Quanta tensão! Uma apreensão crescente, num ritmo coerente com a proposta minuciosa do thriler. "O eu é o outro"... Trama que se constrói em camadas, tal qual a tridimensionalidade do "eu", como num iceberg, cujo ápice é a nossa projeção pro mundo, condicionante e repressiva; o corpo do iceberg funcionando como um constituinte de racionalidade e intercomunicação entre nossa projeção social e os nossos desejos; na base dessa estrutura, uma imensidão extensa, submersa e profunda, onde habita e se contorce o inconsciente, as paixões pungentes, os instintos... quão complexa é a questão de ser. A série mostra justamente a fluidez entre essa conjunção não sobreposta e a inquietude que pode nos fazer agonizar sob a nossa própria pele. Toda essa complexidade reverbera amplificada no atormentado "eu" de Jean/Diane. É evidente a "deficiência" na estrutura do ego de Jean. Talvez seus impulsos fossem tão pungentes que a questão da busca incessante por controle se manifestasse de tal maneira a fazê-la
romper com toda a conduta modulada pela sua profissão e também o que se preconiza e espera de um indivíduo em sociedade, fazendo-a transgredir essas condicionantes, de forma compulsiva e obsessiva.
A interferência de Diane no curso da vida dos outros, entendo que se dava como uma expressão exagerada da "empatia" que ela sentia nas situações que lhe eram narradas em consultório, situações que lhe permitiam se projetar... como escapismos à singularidade do eu. Os seus valores são distorcidos e há uma frieza e impessoalidade inerente às suas relações, na contramão da intensidade com que se relacionava. Ela se projetava, mas não conseguia se conectar, por isso agia no extremo do seu hedonismo e egocentrismo e com tamanha imprudência.
Eu acredito ser inconteste o transtorno de personalidade manifestado de forma mordaz e a própria compulsão, que protagoniza como causa e também como consequência, numa cadeia imprevisível de desdobramentos. Compulsão tal que mesmo desejando abster-se da multiplicidade dos seus "eus" pela família, não havia como abrir mão do seu eu multifacetado, já há muito fragmentado nas vidas paralelas que ela levava.
A imprevisibilidade vai numa crescente, diretamente proporcional ao grau dos desdobramentos das situações que Diane criou...
mostrando claramente, como evidência última, o seu raciocínio incomum, difícil de acompanhar, que vai na tangente e ao avesso de tudo o que é considerado aceitável, na medida do seu próprio transtorno, seja ele qual for.
Assisti esse filme em família e as opiniões foram controversas.
É notável o modo como qualquer ideologia dissonante do modelo primado sobre o status quo, enraizado no senso comum e que vá de encontro e conteste seus paradigmas é tão precocemente deslegitimada e rejeitada ferozmente.
Genial a introdução de Lolita no desenvolver do roteiro, como modo de engatilhar uma referência esperta de realidade distante, porém análoga á própria história de Capitão Fantástico: o modo como vemos o filme com simpatia e complacência, já que ele é narrado sob a perspectiva de Ben, muito embora, os excessos de convicção aos quais os seus filhos eram submetidos, fosse uma forma de abuso, pois forçar a tradução de uma ideologia à realidade prática, privando-os do mundo social (que para além de qualquer crítica é o pilar que fundamenta uma sociedade) e de certo modo, privando-os das percepções desse mundo e da própria inteligencia emocional que se desenvolve na interação social, ainda que numa sociedade patética, configura sim uma arbitrariedade.
De todo modo, foi doloroso ver a falência de uma convicção, principalmente quando essa convicção abrange e rege tantos aspectos da vida de outrem... É assistir um fundamento ceder, apesar de toda sua boa intenção. Como disse antes, ideologias dissonantes, ao menos por hora, tornam-se frágeis em sua tradução à realidade, ainda mais quando postas de forma brusca ante às concepções do sistema social em vigor... O que se prova triste já que afasta grande parte de qualquer possibilidade de diversidade de outros modos de vida, que são ainda mais legítimos por sua essência.
Roteiro lindo e espirituoso, te transporta pro filme e você sente o amor e os receios dos excêntricos Cash e, por vezes, se pega esbaforida como se tivesse acabado de correr as florestas do Pacífico e desossar um cervo, ou, ainda, cantarolando Sweet Child O'Mine, quase que involuntariamente. Maravilhoso em tantos níveis! A trilha sonora tão extraordinária quanto o próprio filme. Lindo, legítimo e um verdadeiro aprendizado, como disse o meu pai, rs. Grata por ter visto em família!
O grande lance das distopias são as inesgotáveis realidades análogas que elas evocam, como metáforas do presente. Ford e seu admirável mundo novo - sendo a Soma, nessa reinvenção, o próprio “eu-narrador” internalizado.
"E é aí que está o segredo da felicidade e da virtude: gostar daquilo que se é obrigado a fazer. Tal é o fim de todo o condicionamento: fazer as pessoas apreciarem o destino social a que não podem escapar."
O grande pecado do criador foi ter ignorado que a tela/criatura era, na verdade, um espelho.
E no conforto dessa perspectiva invertida, a potencia humana substanciada nos "anfitriões" tomou seu curso, e as marionetes dos deuses rumaram, "naturalmente", à introspecção... Deixando claro que a verdadeira alforria, a liberdade, é um estado mental. E o caminho a esse ocaso, acaba sendo o domínio da própria consciência,
afinal, “a liberdade é um fazer que realiza um ser"... E esse foi o nascimento da essência, ou melhor, o Nascimento da Tragédia.
"A imobilidade das coisas que nos cercam talvez lhes seja imposta por nossa certeza de que essas coisas são elas mesmas e não outras, pela imobilidade de nosso pensamento perante elas..."
"Trompe-l'oeil: Técnica ilusionista que dá ao expectador uma perspectiva tridimensional de objetos de duas dimensões." Juro que já tinha imaginado a possibilidade de Bernard ser um "anfitrião", porém todo o background dele me faz afastar essa ideia... O que tornou ainda mais cruel (e assustador) conceber que de fato ele era um "autômato".
Aliás, quantos plot twists cabem em um personagem? Que série genial!
Westworld foi um verdadeiro ode à filosofia, à duplicidade do apolíneo e dionisíaco tanto como interpretação da mente bicameral, à demonstração do quadro de Michelangelo, quanto na própria catarse de William, que busca na arte daquele mundo, no belo, a sua libertação... Afinal, se tudo que é verdadeiro é belo, a verdade desse mundo seria concebível pela sua beleza... E essa se torna a verdadeira jornada.
Quando William teve todo o seu idealismo esvaziado, no momento em que encarou o fato de que Dolores estava fadada às infinitas repetições da sua criação, nos limites da sua programação, do seu personagem, como um simulacro, houve uma ruptura de onde nasceu uma fixação e a ele restou render-se a uma jornada violenta em busca da plenitude do potencial daquele mundo, como forma de significa-lo, de torná-lo verdadeiro... Nada mais justo que o produto do parque, o homem que William se tornou, se tornasse um fim em si mesmo e por este mundo fosse consumido.
Exit Music (for a film) me deslumbrou por tamanha coerência, pelo seu encaixe perfeito com o final do ultimo episódio. Que série soberba é essa?! Merece SIM todo o hype.
Só uma série desse calibri pra referenciar com tanta maestria o cotidiano político, em suas entranhas e dores, no seu aspecto mais sujo e ainda fazê-lo de forma palatável... Cara, sensacional! Putin que o diga hahaha "Viktor, are you in love com essa p*ta série?"
É agridoce acompanhar o pêndulo oscilar entre a imponência e a impotência do Frank. Dentre os golpes e abismos, o da Claire atingiu minha própria pele... A aflição cresce progressivamente, de episódio pra episódio, e por mais que você saiba no que vai desembocar, fica descrente e no final e sente todo o amargor.
A tensão levou todo o ar do cômodo e só então, eu me dei conta de que prendia a respiração... Foi em vão.
Dentre as tentativas da globo em se aventurar nas superproduções e na quebra do estigma da babaquice das novelas das oito, eis que surge um sopro de alivio à pretensão que beira o pedantismo no circo melodramático do horário nobre... E que surpresa boa! E sem contar as altas expectativas que o sobrenome de Meireles carrega em qualquer sublinhado...
Sigur Rós (foi, num foi?) de cara e a referência descarada a Anticristo que confesso ter dado um certo amargor: Porque sim, Fernando, existe um fenômeno no qual eventuais telespectadores da Globo assistem a Lars Von Trier (talvez na tela quente)... Então por pouco (e para alguns) a ignorância, nem a piscina, não salvou a cena e a sua potencial "genialidade reciclada"... Infelizmente, aliás. Esperava algo mais """original""", até porque Lars já patenteou e limitou os bebês-suicidas (rs)
Porém, sempre bom contemplar o encontro da acidez que lhe é característica e ímpar com seu ferrenho aliado na contraposição das cenas - armas infalíveis e de assinatura certeira. Santíssima seja sua dialética!... Que faz valer qualquer desencontro com as boas vindas do Bial.
cara, adoro besteirol adolescente (na maioria das vezes, por motivos de: vegetar, passar o tempo, sessão da tarde n tá boa hj e etc) mas Palo Alto é um s a c o, não consegui mais que meia hora de filme
Sou fã da direção do Linklater, da realidade que ele impõe em cada um de seus filmes, das belas peripécias do cotidiano colocadas em tons de arte tão sutis... exatamente como acontece da vida real, sem chorumela. É como se a vida parasse por uns 2h48m para ser admirada e refletida, crua.
Filme dividido entre momentos bons, uns fantásticos (Ênfase ao desabafo da mãe com o desespero da iminência do fim dos protocolos pré-moldados à nossa vida... "and what's next? my fckn' funeral!") e outros, (me desculpem os eufóricos) dispensáveis.
E p*ta que pariu, esse Ethan Hawke é totalmente inacessível à artificialidade das câmeras, do mise-en-scène do roteiro! Dá a impressão de que não atua... Vive o filme! Tanto que não consigo dissociar a figura dele enquanto personagem do ator em si, e é como se essa impressão fosse alimentada de um filme para o outro, de forma tão coesa, que ele se constrói de forma fixa ao telespectador... O tipo de homem que se passa a vida idealizando!
De toda forma, uma baita experiência cinematográfica! Tão superior às referências que é quase que inalcançável às críticas.
*Só mais uma coisa: Arcade Fire, mais uma vez, arrasando nas trilhas sonoras.
A prova de que não passamos de matéria orgânica, um mero acúmulo de experiências que se desgasta e degenera... E existe mal mais cruel que o Alzheimer?
A “mecanização do sentimento” (vide as cartas pessoais escritas por terceiros) e o “sentimento da mecanização” (vide a emoção provida da máquina, a substância da tecnologia): O primeiro, uma tendência crescente ao pragmatismo desenfreado e o segundo, uma hipótese totalmente ficcional. (acho lógico o ceticismo quanto à possibilidade do homem em prover características exclusivas da existência humana, por tecnologia, a uma máquina) mas a metáfora é fantástica, é tangível... Cria incontáveis paralelos com a realidade.
Quantos momentos maravilhosos neste filme! Quanto sentimento! Minha vontade seria de dissecar cada uma destas passagens, mas, na tentativa, acabaria que por divagar demais ao tentar transpor tais sensações em palavras e por fim, teria confeccionado um escrito que só teria sentido pra mim mesma. Portanto, privo todas as impressões aos limites da minha própria pele, e generalizo-as todas em: Cenas e diálogos de encher e transbordar os olhos.
(um adendo: The Moon Song é simplesmente um show à parte e não poderia deixar de dar ênfase especial às fotografias musicais... Simplesmente GENIAL)
É brilhante! Temas e ideias complexas expostas de maneira tão acessível, tão leve! Determinismo, Freud, capitalismo (reinficação e hipostasiação), transvaloração dos valores e tantas outras referencias... Um filme tão simplório, tão fácil e com tantas facetas que é quase que paradoxal. As relações Superego x Ego, Ser x Estar... O sistema silencioso (e cruel) que nos rege, as metáforas MAGNIFICAS (visse a poltrona, o elevador, a ponte...), o sincretismo religioso, a dialética muito bem posta, os estereótipos “cara disso, cara daquilo”... Nada menos que genial. Belíssima coesão entre a passagem de uma cena à outra. A fotografia é rica e dá aquela vontade de voltar e voltar, pausar e observar a genialidade por trás de cada uma delas; nada está ali por acidente, tudo tem um contexto a ser dito e exposto. Fora a referência prévia e anunciante de Cidade de Deus "Meu nome não é Zé!"... Elenco divino! Eu, particularmente, não imagino ninguém menos que Meirelles na direção de um filme ímpar como este, ninguém que o fizesse com tamanha maestria. O filme te presenteia com as mais diversas reflexões, restaura aquela sensação de que cada um de nós é, de fato, um universo.
De longe, um dos meus filmes brasileiros prediletos.
O modo como Lars transmite suas emoções para um ser inanimado, como um forma de lidar com as mesmas e portanto, talvez, amenizá-las, é genial. Ele acaba que por usar Bianca como um eufemismo para si mesmo - conferindo-lhe uma realidade irrevogável, hipostasiando-a no seu sentido mais pleno e, o mais importante, tornando-a sua própria catarse. Eufemismo posto no sentido de tornar seus conflitos psicológicos e emocionais mais palpáveis, mais suportáveis e mais digeríveis para si mesmo e para os outros... Um modo de encará-los de frente, em terceira pessoa, n'um outro... Isso foi, indiretamente, uma maneira de conhecer-se e entender-se. É maravilhosa a comoção de todos os envolvidos, o modo como doaram-se à situação, concedendo ainda mais substancia à boneca... Saíram de suas zonas de conforto, deixaram a conveniência do ortodoxo e fizeram-se condescendentes, em busca de dar a um membro recluso da sua comunidade, uma chance de gozar plenamente da sua satisfação pessoal - que, por fim, acaba que se pluralizar - tornando-se, também, satisfatório aos demais ter a companhia de Bianca, acolhendo-a como parte de sua comunhão.
Um plot delicado e comedido, enaltecido em diálogos comoventes e reflexivos... Com certeza é um filme para se lembrar a longa data. Indico sem pensar duas vezes.
O filtro onírico e nostálgico da fotografia, logo no incio do filme, é antológico. Que filme maravilhoso! De alguma forma, lembrou-me de Blue Valentine... Um sinônimo distante, talvez.
Impecável. Os cenários minimalistas são de uma expressividade de outro mundo! Uma fotografia de lhe encher e transbordar os olhos... As falas rompem os limites dos seus telespectadores e os viola e violenta de forma nada menos que torturante e deliciosa. É devorador...
Oh, Harriet... Tu és simplesmente um show á parte! A sinceridade ácida e desprovida de qualquer senso comum e "hipocrisia usual" por parte de David é cruel mas indispensável para a consistência do personagem e da trama. E seria crime deixar de citar a última cena, o diálogo entre David e Fredrik, que carrega consigo uma reflexão antológica e é de uma sensibilidade que lhe deixa sem fôlego, que chega a sufocar. A alma de Fredrik lhe é servida de bandeja; e pra mim este foi, sem dúvida, o ponto alto às unânimes 5 estrelas que ofereço a esta obra de arte.
Extremamente ansiosa para ver os demais da trilogia.
Uma trama maravilhosa, catastrófica e poética, mas que deixa aquele inevitável sentimento de que poderia, sim, ser melhor desenvolvida. Pareceu meio vago o modo como os sentidos desapareciam, e mais superficial ainda, a nomenclatura que recebiam... A estória em si, é complexa, e merecia ter sido levada a um patamar mais alto, ter sido melhor "dissecada". Atuação simplesmente fantástica da Eva Green, que foi o "fator determinante" para ter tido algum interesse em assisti-lo, já que a tradução do nome é triste e completamente desestimulante: "Sentidos do Amor", pelo amor de Deus...
No mais, é um filme que, de certo, lembrarei a longo prazo.
Entupido de metáforas memoráveis. Um filme visceral; explicita que a racionalidade é circunstancial e frágil, e acima de tudo, subjetiva. A tensão é palpável, o embate entre alter egos e as oscilações que transparecem cada vez mais o id inerente aos personagens, mostra com destreza a tênue linha entre a ideal e a conveniente faceta sensata e o descontrole instintivo da natureza humana - que num instante despiu os personagens de todo aquele arquétipo sofisticado construído acerca dos casais de inicio, desnudando- os de todo o bom “senso comum” dos discursos demagogos passivo-agressivos e das falsas condescendências levando os a flor da pele; transformando o cenário em um verdadeiro purgatório. Com um “quê” existencialista que logo de cara me engatilhou na memória os diálogos e a trama de “Quem tem Medo de Virginia Woolf”, a referencia é obvia. É genial o modo como o filme se desenvolve, chega a ser quase catártico. O Deus da Carnificina é um filme que teria tudo para ser monótono, mas que surpreende o telespectador com tamanho interesse que desperta, uma vez que, é fácil a distinção de interesses em comum. É de fácil associação com o cotidiano vivido. E sem dúvida nenhuma, seria um prato cheio para Freud.
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Gypsy (1ª Temporada)
3.6 312 Assista AgoraQuanta tensão! Uma apreensão crescente, num ritmo coerente com a proposta minuciosa do thriler. "O eu é o outro"... Trama que se constrói em camadas, tal qual a tridimensionalidade do "eu", como num iceberg, cujo ápice é a nossa projeção pro mundo, condicionante e repressiva; o corpo do iceberg funcionando como um constituinte de racionalidade e intercomunicação entre nossa projeção social e os nossos desejos; na base dessa estrutura, uma imensidão extensa, submersa e profunda, onde habita e se contorce o inconsciente, as paixões pungentes, os instintos... quão complexa é a questão de ser. A série mostra justamente a fluidez entre essa conjunção não sobreposta e a inquietude que pode nos fazer agonizar sob a nossa própria pele.
Toda essa complexidade reverbera amplificada no atormentado "eu" de Jean/Diane. É evidente a "deficiência" na estrutura do ego de Jean. Talvez seus impulsos fossem tão pungentes que a questão da busca incessante por controle se manifestasse de tal maneira a fazê-la
romper com toda a conduta modulada pela sua profissão e também o que se preconiza e espera de um indivíduo em sociedade, fazendo-a transgredir essas condicionantes, de forma compulsiva e obsessiva.
Eu acredito ser inconteste o transtorno de personalidade manifestado de forma mordaz e a própria compulsão, que protagoniza como causa e também como consequência, numa cadeia imprevisível de desdobramentos. Compulsão tal que mesmo desejando abster-se da multiplicidade dos seus "eus" pela família, não havia como abrir mão do seu eu multifacetado, já há muito fragmentado nas vidas paralelas que ela levava.
A imprevisibilidade vai numa crescente, diretamente proporcional ao grau dos desdobramentos das situações que Diane criou...
mostrando claramente, como evidência última, o seu raciocínio incomum, difícil de acompanhar, que vai na tangente e ao avesso de tudo o que é considerado aceitável, na medida do seu próprio transtorno, seja ele qual for.
btw: que abertura sofrível
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraAssisti esse filme em família e as opiniões foram controversas.
É notável o modo como qualquer ideologia dissonante do modelo primado sobre o status quo, enraizado no senso comum e que vá de encontro e conteste seus paradigmas é tão precocemente deslegitimada e rejeitada ferozmente.
Genial a introdução de Lolita no desenvolver do roteiro, como modo de engatilhar uma referência esperta de realidade distante, porém análoga á própria história de Capitão Fantástico: o modo como vemos o filme com simpatia e complacência, já que ele é narrado sob a perspectiva de Ben, muito embora, os excessos de convicção aos quais os seus filhos eram submetidos, fosse uma forma de abuso, pois forçar a tradução de uma ideologia à realidade prática, privando-os do mundo social (que para além de qualquer crítica é o pilar que fundamenta uma sociedade) e de certo modo, privando-os das percepções desse mundo e da própria inteligencia emocional que se desenvolve na interação social, ainda que numa sociedade patética, configura sim uma arbitrariedade.
De todo modo, foi doloroso ver a falência de uma convicção, principalmente quando essa convicção abrange e rege tantos aspectos da vida de outrem... É assistir um fundamento ceder, apesar de toda sua boa intenção. Como disse antes, ideologias dissonantes, ao menos por hora, tornam-se frágeis em sua tradução à realidade, ainda mais quando postas de forma brusca ante às concepções do sistema social em vigor... O que se prova triste já que afasta grande parte de qualquer possibilidade de diversidade de outros modos de vida, que são ainda mais legítimos por sua essência.
Roteiro lindo e espirituoso, te transporta pro filme e você sente o amor e os receios dos excêntricos Cash e, por vezes, se pega esbaforida como se tivesse acabado de correr as florestas do Pacífico e desossar um cervo, ou, ainda, cantarolando Sweet Child O'Mine, quase que involuntariamente. Maravilhoso em tantos níveis! A trilha sonora tão extraordinária quanto o próprio filme. Lindo, legítimo e um verdadeiro aprendizado, como disse o meu pai, rs. Grata por ter visto em família!
Westworld (1ª Temporada)
4.5 1,3KUm verdadeiro mindblow!
O grande lance das distopias são as inesgotáveis realidades análogas que elas evocam, como metáforas do presente. Ford e seu admirável mundo novo - sendo a Soma, nessa reinvenção, o próprio “eu-narrador” internalizado.
"E é aí que está o segredo da felicidade e da virtude: gostar daquilo que se é obrigado a fazer. Tal é o fim de todo o condicionamento: fazer as pessoas apreciarem o destino social a que não podem escapar."
O grande pecado do criador foi ter ignorado que a tela/criatura era, na verdade, um espelho.
E no conforto dessa perspectiva invertida, a potencia humana substanciada nos "anfitriões" tomou seu curso, e as marionetes dos deuses rumaram, "naturalmente", à introspecção... Deixando claro que a verdadeira alforria, a liberdade, é um estado mental. E o caminho a esse ocaso, acaba sendo o domínio da própria consciência,
"A imobilidade das coisas que nos cercam talvez lhes seja imposta por nossa certeza de que essas coisas são elas mesmas e não outras, pela imobilidade de nosso pensamento perante elas..."
"Trompe-l'oeil: Técnica ilusionista que dá ao expectador uma perspectiva tridimensional de objetos de duas dimensões."
Juro que já tinha imaginado a possibilidade de Bernard ser um "anfitrião", porém todo o background dele me faz afastar essa ideia... O que tornou ainda mais cruel (e assustador) conceber que de fato ele era um "autômato".
Westworld foi um verdadeiro ode à filosofia, à duplicidade do apolíneo e dionisíaco tanto como interpretação da mente bicameral, à demonstração do quadro de Michelangelo, quanto na própria catarse de William, que busca na arte daquele mundo, no belo, a sua libertação... Afinal, se tudo que é verdadeiro é belo, a verdade desse mundo seria concebível pela sua beleza... E essa se torna a verdadeira jornada.
Quando William teve todo o seu idealismo esvaziado, no momento em que encarou o fato de que Dolores estava fadada às infinitas repetições da sua criação, nos limites da sua programação, do seu personagem, como um simulacro, houve uma ruptura de onde nasceu uma fixação e a ele restou render-se a uma jornada violenta em busca da plenitude do potencial daquele mundo, como forma de significa-lo, de torná-lo verdadeiro... Nada mais justo que o produto do parque, o homem que William se tornou, se tornasse um fim em si mesmo e por este mundo fosse consumido.
Exit Music (for a film) me deslumbrou por tamanha coerência, pelo seu encaixe perfeito com o final do ultimo episódio. Que série soberba é essa?! Merece SIM todo o hype.
Blind
3.7 123A realidade deixa muito à imaginação. E a verdade se inventa ou se encontra?
House of Cards (3ª Temporada)
4.4 413Só uma série desse calibri pra referenciar com tanta maestria o cotidiano político, em suas entranhas e dores, no seu aspecto mais sujo e ainda fazê-lo de forma palatável... Cara, sensacional! Putin que o diga hahaha "Viktor, are you in love com essa p*ta série?"
É agridoce acompanhar o pêndulo oscilar entre a imponência e a impotência do Frank. Dentre os golpes e abismos, o da Claire atingiu minha própria pele... A aflição cresce progressivamente, de episódio pra episódio, e por mais que você saiba no que vai desembocar, fica descrente e no final e sente todo o amargor.
A tensão levou todo o ar do cômodo e só então, eu me dei conta de que prendia a respiração... Foi em vão.
O Universo No Olhar
4.2 1,3KI think you're crazy, maybe I will see you in the next life.
O melhor filme que vi nos últimos tempos. Sem palavras e com um sentimento de outro mundo, epifania magnífica:
"Aquilo que na vida tem sentido, mesmo sendo qualquer coisa de mínimo, prima sobre algo de grande, porém isento de sentido."
Felizes para Sempre?
4.1 223Dentre as tentativas da globo em se aventurar nas superproduções e na quebra do estigma da babaquice das novelas das oito, eis que surge um sopro de alivio à pretensão que beira o pedantismo no circo melodramático do horário nobre... E que surpresa boa! E sem contar as altas expectativas que o sobrenome de Meireles carrega em qualquer sublinhado...
Sigur Rós (foi, num foi?) de cara e a referência descarada a Anticristo que confesso ter dado um certo amargor: Porque sim, Fernando, existe um fenômeno no qual eventuais telespectadores da Globo assistem a Lars Von Trier (talvez na tela quente)... Então por pouco (e para alguns) a ignorância, nem a piscina, não salvou a cena e a sua potencial "genialidade reciclada"... Infelizmente, aliás. Esperava algo mais """original""", até porque Lars já patenteou e limitou os bebês-suicidas (rs)
Porém, sempre bom contemplar o encontro da acidez que lhe é característica e ímpar com seu ferrenho aliado na contraposição das cenas - armas infalíveis e de assinatura certeira. Santíssima seja sua dialética!... Que faz valer qualquer desencontro com as boas vindas do Bial.
Palo Alto
3.2 429cara, adoro besteirol adolescente (na maioria das vezes, por motivos de: vegetar, passar o tempo, sessão da tarde n tá boa hj e etc) mas Palo Alto é um s a c o, não consegui mais que meia hora de filme
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraMãos ensanguentadas, suor e paixão - não necessariamente nessa ordem e totalmente fora do previsível.
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraSou fã da direção do Linklater, da realidade que ele impõe em cada um de seus filmes, das belas peripécias do cotidiano colocadas em tons de arte tão sutis... exatamente como acontece da vida real, sem chorumela. É como se a vida parasse por uns 2h48m para ser admirada e refletida, crua.
Filme dividido entre momentos bons, uns fantásticos (Ênfase ao desabafo da mãe com o desespero da iminência do fim dos protocolos pré-moldados à nossa vida... "and what's next? my fckn' funeral!") e outros, (me desculpem os eufóricos) dispensáveis.
E p*ta que pariu, esse Ethan Hawke é totalmente inacessível à artificialidade das câmeras, do mise-en-scène do roteiro! Dá a impressão de que não atua... Vive o filme! Tanto que não consigo dissociar a figura dele enquanto personagem do ator em si, e é como se essa impressão fosse alimentada de um filme para o outro, de forma tão coesa, que ele se constrói de forma fixa ao telespectador... O tipo de homem que se passa a vida idealizando!
De toda forma, uma baita experiência cinematográfica! Tão superior às referências que é quase que inalcançável às críticas.
*Só mais uma coisa: Arcade Fire, mais uma vez, arrasando nas trilhas sonoras.
Para Sempre Alice
4.1 2,3K Assista AgoraA prova de que não passamos de matéria orgânica, um mero acúmulo de experiências que se desgasta e degenera... E existe mal mais cruel que o Alzheimer?
Ninfomaníaca: Volume 1
3.7 2,7K Assista Agora"What if it's nasty?"
"Then you just think about the bag of chocolate sweeties."
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraA “mecanização do sentimento” (vide as cartas pessoais escritas por terceiros) e o “sentimento da mecanização” (vide a emoção provida da máquina, a substância da tecnologia):
O primeiro, uma tendência crescente ao pragmatismo desenfreado e o segundo, uma hipótese totalmente ficcional. (acho lógico o ceticismo quanto à possibilidade do homem em prover características exclusivas da existência humana, por tecnologia, a uma máquina) mas a metáfora é fantástica, é tangível... Cria incontáveis paralelos com a realidade.
Quantos momentos maravilhosos neste filme! Quanto sentimento! Minha vontade seria de dissecar cada uma destas passagens, mas, na tentativa, acabaria que por divagar demais ao tentar transpor tais sensações em palavras e por fim, teria confeccionado um escrito que só teria sentido pra mim mesma. Portanto, privo todas as impressões aos limites da minha própria pele, e generalizo-as todas em: Cenas e diálogos de encher e transbordar os olhos.
(um adendo: The Moon Song é simplesmente um show à parte e não poderia deixar de dar ênfase especial às fotografias musicais... Simplesmente GENIAL)
Domésticas - O Filme
3.7 182É brilhante!
Temas e ideias complexas expostas de maneira tão acessível, tão leve! Determinismo, Freud, capitalismo (reinficação e hipostasiação), transvaloração dos valores e tantas outras referencias... Um filme tão simplório, tão fácil e com tantas facetas que é quase que paradoxal. As relações Superego x Ego, Ser x Estar... O sistema silencioso (e cruel) que nos rege, as metáforas MAGNIFICAS (visse a poltrona, o elevador, a ponte...), o sincretismo religioso, a dialética muito bem posta, os estereótipos “cara disso, cara daquilo”... Nada menos que genial. Belíssima coesão entre a passagem de uma cena à outra. A fotografia é rica e dá aquela vontade de voltar e voltar, pausar e observar a genialidade por trás de cada uma delas; nada está ali por acidente, tudo tem um contexto a ser dito e exposto. Fora a referência prévia e anunciante de Cidade de Deus "Meu nome não é Zé!"...
Elenco divino! Eu, particularmente, não imagino ninguém menos que Meirelles na direção de um filme ímpar como este, ninguém que o fizesse com tamanha maestria. O filme te presenteia com as mais diversas reflexões, restaura aquela sensação de que cada um de nós é, de fato, um universo.
De longe, um dos meus filmes brasileiros prediletos.
A Garota Ideal
3.8 1,2K Assista AgoraÉ de uma sensibilidade de outro mundo...
O modo como Lars transmite suas emoções para um ser inanimado, como um forma de lidar com as mesmas e portanto, talvez, amenizá-las, é genial. Ele acaba que por usar Bianca como um eufemismo para si mesmo - conferindo-lhe uma realidade irrevogável, hipostasiando-a no seu sentido mais pleno e, o mais importante, tornando-a sua própria catarse. Eufemismo posto no sentido de tornar seus conflitos psicológicos e emocionais mais palpáveis, mais suportáveis e mais digeríveis para si mesmo e para os outros... Um modo de encará-los de frente, em terceira pessoa, n'um outro... Isso foi, indiretamente, uma maneira de conhecer-se e entender-se.
É maravilhosa a comoção de todos os envolvidos, o modo como doaram-se à situação, concedendo ainda mais substancia à boneca... Saíram de suas zonas de conforto, deixaram a conveniência do ortodoxo e fizeram-se condescendentes, em busca de dar a um membro recluso da sua comunidade, uma chance de gozar plenamente da sua satisfação pessoal - que, por fim, acaba que se pluralizar - tornando-se, também, satisfatório aos demais ter a companhia de Bianca, acolhendo-a como parte de sua comunhão.
Alabama Monroe
4.3 1,4K Assista AgoraO filtro onírico e nostálgico da fotografia, logo no incio do filme, é antológico. Que filme maravilhoso! De alguma forma, lembrou-me de Blue Valentine... Um sinônimo distante, talvez.
Através de um Espelho
4.3 249Impecável. Os cenários minimalistas são de uma expressividade de outro mundo! Uma fotografia de lhe encher e transbordar os olhos... As falas rompem os limites dos seus telespectadores e os viola e violenta de forma nada menos que torturante e deliciosa. É devorador...
Oh, Harriet... Tu és simplesmente um show á parte! A sinceridade ácida e desprovida de qualquer senso comum e "hipocrisia usual" por parte de David é cruel mas indispensável para a consistência do personagem e da trama. E seria crime deixar de citar a última cena, o diálogo entre David e Fredrik, que carrega consigo uma reflexão antológica e é de uma sensibilidade que lhe deixa sem fôlego, que chega a sufocar. A alma de Fredrik lhe é servida de bandeja; e pra mim este foi, sem dúvida, o ponto alto às unânimes 5 estrelas que ofereço a esta obra de arte.
Extremamente ansiosa para ver os demais da trilogia.
Sentidos do Amor
4.1 1,2KUma trama maravilhosa, catastrófica e poética, mas que deixa aquele inevitável sentimento de que poderia, sim, ser melhor desenvolvida. Pareceu meio vago o modo como os sentidos desapareciam, e mais superficial ainda, a nomenclatura que recebiam... A estória em si, é complexa, e merecia ter sido levada a um patamar mais alto, ter sido melhor "dissecada". Atuação simplesmente fantástica da Eva Green, que foi o "fator determinante" para ter tido algum interesse em assisti-lo, já que a tradução do nome é triste e completamente desestimulante: "Sentidos do Amor", pelo amor de Deus...
No mais, é um filme que, de certo, lembrarei a longo prazo.
Deus da Carnificina
3.8 1,4KEntupido de metáforas memoráveis. Um filme visceral; explicita que a racionalidade é circunstancial e frágil, e acima de tudo, subjetiva. A tensão é palpável, o embate entre alter egos e as oscilações que transparecem cada vez mais o id inerente aos personagens, mostra com destreza a tênue linha entre a ideal e a conveniente faceta sensata e o descontrole instintivo da natureza humana - que num instante despiu os personagens de todo aquele arquétipo sofisticado construído acerca dos casais de inicio, desnudando- os de todo o bom “senso comum” dos discursos demagogos passivo-agressivos e das falsas condescendências levando os a flor da pele; transformando o cenário em um verdadeiro purgatório. Com um “quê” existencialista que logo de cara me engatilhou na memória os diálogos e a trama de “Quem tem Medo de Virginia Woolf”, a referencia é obvia. É genial o modo como o filme se desenvolve, chega a ser quase catártico. O Deus da Carnificina é um filme que teria tudo para ser monótono, mas que surpreende o telespectador com tamanho interesse que desperta, uma vez que, é fácil a distinção de interesses em comum. É de fácil associação com o cotidiano vivido. E sem dúvida nenhuma, seria um prato cheio para Freud.