Excepcional trabalho de John Cameron Mitchell. É preciso ser muito preconceituoso, desprovido de senso de humor e frustrado sexualmente para não gostar de "Shortbus". Tive a oportunidade de conversar com o ator Jay Brannan após a exibição em Porto Alegre, e pude compreender melhor como foi o processo de criação do filme.
Pseudo física quântica para leigos. Baseado num romance do físico Fritjof Capra (considerado um picareta no meio científico), muitos engoliram, muitos acham cool, muitos acham cult... e poucos param para refletir que palavrório não é sinônimo de inteligência.
O cineasta alemão Werner Herzog, seja na ficção ou no documentário, sempre utilizou sua câmera como uma arma para dissecar os conflitos internos de suas personagens. A ganância e o progressivo enlouquecimento de Klaus Kinski em Aguirre, A Cólera dos Deuses¹, ou o processo que vai da total alienação do mundo ao desabrochar da consciência pelo qual passa Bruno S, em O Enigma de Kaspar Hauser², são exemplos de seu cinema intimista e anárquico, que reflete tanto a construção como a diluição do indivíduo. Em O Homem Urso, Herzog volta suas lentes de documentarista para a trágica história do ambientalista amador Timothy Treadwell, que passou treze verões consecutivos em companhia de ursos pardos no Alasca, até ser, junto com sua companheira Amie Huguenard, pateticamente devorado por um deles. É compreensível o interesse de Herzog pela desastrada empreitada de Treadwell, que sintetizou em vida os paradoxos ficcionais do cineasta alemão. Quando decidiu dedicar sua vida à proteção dos ursos pardos, Timothy Treadwell acabou abdicando de uma parcela de sua humanidade. Vitima de sua misantropia, ele idealizou em seu refugio no Alasca um mundo perfeito, ao qual considerava menos selvagem e cruel do que o dos humanos. Porém, ao envolver-se de forma tão passional com sua causa, Treadwell traçou o caminho de sua destruição quando ultrapassou os limites de sua própria natureza, e passou a também considerar-se...um urso! Para tentar desvendar as motivações que levam um homem a renegar a civilização, para embarcar de corpo e alma em uma insana causa ecológica, além de entrevistas com amigos íntimos e especialistas ambientais, onde não faltam comentários que vão da paixão ao puro sarcasmo, Herzog utilizou trechos das mais de cem horas de gravações realizadas pelo próprio Treadwell. As gravações, que eram utilizadas para educar principalmente as crianças sobre o perigo de extinção dos ursos pardos, revelam, não um destemido protetor da natureza, mas um homem com a mente fragmentada, incapaz de discernir entre a realidade e o mundo selvagem inocentemente idealizado por ele. As imagens retratam o amadorismo de suas ações, prevendo a inevitável tragédia, pois Treadwell lidava com ursos ferozes de quase três metros de altura como se fossem ursinhos de pelúcia; e como conseqüência, em outubro de 2003, ele e sua namorada foram vorazmente devorados por um dos ursos que protegiam. Durante sua morte a câmera, apesar da lente estar encoberta, permaneceu ligada, e o áudio captou toda a sua agonia. Um dos momentos de maior impacto de O Homem Urso ocorre quando Herzog ouve o registro. O áudio real não chega aos ouvidos do público, e escutamos apenas a narração hesitante de Herzog, que em determinado momento silencia, e sua reação ao conteúdo da fita é o suficiente para traduzir todo o horror ali contido. Por ter em mãos um material perigosamente ambíguo, que poderia render um festival de escatologia e sensacionalismo, o diretor optou por não expor graficamente o funesto resultado da empreitada, e centrou-se nos depoimentos, que rendem desde momentos de pura perplexidade até acessos involuntários de humor negro, gerados principalmente pela presença do insólito legista que cuidou do caso. A controversa figura de Timothy Treadwell, independente do julgamento de seus atos, rendeu para Herzog mais do que um documentário sobre homens e ursos, ou sobre uma tragédia anunciada; o diretor concebeu uma dramática análise sobre a natureza, humana e animal, e organizou uma excursão por uma região mais selvagem e desconhecida que o gélido Alasca...a mente de um homem que se deixou dominar por suas obsessões.
Serras da Desordem é o retorno de Andrea Tonacci à tela grande após um hiato de 30 anos, período no qual ocasionalmente se dedicou a televisão, e que em nada apaziguou a verve anárquica do diretor dos cultuados Bang Bang e Blablablá. O título Serras da Desordem não apenas indica a região onde a trama se desenvolve, como também serve de analogia as opções estéticas e narrativas tomadas por Tonacci para recriar a história de Carapiru, índio que após o massacre de sua família se tornou um andarilho solitário, empreendendo uma fuga que o manteve isolado de seu povo e da civilização por 10 anos, até ser encontrado em 1987, distante mais de 2 mil quilômetros do local da chacina. Andrea Tonacci não faz concessões comerciais na recriação deste épico intimista, e desordem é uma palavra chave para acompanhar a trajetória de um homem em estado de completa alienação, isolado de sua cultura, confrontado com uma civilização que não compreende. A montagem, por vezes caótica, da veterana Cristina Amaral é uma artimanha essencial para instigar o espectador, se negando a fornecer respostas fáceis, pois para acompanhar Carapiru também é preciso perder-se. Para recontar a história Tonacci utiliza um curioso processo, misto de documentário e reconstrução ficcional, utilizando como atores as pessoas que vivenciaram os fatos, inclusive o próprio Carapiru. O velho índio retorna ao local do massacre, visita o vilarejo que o acolheu antes de ser entregue aos cuidados da Funai, e refaz sua trajetória de dor e redenção, que culminou com um deus ex machina tão improvável que só poderia acabar na tela do cinema. Carapiru é encontrado pelo filho que julgava morto, e é reconduzido ao seu povo. A câmera ubíqua de Tonacci acompanha Carapiru realçando seu olhar repleto de tristeza, estranheza e ingenuidade diante de uma realidade tão diferente da sua. Serras da Desordem, mais do que uma análise do destrutivo processo de aculturação a que foram submetidos os povos indígenas, é a história de uma vida devastada, a trajetória de um indivíduo sobrevivendo em meio ao caos silencioso da solidão e da exclusão cultural. O diretor Andrea Tonacci, oriundo do provocativo cinema marginal dos anos 60, não facilita para o espectador, e a história de Carapiru é narrada de forma fragmentada, desordenada, mas não tão caótica quanto o processo de civilização imposto à cultura indígena. É compreensível o interesse de Tonacci pela figura peculiar de Carapiru, afinal ambos de certa forma estiveram isolados, mesmo que em limbos distintos, por um longo período, involuntariamente impedidos de exercitar uma vital necessidade de expressão. Carapiru retornou para seu povo e Tonacci às telas de cinema, e seu retorno, após uma inexplicável ausência de 30 anos que não lhe domou o gênio anárquico, foi laureado com o Kikito de Ouro no Festival de Gramado em 2006.
Em princípios da década de 1980, videocassetes ainda eram considerados artigos de luxo, e as raras vídeolocadoras existentes restringiam-se às grandes capitais, sendo quase inexistentes em cidades do interior. Os cinéfilos perambulavam pelas salas lúgubres de cinemas decadentes, realizando às vezes verdadeiras odisséias para assistirem aos seus diretores preferidos. Era uma época de transição, em que os aparelhos de televisão, após o boom dos anos 1970, começavam a chegar com mais facilidade aos lares, e os cinemas de bairro, e principalmente do interior, começavam a agonizar, cedendo o seu espaço para salões de festas e cultos evangélicos, culminando nas famigeradas casas de bingo! Nem os mais otimistas poderiam sonhar com as facilidades tecnológicas que hoje encontramos para assistir um bom filme. Com a extinção gradual dos cinemas, e a inacessibilidade do vídeo, uma geração de futuros cinéfilos, na qual me incluo, formou-se principalmente em frente aos programas de televisão, assistindo aos filmes da Sessão da Tarde dublados pela Herbert Richers, ou burlando o controle dos pais para varar noites assistindo a Sessão Coruja, e outras sessões noturnas, onde nos deparávamos com pérolas cinemáticas como Corrida Contra o Destino¹, ou O Incrível Homem que Derreteu². Foi numa destas sessões da madrugada que me deparei, ainda na pré-adolescência, com um dos filmes mais marcantes deste período, Warriors - Os Selvagens da Noite. Realizado em 1979, inspirado no livro homônimo do escritor Sol Yurick, Warriors contém uma premissa aparentemente simples, que poderia ser resumida como mais “uma história de ação e violência”, porém, um olhar mais atento do diretor Walter Hill pode desvendar elementos mais complexos, que vão de conflitos sociais, passando pelo universo das HQs, até referências à Grécia antiga. Walter Hill e o roteirista David Shaber reformularam o romance de Sol Yurick, amenizaram o tom explícito de denúncia social, e focaram a trama, utilizando como inspiração a batalha de Cunaxa, ocorrida em 401 A.C, quando um batalhão de soldados gregos comandados por Xenofonte precisou atravessar o Império Persa lutando com vários inimigos até chegar ao mar. Hill impôs à trama um acertado ritmo de história em quadrinhos, tornando a narrativa ágil e concisa, e criou Luther, um personagem inexistente no livro que se revelou um vilão memorável, num papel que marcaria para sempre a carreira do então estreante David Patrick Kelly. Warriors foi um dos primeiros filmes a retratar o violento universo das gangues novayorquinas da década de 1970, e suas insanas lutas por território. Na época de seu lançamento várias gangues rivais entraram em conflito ao se encontrarem no mesmo cinema. O fato rendeu muita publicidade, mas também um selo “R”, que restringia o público adolescente. No entanto a má publicidade apenas auxiliou o filme a tornar-se um fenômeno, e Walter Hill acabou se transformando no pai de um subgênero, e assim, filmes sobre gangues proliferaram durante os anos 1980, e a maioria, apesar da qualidade duvidosa, era garantia de pura diversão, como a sangrenta produção independente Deadbeat at Dawn³, do psicótico diretor Jim Van Bebber, e principalmente a vertente italiana, representada por filmes como 1990: Guerreiros do Bronx4 de Enzo G. Castellari. Na trama, Cyrus (Roger Hill) é uma espécie de messias urbano que almeja unir todas as gangues de Nova Iorque, formando assim um verdadeiro exército de desagregados sociais; uma força criminosa impossível de ser ignorada pela sociedade. Durante uma reunião de gangues em pleno Central Park, Cyrus é assassinado por Luther (David Patrick Kelly), membro dos Rogues, mas a culpa recai sobre os integrantes dos Warriors, que impossibilitados de provar sua inocência, precisam cruzar a cidade digladiando com as outras quadrilhas para chegarem até Coney Island, o seu território. Liderados por Swan (Michael Beck), os oito membros dos Warriors, e a intempestiva Mercy (Deborah Van Valkenburgh), partem em uma pequena odisséia, percorrendo metrôs sombrios e ruas estranhas de uma Nova Iorque decadente, dominada pelo crime e pela anarquia. A jornada do grupo é pontuada pela voz de uma misteriosa radialista (Lynne Thigpen), que funciona como uma espécie de coro grego, situando o espectador após cada batalha vencida. Os violentos conflitos são conduzidos com maestria por Hill, e a tensão aumenta toda vez que uma nova gangue entra em cena, uma mais exótica e cruel que a outra. Lizzies, Turnbulls, Rogues, todas esperam uma oportunidade de arrancar um pedaço dos pobres guerreiros. A batalha com os excêntricos Baseball Furies (e suas pinturas faciais estilo Kiss), onde tacos de baseball são utilizados com a reverência dos samurais, ou a briga no banheiro da estação de metrô, onde o “slow motion” (uma das artimanhas preferidas de Hill) intensifica a ação, já se tornaram antológicas. No entanto, uma cena chave da trama é realizada sem ação e violência, mas em tortuoso silêncio, quando a bordo do metrô, Swan e Mercy, sujos e ensangüentados após uma noite de luta pela sobrevivência, se deparam com dois jovens casais vindos de uma festa disco. De um lado, os párias, os excluídos, de outro, os filhos abastados da sociedade, lindos e perfeitos em seus ternos e vestidos brancos. Olhares se cruzam revelando medo, ódio e desprezo. Um silencioso e representativo embate social. Após tornar-se um influente objeto de culto durante os anos 1980, esta violenta odisséia de um grupo de jovens anti-heróis se apresenta para uma nova geração através de um jogo concebido para o Playstation 2, e rumores já anunciam uma inevitável refilmagem em 2009. Em 2005, Walter Hill, descontente com o fato de público, na época do lançamento, não haver percebido as referências básicas da trama, lançou uma nova versão do filme contendo uma introdução sobre a batalha de Cunaxa, e reforçando os aspectos de HQs, utilizando em algumas transposições uma fusão entre atores e storyboards. Após quase trinta anos, o filme ainda demonstra ter força o suficiente para manter-se vivo no imaginário popular, e quando menos se espera, insones e cinéfilos de plantão se deparam com ele em alguma inusitada “sessão da madrugada”.
Clássico da "Sessão Faixa Preta". Quem hoje em dia recorda que no começo dos anos 80 a Globo tinha uma sessão regular destinada aos clássicos do kung fu? Só saudosistas anacrônicos como eu, rs.
Fabiana, "Terra de Ninguém" é inspirado em fatos reais, mas para variar, Tarantino "homenageou" o filme do Malick ao escrever o roteiro de "Natural Born Killers".
Um belo exemplo de como deturpar e destruir uma obra original,inspirada e contemplativa. Doses excessivas de glicose, enquanto "Asas do Desejo" exigia reflexão e questionamento.
Uma das maiores atrocidades já cometidas pela indústria de Hollywood, foi refilmar e modificar o chocante desfecho da versão francesa, trocando por um "happy end" absurdo e ofensivo a proposta do filme original.
O grande problema do filme é se chamar "Constantine", pois não tem "absolutamente nada a ver com a HQ". Desassociando o filme da sua suposta fonte, é um filme de horror e fantasia divertido e plasticamente interessante, mas quando comparado, chega a ser ofensivo aos fãs.
Sequência original de "Pânico na Floresta"(Wrong Turn), mas como a Playarte, numa atitude de pura picaretagem, havia lançado o péssimo "Timber Falls" como "Pânico na Floresta 2", resolveram lançá-lo com este título genérico.
Purple Rain
3.1 86 Assista AgoraVeículo para o ego exacerbado de Prince. Vale pela excelente trilha e só.
Quanto Vale ou É por Quilo?
4.0 254Bianchi, como sempre, afiado e pontiagudo, rs.
Rififi
4.3 62Clássico absoluto! Uma das melhores sequências de assalto da história do cinema!
Shortbus
3.7 547Excepcional trabalho de John Cameron Mitchell. É preciso ser muito preconceituoso, desprovido de senso de humor e frustrado sexualmente para não gostar de "Shortbus". Tive a oportunidade de conversar com o ator Jay Brannan após a exibição em Porto Alegre, e pude compreender melhor como foi o processo de criação do filme.
Terror e Êxtase
3.3 9Antônio Calmon destilando sua violenta verve exploitation, isto, antes de ser domado pela Globo.
Último Tango em Paris
3.5 570... e uma ótima manteiga!
Ponto de Mutação
4.0 149Pseudo física quântica para leigos. Baseado num romance do físico Fritjof Capra (considerado um picareta no meio científico), muitos engoliram, muitos acham cool, muitos acham cult... e poucos param para refletir que palavrório não é sinônimo de inteligência.
O Homem-Urso
4.0 144 Assista AgoraO cineasta alemão Werner Herzog, seja na ficção ou no documentário, sempre utilizou sua câmera como uma arma para dissecar os conflitos internos de suas personagens. A ganância e o progressivo enlouquecimento de Klaus Kinski em Aguirre, A Cólera dos Deuses¹, ou o processo que vai da total alienação do mundo ao desabrochar da consciência pelo qual passa Bruno S, em O Enigma de Kaspar Hauser², são exemplos de seu cinema intimista e anárquico, que reflete tanto a construção como a diluição do indivíduo.
Em O Homem Urso, Herzog volta suas lentes de documentarista para a trágica história do ambientalista amador Timothy Treadwell, que passou treze verões consecutivos em companhia de ursos pardos no Alasca, até ser, junto com sua companheira Amie Huguenard, pateticamente devorado por um deles. É compreensível o interesse de Herzog pela desastrada empreitada de Treadwell, que sintetizou em vida os paradoxos ficcionais do cineasta alemão.
Quando decidiu dedicar sua vida à proteção dos ursos pardos, Timothy Treadwell acabou abdicando de uma parcela de sua humanidade. Vitima de sua misantropia, ele idealizou em seu refugio no Alasca um mundo perfeito, ao qual considerava menos selvagem e cruel do que o dos humanos. Porém, ao envolver-se de forma tão passional com sua causa, Treadwell traçou o caminho de sua destruição quando ultrapassou os limites de sua própria natureza, e passou a também considerar-se...um urso!
Para tentar desvendar as motivações que levam um homem a renegar a civilização, para embarcar de corpo e alma em uma insana causa ecológica, além de entrevistas com amigos íntimos e especialistas ambientais, onde não faltam comentários que vão da paixão ao puro sarcasmo, Herzog utilizou trechos das mais de cem horas de gravações realizadas pelo próprio Treadwell.
As gravações, que eram utilizadas para educar principalmente as crianças sobre o perigo de extinção dos ursos pardos, revelam, não um destemido protetor da natureza, mas um homem com a mente fragmentada, incapaz de discernir entre a realidade e o mundo selvagem inocentemente idealizado por ele. As imagens retratam o amadorismo de suas ações, prevendo a inevitável tragédia, pois Treadwell lidava com ursos ferozes de quase três metros de altura como se fossem ursinhos de pelúcia; e como conseqüência, em outubro de 2003, ele e sua namorada foram vorazmente devorados por um dos ursos que protegiam. Durante sua morte a câmera, apesar da lente estar encoberta, permaneceu ligada, e o áudio captou toda a sua agonia. Um dos momentos de maior impacto de O Homem Urso ocorre quando Herzog ouve o registro. O áudio real não chega aos ouvidos do público, e escutamos apenas a narração hesitante de Herzog, que em determinado momento silencia, e sua reação ao conteúdo da fita é o suficiente para traduzir todo o horror ali contido.
Por ter em mãos um material perigosamente ambíguo, que poderia render um festival de escatologia e sensacionalismo, o diretor optou por não expor graficamente o funesto resultado da empreitada, e centrou-se nos depoimentos, que rendem desde momentos de pura perplexidade até acessos involuntários de humor negro, gerados principalmente pela presença do insólito legista que cuidou do caso.
A controversa figura de Timothy Treadwell, independente do julgamento de seus atos, rendeu para Herzog mais do que um documentário sobre homens e ursos, ou sobre uma tragédia anunciada; o diretor concebeu uma dramática análise sobre a natureza, humana e animal, e organizou uma excursão por uma região mais selvagem e desconhecida que o gélido Alasca...a mente de um homem que se deixou dominar por suas obsessões.
A Reconquista
1.7 178 Assista AgoraPatético filme propaganda da Cientologia. Algum piadista cadastrou o filme como "curta, documentário".
Serras da Desordem
4.2 32Serras da Desordem é o retorno de Andrea Tonacci à tela grande após um hiato de 30 anos, período no qual ocasionalmente se dedicou a televisão, e que em nada apaziguou a verve anárquica do diretor dos cultuados Bang Bang e Blablablá. O título Serras da Desordem não apenas indica a região onde a trama se desenvolve, como também serve de analogia as opções estéticas e narrativas tomadas por Tonacci para recriar a história de Carapiru, índio que após o massacre de sua família se tornou um andarilho solitário, empreendendo uma fuga que o manteve isolado de seu povo e da civilização por 10 anos, até ser encontrado em 1987, distante mais de 2 mil quilômetros do local da chacina.
Andrea Tonacci não faz concessões comerciais na recriação deste épico intimista, e desordem é uma palavra chave para acompanhar a trajetória de um homem em estado de completa alienação, isolado de sua cultura, confrontado com uma civilização que não compreende. A montagem, por vezes caótica, da veterana Cristina Amaral é uma artimanha essencial para instigar o espectador, se negando a fornecer respostas fáceis, pois para acompanhar Carapiru também é preciso perder-se.
Para recontar a história Tonacci utiliza um curioso processo, misto de documentário e reconstrução ficcional, utilizando como atores as pessoas que vivenciaram os fatos, inclusive o próprio Carapiru. O velho índio retorna ao local do massacre, visita o vilarejo que o acolheu antes de ser entregue aos cuidados da Funai, e refaz sua trajetória de dor e redenção, que culminou com um deus ex machina tão improvável que só poderia acabar na tela do cinema. Carapiru é encontrado pelo filho que julgava morto, e é reconduzido ao seu povo.
A câmera ubíqua de Tonacci acompanha Carapiru realçando seu olhar repleto de tristeza, estranheza e ingenuidade diante de uma realidade tão diferente da sua. Serras da Desordem, mais do que uma análise do destrutivo processo de aculturação a que foram submetidos os povos indígenas, é a história de uma vida devastada, a trajetória de um indivíduo sobrevivendo em meio ao caos silencioso da solidão e da exclusão cultural. O diretor Andrea Tonacci, oriundo do provocativo cinema marginal dos anos 60, não facilita para o espectador, e a história de Carapiru é narrada de forma fragmentada, desordenada, mas não tão caótica quanto o processo de civilização imposto à cultura indígena.
É compreensível o interesse de Tonacci pela figura peculiar de Carapiru, afinal ambos de certa forma estiveram isolados, mesmo que em limbos distintos, por um longo período, involuntariamente impedidos de exercitar uma vital necessidade de expressão. Carapiru retornou para seu povo e Tonacci às telas de cinema, e seu retorno, após uma inexplicável ausência de 30 anos que não lhe domou o gênio anárquico, foi laureado com o Kikito de Ouro no Festival de Gramado em 2006.
Os Selvagens da Noite
4.0 597 Assista AgoraEm princípios da década de 1980, videocassetes ainda eram considerados artigos de luxo, e as raras vídeolocadoras existentes restringiam-se às grandes capitais, sendo quase inexistentes em cidades do interior. Os cinéfilos perambulavam pelas salas lúgubres de cinemas decadentes, realizando às vezes verdadeiras odisséias para assistirem aos seus diretores preferidos. Era uma época de transição, em que os aparelhos de televisão, após o boom dos anos 1970, começavam a chegar com mais facilidade aos lares, e os cinemas de bairro, e principalmente do interior, começavam a agonizar, cedendo o seu espaço para salões de festas e cultos evangélicos, culminando nas famigeradas casas de bingo! Nem os mais otimistas poderiam sonhar com as facilidades tecnológicas que hoje encontramos para assistir um bom filme.
Com a extinção gradual dos cinemas, e a inacessibilidade do vídeo, uma geração de futuros cinéfilos, na qual me incluo, formou-se principalmente em frente aos programas de televisão, assistindo aos filmes da Sessão da Tarde dublados pela Herbert Richers, ou burlando o controle dos pais para varar noites assistindo a Sessão Coruja, e outras sessões noturnas, onde nos deparávamos com pérolas cinemáticas como Corrida Contra o Destino¹, ou O Incrível Homem que Derreteu². Foi numa destas sessões da madrugada que me deparei, ainda na pré-adolescência, com um dos filmes mais marcantes deste período, Warriors - Os Selvagens da Noite.
Realizado em 1979, inspirado no livro homônimo do escritor Sol Yurick, Warriors contém uma premissa aparentemente simples, que poderia ser resumida como mais “uma história de ação e violência”, porém, um olhar mais atento do diretor Walter Hill pode desvendar elementos mais complexos, que vão de conflitos sociais, passando pelo universo das HQs, até referências à Grécia antiga. Walter Hill e o roteirista David Shaber reformularam o romance de Sol Yurick, amenizaram o tom explícito de denúncia social, e focaram a trama, utilizando como inspiração a batalha de Cunaxa, ocorrida em 401 A.C, quando um batalhão de soldados gregos comandados por Xenofonte precisou atravessar o Império Persa lutando com vários inimigos até chegar ao mar.
Hill impôs à trama um acertado ritmo de história em quadrinhos, tornando a narrativa ágil e concisa, e criou Luther, um personagem inexistente no livro que se revelou um vilão memorável, num papel que marcaria para sempre a carreira do então estreante David Patrick Kelly. Warriors foi um dos primeiros filmes a retratar o violento universo das gangues novayorquinas da década de 1970, e suas insanas lutas por território. Na época de seu lançamento várias gangues rivais entraram em conflito ao se encontrarem no mesmo cinema. O fato rendeu muita publicidade, mas também um selo “R”, que restringia o público adolescente. No entanto a má publicidade apenas auxiliou o filme a tornar-se um fenômeno, e Walter Hill acabou se transformando no pai de um subgênero, e assim, filmes sobre gangues proliferaram durante os anos 1980, e a maioria, apesar da qualidade duvidosa, era garantia de pura diversão, como a sangrenta produção independente Deadbeat at Dawn³, do psicótico diretor Jim Van Bebber, e principalmente a vertente italiana, representada por filmes como 1990: Guerreiros do Bronx4 de Enzo G. Castellari.
Na trama, Cyrus (Roger Hill) é uma espécie de messias urbano que almeja unir todas as gangues de Nova Iorque, formando assim um verdadeiro exército de desagregados sociais; uma força criminosa impossível de ser ignorada pela sociedade. Durante uma reunião de gangues em pleno Central Park, Cyrus é assassinado por Luther (David Patrick Kelly), membro dos Rogues, mas a culpa recai sobre os integrantes dos Warriors, que impossibilitados de provar sua inocência, precisam cruzar a cidade digladiando com as outras quadrilhas para chegarem até Coney Island, o seu território. Liderados por Swan (Michael Beck), os oito membros dos Warriors, e a intempestiva Mercy (Deborah Van Valkenburgh), partem em uma pequena odisséia, percorrendo metrôs sombrios e ruas estranhas de uma Nova Iorque decadente, dominada pelo crime e pela anarquia. A jornada do grupo é pontuada pela voz de uma misteriosa radialista (Lynne Thigpen), que funciona como uma espécie de coro grego, situando o espectador após cada batalha vencida. Os violentos conflitos são conduzidos com maestria por Hill, e a tensão aumenta toda vez que uma nova gangue entra em cena, uma mais exótica e cruel que a outra. Lizzies, Turnbulls, Rogues, todas esperam uma oportunidade de arrancar um pedaço dos pobres guerreiros. A batalha com os excêntricos Baseball Furies (e suas pinturas faciais estilo Kiss), onde tacos de baseball são utilizados com a reverência dos samurais, ou a briga no banheiro da estação de metrô, onde o “slow motion” (uma das artimanhas preferidas de Hill) intensifica a ação, já se tornaram antológicas. No entanto, uma cena chave da trama é realizada sem ação e violência, mas em tortuoso silêncio, quando a bordo do metrô, Swan e Mercy, sujos e ensangüentados após uma noite de luta pela sobrevivência, se deparam com dois jovens casais vindos de uma festa disco. De um lado, os párias, os excluídos, de outro, os filhos abastados da sociedade, lindos e perfeitos em seus ternos e vestidos brancos. Olhares se cruzam revelando medo, ódio e desprezo. Um silencioso e representativo embate social.
Após tornar-se um influente objeto de culto durante os anos 1980, esta violenta odisséia de um grupo de jovens anti-heróis se apresenta para uma nova geração através de um jogo concebido para o Playstation 2, e rumores já anunciam uma inevitável refilmagem em 2009.
Em 2005, Walter Hill, descontente com o fato de público, na época do lançamento, não haver percebido as referências básicas da trama, lançou uma nova versão do filme contendo uma introdução sobre a batalha de Cunaxa, e reforçando os aspectos de HQs, utilizando em algumas transposições uma fusão entre atores e storyboards. Após quase trinta anos, o filme ainda demonstra ter força o suficiente para manter-se vivo no imaginário popular, e quando menos se espera, insones e cinéfilos de plantão se deparam com ele em alguma inusitada “sessão da madrugada”.
Punhos de Serpente
3.1 21 Assista AgoraClássico da "Sessão Faixa Preta". Quem hoje em dia recorda que no começo dos anos 80 a Globo tinha uma sessão regular destinada aos clássicos do kung fu? Só saudosistas anacrônicos como eu, rs.
O Último Dragão
3.5 158 Assista Agora"Now, when I say, "Who's da mastah?" you say, "Sho'nuff!"
O Som do Trovão
2.4 205Desastrosa adaptação de um conto fantástico de Ray Bradbury.
Serpentes a Bordo
2.2 481 Assista Agora"Sem noção. Por que o Samuel aceitou fazer esse filme??". Katy, 5 milhões de dólares não é um bom motivo?
Shaft
3.6 56 Assista AgoraWho's the black private dick
That's a sex machine to all the chicks?
SHAFT!
Ya damn right!
Who is the man that would risk his neck
For his brother man?
SHAFT!
Can you dig it?
Who's the cat that won't cop out
When there's danger all about?
SHAFT!
Right On!
They say this cat Shaft is a bad mother
SHUT YOUR MOUTH!
I'm talkin' 'bout Shaft.
THEN WE CAN DIG IT!
He's a complicated man
But no one understands him but his woman
JOHN SHAFT!
Amargo Pesadelo
3.9 199 Assista Agora"I bet you can squeal like a pig".
Terra de Ninguém
3.9 193Fabiana, "Terra de Ninguém" é inspirado em fatos reais, mas para variar, Tarantino "homenageou" o filme do Malick ao escrever o roteiro de "Natural Born Killers".
Cidade dos Anjos
3.7 1,5K Assista AgoraUm belo exemplo de como deturpar e destruir uma obra original,inspirada e contemplativa. Doses excessivas de glicose, enquanto "Asas do Desejo" exigia reflexão e questionamento.
O Homem Que Odiava as Mulheres
3.6 27 Assista AgoraColocaram a ficha técnica do filme dos anos 60, e o cartaz da versão realizada em 2008, que aliás, tem pouco em comum com o original.
O Silêncio do Lago
3.4 174Uma das maiores atrocidades já cometidas pela indústria de Hollywood, foi refilmar e modificar o chocante desfecho da versão francesa, trocando por um "happy end" absurdo e ofensivo a proposta do filme original.
Constantine
3.8 1,7K Assista AgoraO grande problema do filme é se chamar "Constantine", pois não tem "absolutamente nada a ver com a HQ". Desassociando o filme da sua suposta fonte, é um filme de horror e fantasia divertido e plasticamente interessante, mas quando comparado, chega a ser ofensivo aos fãs.
Fantasmas de Marte
2.3 165 Assista AgoraAna, tu deixa de ver um filme do Carpenter no meio (e ainda assim emite opinião)...e tem coragem de revelar que foi ver "Avassaladoras"!!!
Pânico na Floresta 2
2.8 384Sequência original de "Pânico na Floresta"(Wrong Turn), mas como a Playarte, numa atitude de pura picaretagem, havia lançado o péssimo "Timber Falls" como "Pânico na Floresta 2", resolveram lançá-lo com este título genérico.