Infelizmente ele é clichêzão em uma parte fundamental do filme: o início, com a criança hiperativa que gruda na vida do heroi, brigam em um determinado momento, ele se arrepende e tenta remediar o erro. Apesar de, na metade final, ele buscar desconstruir essa imagem, esse problema inicial faz com que não nos apeguemos à personagem por ser algo que já foi visto em dezenas de outros filmes. A ideia, de igual modo, também não é muito original, sendo inevitável não lembrar do Naruto com seu demônio interno. É assistível, com uma boa técnica de animação, mas mais do mesmo.
Esse filme foi uma ótima surpresa considerando que, em seus 20 minutos iniciais, ficava somente pensando "O filme vai ser só isso? Eles andando e conhecendo lugares? Como vão encher 90 minutos com isso?" sendo que, logo em seguida, você percebe como essa longa parte inicial é essencial para você compreender a relação dos dois e sentir o mesmo sentimento de desespero, tristeza e abandono durante toda a espera na praia. É justamente por causa desse início que todo o filme ganha um senso de urgência, que mesmo sem falas você consegue perceber cada um dos pensamentos dos personagens e te dá vontade de querer ajudar. É lindo ver todo o controle que a produção tem em contar essa história, inserindo nos momentos certos os alívios, os romances, o drama.
Não sei se "Meu amigo robô" seria uma tradução certa ao filme já que em alguns momentos fica meio suspeita a relação deles.
Apesar do desconforto que o filme causa em certos momentos ao reviver fatos cruéis da vida das vítimas diante das próprias, mesmo desconforto expressado pelo ator em certo momento que chega a abandonar a cena, ainda assim o filme mostra a necessidade de tais momentos ao final. Se de início considerei que toda a questão beirava a tortura psicológica, à medida que as irmãs vão contando sua história você percebe que de fato elas superaram os traumas mas eles ainda doem, e por isso que ele parece crueldade porque, se fôssemos nós, jamais iríamos querer reviver uma dor tão forte.
E é com uma sucessão de plot twists, todos muito bem utilizados, que percebemos que tal dor não é nada perto dos últimos acontecimentos de suas vidas.
Confesso que jamais imaginei que as irmãs mais velhas tinham ingressado no ISIS e, em reviravoltas contínuas, ainda mostra que houve o casamento com um líder terrorista, que sua base foi bombardeada, que elas sobreviveram, foram presas, uma teve uma filha, as irmãs mais novas também estavam num fanatismo religioso que se encerrou com o tratamento psicológico em abrigo enquanto as mais velhas foram condenadas.
Não tem como acompanhar toda essa sucessão final sem ficar de boca aberta. Se fosse um filme de ficção ninguém acreditaria.
História cruel em um documentário que, de forma muito inteligente, retira do espectador qualquer ideia de que o pai "não fez mais do que sua obrigação" em lutar judicialmente pela punição aos estupradores da filha, mostrando o retrógrado pensamento do vilarejo, as ameaças, o sistema judicial indiano e as consequências que isso acarretaria para o seu próprio dia a dia. Ele deixa muito claro que a opção mais fácil e que costumeiramente era usada seria seguir a opinião do chefe da vila e, por isso, todo o esforço dispendido não pode ser encarado como "apenas sua obrigação", mas sim um ato de heroismo que tem que ser incentivado.
Tem um dos momentos mais lindos que já vi, ao mostrar a filha, após seu depoimento, sorrindo e com os olhos cheios de lágrimas, sendo visível como aquele momento lhe retirou um grande peso das costas.
Que figura fascinante que é Bobi Wine, tanto que mesmo com o documentário sendo bem lento pelo excesso de acontecimentos em sua primeira uma hora de duração, em que precisa explicar quem ele é, de onde veio, sua chegada na política e o contexto político de Uganda, ainda assim te prende na tela por querermos vê-lo andando por seu país e cantando suas músicas (que são muito boas).
Ainda, esse momento inicial lento sequer é dispensável já que é uma preparação necessária para as consequências da segunda hora, quando o filme toma uma agilidade maior.
Senti falta somente da demonstração de um pensamento mais profundo de Bobi Wine, a provocação para que ele ingressasse em uma discussão política, já que nas poucas vezes em que ele se manifesta tem um discurso bem interessante dos problemas sociais, idealista, mas sem abordar soluções.
Taí um filme que merece mais propaganda porque é um dos mais prazerosos de se acompanhar no Oscar. Tudo nele funciona: a trama que acompanha a mudança de menino a homem; os efeitos especiais; as cenas que, mesmo quando líricas, não são de difícil compreensão; o ritmo excelente; trilha sonora que casa com as cenas e a fotografia magnífica (principalmente na sequência do Sahara). É emocionante e, mesmo falando de da população Senegalesa e seu sonho de ir à Europa, é contada de uma forma que qualquer pessoa consegue se conectar.
Este é um daqueles que você consegue enxergar sendo "redescobertos" no futuro em uma edição Criterion.
Há muito tempo eu não tinha aquela sensação terrível de "Eu não acredito que esse filme vai terminar assim!", e sim, ele termina. É por obras assim que mesmo com o A24 sendo o único estúdio do cinema atual que investe em histórias fora do comum eu não consigo gostar das obras porque para cada obra prima existem outros dez filmes extremamente vazios lançados. E é bem isso o que acontece aqui: é um filme vazio, sem propósito. Mesmo sendo boa a ideia de mostrar o dia a dia de uma família que mora ao lado do campo de concentração, com o uso do som sendo muito interessante para mostrar como as pessoas se acostumam às maiores atrocidades se elas ficam contínuas, bem como o apego aos detalhes como por exemplo o irmão que tranca o outro em uma estufa e começa a fazer o barulho de gás, ainda assim é um filme que diz muito pouco para a suas quase duas horas.
Poderia ter utilizado desses detalhes em um filme mais profundo ou, se não tinha isso, que se transformasse em um curta experimental, mas é triste ver um filme sobre a Segunda Guerra e Campos de Concentração que não te faça sentir nada.
Confesso que, pelas críticas, imaginava que seria pior.
Seu ponto negativo é todo o segmento entre 10 e 30 minutos em que o documentário busca mostrar toda a crueldade do conflito, se utilizando de imagens de ferimentos, crianças mortas, cabeças ensanguentadas, dentre outros. Não que a guerra não seja isso, mas a forma como essas cenas são mostradas acabam adquirindo até mesmo um tom apelativo, baixo, e ao invés de você considerar que eram os Russos que estavam sendo cruéis, seu desprezo se transfere para o documentarista e ficamos falando "Cara, sai daí. Não precisa ficar dentro da sala de cirurgia. Deixa a família em paz". São compreensíveis as cenas já que, por se tratar de correspondente jornalista, buscava denunciar no próprio dia o que vinha acontecendo na Ucrânia a fim de ter uma resposta rápida das autoridades. No entanto, a forma como isso foi demonstrado no documentário acabou dando um tom sádico à história.
Por sorte, talvez por uma mudança de pensamento do diretor ou até pela própria continuidade do conflito, esse estilo se altera após a meia hora inicial, sendo tenso e brutal, sim, mas sem ser tão apelativo, adquirindo o tom certo entre o choque e a denúncia sem exposição excessiva das vítimas. A cena do parto da criança é uma das coisas mais tensas do cinema.
Não gostei tanto quanto esperava em razão de o filme, logo em seu momento inicial, acabar se dispersando um pouco em sua proposta.
Temos uma boa cena inicial em que Paulina diz que usará aquele momento para explicar ao marido quem ele foi, seguido de várias cenas de arquivo. Isso faz com que consideremos que este será o estilo do documentário, como forma de mostrar a alguém com Alzheimer tudo que ele fez de grandioso na vida.
No entanto, logo em seguida, o filme altera e passa a mostrar um tempo considerável da rotina da esposa no teatro, tirando o protagonismo que, até aquele momento, acreditava-se ser do marido e sua doença. Então nós, como espectador, passamos a ver que será mostrada, em realidade, a rotina do casal, o que não é verdade já que com 30 minutos de filme ele retorna a mostrar a vida do marido, mostrando imagens de reportagens que ele fez e perguntando se ele se recorda.
Essa alteração constante de foco na história em seus momentos iniciais, essenciais para que nos apeguemos aos personagens, fazem com que nós espectadores percamos o apego e fiquemos inseguros assistindo, mesmo com tudo se ajeitando após a meia hora inicial e se tornando cativante.
Talvez não tenha gostado por ser o curta que fui ver com a maior expectativa já que qualquer forma de restrição à arte em geral me comove, e com isso acabei ficando decepcionado pelo curta ter sido raso em abordar as razões dos livros terem sido banidos ou restringidos, principalmente por, logo em seu início, apresentarem uma lista de obras que sequer faz sentido sua proibição, como O Conto de Aia ou O Hobbit, escolhendo focar mais nas histórias com temática LGBT e, próximo ao final, algumas que tratam a respeito do preconceito racial.
E até mesmo dentre essas poderia ter sido muito mais contundente já que já haviam mostrado a capa de grandes livros de mesma temática e que se encontravam proibidos, como por exemplo livros de Toni Morrison, vencedora do Nobel, os livros de Martin Luther King e alguns de James Baldwin, autor negro e gay que só se descobriu como ser humano após ir embora dos Estados Unidos.
Faltou muita coragem ao falar de como é a proibição é obra da ignorância, dedicando somente uma frase a isto.
Muito fraco mesmo tendo um potencial incrível pela história que se propõe a contar e pelas diversas imagens de arquivo que acaba juntando. No entanto, falta foco do diretor, que acaba criando vários fragmentos que pouco conversam entre si. Visualmente é o melhor de todos os curtas indicados, tendo uma excelente fotografia, mas faltou conteúdo.
Outro daqueles curtas sobre pequenas iniciativas, mesmo não sendo tão interessante nos segmentos que mostra a atividade como barbeiro ele se torna muito bom quando apresenta o expansionismo da atividade e a criação de fundos de acessibilidade, podendo mostrar toda a realidade sobre o discurso que vinha abordando sobre a desigualdade social e a necessidade de investimentos em sua comunidade.
Acertadamente utiliza de uma visão mais esperançosa ao invés de criar um curta triste e desolador, mostrando o caminho certo para redução de desigualdades.
Apesar das duas primeiras histórias serem bem fracas, o curta toma um rumo bem interessante logo em seguida ao trazer vidas fora do comum, seja por um amigo pessoal do Coronel Tom Parker (algo incomum por si só visto que ele era alguém que não tinha amigos) ou a história de um imigrante de guerra.
Segue o estilo costumeiro do Oscar em trazer algum curta sobre uma iniciativa, como uma propaganda a fim de incentivar sua manutenção, como já ocorrido nos anos anteriores a respeito de um site de notícias feito somente por mulheres na Índia ou aulas de Skate para garotas.
Seu ponto alto com certeza é a sequências dos créditos finais.
Não sei se é por estar chegando aos 30, mas esse é o exato tipo de filme que, se eu tivesse visto há uns cinco anos atrás, me irritaria profundamente, e agora eu acho maravilhoso.
Da mesma forma que Past Lives, também concorrente ao Oscar este ano, Dias perfeitos é um filme sobre a vida, o dia a dia, e me causou a mesma reação assistindo a ambos: pouco me importava se aconteceria alguma coisa ou não naquela história, eu só queria ver os personagens fazendo suas coisas do dia a dia da maneira mais deliciosa possível.
Chegou a um ponto em que de fato comecei a ver a minha própria vida retratada na tela, o sujeito que só quer saber de fazer seu trabalho, ouvir suas músicas (e até me assustei por serem as mesmas músicas que ouço) e ler seus livros antes de dormir, e qualquer coisa que interfira nessa rotina já é um incômodo.
Tanto que é justamente por esse ponto que ele peca próximo ao final: como o interessante do filme é ver ele seguindo sua rotina com toda a dedicação possível, vivendo o presente, ele se torna cansativo quando começa a colocar muitos elementos que fogem desse padrão nos últimos 20 minutos, como um dia de jornada exaustiva e beber junto com alguém.
Quando Wes Anderson lançou O Grande Hotel Budapeste comentei que o filme era como uma transposição literal de um livro ao cinema, com todos os diálogos, pausas e reconstruções de cenários. Agora Wes Anderson se utiliza do mesmo estilo, mas de fato adaptando uma obra literária e, por ter dado certo, trazendo novamente o mesmo elenco. E é lindo como o curta funciona desde o elemento mais básico, seu roteiro, em que se utiliza da velha tática de As Mil e Uma Noites em contar uma história dentro de uma história para nos deixar tensos e atraídos pelo que está sendo mostrado, algo essencial considerando que os diálogos são extensos e com muitas informações, algo que poderia tornar o curta cansativo (e por sorte não é).
Incrível que, mesmo com grandes atores, todos eles competentes e vencedores do Oscar, Dev Patel ainda consegue roubar a cena e se tornar o personagem mais interessante de todos, dando pequenos toques no seu personagem como um diálogo mais rápido aliado à língua ligeiramente presa, fazendo com que queiramos ouvi-lo falar por horas seguidas.
É o melhor do ano, apesar de não ser muito difícil considerando a qualidade sofrível dos concorrentes.
Que filme incrível. Ele é tão bom, mas tão bom, que é uma das raras vezes que sequer consigo pensar no que escrever porque de fato ele te deixa sem palavras. Segue aquilo que eu mais gosto na arte em geral que é te provocar, te fazer sentir e entrar em conflito, e o filme todo é esse crescimento de emoções que vai te deixando sufocado porque todos os personagens, sem exceção, até mesmo os mais doces, tem momentos em que estão certos e momentos em que estão errados ao ponto de cometerem crimes, e você fica impassível nesse meio sem saber se quer bater em todo mundo para tomar um jeito ou tratar com delicadeza afinal não merecem sofrer o que sofrem.
Tenho pleno conhecimento de que já fui assistir ao filme com antipatia pelo Jon Batiste por ele ter levado o Grammy da Billie Eilish quando concorria pelo Happier Than Ever (e também sei que a culpa nem é do cara, mas do meu comportamento de fã), mas também sei reconhecer que os motivos de não ter gostado do documentário não tem nada a ver com isso.
Isso porque mesmo sendo um documentário você percebe que diversas situações ali estão sendo forçadas, e os próprios personagens mostram um desconforto em estar diante das câmeras, não aparentando a naturalidade necessária. É como se, por exemplo, diversas ligações e videochamadas fossem feitas unicamente para soltar uma frase de efeito ou para fazer um link com a cena seguinte e eles não querem se propor a isso, mas mesmo assim o fazem.
Os poucos momentos em que o filme mostra uma naturalidade é quando trata de todo os acontecimentos com a esposa, e criamos um apego tão grande com ela que queremos apenas vê-la em tela, pouco importando a sinfonia que era o mote principal para que o filme existisse, tanto que, quando a música realmente surge, o filme até fica cansativo e você tem vontade que ele se encerre logo, não tendo a menor curiosidade para saber como ficou o trabalho.
São coisas assim que me impressionam no cinema pelo seguinte: o filme é um clichezão do “self made man”, com as mesmas características do cara que sai do nada, passa dificuldades, desemprego, família com fome, trabalho massacrante mas sempre com um sorriso no rosto, etc. Você já sabe desde o início onde a história vai levar, quais são os pontos de virada, de expectativa não cumprida, onde o plano vai dar errado e onde vai dar certo e até as frases de efeito.
E mesmo assim chega no final e você se emociona, fica feliz pelo personagem, torce por ele, mesmo repetindo técnicas óbvias, por vezes sendo pedante e obviamente voltado para vender uma imagem de uma produto/empresa. É uma história deliciosa de assistir, ainda que não tenha um orçamento gigantesco e apresse seu filme para contar todo o necessário em cerca de 90 minutos a fim de não cansar seu espectador.
E se mesmo com tudo isso o filme funciona, não tem como dizer que ele é ruim.
Ele tem dois problemas bem sérios: o primeiro, que talvez seja mais grave, é que ele considera que o espectador sabe o suficiente sobre todo o desenrolar da Guerra do Yom Kippur, o que não é verdade. Com isso, em diversos momentos o filme fica confuso, tendo cenas em que os personagens lamentam as mortes, derrotas e emboscadas e, logo na cena seguinte, falam que venceram a guerra "por pouco". Como, se há menos de um minuto e com um corte abrupto todos estavam chorando em sua sala de guerra? De que forma essa vitória veio?
Ainda, assim, o filme é interessante de assistir pelos conflitos dramáticos entre os personagens, mas que poderia ser melhor se não fosse o seu segundo problema: Como ele assume que Golda foi uma figura controversa (termo utilizado pelo próprio filme no segmento final), ele fica receoso em abordá-la tanto como heroína quanto como vilã. E isso não significa que ele assume, por consequência, uma narrativa neutra, mas sim uma narrativa que evita tocar em determinados assuntos ou motivações, o que deixa o filme não somente incompleto mas causando uma distância do espectador à personagem.
É legal ver que, ao contrário dos muitos filmes atuais, ele intercala imagens do período e das pessoas reais com reconstituições por computador, o que dá um realismo maior, e é muito interessante os diversos usos que fazem da fumaça do cigarro, seja como para ilustrar a multidão de pensamentos na cabeça de Golda ou um "anjo da morte" que varre os campos de batalha.
Este foi uma grata surpresa. Mesmo sendo arrastado e por diversas vezes perdendo tempo ao buscar criar cenas de uma beleza poética (e que incomodam justamente por esta não ser a intenção do filme), o roteiro é tão bom que ainda assim é agradável de assistir, sendo uma crítica ferrenha aos ditadores e líderes, utilizando da figura de Pinochet como poderia ter utilizado várias outras (coisa que o próprio filme faz, mas que não cumpre dizer aqui para não dar spoiler), os sanguessugas.
É inevitável não lembrar de What We do In The Shadows, mas aqui com a paródia surgindo de uma maneira mais séria, quase como se buscasse escancarar a insanidade do nosso mundo. Você ri não porque ele deturpa o real, mas sim porque ele está mostrando quão bizarro é o real.
A melhor cena do filme, referente à inquisição feita por Carmen aos personagens enquanto estes riem contando as coisas mais absurdas, é algo de aplaudir de pé.
Eu amo musicais, mas com este aqui eu consegui sentir exatamente a mesma coisa que o público que não gosta do gênero sente. Isso porque as músicas não só não combinam com a história que está sendo contada, que é extremamente pesada principalmente em sua parte inicial, como também nada agregam ao contexto geral. Ao invés delas trazerem aquilo que não pode ser esboçado nos diálogos, repetem informações que o espectador já havia entendido em um gesto, uma fala ou uma carta, como por exemplo a sequência musical das "Calças de Cellie". Sim, são sequências visualmente bonitas mas, com exceção de "Hell No", todas elas te tiram da imersão sobre a história e por diversas vezes tive vontade de acelerar o filme pois já estava visível que elas não estravam trazendo nada de novo ao roteiro.
Afora isso, as atuações são boas, em especial a de Danielle Brooks, sendo merecida a indicação. Visualmente impecável, dando vontade de emoldurar diversos momentos, como por exemplo Shug chegando na canoa, mas de fato não precisava ser um musical.
Ele é propositalmente desconfortável e todos os seus elementos são criados para reforçar esse desconforto no espectador, como uma provocação constante afinal basicamente estamos vendo um ser humano, em seu estado puro, sendo moldado conforme o meio em que está inserido (e por isso as diversas discussões filosóficas que surgem no filme, ainda que não se aventurem em algo mais profundo, não são desnecessárias). Então é muito interessante ver que a música, de início, nunca consegue ser tocada sem uma nota destoante, como se tivesse algo errado e incompleto, tal qual a formação de Bella que ainda tem dificuldades para falar e andar, e somente quando essa formação se completa que a trilha se apresenta de forma perfeita (mas ainda assim assustadora, para mostrar como a situação em si é bizarra). Ele parte do elemento mais primordial do ser humano, o sexo, e a partir disso vai fazendo com que Bella descubra o mundo ao redor e como sua sociedade buscava formar de moldar esse instinto básico (desde casamentos forçados até a extração de clitóris). É basicamente uma aula de arte e filosofia.
Seu único ponto negativo, que nem creio que seja tão relevante assim, é que ele peca pelo excesso, nos fazendo chegar ao final do filme exaustos com a quantidade de informações mesmo ele sendo um filme bem enxuto, tendo somente as cenas necessárias para contar essa história (sim, até mesmo as dezenas cenas de sexo são necessárias, já que ele mostra a prática sob diversos pontos, desde a descoberta, o prazer pessoal e a recompensa até como forma de controle).
Não considero superior a A Favorita, mas ainda assim é excelente.
É esse tipo de curta que me refiro quando considero a categoria de curtas a melhor do Oscar (e que infelizmente neste ano deixou a desejar, como já havia comentado na lista da premiação), porque ele tem o poder de, em poucos minutos, te contar uma história impactante, provocar e brincar com seus sentimentos. Se de início o espectador, ainda que de forma mínima, pode ter algum julgamento, próximo ao seu final a história muda de forma tão abrupta que nos vemos no lugar da mãe e, por ser algo tão rápido, não nos dá tempo de vermos outra alternativa. Nós apoiamos e ficamos entristecidos juntos, sentados na mesma cadeira de espera. Infelizmente, após esse lapso, o curta acaba caindo em um diálogo pedante que te tira completamente daquele universo, sendo desnecessário por tudo que já vinha sendo mostrado.
Não sei se esse curta é uma adaptação, mas ao menos parece que um conto seria a melhor forma de contar essa história. Chega a ser gritante como o meio audiovisual não consegue passar as mesmas interações e conflitos necessários para mostrar essa história, com personagens em comportamentos vagos que, ainda que tenham uma resolução final, nos passam uma impressão de “É só isso?”. O conflito interno dos protagonistas e as confusões que são mostradas nas suas expressões, e até mesmo a tentativa de fuga em alguns momentos, necessitavam de um diálogo a mais, um pensamento em off. Às vezes os sentimentos precisam de mais palavras para serem sentidos por nós.
Nimona
4.1 235 Assista AgoraInfelizmente ele é clichêzão em uma parte fundamental do filme: o início, com a criança hiperativa que gruda na vida do heroi, brigam em um determinado momento, ele se arrepende e tenta remediar o erro. Apesar de, na metade final, ele buscar desconstruir essa imagem, esse problema inicial faz com que não nos apeguemos à personagem por ser algo que já foi visto em dezenas de outros filmes. A ideia, de igual modo, também não é muito original, sendo inevitável não lembrar do Naruto com seu demônio interno. É assistível, com uma boa técnica de animação, mas mais do mesmo.
Meu Amigo Robô
4.0 86Esse filme foi uma ótima surpresa considerando que, em seus 20 minutos iniciais, ficava somente pensando "O filme vai ser só isso? Eles andando e conhecendo lugares? Como vão encher 90 minutos com isso?" sendo que, logo em seguida, você percebe como essa longa parte inicial é essencial para você compreender a relação dos dois e sentir o mesmo sentimento de desespero, tristeza e abandono durante toda a espera na praia. É justamente por causa desse início que todo o filme ganha um senso de urgência, que mesmo sem falas você consegue perceber cada um dos pensamentos dos personagens e te dá vontade de querer ajudar. É lindo ver todo o controle que a produção tem em contar essa história, inserindo nos momentos certos os alívios, os romances, o drama.
Não sei se "Meu amigo robô" seria uma tradução certa ao filme já que em alguns momentos fica meio suspeita a relação deles.
As 4 Filhas de Olfa
3.8 36 Assista AgoraApesar do desconforto que o filme causa em certos momentos ao reviver fatos cruéis da vida das vítimas diante das próprias, mesmo desconforto expressado pelo ator em certo momento que chega a abandonar a cena, ainda assim o filme mostra a necessidade de tais momentos ao final. Se de início considerei que toda a questão beirava a tortura psicológica, à medida que as irmãs vão contando sua história você percebe que de fato elas superaram os traumas mas eles ainda doem, e por isso que ele parece crueldade porque, se fôssemos nós, jamais iríamos querer reviver uma dor tão forte.
E é com uma sucessão de plot twists, todos muito bem utilizados, que percebemos que tal dor não é nada perto dos últimos acontecimentos de suas vidas.
Confesso que jamais imaginei que as irmãs mais velhas tinham ingressado no ISIS e, em reviravoltas contínuas, ainda mostra que houve o casamento com um líder terrorista, que sua base foi bombardeada, que elas sobreviveram, foram presas, uma teve uma filha, as irmãs mais novas também estavam num fanatismo religioso que se encerrou com o tratamento psicológico em abrigo enquanto as mais velhas foram condenadas.
Não tem como acompanhar toda essa sucessão final sem ficar de boca aberta. Se fosse um filme de ficção ninguém acreditaria.
Matar um Tigre
3.8 30 Assista AgoraHistória cruel em um documentário que, de forma muito inteligente, retira do espectador qualquer ideia de que o pai "não fez mais do que sua obrigação" em lutar judicialmente pela punição aos estupradores da filha, mostrando o retrógrado pensamento do vilarejo, as ameaças, o sistema judicial indiano e as consequências que isso acarretaria para o seu próprio dia a dia. Ele deixa muito claro que a opção mais fácil e que costumeiramente era usada seria seguir a opinião do chefe da vila e, por isso, todo o esforço dispendido não pode ser encarado como "apenas sua obrigação", mas sim um ato de heroismo que tem que ser incentivado.
Tem um dos momentos mais lindos que já vi, ao mostrar a filha, após seu depoimento, sorrindo e com os olhos cheios de lágrimas, sendo visível como aquele momento lhe retirou um grande peso das costas.
Bobi Wine: O Presidente Do Povo
3.6 27Que figura fascinante que é Bobi Wine, tanto que mesmo com o documentário sendo bem lento pelo excesso de acontecimentos em sua primeira uma hora de duração, em que precisa explicar quem ele é, de onde veio, sua chegada na política e o contexto político de Uganda, ainda assim te prende na tela por querermos vê-lo andando por seu país e cantando suas músicas (que são muito boas).
Ainda, esse momento inicial lento sequer é dispensável já que é uma preparação necessária para as consequências da segunda hora, quando o filme toma uma agilidade maior.
Senti falta somente da demonstração de um pensamento mais profundo de Bobi Wine, a provocação para que ele ingressasse em uma discussão política, já que nas poucas vezes em que ele se manifesta tem um discurso bem interessante dos problemas sociais, idealista, mas sem abordar soluções.
Eu, Capitão
4.0 71 Assista AgoraTaí um filme que merece mais propaganda porque é um dos mais prazerosos de se acompanhar no Oscar. Tudo nele funciona: a trama que acompanha a mudança de menino a homem; os efeitos especiais; as cenas que, mesmo quando líricas, não são de difícil compreensão; o ritmo excelente; trilha sonora que casa com as cenas e a fotografia magnífica (principalmente na sequência do Sahara). É emocionante e, mesmo falando de da população Senegalesa e seu sonho de ir à Europa, é contada de uma forma que qualquer pessoa consegue se conectar.
Este é um daqueles que você consegue enxergar sendo "redescobertos" no futuro em uma edição Criterion.
Zona de Interesse
3.6 609 Assista AgoraHá muito tempo eu não tinha aquela sensação terrível de "Eu não acredito que esse filme vai terminar assim!", e sim, ele termina. É por obras assim que mesmo com o A24 sendo o único estúdio do cinema atual que investe em histórias fora do comum eu não consigo gostar das obras porque para cada obra prima existem outros dez filmes extremamente vazios lançados. E é bem isso o que acontece aqui: é um filme vazio, sem propósito. Mesmo sendo boa a ideia de mostrar o dia a dia de uma família que mora ao lado do campo de concentração, com o uso do som sendo muito interessante para mostrar como as pessoas se acostumam às maiores atrocidades se elas ficam contínuas, bem como o apego aos detalhes como por exemplo o irmão que tranca o outro em uma estufa e começa a fazer o barulho de gás, ainda assim é um filme que diz muito pouco para a suas quase duas horas.
Poderia ter utilizado desses detalhes em um filme mais profundo ou, se não tinha isso, que se transformasse em um curta experimental, mas é triste ver um filme sobre a Segunda Guerra e Campos de Concentração que não te faça sentir nada.
20 Dias em Mariupol
3.9 57 Assista AgoraConfesso que, pelas críticas, imaginava que seria pior.
Seu ponto negativo é todo o segmento entre 10 e 30 minutos em que o documentário busca mostrar toda a crueldade do conflito, se utilizando de imagens de ferimentos, crianças mortas, cabeças ensanguentadas, dentre outros. Não que a guerra não seja isso, mas a forma como essas cenas são mostradas acabam adquirindo até mesmo um tom apelativo, baixo, e ao invés de você considerar que eram os Russos que estavam sendo cruéis, seu desprezo se transfere para o documentarista e ficamos falando "Cara, sai daí. Não precisa ficar dentro da sala de cirurgia. Deixa a família em paz". São compreensíveis as cenas já que, por se tratar de correspondente jornalista, buscava denunciar no próprio dia o que vinha acontecendo na Ucrânia a fim de ter uma resposta rápida das autoridades. No entanto, a forma como isso foi demonstrado no documentário acabou dando um tom sádico à história.
Por sorte, talvez por uma mudança de pensamento do diretor ou até pela própria continuidade do conflito, esse estilo se altera após a meia hora inicial, sendo tenso e brutal, sim, mas sem ser tão apelativo, adquirindo o tom certo entre o choque e a denúncia sem exposição excessiva das vítimas. A cena do parto da criança é uma das coisas mais tensas do cinema.
A Memória Infinita
4.0 44Não gostei tanto quanto esperava em razão de o filme, logo em seu momento inicial, acabar se dispersando um pouco em sua proposta.
Temos uma boa cena inicial em que Paulina diz que usará aquele momento para explicar ao marido quem ele foi, seguido de várias cenas de arquivo. Isso faz com que consideremos que este será o estilo do documentário, como forma de mostrar a alguém com Alzheimer tudo que ele fez de grandioso na vida.
No entanto, logo em seguida, o filme altera e passa a mostrar um tempo considerável da rotina da esposa no teatro, tirando o protagonismo que, até aquele momento, acreditava-se ser do marido e sua doença. Então nós, como espectador, passamos a ver que será mostrada, em realidade, a rotina do casal, o que não é verdade já que com 30 minutos de filme ele retorna a mostrar a vida do marido, mostrando imagens de reportagens que ele fez e perguntando se ele se recorda.
Essa alteração constante de foco na história em seus momentos iniciais, essenciais para que nos apeguemos aos personagens, fazem com que nós espectadores percamos o apego e fiquemos inseguros assistindo, mesmo com tudo se ajeitando após a meia hora inicial e se tornando cativante.
O ABC da Proibição de Livros
3.6 30Talvez não tenha gostado por ser o curta que fui ver com a maior expectativa já que qualquer forma de restrição à arte em geral me comove, e com isso acabei ficando decepcionado pelo curta ter sido raso em abordar as razões dos livros terem sido banidos ou restringidos, principalmente por, logo em seu início, apresentarem uma lista de obras que sequer faz sentido sua proibição, como O Conto de Aia ou O Hobbit, escolhendo focar mais nas histórias com temática LGBT e, próximo ao final, algumas que tratam a respeito do preconceito racial.
E até mesmo dentre essas poderia ter sido muito mais contundente já que já haviam mostrado a capa de grandes livros de mesma temática e que se encontravam proibidos, como por exemplo livros de Toni Morrison, vencedora do Nobel, os livros de Martin Luther King e alguns de James Baldwin, autor negro e gay que só se descobriu como ser humano após ir embora dos Estados Unidos.
Faltou muita coragem ao falar de como é a proibição é obra da ignorância, dedicando somente uma frase a isto.
Island in Between
3.0 21Muito fraco mesmo tendo um potencial incrível pela história que se propõe a contar e pelas diversas imagens de arquivo que acaba juntando. No entanto, falta foco do diretor, que acaba criando vários fragmentos que pouco conversam entre si. Visualmente é o melhor de todos os curtas indicados, tendo uma excelente fotografia, mas faltou conteúdo.
The Barber of Little Rock
3.3 18Outro daqueles curtas sobre pequenas iniciativas, mesmo não sendo tão interessante nos segmentos que mostra a atividade como barbeiro ele se torna muito bom quando apresenta o expansionismo da atividade e a criação de fundos de acessibilidade, podendo mostrar toda a realidade sobre o discurso que vinha abordando sobre a desigualdade social e a necessidade de investimentos em sua comunidade.
Acertadamente utiliza de uma visão mais esperançosa ao invés de criar um curta triste e desolador, mostrando o caminho certo para redução de desigualdades.
A Última Loja de Consertos
3.9 32 Assista AgoraApesar das duas primeiras histórias serem bem fracas, o curta toma um rumo bem interessante logo em seguida ao trazer vidas fora do comum, seja por um amigo pessoal do Coronel Tom Parker (algo incomum por si só visto que ele era alguém que não tinha amigos) ou a história de um imigrante de guerra.
Segue o estilo costumeiro do Oscar em trazer algum curta sobre uma iniciativa, como uma propaganda a fim de incentivar sua manutenção, como já ocorrido nos anos anteriores a respeito de um site de notícias feito somente por mulheres na Índia ou aulas de Skate para garotas.
Seu ponto alto com certeza é a sequências dos créditos finais.
Dias Perfeitos
4.2 313 Assista AgoraNão sei se é por estar chegando aos 30, mas esse é o exato tipo de filme que, se eu tivesse visto há uns cinco anos atrás, me irritaria profundamente, e agora eu acho maravilhoso.
Da mesma forma que Past Lives, também concorrente ao Oscar este ano, Dias perfeitos é um filme sobre a vida, o dia a dia, e me causou a mesma reação assistindo a ambos: pouco me importava se aconteceria alguma coisa ou não naquela história, eu só queria ver os personagens fazendo suas coisas do dia a dia da maneira mais deliciosa possível.
Chegou a um ponto em que de fato comecei a ver a minha própria vida retratada na tela, o sujeito que só quer saber de fazer seu trabalho, ouvir suas músicas (e até me assustei por serem as mesmas músicas que ouço) e ler seus livros antes de dormir, e qualquer coisa que interfira nessa rotina já é um incômodo.
Tanto que é justamente por esse ponto que ele peca próximo ao final: como o interessante do filme é ver ele seguindo sua rotina com toda a dedicação possível, vivendo o presente, ele se torna cansativo quando começa a colocar muitos elementos que fogem desse padrão nos últimos 20 minutos, como um dia de jornada exaustiva e beber junto com alguém.
A Incrível História de Henry Sugar
3.6 165 Assista AgoraQuando Wes Anderson lançou O Grande Hotel Budapeste comentei que o filme era como uma transposição literal de um livro ao cinema, com todos os diálogos, pausas e reconstruções de cenários. Agora Wes Anderson se utiliza do mesmo estilo, mas de fato adaptando uma obra literária e, por ter dado certo, trazendo novamente o mesmo elenco. E é lindo como o curta funciona desde o elemento mais básico, seu roteiro, em que se utiliza da velha tática de As Mil e Uma Noites em contar uma história dentro de uma história para nos deixar tensos e atraídos pelo que está sendo mostrado, algo essencial considerando que os diálogos são extensos e com muitas informações, algo que poderia tornar o curta cansativo (e por sorte não é).
Incrível que, mesmo com grandes atores, todos eles competentes e vencedores do Oscar, Dev Patel ainda consegue roubar a cena e se tornar o personagem mais interessante de todos, dando pequenos toques no seu personagem como um diálogo mais rápido aliado à língua ligeiramente presa, fazendo com que queiramos ouvi-lo falar por horas seguidas.
É o melhor do ano, apesar de não ser muito difícil considerando a qualidade sofrível dos concorrentes.
A Sala dos Professores
3.9 141 Assista AgoraQue filme incrível. Ele é tão bom, mas tão bom, que é uma das raras vezes que sequer consigo pensar no que escrever porque de fato ele te deixa sem palavras. Segue aquilo que eu mais gosto na arte em geral que é te provocar, te fazer sentir e entrar em conflito, e o filme todo é esse crescimento de emoções que vai te deixando sufocado porque todos os personagens, sem exceção, até mesmo os mais doces, tem momentos em que estão certos e momentos em que estão errados ao ponto de cometerem crimes, e você fica impassível nesse meio sem saber se quer bater em todo mundo para tomar um jeito ou tratar com delicadeza afinal não merecem sofrer o que sofrem.
Facilmente está no top 5 do Oscar esse ano.
Jon Batiste: American Symphony
3.3 25Tenho pleno conhecimento de que já fui assistir ao filme com antipatia pelo Jon Batiste por ele ter levado o Grammy da Billie Eilish quando concorria pelo Happier Than Ever (e também sei que a culpa nem é do cara, mas do meu comportamento de fã), mas também sei reconhecer que os motivos de não ter gostado do documentário não tem nada a ver com isso.
Isso porque mesmo sendo um documentário você percebe que diversas situações ali estão sendo forçadas, e os próprios personagens mostram um desconforto em estar diante das câmeras, não aparentando a naturalidade necessária. É como se, por exemplo, diversas ligações e videochamadas fossem feitas unicamente para soltar uma frase de efeito ou para fazer um link com a cena seguinte e eles não querem se propor a isso, mas mesmo assim o fazem.
Os poucos momentos em que o filme mostra uma naturalidade é quando trata de todo os acontecimentos com a esposa, e criamos um apego tão grande com ela que queremos apenas vê-la em tela, pouco importando a sinfonia que era o mote principal para que o filme existisse, tanto que, quando a música realmente surge, o filme até fica cansativo e você tem vontade que ele se encerre logo, não tendo a menor curiosidade para saber como ficou o trabalho.
Flamin' Hot: O Sabor que Mudou a História
3.3 65 Assista AgoraSão coisas assim que me impressionam no cinema pelo seguinte: o filme é um clichezão do “self made man”, com as mesmas características do cara que sai do nada, passa dificuldades, desemprego, família com fome, trabalho massacrante mas sempre com um sorriso no rosto, etc. Você já sabe desde o início onde a história vai levar, quais são os pontos de virada, de expectativa não cumprida, onde o plano vai dar errado e onde vai dar certo e até as frases de efeito.
E mesmo assim chega no final e você se emociona, fica feliz pelo personagem, torce por ele, mesmo repetindo técnicas óbvias, por vezes sendo pedante e obviamente voltado para vender uma imagem de uma produto/empresa. É uma história deliciosa de assistir, ainda que não tenha um orçamento gigantesco e apresse seu filme para contar todo o necessário em cerca de 90 minutos a fim de não cansar seu espectador.
E se mesmo com tudo isso o filme funciona, não tem como dizer que ele é ruim.
Golda: A Mulher De Uma Nação
3.0 64Ele tem dois problemas bem sérios: o primeiro, que talvez seja mais grave, é que ele considera que o espectador sabe o suficiente sobre todo o desenrolar da Guerra do Yom Kippur, o que não é verdade. Com isso, em diversos momentos o filme fica confuso, tendo cenas em que os personagens lamentam as mortes, derrotas e emboscadas e, logo na cena seguinte, falam que venceram a guerra "por pouco". Como, se há menos de um minuto e com um corte abrupto todos estavam chorando em sua sala de guerra? De que forma essa vitória veio?
Ainda, assim, o filme é interessante de assistir pelos conflitos dramáticos entre os personagens, mas que poderia ser melhor se não fosse o seu segundo problema: Como ele assume que Golda foi uma figura controversa (termo utilizado pelo próprio filme no segmento final), ele fica receoso em abordá-la tanto como heroína quanto como vilã. E isso não significa que ele assume, por consequência, uma narrativa neutra, mas sim uma narrativa que evita tocar em determinados assuntos ou motivações, o que deixa o filme não somente incompleto mas causando uma distância do espectador à personagem.
É legal ver que, ao contrário dos muitos filmes atuais, ele intercala imagens do período e das pessoas reais com reconstituições por computador, o que dá um realismo maior, e é muito interessante os diversos usos que fazem da fumaça do cigarro, seja como para ilustrar a multidão de pensamentos na cabeça de Golda ou um "anjo da morte" que varre os campos de batalha.
O Conde
3.2 97 Assista AgoraEste foi uma grata surpresa. Mesmo sendo arrastado e por diversas vezes perdendo tempo ao buscar criar cenas de uma beleza poética (e que incomodam justamente por esta não ser a intenção do filme), o roteiro é tão bom que ainda assim é agradável de assistir, sendo uma crítica ferrenha aos ditadores e líderes, utilizando da figura de Pinochet como poderia ter utilizado várias outras (coisa que o próprio filme faz, mas que não cumpre dizer aqui para não dar spoiler), os sanguessugas.
É inevitável não lembrar de What We do In The Shadows, mas aqui com a paródia surgindo de uma maneira mais séria, quase como se buscasse escancarar a insanidade do nosso mundo. Você ri não porque ele deturpa o real, mas sim porque ele está mostrando quão bizarro é o real.
A melhor cena do filme, referente à inquisição feita por Carmen aos personagens enquanto estes riem contando as coisas mais absurdas, é algo de aplaudir de pé.
A Cor Púrpura
3.5 105Eu amo musicais, mas com este aqui eu consegui sentir exatamente a mesma coisa que o público que não gosta do gênero sente. Isso porque as músicas não só não combinam com a história que está sendo contada, que é extremamente pesada principalmente em sua parte inicial, como também nada agregam ao contexto geral. Ao invés delas trazerem aquilo que não pode ser esboçado nos diálogos, repetem informações que o espectador já havia entendido em um gesto, uma fala ou uma carta, como por exemplo a sequência musical das "Calças de Cellie". Sim, são sequências visualmente bonitas mas, com exceção de "Hell No", todas elas te tiram da imersão sobre a história e por diversas vezes tive vontade de acelerar o filme pois já estava visível que elas não estravam trazendo nada de novo ao roteiro.
Afora isso, as atuações são boas, em especial a de Danielle Brooks, sendo merecida a indicação. Visualmente impecável, dando vontade de emoldurar diversos momentos, como por exemplo Shug chegando na canoa, mas de fato não precisava ser um musical.
Pobres Criaturas
4.1 1,2K Assista AgoraEle é propositalmente desconfortável e todos os seus elementos são criados para reforçar esse desconforto no espectador, como uma provocação constante afinal basicamente estamos vendo um ser humano, em seu estado puro, sendo moldado conforme o meio em que está inserido (e por isso as diversas discussões filosóficas que surgem no filme, ainda que não se aventurem em algo mais profundo, não são desnecessárias). Então é muito interessante ver que a música, de início, nunca consegue ser tocada sem uma nota destoante, como se tivesse algo errado e incompleto, tal qual a formação de Bella que ainda tem dificuldades para falar e andar, e somente quando essa formação se completa que a trilha se apresenta de forma perfeita (mas ainda assim assustadora, para mostrar como a situação em si é bizarra). Ele parte do elemento mais primordial do ser humano, o sexo, e a partir disso vai fazendo com que Bella descubra o mundo ao redor e como sua sociedade buscava formar de moldar esse instinto básico (desde casamentos forçados até a extração de clitóris). É basicamente uma aula de arte e filosofia.
Seu único ponto negativo, que nem creio que seja tão relevante assim, é que ele peca pelo excesso, nos fazendo chegar ao final do filme exaustos com a quantidade de informações mesmo ele sendo um filme bem enxuto, tendo somente as cenas necessárias para contar essa história (sim, até mesmo as dezenas cenas de sexo são necessárias, já que ele mostra a prática sob diversos pontos, desde a descoberta, o prazer pessoal e a recompensa até como forma de controle).
Não considero superior a A Favorita, mas ainda assim é excelente.
Red, White and Blue
3.8 33É esse tipo de curta que me refiro quando considero a categoria de curtas a melhor do Oscar (e que infelizmente neste ano deixou a desejar, como já havia comentado na lista da premiação), porque ele tem o poder de, em poucos minutos, te contar uma história impactante, provocar e brincar com seus sentimentos. Se de início o espectador, ainda que de forma mínima, pode ter algum julgamento, próximo ao seu final a história muda de forma tão abrupta que nos vemos no lugar da mãe e, por ser algo tão rápido, não nos dá tempo de vermos outra alternativa. Nós apoiamos e ficamos entristecidos juntos, sentados na mesma cadeira de espera. Infelizmente, após esse lapso, o curta acaba caindo em um diálogo pedante que te tira completamente daquele universo, sendo desnecessário por tudo que já vinha sendo mostrado.
Knight of Fortune
3.4 24Não sei se esse curta é uma adaptação, mas ao menos parece que um conto seria a melhor forma de contar essa história. Chega a ser gritante como o meio audiovisual não consegue passar as mesmas interações e conflitos necessários para mostrar essa história, com personagens em comportamentos vagos que, ainda que tenham uma resolução final, nos passam uma impressão de “É só isso?”. O conflito interno dos protagonistas e as confusões que são mostradas nas suas expressões, e até mesmo a tentativa de fuga em alguns momentos, necessitavam de um diálogo a mais, um pensamento em off. Às vezes os sentimentos precisam de mais palavras para serem sentidos por nós.