O cenário em que o filme se passa é promissor e Jamie Lee Curtis é, como de costume, uma protagonista eficiente, no entanto, "Terror Train" decepciona. O desenrolar da trama é repleto de cenas desnecessárias (em especial aquelas envolvendo o mágico David Copperfield) e a interação entre os muitos personagens insossos nada revelam sobre eles (o diálogo se resume a piadas sobre sexo) e parecem apenas comprometer o ritmo do longa.
Salvo a cena clímax (bem-feita e tensa), o resto do filme (incluindo os muitos assassinatos) não cativa e até mesmo o trem, enquanto cenário potencialmente interessante, não é tão bem explorado quanto deveria. Outro aspecto problemático é a fotografia demasiada escura em certos momentos, impossibilitando que acompanhemos o que ocorre.
Apesar de algumas surpresas interessantes, este é um "slasher" mediano que talvez funcionaria melhor como um curta, já que apenas o terceiro ato entretém.
"Someone's Watching Me!" é um thriller inspirado em Hitchock extremamente eficiente. A direção de Carpenter é firme e usufrui de pequenos detalhes para paulatinamente aumentar a tensão. Feito para a TV, o filme aproveita ao máximo seus cenários limitados e os enquadramentos são frequentemente inventivos. Duas cenas em particular se destacam pela maestria com a qual são conduzidas: uma envolvendo uma tampa de esgoto e o clímax.
Um dos motivos que permite o envolvimento do espectador com a trama é a apresentação cuidadosa de sua protagonista - conhecemos sua personalidade excêntrica, seus amigos, seu novo relacionamento, seu emprego em uma emissora de TV e passamos a nos importar com seu destino. A performance de Lauren Hutton é carismática e apaixonante, apesar de que, devo confessar, a atriz peca um pouco no terceiro ato, se mostrando incapaz de expressar o pânico exigido pela personagem em determinados momentos.
Esta produção feita para a TV se inspira em "Duel" de Steven Spielberg para narrar a estória de uma dona de casa perseguida por um assassino em alta estrada. A trama é mínima e linear - se passando aproximadamente na duração de um dia. Apesar de não ser um filme particularmente memorável, há boas cenas de suspense, em particular no segundo ato do filme, que justifica seu título. Conta com uma boa performance estridente de Valerie Harper, que confere ao personagem uma fragilidade essencial para que temamos por sua vida.
"The Wicked Lady" é um filme peculiar. Em determinados momentos o longa sugere um tom satírico - os personagens são caricatos e unidimensionais e os diálogos, ocasionalmente, irônicos e cortantes. No entanto, o longa insiste em um empuxo ao drama que jamais convence e parece abandonar por longos períodos seu aspecto irreverente e se concentrar no desenrolar óbvio das relações pedantes entre os personagens, incapazes de despertar qualquer investimento emocional por parte do espectador.
A lendária Faye Dunaway exibe alguns de seus trejeitos afetados e divertidos, mas curiosamente nunca se permite degringolar e atingir os níveis delirantes de sua performance em "Mommie Dearest". Seu figurino estrambólico e a produção de uma maneira geral são altamente elaborados e, inclusive, fiquei perplexo imaginando os gastos mirabolantes em função de um roteiro tão tolo e sem propósito.
"A Favorita" dá continuidade ao estilo mórbido e cáustico do diretor Yorgos Lanthimos, explorando a dinâmica de poder e afeto entre três mulheres da corte inglesa do século XVIII. Após uma introdução incerta e excessivamente caricata, o filme nos envolve e explora de maneira interessante o jogo de sedução e a rivalidade feminina entre as personagens principais, rodeadas de homens mambembes (completamente alheios aos seus ardis) e muito mais investidas nas guerras íntimas do que naquela ocorrendo além dos portões.
Olivia Colman cria uma personagem patética e deplorável e sua atuação brilha em seus momentos quietos e mudos de desolação, nos quais através de um simples olhar a atriz transmite toda a carência e depauperamento da rainha infantilóide. Rachel Wiesz oferece a melhor atuação do longa em uma performance contida e poderosa, imbuindo sua personagem de uma profundidade e complexidade ausentes na performance de Emma Stone, que parece construir a perniciosa Abgail calcada em trejeitos adolescentes e simplesmente não transmite em seu semblante a perversidade aguda que a personagem exige (fiquei fantasiando uma jovem Bette Davis como a escolha perfeita para o papel).
A direção de arte é impressionante e memorável, criando uma atmosfera simultaneamente suntuosa e de desolação, já a separação do longa em pequenos episódios titulados por frases ditas neles se revela um recurso estilístico vazio e desnecessário.
O humor imaturo e vulgar do filme o prejudica e, frequentemente, o torna demasiado cínico, diminuindo seu potencial dramático e a complexidade das personagens. Se por um lado o desfecho abrupto frustra, pois abandona o filme justamente onde ele se tornaria mais interessante, é também perfeitamente condizível com o universo cultivado pelo filme até então - cruel e irremediável.
Influência irrefragável em filmes como "Suspiria", "Pieces" e "Maniac" (e superior a todos eles), "La Residencia" é um clássico do terror pouco lembrado que merece ser redescoberto.
Narciso Ibáñez Serrador (diretor do excelente e mais visceral "Os Meninos") mantém uma atmosfera rica de tensão e explora com minúcia a arquitetura gótica do internato. O grande mérito do filme é criar relações tensas entre os personagens ambíguos, que nos surpreendem no desenrolar da trama sem perder sua credibilidade. A ótima performance de Lili Palmer (como a governanta do internato) é o lastro do filme e desde os primeiros instantes nos intriga, já que sob o verniz de sua austeridade, uma grande tensão se insufla.
A pungência da sexualidade reprimida assombra toda a narrativa e cria diversos momentos interessantes. Em determinado instante, há uma montagem entre duas cenas paralelas - uma envolvendo um encontro sexual proibido e a outra as meninas do internato em uma aula de costura, cientes do encontro e eroticamente trepidantes enquanto manuseiam agulhas e tecido, fantasiando o que ocorre não muito longe dali.
O enredo, de tempo em tempo, brinca com nossas expectativas sem desestimar sua verossimilhança. O final estridente por pouco não destoa grosseiramente do clima tenso e contido do resto do longa, mas não deixa de ser divertido e impactante.
Apesar de algumas tomadas evocarem poesia pela estética, a narrativa excêntrica do filme não funciona e se revela extremamente monótona. Os personagens não ultrapassam meras introduções e ultimamente o filme se esvai sem deixar muito gosto, se assemelhando a um grande trailer de um outro filme.
À maneira de muitos outros dramas coreanos o longa aposta em uma abordagem excessivamente melodramática e em um roteiro repleto de coincidências inverossímeis (e até absurdas), no entanto, o filme envolve graças à atuação carismática e carregada de pathos de Na Moon Hee. Além da protagonista, o resto do elenco também cativa e as mudanças tonais bruscas não tiram o mérito de boas cenas cômicas. Com a exceção de algumas cenas desmesuradamente piegas (em especial às que ocorrem no terceiro ato) fui capaz de me render ao desejo quase truculento do diretor de tornar o filme comovente e seus personagens amáveis.
Uma cópia insípida do primeiro filme. Procurando Dory repete tudo o que funcionou em Procurando Nemo, mas de maneira insossa e com metade da eficácia. Os cacoetes dos protagonistas são repetidos à exaustão e os novos personagens (apesar do design interessante) são pouco memoráveis. A narrativa é extremamente repetitiva e o humor, em sua maior parte, sem inspiração. Uma grande decepção.
Entediante, mal feito e repetitivo. Fui assistir na expectativa de que fosse um daqueles filmes tão ruins que viram bons - não é o caso. A própria Davis parece ter entregado os pontos: sua atuação é tépida e seu semblante parece dizer: "mal posso esperar para ir embora e tirar um cochilo". A atuação de Borgnine é caricata e logo se torna enfadonha.
A trama e o figurino dos protagonistas sugerem um filme de apelo "camp", mas o filme passa longe disso ao investir em cenas de perseguições absolutamente infantis e despropositais e uma narrativa extremamente clichê. A relação entre os protagonistas carece de química e os diálogos são no mínimo prosaicos.
Um fato interessante: Bette Davis supostamente teria ficado possessa ao perceber que sua última fala no filme havia sido censurada. Um "fuck" teria virado "screw". E de fato hei de concordar - a única cena potencialmente engraçada que de fato funcionaria com uma "punchline" vulgar e desbocada.
Talvez meu filme favorito que Bette Davis protagonizou nos anos 60, aqui a atriz tem em mãos um papel suculento e faz a festa com ele. Sua atuação é impecavelmente exagerada ao encarnar Mrs. Taggart: uma mãe devoradora, monstruosa, passivo-agressiva e manipuladora (e, como se não bastasse, ainda trajando um tapa-olho colorido).
O humor negro é delicioso e ousado e o fato de que o filme se mantém interessante se passando quase que exclusivamente em uma sala de estar é admirável. A relação entre a mãe, os filhos e a nora é perfeitamente explorada, com nuances psicológicas muito interessantes e sarcásticas. O édipo aqui é evidente e brutal, causticado até a última gota!
As atuações são magistrais por parte de todo elenco (o ator que faz o garoto e a atriz que interpreta a irmã de sua mãe são em especial excelentes) e Davis, surpreendentemente, nos oferece uma de suas performances mais contidas e competentes. O ritmo é lento, mas a atenção ao desenvolvimento psicológico dos personagens ao longo do desenrolar da trama é sutil e se desdobra em diversas cenas interessantes. O longa peca por um desfecho pouco empolgante e um tanto superficial considerando as possibilidades que o roteiro oferece.
Não é o melhor filme de horror que Bette Davis protagonizou - o ritmo é demasiado lento, a duração se estende para além do necessário (considerando a frivolidade da estória) e as cenas grotescas não causam o impacto que deveriam - principalmente quando se perdem entre outras sequências pouco inspiradas. Ainda assim, o filme tem suas qualidades: os entraves entre as protagonistas são divertidos de se assistir, as esporádicas crises histéricas de Davis dão boas gargalhadas e a atuação de Agnes Moorehead é perfeitamente descomedida. A fotografia e os cenários são de primeira qualidade e perfeitamente ilustram a decadência sulista burguesa (o longa foi nomeado a 7 Oscars, recorde na época para um filme de terror).
Inicialmente, Joan Crawford seria a protagonista e chegou inclusive a gravar a maioria de suas cenas, no entanto, um problema de saúde a obrigou a abandonar a produção (há especulações de que sua rivalidade com Davis no set seria o real motivo da desistência). Olivia de Havilland é uma excelente atriz e aqui nos brinda com uma atuação contida e eficiente, Crawford, no entanto, provavelmente conferiria ao longa um necessário lastro e o elevaria a alturas mais delirantes e nefastas. Fica a curiosidade!
Antecipado por filmes individuais de seus protagonistas mais relevantes e exaltado como um dos maiores eventos cinematográficos recentes, Os Vingadores é o produto que promete ser – uma gigantesca comoção que reúne efeitos especiais ostensivos e personagens egocêntricos e carismáticos já bem conhecidos e celebrados pelo público. A convencional trama envolve o vilão Loki (já introduzido no filme Thor) e sua tentativa de dominar o planeta através de um cubo de energia capaz de destruição em massa; a fim de impedir o triunfo iminente de Loki os vingadores são reunidos, e não demora muito para o espetáculo que fãs assíduos da Marvel tão fervorosamente aguardaram nos últimos anos entrar em ação.
O sucesso de Os Vingadores reside em grande parte na decisão dos roteiristas de manter os diálogos leves e afiados e conferir ao longa um tom de brincadeira constante; este é um filme tão exagerado e gigantesco que caso fosse levado com a seriedade de um Batman: O Cavaleiro das Trevas, por exemplo, se tornaria demasiadamente pesado, até insuportável. A dinâmica estabelecida entre os personagens de personalidades dispares é superficial (até porque com tantos deles, qualquer intenção de se aprofundar em todos seria de pretensão indecorosa) e consiste basicamente em uma disputa de egos culminando de minuto a minuto em alguma tirada (algumas inspiradas, outras óbvias e levemente constrangedoras).
Os atores (já acomodados em seus respectivos papéis) se divertem e tem boas oportunidades de trabalhar com a comicidade e o absurdo de seus personagens – Scarlett Johanson esbanja sensualidade e as cenas em que usa da dissimulação para obter informação inimiga rendem alguns dos melhores momentos do longa, Robert Downey Jr. tem a oportunidade de exaltar ao máximo seus cacoetes de canastrão e Mark Ruffalo como Hulk brinca com a bestialidade do personagem de forma inspirada, leve e divertida.
O extenso clímax do longa impressiona pelo ritmo incessante, pelos efeitos colossais e pela complexidade das tomadas; uma cena ambiciosa, em especial, chama a atenção – enquanto a batalha contra o exército de Loki ocorre em Nova Iorque, acompanhamos através de um imenso plano seqüência onde cada um dos vingadores se encontra e o que estão enfrentando.
Assemelhando-se a uma costura de skits de super-heróis permeada por explosões catastróficas e muita pancadaria, Os Vingadores não chega a ser um bom filme, mas é um bom evento, capaz de envolver e divertir o espectador por algumas horas em toda sua tolice homérica.
Baseado na antiga série de televisão homônima, Dark Shadows é a oitava colaboração de Johnny Depp e Tim Burton e um projeto que mostra não só um desgaste na famosa parceria de gigantes como também uma imperdoável falta de inspiração do próprio diretor acerca do mundo e dos personagens que criou. A trama gira em torno de Barnabas (Depp), um vampiro do século XVIII amaldiçoado por uma bruxa apaixonada (e rejeitada) e trancafiado em um caixão por várias décadas, acordando para sua surpresa em plenos anos 70 e forçado a lidar com os remanescentes de sua família e com o retorno da bruxa que o aprisionou.
Visualmente ostensivo, Dark Shadows é mais um triunfo para Burton no que se refere à direção de arte. Os cenários levemente kitsch e o figurino setentista com toques modernos criam uma atmosfera agradável e descolada (realçada pela ótima idéia de incluir sucessos dos anos 70 na trilha), que infelizmente não é bem aproveitada por diversas falhas na concepção do filme.
Dark Shadows aponta diversas possibilidades durante o caminho, mas não cinge-se ou aprofunda-se em nenhuma delas. O filme passeia titubeantemente entre um "camp" morno, um horror demasiadamente polido para causar qualquer impacto e um drama novelesco tímido que não evolui e ultimamente não mostra a que veio. A maior falha do longa está na incapacidade de Burton de elaborar uma cena envolvente; tudo simplesmente acontece, as situações são jogadas e descartadas sem que haja um desenvolvimento satisfatório, a tensão não é construída, não há sutilezas; após a introdução dos personagens, os mesmos passam a ser joguetes nas mãos de uma trama insossa que não sabe que rumo tomar.
A comédia em Dark Shadows é penosa e até constrangedora, as piadas anacrônicas não funcionam e são repetidas à exaustão. Aliás, o filme parece sustentar-se na repetição por falta de idéias novas, até as cenas de elipse que costumam ser um prato cheio para Burton exaurir suas tipicamente interessantes idéias visuais, aqui se limitam a exaustivamente mostrar, por exemplo, o vampiro protagonista dormindo em diversas posições peculiares.
O maior desgosto ao assistir Dark Shadows é, no entanto, testemunhar o desperdício insensato de um elenco muito competente e merecedor de um roteiro infinitamente melhor. Johnny Depp como o vampiro Barnabas é uma figura potencialmente engraçada e, ainda que o ator aposte em cacoetes já empregados demasiadamente em tantas outras atuações suas, conduz com admirável leveza um personagem que merecia diálogos mais criativos e situações que explorassem melhor sua curiosa personalidade. Michelle Pfeiffer é desperdiçada em um papel austero e sem propósito ao passo que Chloë Moretz diverte como a adolescente precocemente sexualizada. Helena Bonham Carter, muito bem caracterizada em seu papel de psiquiatra alcoólatra, faz o melhor que pode com um personagem possivelmente intrigante, mas explorado de forma pedestre pelo roteiro e de desfecho insatisfatório.
Se há um motivo considerável para se assistir a Dark Shadows este se chama Eva Green. A bela atriz francesa ofusca todo o resto do elenco e cria na bruxa Angélique Bouchard o personagem mais tridimensional e carismático do longa. De peruca loira e voz rouca, a atriz dá um tom simultaneamente "campy" e demoníaco a Angelique e devora o cenário exalando sexualidade, vulnerabilidade e rancor com notável intensidade e – tome notas Tim Burton – na medida exata, contrabalanceando de forma hábil a mistura de humor e horror pretendida pelo filme mas apenas esporadicamente alcançada.
Dark Shadows resume-se a uma bela oportunidade de criar um divertido híbrido de gêneros desperdiçada por um fraquíssimo roteiro e por uma direção depauperada de um Tim Burton demasiadamente confortável e desvirtuado, assume-se que devido a seus recentes sucessos comerciais e por uma necessidade menos de criar do que de agradar.
Berserk foi um dos últimos filmes protagonizados por Joan Crawford. Nos anos 60 a atriz seguia confiante em papéis do gênero "horror matrona" que começou com Baby Jane em 1962. Essa produção britânica nunca alcança seu potencial, mas vale a pena ser assistida graças a Joan Crawford sendo uma megera, desfilando em alguns excelentes e inadequados figurinos e fingindo ser vinte anos mais nova.
Uma cena que amei: uma das artistas do circo, uma loira curvilínea, diz para a equipe do circo enquanto eles se desesperam a respeito dos assassinatos: "nós nunca chegaremos a lugar algum se continuarmos discutindo assim!". Logo em seguida Joan entra de supetão e diz: "você nunca vai chegar a lugar nenhum, ponto final. Sua vadia!". Outro momento engraçado surge quando Joan responde ao detetive que investiga os assassinatos se seu circo sempre fora bem sucedido: "já comemos caviar e já comemos serragem". Esta fala é atuada pela atriz de semblante melancólico e sério, como se estivesse estrelando um filme digno de Oscar.
Berserk poderia ter se tornado um classico "camp", mas infelizmente possui um ritmo desconjuntado e infla seu roteiro mínimo com uma série de cenas tépidas exibindo os atos do circo em vez de desenvolver a estória ou criar situações mais interessantes. Os assassinatos são moderadamente divertidos (ainda que menos grotescos do que deveriam ser), mas considerando que este é um filme que reúne ingredientes como circo, assassinato e Joan Crawford como mestre de cerimônias as possibilidades eram infinitas e parece que não houve real investimento da equipe em uma narrativa mais envolvente e em um desfecho decente.
Nem tão ridiculamente implausível como Trog (último longa de Joan) nem delirantemente afetado como Straightjacket (o melhor filme com Joan Crawford pós-Baby Jane).
É impressionante pensar que, Veronica Lake, um dos ícones mais populares da década de 40 e lembrada por sua beleza elegante e enigmática, terminaria sua carreira estrelando em um filme pra lá de trash (produzido por ela mesma) chamado "Flesh Feast" (algo como banquete de vísceras). Infelizmente, o filme é mais monótono e amador que grotesco. Há certamente alguns prazeres perversos a serem encontrados aqui - a atmosfera deprimente devido ao baixíssimo orçamento, a aparência decadente e inóspita dos cenários, uma estória absurda e o fato de estrelar uma Veronica Lake envelhecida e lunática.
Considerando o nome do filme, há pouquíssimo sangue ou horror, o que presenciamos pela maior parte do filme são diálogos sem sentido entre personagens estranhos e desagradáveis (incluindo enfermeiras suspeitas e uma máfia alemã com sotaque italiano) e Veronica Lake de avental entrando e saindo de um laboratório horroroso enquanto cuida de suas larvas (que supostamente seriam usadas em algum experimento revolucionário visando rejuvenescer rostos, mas que para isso precisam ser alimentadas com carne humana). O desenrolar da narrativa culmina, por incrível que pareça, em uma aparição de Hitler.
Apesar de um ritmo lento e de uma desanimadora falta de situações interessantes, duas cenas são hilárias. A primeira ocorre quando uma enfermeira, por curiosidade, entra no laboratório proibido dos vermes e depois de horas o circulando finalmente nota o óbvio cadáver dependurado no teto, soltando em seguida vários gritos histriônicos. A segunda e talvez o único motivo real para ver o filme, trata-se da cena final onde Veronica Lake às gargalhadas e exibindo trejeitos exagerados e vilanescos executa uma tortura enquanto solta frases como: “Qual o problema? Você não gosta dos meus pequenos vermes? HÁ HÁ HÁ”.
Simples e eficaz. Foca na relação das personagens principais e no seu cotidiano. Explora a dinâmica mãe e filha com tenacidade e aflora sentimentos diversos de maneira natural. Performances perfeitas das protagonistas (destaque para a cena em que Davis - ganhadora do Emmy pelo papel - , após uma revelação, se fecha em um cômodo e desaba em soluços de angústia).
Irrita pela pretensão de ser profundo e intelectual. Enquanto thriller, no entanto, é extremamente eficiente e bem orquestrado. Pike nos brinda com uma divertida performance, ainda que seu personagem jamais transcenda o cartunesco.
Funciona como crítica à banalização midiática da violência e do gozo do homem pela exploração do sofrimento alheio e também como um bom thriller repleto de tensão (a sensação que evoca é de que algo terrível e fatídico se aproxima). Boas atuações de Russo e Gyllenhaal.
É um filme que bate na mesma tecla e não se desenvolve o suficiente. Diverte graças a uma performance inescrupulosa de Theron e algumas idiossincrasias típicas de Cody.
De atmosfera lúgubre e povoado por personagens sinuosos, Mulher Maldita apresenta um roteiro problemático e implausível, no entanto, ganha força graças a performance energética de Davis e algumas reviravoltas (o final é impagável!).
Talvez o filme mais superestimado do ano pelas críticas. O humor é vulgar e previsível, os personagens tolos e repetitivos. É mais longo do que deveria e basicamente recicla tudo aquilo que já vimos em tantas paródias de James Bond.
Um filme cujo efeito perturbador só senti depois de um tempo após tê-lo assistido. Considerado o primeiro do gênero "slasher" e certamente uma grande influência em filmes como Pânico e Halloween, o filme cria uma atmosfera sinistra e nos apresenta um assassino misterioso e perturbador. Peca por um segundo ato vagaroso e mortes pouco criativas. Vale pelos personagens excêntricos, uma performance eficiente e crível de Hussey (linda!) e um clímax decente - muito imitado em filmes posteriores.
O Trem do Terror
3.0 72 Assista AgoraO cenário em que o filme se passa é promissor e Jamie Lee Curtis é, como de costume, uma protagonista eficiente, no entanto, "Terror Train" decepciona. O desenrolar da trama é repleto de cenas desnecessárias (em especial aquelas envolvendo o mágico David Copperfield) e a interação entre os muitos personagens insossos nada revelam sobre eles (o diálogo se resume a piadas sobre sexo) e parecem apenas comprometer o ritmo do longa.
Salvo a cena clímax (bem-feita e tensa), o resto do filme (incluindo os muitos assassinatos) não cativa e até mesmo o trem, enquanto cenário potencialmente interessante, não é tão bem explorado quanto deveria. Outro aspecto problemático é a fotografia demasiada escura em certos momentos, impossibilitando que acompanhemos o que ocorre.
Apesar de algumas surpresas interessantes, este é um "slasher" mediano que talvez funcionaria melhor como um curta, já que apenas o terceiro ato entretém.
Alguém Me Vigia
3.5 55"Someone's Watching Me!" é um thriller inspirado em Hitchock extremamente eficiente. A direção de Carpenter é firme e usufrui de pequenos detalhes para paulatinamente aumentar a tensão. Feito para a TV, o filme aproveita ao máximo seus cenários limitados e os enquadramentos são frequentemente inventivos. Duas cenas em particular se destacam pela maestria com a qual são conduzidas: uma envolvendo uma tampa de esgoto e o clímax.
Um dos motivos que permite o envolvimento do espectador com a trama é a apresentação cuidadosa de sua protagonista - conhecemos sua personalidade excêntrica, seus amigos, seu novo relacionamento, seu emprego em uma emissora de TV e passamos a nos importar com seu destino. A performance de Lauren Hutton é carismática e apaixonante, apesar de que, devo confessar, a atriz peca um pouco no terceiro ato, se mostrando incapaz de expressar o pânico exigido pela personagem em determinados momentos.
Noite do Terror
3.0 7Esta produção feita para a TV se inspira em "Duel" de Steven Spielberg para narrar a estória de uma dona de casa perseguida por um assassino em alta estrada. A trama é mínima e linear - se passando aproximadamente na duração de um dia. Apesar de não ser um filme particularmente memorável, há boas cenas de suspense, em particular no segundo ato do filme, que justifica seu título. Conta com uma boa performance estridente de Valerie Harper, que confere ao personagem uma fragilidade essencial para que temamos por sua vida.
A Perversa
3.3 3 Assista Agora"The Wicked Lady" é um filme peculiar. Em determinados momentos o longa sugere um tom satírico - os personagens são caricatos e unidimensionais e os diálogos, ocasionalmente, irônicos e cortantes. No entanto, o longa insiste em um empuxo ao drama que jamais convence e parece abandonar por longos períodos seu aspecto irreverente e se concentrar no desenrolar óbvio das relações pedantes entre os personagens, incapazes de despertar qualquer investimento emocional por parte do espectador.
A lendária Faye Dunaway exibe alguns de seus trejeitos afetados e divertidos, mas curiosamente nunca se permite degringolar e atingir os níveis delirantes de sua performance em "Mommie Dearest". Seu figurino estrambólico e a produção de uma maneira geral são altamente elaborados e, inclusive, fiquei perplexo imaginando os gastos mirabolantes em função de um roteiro tão tolo e sem propósito.
A Favorita
3.9 1,2K Assista Agora"A Favorita" dá continuidade ao estilo mórbido e cáustico do diretor Yorgos Lanthimos, explorando a dinâmica de poder e afeto entre três mulheres da corte inglesa do século XVIII. Após uma introdução incerta e excessivamente caricata, o filme nos envolve e explora de maneira interessante o jogo de sedução e a rivalidade feminina entre as personagens principais, rodeadas de homens mambembes (completamente alheios aos seus ardis) e muito mais investidas nas guerras íntimas do que naquela ocorrendo além dos portões.
Olivia Colman cria uma personagem patética e deplorável e sua atuação brilha em seus momentos quietos e mudos de desolação, nos quais através de um simples olhar a atriz transmite toda a carência e depauperamento da rainha infantilóide. Rachel Wiesz oferece a melhor atuação do longa em uma performance contida e poderosa, imbuindo sua personagem de uma profundidade e complexidade ausentes na performance de Emma Stone, que parece construir a perniciosa Abgail calcada em trejeitos adolescentes e simplesmente não transmite em seu semblante a perversidade aguda que a personagem exige (fiquei fantasiando uma jovem Bette Davis como a escolha perfeita para o papel).
A direção de arte é impressionante e memorável, criando uma atmosfera simultaneamente suntuosa e de desolação, já a separação do longa em pequenos episódios titulados por frases ditas neles se revela um recurso estilístico vazio e desnecessário.
O humor imaturo e vulgar do filme o prejudica e, frequentemente, o torna demasiado cínico, diminuindo seu potencial dramático e a complexidade das personagens. Se por um lado o desfecho abrupto frustra, pois abandona o filme justamente onde ele se tornaria mais interessante, é também perfeitamente condizível com o universo cultivado pelo filme até então - cruel e irremediável.
Internato Derradeiro
3.8 29Influência irrefragável em filmes como "Suspiria", "Pieces" e "Maniac" (e superior a todos eles), "La Residencia" é um clássico do terror pouco lembrado que merece ser redescoberto.
Narciso Ibáñez Serrador (diretor do excelente e mais visceral "Os Meninos") mantém uma atmosfera rica de tensão e explora com minúcia a arquitetura gótica do internato. O grande mérito do filme é criar relações tensas entre os personagens ambíguos, que nos surpreendem no desenrolar da trama sem perder sua credibilidade. A ótima performance de Lili Palmer (como a governanta do internato) é o lastro do filme e desde os primeiros instantes nos intriga, já que sob o verniz de sua austeridade, uma grande tensão se insufla.
A pungência da sexualidade reprimida assombra toda a narrativa e cria diversos momentos interessantes. Em determinado instante, há uma montagem entre duas cenas paralelas - uma envolvendo um encontro sexual proibido e a outra as meninas do internato em uma aula de costura, cientes do encontro e eroticamente trepidantes enquanto manuseiam agulhas e tecido, fantasiando o que ocorre não muito longe dali.
O enredo, de tempo em tempo, brinca com nossas expectativas sem desestimar sua verossimilhança. O final estridente por pouco não destoa grosseiramente do clima tenso e contido do resto do longa, mas não deixa de ser divertido e impactante.
Tony Takitani
3.8 17Apesar de algumas tomadas evocarem poesia pela estética, a narrativa excêntrica do filme não funciona e se revela extremamente monótona. Os personagens não ultrapassam meras introduções e ultimamente o filme se esvai sem deixar muito gosto, se assemelhando a um grande trailer de um outro filme.
I Can Speak
4.3 32À maneira de muitos outros dramas coreanos o longa aposta em uma abordagem excessivamente melodramática e em um roteiro repleto de coincidências inverossímeis (e até absurdas), no entanto, o filme envolve graças à atuação carismática e carregada de pathos de Na Moon Hee. Além da protagonista, o resto do elenco também cativa e as mudanças tonais bruscas não tiram o mérito de boas cenas cômicas. Com a exceção de algumas cenas desmesuradamente piegas (em especial às que ocorrem no terceiro ato) fui capaz de me render ao desejo quase truculento do diretor de tornar o filme comovente e seus personagens amáveis.
Procurando Dory
4.0 1,8K Assista AgoraUma cópia insípida do primeiro filme. Procurando Dory repete tudo o que funcionou em Procurando Nemo, mas de maneira insossa e com metade da eficácia. Os cacoetes dos protagonistas são repetidos à exaustão e os novos personagens (apesar do design interessante) são pouco memoráveis. A narrativa é extremamente repetitiva e o humor, em sua maior parte, sem inspiração. Uma grande decepção.
Bunny O'Hare
3.1 4Entediante, mal feito e repetitivo. Fui assistir na expectativa de que fosse um daqueles filmes tão ruins que viram bons - não é o caso. A própria Davis parece ter entregado os pontos: sua atuação é tépida e seu semblante parece dizer: "mal posso esperar para ir embora e tirar um cochilo". A atuação de Borgnine é caricata e logo se torna enfadonha.
A trama e o figurino dos protagonistas sugerem um filme de apelo "camp", mas o filme passa longe disso ao investir em cenas de perseguições absolutamente infantis e despropositais e uma narrativa extremamente clichê. A relação entre os protagonistas carece de química e os diálogos são no mínimo prosaicos.
Um fato interessante: Bette Davis supostamente teria ficado possessa ao perceber que sua última fala no filme havia sido censurada. Um "fuck" teria virado "screw". E de fato hei de concordar - a única cena potencialmente engraçada que de fato funcionaria com uma "punchline" vulgar e desbocada.
O Aniversário
3.9 26Talvez meu filme favorito que Bette Davis protagonizou nos anos 60, aqui a atriz tem em mãos um papel suculento e faz a festa com ele. Sua atuação é impecavelmente exagerada ao encarnar Mrs. Taggart: uma mãe devoradora, monstruosa, passivo-agressiva e manipuladora (e, como se não bastasse, ainda trajando um tapa-olho colorido).
O humor negro é delicioso e ousado e o fato de que o filme se mantém interessante se passando quase que exclusivamente em uma sala de estar é admirável. A relação entre a mãe, os filhos e a nora é perfeitamente explorada, com nuances psicológicas muito interessantes e sarcásticas. O édipo aqui é evidente e brutal, causticado até a última gota!
Nas Garras do Ódio
3.8 35As atuações são magistrais por parte de todo elenco (o ator que faz o garoto e a atriz que interpreta a irmã de sua mãe são em especial excelentes) e Davis, surpreendentemente, nos oferece uma de suas performances mais contidas e competentes. O ritmo é lento, mas a atenção ao desenvolvimento psicológico dos personagens ao longo do desenrolar da trama é sutil e se desdobra em diversas cenas interessantes. O longa peca por um desfecho pouco empolgante e um tanto superficial considerando as possibilidades que o roteiro oferece.
Com a Maldade na Alma
4.1 87 Assista AgoraNão é o melhor filme de horror que Bette Davis protagonizou - o ritmo é demasiado lento, a duração se estende para além do necessário (considerando a frivolidade da estória) e as cenas grotescas não causam o impacto que deveriam - principalmente quando se perdem entre outras sequências pouco inspiradas. Ainda assim, o filme tem suas qualidades: os entraves entre as protagonistas são divertidos de se assistir, as esporádicas crises histéricas de Davis dão boas gargalhadas e a atuação de Agnes Moorehead é perfeitamente descomedida. A fotografia e os cenários são de primeira qualidade e perfeitamente ilustram a decadência sulista burguesa (o longa foi nomeado a 7 Oscars, recorde na época para um filme de terror).
Inicialmente, Joan Crawford seria a protagonista e chegou inclusive a gravar a maioria de suas cenas, no entanto, um problema de saúde a obrigou a abandonar a produção (há especulações de que sua rivalidade com Davis no set seria o real motivo da desistência). Olivia de Havilland é uma excelente atriz e aqui nos brinda com uma atuação contida e eficiente, Crawford, no entanto, provavelmente conferiria ao longa um necessário lastro e o elevaria a alturas mais delirantes e nefastas. Fica a curiosidade!
Os Vingadores
4.0 6,9K Assista AgoraAntecipado por filmes individuais de seus protagonistas mais relevantes e exaltado como um dos maiores eventos cinematográficos recentes, Os Vingadores é o produto que promete ser – uma gigantesca comoção que reúne efeitos especiais ostensivos e personagens egocêntricos e carismáticos já bem conhecidos e celebrados pelo público. A convencional trama envolve o vilão Loki (já introduzido no filme Thor) e sua tentativa de dominar o planeta através de um cubo de energia capaz de destruição em massa; a fim de impedir o triunfo iminente de Loki os vingadores são reunidos, e não demora muito para o espetáculo que fãs assíduos da Marvel tão fervorosamente aguardaram nos últimos anos entrar em ação.
O sucesso de Os Vingadores reside em grande parte na decisão dos roteiristas de manter os diálogos leves e afiados e conferir ao longa um tom de brincadeira constante; este é um filme tão exagerado e gigantesco que caso fosse levado com a seriedade de um Batman: O Cavaleiro das Trevas, por exemplo, se tornaria demasiadamente pesado, até insuportável. A dinâmica estabelecida entre os personagens de personalidades dispares é superficial (até porque com tantos deles, qualquer intenção de se aprofundar em todos seria de pretensão indecorosa) e consiste basicamente em uma disputa de egos culminando de minuto a minuto em alguma tirada (algumas inspiradas, outras óbvias e levemente constrangedoras).
Os atores (já acomodados em seus respectivos papéis) se divertem e tem boas oportunidades de trabalhar com a comicidade e o absurdo de seus personagens – Scarlett Johanson esbanja sensualidade e as cenas em que usa da dissimulação para obter informação inimiga rendem alguns dos melhores momentos do longa, Robert Downey Jr. tem a oportunidade de exaltar ao máximo seus cacoetes de canastrão e Mark Ruffalo como Hulk brinca com a bestialidade do personagem de forma inspirada, leve e divertida.
O extenso clímax do longa impressiona pelo ritmo incessante, pelos efeitos colossais e pela complexidade das tomadas; uma cena ambiciosa, em especial, chama a atenção – enquanto a batalha contra o exército de Loki ocorre em Nova Iorque, acompanhamos através de um imenso plano seqüência onde cada um dos vingadores se encontra e o que estão enfrentando.
Assemelhando-se a uma costura de skits de super-heróis permeada por explosões catastróficas e muita pancadaria, Os Vingadores não chega a ser um bom filme, mas é um bom evento, capaz de envolver e divertir o espectador por algumas horas em toda sua tolice homérica.
Sombras da Noite
3.1 4,0K Assista AgoraBaseado na antiga série de televisão homônima, Dark Shadows é a oitava colaboração de Johnny Depp e Tim Burton e um projeto que mostra não só um desgaste na famosa parceria de gigantes como também uma imperdoável falta de inspiração do próprio diretor acerca do mundo e dos personagens que criou. A trama gira em torno de Barnabas (Depp), um vampiro do século XVIII amaldiçoado por uma bruxa apaixonada (e rejeitada) e trancafiado em um caixão por várias décadas, acordando para sua surpresa em plenos anos 70 e forçado a lidar com os remanescentes de sua família e com o retorno da bruxa que o aprisionou.
Visualmente ostensivo, Dark Shadows é mais um triunfo para Burton no que se refere à direção de arte. Os cenários levemente kitsch e o figurino setentista com toques modernos criam uma atmosfera agradável e descolada (realçada pela ótima idéia de incluir sucessos dos anos 70 na trilha), que infelizmente não é bem aproveitada por diversas falhas na concepção do filme.
Dark Shadows aponta diversas possibilidades durante o caminho, mas não cinge-se ou aprofunda-se em nenhuma delas. O filme passeia titubeantemente entre um "camp" morno, um horror demasiadamente polido para causar qualquer impacto e um drama novelesco tímido que não evolui e ultimamente não mostra a que veio. A maior falha do longa está na incapacidade de Burton de elaborar uma cena envolvente; tudo simplesmente acontece, as situações são jogadas e descartadas sem que haja um desenvolvimento satisfatório, a tensão não é construída, não há sutilezas; após a introdução dos personagens, os mesmos passam a ser joguetes nas mãos de uma trama insossa que não sabe que rumo tomar.
A comédia em Dark Shadows é penosa e até constrangedora, as piadas anacrônicas não funcionam e são repetidas à exaustão. Aliás, o filme parece sustentar-se na repetição por falta de idéias novas, até as cenas de elipse que costumam ser um prato cheio para Burton exaurir suas tipicamente interessantes idéias visuais, aqui se limitam a exaustivamente mostrar, por exemplo, o vampiro protagonista dormindo em diversas posições peculiares.
O maior desgosto ao assistir Dark Shadows é, no entanto, testemunhar o desperdício insensato de um elenco muito competente e merecedor de um roteiro infinitamente melhor. Johnny Depp como o vampiro Barnabas é uma figura potencialmente engraçada e, ainda que o ator aposte em cacoetes já empregados demasiadamente em tantas outras atuações suas, conduz com admirável leveza um personagem que merecia diálogos mais criativos e situações que explorassem melhor sua curiosa personalidade. Michelle Pfeiffer é desperdiçada em um papel austero e sem propósito ao passo que Chloë Moretz diverte como a adolescente precocemente sexualizada. Helena Bonham Carter, muito bem caracterizada em seu papel de psiquiatra alcoólatra, faz o melhor que pode com um personagem possivelmente intrigante, mas explorado de forma pedestre pelo roteiro e de desfecho insatisfatório.
Se há um motivo considerável para se assistir a Dark Shadows este se chama Eva Green. A bela atriz francesa ofusca todo o resto do elenco e cria na bruxa Angélique Bouchard o personagem mais tridimensional e carismático do longa. De peruca loira e voz rouca, a atriz dá um tom simultaneamente "campy" e demoníaco a Angelique e devora o cenário exalando sexualidade, vulnerabilidade e rancor com notável intensidade e – tome notas Tim Burton – na medida exata, contrabalanceando de forma hábil a mistura de humor e horror pretendida pelo filme mas apenas esporadicamente alcançada.
Dark Shadows resume-se a uma bela oportunidade de criar um divertido híbrido de gêneros desperdiçada por um fraquíssimo roteiro e por uma direção depauperada de um Tim Burton demasiadamente confortável e desvirtuado, assume-se que devido a seus recentes sucessos comerciais e por uma necessidade menos de criar do que de agradar.
O Espetáculo de Sangue
3.1 14 Assista AgoraBerserk foi um dos últimos filmes protagonizados por Joan Crawford. Nos anos 60 a atriz seguia confiante em papéis do gênero "horror matrona" que começou com Baby Jane em 1962. Essa produção britânica nunca alcança seu potencial, mas vale a pena ser assistida graças a Joan Crawford sendo uma megera, desfilando em alguns excelentes e inadequados figurinos e fingindo ser vinte anos mais nova.
Uma cena que amei: uma das artistas do circo, uma loira curvilínea, diz para a equipe do circo enquanto eles se desesperam a respeito dos assassinatos: "nós nunca chegaremos a lugar algum se continuarmos discutindo assim!". Logo em seguida Joan entra de supetão e diz: "você nunca vai chegar a lugar nenhum, ponto final. Sua vadia!". Outro momento engraçado surge quando Joan responde ao detetive que investiga os assassinatos se seu circo sempre fora bem sucedido: "já comemos caviar e já comemos serragem". Esta fala é atuada pela atriz de semblante melancólico e sério, como se estivesse estrelando um filme digno de Oscar.
Berserk poderia ter se tornado um classico "camp", mas infelizmente possui um ritmo desconjuntado e infla seu roteiro mínimo com uma série de cenas tépidas exibindo os atos do circo em vez de desenvolver a estória ou criar situações mais interessantes. Os assassinatos são moderadamente divertidos (ainda que menos grotescos do que deveriam ser), mas considerando que este é um filme que reúne ingredientes como circo, assassinato e Joan Crawford como mestre de cerimônias as possibilidades eram infinitas e parece que não houve real investimento da equipe em uma narrativa mais envolvente e em um desfecho decente.
Nem tão ridiculamente implausível como Trog (último longa de Joan) nem delirantemente afetado como Straightjacket (o melhor filme com Joan Crawford pós-Baby Jane).
Flesh Feast
2.7 2É impressionante pensar que, Veronica Lake, um dos ícones mais populares da década de 40 e lembrada por sua beleza elegante e enigmática, terminaria sua carreira estrelando em um filme pra lá de trash (produzido por ela mesma) chamado "Flesh Feast" (algo como banquete de vísceras). Infelizmente, o filme é mais monótono e amador que grotesco. Há certamente alguns prazeres perversos a serem encontrados aqui - a atmosfera deprimente devido ao baixíssimo orçamento, a aparência decadente e inóspita dos cenários, uma estória absurda e o fato de estrelar uma Veronica Lake envelhecida e lunática.
Considerando o nome do filme, há pouquíssimo sangue ou horror, o que presenciamos pela maior parte do filme são diálogos sem sentido entre personagens estranhos e desagradáveis (incluindo enfermeiras suspeitas e uma máfia alemã com sotaque italiano) e Veronica Lake de avental entrando e saindo de um laboratório horroroso enquanto cuida de suas larvas (que supostamente seriam usadas em algum experimento revolucionário visando rejuvenescer rostos, mas que para isso precisam ser alimentadas com carne humana). O desenrolar da narrativa culmina, por incrível que pareça, em uma aparição de Hitler.
Apesar de um ritmo lento e de uma desanimadora falta de situações interessantes, duas cenas são hilárias. A primeira ocorre quando uma enfermeira, por curiosidade, entra no laboratório proibido dos vermes e depois de horas o circulando finalmente nota o óbvio cadáver dependurado no teto, soltando em seguida vários gritos histriônicos. A segunda e talvez o único motivo real para ver o filme, trata-se da cena final onde Veronica Lake às gargalhadas e exibindo trejeitos exagerados e vilanescos executa uma tortura enquanto solta frases como: “Qual o problema? Você não gosta dos meus pequenos vermes? HÁ HÁ HÁ”.
Duas Estranhas - História de Mãe e Filha
4.4 10Simples e eficaz. Foca na relação das personagens principais e no seu cotidiano. Explora a dinâmica mãe e filha com tenacidade e aflora sentimentos diversos de maneira natural. Performances perfeitas das protagonistas (destaque para a cena em que Davis - ganhadora do Emmy pelo papel - , após uma revelação, se fecha em um cômodo e desaba em soluços de angústia).
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraIrrita pela pretensão de ser profundo e intelectual. Enquanto thriller, no entanto, é extremamente eficiente e bem orquestrado. Pike nos brinda com uma divertida performance, ainda que seu personagem jamais transcenda o cartunesco.
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraFunciona como crítica à banalização midiática da violência e do gozo do homem pela exploração do sofrimento alheio e também como um bom thriller repleto de tensão (a sensação que evoca é de que algo terrível e fatídico se aproxima). Boas atuações de Russo e Gyllenhaal.
Jovens Adultos
3.0 874 Assista AgoraÉ um filme que bate na mesma tecla e não se desenvolve o suficiente. Diverte graças a uma performance inescrupulosa de Theron e algumas idiossincrasias típicas de Cody.
Mulher Maldita
4.0 28 Assista AgoraDe atmosfera lúgubre e povoado por personagens sinuosos, Mulher Maldita apresenta um roteiro problemático e implausível, no entanto, ganha força graças a performance energética de Davis e algumas reviravoltas (o final é impagável!).
A Espiã que Sabia de Menos
3.5 652 Assista AgoraTalvez o filme mais superestimado do ano pelas críticas. O humor é vulgar e previsível, os personagens tolos e repetitivos. É mais longo do que deveria e basicamente recicla tudo aquilo que já vimos em tantas paródias de James Bond.
Noite do Terror
3.5 219Um filme cujo efeito perturbador só senti depois de um tempo após tê-lo assistido. Considerado o primeiro do gênero "slasher" e certamente uma grande influência em filmes como Pânico e Halloween, o filme cria uma atmosfera sinistra e nos apresenta um assassino misterioso e perturbador. Peca por um segundo ato vagaroso e mortes pouco criativas. Vale pelos personagens excêntricos, uma performance eficiente e crível de Hussey (linda!) e um clímax decente - muito imitado em filmes posteriores.