Juro por Deus, eu quase desisti umas três vezes de assistir. O enredo enfadonho e sua narrativa extremamente cansativa meio que abafam o incrível trabalho de arte do filme, que impressiona muito. Mas isso apenas não é suficiente pra sustentar tamanha monotonia e vazio temático. Chato é pouco.
Tem coisas na vida que não necessitam explicação. Entender algo nem sempre é a chave ou o melhor panorama para se absorver algum tipo de experiência. As vezes, a resposta que a gente mais precisa está nos nossos sentidos, em conseguir simplesmente experimentar aquilo com a alma. E o cinema de Béla Tarr me proporciona isso. Em especial, esse aqui conversa comigo de uma forma muito mais íntima e pessoal, não há palavras que consigam expressar o meu sentimento ao rever essa obra-prima. E nem quero tentar fazer isso. Me basta compreender que tudo ali é evidenciado para ecoar em nossas vidas, para nos tirar de uma zona de conforto onde a fórmula barata é sempre a resposta pra tudo. Aqui, não existem apenas respostas, mas também muitas perguntas. “As Harmonias de Werckmeister” é um olhar assustador - e até em partes, inocente - do ser humano sobre o caos e a barbárie que reinam sobre a terra.
Quando a gente realmente percebe que a forma é muito mais importante que o conteúdo, a nossa experiência com cinema passa a ser algo bem mais profundo e cheio de emoções distintas. E eu acho que são filmes como esse que fazem o cinema ser tão fascinante e único.
História bem batida, mas... agrada. Acho esse bem menos sofisticado que seu trabalho anterior “The Ardennes” - um filme que inclusive gosto muito - tanto na abordagem, quanto no desenvolvimento geral do filme. Dá pra notar que Pront se atenta muito em focar na sua ambientação e edifica o perigo em torno desse aspecto. Ainda que algumas situações sejam padronizadas e clichês demais, existe um cuidado narrativo e técnico bem coeso e isso impõe uma força significativa em alguns momentos.
Se aventura para além de uma simples crítica à conjuntura política da Romênia de Ceausescu. Ainda que peque na força de disseminação da sua proposta, Porumboiu trata com muito humor e descontração um sentimento de ressaca moral, seja ele ocasionado pelo passado, ou pelo presente. É um filme sobre a reminiscência de algo que não conseguimos nos desprender.
Gente, que coisa mais linda. Ao mesmo tempo que é muito forte em sua temática, é também muito suave e cheio de sentimento. Impressionante que um filme tão curto consiga nos atingir de forma tão incisiva. Simples, mas muito rico e emocionante.
Além de expor as consequências de uma vida sem perspectiva, Kitano humaniza seus personagens sugados pela marginalidade e contrapõe o seu fracasso a uma suposta vida de sucessos, que nem sempre é o que parece ser. Ele dignifica o problemático e coloca em cheque o suposto normal, e o faz de um jeito ímpar, como poucos conseguem. Seu cinema é bem peculiar, mas sempre atinge o calo da questão, e sempre o faz com uma sutileza de marejar os olhos. Kitano é muito foda.
Caramba, quanta delicadeza. Fiquei encantado com o desenrolar e com os caminhos que o filme toma. A princípio, é uma história que soa extremamente simples, que representa bem o cotidiano humilde e tranquilo das pessoas retratadas, a fotografia viva em conjunto de uma direção segura de Kelly Reichardt tornam esse trabalho um pedaço de arte admirável. O mais incrível de tudo, é que depois o filme se transforma em um bonito e emocionante espelho sobre a amizade. E a maneira utilizada para conceber essa ideia funciona tão bem que sequer precisamos de diálogos para entender o que o filme nos diz. Aqui, os gestos, os olhares e o silêncio são suficientes.
É um recorte sobre a vida de pessoas comuns, sobre o elo estabelecido em torno do companheirismo e do significado genuíno do que é ser digno, ser leal. Fica evidente que algumas coisas são para além da vida. Um filme repleto de momentos tocantes. Muito, mas muito bonito.
O que eu absorvo dessa experiência bem interessante é que existe uma clara alegoria sobre a vida e seus ciclos, seus momentos mais inocentes e corriqueiros - representado, por exemplo, na cena em que a avó dá o anel de presente à neta - e também seus momentos de instabilidade, de tristeza e do horror perante à situações de extremo sofrimento. E o filme aproveita essa ideia explorando muito bem a sua ambientação, a atmosfera melancólica aqui meio que sintetiza as camadas da obra. É, de certa forma, um molde da própria existência humana. O que vemos acontecer no longa nada mais é que a representação do definhamento, seja ele físico ou mental, que todo ser humano está submetido. Estamos todos ligados a um mesmo destino. Nós vivemos e padecemos.
O sentimento de autoridade como fator para o desvirtuamento moral e ético do ser humano. É isso o que vemos aqui, em um panorama de caos e barbárie, o poder corrompe não só a pessoa, mas também o seu próprio espírito.
Por ser um filme de gênero basicamente focado na proposta do procedimento, na ação propriamente dita e não muito na exploração do acontecimento em si, eu esperava que fosse menos anticlimático e mais poderoso na execução. Claro que, em determinados momentos, empolga e consegue inserir uma enérgica e tensa situação de perigo iminente, existe cuidado suficiente pra sustentar toda a carga apreensiva apresentada aqui. Mas, como todo filme que se propõe a ser impiedoso na sua abordagem, ele necessitava de um ápice mais consistente, pra conseguir fechar a sua conjuntura sem um sentimento de frustração. Tem todos os aspectos possíveis pra ser um exemplar eficiente no gênero - incluindo a atuação de Tom Hanks que sempre chama a atenção - porém, por um problema possivelmente de roteiro, não se aventura a ser algo a mais. Parece que existe uma limitação que impede o longa de ter um desfecho mais incisivo. É aquela coisa, não é de todo ruim, só que quando parece que vai engrenar, o filme acaba.
O declínio da glamourosa vida de um gangster. Aqui, não parece ser uma jornada muito nobre ou digna, não existe o luxo e nem o dinheiro exacerbado. O anti-heroi não tem prestígio, sofre, perde e não é valorizado. Ao mesmo tempo, continua agindo de forma moralmente perigosa, violenta e sem escrúpulos. Seu desenvolvimento expõe uma persona cheia de bondade e ao mesmo tempo totalmente cruel, e isso acaba estabelecendo essa linha tênue entre a violência e a complacência, o que me agrada bastante. O filme caminha melhor quando foca mais na compreensão dos problemas do protagonista do que na sua trama em si, que por vezes acaba se repetindo demais. Apesar dos exageros megalomaníacos que possui, consegue mesclar bem suas camadas e funcionar quando se atem ao básico. É a vida no crime e suas consequências. Não tem volta.
A metáfora sobre a raiva é genial. Sem contar que é um filme que explora essa ideia de forma a que nada pareça ou soe completamente óbvia, muito por conta de sua direção, que é muito segura e eficiente. Assustador, pra dizer o mínimo. Cronenberg já mostrava sinais de sua genialidade aterrorizante.
“Por que acham que existe uma loja de armas em quase todas as esquinas desta comunidade? Eu digo o porquê, pela mesma razão que existe uma loja de bebidas em quase todas as esquinas nos bairros negros. Por quê? Porque eles querem que nos matemos.”
Os diversos furos atrapalham um tanto a concepção geral do filme, a impressão que fica é que existe uma complexidade estrutural e ao mesmo tempo um descuido nos detalhes, que são importantes. Mesmo assim, é um trabalho que, de forma eficiente, trabalha muito bem as transições de sua trama e subtramas, além de empolgar com suas cenas mais tensas. Um emaranhado de tragédias ancorado pelo poder político e religioso, além do sanguinário, corrupto e vingativo submundo do crime organizado na Itália.
Visceral, cru e muito perturbador, Henry é um filme sem elegância, sem situações romantizadas, sem escrúpulos. Um olhar mais frio e direto sobre a natureza humana. Diferente de diversas outras obras que retratam o assunto, aqui não há espaço para o fascínio cultural acerca dos Serial Killers. O buraco é bem mais embaixo.
As vezes, a benevolência é o complemento mais importante para uma vida mais feliz. Um doce e sensível retrato sobre as relações de amizade que florescem em vidas tão distintas e, ao mesmo tempo, tão semelhantes.
Apesar da questão das personalidades ser muito interessante e definir uma diretriz menos engessada na narrativa, acho que tropeça na própria ambição. Aliás, dos que assisti do To, esse é o mais pretensioso de todos. Não que isso seja totalmente ruim, mas os elementos apresentados não funcionam tanto de maneira harmoniosa como deveriam. Parece que se atém muito a ser complexo demais e se desprende do primordial. Faltou pé no chão pra ser algo a mais. No geral, empolga pela ambientação e pelo estilo único do diretor, que é um show à parte.
Muito bem estruturado, o longa de estreia de Nolan evidencia sua característica que viria a ser sua marca registrada: trama complexa que, usufruindo de artifícios narrativos bem manjados, se torna algo despretensiosamente interessante. Acho alguns de seus trabalhos o completo oposto disso, mas aqui é tudo muito natural e, de certa forma, ambicioso. Gostei bem.
Béla Tarr filma a angustiante rotina da subsistência, do vazio e de uma vida definida pelo nada. Se existe experiência mais imersiva, dolorosa e difícil, eu desconheço. É a degradante faceta da humanidade. O caminho inevitável para a única certeza da vida: a morte.
O tom mais melancólico e de tristeza ditam o teor dessa segunda parte, focada no pós Revolução Cubana e na louvável escolha de Che em liderar o movimento guerrilheiro na Bolívia. Um filme que condensa bem o sentimento ferrenho do grupo em lutar até a morte com o abatimento sobre a iminência de serem feitos prisioneiros. Tem momentos de se tirar o chapéu, como a cena em que Che é morto pelo inimigo. A câmera sob a perspectiva do revolucionário padecendo perante o soldado boliviano - representando o imperialismo - é bem marcante. Aliás, é um trabalho muito bem dirigido por Soderbergh. Um filme que lança um olhar diferente e sem preconceitos sobre a vida de um dos homens mais importantes da história e que merece ser lembrado.
A coragem que Soderbergh tem em retratar a revolução cubana sem partir do princípio condenatório e em momento algum adotar o senso comum em sua abordagem - mesmo não fugindo de circunstâncias polêmicas do movimento - foi algo que me deixou absolutamente arrebatado. Também muito louvável foi a escolha de colocar as figuras de Fidel Castro e Che Guevara como líderes que lutaram por Cuba em um momento que o imperialismo dos EUA circundava toda a américa latina. O diretor enobrece seus líderes sem medo, mostrando o real caráter e princípio da revolução. Aliás, ambos representados de forma magistral por Benicio Del Toro e Demián Bichir, dão um realismo totalmente palpável a seus personagens, coisa de se espantar.
“Che” é um retrato fiel e muito justo sobre os acontecimentos que antecederam a derrubada de Fulgêncio Batista do poder. Da organização até o desfecho glorioso. Retrato histórico digno demais.
“Ganhamos apenas a guerra, a Revolução começa agora.”
Uma animação tecnicamente deslumbrante sobre um país devastado pelo terror impositivo do talibã. Aliás, as expressões e os traços do desenho falam muito mais que palavras, a tristeza e a desolação são sentidas de verdade. Um primor conseguir falar tanta coisa e ser tão delicado e triste ao mesmo tempo apenas com os olhares. Comovente.
Me causa um pouco de aversão e ceticismo o fato do filme ser estruturalmente didático demais, e digo isso porque esse aspecto transforma uma questão séria e delicada em algo totalmente convencional, normativo (isso narrativamente falando). Além de não expandir o debate ideológico e político do caso de uma maneira abrangente, o filme se coloca em um papel defensivo e de pouca pretensão, coisa que diminui sua contundência como retrato. Detalhe, essa visão sustento no que julgo ser uma fragilidade de roteiro de natureza muito pobre. Se a análise for a partir da sua intenção, aí o filme me pega muito mais. Acho sua essência importante e pujante, que proporciona diversos questionamentos sobre o certo, o errado, sobre as rasuras internas de cada pessoa e que se esforça muito mais em entender a motivação do ser humano em si para consequentemente chegar ao verdadeiro problema central, que é tão complexo. Gosto muito, inclusive, da maneira que o longa insere na mesma balança o sofrimento entre oprimido e opressor, a imparcialidade surge bem aqui. E o drama que envolve a animosidade entre ambos, funciona em determinados pontos, mas não caminha muito. Acho que a causa palestina merecia um filme menos padronizado e acomodado.
Monos: Entre o Céu e o Inferno
3.3 39 Assista AgoraJuro por Deus, eu quase desisti umas três vezes de assistir. O enredo enfadonho e sua narrativa extremamente cansativa meio que abafam o incrível trabalho de arte do filme, que impressiona muito. Mas isso apenas não é suficiente pra sustentar tamanha monotonia e vazio temático. Chato é pouco.
As Harmonias de Werckmeister
4.3 94Tem coisas na vida que não necessitam explicação. Entender algo nem sempre é a chave ou o melhor panorama para se absorver algum tipo de experiência. As vezes, a resposta que a gente mais precisa está nos nossos sentidos, em conseguir simplesmente experimentar aquilo com a alma. E o cinema de Béla Tarr me proporciona isso. Em especial, esse aqui conversa comigo de uma forma muito mais íntima e pessoal, não há palavras que consigam expressar o meu sentimento ao rever essa obra-prima. E nem quero tentar fazer isso. Me basta compreender que tudo ali é evidenciado para ecoar em nossas vidas, para nos tirar de uma zona de conforto onde a fórmula barata é sempre a resposta pra tudo. Aqui, não existem apenas respostas, mas também muitas perguntas. “As Harmonias de Werckmeister” é um olhar assustador - e até em partes, inocente - do ser humano sobre o caos e a barbárie que reinam sobre a terra.
Quando a gente realmente percebe que a forma é muito mais importante que o conteúdo, a nossa experiência com cinema passa a ser algo bem mais profundo e cheio de emoções distintas. E eu acho que são filmes como esse que fazem o cinema ser tão fascinante e único.
Obrigado, Béla Tarr.
Caça Mortal
3.0 84 Assista AgoraHistória bem batida, mas... agrada. Acho esse bem menos sofisticado que seu trabalho anterior “The Ardennes” - um filme que inclusive gosto muito - tanto na abordagem, quanto no desenvolvimento geral do filme. Dá pra notar que Pront se atenta muito em focar na sua ambientação e edifica o perigo em torno desse aspecto. Ainda que algumas situações sejam padronizadas e clichês demais, existe um cuidado narrativo e técnico bem coeso e isso impõe uma força significativa em alguns momentos.
A Leste de Bucareste
3.7 31Se aventura para além de uma simples crítica à conjuntura política da Romênia de Ceausescu. Ainda que peque na força de disseminação da sua proposta, Porumboiu trata com muito humor e descontração um sentimento de ressaca moral, seja ele ocasionado pelo passado, ou pelo presente. É um filme sobre a reminiscência de algo que não conseguimos nos desprender.
Minha Vida de Abobrinha
4.2 290 Assista AgoraGente, que coisa mais linda. Ao mesmo tempo que é muito forte em sua temática, é também muito suave e cheio de sentimento. Impressionante que um filme tão curto consiga nos atingir de forma tão incisiva. Simples, mas muito rico e emocionante.
De Volta às Aulas
4.0 24Além de expor as consequências de uma vida sem perspectiva, Kitano humaniza seus personagens sugados pela marginalidade e contrapõe o seu fracasso a uma suposta vida de sucessos, que nem sempre é o que parece ser. Ele dignifica o problemático e coloca em cheque o suposto normal, e o faz de um jeito ímpar, como poucos conseguem. Seu cinema é bem peculiar, mas sempre atinge o calo da questão, e sempre o faz com uma sutileza de marejar os olhos. Kitano é muito foda.
First Cow: A Primeira Vaca da América
3.8 131 Assista AgoraCaramba, quanta delicadeza. Fiquei encantado com o desenrolar e com os caminhos que o filme toma. A princípio, é uma história que soa extremamente simples, que representa bem o cotidiano humilde e tranquilo das pessoas retratadas, a fotografia viva em conjunto de uma direção segura de Kelly Reichardt tornam esse trabalho um pedaço de arte admirável. O mais incrível de tudo, é que depois o filme se transforma em um bonito e emocionante espelho sobre a amizade. E a maneira utilizada para conceber essa ideia funciona tão bem que sequer precisamos de diálogos para entender o que o filme nos diz. Aqui, os gestos, os olhares e o silêncio são suficientes.
É um recorte sobre a vida de pessoas comuns, sobre o elo estabelecido em torno do companheirismo e do significado genuíno do que é ser digno, ser leal. Fica evidente que algumas coisas são para além da vida. Um filme repleto de momentos tocantes. Muito, mas muito bonito.
Palm Springs
3.7 469 Assista AgoraEsse looping tá parecendo minha vida na quarentena. Só que sozinho.
Relíquia Macabra
3.3 260O que eu absorvo dessa experiência bem interessante é que existe uma clara alegoria sobre a vida e seus ciclos, seus momentos mais inocentes e corriqueiros - representado, por exemplo, na cena em que a avó dá o anel de presente à neta - e também seus momentos de instabilidade, de tristeza e do horror perante à situações de extremo sofrimento. E o filme aproveita essa ideia explorando muito bem a sua ambientação, a atmosfera melancólica aqui meio que sintetiza as camadas da obra. É, de certa forma, um molde da própria existência humana. O que vemos acontecer no longa nada mais é que a representação do definhamento, seja ele físico ou mental, que todo ser humano está submetido. Estamos todos ligados a um mesmo destino. Nós vivemos e padecemos.
O Capitão
3.9 53 Assista AgoraO sentimento de autoridade como fator para o desvirtuamento moral e ético do ser humano. É isso o que vemos aqui, em um panorama de caos e barbárie, o poder corrompe não só a pessoa, mas também o seu próprio espírito.
Greyhound: Na Mira do Inimigo
3.3 250 Assista AgoraPor ser um filme de gênero basicamente focado na proposta do procedimento, na ação propriamente dita e não muito na exploração do acontecimento em si, eu esperava que fosse menos anticlimático e mais poderoso na execução. Claro que, em determinados momentos, empolga e consegue inserir uma enérgica e tensa situação de perigo iminente, existe cuidado suficiente pra sustentar toda a carga apreensiva apresentada aqui. Mas, como todo filme que se propõe a ser impiedoso na sua abordagem, ele necessitava de um ápice mais consistente, pra conseguir fechar a sua conjuntura sem um sentimento de frustração. Tem todos os aspectos possíveis pra ser um exemplar eficiente no gênero - incluindo a atuação de Tom Hanks que sempre chama a atenção - porém, por um problema possivelmente de roteiro, não se aventura a ser algo a mais. Parece que existe uma limitação que impede o longa de ter um desfecho mais incisivo. É aquela coisa, não é de todo ruim, só que quando parece que vai engrenar, o filme acaba.
Caminhos do Crime
3.8 18O declínio da glamourosa vida de um gangster. Aqui, não parece ser uma jornada muito nobre ou digna, não existe o luxo e nem o dinheiro exacerbado. O anti-heroi não tem prestígio, sofre, perde e não é valorizado. Ao mesmo tempo, continua agindo de forma moralmente perigosa, violenta e sem escrúpulos. Seu desenvolvimento expõe uma persona cheia de bondade e ao mesmo tempo totalmente cruel, e isso acaba estabelecendo essa linha tênue entre a violência e a complacência, o que me agrada bastante. O filme caminha melhor quando foca mais na compreensão dos problemas do protagonista do que na sua trama em si, que por vezes acaba se repetindo demais. Apesar dos exageros megalomaníacos que possui, consegue mesclar bem suas camadas e funcionar quando se atem ao básico. É a vida no crime e suas consequências. Não tem volta.
Os Filhos do Medo
3.7 152A metáfora sobre a raiva é genial. Sem contar que é um filme que explora essa ideia de forma a que nada pareça ou soe completamente óbvia, muito por conta de sua direção, que é muito segura e eficiente. Assustador, pra dizer o mínimo. Cronenberg já mostrava sinais de sua genialidade aterrorizante.
Boyz'n the Hood: Os Donos da Rua
4.0 247 Assista Agora“Por que acham que existe uma loja de armas em quase todas as esquinas desta comunidade? Eu digo o porquê, pela mesma razão que existe uma loja de bebidas em quase todas as esquinas nos bairros negros. Por quê? Porque eles querem que nos matemos.”
Suburra
3.7 52Os diversos furos atrapalham um tanto a concepção geral do filme, a impressão que fica é que existe uma complexidade estrutural e ao mesmo tempo um descuido nos detalhes, que são importantes. Mesmo assim, é um trabalho que, de forma eficiente, trabalha muito bem as transições de sua trama e subtramas, além de empolgar com suas cenas mais tensas. Um emaranhado de tragédias ancorado pelo poder político e religioso, além do sanguinário, corrupto e vingativo submundo do crime organizado na Itália.
Retrato de um Assassino
3.5 186Visceral, cru e muito perturbador, Henry é um filme sem elegância, sem situações romantizadas, sem escrúpulos. Um olhar mais frio e direto sobre a natureza humana. Diferente de diversas outras obras que retratam o assunto, aqui não há espaço para o fascínio cultural acerca dos Serial Killers. O buraco é bem mais embaixo.
O Agente da Estação
3.8 58As vezes, a benevolência é o complemento mais importante para uma vida mais feliz. Um doce e sensível retrato sobre as relações de amizade que florescem em vidas tão distintas e, ao mesmo tempo, tão semelhantes.
Mad Detective
3.8 16Apesar da questão das personalidades ser muito interessante e definir uma diretriz menos engessada na narrativa, acho que tropeça na própria ambição. Aliás, dos que assisti do To, esse é o mais pretensioso de todos. Não que isso seja totalmente ruim, mas os elementos apresentados não funcionam tanto de maneira harmoniosa como deveriam. Parece que se atém muito a ser complexo demais e se desprende do primordial. Faltou pé no chão pra ser algo a mais. No geral, empolga pela ambientação e pelo estilo único do diretor, que é um show à parte.
Following
4.0 303 Assista AgoraMuito bem estruturado, o longa de estreia de Nolan evidencia sua característica que viria a ser sua marca registrada: trama complexa que, usufruindo de artifícios narrativos bem manjados, se torna algo despretensiosamente interessante. Acho alguns de seus trabalhos o completo oposto disso, mas aqui é tudo muito natural e, de certa forma, ambicioso. Gostei bem.
O Cavalo de Turim
4.2 211Melancólico. Sombrio. Devastador.
Béla Tarr filma a angustiante rotina da subsistência, do vazio e de uma vida definida pelo nada. Se existe experiência mais imersiva, dolorosa e difícil, eu desconheço. É a degradante faceta da humanidade. O caminho inevitável para a única certeza da vida: a morte.
Che 2: A Guerrilha
3.6 105 Assista Agora"Eu creio no homem."
O tom mais melancólico e de tristeza ditam o teor dessa segunda parte, focada no pós Revolução Cubana e na louvável escolha de Che em liderar o movimento guerrilheiro na Bolívia. Um filme que condensa bem o sentimento ferrenho do grupo em lutar até a morte com o abatimento sobre a iminência de serem feitos prisioneiros. Tem momentos de se tirar o chapéu, como a cena em que Che é morto pelo inimigo. A câmera sob a perspectiva do revolucionário padecendo perante o soldado boliviano - representando o imperialismo - é bem marcante. Aliás, é um trabalho muito bem dirigido por Soderbergh. Um filme que lança um olhar diferente e sem preconceitos sobre a vida de um dos homens mais importantes da história e que merece ser lembrado.
Che
3.7 210 Assista AgoraA coragem que Soderbergh tem em retratar a revolução cubana sem partir do princípio condenatório e em momento algum adotar o senso comum em sua abordagem - mesmo não fugindo de circunstâncias polêmicas do movimento - foi algo que me deixou absolutamente arrebatado. Também muito louvável foi a escolha de colocar as figuras de Fidel Castro e Che Guevara como líderes que lutaram por Cuba em um momento que o imperialismo dos EUA circundava toda a américa latina. O diretor enobrece seus líderes sem medo, mostrando o real caráter e princípio da revolução. Aliás, ambos representados de forma magistral por Benicio Del Toro e Demián Bichir, dão um realismo totalmente palpável a seus personagens, coisa de se espantar.
“Che” é um retrato fiel e muito justo sobre os acontecimentos que antecederam a derrubada de Fulgêncio Batista do poder. Da organização até o desfecho glorioso. Retrato histórico digno demais.
“Ganhamos apenas a guerra, a Revolução começa agora.”
Os Olhos de Cabul
4.1 19 Assista AgoraUma animação tecnicamente deslumbrante sobre um país devastado pelo terror impositivo do talibã. Aliás, as expressões e os traços do desenho falam muito mais que palavras, a tristeza e a desolação são sentidas de verdade. Um primor conseguir falar tanta coisa e ser tão delicado e triste ao mesmo tempo apenas com os olhares. Comovente.
O Insulto
4.1 169Me causa um pouco de aversão e ceticismo o fato do filme ser estruturalmente didático demais, e digo isso porque esse aspecto transforma uma questão séria e delicada em algo totalmente convencional, normativo (isso narrativamente falando). Além de não expandir o debate ideológico e político do caso de uma maneira abrangente, o filme se coloca em um papel defensivo e de pouca pretensão, coisa que diminui sua contundência como retrato. Detalhe, essa visão sustento no que julgo ser uma fragilidade de roteiro de natureza muito pobre. Se a análise for a partir da sua intenção, aí o filme me pega muito mais. Acho sua essência importante e pujante, que proporciona diversos questionamentos sobre o certo, o errado, sobre as rasuras internas de cada pessoa e que se esforça muito mais em entender a motivação do ser humano em si para consequentemente chegar ao verdadeiro problema central, que é tão complexo. Gosto muito, inclusive, da maneira que o longa insere na mesma balança o sofrimento entre oprimido e opressor, a imparcialidade surge bem aqui. E o drama que envolve a animosidade entre ambos, funciona em determinados pontos, mas não caminha muito. Acho que a causa palestina merecia um filme menos padronizado e acomodado.