dupla de forma cômica e satírica. Não obstante ao começo extravagante, o filme inclui uma trama absurda daí pra frente, as Marias se envolvem em uma revolução mexicana e passam a liderar um movimento anti-francês apostando em suas especialidades únicas e no próprio apelo físico, elas viram lendas e o povo grita – viva Maria! Com mais de duas horas de duração, o filme funciona tão bem porque nunca se leva a sério e é extremamente bem orquestrado, conseguindo a proeza de criticar a igreja e a ditadura sem se entregar ao chauvinismo; apesar de mudar de tônica com a mesma frequência em que as protagonistas mudam de figurino, Malle é um diretor talentosíssimo e sabe explorar o melhor de cada elaborada sequência, sempre enaltecendo suas musas e fazendo questão de explorar a comédia ou o drama de forma exacerbada, o que atribui um apelo kitsch irresistível ao longa. A áura “exploitative” é evidente desde o começo e é claro – extremamente bem vinda; o filme submete Bardot e Moreau a stripteases, a balançar em cipós, a atirar em uma enorme metralhadora e a alardear suas personas lendárias com muito gosto, é difícil reclamar de tanto espetáculo. Fotografia belíssima, trilha sonora marcante e cenários abertos grandiosos conferem a Viva Maria! um clima épico e apenas reforçam sua natureza exagerada e ostensiva. Repleto de gags inventivas, belas mulheres, humor excêntrico e vibração contínua – Viva Maria! é um verdadeiro show visual e um deleite para fãs de Moreau , Bardot e do screwball clássico.
Um desastre em todos os níveis possíveis - 9 Pounds é calculado, desonesto e convencido de que sua áura pessimista e melodramática justifica toda sua conduta ilógica.
Originalmente, Madame Sin seria um piloto para uma futura série de TV envolvendo as traquinagens da vilã-título, interpretada com muito gusto por Bette Davis; infelizmente, a série foi descartada e o piloto de uma hora e meia foi lançado como longa-metragem nos cinemas europeus e direto para cabo na América. Parodiando os velhos clichês James Bond e contando com uma trama extremamente rasa, Madame Sin é em certos aspectos uma decepção, se o título evoca possibilidades de um inesquecível clássico “campy”, o que se tem na verdade é um filme lentíssimo, dirigido de forma irregular e descuidada e que imperdoavelmente desperdiça a poderosa protagonista – com certeza o único motivo para qualquer interesse atual no filme. Davis faz festa com o material; maquiada com uma ostensiva sombra azul e fazendo questão de exaltar a voz nas poucas falas que possui, ela é certamente cativante como nunca, é uma pena que seu personagem seja tão pouco explorado, inclusive desapareçendo por boa parte da narrativa enquanto coisas pouco interessantes acontecem. O resto do elenco é competente e dá o melhor de si, mas assim como Davis, recebem material fraco e ficam a mercê da precariedade da produção – ainda que no papel o longa possa ter demonstrado algum potencial, a execução é extremamente pedestre e pouco empolgante. Madame Sin, tanto o filme quanto a protagonista, imploram a todo momento por um exagero e uma extravagância que jamais acontecem; quando se tem nada menos que Bette Davis disposta a tomar o castelo da rainha e a sequestrar submarinos militares, o mínimo que se pode esperar são algumas explosões e falas afiadas dignas da crueldade da diva.
Incontrito em sua própria dramaticidade exacerbada, Dark Victory é um prazer culposo de primeira classe, um melodrama suntuoso que conta com Bette Davis em seu auge como estrela de ouro - aqui ela mostra o porquê de ter se tornado uma das “leading ladies” mais imponentes e veneradas de Hollywood. Lançado em 1939 - ano de produções cinematográficas icônicas como Wizard of Oz e Gone With the Wind - Dark Victory certamente não carrega o mesmo impacto cultural das obras com as quais competiu em bilheteria, mas mesmo faltando em esplendor visual ou lírico, o filme compensa ao orquestrar seu pungente melodrama com convicção e ao ser guiado pela atuação mais do que carismática de Davis, que surge belíssima e assegurada de seus irresistíveis dotes estelares. O resto do elenco conta com Geraldine Fitzgerald como amiga e assistente de Davis, a atriz é um ótimo suporte à protagonista, surgindo como elemento de conforto e equilíbrio em meio a tanta efervescência dramática; Humprey Bogart, por sua vez, é desperdiçado em uma ponta pouco memorável ou relevante. Os diálogos são deliciosamente afiados, a riqueza ostensiva do drama nos compele a venerar seu propósito; este é um filme que nos anseia por reviravoltas e que ao invés de pena, nos motiva a admirar a sofredora protagonista - se existe algum conforto aqui, este vem da determinação e da coragem da personagem de Davis, mulher com letra maiúscula. É indispensável dizer que, se a definição de melodrama no cinema é motivo de encanto, muito se deve a Dark Victory, este é um excelente exemplo de sofrimento glamourizado, de Hollywood sendo Hollywood no melhor sentido da palavra – Dark Victory é chorar champagne e saborear cada gota.
Anaconda 3
1.8 240 Assista AgoraUm desprezível desperdício de tempo, Anaconda 3 faz o longa anterior da série soar como uma obra-prima. Com um orçamento visivelmente limitado e personagens penosamente genéricos, o filme falha até mesmo em criar cenas de mortes criativas e conta com uma anaconda digital saída direto de um Playstation. E caso queira mais um motivo para evitar essa bomba - David Hasselhoff!
Anaconda 2: A Caçada pela Orquídea Sangrenta
2.3 417 Assista AgoraCom exceção de uma bem executada cena envolvendo uma queda de cachoeira, Anaconda 2 é decepcionantemente mais tépido e preguiçoso que o original, pecando ao não estabelecer uma atmosfera densa ou envolvente e abusando de efeitos especiais deploráveis em sua artificialidade digital. Apesar da quantidade de cobras gigantes envolvidas e um elenco numeroso (todos rostos desconhecidos), Anaconda 2 esquece de providenciar o mais importante - o elemento surpresa e a boa diversão “trash”, algo que o divertido primeiro filme fez com maestria e de forma muito mais visceral.
Água para Elefantes
3.5 2,0K Assista AgoraWater for Elephants é um bom filme – a fotografia é esplêndida, a ambientação convence, o roteiro é focado e prazeroso e a direção de Francis Lawrence competente e refinada; infelizmente, este é um projeto que jamais atinge seu potencial máximo devido a dois protagonistas sem o menor indício de química e que, conseqüentemente, falham em transmitir a intensidade pretendida por um romance de porte tão épico. Dois personagens roubam a cena – Rosie (a adorável elefanta do circo) e Christopher Walker como August, o bipolar e psicótico antagonista que, aliás, se revela um personagem infinitamente mais interessante e complexo que os mocinhos. Reese Witherspoon, usualmente uma presença vívida e intensa em seus filmes, aqui surge opaca e letárgica, transformando um personagem supostamente encantador e fascinante (mesmo que sem muita densidade) em uma boneca inanimada e de semblante lúgubre. Robert Pattinson, em seu primeiro grande papel após a saga Twilight, aparece levemente apático e não demonstra a energia necessária para carregar o filme nas costas; não que o ator seja incompetente ou de presença antipática (pelo contrário), é apenas que, para um papel tão emotivo, um ator dotado de mais carisma e ternura seria mais apropriado. Apesar dessa disparidade no aspecto romântico, Water for Elephants oferece muitos prazeres, o cotidiano das pessoas do circo é mostrado de forma bela e convidativa e, graças a uma impecável direção de arte, o filme envolve o espectador e encontra uma tônica adequada à sua proposta fílmica - esta recordativa de clássicos épicos da Golden Age de Hollywood -, se concluindo de forma satisfatoriamente tocante (em boa parte graças ao excelente Hal Holbrook como a versão idosa de Pattinson e uma eficiente montagem) e se validando como um escapismo competente e visualmente estimulante.
A Herdeira
3.0 35Ao final da década de 70, Audrey já havia se tornado uma presença rara em filmes, tendo abandonado a indústria Hollywoodiana para focar na família e desenvolver projetos filantrópicos; é uma pena, portanto, que a atriz tenha escolhido um filme tão patético para retornar (mesmo que brevemente) às telas. Terence Young, que já havia dirigido Hepburn no infinitamente superior Wait Until Dark, implorou para que a atriz protagonizasse esse desastre cinematográfico e, após muita insistência, teve seu desejo realizado. Assim nasceu o terrível Bloodline, um pseudo-thriller baseado no romance de Sidney Shelton de mesmo nome e que peca em absolutamente todos os aspectos possíveis, desde a edição desengonçada até o complicado (porém longe de complexo) roteiro. Audrey Hepburn, aqui já com 50 anos e adorável como sempre (vestida dos pés à cabeça de Givenchy), se esforça arduamente para tornar seu personagem interessante e para fazer algum sentido da bizarra narrativa, que, aliás, foi adaptada para a idade de Hepburn; não que isso importe muito, afinal, o roteiro possui buracos e discrepâncias aos montes e é abdicado de qualquer tensão ou inteligência; a idade dos personagens (ou mesmo quem eles são) é de fato a menor preocupação em um filme que mal parece saber do que ele mesmo se trata. A ridícula trama gira em torno de Elizabeth (Hepburn), que após o assassinato do pai (um famoso e bem sucedido empresário), se torna inesperadamente a herdeira da empresa, causando assim, o descontentamento de sócios que visavam tomar o poder dos negócios; a partir daí, Elizabeth começa a sofrer diversas tentativas de assassinato, sendo que, apenas a última delas (o clímax) desperta qualquer tipo de reação no espectador - Audrey Hepburn no escuro com um assassino, onde já vi isso antes? Ainda que ao primeiro terço do longa note-se um esforço para que a trama siga um rumo coerente, mais tarde, sub-tramas surgem sem o menor propósito e não tarda para que todos os incontáveis personagens e complicações exploradas até então soem como uma grande perda de tempo, sendo que, a esperada revelação final, acontece de forma absurdamente desinteressante e incongruente com o que foi apresentado até então. É difícil acreditar que Bloodline foi realizado por um diretor veterano – zooms deselegantes, cenas desconexas e trilha sonora risivelmente inadequada tomam conta de toda a projeção, tornando Bloodline um exercício em como não fazer um filme e uma experiência tediosa – devo dar destaque à hilariante cena em que uma Audrey Hepburn claramente confusa, perambula por um castelo enquanto flashbacks da juventude do pai surgem de forma completamente abstrusa e inoportuna. Devo constatar que no momento em que vi pornografia explícita e Audrey Hepburn em um mesmo filme, imediatamente questionei as intenções do mesmo e não pude deixar de qualificá-lo como uma desagradável bomba cinematográfica.
Tubarão 4: A Vingança
2.1 133 Assista AgoraO projeto todo parece contaminado por uma letargia cujo efeito transcende o das péssimas atuações e não deixa escapar nem o próprio tubarão, aqui um boneco de massa pessimamente animado e protagonista do clímax mais risível da série. Com um pouco mais de energia, Jaws 4 poderia até ter se tornado um competente divertimento trash, mas à disposição de um roteiro tão inoportuno e cenas de ação tão insossas, nem como prazer culposo essa desnecessária continuação funciona.
Tubarão 3
2.3 152 Assista AgoraAbsurdamente exagerado e de extremo mau gosto, Jaws 3 é "trash" por excelência e se qualifica como o maior prazer culposo da série.
Tubarão 2
2.9 170 Assista AgoraAo invés de recriar a proposta do original, Jaws 2 sabiamente aposta mais na ação e se valida como bom entretenimento, ainda que, naturalmente, não possua o impacto ou a intensidade incitante do primeiro.
Tubarão
3.7 1,2K Assista AgoraUtilizando sabiamente como artifício de tensão uma das mais conhecidas trilhas sonoras de todos os tempos e apostando em um suspense cuja intensidade não depende de exageros típicos do gênero “monstros da natureza” para desenvolver uma crescente tensão, Jaws é uma experiência aterrorizante e minuciosamente orquestrada por Steven Spielberg, culminando em um memorável clímax ainda impressionante para os padrões cinematográficos atuais.
O Violinista que Veio do Mar
3.7 126Ainda que Judi Dench e Maggie Smith formem uma dupla capaz de elevar qualquer filme a um patamar de louvação, em Ladies in Lavender elas encontram material digno de suas brilhantes nuances e criam personagens riquíssimos e tocantes. Este é um filme de desenrolar lento, cuja força reside em momentos sutis e é claro, nas performances magistrais das duas damas, contemplando temas como sexualidade, solidão e arrependimento de forma contida e clamando a vida e o desejo que pulsam em nós seres-humanos mesmo quando nosso corpo físico já se mostra desgastado. Destaque para a cena clímax envolvendo a belíssima música de Joshua Bell.
Legalmente Loira 2
2.7 329 Assista AgoraIndiscutivelmente menos eficaz que o primeiro apesar de exagerar nas proporções, roteiro tépido salvo por alguns bons momentos e enaltecido pela sempre cativante Elle Woods de Whiterspoon.
Legalmente Loira
3.1 759 Assista AgoraClássico kitsch extremamente prazeroso, performance magistral de Witherspoon.
Sobrenatural
3.4 2,4K Assista AgoraInsidious é um filme de terror genérico levemente acima da média, eficaz em partes mas ultimamente vazio em idéias, colapsando em um risível e inadequado clímax que aluna qualquer tensão construída até então. Filmado parcialmente em grande angular e utilizando-se de uma fotografia insaturada, o filme procura criar uma atmosfera de inconstância e desconforto e, ainda que sustos ocasionais possam divertir os menos exigentes, o longa se revela pouco ambicioso e depende de desgastados recursos fílmicos para provocar reações no espectador. Este é aquele tipo de filme no qual uma mãe, após notar marcas de sangue no lençol do filho com o formato de mãos demoníacas, se recusa a falar sobre o ocorrido com o marido ou a tomar qualquer tipo de providência, se limitando a sentar-se na calçada com o olhar perdido. Não que as atuações sejam ruins, afinal, o filme conta com competentes atores como Barbara Hershey e Patrick Wilson, é apenas que o roteiro os sabota com situações pouco inspiradas e diálogos sem o mínimo de personalidade.
Pânico 4
3.2 2,7K Assista AgoraScream 4 pseudo-critica os clichês do gênero “slasher” mas imediatamente depois se enrola no mesmos de forma tediosa, tornando-se infinitamente hipócrita e, como se não satisfeito com tamanha tolice, ainda tenta ganhar relevância social ao abusar de infantis e constantes referências à internet e ao efeito da globalização na vida social moderna. Reunindo todo o elenco sobrevivente dos últimos três filmes e encaixando ainda uma imensa quantidade de novos personagens – estes extremamente caricaturais e desinteressantes -, Scream 4 aposta no excesso desde a irritante seqüência metalingüística que abre o longa e mal aproveita a possibilidade de tantas mortes, já que as seqüências de assassinato são – com algumas poucas exceções - porcamente recicladas de outros filmes do gênero e abdicadas de qualquer tensão. A auto-referenciação continua de Scream 4 – recurso que os roteiristas provavelmente acharam genial e inovador – é extremamente irritante e vazia e, ainda que o longa consiga provocar algumas risadas graças ao exagero das sangrentas mortes e do comportamento absurdo de seus personagens, ultimamente falha como comédia e terror, soando mais como um tremendo esforço de uma equipe para parecer “cool” e relevante. Evite Scream 4 e alugue novamente Scary Movie, pelo menos o último não tenta ser nada mais do que uma grande estupidez.
Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas
4.0 399 Assista AgoraBonnie & Clyde – com sua mistura caótica e genial de violência, romance e realismo – estabeleceu uma nova linguagem ao cinema americano e deixou audiências boquiabertas diante de sua ousadia e de seus – na época – inovadores recursos estéticos, estes com inspiração clara na Nouvelle Vague. O filme retrata a trajetória do famoso casal Bonnie Parker e Clyde Barrow, que, por motivos nada convencionais, se tornaram ícones americanos e objetos de fascínio, responsáveis por aterrorizar o país com inúmeros assaltos de banco e assassinatos durante a Grande Depressão. Talvez o maior motivo pelo qual o filme tenha causado tanto furor na época, seja pelo fato deste não condenar seus protagonistas ao mostrar a estória do casal com toda sua humanidade explícita (ainda que a violência gráfica e crua jamais glamourize suas ações), levando o espectador não só a se identificar com a dupla como também a torcer pela sua sobrevivência, apesar, é claro, da conduta obviamente egoísta e lunática dos mesmos. Contando com uma bela fotografia de Burnett Guffey, que investe em tons de terra e de sépia (talvez uma alusão à obsessão que o casal tinha em tirar fotos de si mesmos armados e em poses irônicas), o filme nos imerge em um mundo de secura, desilusão e descontentamento; quando Bonnie e Clyde enxergam na vida criminal uma escapatória de seus respectivos mundos falidos, nós compreendemos aquela decisão e, graças à direção afiada de Arthur Penn, somos envolvidos por sequências impecavelmente executadas que vão desde intensas perseguições na estrada até uma contida exploração da dinâmica dos protagonistas na cama; aliás, é admirável que um filme com tantas mudanças de tom não perca seu ritmo nem por um instante, ganhando complexidade, humor e intensidade em medidas minuciosamente dosadas. Parte do brilho de Bonnie & Clyde vem das afinadíssimas atuações; Warren Beatty joga seu jeito canastrão a seu favor e cria em Clyde Barrow um sujeito antipático e mesquinho, porém igualmente vulnerável e fascinante; a forma como o roteiro o lapida também merece destaque, se nas primeiras cenas Clyde surge como o típico “bad boy” conquistador, mais tarde ele é totalmente desconstruído e revela em sua dicotomia uma humanidade cativante. A bela Faye Dunaway dá uma atuação inesquecível; o filme se inicia com um close-up em seus lascivos lábios vermelhos e, em seguida, acompanhamos a jovem nua se retorcendo ociosamente em seu quarto; com tal descrição, somos expostos não só à natureza libidinosa de Bonnie como também à sua frustração interna e carência por excitação, o que a torna a isca perfeita para o espetáculo fatídico que a espera. A atuação mais impressionante do longa fica por conta de Estelle Parsons como Blanch Barrow (a única dos cinco indicadas ao Oscar do elenco a levar a estatueta), a histérica esposa do irmão de Clyde que, inesperadamente, junta-se ao grupo corrupto; em seu personagem está evidenciada toda a hipocrisia que o filme denuncia com brilhante malícia – enquanto em primeiro instante Blanche desaprova o comportamento ilícito dos protagonistas com gritos de repugnância, mais tarde ela é a primeira a questionar o porquê de não receber a mesma quantia de dinheiro roubado que os outros, afinal, ela também está envolvida. O filme acompanha os personagens principais sempre com a noção de que o inesperado os cerca e, com o desenrolar da trama, cria cenas e diálogos inesquecíveis, que vão desde a hilária cena na qual a dupla de corruptos ironicamente se fotografa abraçada com um policial amarrado até a clássica fala “we rob banks” (cujo impacto vem da naturalidade com a qual Beaty a expressa). Contando ainda com um intenso e chocante desfecho que certamente levou Tarantino à múltiplos orgasmos, Bonnie & Clyde é talvez o maior marco do cinema americano da década de 60 e uma obra-prima que ressona na mente muito além de seus 112 minutos de projeção.
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal
3.2 614 Assista AgoraIndiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull é um esforço desnecessário por parte de Spielberg, cujo apelo jamais transcende o da nostalgia; o filme corteja a tônica da série com eficiência mas peca por não entusiasmar, já que investe em uma trama absurda e até inadequada à proposta da trilogia que o antecede - Aliens em um filme de Indiana Jones? Algo aqui cheira errado. Harrison Ford, de volta no icônico papel-título, está adequado, a idade (agora avançada) do ator apenas contribui para um saudosismo por parte dos próprios espectadores; a adição de Shia LeBouf como o filho de Indie também é bem-vinda, o personagem demonstra personalidade o suficiente para comandar a trama ao mesmo tempo que dá espaço para o verdadeiro herói brilhar. As sequências de ação, usualmente grandiosas e excitantes nos filmes da série, aqui surgem tediosas; até mesmo a perseguição de jipes na floresta, uma cena que toma seu tempo com diversas tomadas e situações, falha ao não se preocupar em criar qualquer momentum e ao abusar de recursos digitais – aliás, é irônico pensar que os títulos anteriores apresentem efeitos especiais mais realistas e convincentes do que os vistos aqui (destaque para a artificialidade dos macaquinhos que acompanham LeBouf em uma risível cena envolvendo cipós). Talvez o maior triunfo de Skull, seja aquele que já se tornou marca de Spielberg, a atenção para a estória humana, ainda que esta esteja envolta por tiroteios, formigas assassinas e quedas colossais do topo de cataratas; a relação fraternal entre Indie e o filho Mutt é explorada com humor e autenticidade, enquanto a volta do personagem de Karen Allen apenas alimenta essa dinâmica e cria formidáveis cenas de interação familiar. Uma decepção no projeto é - surpreendentemente - Cate Blanchet; a atriz, cuja imponência e intensidade já lhe renderam um Oscar por interpretar Katherine Hepburn, surge aqui como uma vilã excessivamente caricata e abdicada de qualquer humor, resultando em um personagem raso e até pouco memorável considerando seu peso na trama e a grande atriz por trás dele. O doloroso terceiro ato do longa, que envolve aliens, espaçonaves e referências bíblicas tolas, soa quase anacrônico considerando o mundo icônico já estabelecido pela série e chega a irritar por tamanha excessividade. Caso a série continue a prosperar (e ela certamente tem apelo e condições para isso), é imprescindível que – a exemplo dos três primeiros capítulos - se sustente de um roteiro mais afiado e de ideias mais inspiradas que as apresentadas desmazeladamente no agradavelmente nostálgico mas decepcionante Kingdom of the Crystal Skull.
Kika
3.5 359 Assista AgoraKika é Almodóvar sem escrúpulos e declaradamente escrachado, aqui ele abusa de situações cômicas excessivas (e divertidíssimas) e conta com uma atuação magnífica da carismática Verónica Forqué. A afobada trama gira em torno de Kika (Forqué), uma maquiadora chamada à mansão de Nicolas – um escritor inglês renomado – para maquiar seu enteado recém-falecido Ramón; o calor sexual de Kika é tanto que o jovem volta à vida e inevitavelmente os dois inciam um relacionamento, e não tarda para que Kika também se envolva com o pai. Não obstante a tal emaranhado melodramático, a narrativa engloba ainda o suicídio da mãe de Ramón (mais tarde suspeita-se tratar de um assassinato), a relação incestuosa da empregada lésbica de Kika (a sempre ótima e caricaturesca Rossy de Palma) com o irmão estuprador e a obsessão fetichista da excêntrica e perversa psicóloga Andrea Caracortada com a desgraça alheia (fascinante interpretação de Victoria Abril em figurinos bizarros), obsessão hiperbolizada em seu sensacionalista programa de TV trash “Lo peor del dia” - este certamente rendendo os momentos mais hilários e inspirados do longa. Culminando em uma cena absurdamente cômica de estupro - na qual Almodóvar, como de praxe, critica a perversão e hipocrisia de seus personagens – Kika se torna um exercício em excesso, indiscutivelmente divertido mas que peca por nunca desenvolver relações autênticas e multifacetadas entre seus personagens, resultando em um desfecho dramático pouco envolvente e destoante em tom do restante do longa. Almodóvar adorna o filme com uma direção de arte intencionalmente “kitsch” (sendo o apartamento de Kika o ápice de tal escolha) e investe em uma fotografia insaturada e vívida que, adequadamente, reflete a alma da protagonista em toda sua efusividade e exuberância cafona. Kika não está entre os melhores trabalhos de Almodóvar e certamente se beneficiaria de uma trama mais centrada, ainda sim, contagia com seu humor malicioso e excelentes atuações, além de, é claro, contar com a típica ousadia perversa do diretor.
A Lei do Desejo
3.8 318 Assista AgoraCarregado de homoerotismo e melodrama, La ley del deseo é um formidável exemplo da genialidade de Almodóvar na fase inicial de sua carreira. Aqui, o diretor explora temas recorrentes em seus trabalhos: homossexualidade, transgenerismo, religião e perversão; o foco é no diretor de filmes eróticos Pablo Quintero e seus muitos casos com homens mais novos, ele é movido pelo desejo e faz questão de que este seja o paradigma de suas relações, algo que torna o psicótico Antonio Benítez – um homem gay reprimido interpretado impecavelmente por um jovem Antonio Banderas - obcecado e dependente do afeto de Pablo. Ainda que repleto de cenas pesadas e gráficas, o longa apresenta uma tônica muito mais afetada do que pungente, investindo em humor negro e revelando uma sagaz ironia nas decisões mais absurdas e inconseqüentes de seus personagens. Ainda que La ley del deseo explore o universo masculino como centro, quem rouba a cena é Carmen Maura (musa de Almodóvar), sua performance como uma mulher transexual impetuosa, vibrante e insegura, ilumina o filme e o torna imediatamente memorável – a cena em que esta se joga em um banho de mangueira espontaneamente durante um passeio na rua está entre as melhores do filme. Repleto de cenas inspiradas e sempre explorando a dicotomia de seus personagens para denunciar perversão e hipocrisia, La ley del deseo é indispensável para fãs do cinema de Almodóvar.
Rio
3.6 2,7K Assista AgoraRio - terceiro trabalho de animação dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha - retrata a cidade-título em tônica extremamente saudosista e otimista, a cidade é ostentada em uma glória sem fim e ganha aspecto paradisíaco; para isso, conta com uma animação de tirar o fôlego que, desde a sedutora (e até tocante) abertura, imerge o espectador em um mundo de vivacidade, cor e música. Ainda que a aproximação do Rio de Janeiro e de sua cultura pelo longa seja um tanto pueril, esta intenção se justifica pela própria tonalidade leve que este aborda durante toda a projeção – ainda que seja inevitável criticar a unidimensionalidade de seus personagens e a forma previsível com a qual seus conflitos desgastados se desenrolam, é inegável o charme de toda a produção, que conta com personagens afáveis, engraçadinhos e belamente animados. Visualmente, Rio é um espetáculo digno de aplausos; constantes planos aéreos revelam não só uma incrível atenção para detalhes por parte da produção, como também o caráter de cartão postal que o filme passa a assimilar com tanto patriotismo estético, algo inculpável, já que cada seqüência se mostra extremamente bem realizada e acompanhada de uma fantástica trilha sonora evocativa de sons típicos do samba. Alguns números musicais são inseridos desajeitadamente durante a trama, estes – apesar de longe de desagradáveis – se mostram desnecessários e por vezes soam como um mero recurso preguiçoso para dar ritmo ao roteiro. Enquanto Rio frustra por não desenvolver idéias mais interessantes visto o esplendor visual da produção, também diverte pela própria leveza e por fazer de si mesmo um grande espetáculo turístico, algo evidenciado no grandioso desfile na Sapucaí que toma lugar no terceiro ato.
Amor a Toda Velocidade
3.4 46 Assista AgoraViva Las Vegas é uma diversão datada, extremamente pueril e absolutamente irresistível. Elvis protagonizou diversos filmes ingênuos durante as décadas de 50 e 60, mas aqui, pela primeira vez, ele é colocado ao lado de uma co-estrela de mesmo calibre - a belíssima Ann-Margret, que não só alcança o rei do rock quando o assunto é presença de palco e apelo sexual como também o ofusca e faz do filme seu próprio espetáculo. A química entre Elvis e Ann-Margret é palpável, os dois tiveram uma relacionamento fora das telas bastante divulgado por tablóides na época, e aqui, se mostram de fato uma dupla explosiva, o roteiro os submete à divertidas seqüências viçosas - o casal anda de moto, simula um duelo faroeste e pratica “water skiing” ao som de muitas risadas; o destaque dessa interação faiscante, porém, vai para o dueto “The Lady Loves Me”, um jogo de amor e ódio irresistível devido à própria inocência e infantilidade da canção - Elvis insiste em ganhar a garota esnobando seu charme enquanto ela o dispensa com respostas afiadas e provocativas. Os números musicais, como de se esperar, são elétricos e tomam mais da metade do tempo de duração - Viva Las Vegas nunca se torna entediante, é uma experiência quase alucinatória onde cor, música e coreografia eclipsam a rasa trama e se tornam o próprio filme; o frenesi da hilariante coreografia de “What’d I Say”, Elvis cantando o clássico “C’mon Everybody” enquanto Ann-Margret o responde com rebolados e palmas ou a própria moça cantando “My Rival” aleatoriamente enquanto arruma a cozinha, fornecem à Viva Las Vegas um estoque de momentos clássicos que certamente imploram por replay logo após o término; ainda devo mencionar os números finais de ambas as estrelas, “Appreciation” (onde temos uma Ann glamourosa e provocativa) e é claro, o que envolve a canção tema performada com muito gosto por Elvis. O filme ainda se conclui com uma cena de corrida surpreendentemente bem orquestrada, na qual Elvis luta pelo primeiro lugar ao meio de carros deslizando em barrancos e contando com uma aflita Ann-Margret torcendo por sua vitória a bordo de um helicóptero. Escapismo puro e incontrito regado a muito talento, Viva Las Vegas é imperdível para aficionados pela cultura pop americana sessentista e para fãs dos grandes ícones Elvis e Ann-Margret.
Os Amantes
3.9 60Les Amants é um belo filme orquestrado por uma atuação magnífica e envolvente de Jeanne Moreau, aqui interpretando uma mulher da alta sociedade também chamada Jeanne - obcecada com moda, negligenciada pelo marido e aflita na busca de uma satisfação externa, esta dúbia e inconstante. Jeanne, infeliz em sua relação conjugal, passa todo fim de semana que pode em Paris, acompanhada de sua melhor amiga e sempre em busca de uma ousadia, algo que a liberte de sua prisão existencial; o filme explora a carência de Jeanne com sutileza e através de planos que se limitam a revelar o ócio insuportável da protagonista, cria densidade e aos poucos decifra a bela e frágil dama. O longa culmina em uma bela seqüência entre Jeanne e um inesperado amante, na qual através de planos longos e uma fotografia estourada, Malle cria uma atmosfera onírica – o casal mergulha um no outro como se escapando momentaneamente de qualquer aflição e se entregando à luxúria, ao erotismo. O que torna Les Amants um filme diferencial é como Malle evita julgar seus personagens com falsos moralismos ou desfechos estreitos, deixando que a protagonista se perca em sua própria impetuosidade e que carregue o filme junto. A ironia de Les Amants se dá pela noção de que seus personagens não se amam ou mesmo se enxergam; eles reprimem, eles traem, eles transam, mas sempre em um nível de superficialidade angustiante. Mesmo em seu momento de maior êxtase passional, Jeanne não ama de verdade, mas angustiada com sua vida rasa e burocrática, procura na aventura amorosa uma escapada, um devaneio, sendo que esta aventura, ultimamente, se revela uma esperança falsa e equivocada, já que nela não existe consistência, é uma estrada certamente sedutora, mas também sem caminho, noção evocada por Malle na melancólica seqüência final de forma simples e bela – acompanhada é claro, pela pungente música tema de Brahms.
Viva Maria!
3.5 42Viva Maria! é uma mistura desassisada de gêneros que diverte pela própria excessividade, o filme passeia entre o slapstick, o western e o cabaret, sempre centrado no poder estelar das duas musas francesas Brigitte Bardot e Jeanne Moreau, que mais polares impossível, revelam uma dinâmica de amor-ódio que funciona peculiarmente bem. Bardot, eterna lolita e dona de longos cabelos dourados esvoaçantes, está mais bela do que nunca – aqui ela é Maria, a filha de um terrorista irlandês que após a morte do pai foge a bordo dos vagões de um circo viajante; é ali que ela conhece a outra Maria, interpretada pela mais sutil e densa mas igualmente estonteante Jeanne Moreau, a grande estrela do circo que coincidentemente acabara de perder a parceira de dança. É aproveitando tal oportunidade que as Marias se juntam e obviamente viram estrelas, o que resulta em excelentes sequências burlescas que exploram não só a sensualidade absurda das estrelas como também a irresistível química entre a dupla de forma cômica e satírica. Não obstante ao começo extravagante, o filme inclui uma trama absurda daí pra frente, as Marias se envolvem em uma revolução mexicana e passam a liderar um movimento anti-francês apostando em suas especialidades únicas e no próprio apelo físico, elas viram lendas e o povo grita – viva Maria! Com mais de duas horas de duração, o filme funciona tão bem porque nunca se leva a sério e é extremamente bem orquestrado, conseguindo a proeza de criticar a igreja e a ditadura sem se entregar ao chauvinismo; apesar de mudar de tônica com a mesma frequência em que as protagonistas mudam de figurino, Malle é um diretor talentosíssimo e sabe explorar o melhor de cada elaborada sequência, sempre enaltecendo suas musas e fazendo questão de explorar a comédia ou o drama de forma exacerbada, o que atribui um apelo kitsch irresistível ao longa. A áura “exploitative” é evidente desde o começo e é claro – extremamente bem vinda; o filme submete Bardot e Moreau a stripteases, a balançar em cipós, a atirar em uma enorme metralhadora e a alardear suas personas lendárias com muito gosto, é difícil reclamar de tanto espetáculo. Fotografia belíssima, trilha sonora marcante e cenários abertos grandiosos conferem a Viva Maria! um clima épico e apenas reforçam sua natureza exagerada e ostensiva. Repleto de gags inventivas, belas mulheres, humor excêntrico e vibração contínua – Viva Maria! é um verdadeiro show visual e um deleite para fãs de Moreau , Bardot e do screwball clássico.
Sete Vidas
4.0 1,8K Assista AgoraUm desastre em todos os níveis possíveis - 9 Pounds é calculado, desonesto e convencido de que sua áura pessimista e melodramática justifica toda sua conduta ilógica.
Madame Sinistra
3.0 5Originalmente, Madame Sin seria um piloto para uma futura série de TV envolvendo as traquinagens da vilã-título, interpretada com muito gusto por Bette Davis; infelizmente, a série foi descartada e o piloto de uma hora e meia foi lançado como longa-metragem nos cinemas europeus e direto para cabo na América. Parodiando os velhos clichês James Bond e contando com uma trama extremamente rasa, Madame Sin é em certos aspectos uma decepção, se o título evoca possibilidades de um inesquecível clássico “campy”, o que se tem na verdade é um filme lentíssimo, dirigido de forma irregular e descuidada e que imperdoavelmente desperdiça a poderosa protagonista – com certeza o único motivo para qualquer interesse atual no filme. Davis faz festa com o material; maquiada com uma ostensiva sombra azul e fazendo questão de exaltar a voz nas poucas falas que possui, ela é certamente cativante como nunca, é uma pena que seu personagem seja tão pouco explorado, inclusive desapareçendo por boa parte da narrativa enquanto coisas pouco interessantes acontecem. O resto do elenco é competente e dá o melhor de si, mas assim como Davis, recebem material fraco e ficam a mercê da precariedade da produção – ainda que no papel o longa possa ter demonstrado algum potencial, a execução é extremamente pedestre e pouco empolgante. Madame Sin, tanto o filme quanto a protagonista, imploram a todo momento por um exagero e uma extravagância que jamais acontecem; quando se tem nada menos que Bette Davis disposta a tomar o castelo da rainha e a sequestrar submarinos militares, o mínimo que se pode esperar são algumas explosões e falas afiadas dignas da crueldade da diva.
Vitória Amarga
4.1 66 Assista AgoraIncontrito em sua própria dramaticidade exacerbada, Dark Victory é um prazer culposo de primeira classe, um melodrama suntuoso que conta com Bette Davis em seu auge como estrela de ouro - aqui ela mostra o porquê de ter se tornado uma das “leading ladies” mais imponentes e veneradas de Hollywood. Lançado em 1939 - ano de produções cinematográficas icônicas como Wizard of Oz e Gone With the Wind - Dark Victory certamente não carrega o mesmo impacto cultural das obras com as quais competiu em bilheteria, mas mesmo faltando em esplendor visual ou lírico, o filme compensa ao orquestrar seu pungente melodrama com convicção e ao ser guiado pela atuação mais do que carismática de Davis, que surge belíssima e assegurada de seus irresistíveis dotes estelares. O resto do elenco conta com Geraldine Fitzgerald como amiga e assistente de Davis, a atriz é um ótimo suporte à protagonista, surgindo como elemento de conforto e equilíbrio em meio a tanta efervescência dramática; Humprey Bogart, por sua vez, é desperdiçado em uma ponta pouco memorável ou relevante. Os diálogos são deliciosamente afiados, a riqueza ostensiva do drama nos compele a venerar seu propósito; este é um filme que nos anseia por reviravoltas e que ao invés de pena, nos motiva a admirar a sofredora protagonista - se existe algum conforto aqui, este vem da determinação e da coragem da personagem de Davis, mulher com letra maiúscula. É indispensável dizer que, se a definição de melodrama no cinema é motivo de encanto, muito se deve a Dark Victory, este é um excelente exemplo de sofrimento glamourizado, de Hollywood sendo Hollywood no melhor sentido da palavra – Dark Victory é chorar champagne e saborear cada gota.