Achei a química dos personagens da Lawrence e do Feldman muito boa. É de fato como se fossem amigos há anos e isso facilitou o andamento do filme em grande parte das cenas. Mas não é o suficiente para a história se destacar. Achei a história descompassada em algumas cenas, principalmente a cena do almoço na casa dos pais. O tempo entre um acontecimento e outro é desproporcional à distância dos locais de cada cena. Achei que faltou desenvolvimento nessa parte da história. No mais, fazia tempo que não me divertia no cinema vendo comédia romântica e acho que valeu o ingresso.
É de admirar como o cara conseguiu reunir em coisas tao simples do dia-a-dia aqueles pequenos momentos que a gente é impactado pelas regras invisíveis de comportamento que são pré-estabelecidas no meio que a gente vive. É angustiante assistir personagens se reprimirem tão profunda e prematuramente ao ponto de se manterem cegos até para as coisas que eles têm certeza que os fazem e sempre os fizeram felizes. E não poderia ser diferente, levando em consideração que até para adultos lidar com essas amarras é complexo. Pela perspectiva de um homem gay, eu posso afirmar que o diretor conseguiu mostrar exatamente como nós nos forçamos a não experienciar por completo a vida, quando nossa preocupação gira mais em torno da percepção das outras pessoas sobre a nossa vida, do que em vivê-la de fato. Nossa rotina é podada, nossos gostos, nossos sentimentos, nossas relações e até nossa cultura. Quantas vezes, na infância ou na vida adulta, você já decidiu não deixar à mostra a playlist de música com medo do que as pessoas pensariam de você pelo que você estava ouvindo? Quantas vezes você já deixou de ver algum filme com outras pessoas com medo de chorar perto delas? Quantas vezes já vestiu roupas diferentes do que realmente gostaria de vestir? Ou cortou o cabelo com um corte diferente? E quantas vezes você se forçou a descruzar as pernas ou a cumprimentar alguém com mais formalidade quando percebeu o peso do olhar de outras pessoas sobre seu comportamento? E o que você é se você deixa de sentir e viver as coisas que constroem o seu comportamento e te definem como ser? Que chances você tem de experimentar felicidade se o fato de ser e existir for tão pesado para você? Que exercício de reflexão impactante eu senti enquanto assistia. Que estranho é sentir que um filme explora sua intimidade emocional tão a fundo. O roteiro tem um compromentimento ultra fiel à verossimilhança. Tinham cenas, como aquela em que o Remi vai ao treino de hockey, se despindo de orgulho e lutando pela amizade, que brincavam perfeitamente com a sensação de controle sobre o que se pode ou não se permitir sentir dependendo de quem está em volta de você. Como é nítido a diferença de comportamento quando os dois estão sozinhos e quando rodeados de pessoas. O peso da vigília constante é surreal.
De um ponto de vista mais técnico, vale mencionar como ele trabalha bem com os momentos de introspecção dos personagens, até mesmo quando eles não estão sozinhos em cena. Eu sou apaixonado por cenas que mostram o personagem em contato direto com sua subjetividade de forma que nós nem precisemos de falas para deduzir sobre o que eles estão pensando e como estão se sentindo. Aqui também tem outro elemento no cinema que sempre me chama atenção; Quando alguns personagens estão juntos, eles conversam sempre sobre coisas superficiais para impulsionar a gente a sentir ainda mais o peso da repressão, já que é nítido que eles estão desviando do assunto sobre o qual eles realmente gostariam de estar falando. E que linda escolha em mostrar a derrocada da inocência de uma amizade através da produção de flores e das atividades que os dois sempre fizeram juntos. A gente é derrubado várias vezes quando percebemos que as flores vão sendo podadas e as estações mudando de maneira que o que tinha vida agora parece não ter, ou quando a estrada que eles andam de bike para chegar em casa agora é mostrada com bifurcação, como se previsse o início da repartição da convivência dos dois. Pra mim, assistir close foi um exercício de respeito à força da maturidade que eu construí para cuidar da inocência da minha intimidade. Um dos melhores que assisti esse ano.
Minha estrela foi pelo elenco, atuações e direção geral de arte. O resto, não tem salvação. Que filme péssimo! Sabe quando você percebe que tentaram utilizar mil técnicas cinematográficas sem que qualquer uma delas tenha conexão uma com a outra ou sentido algum? Esse nível de subjetividade funciona (se mto bem articulado) no teatro, mas em filmes só faz com que a gente queira reembolso da mensalidade da plataforma de streaming. Por favor, parem de fazer filmes que vomitam conceitos teoricos pedantes a cada 3 cenas e são incapazes de seguir com uma estrutura história coerente, que é o mais importante no final das contas.
Resumindo: Sabe quando vc senta num restaurante e paga um prato que é lindo e caro, mas quando você come percebe que é uma mistura de ingredientes caros jogados no lixo? Esse filme é exatamente isso.
Além da ideia principal bem recorrente na vida gay, nada mais no filme é natural. Todas as cenas parecem ensaiadas, sem ritmo natural e forçadas. Quando a gente assiste filme, nós queremos que os personagens enganem a gente, de forma que a gente esqueça que está assistindo algo programado e tenha a impressão de imersão na vida de alguém. Esse filme traz o contrário; é tudo mega articulado para intensificar trejeitos, frases feitas, dogmas, atitudes sem sentido, continuidade, etc, então em vez de focar na história, focamos na desorganização da continuidade da atuação e na falta de coerência. Parece roteiro de filme pornô barato. O tempo todo ficava imaginando a galera tirando a roupa e fazendo uma mega surubona. A diferença é que no final do pornô ruim, com esforço, ainda rola uma pun**** e uma goz***. Nesse aqui nem isso.
Como a gente está sempre acostumado ao egoísmo antropocentrista dos filmes, quando pego uma história desenvolvida para quebrar a ideia de que tudo que existe é para conceber satisfação ao homem, o filme sempre acaba me chamando mais atenção.
Não tinha entendido também porque as cenas longas (como aquelas da torta) e depois fica bem claro que o objetivo era nos incluir no marasmo de se tornar um espectador infinito da vida
O tempo é um melhor amigo questionável; não se sabe direito se ele te conforta ou se te tortura
Não comprei a irresponsabilidade do pai, pelo menos não quando não houve desenvolvimento do relacionamento dele com a Grace e da mesma com as crianças. Quem deixa os filhos com alguém que mal possui um bom relacionamento com os filhos, dentro de uma cabana no meio do nada, sem ao menos ligar de vez em quando para saber se as crianças estão se comportando e bem? Ainda mais quando os filhos acabaram de passar por um episódio tão violento e traumático na vida, como o suicídio da própria mãe?
Não via um filme tao pretensioso assim faz muito tempo. E me leve totalmente a mal: o negócio é péssimo. É um monte de cena aleatória, desconexa e imparcial para o roteiro. Um excesso de tentativas fúteis e frustantes de capturar a realidade (falsa - amém) comum a todos + o auge da divindade filosófica em cada milésimo de segundo, de forma tão mal feita, que deu a impressão que eu estava submerso num brainstorming eterno de uma timeline pseudo-cult do facebook. Só informação jogada sem sentido algum. Tão desconfortável quanto montar quebra-cabeças com peças misturadas. Um exercício inútil, sem finalidade alguma. E o que é aquela personagem principal? Desde quando esquizofrenia, transtorno de personalidade borderline e falta de caráter são curadas com o amor de ex? Que sentido tem isso? A menina é mega interesseira. Quer viver experiências eternamente? Mas só com gente milionária e com bons contatos, ne? Engraçado que é tão metida a pensadora contemporânea melancólica, mas deixou de considerar que o ócio, o egoísmo e o menosprezo que ela cultiva pela família, que estão matando cada célula do corpo dela. O personagem do Gosling não dura 1 mês com essa menina. Ela precisa de um psiquiatra, não de um namorado. E pra terminar ainda vem ceninha tentando vender uma imagem que, supostamente projeta com maior fidelidade que são os relacionamentos na realidade? EU ACREDITO EM NAMOROS!! E DEFINITIVAMENTE NÃO SÃO TÃO CHATOS!
Na segunda metade do filme eu já percebi que teria que ler sobre o mito para entender melhor o filme (que naquele ponto já havia me sovado a mente). Então resolvi ler sobre o tal Sísifo (contra minha vontade - nunca tive paciência para mitologia grega)...
O fato é que após proferir diversas ofensas aos Deuses e tentar enganar a morte, o tal do sísifo é levado ao Deus da morte para receber sua punição, que consiste no ciclo eterno mencionado pelos personagens.
No entanto meu ponto é: se a Jess é Sísifo, qual foi o motivo pelo qual ela foi condenada? Ela tentou enganar a morte ou ofendeu aos Deuses em algum momento antes do ciclo ter iniciado? (levando em conta que o início do ciclo foi o momento em que ela morreu no acidente). Isto é, não consegui encontrar resposta para justificar o porque dela ter sido punida da mesma maneira que ele foi.
Eu nunca fui e acredito que nem sou fã da Amy, apesar de respeitá-la como artista em diversos aspectos e algumas músicas sempre terem me chamado a atenção, principalmente pelas letras. Mas mesmo não sendo do fã clube, é sempre foda assistir seres humanos serem explorados, não importa como.. E ela deu muito azar. Nasceu num mundo onde fazer o que ela mais gosta significa não ser livre..
O filme sugere que mesmo que nós tivéssemos a habilidade de voltar no tempo para consertar todos os momentos que não tivessem nos satisfazido, mesmo assim, nós descobriríamos que, o segredo da felicidade está numa habilidade que nós já possuímos (encarar cada momento da melhor forma possível, dando o melhor de si) e, no entanto, deixamos passar despercebida, sem dar-lhe a necessária importância. Até ai tudo bem, maaaasss é muito simples o personagem principal dizer que uma vez que: ele já encontrou a mulher da vida dele, teve 3 filhos lindos, salvou a irmã da depressão, reviveu centenas de bons momentos com o falecido pai e ainda teve a oportunidade de dar um chute na bunda do primeiro amor que fez o mesmo com ele no passado - detalhe USANDO EXATAMENTE O VIRA TEMPO DA HERMIONE -, o bom da vida é aproveitar cada momento como se fosse o último. Beeeeem hipócrita, não? Partindo do pressuposto que mais de 80% das coisas boas da vida dele foram conseguidas através do presente que a professora McGonagall deu... [ops, not the story]. Quero ver o cara voltar desde o início da vida dele, perdendo tudo que conseguiu até agora, inclusive os filhos e esposa, e viver a vida aproveitando cada momento do jeito que ele propõe. Hmm, não é uma ideia tããããão otimista e genial agora, né? Não achei a proposta do filme honesta, sinceramente. Honesto seria ele fazer como qualquer outro ser humano faria, assumindo que utilizaria a habilidade sim, caso algo muito sério ocorresse. Afinal, duvido que se um de seus filhos sofresse algum acidente que o tornasse tetraplérgico, o cara passaria a "aproveitar" os dias como se nada mais pudesse ser feito. Será que ele conseguiria viver o resto da vida com esta tortura na consciência? Tal "dom" não é algo que possa ser esquecido assim, não sem ignorar as fraquezas e imperfeições humanas.
Apesar da proposta geral do filme não ter me convencido, gostei bastante do diálogo entre os personagens, das cenas de rotinas que foram bem próximas da realidade, e dos atores que são bons.
Frases do tipo "I gotta be ok with not being ok" definiram muito bem alguém que tivesse passado pelos problemas enfrentados pelos dois. É o sentimento de ter que ser forte o suficiente para suportar as pressões do tempo num relacionamento que passou a ser desgastante, seja pela indiferença ou cansaço de uma das partes, ou pela falta de interesse em continuar da outra. E gostei de como eles trataram o que costumamos fazer nessas horas; quando você é a parte sufocada pelo vestígio de um último relacionamento, vem automaticamente esse impulso de procurar erros em si mesmo e tentar se culpar pelo que foi ou não feito. A história é verdadeira, honesta e pé-no-chão. Com dois personagens incrivelmente ricos, reais, sentimentalmente maduros e com uma inteligência emocional de dar inveja. É o meu tipo de filme..
Me envolveu mas também deprimiu por completo, não apenas por eu ter a personalidade melancólica idêntica ao do Theodore, mas pelo fato do filme ter estabelecido uma comparação entre os sentimentos reais humanos a de um sistema artificial de computador. Enquanto uma das questões retratadas no filme é de até que ponto os sentimentos de Samantha podem ser reais, eu me pegava tentando entender se os nossos também são e se ainda temos a capacidade de expressar sentimentos e envolver os outros seres vivos com eles. Senti uma provocação, depois um incômodo enorme em saber que enquanto o desejo mais profundo de Samantha é se tornar real, de corpo e alma, para a simples finalidade de poder sentir, nós já possuímos essa qualidade e a tratamos com indiferença, sem valor algum. Ou, se possível e ainda pior, a personalidade de Samantha representa a nossa hipocrisia no que diz respeito a relacionamentos, já que hora queremos estar no relacionamento perfeito, outra somos intoleráveis e incapazes de tolerar uma relação estável com apenas 1 parceiro, sem utilizar a desculpa da insaciável busca pela metade da laranja, que de preferência deve vir sem caroços. Então, é questionável até que ponto é saudável a relação humana com os meios tecnológicos. E em que ponto essa relação começa a desmoronar através da subtração que os humanos exercem sobre todos os outros seres vivos por meio desta. Bom, algumas cenas que demonstram isso me deixaram assustado. Como aquelas em que Theodore passeava com o sistema de computador ligado, conversando distraído com ele. Digo, eu estava adorando o diálogo entre eles, mas não pude deixar de reparar que o que eu esperava era assistir as pessoas em volta achando a atitude dele carente, solitária e estranha, basicamente digna de pena (assim como a ex mulher dele admitiu na cena do divórcio). Mas não, o que você assiste é diversas pessoas em volta agindo da mesma forma, preferindo interagir com meios, como se estivessem falando sozinhas. Isso é loucura! E pior de tudo? A sinopse não brinca quando diz que a história é num futuro não tão distante, porque quem aqui nunca viu um casal sentado em um restaurante com os celulares tapando suas visões e impossibilitando que haja a interação de um com o outro? Nós estamos vivendo isso, nos tornamos cada dia mais pessoas parecidas com Theodore. E em determinado momento do filme, essa situação assustadora se intensifica mais ainda: Quando Samantha pede para que uma mulher se envolva no relacionamento dos dois, dá para notar que o ser humano está perdendo para as máquinas no tomar de decisões de cunho interpessoal. A modelo contratada é a prova de que as máquinas passaram a substituir os seres humanos cada vez mais (nota-se que aqui a máquina é o elemento propulsor do "deliberar" do casal, já o ser humano é somente o corpo, ou seja, um mero objeto que auxilia na conclusão dos planos arquitetados pela inteligência artificial), o que poderia significar o início da perda de algumas razões para nossa convivência aprofundada em conteúdos. E é óbvio dizer que quanto menos eu pratico a arte da relação social real, menos eu sei lidar com as pessoas, o que derroca numa série de problemas que impedem o ato de conviver pacificamente e harmoniosamente com diferentes indivíduos. A geração Y, por exemplo, aprende desde o berço a segurar aparelhos eletrônicos digitais e a regular seu tempo através desse relacionamento superficial. A grande maioria, portanto, também criará laços superficiais nas relações interpessoais, porque o costume do descarte e do sentimentalismo egoísta unilateral é introduzida em sua vida desde a infância. Não é de se surpreender também que Theodore tenha ficado perdido e confuso com o limite tênue que a escala de Real-Imaginário alcançou. Uma mulher é real mas não tem conteúdo, a outra possui conteúdo intenso no entanto é virtual. Bom, no fim o que resta é exatamente a extensão da confusão entre o ser virtual e o real pois, por mais diferentes que ambos possam parecer, na verdade possuem uma trivial semelhança; O perfil do amante virtual não foi criado em cima do perfil-padrão do amante real (nós humanos)? Por mais que a artificialidade dos aparelhos tecnológicos de interação processem dados mais rapidamente que nós, se eles detivessem a capacidade de projetar emoções, eles e aqueles que interagissem com ele, também deveriam lidar com divergências e problemas de relacionamentos, provenientes das mudanças constantes das vontades trazidas pelas inconstantes circunstâncias da vida. Portanto a crise do personagem principal se dá pela frustração de encontrar na personalidade das máquinas, defeitos que são parte da personalidade humana. Onde mais ele encontraria conforto se até seres supostamente "limitados" (mais fáceis de manusear, próximos de um regime de submissão) falham na relação tradicional de monogamia mais comum na sua sociedade? Ele entendeu que a troca que foi feita de um ser real por um virtual não valeu a pena, porque ambos são problemáticos, no entanto é melhor viver problemas estabelecidos através de uma relação que supostamente/inevitavelmente seja imperfeita (relação humano x humano) ou uma frustrante que pretensiosamente deva ser perfeita (humano x máquina)?
O filme é a projeção de slides que definem o sentimento cruel (que todos os seres humanos sustentam) de que as possibilidades sempre serão melhores ou mais agradáveis do que aquilo que é. O vício pelo dilema infinito de que a quantidade de opções é imensa na vida, para os seres racionais, manteve Nemo na estabilidade contínua desse tempo de vivência, preso na sequência do que "poderia ser", nunca vivendo de fato tais alternativas. O filme tem muito da leitura que Zygmunt Bauman revela em "Vida para consumo" (apesar desse focar no comportamento humano com o consumismo), sobre um mundo moderno em que, segundo ele "segue no modelo pontilhista, isto é, um modelo de vida que se fosse desenhado em um mapa, representaria um cemitério de possibilidades imaginárias, fantasiosas, ou amplamente negligenciadas e irrealizadas." Portanto o personagem é a demonstração de alguém no extremo desse Bramstorming de possibilidades, que o fez somente viver na vida da consciência de contingências e esqueceu de participar da realidade. Viver sem escolhas significou para Nemo a inexistência. Por isso que "as chances da vida de Nemo tendem a ser previstas de maneira errônea ou perdidas, enquanto a maioria dos pontos se mostra estéril e a maior parte do movimentos, natimortos". Assim que o filme aponta para a dificuldade de lidar com aquilo que escolhemos, que, de diversas formas, pode trazer consequências negativas ou indesejadas, assim como o arrependimento, mas, pode significar também sua marca no tempo e espaço representado pela sua interação com o cenário e o horário que você escolheu. Essa marcação, seja ela qual for, certamente será válida no fim, pois, de uma forma ou de outra, será a prova da sua existência...ou a evidência de quem você é ou se você sequer foi/é alguém. No fim, aquela provocação do Nemo significa: E então, vai decidir quem você é ou o que se tornará, ou covardemente passará seu tempo no devaneio eterno como eu fiz?
Mesmo que surgisse em algum lugar do espaço o encontro entre as extremidades morte e vida, tão concomitantemente opostas, ainda assim a gravidade tomaria posição, demonstraria postura rígida, reagiria poderosamente a esse fenômeno da transição da passagem humana no universo. O filme é um ritual contínuo de simbologias exatamente sobre tal passagem. Basicamente você se perde no vácuo junto com o atores, mas não somente no vácuo do espaço físico extraterrestre, e sim também, no vácuo da mente humana, da maneira com que enxergamos e lidamos com a vida, ou seja, onde e de que maneira pretendemos encaixar nossas forças e pensamentos. Aí se instaura a diferença com que os personagens do Clooney e da Bullock encaram a própria existência, permitindo que nós questionemos de qual lado estamos: da vivência sempre renovada pela sede de estar vivo, de querer continuar sendo desafiado e levar descontraidamente nossa estadia como seres vivos no universo; ou na prisão do descontentamento causado pelo acúmulo de dificuldades na nossa passagem, que prende nosso pensamento na inércia infinita da melancolia? O filme, portanto, retrata o processo de transição da maneira (antes pessimista) com que a personagem da Bullock encarava sua existência, para uma perspectiva totalmente renovada (otimista). É como se ela fosse retirada como um ser humano enxuto do planeta Terra, sem entusiasmo nenhum, ou até mesmo inóspita de sentimento devido a problemas pessoais. Exatamente como nós surgimos, embriões que somente com o tempo aprendem a desenvolver a qualidade de sentir e entender a vida. E então, como num processo de gestação (Eu entendi, aliás, comicamente, uma ligação entre Gravidade/Gravidez - onde esta primeira representa a ausência de vida e a última, a presença intensa da mesma), a personagem de Bullock renasce através da experiência que sofre no espaço. Dessa forma, no início, ela era alguém representada pela gravidade, enquanto no fim, passou a ser representada pela gravidez. Cena BRILHANTE aliás,
aquela em que Ryan consegue voltar para dentro da estação pela primeira vez, comprimindo o próprio corpo para que surgisse a imagem da posição fetal, incrementada pelos cabos dos equipamentos que delinearam a posição do cordão umbilical. Um cena estonteante!
Linda! Daquelas que impulsionam para o aplauso e certamente se tornará capa de DVDs ou imagem de catálogos de filmes que devem ser assistidos. Além das reflexões gigantescas que o filme provoca na cabeça de quem o assiste, é impossível não prestar atenção nos pequenos detalhes técnicos, tão minuciosamente bem explorados, que de tempo em tempo, durante toda a duração do filme, nos indicam de que forma os objetos e substâncias se comportam num ambiente com a falta de gravidade. Nossa atenção é tão requisitada o tempo todo para o drama apaixonante da personagem da Bullock, que os pequenos detalhes acabam nos surpreendendo, toda vez que aparecem: a forma como se comporta o fogo em ambientes com a falta de gravidade, como é possível se ingerir líquidos nesses ambientes, quanto pesa uma roupa de astronauta, ou para onde vai uma lágrima quando choramos no espaço? A ausência de som em algumas cenas, também parece afundar a sala de cinema em uma piscina.Todos ficam, ao mesmo tempo, quietos e inquietos no submerso, apreensivos, num silêncio compatível com o da experiência da Dr. Ryan. Todo o clima ainda é intensificado pelo desespero dos personagens em adquirir algum vestígio de vozes por rádio, que é a único jeito de transmitir e capitar som, além de poder significar a exclusão da solidão em um cenário, já por si só, muito solitário.
Quando Ryan é sincera com o próprio ser, confessando a si mesma, através de um devaneio, que preferia ficar segura lá em cima, longe das mazelas que a vida tinha lhe trazido, à retornar para enfrentar esses problemas, se da o ápice emocional do filme, e me atingiu, ironicamente, como uma gigantesca força de pressão atmosférica. Foi foda! (Do tipo: aquela lágrima ali é do meu óculos 3D ou do filme mesmo?)
Uma única coisa me incomodou no filme: o Clooney interpretou tão honestamente o personagem que, assim como ouve justificativa para o personagem da Bullock pertencer ao grupo dos que vivem à deriva, fiquei super curioso para saber sobre o motivo que modificou a vida dele. O que o Matt passou para sintonizar na indiferença profunda, 24 horas por dia? Qual o caminho que se percorre para alcançar tal experiência em viver? Mas considero isso uma ambição fútil, mais neurose minha do que qualquer outra coisa, porque o que responde a questão é exatamente a história de Ryan.
A medida que o filme caminha para o final, retornamos ao último estágio da analogia do período de uma gestação: a vontade de viver que desperta na personagem está vinculada às contrações que um indivíduo provoca pelo desejo de nascer, enquanto a chegada no planeta Terra, inclusive com a água (representação do líquido amniótico) invadindo a cápsula espacial(que representa o útero), indica o renascimento da personagem. E então seguem-se cenas que estabelecem essa conexão: o respirar devidamente, o aprendizado de como caminhar (levando em conta que a impressão é que você pesa 10 kg a mais quando volta do espaço) e o sentimento de se estar vendo e ouvindo tudo pela primeira vez.
É uma cena linda, em um cenário maravilhoso, realmente poética. Ah, e também cabe aqui a comparação dessa última cena com a teoria da evolução. Enquanto ela saía da água, tentando se locomover, essa ideia passou pela minha cabeça, mas de forma que o filme considerasse essa evolução um estágio acima da raça humana, do qual podemos um dia alcançar, se tentarmos interpretar a vida de forma diferente. É como se os seres humanos tivessem aqui para se conectar exatamente a essa ideia, do desapego pelas coisas desnecessárias. A questão que me prendeu foi: não é exatamente isso que devemos tentar alcançar, o desenvolvimento da capacidade de racionalizar, que somente nós possuímos, para algo que nos torne seres de fato mais evoluídos? E por fim, na maioria dos filmes, a gente está acostumado a lidar com duas hipóteses de destinos para os personagens: a vida ou a morte. Nesse, Cuarón simplesmente conseguiu atingir outra hipótese, a do RENASCIMENTO. Praticamente senti um filtro passando por mim, sugando toda a energia negativa do estado de descontentamento pela vida. Gravidade é uma Obra Prima, é certo que futuramente será exibido em instituições de ensino para o treinamento da reflexão sobre a vida. É um presente do diretor, que foi/está sendo soprado, brilhantemente, nos ouvidos da humanidade: "There's still hope, don't lose it, keep moving on".
Quando um ator grava esse tipo de filme é como se o ápice da sua atuação fosse requisitado, sem muita pressa, sem desespero, sem pressão. A sutileza com que são explorados seus sentidos, comunicação corporal ou verbal, respiração e o transporte de sentimentos para suas feições são as únicas coisas que importam. As palavras a serem ditas não foram lidas, imaginadas ou transpassadas da mente de um autor para o papel de roteiro, elas parecem ser retiradas do âmago de cada ator, sem leitura ou estudo prévio, mas baseadas no acúmulo de conhecimentos que cada um adquiriu durante o tempo de vida. Não consigo me lembrar agora de ter assistido um filme com o texto tão fiel às discussões formadas pelos seres humanos na realidade, de conteúdo cheio de emoção, maduro e sensível, com trechos únicos como o em que natalia (Xenia Kalogeropoulou) descreve o que significa sentir saudade e como ela aceita bem a condição de nossa breve passagem no planeta Terra (como seres humanos), ínfima, na história do universo:
"Well, when I think of Elias, what I miss the most about him is the way he used to lay down next to me at night. Sometimes his arms would stretch along my chest and I couldn't move, I...even had my breath taken, but I felt safe, complete, and I miss the way he was whistling, waliking down the street. And Everytime I do something, I think of what he would say "well, it's cold today, wear a scarffe". But lately I've been forgetting little things. It's sort of fadding, I'm starting to forget him. And it's like, like losing him again. So sometimes I make myself remember every details of his face, the exactly collor of his eyes, his lips, his teeth, the texture of his skin, his hair, but it was all gone by the time he went. And sometimes, not always, but sometimes I can actually see him, it's as if a cloud moves away and there he is, I could almost touch him, but then, the real world rushes in, and he vanishes again. But I did this every morning, when sun was not too bright outside, the sun somehow, makes him vanish. And he appears and it desappears, like a sunrise, a sunset or anything...so ephemeral. Just like our life, we appear, and we desappear and we are so important to some, but we're just passing through."
Uma coisa saiu do eixo e me fez retirar meia estrela da avaliação:
Celine entrando e saindo do quarto nas cenas de discussões do hotel - extremamente desnecessárias e sem vínculo aparente com a personalidade madura da personagem. Não entra na minha cabeça que alguém do nível de conhecimento que ela possui faria algo assim. Sair, de um vez por toda, seria aceitável....mas sair e entrar daquele jeito foi forçado. Alguém como ela, conhecedora do livre arbítrio, seria mais decisiva num momento de ira..
Mesmo assim é um filme que transborda conteúdo. E transborda de maneira simples, sem técnicas de filmagens complexas que são desenvolvidas em meses de gravação. Adoro, por exemplo, como as cenas dão continuidade às atuações sem aquela quantidade enfadonha de cortes de edição que, provavelmente, vieram de centenas de takes em que o diretor teve que corrigir a postura ou a ênfase na fala dos atores. O tempo real acaba tornando o comportamento dos artistas mais natural e espontâneo. Da impressão que a atuação é a essência da liberdade de expressão, o que certamente deve significar muito pra qualquer ator. Se eu fosse ator, provavelmente optaria por esses tipos de papéis.. Um puta filme! Tempo muito bem gasto..
Eu continuo achando brilhantes as técnicas de filmagens que a Sofia utiliza. As câmeras em slow motion, por exemplo, não só apresentam cenas de glamour, emocionantes ou fotográficas, mas invocam a necessidade de se pensar sobre o que está sendo assistido. Um belo exemplo, é a cena em que
Rebecca finalmente experimenta a fragrância no quarto de Lindsay Lohan
. Aquela cena é fantástica. A satisfação no rosto da atriz revela a obsessão e compulsão da personagem por temporariamente assumir o caráter da fama, da notoriedade e, consequentemente, desfrutar do "magnífico" conceito de ser celebridade. Quando suas vidas privadas se tornam pública, mesmo que pelo fato de terem sido acusados de roubo, o que parece importar é sua popularidade em âmbitos gerais, provindas de fotos publicadas em redes sociais com acessórios e roupas de marca. Por mais que pareça frescura juvenil, na verdade são reações ingênuas provocadas pela patologia do consumismo materialista e pela futilidade da vida capitalista. O comportamento dos personagens é tão desesperador porque eles mesmos não percebem que são insaciáveis. Eles já possuem um padrão de vida alto (em questões financeiras) e não conseguem enxergar o que realmente falta para eles. Por mais que obtenham todo esse luxo e glamour da vida que procuram, no fim eles darão conta que ainda estão insatisfeitos e incompletos. Nesse ponto que acredito que Sofia tenha errado. Eu esperava ver mais do desconforto dos personagens ao encarar o que realmente significa ser celebridade, por mais que eu entenda que o objetivo era mostrar ainda mais a superficialidade deles. Só acredito que caberia no filme uma passagem de tempo maior, talvez com fotos de como seguiria a vida dessas pessoas em anos. Outro ponto forte do filme, foi a pergunta da entrevistadora à personagem da Emma Watson, em que é questionado
a importância do "goal" na vida dos seres humanos.
Destaca a necessidade do embasamento do ser com virtudes e temperança, além de ter conhecimento de si mesmo, do seu espaço no mundo, assim como os dos outros para, então, devidamente deter a ENORME responsabilidade de se tornar uma pessoa pública. E uma pessoa pública reconhecida pelo que é (como ser humano; provido de muitas virtudes) ou pelo que faz, e não uma pessoa reconhecida pelo que possui ou pretende parecer ser (provida, então, apenas de vícios). O que me pareceu embaçado no filme, foi o enfoque em personagens em momentos inoportunos enquanto outros necessitavam ser mais explorados.
No final, por exemplo, por que foi dado enfoque no personagem da Emma Watson apenas? Eu fiquei esperando um final coerente para os outros personagens e tem apenas o de 1. Lógico que a sentença foi dada à todos, mas enquanto Nick estava dando entrevista, o que os outros faziam?
Também assisti muito pouco da personagem Chloe, que me pareceu dispor de energia intensa e inconsequente, o que soa perfeito para a configuração da história, mas infelizmente foi pouco explorada. Fiquei apenas com o gostinho daquela cozinha de luxo, com o pai magnata lendo jornal e mãe preparando café, e esta última tão fútil, que me pareceu que a própria futilidade a tinha consumido. Também não senti muito nexo no namorado de Sam, que entra na história tão rápido quanto sai. Uma cena muito boa é aquela em que
Sam encontra uma arma carregada no quarto (no momento não me recordo o quarto de quem), e começa a desafiar a cautela e o medo de Marc.
Essa foi de arrepiar, a inconsequência permeada pela posse do poder. Por mais que seja inocente, desde pequena já deseja o poder, a qualquer custo, pois esse pode significar a notoriedade que tanto busca. Ali eu senti Coppola cuspida e escarrada, CENA FODA! Ah, e em certas cenas eu tive aquela "preguiça" básica pela forma com que os roubos foram mostrados. Um exemplo é a casa do amigo do Marc, o da Jamaica, que foi apresentada para quem assistia como se Rebbeca já tivesse pisado lá. A garota já sabia que tinha uma caixa embaixo da cama, cheia de dinheiro, e nem mesmo procurou para encontrá-la. Um erro pequeno, mas que pode afetar o ritmo da cena pra quem repara. E os relógios Rolex do Orlando Bloom? hahahahaha Antes EU tivesse achado aquele otário pra comprá-los hahahahaha Espero que essa tenha sido uma sacada da Coppola para afirmar que eles são tão mimados, que não sabem o valor de cada coisa, porque caso contrário, este foi um erro grotesco, levando em consideração que Marc conhecia SUPER BEM marcas de grife e não faria sentido tê-los vendido por 5mil. Enfim, eu dei umas boas risadas, fiz diversas reflexões enquanto assistia, mas por falta de enredo, fico com o carisma de outros filmes da Sofia.
Uma imersão cultural espontânea, mútua e sincera, entre pessoas que participam de vidas tão distintas uma da outra. Não só Phillipe absorve a perseverança, otimismo, impulsividade e indiferença de Driss, além de entender sua história e como esse enxerga ou interpreta a vida, como Driss também começa a cultivar hábitos que o aprimoram como pessoa, por meios que antes ele não tinha acesso - a pintura e a música clássica, por exemplo. Também foi explorado a habilidade que Driss possui de fazer com que as pessoas que estão a sua volta sorriam. E o que nos impossibilita de fazer o mesmo? Cada um dos protagonistas ajudou a estabelecer uma espécie de trabalho de campo antropológico, mas que, em devidas circunstâncias, não existia propriamente um cientista da área. E nem era preciso, pois o filme dedica seu tempo a explorar as coisas mais singelas e naturais que ainda possuímos. Ele despe a fina película fútil dos seres humanos (que atualmente só tem crescido) para nos mostrar nossos próprios avessos e o amor e o respeito entre as pessoas, sem levar em consideração detalhes inúteis. É a transformação dos nossos mais puros sentimentos em matéria,
é exatamente isso que o sorriso de Phillipe significa quando consegue finalmente conhecer seu affair.
No fim, o que conta são as pessoas que estão à nossa volta e nos fazem entender o que significa viver realmente, do mais simples e essencial na vida, por mais que a inocência que as cerca não permita que elas entendam como elas foram e são importantes para nós. Filme lindo, cheio de belezas reais..aliás, a trilha sonora também é linda...digna de uma taça de vinho pra acompanhar..
A única coisa válida no filme foi os cenários da costa oeste da Irlanda, sempre majestosos e únicos. O resto é um sequência de ferramentas cinematográficas desperdiçadas.
Sensacional o equilíbrio entre as dores psicológica e física retratadas nas ações cometidas por cada personagem, fez tudo parecer muito mais real. Da mesma forma que o policial e o serial killer dividem o pódio do protagonismo, ambos possuem marcas da dor, embora em um seja mais nítida a dor traumática, da falta de moral e da solidão enquanto no outro a dor física ou da falta de auto-estima.
No fim, pareceu que a vingança não foi aplicada totalmente no vilão, mas parcialmente, também, no mocinho. Assim que decidido qual seria o destino que ele concederia à vida do serial killer, ele estava totalmente alerta de que o último resquício (por mais que indireto) de sua esposa no mundo também desapareceria. Matar o vilão significaria dar de cara com a realidade de que a esposa nunca voltaria à vida.
Ótimo filme! Recomendo tanto pelo suspense como pelo apelo de personagens com personalidades e atitudes mais próximas das posturas dos seres humanos.
Excelente! Um dos roteiros de cinema mais bem escritos do ano. Eu, particularmente, me interesso muito por filmes que sustentam a qualidade e performance da trama, sutil e niveladamente. É ótimo perceber que durante o trama os fatos não são sustentados por cenas irrelevantes ou comuns, nem desprezam personagens que, aparentemente, são de pífia importância pra história. Tudo que acontece possui fundamento e influencia no desenvolvimento e na conclusão dos fatos. Rooney elevou a loucura à condição intrínseca dos seres humanos! Em certas cenas, brincou de Natalie Portman em Cisne Negro. Mind blowing acting! Terminar de assistir um filme e pensar "eu realmente não sabia de nada, como fui ingênuo" não tem preço. É favorito..
Valeu a intenção, mas esse filme reduz a importância dos acontecimentos da revolução de maio de 68 em crise de adolescentes abastados que são contra o conservadorismo e que se intitulam revolucionários esquerdistas quando, na verdade, só estão passando da fase da puberdade e começando a entender a vida adulta. Sem contar que duas horas é demais para uma película superficial, ingênua e que abarca o desperdício de um puta tema. Combina mais o título "Supprimer mai"
Que Horas Eu Te Pego?
3.3 491Achei a química dos personagens da Lawrence e do Feldman muito boa. É de fato como se fossem amigos há anos e isso facilitou o andamento do filme em grande parte das cenas. Mas não é o suficiente para a história se destacar. Achei a história descompassada em algumas cenas, principalmente a cena do almoço na casa dos pais. O tempo entre um acontecimento e outro é desproporcional à distância dos locais de cada cena. Achei que faltou desenvolvimento nessa parte da história.
No mais, fazia tempo que não me divertia no cinema vendo comédia romântica e acho que valeu o ingresso.
Close
4.2 470 Assista AgoraÉ de admirar como o cara conseguiu reunir em coisas tao simples do dia-a-dia aqueles pequenos momentos que a gente é impactado pelas regras invisíveis de comportamento que são pré-estabelecidas no meio que a gente vive. É angustiante assistir personagens se reprimirem tão profunda e prematuramente ao ponto de se manterem cegos até para as coisas que eles têm certeza que os fazem e sempre os fizeram felizes. E não poderia ser diferente, levando em consideração que até para adultos lidar com essas amarras é complexo.
Pela perspectiva de um homem gay, eu posso afirmar que o diretor conseguiu mostrar exatamente como nós nos forçamos a não experienciar por completo a vida, quando nossa preocupação gira mais em torno da percepção das outras pessoas sobre a nossa vida, do que em vivê-la de fato. Nossa rotina é podada, nossos gostos, nossos sentimentos, nossas relações e até nossa cultura.
Quantas vezes, na infância ou na vida adulta, você já decidiu não deixar à mostra a playlist de música com medo do que as pessoas pensariam de você pelo que você estava ouvindo? Quantas vezes você já deixou de ver algum filme com outras pessoas com medo de chorar perto delas? Quantas vezes já vestiu roupas diferentes do que realmente gostaria de vestir? Ou cortou o cabelo com um corte diferente? E quantas vezes você se forçou a descruzar as pernas ou a cumprimentar alguém com mais formalidade quando percebeu o peso do olhar de outras pessoas sobre seu comportamento?
E o que você é se você deixa de sentir e viver as coisas que constroem o seu comportamento e te definem como ser? Que chances você tem de experimentar felicidade se o fato de ser e existir for tão pesado para você?
Que exercício de reflexão impactante eu senti enquanto assistia. Que estranho é sentir que um filme explora sua intimidade emocional tão a fundo. O roteiro tem um compromentimento ultra fiel à verossimilhança. Tinham cenas, como aquela em que o Remi vai ao treino de hockey, se despindo de orgulho e lutando pela amizade, que brincavam perfeitamente com a sensação de controle sobre o que se pode ou não se permitir sentir dependendo de quem está em volta de você. Como é nítido a diferença de comportamento quando os dois estão sozinhos e quando rodeados de pessoas. O peso da vigília constante é surreal.
De um ponto de vista mais técnico, vale mencionar como ele trabalha bem com os momentos de introspecção dos personagens, até mesmo quando eles não estão sozinhos em cena. Eu sou apaixonado por cenas que mostram o personagem em contato direto com sua subjetividade de forma que nós nem precisemos de falas para deduzir sobre o que eles estão pensando e como estão se sentindo.
Aqui também tem outro elemento no cinema que sempre me chama atenção; Quando alguns personagens estão juntos, eles conversam sempre sobre coisas superficiais para impulsionar a gente a sentir ainda mais o peso da repressão, já que é nítido que eles estão desviando do assunto sobre o qual eles realmente gostariam de estar falando.
E que linda escolha em mostrar a derrocada da inocência de uma amizade através da produção de flores e das atividades que os dois sempre fizeram juntos. A gente é derrubado várias vezes quando percebemos que as flores vão sendo podadas e as estações mudando de maneira que o que tinha vida agora parece não ter, ou quando a estrada que eles andam de bike para chegar em casa agora é mostrada com bifurcação, como se previsse o início da repartição da convivência dos dois.
Pra mim, assistir close foi um exercício de respeito à força da maturidade que eu construí para cuidar da inocência da minha intimidade.
Um dos melhores que assisti esse ano.
Estou Pensando em Acabar com Tudo
3.1 1,0K Assista AgoraMinha estrela foi pelo elenco, atuações e direção geral de arte. O resto, não tem salvação.
Que filme péssimo! Sabe quando você percebe que tentaram utilizar mil técnicas cinematográficas sem que qualquer uma delas tenha conexão uma com a outra ou sentido algum? Esse nível de subjetividade funciona (se mto bem articulado) no teatro, mas em filmes só faz com que a gente queira reembolso da mensalidade da plataforma de streaming.
Por favor, parem de fazer filmes que vomitam conceitos teoricos pedantes a cada 3 cenas e são incapazes de seguir com uma estrutura história coerente, que é o mais importante no final das contas.
Resumindo: Sabe quando vc senta num restaurante e paga um prato que é lindo e caro, mas quando você come percebe que é uma mistura de ingredientes caros jogados no lixo? Esse filme é exatamente isso.
Primos
2.5 158Além da ideia principal bem recorrente na vida gay, nada mais no filme é natural. Todas as cenas parecem ensaiadas, sem ritmo natural e forçadas.
Quando a gente assiste filme, nós queremos que os personagens enganem a gente, de forma que a gente esqueça que está assistindo algo programado e tenha a impressão de imersão na vida de alguém.
Esse filme traz o contrário; é tudo mega articulado para intensificar trejeitos, frases feitas, dogmas, atitudes sem sentido, continuidade, etc, então em vez de focar na história, focamos na desorganização da continuidade da atuação e na falta de coerência.
Parece roteiro de filme pornô barato. O tempo todo ficava imaginando a galera tirando a roupa e fazendo uma mega surubona. A diferença é que no final do pornô ruim, com esforço, ainda rola uma pun**** e uma goz***. Nesse aqui nem isso.
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraComo a gente está sempre acostumado ao egoísmo antropocentrista dos filmes, quando pego uma história desenvolvida para quebrar a ideia de que tudo que existe é para conceber satisfação ao homem, o filme sempre acaba me chamando mais atenção.
Eu me questionei várias vezes durante o filme "você não acha que reclama demais por ser humano? Vai ser fantasma então."
Não tinha entendido também porque as cenas longas (como aquelas da torta) e depois fica bem claro que o objetivo era nos incluir no marasmo de se tornar um espectador infinito da vida
O tempo é um melhor amigo questionável; não se sabe direito se ele te conforta ou se te tortura
O Chalé
3.3 723 Assista AgoraNão comprei a irresponsabilidade do pai, pelo menos não quando não houve desenvolvimento do relacionamento dele com a Grace e da mesma com as crianças.
Quem deixa os filhos com alguém que mal possui um bom relacionamento com os filhos, dentro de uma cabana no meio do nada, sem ao menos ligar de vez em quando para saber se as crianças estão se comportando e bem? Ainda mais quando os filhos acabaram de passar por um episódio tão violento e traumático na vida, como o suicídio da própria mãe?
De Canção Em Canção
2.9 373 Assista AgoraNão via um filme tao pretensioso assim faz muito tempo. E me leve totalmente a mal: o negócio é péssimo. É um monte de cena aleatória, desconexa e imparcial para o roteiro. Um excesso de tentativas fúteis e frustantes de capturar a realidade (falsa - amém) comum a todos + o auge da divindade filosófica em cada milésimo de segundo, de forma tão mal feita, que deu a impressão que eu estava submerso num brainstorming eterno de uma timeline pseudo-cult do facebook. Só informação jogada sem sentido algum. Tão desconfortável quanto montar quebra-cabeças com peças misturadas. Um exercício inútil, sem finalidade alguma.
E o que é aquela personagem principal? Desde quando esquizofrenia, transtorno de personalidade borderline e falta de caráter são curadas com o amor de ex? Que sentido tem isso? A menina é mega interesseira. Quer viver experiências eternamente? Mas só com gente milionária e com bons contatos, ne? Engraçado que é tão metida a pensadora contemporânea melancólica, mas deixou de considerar que o ócio, o egoísmo e o menosprezo que ela cultiva pela família, que estão matando cada célula do corpo dela.
O personagem do Gosling não dura 1 mês com essa menina. Ela precisa de um psiquiatra, não de um namorado.
E pra terminar ainda vem ceninha tentando vender uma imagem que, supostamente projeta com maior fidelidade que são os relacionamentos na realidade?
EU ACREDITO EM NAMOROS!! E DEFINITIVAMENTE NÃO SÃO TÃO CHATOS!
Triângulo do Medo
3.5 1,3K Assista AgoraSó não entendi uma coisa:
Na segunda metade do filme eu já percebi que teria que ler sobre o mito para entender melhor o filme (que naquele ponto já havia me sovado a mente). Então resolvi ler sobre o tal Sísifo (contra minha vontade - nunca tive paciência para mitologia grega)...
O fato é que após proferir diversas ofensas aos Deuses e tentar enganar a morte, o tal do sísifo é levado ao Deus da morte para receber sua punição, que consiste no ciclo eterno mencionado pelos personagens.
No entanto meu ponto é: se a Jess é Sísifo, qual foi o motivo pelo qual ela foi condenada? Ela tentou enganar a morte ou ofendeu aos Deuses em algum momento antes do ciclo ter iniciado? (levando em conta que o início do ciclo foi o momento em que ela morreu no acidente). Isto é, não consegui encontrar resposta para justificar o porque dela ter sido punida da mesma maneira que ele foi.
Amy
4.4 1,0K Assista AgoraEu nunca fui e acredito que nem sou fã da Amy, apesar de respeitá-la como artista em diversos aspectos e algumas músicas sempre terem me chamado a atenção, principalmente pelas letras.
Mas mesmo não sendo do fã clube, é sempre foda assistir seres humanos serem explorados, não importa como..
E ela deu muito azar. Nasceu num mundo onde fazer o que ela mais gosta significa não ser livre..
Questão de Tempo
4.3 4,0K Assista AgoraUm aspecto do filme me incomodou demais!
O filme sugere que mesmo que nós tivéssemos a habilidade de voltar no tempo para consertar todos os momentos que não tivessem nos satisfazido, mesmo assim, nós descobriríamos que, o segredo da felicidade está numa habilidade que nós já possuímos (encarar cada momento da melhor forma possível, dando o melhor de si) e, no entanto, deixamos passar despercebida, sem dar-lhe a necessária importância.
Até ai tudo bem, maaaasss é muito simples o personagem principal dizer que uma vez que: ele já encontrou a mulher da vida dele, teve 3 filhos lindos, salvou a irmã da depressão, reviveu centenas de bons momentos com o falecido pai e ainda teve a oportunidade de dar um chute na bunda do primeiro amor que fez o mesmo com ele no passado - detalhe USANDO EXATAMENTE O VIRA TEMPO DA HERMIONE -, o bom da vida é aproveitar cada momento como se fosse o último.
Beeeeem hipócrita, não? Partindo do pressuposto que mais de 80% das coisas boas da vida dele foram conseguidas através do presente que a professora McGonagall deu... [ops, not the story].
Quero ver o cara voltar desde o início da vida dele, perdendo tudo que conseguiu até agora, inclusive os filhos e esposa, e viver a vida aproveitando cada momento do jeito que ele propõe. Hmm, não é uma ideia tããããão otimista e genial agora, né? Não achei a proposta do filme honesta, sinceramente.
Honesto seria ele fazer como qualquer outro ser humano faria, assumindo que utilizaria a habilidade sim, caso algo muito sério ocorresse. Afinal, duvido que se um de seus filhos sofresse algum acidente que o tornasse tetraplérgico, o cara passaria a "aproveitar" os dias como se nada mais pudesse ser feito. Será que ele conseguiria viver o resto da vida com esta tortura na consciência? Tal "dom" não é algo que possa ser esquecido assim, não sem ignorar as fraquezas e imperfeições humanas.
Antes do Adeus
3.5 307 Assista AgoraFrases do tipo "I gotta be ok with not being ok" definiram muito bem alguém que tivesse passado pelos problemas enfrentados pelos dois. É o sentimento de ter que ser forte o suficiente para suportar as pressões do tempo num relacionamento que passou a ser desgastante, seja pela indiferença ou cansaço de uma das partes, ou pela falta de interesse em continuar da outra.
E gostei de como eles trataram o que costumamos fazer nessas horas; quando você é a parte sufocada pelo vestígio de um último relacionamento, vem automaticamente esse impulso de procurar erros em si mesmo e tentar se culpar pelo que foi ou não feito.
A história é verdadeira, honesta e pé-no-chão. Com dois personagens incrivelmente ricos, reais, sentimentalmente maduros e com uma inteligência emocional de dar inveja.
É o meu tipo de filme..
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraMe envolveu mas também deprimiu por completo, não apenas por eu ter a personalidade melancólica idêntica ao do Theodore, mas pelo fato do filme ter estabelecido uma comparação entre os sentimentos reais humanos a de um sistema artificial de computador.
Enquanto uma das questões retratadas no filme é de até que ponto os sentimentos de Samantha podem ser reais, eu me pegava tentando entender se os nossos também são e se ainda temos a capacidade de expressar sentimentos e envolver os outros seres vivos com eles. Senti uma provocação, depois um incômodo enorme em saber que enquanto o desejo mais profundo de Samantha é se tornar real, de corpo e alma, para a simples finalidade de poder sentir, nós já possuímos essa qualidade e a tratamos com indiferença, sem valor algum. Ou, se possível e ainda pior, a personalidade de Samantha representa a nossa hipocrisia no que diz respeito a relacionamentos, já que hora queremos estar no relacionamento perfeito, outra somos intoleráveis e incapazes de tolerar uma relação estável com apenas 1 parceiro, sem utilizar a desculpa da insaciável busca pela metade da laranja, que de preferência deve vir sem caroços.
Então, é questionável até que ponto é saudável a relação humana com os meios tecnológicos. E em que ponto essa relação começa a desmoronar através da subtração que os humanos exercem sobre todos os outros seres vivos por meio desta.
Bom, algumas cenas que demonstram isso me deixaram assustado. Como aquelas em que Theodore passeava com o sistema de computador ligado, conversando distraído com ele. Digo, eu estava adorando o diálogo entre eles, mas não pude deixar de reparar que o que eu esperava era assistir as pessoas em volta achando a atitude dele carente, solitária e estranha, basicamente digna de pena (assim como a ex mulher dele admitiu na cena do divórcio). Mas não, o que você assiste é diversas pessoas em volta agindo da mesma forma, preferindo interagir com meios, como se estivessem falando sozinhas. Isso é loucura! E pior de tudo? A sinopse não brinca quando diz que a história é num futuro não tão distante, porque quem aqui nunca viu um casal sentado em um restaurante com os celulares tapando suas visões e impossibilitando que haja a interação de um com o outro? Nós estamos vivendo isso, nos tornamos cada dia mais pessoas parecidas com Theodore. E em determinado momento do filme, essa situação assustadora se intensifica mais ainda: Quando Samantha pede para que uma mulher se envolva no relacionamento dos dois, dá para notar que o ser humano está perdendo para as máquinas no tomar de decisões de cunho interpessoal. A modelo contratada é a prova de que as máquinas passaram a substituir os seres humanos cada vez mais (nota-se que aqui a máquina é o elemento propulsor do "deliberar" do casal, já o ser humano é somente o corpo, ou seja, um mero objeto que auxilia na conclusão dos planos arquitetados pela inteligência artificial), o que poderia significar o início da perda de algumas razões para nossa convivência aprofundada em conteúdos. E é óbvio dizer que quanto menos eu pratico a arte da relação social real, menos eu sei lidar com as pessoas, o que derroca numa série de problemas que impedem o ato de conviver pacificamente e harmoniosamente com diferentes indivíduos. A geração Y, por exemplo, aprende desde o berço a segurar aparelhos eletrônicos digitais e a regular seu tempo através desse relacionamento superficial. A grande maioria, portanto, também criará laços superficiais nas relações interpessoais, porque o costume do descarte e do sentimentalismo egoísta unilateral é introduzida em sua vida desde a infância.
Não é de se surpreender também que Theodore tenha ficado perdido e confuso com o limite tênue que a escala de Real-Imaginário alcançou. Uma mulher é real mas não tem conteúdo, a outra possui conteúdo intenso no entanto é virtual.
Bom, no fim o que resta é exatamente a extensão da confusão entre o ser virtual e o real pois, por mais diferentes que ambos possam parecer, na verdade possuem uma trivial semelhança; O perfil do amante virtual não foi criado em cima do perfil-padrão do amante real (nós humanos)? Por mais que a artificialidade dos aparelhos tecnológicos de interação processem dados mais rapidamente que nós, se eles detivessem a capacidade de projetar emoções, eles e aqueles que interagissem com ele, também deveriam lidar com divergências e problemas de relacionamentos, provenientes das mudanças constantes das vontades trazidas pelas inconstantes circunstâncias da vida. Portanto a crise do personagem principal se dá pela frustração de encontrar na personalidade das máquinas, defeitos que são parte da personalidade humana. Onde mais ele encontraria conforto se até seres supostamente "limitados" (mais fáceis de manusear, próximos de um regime de submissão) falham na relação tradicional de monogamia mais comum na sua sociedade?
Ele entendeu que a troca que foi feita de um ser real por um virtual não valeu a pena, porque ambos são problemáticos, no entanto é melhor viver problemas estabelecidos através de uma relação que supostamente/inevitavelmente seja imperfeita (relação humano x humano) ou uma frustrante que pretensiosamente deva ser perfeita (humano x máquina)?
Sr. Ninguém
4.3 2,7KO filme é a projeção de slides que definem o sentimento cruel (que todos os seres humanos sustentam) de que as possibilidades sempre serão melhores ou mais agradáveis do que aquilo que é. O vício pelo dilema infinito de que a quantidade de opções é imensa na vida, para os seres racionais, manteve Nemo na estabilidade contínua desse tempo de vivência, preso na sequência do que "poderia ser", nunca vivendo de fato tais alternativas.
O filme tem muito da leitura que Zygmunt Bauman revela em "Vida para consumo" (apesar desse focar no comportamento humano com o consumismo), sobre um mundo moderno em que, segundo ele "segue no modelo pontilhista, isto é, um modelo de vida que se fosse desenhado em um mapa, representaria um cemitério de possibilidades imaginárias, fantasiosas, ou amplamente negligenciadas e irrealizadas."
Portanto o personagem é a demonstração de alguém no extremo desse Bramstorming de possibilidades, que o fez somente viver na vida da consciência de contingências e esqueceu de participar da realidade. Viver sem escolhas significou para Nemo a inexistência. Por isso que "as chances da vida de Nemo tendem a ser previstas de maneira errônea ou perdidas, enquanto a maioria dos pontos se mostra estéril e a maior parte do movimentos, natimortos".
Assim que o filme aponta para a dificuldade de lidar com aquilo que escolhemos, que, de diversas formas, pode trazer consequências negativas ou indesejadas, assim como o arrependimento, mas, pode significar também sua marca no tempo e espaço representado pela sua interação com o cenário e o horário que você escolheu. Essa marcação, seja ela qual for, certamente será válida no fim, pois, de uma forma ou de outra, será a prova da sua existência...ou a evidência de quem você é ou se você sequer foi/é alguém.
No fim, aquela provocação do Nemo significa: E então, vai decidir quem você é ou o que se tornará, ou covardemente passará seu tempo no devaneio eterno como eu fiz?
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraMesmo que surgisse em algum lugar do espaço o encontro entre as extremidades morte e vida, tão concomitantemente opostas, ainda assim a gravidade tomaria posição, demonstraria postura rígida, reagiria poderosamente a esse fenômeno da transição da passagem humana no universo.
O filme é um ritual contínuo de simbologias exatamente sobre tal passagem. Basicamente você se perde no vácuo junto com o atores, mas não somente no vácuo do espaço físico extraterrestre, e sim também, no vácuo da mente humana, da maneira com que enxergamos e lidamos com a vida, ou seja, onde e de que maneira pretendemos encaixar nossas forças e pensamentos.
Aí se instaura a diferença com que os personagens do Clooney e da Bullock encaram a própria existência, permitindo que nós questionemos de qual lado estamos: da vivência sempre renovada pela sede de estar vivo, de querer continuar sendo desafiado e levar descontraidamente nossa estadia como seres vivos no universo; ou na prisão do descontentamento causado pelo acúmulo de dificuldades na nossa passagem, que prende nosso pensamento na inércia infinita da melancolia?
O filme, portanto, retrata o processo de transição da maneira (antes pessimista) com que a personagem da Bullock encarava sua existência, para uma perspectiva totalmente renovada (otimista). É como se ela fosse retirada como um ser humano enxuto do planeta Terra, sem entusiasmo nenhum, ou até mesmo inóspita de sentimento devido a problemas pessoais. Exatamente como nós surgimos, embriões que somente com o tempo aprendem a desenvolver a qualidade de sentir e entender a vida. E então, como num processo de gestação (Eu entendi, aliás, comicamente, uma ligação entre Gravidade/Gravidez - onde esta primeira representa a ausência de vida e a última, a presença intensa da mesma), a personagem de Bullock renasce através da experiência que sofre no espaço. Dessa forma, no início, ela era alguém representada pela gravidade, enquanto no fim, passou a ser representada pela gravidez.
Cena BRILHANTE aliás,
aquela em que Ryan consegue voltar para dentro da estação pela primeira vez, comprimindo o próprio corpo para que surgisse a imagem da posição fetal, incrementada pelos cabos dos equipamentos que delinearam a posição do cordão umbilical. Um cena estonteante!
Além das reflexões gigantescas que o filme provoca na cabeça de quem o assiste, é impossível não prestar atenção nos pequenos detalhes técnicos, tão minuciosamente bem explorados, que de tempo em tempo, durante toda a duração do filme, nos indicam de que forma os objetos e substâncias se comportam num ambiente com a falta de gravidade. Nossa atenção é tão requisitada o tempo todo para o drama apaixonante da personagem da Bullock, que os pequenos detalhes acabam nos surpreendendo, toda vez que aparecem: a forma como se comporta o fogo em ambientes com a falta de gravidade, como é possível se ingerir líquidos nesses ambientes, quanto pesa uma roupa de astronauta, ou para onde vai uma lágrima quando choramos no espaço?
A ausência de som em algumas cenas, também parece afundar a sala de cinema em uma piscina.Todos ficam, ao mesmo tempo, quietos e inquietos no submerso, apreensivos, num silêncio compatível com o da experiência da Dr. Ryan. Todo o clima ainda é intensificado pelo desespero dos personagens em adquirir algum vestígio de vozes por rádio, que é a único jeito de transmitir e capitar som, além de poder significar a exclusão da solidão em um cenário, já por si só, muito solitário.
Quando Ryan é sincera com o próprio ser, confessando a si mesma, através de um devaneio, que preferia ficar segura lá em cima, longe das mazelas que a vida tinha lhe trazido, à retornar para enfrentar esses problemas, se da o ápice emocional do filme, e me atingiu, ironicamente, como uma gigantesca força de pressão atmosférica. Foi foda! (Do tipo: aquela lágrima ali é do meu óculos 3D ou do filme mesmo?)
Uma única coisa me incomodou no filme: o Clooney interpretou tão honestamente o personagem que, assim como ouve justificativa para o personagem da Bullock pertencer ao grupo dos que vivem à deriva, fiquei super curioso para saber sobre o motivo que modificou a vida dele. O que o Matt passou para sintonizar na indiferença profunda, 24 horas por dia? Qual o caminho que se percorre para alcançar tal experiência em viver? Mas considero isso uma ambição fútil, mais neurose minha do que qualquer outra coisa, porque o que responde a questão é exatamente a história de Ryan.
A medida que o filme caminha para o final, retornamos ao último estágio da analogia do período de uma gestação: a vontade de viver que desperta na personagem está vinculada às contrações que um indivíduo provoca pelo desejo de nascer, enquanto a chegada no planeta Terra, inclusive com a água (representação do líquido amniótico) invadindo a cápsula espacial(que representa o útero), indica o renascimento da personagem. E então seguem-se cenas que estabelecem essa conexão: o respirar devidamente, o aprendizado de como caminhar (levando em conta que a impressão é que você pesa 10 kg a mais quando volta do espaço) e o sentimento de se estar vendo e ouvindo tudo pela primeira vez.
Ah, e também cabe aqui a comparação dessa última cena com a teoria da evolução. Enquanto ela saía da água, tentando se locomover, essa ideia passou pela minha cabeça, mas de forma que o filme considerasse essa evolução um estágio acima da raça humana, do qual podemos um dia alcançar, se tentarmos interpretar a vida de forma diferente. É como se os seres humanos tivessem aqui para se conectar exatamente a essa ideia, do desapego pelas coisas desnecessárias. A questão que me prendeu foi: não é exatamente isso que devemos tentar alcançar, o desenvolvimento da capacidade de racionalizar, que somente nós possuímos, para algo que nos torne seres de fato mais evoluídos?
E por fim, na maioria dos filmes, a gente está acostumado a lidar com duas hipóteses de destinos para os personagens: a vida ou a morte. Nesse, Cuarón simplesmente conseguiu atingir outra hipótese, a do RENASCIMENTO. Praticamente senti um filtro passando por mim, sugando toda a energia negativa do estado de descontentamento pela vida. Gravidade é uma Obra Prima, é certo que futuramente será exibido em instituições de ensino para o treinamento da reflexão sobre a vida.
É um presente do diretor, que foi/está sendo soprado, brilhantemente, nos ouvidos da humanidade: "There's still hope, don't lose it, keep moving on".
Além da Fronteira
3.8 440 Assista AgoraE o link para baixar, alguém tem?
Antes da Meia-Noite
4.2 1,5K Assista AgoraQuando um ator grava esse tipo de filme é como se o ápice da sua atuação fosse requisitado, sem muita pressa, sem desespero, sem pressão. A sutileza com que são explorados seus sentidos, comunicação corporal ou verbal, respiração e o transporte de sentimentos para suas feições são as únicas coisas que importam. As palavras a serem ditas não foram lidas, imaginadas ou transpassadas da mente de um autor para o papel de roteiro, elas parecem ser retiradas do âmago de cada ator, sem leitura ou estudo prévio, mas baseadas no acúmulo de conhecimentos que cada um adquiriu durante o tempo de vida.
Não consigo me lembrar agora de ter assistido um filme com o texto tão fiel às discussões formadas pelos seres humanos na realidade, de conteúdo cheio de emoção, maduro e sensível, com trechos únicos como o em que natalia (Xenia Kalogeropoulou) descreve o que significa sentir saudade e como ela aceita bem a condição de nossa breve passagem no planeta Terra (como seres humanos), ínfima, na história do universo:
"Well, when I think of Elias, what I miss the most about him is the way he used to lay down next to me at night. Sometimes his arms would stretch along my chest and I couldn't move, I...even had my breath taken, but I felt safe, complete, and I miss the way he was whistling, waliking down the street. And Everytime I do something, I think of what he would say "well, it's cold today, wear a scarffe". But lately I've been forgetting little things. It's sort of fadding, I'm starting to forget him. And it's like, like losing him again. So sometimes I make myself remember every details of his face, the exactly collor of his eyes, his lips, his teeth, the texture of his skin, his hair, but it was all gone by the time he went. And sometimes, not always, but sometimes I can actually see him, it's as if a cloud moves away and there he is, I could almost touch him, but then, the real world rushes in, and he vanishes again. But I did this every morning, when sun was not too bright outside, the sun somehow, makes him vanish. And he appears and it desappears, like a sunrise, a sunset or anything...so ephemeral. Just like our life, we appear, and we desappear and we are so important to some, but we're just passing through."
Uma coisa saiu do eixo e me fez retirar meia estrela da avaliação:
Celine entrando e saindo do quarto nas cenas de discussões do hotel - extremamente desnecessárias e sem vínculo aparente com a personalidade madura da personagem. Não entra na minha cabeça que alguém do nível de conhecimento que ela possui faria algo assim. Sair, de um vez por toda, seria aceitável....mas sair e entrar daquele jeito foi forçado. Alguém como ela, conhecedora do livre arbítrio, seria mais decisiva num momento de ira..
Mesmo assim é um filme que transborda conteúdo. E transborda de maneira simples, sem técnicas de filmagens complexas que são desenvolvidas em meses de gravação.
Adoro, por exemplo, como as cenas dão continuidade às atuações sem aquela quantidade enfadonha de cortes de edição que, provavelmente, vieram de centenas de takes em que o diretor teve que corrigir a postura ou a ênfase na fala dos atores. O tempo real acaba tornando o comportamento dos artistas mais natural e espontâneo.
Da impressão que a atuação é a essência da liberdade de expressão, o que certamente deve significar muito pra qualquer ator.
Se eu fosse ator, provavelmente optaria por esses tipos de papéis..
Um puta filme! Tempo muito bem gasto..
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
3.0 1,7K Assista AgoraEu continuo achando brilhantes as técnicas de filmagens que a Sofia utiliza. As câmeras em slow motion, por exemplo, não só apresentam cenas de glamour, emocionantes ou fotográficas, mas invocam a necessidade de se pensar sobre o que está sendo assistido.
Um belo exemplo, é a cena em que
Rebecca finalmente experimenta a fragrância no quarto de Lindsay Lohan
Quando suas vidas privadas se tornam pública, mesmo que pelo fato de terem sido acusados de roubo, o que parece importar é sua popularidade em âmbitos gerais, provindas de fotos publicadas em redes sociais com acessórios e roupas de marca. Por mais que pareça frescura juvenil, na verdade são reações ingênuas provocadas pela patologia do consumismo materialista e pela futilidade da vida capitalista.
O comportamento dos personagens é tão desesperador porque eles mesmos não percebem que são insaciáveis. Eles já possuem um padrão de vida alto (em questões financeiras) e não conseguem enxergar o que realmente falta para eles. Por mais que obtenham todo esse luxo e glamour da vida que procuram, no fim eles darão conta que ainda estão insatisfeitos e incompletos.
Nesse ponto que acredito que Sofia tenha errado. Eu esperava ver mais do desconforto dos personagens ao encarar o que realmente significa ser celebridade, por mais que eu entenda que o objetivo era mostrar ainda mais a superficialidade deles. Só acredito que caberia no filme uma passagem de tempo maior, talvez com fotos de como seguiria a vida dessas pessoas em anos.
Outro ponto forte do filme, foi a pergunta da entrevistadora à personagem da Emma Watson, em que é questionado
a importância do "goal" na vida dos seres humanos.
O que me pareceu embaçado no filme, foi o enfoque em personagens em momentos inoportunos enquanto outros necessitavam ser mais explorados.
No final, por exemplo, por que foi dado enfoque no personagem da Emma Watson apenas? Eu fiquei esperando um final coerente para os outros personagens e tem apenas o de 1. Lógico que a sentença foi dada à todos, mas enquanto Nick estava dando entrevista, o que os outros faziam?
Também assisti muito pouco da personagem Chloe, que me pareceu dispor de energia intensa e inconsequente, o que soa perfeito para a configuração da história, mas infelizmente foi pouco explorada. Fiquei apenas com o gostinho daquela cozinha de luxo, com o pai magnata lendo jornal e mãe preparando café, e esta última tão fútil, que me pareceu que a própria futilidade a tinha consumido.
Também não senti muito nexo no namorado de Sam, que entra na história tão rápido quanto sai.
Uma cena muito boa é aquela em que
Sam encontra uma arma carregada no quarto (no momento não me recordo o quarto de quem), e começa a desafiar a cautela e o medo de Marc.
Ah, e em certas cenas eu tive aquela "preguiça" básica pela forma com que os roubos foram mostrados. Um exemplo é a casa do amigo do Marc, o da Jamaica, que foi apresentada para quem assistia como se Rebbeca já tivesse pisado lá. A garota já sabia que tinha uma caixa embaixo da cama, cheia de dinheiro, e nem mesmo procurou para encontrá-la. Um erro pequeno, mas que pode afetar o ritmo da cena pra quem repara.
E os relógios Rolex do Orlando Bloom? hahahahaha Antes EU tivesse achado aquele otário pra comprá-los hahahahaha Espero que essa tenha sido uma sacada da Coppola para afirmar que eles são tão mimados, que não sabem o valor de cada coisa, porque caso contrário, este foi um erro grotesco, levando em consideração que Marc conhecia SUPER BEM marcas de grife e não faria sentido tê-los vendido por 5mil.
Enfim, eu dei umas boas risadas, fiz diversas reflexões enquanto assistia, mas por falta de enredo, fico com o carisma de outros filmes da Sofia.
Intocáveis
4.4 4,1K Assista AgoraUma imersão cultural espontânea, mútua e sincera, entre pessoas que participam de vidas tão distintas uma da outra. Não só Phillipe absorve a perseverança, otimismo, impulsividade e indiferença de Driss, além de entender sua história e como esse enxerga ou interpreta a vida, como Driss também começa a cultivar hábitos que o aprimoram como pessoa, por meios que antes ele não tinha acesso - a pintura e a música clássica, por exemplo.
Também foi explorado a habilidade que Driss possui de fazer com que as pessoas que estão a sua volta sorriam. E o que nos impossibilita de fazer o mesmo?
Cada um dos protagonistas ajudou a estabelecer uma espécie de trabalho de campo antropológico, mas que, em devidas circunstâncias, não existia propriamente um cientista da área. E nem era preciso, pois o filme dedica seu tempo a explorar as coisas mais singelas e naturais que ainda possuímos. Ele despe a fina película fútil dos seres humanos (que atualmente só tem crescido) para nos mostrar nossos próprios avessos e o amor e o respeito entre as pessoas, sem levar em consideração detalhes inúteis.
É a transformação dos nossos mais puros sentimentos em matéria,
é exatamente isso que o sorriso de Phillipe significa quando consegue finalmente conhecer seu affair.
No fim, o que conta são as pessoas que estão à nossa volta e nos fazem entender o que significa viver realmente, do mais simples e essencial na vida, por mais que a inocência que as cerca não permita que elas entendam como elas foram e são importantes para nós.
Filme lindo, cheio de belezas reais..aliás, a trilha sonora também é linda...digna de uma taça de vinho pra acompanhar..
O Caçador de Dragões
2.0 64 Assista AgoraA única coisa válida no filme foi os cenários da costa oeste da Irlanda, sempre majestosos e únicos. O resto é um sequência de ferramentas cinematográficas desperdiçadas.
Eu Vi o Diabo
4.1 1,1KSensacional o equilíbrio entre as dores psicológica e física retratadas nas ações cometidas por cada personagem, fez tudo parecer muito mais real. Da mesma forma que o policial e o serial killer dividem o pódio do protagonismo, ambos possuem marcas da dor, embora em um seja mais nítida a dor traumática, da falta de moral e da solidão enquanto no outro a dor física ou da falta de auto-estima.
No fim, pareceu que a vingança não foi aplicada totalmente no vilão, mas parcialmente, também, no mocinho. Assim que decidido qual seria o destino que ele concederia à vida do serial killer, ele estava totalmente alerta de que o último resquício (por mais que indireto) de sua esposa no mundo também desapareceria. Matar o vilão significaria dar de cara com a realidade de que a esposa nunca voltaria à vida.
Ótimo filme! Recomendo tanto pelo suspense como pelo apelo de personagens com personalidades e atitudes mais próximas das posturas dos seres humanos.
O Amante
3.8 149Alguém sabe onde posso encontrar para download?
O Hobbit: A Desolação de Smaug
4.0 2,5K Assista AgoraVideo de Tauriel, Legolas e Thrainduil rindo da cara de fans hahahahahahahahahaha Esses elfos sarristas!!
Imperdível:
Terapia de Risco
3.6 1,0K Assista AgoraExcelente! Um dos roteiros de cinema mais bem escritos do ano. Eu, particularmente, me interesso muito por filmes que sustentam a qualidade e performance da trama, sutil e niveladamente. É ótimo perceber que durante o trama os fatos não são sustentados por cenas irrelevantes ou comuns, nem desprezam personagens que, aparentemente, são de pífia importância pra história. Tudo que acontece possui fundamento e influencia no desenvolvimento e na conclusão dos fatos.
Rooney elevou a loucura à condição intrínseca dos seres humanos! Em certas cenas, brincou de Natalie Portman em Cisne Negro. Mind blowing acting!
Terminar de assistir um filme e pensar "eu realmente não sabia de nada, como fui ingênuo" não tem preço. É favorito..
Depois de Maio
3.2 83 Assista AgoraValeu a intenção, mas esse filme reduz a importância dos acontecimentos da revolução de maio de 68 em crise de adolescentes abastados que são contra o conservadorismo e que se intitulam revolucionários esquerdistas quando, na verdade, só estão passando da fase da puberdade e começando a entender a vida adulta. Sem contar que duas horas é demais para uma película superficial, ingênua e que abarca o desperdício de um puta tema. Combina mais o título "Supprimer mai"