Quatro estrelas pela fotografia genial do Hoyte van Hoytema e pela atuação esforçada do Brad Pitt, mas o filme passaria muito bem sem essa narração chata de um personagem mal desenvolvido pelo roteiro.
Existem muitas razões para não gostar desse filme:
1. Não conhecer a lenda que baseou inúmeras obras, de Hamlet ao Rei Leão. 2. Não estar acostumado à linguagem simples e teatral dos contos medievais. 3. Não manjar nada da mitologia e da arte escandinava ou eslava. 4. Estar na expectativa de um épico e guerra convencional. 5. Estar com prisão de ventre ou fadiga ocular.
Todas as razões são legítimas, mas, caso elas não existam, o filme se torna uma obra estupenda. A cavalgada da Valquíria é uma das coisas mais embasbacantes que o cinema produziu recentemente, e a cena da iniciação é poderosa num sentido mítico, primitivo e espiritual. Eggers continua sem errar, mal posso esperar por seu Nosferatu!
A gargalhada do público e a reação do Louie logo na abertura, após ele dizer "my favorite sex position", dá uma ideia do quanto esse cara é amado e do quanto as pessoas antecipam os seus shows e suas piadas. Louis CK é certeza de sair exausto de tanto rir e a cada especial fica mais claro: não há cancelamento que o cale nem patrulha que o consiga censurar. Para mim, é o maior comediante de stand-up da história, saltando dos ombros do mestre Carlin e indo muito além.
Nomadland é mesmo um desses filmes milagrosos. É um poema sobre o luto e sobre a condição passageira da nossa vida.
Num ano como este, em que choramos a partida de tanta gente, é ainda um filme de cura, um filme-vacina.
A forma como a diretora, roteirista e editora Chloé Zhao aborda essa efemeridade através de coisas que parecem eternas, ou talvez atemporais, como as andorinhas que sempre estiveram voando sobre o lago do Alaska, ou a descoberta de que existem resquícios de estrelas em nossas mãos, é muito tocante.
A câmera de Joshua James Richards, namorado de Zhao, mantém-se num estado de profunda contemplação semelhante aos melhores trabalhos de Emmanuel Lubezki e Roger Deakins.
Nomadland é ainda um filme sobre a melancolia de um império em decadência. Talvez não seja mero acaso fato da cidade abandonada se chamar "Empire", e não menos evocativo é o fato de Chloé ser chinesa e natural de Beijing, capital deste império antigo que agora retoma seu posto central.
O nome do filme, Terra Nômade, é mais do que uma referência ao modo de vida dos personagens. È também sobre a terra (land) num sentido metafísico, de um "aqui" que é ao mesmo tempo um "acolá", e que vai sendo descoberto na medida em que é deixado pra trás.
A doce e brava Fern é alguém que habita esse devir e que, segundo a visão generosa de sua irmã, retorna ao modo de vida dos "pioneiros", pessoas igualmente desterradas e sempre em busca de trabalho, outrora tão romantizadas pelo mito colonialista.
Fern é, de certo modo, um cowboy dessa tal pós-modernidade, conduzindo sua diligência sem paragem certa e escapando dos escombros desse mundo que faliu. A cena em que reconstrói o prato de que seu pai lhe deu representa a possibilidade de encontrar beleza nesses escombros e de, enfim, se reconstruir.
Filme bonito e esperançoso, cinema em seu estado mais elevado.
Essa série tem sido irretocável desde o primeiro episódio, mas creio que "Bagman" (S05E08) atingiu aquele nível de genialidade que elevou a última temporada de Breaking Bad ao patamar de "obra-prima". Se Vince Gilligan já havia se consagrado como escritor, hoje podemos certamente colocá-lo no panteão melhores diretores em atividade. Genial, nada menos que isso.
Hoje entendi porque Bacurau não foi escolhido para representar o Brasil no Oscar. É porque trata-se de um filme anti-imperialista até a alma! KMF zomba tanto do subimperialismo praticado pelos vira-latas do Sudeste quanto da exploração imperialista da nossa memória, dos nossos homens, mulheres, crianças... do nosso futuro, da nossa liberdade. Bacurau é um grito seco rasgando a escuridão em que temos vivido e um estampido de bacamarte nas costelas estadunidenses (o que, particularmente, acho lindo demais da conta).
Adoro o ritmo dessa série: dá tempo de pensar, não tem lição de moral, verborragia explanatória, alívio cômico, diversidade forçada, heróis, vilões, explosões, sustos e todo esse conjunto de clichês que a gente tem de engolir na maior parte das séries. Adoro como a tensão é construída aos poucos e vai se pagando sem gerar grandes ansiedades ou expectativas. O roteiro não é megalomaníaco, por isso não tem furos nem tenta criar laços óbvios ou exagerados com o sucesso de Breaking Bad. As atuações são absolutamente perfeitas, ninguém ali parece estar mendigando Grammy, tampouco almejando Hollywood. Em resumo: TV da mais alta qualidade, que venha a quinta temporada!
O aperto no peito no último episódio, a saudade de Rajneeshpuram, a beleza da dor de Niren, a liberdade de Shanti, a força e genialidade de Sheela. E a vontade de juntar uma grana e viajar até Poona só pra dançar no Buddha hall... Wild Wild Country é sem dúvidas uma obra-prima do documentário, além de um profundo estudo sobre a natureza do culto e do fanatismo e uma crítica instigante da sociedade puritana cristã e todas as suas fobias, recalques e preconceitos. Que foda meus amigos, que baita série foda!
Muito bom, mas se eu fosse esse povo pendurava uns sinos la fora (de preferência bem longe) e amarrava uma cordinhas de varal em cada um. Daí quando os bichos viessem, era só puxar a cordinha e tava tudo resolvido.
Isso que as pessoas andam dizendo sobre não conseguir se importar muito com os personagens diz mais sobre as pessoas do que sobre o filme. E acredito que por dois motivos:
Um é por estarmos tão acostumados com o storytelling vindo das convenções literárias (uma jornada, três atos etc) que acabamos ficando viciados e não conseguimos aproveitar outras propostas tanto quanto poderíamos.
E dois é que o filme se trata de um experimento narrativo no qual o Tempo é o personagem principal e senhor do destino de todos ali. Se houvesse um protagonista humano, isso demandaria mais tempo de filme para focar nos seus dilemas e acabaria quebrando a lógica tríptica da narrativa. Desse modo, a única forma do experimento dar certo era não privilegiar ninguém na tela e não ser o próprio Tempo, algo que a trilha sonora mostra de modo praticamente literal.
Em outras palavras, Nolan não focou num arco porque quis mostrar que o coletivo e sua cooperação é mais importante do que as questões individuais de quem quer que seja.
É por isso que na minha opinião Dunkirk pode ser considerado um filme profundamente humanista: enquanto o inimigo não tem rosto, o herói tem muitos.
A estrutura narrativa de Dunkirk é muito engenhosa. A lógica "semana / dia / hora", alternadas nesta precisa ordem, encaixam o filme numa espécie de looping piramidal: a primeira cena, na praia, é mais longa. A segunda, no mar, é média. E a última, no ar, é sempre mais rápida. Juntas, formam um triângulo de tensão ascendente, o que contribui tanto para a construção de diversos pequenos clímaces quanto para a manutenção da presencialidade da história.
E para além da lógica triangular, há também uma lógica cíclica embutida na noção de que as linhas temporais eventualmente se cruzam, nos levando de volta ao mesmo lugar sob outro ponto de vista (e tempo). No final, quando as três linhas se chocam na mesma sequência, toda a arquitetura do filme é desvelada de modo inteligentíssimo.
De uma vez só, Nolan remete à várias de suas experiências anteriores com a distorção temporal. Os três níveis de sonho em Inception, em que cada cena se passa num tempo mais lento que a anterior mas todas se passam ao mesmo tempo, são ensaios do que será feito em Dunkirk. Ou quando o final de cada cena em Memento inaugura o que já ocorreu na anterior: mesmo ali já se ensaiava esses momentos de Dunkirk em que só compreendemos o que houve após completar uma viagem pelos três pontos de vista.
A sensação de relatividade provocada por Dunkirk é, no entanto, ainda mais palpável do que qualquer uma de suas obras: o quanto o piloto viveu em apenas uma hora? Ou o capitão em um dia no barco? E quanto tempo da semana inteira na praia se traduzirá em memórias? O que, afinal de contas, é o tempo para a memória - e vice-versa?
O tempo em Dunkirk está pautado por um relógio cujos ponteiros marcam três velocidades diferentes. Se vocês repararam, o filme abre com uma trilha sonora mecânica, uma espécie de tic tac sublinhado por aquele ruído que Zimmer inventou pro Joker. Na medida em que o perigo se aproxima o tic tac é acelerado e interrompido por pequenas disritmias e outros tic tacs entrelaçados. Quando isto acontece, Zimmer aproveita para introduzir as primeiras notas da música propriamente orquestrada. Assim, a cada novo pequeno momento de heroísmo, o tic tac vai sendo timidamente encoberto pela melodia. Só no final é que a música de fato toma de conta da trilha sonora, e depois que isto acontece chega a ser chocante quando o tic tac finalmente para e percebemos que a semana, o dia e a hora chegaram ao fim. É, portanto, brilhante que o filme encerre a linha temporal de terra, água e ar ao mesmo tempo, com um último tic.
Hans Zimmer é um matemático e um poeta. Talvez por isso ele e Nolan deem tão certo juntos. A estrutura narrativa de Dunkirk e sua trilha sonora são dois elementos que merecem ser estudados cientificamente.
O que mais me admira em John Wick 1 e 2 é esse senso de humor meio estranho embutido na ação. É como se o filme estivesse ao mesmo tempo fazendo uma sátira e uma homenagem ao gênero. Todas as cenas e falas são ao mesmo tempo sérias e caricatas. John Wick me lembra ao mesmo tempo Rambo e Machete, e isso é ótimo.
DARIUS: "You wanna know what I think? I think if we spent the time we spend thinking about not spending money, spent that time on spending money, then it'd be time well spent. But all the rest, you know, I..."
Edifício Aquarius é Estelita, Vila Autódromo, Parque do Cocó, Cidade Educandário, e tantos, tantos outros lugares esmagados pela indústria imobiliária... Que bom que pelo menos na arte o final pode ser mais feliz. E que bom que existe o cinema pernambucano pra manter a nossa fé na arte.
Uma cirurgião-patela com perda de memória recente, um peixinho-palhaço com uma barbatana curta, um polvo com um tentáculo a menos, uma tubarão-baleia com problemas de visão, um baleia-branca cujo sonar não funciona, uma mobelha-grande hiperativa, um leão-marinho oligofrênico... Procurando Dory é cheio de personagens especiais! <3
Uma das melhores séries que já vi, se não a melhor. Me fez rir e chorar em todos os episódios, ver e rever cenas, decorar frases... Já era fã de Louis CK, mas depois de Horace & Pete ele tem minha admiração eterna.
Gostaria de perguntar a estas pessoas reclamando da duração do filme: qual parte vocês removeriam para torná-lo mais curto?
Pergunto isso porque, depois de ver o filme duas vezes, tenho a impressão de que mesmo as cenas mais bobas estavam ali com um propósito maior, e que, caso cortadas, mais tarde apareceriam furos no roteiro.
Me desculpem, mas não consigo deixar de pensar que essa pressa de vocês é somente isso, pressa, falta de paciência. Aliás, me parece ser este um problema tipico dessa geração que já nasceu com internet: se vocês mal tem saco para ouvir uma música até o final, imagina então para um filme de quase três horas. Dá sono, né?
Na minha humilde opinião isto é um pouco trágico, porque algumas das maiores obras da história do Cinema são bem longas e exigem bastante atenção.
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso
4.3 521 Assista AgoraMeu Deus, que trabalho majestoso esse filme. Absolutamente brilhante.
Ad Astra: Rumo às Estrelas
3.3 850 Assista AgoraQuatro estrelas pela fotografia genial do Hoyte van Hoytema e pela atuação esforçada do Brad Pitt, mas o filme passaria muito bem sem essa narração chata de um personagem mal desenvolvido pelo roteiro.
Oppenheimer
4.0 1,1KCara, que ansiedade.
Emergência
3.5 128 Assista AgoraFilmão! Mais uma indicação certeira da Isabela Boscov.
O Homem do Norte
3.7 945 Assista AgoraExistem muitas razões para não gostar desse filme:
1. Não conhecer a lenda que baseou inúmeras obras, de Hamlet ao Rei Leão.
2. Não estar acostumado à linguagem simples e teatral dos contos medievais.
3. Não manjar nada da mitologia e da arte escandinava ou eslava.
4. Estar na expectativa de um épico e guerra convencional.
5. Estar com prisão de ventre ou fadiga ocular.
Todas as razões são legítimas, mas, caso elas não existam, o filme se torna uma obra estupenda. A cavalgada da Valquíria é uma das coisas mais embasbacantes que o cinema produziu recentemente, e a cena da iniciação é poderosa num sentido mítico, primitivo e espiritual. Eggers continua sem errar, mal posso esperar por seu Nosferatu!
Sorry
4.3 6A gargalhada do público e a reação do Louie logo na abertura, após ele dizer "my favorite sex position", dá uma ideia do quanto esse cara é amado e do quanto as pessoas antecipam os seus shows e suas piadas. Louis CK é certeza de sair exausto de tanto rir e a cada especial fica mais claro: não há cancelamento que o cale nem patrulha que o consiga censurar. Para mim, é o maior comediante de stand-up da história, saltando dos ombros do mestre Carlin e indo muito além.
Dave Chappelle: Encerramento
3.6 24 Assista AgoraDois dias e ainda não superei o ato final, com a história da Dafne. Chappelle sempre faz isso, te mata de rir e te deixa uma semana pensando.
Nomadland
3.9 896 Assista AgoraNomadland é mesmo um desses filmes milagrosos. É um poema sobre o luto e sobre a condição passageira da nossa vida.
Num ano como este, em que choramos a partida de tanta gente, é ainda um filme de cura, um filme-vacina.
A forma como a diretora, roteirista e editora Chloé Zhao aborda essa efemeridade através de coisas que parecem eternas, ou talvez atemporais, como as andorinhas que sempre estiveram voando sobre o lago do Alaska, ou a descoberta de que existem resquícios de estrelas em nossas mãos, é muito tocante.
A câmera de Joshua James Richards, namorado de Zhao, mantém-se num estado de profunda contemplação semelhante aos melhores trabalhos de Emmanuel Lubezki e Roger Deakins.
Nomadland é ainda um filme sobre a melancolia de um império em decadência. Talvez não seja mero acaso fato da cidade abandonada se chamar "Empire", e não menos evocativo é o fato de Chloé ser chinesa e natural de Beijing, capital deste império antigo que agora retoma seu posto central.
O nome do filme, Terra Nômade, é mais do que uma referência ao modo de vida dos personagens. È também sobre a terra (land) num sentido metafísico, de um "aqui" que é ao mesmo tempo um "acolá", e que vai sendo descoberto na medida em que é deixado pra trás.
A doce e brava Fern é alguém que habita esse devir e que, segundo a visão generosa de sua irmã, retorna ao modo de vida dos "pioneiros", pessoas igualmente desterradas e sempre em busca de trabalho, outrora tão romantizadas pelo mito colonialista.
Fern é, de certo modo, um cowboy dessa tal pós-modernidade, conduzindo sua diligência sem paragem certa e escapando dos escombros desse mundo que faliu. A cena em que reconstrói o prato de que seu pai lhe deu representa a possibilidade de encontrar beleza nesses escombros e de, enfim, se reconstruir.
Filme bonito e esperançoso, cinema em seu estado mais elevado.
Better Call Saul (5ª Temporada)
4.6 327 Assista AgoraEssa série tem sido irretocável desde o primeiro episódio, mas creio que "Bagman" (S05E08) atingiu aquele nível de genialidade que elevou a última temporada de Breaking Bad ao patamar de "obra-prima". Se Vince Gilligan já havia se consagrado como escritor, hoje podemos certamente colocá-lo no panteão melhores diretores em atividade. Genial, nada menos que isso.
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraGenial demais esse diálogo:
- What?
- What?
- What?
- What?!
- What??!
- What?!!!
- What?!?!
- WHAT?!
- WHAT!!
- WHAT!!!
- WHAT!!!!
The Witcher (1ª Temporada)
3.9 926 Assista AgoraO Henry Cavill tá a cara da Vera Holtz
Bacurau
4.3 2,8K Assista AgoraHoje entendi porque Bacurau não foi escolhido para representar o Brasil no Oscar. É porque trata-se de um filme anti-imperialista até a alma! KMF zomba tanto do subimperialismo praticado pelos vira-latas do Sudeste quanto da exploração imperialista da nossa memória, dos nossos homens, mulheres, crianças... do nosso futuro, da nossa liberdade. Bacurau é um grito seco rasgando a escuridão em que temos vivido e um estampido de bacamarte nas costelas estadunidenses (o que, particularmente, acho lindo demais da conta).
Foda-se o Oscar, Bacurau é muito maior!
Better Call Saul (4ª Temporada)
4.4 230 Assista AgoraAdoro o ritmo dessa série: dá tempo de pensar, não tem lição de moral, verborragia explanatória, alívio cômico, diversidade forçada, heróis, vilões, explosões, sustos e todo esse conjunto de clichês que a gente tem de engolir na maior parte das séries. Adoro como a tensão é construída aos poucos e vai se pagando sem gerar grandes ansiedades ou expectativas. O roteiro não é megalomaníaco, por isso não tem furos nem tenta criar laços óbvios ou exagerados com o sucesso de Breaking Bad. As atuações são absolutamente perfeitas, ninguém ali parece estar mendigando Grammy, tampouco almejando Hollywood. Em resumo: TV da mais alta qualidade, que venha a quinta temporada!
Wild Wild Country
4.3 265 Assista AgoraO aperto no peito no último episódio, a saudade de Rajneeshpuram, a beleza da dor de Niren, a liberdade de Shanti, a força e genialidade de Sheela. E a vontade de juntar uma grana e viajar até Poona só pra dançar no Buddha hall... Wild Wild Country é sem dúvidas uma obra-prima do documentário, além de um profundo estudo sobre a natureza do culto e do fanatismo e uma crítica instigante da sociedade puritana cristã e todas as suas fobias, recalques e preconceitos. Que foda meus amigos, que baita série foda!
Um Lugar Silencioso
4.0 3,0K Assista AgoraMuito bom, mas se eu fosse esse povo pendurava uns sinos la fora (de preferência bem longe) e amarrava uma cordinhas de varal em cada um. Daí quando os bichos viessem, era só puxar a cordinha e tava tudo resolvido.
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraIsso que as pessoas andam dizendo sobre não conseguir se importar muito com os personagens diz mais sobre as pessoas do que sobre o filme. E acredito que por dois motivos:
Um é por estarmos tão acostumados com o storytelling vindo das convenções literárias (uma jornada, três atos etc) que acabamos ficando viciados e não conseguimos aproveitar outras propostas tanto quanto poderíamos.
E dois é que o filme se trata de um experimento narrativo no qual o Tempo é o personagem principal e senhor do destino de todos ali. Se houvesse um protagonista humano, isso demandaria mais tempo de filme para focar nos seus dilemas e acabaria quebrando a lógica tríptica da narrativa. Desse modo, a única forma do experimento dar certo era não privilegiar ninguém na tela e não ser o próprio Tempo, algo que a trilha sonora mostra de modo praticamente literal.
Em outras palavras, Nolan não focou num arco porque quis mostrar que o coletivo e sua cooperação é mais importante do que as questões individuais de quem quer que seja.
É por isso que na minha opinião Dunkirk pode ser considerado um filme profundamente humanista: enquanto o inimigo não tem rosto, o herói tem muitos.
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraA estrutura narrativa de Dunkirk é muito engenhosa. A lógica "semana / dia / hora", alternadas nesta precisa ordem, encaixam o filme numa espécie de looping piramidal: a primeira cena, na praia, é mais longa. A segunda, no mar, é média. E a última, no ar, é sempre mais rápida. Juntas, formam um triângulo de tensão ascendente, o que contribui tanto para a construção de diversos pequenos clímaces quanto para a manutenção da presencialidade da história.
E para além da lógica triangular, há também uma lógica cíclica embutida na noção de que as linhas temporais eventualmente se cruzam, nos levando de volta ao mesmo lugar sob outro ponto de vista (e tempo). No final, quando as três linhas se chocam na mesma sequência, toda a arquitetura do filme é desvelada de modo inteligentíssimo.
De uma vez só, Nolan remete à várias de suas experiências anteriores com a distorção temporal. Os três níveis de sonho em Inception, em que cada cena se passa num tempo mais lento que a anterior mas todas se passam ao mesmo tempo, são ensaios do que será feito em Dunkirk. Ou quando o final de cada cena em Memento inaugura o que já ocorreu na anterior: mesmo ali já se ensaiava esses momentos de Dunkirk em que só compreendemos o que houve após completar uma viagem pelos três pontos de vista.
A sensação de relatividade provocada por Dunkirk é, no entanto, ainda mais palpável do que qualquer uma de suas obras: o quanto o piloto viveu em apenas uma hora? Ou o capitão em um dia no barco? E quanto tempo da semana inteira na praia se traduzirá em memórias? O que, afinal de contas, é o tempo para a memória - e vice-versa?
O tempo em Dunkirk está pautado por um relógio cujos ponteiros marcam três velocidades diferentes. Se vocês repararam, o filme abre com uma trilha sonora mecânica, uma espécie de tic tac sublinhado por aquele ruído que Zimmer inventou pro Joker. Na medida em que o perigo se aproxima o tic tac é acelerado e interrompido por pequenas disritmias e outros tic tacs entrelaçados. Quando isto acontece, Zimmer aproveita para introduzir as primeiras notas da música propriamente orquestrada. Assim, a cada novo pequeno momento de heroísmo, o tic tac vai sendo timidamente encoberto pela melodia. Só no final é que a música de fato toma de conta da trilha sonora, e depois que isto acontece chega a ser chocante quando o tic tac finalmente para e percebemos que a semana, o dia e a hora chegaram ao fim. É, portanto, brilhante que o filme encerre a linha temporal de terra, água e ar ao mesmo tempo, com um último tic.
Hans Zimmer é um matemático e um poeta. Talvez por isso ele e Nolan deem tão certo juntos. A estrutura narrativa de Dunkirk e sua trilha sonora são dois elementos que merecem ser estudados cientificamente.
John Wick: Um Novo Dia Para Matar
3.9 1,1K Assista AgoraO que mais me admira em John Wick 1 e 2 é esse senso de humor meio estranho embutido na ação. É como se o filme estivesse ao mesmo tempo fazendo uma sátira e uma homenagem ao gênero. Todas as cenas e falas são ao mesmo tempo sérias e caricatas. John Wick me lembra ao mesmo tempo Rambo e Machete, e isso é ótimo.
Atlanta (1ª Temporada)
4.5 294 Assista AgoraDARIUS: "You wanna know what I think? I think if we spent the time we spend thinking about not spending money, spent that time on spending money, then it'd be time well spent. But all the rest, you know, I..."
Eu to rindo há três dias dessa cena kkkkkkkkkkkkk
Louis C.K. 2017
4.0 25Quase tive um troço de tanto rir na parte do "Finger her I shall"
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraEdifício Aquarius é Estelita, Vila Autódromo, Parque do Cocó, Cidade Educandário, e tantos, tantos outros lugares esmagados pela indústria imobiliária... Que bom que pelo menos na arte o final pode ser mais feliz. E que bom que existe o cinema pernambucano pra manter a nossa fé na arte.
Procurando Dory
4.0 1,8K Assista AgoraUma cirurgião-patela com perda de memória recente, um peixinho-palhaço com uma barbatana curta, um polvo com um tentáculo a menos, uma tubarão-baleia com problemas de visão, um baleia-branca cujo sonar não funciona, uma mobelha-grande hiperativa, um leão-marinho oligofrênico... Procurando Dory é cheio de personagens especiais! <3
Horace and Pete (1ª Temporada)
4.6 20Uma das melhores séries que já vi, se não a melhor. Me fez rir e chorar em todos os episódios, ver e rever cenas, decorar frases... Já era fã de Louis CK, mas depois de Horace & Pete ele tem minha admiração eterna.
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista AgoraGostaria de perguntar a estas pessoas reclamando da duração do filme: qual parte vocês removeriam para torná-lo mais curto?
Pergunto isso porque, depois de ver o filme duas vezes, tenho a impressão de que mesmo as cenas mais bobas estavam ali com um propósito maior, e que, caso cortadas, mais tarde apareceriam furos no roteiro.
Me desculpem, mas não consigo deixar de pensar que essa pressa de vocês é somente isso, pressa, falta de paciência. Aliás, me parece ser este um problema tipico dessa geração que já nasceu com internet: se vocês mal tem saco para ouvir uma música até o final, imagina então para um filme de quase três horas. Dá sono, né?
Na minha humilde opinião isto é um pouco trágico, porque algumas das maiores obras da história do Cinema são bem longas e exigem bastante atenção.