É visualmente deslumbrante e explora uma temática interessantíssima, no entanto decepciona ao desenvolver personagens e narrativas esquemáticas em vez de se lançar no mundo da mitologia mexicana de maneira criativa e ousada como faz o jogo (e quase filme) Grim Fandango.
Cria uma atmosfera promissora durante o primeiro ato, mas infelizmente sucumbe à convenções do gênero mais tarde (empregando mortes pouco criativas e falhando em explorar qualquer personagem mais profundamente). O boneco-vilão criado por Winston é impressionante e nos dá uma ideia do que viria mais tarde a ser os dinossauros de Jurassic Park.
Inside Out é uma ideia cativante que aborda temas complexos e os transforma em uma narrativa divertida sem emburrecê-los, mas subvertendo-os em situações humorosas (e é claro que há também os momentos que levam às lágrimas - como já esperamos de filmes do estúdio)
No mundo do filme, cada pessoa tem dentro de sua mente cinco emoções: tristeza, alegria, raiva, nojo e medo. Cada uma com sua própria personalidade e desejos. Eles também habitam o "mundo da mente": há a caverna do inconsciente, as ilhas que definem a personalidade, o mundo da imaginação e etc. O filme é tão criativo que toca tanto adultos quanto crianças sem que haja a necessidade de recorrer a vulgaridade sutil para arrancar sorrisos amarelos dos adultos ou forçar um personagem demasiado engraçadinho para que as crianças menores gargalhem.
As cinco emoções que vivem dentro da garota Riley lidam com tudo que ela passa em seu cotidiano, mas essas coisas assumem outras formas em sua mente e é intrigante e divertido ver como suas memórias, desejos, relacionamentos, pesadelos, expectativas e todo tipo de experiência toma forma nesse mundo interno e como são abordadas pelos personagens.
O que faz de Inside Out um ótimo filme é a quantidade de sutilezas em cada situação e personagem. Por exemplo, o fato de Alegria ser amarela mas também possuir cabelo azul (a cor da Tristeza). A forma como o filme nos mostra que cada emoção é essencial e parte da vida e como o tempo todo elas interagem umas com as outras tornando nossa existência confusa, mas rica e complexa. O filme sagazmente materializa e personifica coisas que passam dentro de nós, mas que muitas vezes temos dificuldade de explicar, e nos oferece uma nova e imaginativa visão a respeito de como nos sentimos e pensamos - e faz isso com admirável simplicidade e engenho.
É impecavelmente produzido e conta com bons atores que logram o máximo de uma boa química; é, no entanto, um filme cujo exagero aliena qualquer investimento na trama ou na dramatização. As cenas de ação, apesar de bem-feitas, pecam pelo excesso da câmera lenta e pela edição buliçosa, conferindo ao filme um ar moderno e frenético que destoa grosseiramente da época em que se passa. É uma trama ordinária que, adornada de exageros implausíveis e guiada com frenesi constante, se complica para forjar-se de inteligente e se conclui marcada pelo excesso e com efeitos exaustivos no espectador.
Melancholia é o filme-catástrofe mais pungente e devastador de todos os tempos e, admiravelmente, consegue tal proeza sendo talvez o de menor orçamento e também o mais contido. Ao contrário de filmes como Deep Impact ou o mais recente 2012, a força de Melancholia não está na carnificina ou na dramatização afetada, mas na poderosa metáfora na qual este se imerge desde os primeiros minutos, onde estabelece de forma brilhante um paralelo entre o planeta Melancholia (que se aproxima cada vez mais da terra para engoli-la) e a tristeza profunda e crescente de Justine (vivida intensamente por Kirsten Dunst), uma jovem engolida por uma tristeza profunda. O casamento de Justine (cenário que o filme foca durante a primeira parte) revela o cerne pútrido do tema abordado pelo longa, a jovem se encontra presa em um mundo de aparências, interesses e egoísmo; elementos personificados por personagens que se recusam em demonstrar qualquer preocupação com os sentimentos de Justine, revelando-se durante a festa como criaturas cínicas, insensíveis ou afetivamente ausentes. É interessante observar como - em uma das melhores cenas do filme - uma Justine aflita arranca pinturas modernas de uma estante e as substitui por quadros humanos e de alto teor dramático (o destaque, é claro, vai para “Ophelia” de Millais), como se ela, ao tomar tal atitude, repudiasse a perfeição geométrica e fria da família e clamasse seus sentimentos mais desesperados - é como se ela gritasse em prantos: “Olhem para mim, enxerguem o que estou sentindo!”. Justine é uma de muitas Ophelias e, se a imagem da moça flutuando com semblante fúnebre em um lago na abertura do filme não fosse evocativo o suficiente, o filme explora com intensidade o abisso emocional cada vez mais profundo em que a jovem se encontra; assim como a personagem icônica de Shakespeare, ela se sente vitimizada e desvalorizada, afogada e morta na própria angústia, ainda que, na vida real, seja pressionada a se comportar de acordo com o que se espera de uma noiva prestes a se casar. A segunda parte do filme foca em Claire (irmã de Pauline), uma mulher obsessiva e também deprimida, ainda que (ao contrário da irmã) capaz de controlar e manter uma atitude friamente emproada. Sentindo nas entranhas a angústia da irmã, mas incapaz de enfrentá-la ou buscar entende-la, ela se limita a cuidados enfermais e preocupações superficiais com a mesma (“venha tomar um banho.”), algo que, naturalmente, não afeta ou resgata Justine de forma alguma - ela permanece fleumática e lúgubre, conformada com sua dor, no fundo do poço. E talvez seja desta situação que surja a reflexão mais dolorosa do longa – assim como Claire (ou Justine), todos nós estamos (em um nível ou outro) sozinhos com nossa própria angústia e, às vezes, encara-la é tão difícil que preferimos negligencia-la e sofrer em silêncio, apesar de sua imensa, pungente e inegligenciável magnitude. Melancholia é uma afirmação visceral de que não é necessária (ou ao menos não deveria ser necessária) uma catástrofe física ocorrer para entendermos que a forma como vemos o mundo e nos relacionamos com as pessoas está desgastada. O verdadeiro apocalipse está na alienação das pessoas do lado espiritual e emocional delas mesmas, e é daí que vem o maior caos de todos, aquele caos que nos engole e nos mastiga sem que percebamos. A ameaça iminente do planeta Melancholia prestes a se chocar com a Terra apenas torna inevitável enxergar aquilo que os personagens (em especial Claire) tentavam camuflar e negligenciar – a tragédia de proporção igualmente cósmica e devastadora dentro deles mesmos.
Demasiadamente pretensioso e monótono para agradar aos fãs de "trash" e pedestre demais para possuir qualquer apelo "art-house". Atuações enfadonhas e direção insípida não fazem jus a um conceito bizarro até promissor.
Falha insipidamente como comédia e drama, equivocando-se em tom diversas vezes, desperdiçando o elenco feminino em papéis insignificantes e se concluindo como um filme "nada".
No elegantemente dirigido Deception, Bette Davis - apesar de imponente como nunca - é ofuscada por uma performance absolutamente brilhante de Claude Rains, que cria no inteligentíssimo, perverso e auto-indulgente compositor Alexander Hollenius, uma das figuras mais memoráveis já colocadas em película. Os diálogos são riquíssimos, os figurinos exuberantes e duas cenas em particular perduram com louvor - o jantar no qual Hollenius se deleita na própria garbosidade e humilha os convidados ao demorar horas para concluir um pedido e, é claro, o pungente confronto final entre Davis e Rains, um verdadeiro espetáculo de titãs.
Típico veículo sessentista designado unicamente para exibir os dotes de Ann-Margret. Romance tedioso, roteiro pedestre e elenco masculino faltando em autenticidade. Ann-Margret está belíssima, usa figurinos fabulosos e - como não pode faltar em seus filmes - protagoniza uma excelente seqüência de dança que acaba valendo por todo filme.
Discute de forma criativa e inspirada os conceitos de originalidade e cópia e como ambos só ganham qualquer relevância quando subjugados pela percepção individual; o longa explora tal idéia brilhantemente na relação construída pelo casal principal; que em forma de brincadeira, alterna-se entre fantasia e realidade sem jamais tornar-se de fato inverossímil – os sentimentos são sempre reais independente de como manifestados ou fantasiados.
Todo sobre mi madre é uma hilariante, sensível e autêntica homenagem de Almodóvar à mulher (em especial as mães), desenvolvendo diversos e destoantes personagens femininos em um universo onde ser mulher não é simplesmente possuir (ou não) peitos, mas se colocar orgulhosamente sob os holofotes da vida - atuar como si mesma vestindo a feminilidade à flor da pele. Almodóvar deixa claro sua paixão pelas grandes divas do cinema (Bette Davis é referenciada constantemente e o próprio título do longa é uma brincadeira com o clássico All About Eve) e permeia à narrativa com brilhantes referências ao impacto dessas, não só na vida de seus personagens, como também na sua própria identidade como diretor. Almodóvar celebra seus personagens femininos os permitindo máxima liberdade de expressão e sujeitando o longa como se este fosse o palco daquelas mulheres, abrindo espaço para que experiências sejam compartilhadas e para que vidas destoantes, quando entrelaçadas, reganhem significado. Cada frame do longa é chancelado pela típica vivacidade do diretor que, tipicamente apostando em uma fotografia de cores fortes (o vermelho sendo a mais evidenciada), dá ao filme, esteticamente, a intensidade e o caráter emanado por suas complexas mulheres. Todo sobre mi madre reúne figuras distintas e que, muitas vezes, tem em comum apenas um vínculo forte com a própria feminilidade; seja o afetado travesti Agrado ou a ingênua irmã Rosa (vivida com admirável inocência por uma jovem Penélope Cruz), todas as mulheres aqui encontram na outra um companheirismo comovente e explorado pelo roteiro em cenas excepcionalmente sensíveis e marcantes; é interessante observar como os homens surgem extremamente tolos ou inconseqüentes, revelando não um sexismo por parte do diretor, mas uma convicção de que a união da mulher, regada de compaixão, é uma das armas mais poderosas e subestimadas. Cecilia Roth está impecável como Manuela, uma mãe amargurada com a morte recente do filho e que volta à Barcelona para encarar seu passado e se redescobrir, uma jornada que a põe cara a cara com seus próprios demônios e conclui um ciclo vital de sua vida, tornando-a mais forte, mais sábia e como Almodóvar faz questão de evidenciar, mais mulher do que nunca.
Esta suntuosa adaptação da história de Anastásia Romanov marcou o retorno de Ingrid Bergman às graças do público americano; depois de um escandaloso caso com o diretor italiano Roberto Rossellini (ele e Bergman já eram casados quando se envolveram amorosamente na produção do longa Stromboli), a atriz foi forçada a fugir para a Europa a fim de evitar o assédio e a condenação da mídia. Como protagonista de Anastásia – sua primeira produção americana em sete anos - a atriz foi agraciada com seu segundo Oscar (ela ainda receberia um terceiro por Murder on the Orient Express) e aclamada novamente por crítica e público – um retorno triunfal ao melhor estilo Hollywoodiano de ser. Anastásia é um competente melodrama guiado por uma performance magistral de Bergman, a estória do filme diverge levemente do ocorrido à verdadeira Anna Anderson - esta nunca chegou a conhecer a imperatriz russa (sua suposta avó) ou mesmo a provar sua identidade como Anastásia como o longa sugere; pouco importa, estamos falando de Hollywood afinal, a glamourização de fatos é inevitável e, naturalmente, serve bem ao propósito deste bem orquestrado e envolvente épico. Anatole Litvak conduz o filme de forma demasiadamente reverencial em determinados momentos, mas é competente ao estabelecer uma narrativa fluída que permite o desenvolver de seus personagens mas também evita lentidões desnecessárias. O roteiro de Arthur Laurents (baseado na peça de Marcelle Maurette) é em muitos aspectos louvável; os diálogos (conservados da peça), além de revelarem muito sobre cada personagem, são excepcionalmente ricos e afiados, tornando Anastásia um filme de prazerosa apreciação e que nunca falha em entusiasmar. Todavia, o roteiro não explora o suficiente a relação de Anastásia com o ardiloso oportunista russo Bounine (apesar de sugerir tensão romântica entre os dois de forma prazerosa em primeiros instantes), algo imperdoável, já que compromete o brilhante desfecho do filme, cujo impacto depende inteiramente na veemência da relação do casal. Ingrid Bergman é fantástica como Anastásia, a progressão de lunática andarilha para mulher sofisticada ocorre de forma natural e prazerosa nas mãos da atriz, que confere à princesa esquecida uma ambigüidade fascinante e a torna um ser humano crível e complexo, perdida em memórias que nem a própria consegue discernir suas veracidades, mas também uma mulher viva, pulsante em seus desejos e aflita por uma identidade própria. O grande triunfo de Anastásia, porém, é a atuação de Helen Hayes como a imperatriz russa Maria Feodorovna, além de injetar brilhantes tiradas sarcásticas em figuras antipáticas e hipócritas da corte (“na sua idade sexo deveria ser apenas um gênero!”), a atriz cria um personagem extremamente tocante e de admirável “insight” (“a maioria de nós se sente sozinho, e é quase sempre por causa de nós mesmos”). Hayes brilha com destacável excelência na formidável cena em que encontra pela primeira vez Anastásia – a personagem quebra seu semblante gélido ao reconhecer a neta e revela-se uma mulher sofrida por debaixo de sua carcaça augusta e até então irremovível; como é revelado mais tarde pela mesma acerca de si em um diálogo com a princesa - sou apegada ao passado porque este é caloroso e repleto de boas memórias, distante do presente, pois este é frio e de nada tem-se certeza.
Titanic é um filme extremamente convencional, todos os elementos que marcaram o cinema Hollywoodiano clássico, aqui se fazem presentes – um amor proibido e intenso, antagonistas hipócritas e maquiavélicos, uma grande catástrofe inevitável, direção de arte suntuosa e, é claro, a indispensável trilha sonora melodramática – e a verdade é que, não há absolutamente nada de errado com isso. Titanic usufrui de tais elementos com tamanha maestria que, é como se estivéssemos vendo tudo pela primeira vez. James Cameron não poupou gastos, desde a construção de um barco pouco menor que o verdadeiro Titanic até extensas seqüências que mostram luxuosamente o interior do navio, ele transformou o longa em uma experiência envolvente e crível, cujo ritmo segue de forma impecável ao mesclar a tensão que antecede a fatídica catástrofe com a tensão do relacionamento de Jack e Rose, cujo desenvolvimento conta com seus próprios icebergs – sejam estes na forma de um marido ciumento ou de hipocrisia vinda das pomposas madames da alta sociedade. Ainda que Titanic seja essencialmente um filme de desastre, o drama humano sempre prevalece e se mostra satisfatoriamente intenso – parte disso, é claro, deve-se às impecáveis atuações por parte de um elenco extremamente bem utilizado. Kate Winslet teve aqui a chance de se provar uma das atrizes mais talentosas de sua geração, ela cria em Rose uma mulher cuja intensidade e vulnerabilidade conquistam o espectador e justificam plenamente a fascinação de Jack pela moça. Leonardo DiCaprio, injustiçado pelas críticas na época (talvez apenas pelo fato de que o longa propeliu sua reputação de ídolo adolescente), dá aqui uma performance entusiasmada e sensível, talvez não tão nuançada como a de Winslet, mas certamente adequadíssma ao projeto. Basicamente dividido em dois capítulos (o primeiro investindo na caracterização dos personagens e o segundo focado na tragédia), Titanic sucede excepcionalmente bem em ambos. A relação dos protagonistas é desenvolvida de forma lenta e carregada de momentos marcantes, ao passo que no segundo ato, somos bombardeados por efeitos especiais impressionantes que, entusiasmam com imponência, mas habilmente não desviam o filme do verdadeiro foco - o romance. Titanic ainda se conclui de forma sensível, utilizando-se da atuação magistral da lendária Gloria Stuart (como a versão idosa de Rose) para amarrar a trama no presente e se concluir de forma tocante e admiravelmente serena. Titanic é o Gone With the Wind dessa geração.
Um conto gótico-sulista extremamente prazeroso de se assistir, conciliando drama sério com deliciosos momentos de pura afetação, resultando em uma obra compulsivamente assistível e marcada por personagens excêntricos e cenas inesquecíveis. O filme gira em torno da relação de diversas pessoas em um campo militar; temos Elizabeth Taylor como a frívola e fogosa Leonora, obcecada com seu cavalo de corrida Firebird e casada com o Major Weldon Penderton (Brando em uma de suas atuações mais desafiadoras), com quem cultiva uma relação de provocação e ódio atenuada em cenas brilhantes; em determinado momento, Leonora repudia as recomendações repressivas do marido e despe-se à sua frente, lançando o sutiã em seu rosto e subindo lentamente as escadas ostentando suas curvas à meia luz. Reflections On a Golden Eye escancara as hipocrisias de seus personagens com boas doses de malícia e expõe seus comportamentos questionáveis como atos de puro egoísmo e luxúria, desde o problemático casal protagonista até o vizinho Coronel Morris Langdon – este negligencia a esposa Allison e mantém um caso secreto com Leonora - todos encontram em subterfúgios vazios e promíscuos uma forma de escapar da rigidez hipócrita que vivenciam diariamente; não é de se surpreender, portanto, que a única personagem sã e sensível em meio a esse caos louco pintado de aparências, a sofrida Allison (intepretada magnificamente por Julie Harris), seja taxada por todos os vizinhos como louca e auto-destrutiva – em um mundo de loucos, a única saída que ela encontra é na alieanação. O filme encontra seus melhores momentos na excêntrica relação de Allison com seu (único) amigo, o efeminado criado Anacleto (Zorro David é uma figura!), juntos eles providenciam os diálogos mais cômicos do longa e cativam o espectador ao se tornarem, excomungados, os únicos a questionarem a hipocrisia repulsiva que os cerca. Marlon Brando encarna talvez o personagem que mais evidencia a proposta do filme, Major Weldon é uma figura completamente sustentada em sua aparência, portanto, quando este começa a se sentir atraído por um recruta voyeurista de olhos dourados (cujo objeto de fascínio é ironicamente a esposa de Weldon, Leonora), ele começa a entrar em uma profunda crise interna, revelando-se um sujeito cuja sensibilidade vira seu maior inimigo, já que, austeramente impedido de se expressar pela própria condição social que ocupa, se torna um homem extremamente miserável e digno de pena. O longa é completamente filmado em sépia, algo que remete ao título do filme e o adorna em uma atmosfera severa e estopada; infelizmente o filme foi lançado aos cinemas em cor - o público não engoliu a proposta original de Houston. Se você apreciará Reflections on a Golden Eye pelo seu apelo “camp” ou por este presenciar uma ousada desconstrução da hipocrisia humana, não importa, é impossível não se deleitar com fantásticas cenas como a em que Elizabeth Taylor esbofeteia a face de Brando diversas vezes com um chicote (após o mesmo agredir seu garanhão predileto, Firebird) ou não se surpreender com o impressionante desfecho que, não só amarra a narrativa de forma brutal, mas de forma perversamente irônica - um filme que joga sua própria perversidade contra a de seus personagens é no mínimo saboroso.
O roteiro bem elaborado de Eric Roth, a direção firme de Peter Yates e um elenco afinado fazem de Suspect um eficiente e divertido thriller policial. A trama gira em torno do inesperado assassinato da secretária de um juiz que acabara de cometer suicídio; um sem-teto (Liam Neeson) é a principal suspeita e, como sua defensora judicial, entra a prudente advogada Kathleen (Cher) que, com a ajuda do ardiloso e dúbio Eddie (Quad) - um membro do painel do júri - começa a desvendar uma série de evidências e corrupções que possivelmente levariam ao verdadeiro culpado ou, pelo menos, à absolvição de seu cliente. Suspect revela-se surpreendentemente envolvente ao manter uma atmosfera de tensão desde seus créditos de abertura e desenvolvendo a trama com admirável tenacidade, criando personagens dicotômicos e, portanto, deixando o espectador atento ao comportamento destes e ao lento (porém interessante) desenrolar dos acontecimentos. Evitando se tornar um thriller frio ou demasiadamente pragmático, Suspect sabiamente investe no âmbito humano da narrativa, desenvolvendo no relacionamento inusitado de Kathleen e Eddie uma crescente tensão sexual que se enrola na trama política de forma natural e maneirada, não desviando o filme de tônica e ao mesmo tempo providenciando necessários momentos mais introspectivos e calorosos. Cher e Dennis Quad estão adequadíssimos em seus respectivos papéis e exibem formidável química, convencendo o espectador a pular a bordo de suas investigações incessantes e permitindo que desenvolvamos preocupação por aquelas pessoas e fiquemos ansiosos para que justiça seja feita. Suspect é feito de momentos delicados e de diferentes graduações nervosas; a cena em que Eddie e Kathleen realizam uma investigação na biblioteca do conselho jurídico (ainda que legalmente seja estritamente proibido que trabalhem juntos) gera boas doses de leve tensão quando os mesmos avistam o juiz do caso em que trabalham os observando atento, ao passo que o clímax do longa, envolve uma intensa perseguição de caráter hitchcockiano nos corredores do parlamento. Contando com um desfecho imprevisível e satisfatório (que ao mesmo tempo não desvalida ou desrespeita o explorado até então pelo roteiro), Suspect é uma boa pedida tanto para admiradores de Cher (sua atuação firme e de personalidade forte carrega o filme impecavelmente) quanto para aqueles interessados em um bom suspense policial.
Rabbit Hole é um filme dirigido elegantemente e pontuado por alguns bons momentos sensíveis, ainda que, ultimamente, se revele emocionalmente pouco satisfatório. O filme se desenvolve explorando a mágoa como um estado de espírito voluntário e evocando a idéia de diferentes realidades existentes dentro de nossa própria; o buraco do coelho – título original equivocadamente adaptado na versão brasileira como “Reencontrando a Felicidade” - é uma analogia à passividade espiritual e afetiva à qual Becca se enterra e permanece afundada em descontentamento, buscando saída na auto-vitimização e tornando-se, consequentemente, uma mulher amargurada – tão morta quanto o próprio filho. O filme acerta quando encontra alguma poesia no luto de Becca – em determinada cena, um quase acidente de carro ocorre, e Becca, ainda nas vestimentas de uma mãe preocupada, imediatamente verifica se o bolo de aniversário da irmã no banco de trás está seguro, cena que expõe de forma sensível como a inconformação de Becca em perder um filho conflita com seus instintos maternos ainda borbulhantes e agora pesados pela insignificância. A angústia de Becca ganha formidável intensidade nas mãos de Nicole Kidman que, visivelmente menos botocada, se entrega ao papel sem vaidades e convence ao apostar em uma atuação contida e honesta. Aaron Eckhart falha ao não emanar qualquer intensidade genuína, demonstrando-se inexpressivo em determinados momentos e demasiadamente explosivo em outros, transformando um personagem já pouco multifacetado em um sujeito insosso e aversivo. O que ultimamente penaliza Rabbit Hole e o impede de tocar como obra sensível são as rasas relações entre os personagens e a própria construção destes; em nenhum momento Rabbit Hole sugere que aquelas pessoas mereçam nossa atenção, já que todas elas (com a exceção talvez do garoto Jason, interpretado de forma admiravelmente complexa por Miles Teller) se revelam extremamente vazias e carentes de uma dissecação mais aprofundada do que a oferecida pelo filme. Rabbit Hole é um filme que se delonga em diálogos de pouco ”insight” e que, ao contrário do similar (e infinitamente superior) In the Bedroom, não questiona as imprudências de seus protagonistas de forma satisfatória, nunca permitindo que estes se revelem por completo ou mesmo que se provem interessantes ou complexos o suficiente para serem revelados. Rabbit Hole não é marcante porque lhe falta subjetividade, o filme é demasiadamente satisfeito consigo mesmo e, abdicado de personagens ou subtextos fascinantes, se dissolve sem muitos efeitos em sua própria inocuidade.
É uma produção espumosa típica do começo da década de sessenta, enaltecendo sem o menor indício de constrangimento os atributos físicos das protagonistas e apostando em melodrama barato para preencher seus (rasos) propósitos dramáticos. A fotografia é colorida e convidativa, a trilha sonora (indicada ao Oscar) adorna a futilidade do longa com requinte e as três moças são lindas. Ann-Margret, como de costume, rouba a cena ao se destacar com aleatórios números musicais que surgem como forma de auto-vangloriação e que, inevitavelmente, se tornam o melhor que o filme tem a oferecer – quem poderia se esquecer de Margret performando a canção-título em um justíssimo vestido fúcsia de babados? A sensualidade é tanta que demanda incontáveis replays, seja para apreciar as curvas de Ann ou simplesmente se deliciar com o exagero brutal com que a moça joga suas sedosas madeixas ruivas. Outras canções performadas pela atriz incluem “Everything Makes Music When You’re In Love” (Ann ostenta seu corpo lascivo em um apertado biquíni amarelo) e "Something to Think About" (uma sensual serenata de Ann destinada a seu interesse romântico); ainda que estes mini-espetáculos sejam infrutíferos à narrativa (se é que existe alguma), chegam a justificar a existência do filme – uma celebração inócua de música, beleza e do estilo "bon vivant" de ser. Para os apreciadores deste tipo de cinema “trash”, The Pleasure Seekers é de fato um eficiente prazer culposo; o filme indiscutivelmente se torna tépido quando os patéticos dramas se delongam demasiadamente (o filme alterna entre três distintos romances), mas, quando está no ápice de sua tolice, é frivolamente contagiante.
Thor é um blockbuster bem sucedido, conciliando uma narrativa de proporções épicas com momentos leves e bem-humorados com surpreendente eficiência, revelando-se uma experiência prazerosa e significantemente menos cansativa que esforços recentes da Marvel Comics. Thor (naturalmente) abusa de exageros – estes na forma de impressionantes efeitos especiais, o nível de detalhes do reino de Asgard, por exemplo, é de encher os olhos – mas os torna suportável ao também investir na estória humana e, ainda que esta não traga nenhuma originalidade ou mesmo desperte muito interesse em determinados aspectos (a rivalidade de Thor com o irmão é tepidamente batida), se apresenta de forma fluída e agradável. Sabiamente, Thor descarta uma estrutura demasiadamente convencional, já bombardeando o espectador com uma fantástica cena de ação passada no reino de gelo Jotunheim logo no início da projeção; aliás, a ação no filme é de uma forma geral impressionante e inegavelmente divertida, ainda que, a edição desconjuntada e frenética incomode em certos instantes. Thor se passa em três ambientes completamente distintos (Asgard, Terra e Jotunheim), portanto, é louvável que o longa não se perca com tantas transições, sabiamente evitando um enredo demasiadamente complexo ou lúgubre e ao invés disso apostando em uma tônica levemente afetada e fantasiosa, ideal para um projeto de tamanha extravagância e de função tão puramente escapista. Chris Hemsworth cria um Thor carismático e imprudente, captando a alma do personagem com energia e convicção e evitando tornar-se excessivamente aversivo ao espectador ao apostar em eficazes nuances cômicas - estas bem exploradas ao decorrer das hilárias primeiras interações de Thor com o mundo dos mortais. O elenco secundário também se prova competente; Natalie Portman está bela como sempre e brilha mesmo tendo em mãos um personagem pouco desenvolvido, ao passo que rostos menos conhecidos como Kat Dennings e Stellan Skarsgard, trazem diálogos cômicos repletos de sagacidade. Thor pode até não ser tão estimulante quanto seu final em aberto sugira com tanta veemência, mas é certamente diversão leve, descompromissada e eficiente.
Obsessed é um melodrama pseudo-noir absurdamente patético e ocasionalmente risível. Investe em uma trama rasa digna de uma tenebrosa novela mexicana e conta com atuações enfadonhas por toda parte do elenco, ainda que, Ali Larter - talvez a única consciente da tragédia fílmica em que está envolvida - traz na lasciva e estúpida Lisa Sheridan uma afetação divertida e deliciosamente efeminada. Beyoncé - mais uma vez - prova ser uma atriz medíocre, a cantora claramente se esforça para soar o mais convincente e intensa possível, infelizmente, falta-lhe naturalidade - cada semblante seu soa demasiadamente analisado e insuportavelmente falso. O desenrolar do filme é lento e depende veemente de uma tensão que na verdade não existe, este é um filme que se leva extremamente a sério mesmo quando as situações ganham um viés involuntariamente cômico – destaque para a cena em que a femme fatale Lisa seduz seu alvo (um homem casado, é claro) despindo-se dentro de seu carro e contorcidamente revelando sua obscena lingerie. Infelizmente, essa hilaridade não pretendida não é o suficiente para tornar o maçante Obsessed prazeroso e é indiscutível que, o grande apelo do longa, vem do divertido clímax que envolve uma exagerada luta fatal entre as moças protagonistas, um momento que destoa completamente do restante do filme mas que traz um apelo “trash” irresistível.
O Enigma de Outro Mundo
4.0 983 Assista AgoraEfeitos especiais grotescos e impressionantes e uma atmosfera lúgubre e sinistra quase compensam os personagens descartáveis e o roteiro frágil.
Festa no Céu
4.0 689 Assista AgoraÉ visualmente deslumbrante e explora uma temática interessantíssima, no entanto decepciona ao desenvolver personagens e narrativas esquemáticas em vez de se lançar no mundo da mitologia mexicana de maneira criativa e ousada como faz o jogo (e quase filme) Grim Fandango.
A Vingança do Diabo
3.3 103Cria uma atmosfera promissora durante o primeiro ato, mas infelizmente sucumbe à convenções do gênero mais tarde (empregando mortes pouco criativas e falhando em explorar qualquer personagem mais profundamente). O boneco-vilão criado por Winston é impressionante e nos dá uma ideia do que viria mais tarde a ser os dinossauros de Jurassic Park.
Divertida Mente
4.3 3,2K Assista AgoraInside Out é uma ideia cativante que aborda temas complexos e os transforma em uma narrativa divertida sem emburrecê-los, mas subvertendo-os em situações humorosas (e é claro que há também os momentos que levam às lágrimas - como já esperamos de filmes do estúdio)
No mundo do filme, cada pessoa tem dentro de sua mente cinco emoções: tristeza, alegria, raiva, nojo e medo. Cada uma com sua própria personalidade e desejos. Eles também habitam o "mundo da mente": há a caverna do inconsciente, as ilhas que definem a personalidade, o mundo da imaginação e etc. O filme é tão criativo que toca tanto adultos quanto crianças sem que haja a necessidade de recorrer a vulgaridade sutil para arrancar sorrisos amarelos dos adultos ou forçar um personagem demasiado engraçadinho para que as crianças menores gargalhem.
As cinco emoções que vivem dentro da garota Riley lidam com tudo que ela passa em seu cotidiano, mas essas coisas assumem outras formas em sua mente e é intrigante e divertido ver como suas memórias, desejos, relacionamentos, pesadelos, expectativas e todo tipo de experiência toma forma nesse mundo interno e como são abordadas pelos personagens.
O que faz de Inside Out um ótimo filme é a quantidade de sutilezas em cada situação e personagem. Por exemplo, o fato de Alegria ser amarela mas também possuir cabelo azul (a cor da Tristeza). A forma como o filme nos mostra que cada emoção é essencial e parte da vida e como o tempo todo elas interagem umas com as outras tornando nossa existência confusa, mas rica e complexa. O filme sagazmente materializa e personifica coisas que passam dentro de nós, mas que muitas vezes temos dificuldade de explicar, e nos oferece uma nova e imaginativa visão a respeito de como nos sentimos e pensamos - e faz isso com admirável simplicidade e engenho.
Cavalo de Guerra
4.0 1,9KSentimentalóide, o tipo de filme que Spielberg deveria evitar dirigir. É tecnicamente impecável, a fotografia é fabulosa.
Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras
3.8 2,2K Assista AgoraÉ impecavelmente produzido e conta com bons atores que logram o máximo de uma boa química; é, no entanto, um filme cujo exagero aliena qualquer investimento na trama ou na dramatização. As cenas de ação, apesar de bem-feitas, pecam pelo excesso da câmera lenta e pela edição buliçosa, conferindo ao filme um ar moderno e frenético que destoa grosseiramente da época em que se passa. É uma trama ordinária que, adornada de exageros implausíveis e guiada com frenesi constante, se complica para forjar-se de inteligente e se conclui marcada pelo excesso e com efeitos exaustivos no espectador.
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraMelancholia é o filme-catástrofe mais pungente e devastador de todos os tempos e, admiravelmente, consegue tal proeza sendo talvez o de menor orçamento e também o mais contido. Ao contrário de filmes como Deep Impact ou o mais recente 2012, a força de Melancholia não está na carnificina ou na dramatização afetada, mas na poderosa metáfora na qual este se imerge desde os primeiros minutos, onde estabelece de forma brilhante um paralelo entre o planeta Melancholia (que se aproxima cada vez mais da terra para engoli-la) e a tristeza profunda e crescente de Justine (vivida intensamente por Kirsten Dunst), uma jovem engolida por uma tristeza profunda. O casamento de Justine (cenário que o filme foca durante a primeira parte) revela o cerne pútrido do tema abordado pelo longa, a jovem se encontra presa em um mundo de aparências, interesses e egoísmo; elementos personificados por personagens que se recusam em demonstrar qualquer preocupação com os sentimentos de Justine, revelando-se durante a festa como criaturas cínicas, insensíveis ou afetivamente ausentes. É interessante observar como - em uma das melhores cenas do filme - uma Justine aflita arranca pinturas modernas de uma estante e as substitui por quadros humanos e de alto teor dramático (o destaque, é claro, vai para “Ophelia” de Millais), como se ela, ao tomar tal atitude, repudiasse a perfeição geométrica e fria da família e clamasse seus sentimentos mais desesperados - é como se ela gritasse em prantos: “Olhem para mim, enxerguem o que estou sentindo!”. Justine é uma de muitas Ophelias e, se a imagem da moça flutuando com semblante fúnebre em um lago na abertura do filme não fosse evocativo o suficiente, o filme explora com intensidade o abisso emocional cada vez mais profundo em que a jovem se encontra; assim como a personagem icônica de Shakespeare, ela se sente vitimizada e desvalorizada, afogada e morta na própria angústia, ainda que, na vida real, seja pressionada a se comportar de acordo com o que se espera de uma noiva prestes a se casar. A segunda parte do filme foca em Claire (irmã de Pauline), uma mulher obsessiva e também deprimida, ainda que (ao contrário da irmã) capaz de controlar e manter uma atitude friamente emproada. Sentindo nas entranhas a angústia da irmã, mas incapaz de enfrentá-la ou buscar entende-la, ela se limita a cuidados enfermais e preocupações superficiais com a mesma (“venha tomar um banho.”), algo que, naturalmente, não afeta ou resgata Justine de forma alguma - ela permanece fleumática e lúgubre, conformada com sua dor, no fundo do poço. E talvez seja desta situação que surja a reflexão mais dolorosa do longa – assim como Claire (ou Justine), todos nós estamos (em um nível ou outro) sozinhos com nossa própria angústia e, às vezes, encara-la é tão difícil que preferimos negligencia-la e sofrer em silêncio, apesar de sua imensa, pungente e inegligenciável magnitude. Melancholia é uma afirmação visceral de que não é necessária (ou ao menos não deveria ser necessária) uma catástrofe física ocorrer para entendermos que a forma como vemos o mundo e nos relacionamos com as pessoas está desgastada. O verdadeiro apocalipse está na alienação das pessoas do lado espiritual e emocional delas mesmas, e é daí que vem o maior caos de todos, aquele caos que nos engole e nos mastiga sem que percebamos. A ameaça iminente do planeta Melancholia prestes a se chocar com a Terra apenas torna inevitável enxergar aquilo que os personagens (em especial Claire) tentavam camuflar e negligenciar – a tragédia de proporção igualmente cósmica e devastadora dentro deles mesmos.
A Casa com Janelas Sorridentes
3.6 44Demasiadamente pretensioso e monótono para agradar aos fãs de "trash" e pedestre demais para possuir qualquer apelo "art-house". Atuações enfadonhas e direção insípida não fazem jus a um conceito bizarro até promissor.
O Dilema
2.8 235 Assista AgoraFalha insipidamente como comédia e drama, equivocando-se em tom diversas vezes, desperdiçando o elenco feminino em papéis insignificantes e se concluindo como um filme "nada".
Que o Céu a Condene
3.7 9No elegantemente dirigido Deception, Bette Davis - apesar de imponente como nunca - é ofuscada por uma performance absolutamente brilhante de Claude Rains, que cria no inteligentíssimo, perverso e auto-indulgente compositor Alexander Hollenius, uma das figuras mais memoráveis já colocadas em película. Os diálogos são riquíssimos, os figurinos exuberantes e duas cenas em particular perduram com louvor - o jantar no qual Hollenius se deleita na própria garbosidade e humilha os convidados ao demorar horas para concluir um pedido e, é claro, o pungente confronto final entre Davis e Rains, um verdadeiro espetáculo de titãs.
Feita em Paris
3.6 1Típico veículo sessentista designado unicamente para exibir os dotes de Ann-Margret. Romance tedioso, roteiro pedestre e elenco masculino faltando em autenticidade. Ann-Margret está belíssima, usa figurinos fabulosos e - como não pode faltar em seus filmes - protagoniza uma excelente seqüência de dança que acaba valendo por todo filme.
Cópia Fiel
3.9 452 Assista AgoraDiscute de forma criativa e inspirada os conceitos de originalidade e cópia e como ambos só ganham qualquer relevância quando subjugados pela percepção individual; o longa explora tal idéia brilhantemente na relação construída pelo casal principal; que em forma de brincadeira, alterna-se entre fantasia e realidade sem jamais tornar-se de fato inverossímil – os sentimentos são sempre reais independente de como manifestados ou fantasiados.
Elvira Madigan
3.8 13"Sempre fui corajosa na corda bamba, mas covarde no solo." (Elvira Madigan)
Mortal Kombat 2: A Aniquilação
2.6 338 Assista AgoraUm prazer culposo por excelência.
Tudo Sobre Minha Mãe
4.2 1,3K Assista AgoraTodo sobre mi madre é uma hilariante, sensível e autêntica homenagem de Almodóvar à mulher (em especial as mães), desenvolvendo diversos e destoantes personagens femininos em um universo onde ser mulher não é simplesmente possuir (ou não) peitos, mas se colocar orgulhosamente sob os holofotes da vida - atuar como si mesma vestindo a feminilidade à flor da pele. Almodóvar deixa claro sua paixão pelas grandes divas do cinema (Bette Davis é referenciada constantemente e o próprio título do longa é uma brincadeira com o clássico All About Eve) e permeia à narrativa com brilhantes referências ao impacto dessas, não só na vida de seus personagens, como também na sua própria identidade como diretor. Almodóvar celebra seus personagens femininos os permitindo máxima liberdade de expressão e sujeitando o longa como se este fosse o palco daquelas mulheres, abrindo espaço para que experiências sejam compartilhadas e para que vidas destoantes, quando entrelaçadas, reganhem significado. Cada frame do longa é chancelado pela típica vivacidade do diretor que, tipicamente apostando em uma fotografia de cores fortes (o vermelho sendo a mais evidenciada), dá ao filme, esteticamente, a intensidade e o caráter emanado por suas complexas mulheres. Todo sobre mi madre reúne figuras distintas e que, muitas vezes, tem em comum apenas um vínculo forte com a própria feminilidade; seja o afetado travesti Agrado ou a ingênua irmã Rosa (vivida com admirável inocência por uma jovem Penélope Cruz), todas as mulheres aqui encontram na outra um companheirismo comovente e explorado pelo roteiro em cenas excepcionalmente sensíveis e marcantes; é interessante observar como os homens surgem extremamente tolos ou inconseqüentes, revelando não um sexismo por parte do diretor, mas uma convicção de que a união da mulher, regada de compaixão, é uma das armas mais poderosas e subestimadas. Cecilia Roth está impecável como Manuela, uma mãe amargurada com a morte recente do filho e que volta à Barcelona para encarar seu passado e se redescobrir, uma jornada que a põe cara a cara com seus próprios demônios e conclui um ciclo vital de sua vida, tornando-a mais forte, mais sábia e como Almodóvar faz questão de evidenciar, mais mulher do que nunca.
Anastasia, a Princesa Esquecida
3.7 48 Assista AgoraEsta suntuosa adaptação da história de Anastásia Romanov marcou o retorno de Ingrid Bergman às graças do público americano; depois de um escandaloso caso com o diretor italiano Roberto Rossellini (ele e Bergman já eram casados quando se envolveram amorosamente na produção do longa Stromboli), a atriz foi forçada a fugir para a Europa a fim de evitar o assédio e a condenação da mídia. Como protagonista de Anastásia – sua primeira produção americana em sete anos - a atriz foi agraciada com seu segundo Oscar (ela ainda receberia um terceiro por Murder on the Orient Express) e aclamada novamente por crítica e público – um retorno triunfal ao melhor estilo Hollywoodiano de ser. Anastásia é um competente melodrama guiado por uma performance magistral de Bergman, a estória do filme diverge levemente do ocorrido à verdadeira Anna Anderson - esta nunca chegou a conhecer a imperatriz russa (sua suposta avó) ou mesmo a provar sua identidade como Anastásia como o longa sugere; pouco importa, estamos falando de Hollywood afinal, a glamourização de fatos é inevitável e, naturalmente, serve bem ao propósito deste bem orquestrado e envolvente épico. Anatole Litvak conduz o filme de forma demasiadamente reverencial em determinados momentos, mas é competente ao estabelecer uma narrativa fluída que permite o desenvolver de seus personagens mas também evita lentidões desnecessárias. O roteiro de Arthur Laurents (baseado na peça de Marcelle Maurette) é em muitos aspectos louvável; os diálogos (conservados da peça), além de revelarem muito sobre cada personagem, são excepcionalmente ricos e afiados, tornando Anastásia um filme de prazerosa apreciação e que nunca falha em entusiasmar. Todavia, o roteiro não explora o suficiente a relação de Anastásia com o ardiloso oportunista russo Bounine (apesar de sugerir tensão romântica entre os dois de forma prazerosa em primeiros instantes), algo imperdoável, já que compromete o brilhante desfecho do filme, cujo impacto depende inteiramente na veemência da relação do casal. Ingrid Bergman é fantástica como Anastásia, a progressão de lunática andarilha para mulher sofisticada ocorre de forma natural e prazerosa nas mãos da atriz, que confere à princesa esquecida uma ambigüidade fascinante e a torna um ser humano crível e complexo, perdida em memórias que nem a própria consegue discernir suas veracidades, mas também uma mulher viva, pulsante em seus desejos e aflita por uma identidade própria. O grande triunfo de Anastásia, porém, é a atuação de Helen Hayes como a imperatriz russa Maria Feodorovna, além de injetar brilhantes tiradas sarcásticas em figuras antipáticas e hipócritas da corte (“na sua idade sexo deveria ser apenas um gênero!”), a atriz cria um personagem extremamente tocante e de admirável “insight” (“a maioria de nós se sente sozinho, e é quase sempre por causa de nós mesmos”). Hayes brilha com destacável excelência na formidável cena em que encontra pela primeira vez Anastásia – a personagem quebra seu semblante gélido ao reconhecer a neta e revela-se uma mulher sofrida por debaixo de sua carcaça augusta e até então irremovível; como é revelado mais tarde pela mesma acerca de si em um diálogo com a princesa - sou apegada ao passado porque este é caloroso e repleto de boas memórias, distante do presente, pois este é frio e de nada tem-se certeza.
Titanic
4.0 4,6K Assista AgoraTitanic é um filme extremamente convencional, todos os elementos que marcaram o cinema Hollywoodiano clássico, aqui se fazem presentes – um amor proibido e intenso, antagonistas hipócritas e maquiavélicos, uma grande catástrofe inevitável, direção de arte suntuosa e, é claro, a indispensável trilha sonora melodramática – e a verdade é que, não há absolutamente nada de errado com isso. Titanic usufrui de tais elementos com tamanha maestria que, é como se estivéssemos vendo tudo pela primeira vez. James Cameron não poupou gastos, desde a construção de um barco pouco menor que o verdadeiro Titanic até extensas seqüências que mostram luxuosamente o interior do navio, ele transformou o longa em uma experiência envolvente e crível, cujo ritmo segue de forma impecável ao mesclar a tensão que antecede a fatídica catástrofe com a tensão do relacionamento de Jack e Rose, cujo desenvolvimento conta com seus próprios icebergs – sejam estes na forma de um marido ciumento ou de hipocrisia vinda das pomposas madames da alta sociedade. Ainda que Titanic seja essencialmente um filme de desastre, o drama humano sempre prevalece e se mostra satisfatoriamente intenso – parte disso, é claro, deve-se às impecáveis atuações por parte de um elenco extremamente bem utilizado. Kate Winslet teve aqui a chance de se provar uma das atrizes mais talentosas de sua geração, ela cria em Rose uma mulher cuja intensidade e vulnerabilidade conquistam o espectador e justificam plenamente a fascinação de Jack pela moça. Leonardo DiCaprio, injustiçado pelas críticas na época (talvez apenas pelo fato de que o longa propeliu sua reputação de ídolo adolescente), dá aqui uma performance entusiasmada e sensível, talvez não tão nuançada como a de Winslet, mas certamente adequadíssma ao projeto. Basicamente dividido em dois capítulos (o primeiro investindo na caracterização dos personagens e o segundo focado na tragédia), Titanic sucede excepcionalmente bem em ambos. A relação dos protagonistas é desenvolvida de forma lenta e carregada de momentos marcantes, ao passo que no segundo ato, somos bombardeados por efeitos especiais impressionantes que, entusiasmam com imponência, mas habilmente não desviam o filme do verdadeiro foco - o romance. Titanic ainda se conclui de forma sensível, utilizando-se da atuação magistral da lendária Gloria Stuart (como a versão idosa de Rose) para amarrar a trama no presente e se concluir de forma tocante e admiravelmente serena. Titanic é o Gone With the Wind dessa geração.
O Pecado de Todos Nós
3.9 59 Assista AgoraUm conto gótico-sulista extremamente prazeroso de se assistir, conciliando drama sério com deliciosos momentos de pura afetação, resultando em uma obra compulsivamente assistível e marcada por personagens excêntricos e cenas inesquecíveis. O filme gira em torno da relação de diversas pessoas em um campo militar; temos Elizabeth Taylor como a frívola e fogosa Leonora, obcecada com seu cavalo de corrida Firebird e casada com o Major Weldon Penderton (Brando em uma de suas atuações mais desafiadoras), com quem cultiva uma relação de provocação e ódio atenuada em cenas brilhantes; em determinado momento, Leonora repudia as recomendações repressivas do marido e despe-se à sua frente, lançando o sutiã em seu rosto e subindo lentamente as escadas ostentando suas curvas à meia luz. Reflections On a Golden Eye escancara as hipocrisias de seus personagens com boas doses de malícia e expõe seus comportamentos questionáveis como atos de puro egoísmo e luxúria, desde o problemático casal protagonista até o vizinho Coronel Morris Langdon – este negligencia a esposa Allison e mantém um caso secreto com Leonora - todos encontram em subterfúgios vazios e promíscuos uma forma de escapar da rigidez hipócrita que vivenciam diariamente; não é de se surpreender, portanto, que a única personagem sã e sensível em meio a esse caos louco pintado de aparências, a sofrida Allison (intepretada magnificamente por Julie Harris), seja taxada por todos os vizinhos como louca e auto-destrutiva – em um mundo de loucos, a única saída que ela encontra é na alieanação. O filme encontra seus melhores momentos na excêntrica relação de Allison com seu (único) amigo, o efeminado criado Anacleto (Zorro David é uma figura!), juntos eles providenciam os diálogos mais cômicos do longa e cativam o espectador ao se tornarem, excomungados, os únicos a questionarem a hipocrisia repulsiva que os cerca. Marlon Brando encarna talvez o personagem que mais evidencia a proposta do filme, Major Weldon é uma figura completamente sustentada em sua aparência, portanto, quando este começa a se sentir atraído por um recruta voyeurista de olhos dourados (cujo objeto de fascínio é ironicamente a esposa de Weldon, Leonora), ele começa a entrar em uma profunda crise interna, revelando-se um sujeito cuja sensibilidade vira seu maior inimigo, já que, austeramente impedido de se expressar pela própria condição social que ocupa, se torna um homem extremamente miserável e digno de pena. O longa é completamente filmado em sépia, algo que remete ao título do filme e o adorna em uma atmosfera severa e estopada; infelizmente o filme foi lançado aos cinemas em cor - o público não engoliu a proposta original de Houston. Se você apreciará Reflections on a Golden Eye pelo seu apelo “camp” ou por este presenciar uma ousada desconstrução da hipocrisia humana, não importa, é impossível não se deleitar com fantásticas cenas como a em que Elizabeth Taylor esbofeteia a face de Brando diversas vezes com um chicote (após o mesmo agredir seu garanhão predileto, Firebird) ou não se surpreender com o impressionante desfecho que, não só amarra a narrativa de forma brutal, mas de forma perversamente irônica - um filme que joga sua própria perversidade contra a de seus personagens é no mínimo saboroso.
Sob Suspeita
3.5 36 Assista AgoraO roteiro bem elaborado de Eric Roth, a direção firme de Peter Yates e um elenco afinado fazem de Suspect um eficiente e divertido thriller policial. A trama gira em torno do inesperado assassinato da secretária de um juiz que acabara de cometer suicídio; um sem-teto (Liam Neeson) é a principal suspeita e, como sua defensora judicial, entra a prudente advogada Kathleen (Cher) que, com a ajuda do ardiloso e dúbio Eddie (Quad) - um membro do painel do júri - começa a desvendar uma série de evidências e corrupções que possivelmente levariam ao verdadeiro culpado ou, pelo menos, à absolvição de seu cliente. Suspect revela-se surpreendentemente envolvente ao manter uma atmosfera de tensão desde seus créditos de abertura e desenvolvendo a trama com admirável tenacidade, criando personagens dicotômicos e, portanto, deixando o espectador atento ao comportamento destes e ao lento (porém interessante) desenrolar dos acontecimentos. Evitando se tornar um thriller frio ou demasiadamente pragmático, Suspect sabiamente investe no âmbito humano da narrativa, desenvolvendo no relacionamento inusitado de Kathleen e Eddie uma crescente tensão sexual que se enrola na trama política de forma natural e maneirada, não desviando o filme de tônica e ao mesmo tempo providenciando necessários momentos mais introspectivos e calorosos. Cher e Dennis Quad estão adequadíssimos em seus respectivos papéis e exibem formidável química, convencendo o espectador a pular a bordo de suas investigações incessantes e permitindo que desenvolvamos preocupação por aquelas pessoas e fiquemos ansiosos para que justiça seja feita. Suspect é feito de momentos delicados e de diferentes graduações nervosas; a cena em que Eddie e Kathleen realizam uma investigação na biblioteca do conselho jurídico (ainda que legalmente seja estritamente proibido que trabalhem juntos) gera boas doses de leve tensão quando os mesmos avistam o juiz do caso em que trabalham os observando atento, ao passo que o clímax do longa, envolve uma intensa perseguição de caráter hitchcockiano nos corredores do parlamento. Contando com um desfecho imprevisível e satisfatório (que ao mesmo tempo não desvalida ou desrespeita o explorado até então pelo roteiro), Suspect é uma boa pedida tanto para admiradores de Cher (sua atuação firme e de personalidade forte carrega o filme impecavelmente) quanto para aqueles interessados em um bom suspense policial.
Reencontrando a Felicidade
3.5 622Rabbit Hole é um filme dirigido elegantemente e pontuado por alguns bons momentos sensíveis, ainda que, ultimamente, se revele emocionalmente pouco satisfatório. O filme se desenvolve explorando a mágoa como um estado de espírito voluntário e evocando a idéia de diferentes realidades existentes dentro de nossa própria; o buraco do coelho – título original equivocadamente adaptado na versão brasileira como “Reencontrando a Felicidade” - é uma analogia à passividade espiritual e afetiva à qual Becca se enterra e permanece afundada em descontentamento, buscando saída na auto-vitimização e tornando-se, consequentemente, uma mulher amargurada – tão morta quanto o próprio filho. O filme acerta quando encontra alguma poesia no luto de Becca – em determinada cena, um quase acidente de carro ocorre, e Becca, ainda nas vestimentas de uma mãe preocupada, imediatamente verifica se o bolo de aniversário da irmã no banco de trás está seguro, cena que expõe de forma sensível como a inconformação de Becca em perder um filho conflita com seus instintos maternos ainda borbulhantes e agora pesados pela insignificância. A angústia de Becca ganha formidável intensidade nas mãos de Nicole Kidman que, visivelmente menos botocada, se entrega ao papel sem vaidades e convence ao apostar em uma atuação contida e honesta. Aaron Eckhart falha ao não emanar qualquer intensidade genuína, demonstrando-se inexpressivo em determinados momentos e demasiadamente explosivo em outros, transformando um personagem já pouco multifacetado em um sujeito insosso e aversivo. O que ultimamente penaliza Rabbit Hole e o impede de tocar como obra sensível são as rasas relações entre os personagens e a própria construção destes; em nenhum momento Rabbit Hole sugere que aquelas pessoas mereçam nossa atenção, já que todas elas (com a exceção talvez do garoto Jason, interpretado de forma admiravelmente complexa por Miles Teller) se revelam extremamente vazias e carentes de uma dissecação mais aprofundada do que a oferecida pelo filme. Rabbit Hole é um filme que se delonga em diálogos de pouco ”insight” e que, ao contrário do similar (e infinitamente superior) In the Bedroom, não questiona as imprudências de seus protagonistas de forma satisfatória, nunca permitindo que estes se revelem por completo ou mesmo que se provem interessantes ou complexos o suficiente para serem revelados. Rabbit Hole não é marcante porque lhe falta subjetividade, o filme é demasiadamente satisfeito consigo mesmo e, abdicado de personagens ou subtextos fascinantes, se dissolve sem muitos efeitos em sua própria inocuidade.
Em Busca do Prazer
2.9 2É uma produção espumosa típica do começo da década de sessenta, enaltecendo sem o menor indício de constrangimento os atributos físicos das protagonistas e apostando em melodrama barato para preencher seus (rasos) propósitos dramáticos. A fotografia é colorida e convidativa, a trilha sonora (indicada ao Oscar) adorna a futilidade do longa com requinte e as três moças são lindas. Ann-Margret, como de costume, rouba a cena ao se destacar com aleatórios números musicais que surgem como forma de auto-vangloriação e que, inevitavelmente, se tornam o melhor que o filme tem a oferecer – quem poderia se esquecer de Margret performando a canção-título em um justíssimo vestido fúcsia de babados? A sensualidade é tanta que demanda incontáveis replays, seja para apreciar as curvas de Ann ou simplesmente se deliciar com o exagero brutal com que a moça joga suas sedosas madeixas ruivas. Outras canções performadas pela atriz incluem “Everything Makes Music When You’re In Love” (Ann ostenta seu corpo lascivo em um apertado biquíni amarelo) e "Something to Think About" (uma sensual serenata de Ann destinada a seu interesse romântico); ainda que estes mini-espetáculos sejam infrutíferos à narrativa (se é que existe alguma), chegam a justificar a existência do filme – uma celebração inócua de música, beleza e do estilo "bon vivant" de ser. Para os apreciadores deste tipo de cinema “trash”, The Pleasure Seekers é de fato um eficiente prazer culposo; o filme indiscutivelmente se torna tépido quando os patéticos dramas se delongam demasiadamente (o filme alterna entre três distintos romances), mas, quando está no ápice de sua tolice, é frivolamente contagiante.
Patch Adams: O Amor É Contagioso
4.1 1,2K Assista AgoraHollywood em seu estado mais aversivamente sacarino e manipulador.
Thor
3.3 3,1K Assista AgoraThor é um blockbuster bem sucedido, conciliando uma narrativa de proporções épicas com momentos leves e bem-humorados com surpreendente eficiência, revelando-se uma experiência prazerosa e significantemente menos cansativa que esforços recentes da Marvel Comics. Thor (naturalmente) abusa de exageros – estes na forma de impressionantes efeitos especiais, o nível de detalhes do reino de Asgard, por exemplo, é de encher os olhos – mas os torna suportável ao também investir na estória humana e, ainda que esta não traga nenhuma originalidade ou mesmo desperte muito interesse em determinados aspectos (a rivalidade de Thor com o irmão é tepidamente batida), se apresenta de forma fluída e agradável. Sabiamente, Thor descarta uma estrutura demasiadamente convencional, já bombardeando o espectador com uma fantástica cena de ação passada no reino de gelo Jotunheim logo no início da projeção; aliás, a ação no filme é de uma forma geral impressionante e inegavelmente divertida, ainda que, a edição desconjuntada e frenética incomode em certos instantes. Thor se passa em três ambientes completamente distintos (Asgard, Terra e Jotunheim), portanto, é louvável que o longa não se perca com tantas transições, sabiamente evitando um enredo demasiadamente complexo ou lúgubre e ao invés disso apostando em uma tônica levemente afetada e fantasiosa, ideal para um projeto de tamanha extravagância e de função tão puramente escapista. Chris Hemsworth cria um Thor carismático e imprudente, captando a alma do personagem com energia e convicção e evitando tornar-se excessivamente aversivo ao espectador ao apostar em eficazes nuances cômicas - estas bem exploradas ao decorrer das hilárias primeiras interações de Thor com o mundo dos mortais. O elenco secundário também se prova competente; Natalie Portman está bela como sempre e brilha mesmo tendo em mãos um personagem pouco desenvolvido, ao passo que rostos menos conhecidos como Kat Dennings e Stellan Skarsgard, trazem diálogos cômicos repletos de sagacidade. Thor pode até não ser tão estimulante quanto seu final em aberto sugira com tanta veemência, mas é certamente diversão leve, descompromissada e eficiente.
Obsessiva
2.7 721 Assista AgoraObsessed é um melodrama pseudo-noir absurdamente patético e ocasionalmente risível. Investe em uma trama rasa digna de uma tenebrosa novela mexicana e conta com atuações enfadonhas por toda parte do elenco, ainda que, Ali Larter - talvez a única consciente da tragédia fílmica em que está envolvida - traz na lasciva e estúpida Lisa Sheridan uma afetação divertida e deliciosamente efeminada. Beyoncé - mais uma vez - prova ser uma atriz medíocre, a cantora claramente se esforça para soar o mais convincente e intensa possível, infelizmente, falta-lhe naturalidade - cada semblante seu soa demasiadamente analisado e insuportavelmente falso. O desenrolar do filme é lento e depende veemente de uma tensão que na verdade não existe, este é um filme que se leva extremamente a sério mesmo quando as situações ganham um viés involuntariamente cômico – destaque para a cena em que a femme fatale Lisa seduz seu alvo (um homem casado, é claro) despindo-se dentro de seu carro e contorcidamente revelando sua obscena lingerie. Infelizmente, essa hilaridade não pretendida não é o suficiente para tornar o maçante Obsessed prazeroso e é indiscutível que, o grande apelo do longa, vem do divertido clímax que envolve uma exagerada luta fatal entre as moças protagonistas, um momento que destoa completamente do restante do filme mas que traz um apelo “trash” irresistível.