Apesar de todas as questões que o filme me suscita sobre refugiados e migrantes, o fato dos personagens serem refugiados pra mim foi sensacional pois isso prende os personagens a casa. Todo maldito filme de casa assombrada a galera insiste em ficar na casa sem motivo algum, enquanto que pra essa família, não há opção, não há outro lar, não há mais pertencimento, não há suporte, não há mais família. Eles são os outros, os estranhos, em busca de se adaptar a este novo lar, que não é so a casa mas tambem a América. Em que medida vale a pena abrir mão de sua cultura e tradição ? Quem dera esse fosse o problema dos personagens. Eles enfrentam fantasmas do passado, que estão mais presentes que nunca.
Considero o melhor filme sobre demência/Alzheimer até então. É um filme que consegue te transportar pra dor e confusão de uma pessoa com esse quadro, te faz questionar sobre identidade, memória e realidade. Anthony Hopkins em todo o seu esplendor.
Considero este um ótimo filme sobre a temática de violências de gênero. Primeiro ponto importante a destacar é que ele é dirigido por uma mulher, e ao longo do filme temos várias cenas que vão trazer questões de gênero para o debate, como por exemplo, quando o homem diz: O maior medo de um homem é ser acusado de estupro, ao que Cassie responde "imagine qual o maior medo de uma mulher?
Para mim, o filme ganhou no enredo e narrativa que aborda com muito mais sensibilidade o tema da violência sexual. Ganha muitos pontos principalmente, por ter conseguido me tocar, gerar empatia, catarses, revoltas, reflexões.
Considero um filme didático, por romper com as narrativas de culpabilização da vitima e também por romper com o clichê da relação romântica.
Levando em consideração que a parcela dos 1% mais ricos do mundo detêm mais do dobro da riqueza possuída por 6,9 bilhões de pessoas, segundo relatório global da Oxfam, eu me questiono, quem são realmente os parasitas?
Em Hablen com Ella, temos uma história de amor, em uma situação que de antemão já está condenada e proibida. O filme aborda de maneira muito sensível situações moralmente complexas, fazendo com que o público se compadeça pelos problemas de seus personagens.
Almodóvar parece situar o filme muito além do bem e do mal, da moral, do visível, e da lei, desconstruindo o maniqueísmo, julgamentos e preconceitos ao tratar de situações trágicas e sublimes. Para tanto, as personagens não são estereotipadas sempre fugindo ao padrão que se espera de seu sexo, gênero, classe, elas aparecem com toda a diversidade e complexidade típica do ser humano, muito embora algumas estejam impedidas de falar, em coma.
Os esteriótipos de gênero são diluídos na obra, inicialmente com Marco um homem que chora e se emociona com um espetáculo de dança da Pina Bausch, posteriormente com Lidya que exerce uma profissão onde reina o machismo, as touradas, ela é toureira e na arena não demonstra nenhum medo na arena, mas tem fobia de cobras. Com Benigno que tem sua orientação sexual posta em xeque em vários momentos do filme por unir em uma personalidade andrógena aspectos do que seria esperado do feminino e do masculino. Desse modo o filme em diferentes partes transcende a necessidade de falar como no curta-metragem mudo e preto e branco com traços surrealistas que intercala a projeção.
Com o título de “Amante Menguante”, conta rapidamente a história de um homem que ingeriu uma fórmula não testada para emagrecer, acabou encolhendo e entrou dentro da genitália de sua amada para dentro dela viver. O curta dispõe de belíssimas alegorias e metáforas como, por exemplo, a necessidade da volta ao útero materno “e ele ficou pra sempre dentro dela”.
O filme traz a tona um sentimento de perplexidade ao fazer com que nos aproximemos e nos identifiquemos com as vicissitudes das pulsões humanas. Nesse sentido o cinema funciona como uma espécie de aparelho de catarse. Segundo o dicionário (Houaiss: 2001):"etimologicamente a palavra vem do grego – kátharsis – significando purificação, purgação, mênstruo, alívio da alma pela satisfação de uma necessidade moral". Na psicologia, a catarse é o movimento de liberação emocional, emoções sentimentos , angustias e tensões reprimidas, através de recursos idênticos a ab-reação (ab- para fora, reação = reação para fora).
Na psicanálise, a catarse é uma operação que traz a consciência memórias recalcadas no inconsciente, liberto o sujeito desses bloqueios. A produção cinematográfica, nos diz daquilo que não sabemos dizer, mas sabemos existir dentro de nós, dai surgem os sentimentos de comoção, o medo o horror a compaixão, a alegria a tristeza e identificação com os personagens ou com as situações.
No filme em questão fica principalmente o sentimento de perplexidade, de ruptura moral do que se acredita o certo ou o errado, o herói e o vilão. Os sentimentos e desejos humanos em sua variedade inesgotável encontram no cinema modos de representação, que através da catarse se tornam modos de vivenciar as fantasias, medos, traumas, e manifestações reprimidas no inconsciente.
O filme me fez refletir a cerca das construções e conexões que envolvem o que se considera como belo ou como feio, os padrões de beleza vigentes, o harmônico o grotesco e o sublime, a perfomatividade e os valores morais e éticos. Pink Flamingos faz uma transvalorização de todos os valores tidos naturalmente como bons, no filme esses valores são deslocados e causam um estranhamento muito além do moral e ético, uma catarse grotesca.
Afinal de onde surgiram todos esses valores morais?
Para Nietzsche, os valores não são verdades divinas imutáveis e sim criados por nós, portanto dependentes do tempo e do espaço em que se manifestam.
O filme consegue subverter valores morais, que tentam se passar como naturais, valores do que é o bom e o que é o mal, porém, o filme vai muito além do bem e do mal, mais do que subverter esses conceitos, ele explicita a lógica naturalizada dos valores e os exibe como socialmente construídos. Ao contextualizar os valores ate então naturalizados, o filme faz um convite a reflexão de como construímos nossos valores em cima não de bases sólidas e imutáveis, e sim em areia movediça, tão instáveis que precisam de toda uma ordem que regule e mantenha a verdade da bondade dos bons e da maldade dos ruins. Porem, em alguns lugares, em alguns tempos, em algumas famílias e em alguns corpos essas valorizações morais são invertidas, são negadas e são revalorizadas é o que acontece em Pink Flamingos.
Esse deslocamento de valores morais me lembrou o que ocorre em Justine, os Infortúnios da virtude. Marquês de Sade critica tanto a igreja como a lei moral cristã, usada como meio de manipular os miseráveis e beneficiar a si própria colocando a fraqueza, a submissão e a passividade como bondades, e a dominação, e a atividade como maldade. Ele também mostra o quanto àqueles que são os reguladores dessa lógica como o clero, são muito piores..
Pink Flamingos questiona também as normas de gênero e de sexualidade que norteiam as subjetividades. A estética feminina é profundamente deslocado ao colocar como personagem principal uma drag obesa, Divine. O cinema durante muito tempo veicula um padrão de beleza feminino em uma tentativa de se chegar a feminilidade original. No cinema, Divine rompe com esse padrão porque seu corpo sempre em transição rompe com as normas estéticas da representação feminina ou masculina, Divine mostra portanto que esse padrão é imitação, uma cópia de uma cópia. Uma agressão aos valores estéticos e éticos do cinema heteronormativo.
Butler estabelece toda identidade de gênero como uma forma de paródia produzida nos atravessamentos das relações de poder, a drag revela a natureza mimética de todas as identidades de gênero, Divine causa estranhamento por romper com a binaridade que se espera entre sexo gênero e desejo.
O obsceno, que se compraz em ferir o pudor, é absurdo, é antinatural, é sobrenatural, é queer, é caos, é desordem, é grotesco. No grotesco se aniquilam as ordenações que regem as relações sociais, Pink Flamingos confunde os referenciais tradicionais que sustentam os julgamentos hierárquicos de valores.
Pink Flamingos explora de uma forma deliciosamente grotesca toda essa potencialidade subversiva que é o devir humano.
Estética impecável. Cores de um magnetismo surreal. Iluminação perfeita. Achei fantástico como o cenário e o ambiente muda de maneira bem singela de acordo com as emoções dos personagens em algumas cenas. Umas mudanças nas cores e o cenário vira outro, quase como mágica. Jess é literalmente a encarnação da beleza, e não obstante ainda tem uma alto estima elevada e constante, o que a torna tão invejável no seu ambiente de trabalho. Muitas matariam por ela, literalmente. Muitas se matariam para se parecer com ela. E o filme explora isso, com um roteiro um tanto quanto pobre, que poderia ter explorado o psicológico das personagens. O roteiro é uma merda, e só fica interessante no final. Podiam ter jogado mais com o surrealismo, que combina bastante com as cores vividas e os neons. De qualquer modo, o filme é uma experiencia estética única. No fim, o filme mostra como tudo no mundo da moda é vazio, superfulo, e substitutível.
Não conheço o jogo, ao meu ver o que estragou foi a historia ser contada em dois tempos, no ano de 1400 e no presente, simultaneamente. Se focasse somente no ano de 1400, talvez fosse melhor. Gostei apenas das cenas de ação, porque as cenas que se passam no ano 2000 são muito entediantes, e o roteiro é horrível. Que potencial desperdiçado :/
Juno é um filme que traz como temática principal a gravidez na adolescência, a maternidade, e as relações familiares e possibilita questionamentos acerca desses elementos a partir das complexas vivências da personagem. O filme todo é exibido através da ótica de Juno (Ellen Page), personagem principal, e portanto do seu ponto de vista. Juno é uma adolescente que descobre estar grávida logo no início do filme, a notícia para ela é devastadora, por acarretar responsabilidades infinitas que tosariam a sua liberdade. A ideia é tão perturbadora no início do filme que ela simula uma tentativa de suicídio tentando se enforcar na árvore. Juno ainda frequenta a escola do ensino médio, e o pai do seu filho, até então era virgem. Eles conversam sobre ter ou não o bebê, e concordam que não estão preparados para isso. Assim, Juno decide abortar. Chegando na clínica de aborto ela encontra uma colega de classe protestando em frente a clinica, que diz que o bebê de Juno tem até unhas. De fato, essa cena parece uma crítica ao movimento pró-vida. Juno fica muito intrigada com essa informação, e frente ao descaso da clínica, decide não abortar. No filme Juno conta com o apoio do seu núcleo familiar, o que em muitos casos não acontece na realidade. Por se tratar de adolescentes, e o adolescente ser dependente de um adulto, nos casos de gravidez na adolescência muitas vezes quem decide pela continuidade ou não da gravidez não é a adolescente, e sim seus responsáveis, e caso sejam contrariados, ou não aceitem a ideia da gravidez na adolescência, acabam expulsando seus filhos de casa. O que não é o caso de Juno. Ao negar a maternidade logo no início do filme, Juno, contesta incondicionalmente o mito do amor materno, ou seja, a ideia de que a mãe é dotada por natureza de um instinto de amor e proteção aos seus filhos. Como demonstra Batinder “O amor materno não constitui um sentimento inerente à condição de mulher, ele não é um determinismo, mas algo que se adquire. Tal como o vemos hoje, é produto da evolução social desde princípios do século XIX, já que, como o exame dos dados históricos mostra, nos séculos XVII e XVIII o próprio conceito do amor da mãe aos filhos era outro: as crianças eram normalmente entregues, desde tenra idade, às amas, para que as criassem, e só voltavam ao lar depois dos cinco anos. Dessa maneira, como todos os sentimentos humanos, ele varia de acordo com as flutuações socioeconômicas da história.” O amor materno, assim como qualquer sentimento, não é determinado pelo gênero, e sim por características pessoais, que podem se modificar de acordo com as vivências do sujeito. Juno contesta o caráter inato do amor materno, e também o fato de ele ser compartilhado por todas as mulheres ao recusar a maternidade como um destino inevitável. Não obstante, Juno se preocupa com o futuro do seu filho, mesmo que não deseje ser mãe, ao procurar uma boa família para ele. O mito do amor materno tem bastante representatividade na sociedade atual, e muitas vezes se encarna na atuação dos operadores do direito muitas quando estes priorizam a permanência do filho junto a mãe que não o deseja. Juno começa a procurar um casal para doar o seu filho, já que existem tantas pessoas que gostariam de ter um filho, e não poderiam tê-lo. Juno procura o casal “perfeito e não ruim e partido como a família de todo mundo”. Essa fala da Juno, transparece a vontade de que seu filho seja criado pelo modelo padrão de família, papai mamãe e filhinho, coisa que ela não teve, pois seus pais se separaram quando ela tinha cinco anos. Ela então abre o jornal numa página de classificados onde estão anuncios de diferentes casais que gostariam de adotar uma criança. Juno procura então o casal perfeito para entregar seu filho para adoção. O fato de essa procura se dar através de um anúncio de jornal, mostra como a adoção pode ser mercantilizada, quando não temos políticas públicas que regulam o processo de adoção, deixamos espaço para a criação um mercado de compra e venda de bebês e crianças. Isso é exemplificado no filme quando Juno vai até a casa do casal que ela pretende doar o bebê Vanessa e Mark, e eles falam sobre os termos da adoção, e perguntam se ela quer algo mais por isso. Após se certificar de que o casal está apto a receber o bebê, Juno se envolve mais com o futuro pai adotivo do mesmo, e com a futura mãe adotiva e começa a ver que a relação perfeita que ela imaginava, não existia, que o relacionamento deles estava prestes a se romper, até que rompem o casamento, e se separam, o que destruiu todas as expectativas de Juno de que o bebê fosse criado em uma família “perfeita”. Depois de conversar com o seu pai sobre “Amor”, juno ressignifica sua concepção de família perfeita, e procura a Vanessa para saber se ela mesmo estando agora solteira, ainda está interessada em ter o filho. Vanessa aceita ser uma mãe solteira. Nesse aspecto, o filme quebrou com a expectativa de que Juno se relacionasse com o futuro padrasto do seu bebê, e assim resolvesse ter e criar o bebê, e também com a expectativa de que ele fosse criado na família perfeita, sugerindo a possibilidade das diferentes modalidades familiares, incluindo aí a possibilidade de família monoparental. O filme desconstrói o mito do amor materno, e o mito da família perfeita. O filme traz bastantes elementos para problematizamos a concepção de adolescente como problemática, uma vez que trata de um tema quase tabu, como a gravidez na adolescência, com sutileza e leveza. Juno, diferente do que se espera, revela não querer saber o sexo do seu bebê. Este que é um momento que se prenuncia já o destino da pessoa, ligada intrinsecamente ao seu sexo, é também desconstruído no filme. O masculino e o feminino são criações culturais e, como tal, são comportamentos apreendidos através do processo de socialização que condiciona diferentemente os sexos para cumprirem funções sociais específicas. Baseados em conceitos teóricos esses discursos influenciam o modo como a realidade é percebida e como as situações são definidas. (FOUCAULT, 1969). Outra distinção clássica entre os papéis de gênero é a do homem como o provedor responsável pelo sustento da família, e portanto aquele que circula pelos espaços públicos, e a mulher aquela que cuida do lar e dos filho. Há um desequilíbrio de responsabilidades no que diz respeito à separação conjugal onde quase sempre a mulher assume a guarda do filho. A sociedade delega a mulher ainda hoje, a responsabilidade dos filhos, e os homens se eximem da responsabilidade e/ou não prestam apoio financeiro nem afeto na criação dos filhos. O abandono paterno é comum na sociedade ocidental, enquanto o abandono materno gera muito mais espanto. Como sugere Cruz (2014): “Os ideais contemporâneos de relação conjugal enfatizam mais a autonomia e a satisfação de cada cônjuge do que os laços de interdependência entre eles. A relação conjugal manter-se-á idealmente, enquanto prazerosa e proporcionar satisfação a ambos os parceiros. Desse modo, quando os objetivos não são atingidos, levando ao fracasso das relações conjugais, presenciam-se sucessivas uniões e recasamentos. Consequentemente, as relações filiais também são afetadas pela transitoriedade dos relacionamentos, cabendo à mulher, raras as exceções, permanecer com o filho após a dissolução do núcleo conjugal, apesar da igualdade de deveres e direitos no âmbito legal.” Neil Postman discute em seu livro “O Desaparecimento da Infância” como surgiu e se desenvolveu o conceito de infância no decorrer dos tempos, e o porquê de seu rápido e contínuo desaparecimento na contemporaneidade. Segundo Postman a infância como estrutura social e como condição psicológica surgiu por volta do século XVI e desenvolveu-se intensamente durante 350 anos, de modo a chegar refinada e fortalecida aos nossos dias. A idéia de infância não surgiu plenamente desenvolvida, sendo importante destacar que cada nação tentou entendê-la e integrá-la à sua cultura. Nesse sentido, a infância assumiu aspecto singular, conforme o cenário econômico, religioso e intelectual em que apareceu. O modo como a infância é concebida hoje e as diversas transformações do conceito desde seu surgimento como mostra Postman, revela que a infância, longe de ser um dado universal, atemporal, puro e inocente é uma produção social. Fazendo um paralelo do conceito de infância com o conceito de adolescente este último está mais sujeito a transformações na modernidade-líquida, termo cunhado por Bauman, onde os tempos são “líquidos” porque tudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido”. E é nessa modernidade líquida que vemos surgir um saber específico sobre a adolescência no qual a Psicologia muito tem contribuído. Qual a concepção de adolescência a Psicologia e a mídia ou mais especificamente o filme “Juno” tem ajudado a construir? “A inter-relação entre poder e saber constitui os discursos sobre o sujeito moderno. E o poder se realiza por meio da rede complexa de tecnologias e sistemas disciplinares em que parte dessa trama se baseia, particularmente nos conhecimentos da medicina, da educação, do direito e da psicologia. As normas impostas pelas práticas disciplinares e disciplinantes constituem as subjetividades em cada tempo e contexto históricos”. (FOUCAULT, 1969, 1995, 2002a). Entender a adolescência como uma fase da vida, natural e universal, regida pelos hormônios, desconstituída do seu caráter histórico, cultural, contextual, e dos seus marcadores como classe, raça, etnia, gênero, em nada acrescenta a Psicologia que apenas pode ser passiva diante dos processos inevitavelmente “naturais”. A perspectiva naturalizante da adolescência impede a construção de uma política social adequada que busque inserir de modo ativo os jovens na sociedade como co-construturores e co-responsavéis também por essas políticas. Ao invés disso, os estudos especializados em adolescentes na perspectiva naturalizada apenas sugerem aceitação e a paciência. Bock em seu artigo “A adolescência como construção social: estudo sobre livros destinados a pais e educadores” traz as diversas concepções de adolescência. Ela aborda as definições de Levinsky, Erickson, Içami Tiba, Outeiral, Domingues e Alvarenga, Becker, Calligaris, Mellusi entre outros que tiveram um importante papel no estudo e construção do conceito de adolescência dentro e fora da psicologia. A adolescência conceituada na Psicologia se fundamenta em um único tipo de jovem, branco, burguês, racional e ocidental, e os estudos feitos em sua maioria a partir desses jovens, não viam a necessidade de buscar outros grupos para complementar os estudos já que a adolescência nessa perspectiva psicológica é natural e universal. Independentemente da faixa etária, adolescentes com idades iguais vivenciam sua adolescência de modos desiguais de acordo com os recortes de classe, gênero, raça e moradia que vão marcar e moldar as oportunidades e os acessos às políticas públicas, a educação, ao trabalho, e inserção social como um todo. Segundo Ana Bock: “Criticar a perspectiva naturalizante se torna uma necessidade, pois a Psicologia, ao desenvolver perspectivas naturalizantes, deixa de contribuir para leituras críticas da sociedade e para a construção de políticas adequadas para a juventude, responsabilizando, com sua leitura, o próprio adolescente e seus pais pelas questões sociais que envolvem jovens, como a violência e a drogadição”, e até mesmo a gravidez na adolescência, que pode ser entendida não apenas como um fator individual isolado, mas quando analisada a partir dos diversos marcadores citados, como uma questão social mais ampla, de acesso a informação, de educação, acesso a políticas públicas, e direitos negados, como por exemplo o aborto. Portanto, o filme Juno, através da ótica de uma adolescente, possibilita a problematização de diversos conceitos caros à Psicologia que constrói toda uma rede de poder-saber sobre a adolescência, nos seus discursos e atuação, que gera efeitos nas diversas subjetividades implicadas.
Contém Spoilers. Pode o subalterno falar? Moonlight traz para o cinema aquelas vidas que não merecem ser contadas, cuja memória e representação são relegadas ao esquecimento e cujas mortes são constantemente desejadas. O filme chama atenção por colocar em foco não a categoria hegemônica do cinema: o homem branco, cis, hetero, classe média alta, ao invés disso expõe a árdua construção de uma identidade marginal e a suas cicatrizes. Por retratar infância adolescência e juventude o filme possibilitou de forma bem elaborada (tirando o último capítulo) acompanhar o desenvolvimento de Chiron. O filme se inicia com uma perseguição dos garotos a Chiron que assustado se escondeu em um casa abandonada. Essas perseguições são constantes nas duas primeiras partes do filme. Porque o perseguem? Por ser diferente, por ser calado, na sua, por não ser um garoto firme, por usar calças coladas, por ter uma mãe usuária de drogas, por não revidar as violências etc. A violência, física, simbólica, psicológica, cultural e institucional é uma constante na vida de pessoas periféricas, e é central na construção das masculinidades. É através dela que os garotos se expressão, aprendendo desde cedo que se apanhar na escola quando chegar em casa pode levar outra surra por ter apanhado ao invés de batido. A violência é o território que diferencia os meninos e meninas, os mais fortes dos mais fracos, os que merecem o título de homem (leia-se hetero) e os que não merecem. As brincadeiras masculinas estão envoltas em violência, talvez de modo a prepará-los para o violento mundo que os aguarda. A mãe de Chiron é mãe solteira e usuária de crack, e também persegue Chrion por ele não ser um garoto comum, faggot*, e é Teresa e seu namorado Juan, que dão o suporte afetivo que Chiron precisa. É interessante notar o quanto Juan influenciou Chiron, talvez como a única figura paterna que ele teve, na sua juventude, Chiron usa o mesmo turbante, a coroa no carro, o porte físico é bem parecido, os dentes, e até mesmo a profissão são idênticas. Na adolescência, Chiron descobre-se atraído pelo seu amigo Kevin, e aqui o filme de maneira genial, aborda a sexualidade não de maneira central, fazendo disso o propósito do filme, mas apenas mais uma variante. Kevin é desafiado a bater em Chiron para provar sua masculinidade, é o que ele faz. Um tempo depois já com filhos e tudo mais, Kevin revela que sempre fez o que esperavam dele... Chiron, se vê então em uma encruzilhada de estigmas, onde se cruzam raça, classe e sexualidade, variáveis que não se somam, mas talvez se multiplicam, uma interseccionalidade de opressões. A terceira parte do filme, a juventude, mostra um Chiron que seu amigo Kevin nao reconhece. Provavelmente para superar todas as violências que sofreu, Chiron encontra meios de se adaptar, fisicamente não é mais aquele garoto franzino, não demonstra sua fragilidade, e performatiza uma identidade não mais oprimida, e sim opressora, caracterizada pela figura do traficante. O filme nos dois primeiros capítulos dá a entender que Chiron, não entraria para o mundo do crime, e se entrasse, não daria certo, pela sua personalidade, mas isso é não levar em consideração todo o contexto em que ele foi criado desde sua mãe usuária de drogas, seu "padrasto" Juan traficante, e até sua passagem pela prisão, que não é detalhada no filme.
O filme retrata a realidade de diversos jovens que tem o direito a expressão da sua orientação sexual tolhida pela religião cristã e pela homofobia da sociedade. Inicia contrastando a vida 'sagrada' professada pela religião e a vida 'profana', ou seja a vida sexual. Historicamente a sexualidade tem uma importância crucial na constituição da subjetividade do sujeito. E a igreja sempre foi uma instituição que ordenou diversas formas de regular Controlar adestrar a manifestação pública de orientações não heterossexuais. O filme mostra perfeitamente como essa caça as sexualidades dissidentes naturaliza uma unica orientação como legitima e institui o regime de heterossexualidade compulsória. Desde a inquisição com a caça as bruxas, aos sodomitas aos hereges e aos não cristãos na atualidade a igreja contínua esse projeto de necropolitica. O nome das categorias mudaram desde que novos dispositivos surgiram para regula'-la. De pecado á doença, surge a categoria homossexual, assim as ciências médicas e psi criaram formas de catalogar, descrever, corrigir e medicar as sexualidades dissidentes. Mesmo com resoluções proibindo as chamadas terapias de reorientação sexual diversos psicólogos obviamente evangélicos fundamentalistas continuam oferecendo a famosa cura gay. As igrejas evangélicas estão cheias de pastores que fazem essa cruzada antigay, uma das ressonâncias psíquicas causadas pela homofobia e pelo trabalho desses pastores é a homofobia internalizada quando o sujeito não só introjeta a homofobia como a reproduz. Dai o argumento de que homofóbicos são gays enrustidos que não suportam a ideia de tal desejo e para tentar nega-la tentam anular no outro esse desejo. Uma rápida procura no google mostra que muitos ofertantes desses cursos, depois de um tempo, resolvem aceitar a sua homossexualidade. A dissonância entre o desejo e a pressão social causada pela homofobia e pela heterossexualidade compulsória pode levar muitas vezes a casos de suicídio bem retratado no filme. O problema todos sabemos não são as sexualidades não heterossexuais e sim a lgbtfobia, que é a causa de diversos jovens serem expulsos de casa, como o filho da pastora que se envolveu com drogas e assumiu sua homossexualidade. E a lgbtfobia que faz os jovens gays suicidarem ou ate ter horror a sua própria orientação sexual visto que ela é tratada como pecado, crime ou doença. Desse modo cria-se uma demanda de pessoas que para ter o orgulho dos pais e se enquadrar na heteronorma procuram a ajuda oferecida pelas igrejas a fim de perfomarem uma identidade heterossexual. O filme também retrata como a cura gay é uma perda de tempo pois não há discurso por mais sagrado que seja que consiga condenar uma manifestação de amor e carinho entre duas pessoas . Se a sociedade precisa manter um controle sobre as sexualidade e as práticas, deveria focar então no consentimento, não há nenhum problema quando duas pessoas decidem fazer sexo, desde que haja consentimento. Uma sociedade machista patriarcalista e lgbtfobica, é Uma sociedade onde a cada 11 minutos Uma mulher é estuprada e uma pessoa lgbt e assassinada, simplesmente por não ser heterossexual. Isto é um reflexo de como enxergamos o consentimento e as sexualidades. E estes assassinatos, todos, tem o aval da igreja e não obstante a conivência do estado. A igreja, que diz pregar o amor tem mais sangue de pesoas lgbt's nas mãos que qualquer outra instituição. E em vez de pedir perdão por isso, no alto sua arrogância, detêm o privilégio de perdoar o homossexual e sugerir a abstinência. Além de ser contra uso de preservativos, sexo sem fins reprodutivos contracepcao e aborto. Vendem a salvação do pecado horrendo que é nao ser cis-heterossexual. Levíticos condenam igualmente comer carne de porco, vestir dois tecidos, e milhoes de outras coisa mas somente a homossexualidade tornou se uma fonte de controle e de negócios da igreja. Além de que as pessoas tem o livre direito de não acreditarem na mesma divindade que você, de não professarem a mesma fé e argumentos religiosos não podem ser fundamento para politicas públicas como fazem a bancada evangélica. Uma sociedade laica e democrática deve proteger e resguardar o livre direito de manifestação sexual e religiosa do sujeito, coibindo as manifestações de intolerância religiosa e sexual. Por fim o pedido de salvação que deu nome ao filme parece ser um pedido de salvação das amarras da religião, alguém nos salve das igrejas.
João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.
Me senti um observador e em alguns momentos me senti observado. Que sensação poderosa. Me levou para a instabilidade de algo que só consigo justificar como um sonho. A zona para mim não passa de uma metáfora para o inconsciente, para um tipo de sonho. Freud dizia que os sonhos eram a realização dos nossos desejos mais intimos e profundos. Isso é representado pelo quartinho que se encontra na zona onde os desejos são realizados. Os elementos de castração do desejo estão presentes, não a toa a zona está isolada pelo exército, e apenas alguns poucos conseguem entrar nela, e voltar, assim são os sonhos, passamos por eles, e nunca retornamos deles, no máximo temos uns lampejos do que fizemos por la. Vemos através das janelas, das portas, como um espectador presente na obra ações em tempo real, ou então mais lentas ainda, em paisagens extremamente oníricas, cenários belíssimos, e diálogos e monólogos extremamente poéticos, existenciais. Destaque para a trilha sonora hipnotizante
É por obras como essa que eu amo o cinema. O filme conseguiu me transportar para uma mente psicótica e para umas trip cabulosas. Ao que me parece a ingestão de substâncias psicoativas usadas em rituais indígenas experimentadas em tanque de privação sensorial podem ter sido o estopim para
o "surto psicótico do Willian" que é um delírio bem estruturado sobre ter regredido para uma forma evolutivamente anteriora ao humano. Um selvagem. Diz ele que as alucinações se externalizaram, e o filme revela através da ótica de Willian a realidade de suas alucinações que são para ele incontestáveis, possuem o estatuto de verdade suprema, que era o que ele buscava encontrar nos experimentos de alteração de consciência. Sua visão da realidade é um ótimo exemplo de como nossa realidade é intermediada pela mente, não existindo a priori. Por exemplo nao ha duvidas da objetividade da realidade das alucinações. Isso fica evidente na psicossomatica. O maior problema e que no caso de Willian sua mente significou os acontecimentos para além de uma base reflexiva cmpartilhada socialmente, portanto sua verdade é suprema mas é única. Porém, no final inesperadamente, sua esposa que duvidava da realidade das alucinações dele acaba adentrando nesse universo que até então era ininteligível para ela.
Desce?
3.1 89Suspense extremamente envolvente, do inicio ao fim.
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraUma obra de arte
O isolamento em sua forma mais insana.
O Que Ficou Para Trás
3.6 510 Assista AgoraApesar de todas as questões que o filme me suscita sobre refugiados e migrantes, o fato dos personagens serem refugiados pra mim foi sensacional pois isso prende os personagens a casa. Todo maldito filme de casa assombrada a galera insiste em ficar na casa sem motivo algum, enquanto que pra essa família, não há opção, não há outro lar, não há mais pertencimento, não há suporte, não há mais família. Eles são os outros, os estranhos, em busca de se adaptar a este novo lar, que não é so a casa mas tambem a América.
Em que medida vale a pena abrir mão de sua cultura e tradição ? Quem dera esse fosse o problema dos personagens. Eles enfrentam fantasmas do passado, que estão mais presentes que nunca.
Meu Pai
4.4 1,2K Assista AgoraConsidero o melhor filme sobre demência/Alzheimer até então.
É um filme que consegue te transportar pra dor e confusão de uma pessoa com esse quadro, te faz questionar sobre identidade, memória e realidade.
Anthony Hopkins em todo o seu esplendor.
Bela Vingança
3.8 1,3K Assista AgoraConsidero este um ótimo filme sobre a temática de violências de gênero. Primeiro ponto importante a destacar é que ele é dirigido por uma mulher, e ao longo do filme temos várias cenas que vão trazer questões de gênero para o debate, como por exemplo, quando o homem diz: O maior medo de um homem é ser acusado de estupro, ao que Cassie responde "imagine qual o maior medo de uma mulher?
Para mim, o filme ganhou no enredo e narrativa que aborda com muito mais sensibilidade o tema da violência sexual. Ganha muitos pontos principalmente, por ter conseguido me tocar, gerar empatia, catarses, revoltas, reflexões.
Considero um filme didático, por romper com as narrativas de culpabilização da vitima e também por romper com o clichê da relação romântica.
Alice Júnior
3.8 144Eu fico tão feliz que jovens trans poderão ter filmes como este de referencia.
Um sopro de esperança pra humanidade <3
Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraVoces perceberam que a Madam Blanc é o próprio Thom Yorke em drag?
Entre Realidades
2.9 307 Assista Agorauma jornada através de um surto psicótico
Timbuktu
3.8 134 Assista Agoragostei muito não, pela sinopse esperava algo bem diferente.
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraLevando em consideração que a parcela dos 1% mais ricos do mundo detêm mais do dobro da riqueza possuída por 6,9 bilhões de pessoas, segundo relatório global da Oxfam, eu me questiono, quem são realmente os parasitas?
Animais Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald
3.5 1,1K Assista AgoraEu quero ver o Dumbledore beijando o Grindelwald
Náufrago
3.9 1,9K Assista AgoraResiliência !
Fale com Ela
4.2 1,0K Assista AgoraEm Hablen com Ella, temos uma história de amor, em uma situação que de antemão já está condenada e proibida. O filme aborda de maneira muito sensível situações moralmente complexas, fazendo com que o público se compadeça pelos problemas de seus personagens.
Almodóvar parece situar o filme muito além do bem e do mal, da moral, do visível, e da lei, desconstruindo o maniqueísmo, julgamentos e preconceitos ao tratar de situações trágicas e sublimes. Para tanto, as personagens não são estereotipadas sempre fugindo ao padrão que se espera de seu sexo, gênero, classe, elas aparecem com toda a diversidade e complexidade típica do ser humano, muito embora algumas estejam impedidas de falar, em coma.
Os esteriótipos de gênero são diluídos na obra, inicialmente com Marco um homem que chora e se emociona com um espetáculo de dança da Pina Bausch, posteriormente com Lidya que exerce uma profissão onde reina o machismo, as touradas, ela é toureira e na arena não demonstra nenhum medo na arena, mas tem fobia de cobras. Com Benigno que tem sua orientação sexual posta em xeque em vários momentos do filme por unir em uma personalidade andrógena aspectos do que seria esperado do feminino e do masculino.
Desse modo o filme em diferentes partes transcende a necessidade de falar como no curta-metragem mudo e preto e branco com traços surrealistas que intercala a projeção.
Com o título de “Amante Menguante”, conta rapidamente a história de um homem que ingeriu uma fórmula não testada para emagrecer, acabou encolhendo e entrou dentro da genitália de sua amada para dentro dela viver. O curta dispõe de belíssimas alegorias e metáforas como, por exemplo, a necessidade da volta ao útero materno “e ele ficou pra sempre dentro dela”.
O filme traz a tona um sentimento de perplexidade ao fazer com que nos aproximemos e nos identifiquemos com as vicissitudes das pulsões humanas. Nesse sentido o cinema funciona como uma espécie de aparelho de catarse. Segundo o dicionário (Houaiss: 2001):"etimologicamente a palavra vem do grego – kátharsis – significando purificação, purgação, mênstruo, alívio da alma pela satisfação de uma necessidade moral". Na psicologia, a catarse é o movimento de liberação emocional, emoções sentimentos , angustias e tensões reprimidas, através de recursos idênticos a ab-reação (ab- para fora, reação = reação para fora).
Na psicanálise, a catarse é uma operação que traz a consciência memórias recalcadas no inconsciente, liberto o sujeito desses bloqueios. A produção cinematográfica, nos diz daquilo que não sabemos dizer, mas sabemos existir dentro de nós, dai surgem os sentimentos de comoção, o medo o horror a compaixão, a alegria a tristeza e identificação com os personagens ou com as situações.
No filme em questão fica principalmente o sentimento de perplexidade, de ruptura moral do que se acredita o certo ou o errado, o herói e o vilão. Os sentimentos e desejos humanos em sua variedade inesgotável encontram no cinema modos de representação, que através da catarse se tornam modos de vivenciar as fantasias, medos, traumas, e manifestações reprimidas no inconsciente.
Pink Flamingos
3.4 878O filme me fez refletir a cerca das construções e conexões que envolvem o que se considera como belo ou como feio, os padrões de beleza vigentes, o harmônico o grotesco e o sublime, a perfomatividade e os valores morais e éticos. Pink Flamingos faz uma transvalorização de todos os valores tidos naturalmente como bons, no filme esses valores são deslocados e causam um estranhamento muito além do moral e ético, uma catarse grotesca.
Afinal de onde surgiram todos esses valores morais?
Para Nietzsche, os valores não são verdades divinas imutáveis e sim criados por nós, portanto dependentes do tempo e do espaço em que se manifestam.
O filme consegue subverter valores morais, que tentam se passar como naturais, valores do que é o bom e o que é o mal, porém, o filme vai muito além do bem e do mal, mais do que subverter esses conceitos, ele explicita a lógica naturalizada dos valores e os exibe como socialmente construídos. Ao contextualizar os valores ate então naturalizados, o filme faz um convite a reflexão de como construímos nossos valores em cima não de bases sólidas e imutáveis, e sim em areia movediça, tão instáveis que precisam de toda uma ordem que regule e mantenha a verdade da bondade dos bons e da maldade dos ruins. Porem, em alguns lugares, em alguns tempos, em algumas famílias e em alguns corpos essas valorizações morais são invertidas, são negadas e são revalorizadas é o que acontece em Pink Flamingos.
Esse deslocamento de valores morais me lembrou o que ocorre em Justine, os Infortúnios da virtude. Marquês de Sade critica tanto a igreja como a lei moral cristã, usada como meio de manipular os miseráveis e beneficiar a si própria colocando a fraqueza, a submissão e a passividade como bondades, e a dominação, e a atividade como maldade. Ele também mostra o quanto àqueles que são os reguladores dessa lógica como o clero, são muito piores..
Pink Flamingos questiona também as normas de gênero e de sexualidade que norteiam as subjetividades. A estética feminina é profundamente deslocado ao colocar como personagem principal uma drag obesa, Divine. O cinema durante muito tempo veicula um padrão de beleza feminino em uma tentativa de se chegar a feminilidade original. No cinema, Divine rompe com esse padrão porque seu corpo sempre em transição rompe com as normas estéticas da representação feminina ou masculina, Divine mostra portanto que esse padrão é imitação, uma cópia de uma cópia. Uma agressão aos valores estéticos e éticos do cinema heteronormativo.
Butler estabelece toda identidade de gênero como uma forma de paródia produzida nos atravessamentos das relações de poder, a drag revela a natureza mimética de todas as identidades de gênero, Divine causa estranhamento por romper com a binaridade que se espera entre sexo gênero e desejo.
O obsceno, que se compraz em ferir o pudor, é absurdo, é antinatural, é sobrenatural, é queer, é caos, é desordem, é grotesco. No grotesco se aniquilam as ordenações que regem as relações sociais, Pink Flamingos confunde os referenciais tradicionais que sustentam os julgamentos hierárquicos de valores.
Pink Flamingos explora de uma forma deliciosamente grotesca toda essa potencialidade subversiva que é o devir humano.
Demônio de Neon
3.2 1,2K Assista AgoraEstética impecável. Cores de um magnetismo surreal. Iluminação perfeita.
Achei fantástico como o cenário e o ambiente muda de maneira bem singela de acordo com as emoções dos personagens em algumas cenas. Umas mudanças nas cores e o cenário vira outro, quase como mágica.
Jess é literalmente a encarnação da beleza, e não obstante ainda tem uma alto estima elevada e constante, o que a torna tão invejável no seu ambiente de trabalho.
Muitas matariam por ela, literalmente. Muitas se matariam para se parecer com ela. E o filme explora isso, com um roteiro um tanto quanto pobre, que poderia ter explorado o psicológico das personagens. O roteiro é uma merda, e só fica interessante no final. Podiam ter jogado mais com o surrealismo, que combina bastante com as cores vividas e os neons. De qualquer modo, o filme é uma experiencia estética única.
No fim, o filme mostra como tudo no mundo da moda é vazio, superfulo, e substitutível.
O Segredo do Bosque dos Sonhos
3.8 88Maravilhoso
Assassin's Creed
2.9 948 Assista AgoraNão conheço o jogo, ao meu ver o que estragou foi a historia ser contada em dois tempos, no ano de 1400 e no presente, simultaneamente. Se focasse somente no ano de 1400, talvez fosse melhor.
Gostei apenas das cenas de ação, porque as cenas que se passam no ano 2000 são muito entediantes, e o roteiro é horrível.
Que potencial desperdiçado :/
Juno
3.7 2,3K Assista AgoraJuno é um filme que traz como temática principal a gravidez na adolescência, a maternidade, e as relações familiares e possibilita questionamentos acerca desses elementos a partir das complexas vivências da personagem. O filme todo é exibido através da ótica de Juno (Ellen Page), personagem principal, e portanto do seu ponto de vista. Juno é uma adolescente que descobre estar grávida logo no início do filme, a notícia para ela é devastadora, por acarretar responsabilidades infinitas que tosariam a sua liberdade. A ideia é tão perturbadora no início do filme que ela simula uma tentativa de suicídio tentando se enforcar na árvore.
Juno ainda frequenta a escola do ensino médio, e o pai do seu filho, até então era virgem. Eles conversam sobre ter ou não o bebê, e concordam que não estão preparados para isso. Assim, Juno decide abortar. Chegando na clínica de aborto ela encontra uma colega de classe protestando em frente a clinica, que diz que o bebê de Juno tem até unhas. De fato, essa cena parece uma crítica ao movimento pró-vida. Juno fica muito intrigada com essa informação, e frente ao descaso da clínica, decide não abortar.
No filme Juno conta com o apoio do seu núcleo familiar, o que em muitos casos não acontece na realidade. Por se tratar de adolescentes, e o adolescente ser dependente de um adulto, nos casos de gravidez na adolescência muitas vezes quem decide pela continuidade ou não da gravidez não é a adolescente, e sim seus responsáveis, e caso sejam contrariados, ou não aceitem a ideia da gravidez na adolescência, acabam expulsando seus filhos de casa. O que não é o caso de Juno.
Ao negar a maternidade logo no início do filme, Juno, contesta incondicionalmente o mito do amor materno, ou seja, a ideia de que a mãe é dotada por natureza de um instinto de amor e proteção aos seus filhos.
Como demonstra Batinder “O amor materno não constitui um sentimento inerente à condição de mulher, ele não é um determinismo, mas algo que se adquire. Tal como o vemos hoje, é produto da evolução social desde princípios do século XIX, já que, como o exame dos dados históricos mostra, nos séculos XVII e XVIII o próprio conceito do amor da mãe aos filhos era outro: as crianças eram normalmente entregues, desde tenra idade, às amas, para que as criassem, e só voltavam ao lar depois dos cinco anos. Dessa maneira, como todos os sentimentos humanos, ele varia de acordo com as flutuações socioeconômicas da história.”
O amor materno, assim como qualquer sentimento, não é determinado pelo gênero, e sim por características pessoais, que podem se modificar de acordo com as vivências do sujeito.
Juno contesta o caráter inato do amor materno, e também o fato de ele ser compartilhado por todas as mulheres ao recusar a maternidade como um destino inevitável. Não obstante, Juno se preocupa com o futuro do seu filho, mesmo que não deseje ser mãe, ao procurar uma boa família para ele.
O mito do amor materno tem bastante representatividade na sociedade atual, e muitas vezes se encarna na atuação dos operadores do direito muitas quando estes priorizam a permanência do filho junto a mãe que não o deseja.
Juno começa a procurar um casal para doar o seu filho, já que existem tantas pessoas que gostariam de ter um filho, e não poderiam tê-lo. Juno procura o casal “perfeito e não ruim e partido como a família de todo mundo”. Essa fala da Juno, transparece a vontade de que seu filho seja criado pelo modelo padrão de família, papai mamãe e filhinho, coisa que ela não teve, pois seus pais se separaram quando ela tinha cinco anos.
Ela então abre o jornal numa página de classificados onde estão anuncios de diferentes casais que gostariam de adotar uma criança. Juno procura então o casal perfeito para entregar seu filho para adoção. O fato de essa procura se dar através de um anúncio de jornal, mostra como a adoção pode ser mercantilizada, quando não temos políticas públicas que regulam o processo de adoção, deixamos espaço para a criação um mercado de compra e venda de bebês e crianças. Isso é exemplificado no filme quando Juno vai até a casa do casal que ela pretende doar o bebê Vanessa e Mark, e eles falam sobre os termos da adoção, e perguntam se ela quer algo mais por isso.
Após se certificar de que o casal está apto a receber o bebê, Juno se envolve mais com o futuro pai adotivo do mesmo, e com a futura mãe adotiva e começa a ver que a relação perfeita que ela imaginava, não existia, que o relacionamento deles estava prestes a se romper, até que rompem o casamento, e se separam, o que destruiu todas as expectativas de Juno de que o bebê fosse criado em uma família “perfeita”.
Depois de conversar com o seu pai sobre “Amor”, juno ressignifica sua concepção de família perfeita, e procura a Vanessa para saber se ela mesmo estando agora solteira, ainda está interessada em ter o filho. Vanessa aceita ser uma mãe solteira.
Nesse aspecto, o filme quebrou com a expectativa de que Juno se relacionasse com o futuro padrasto do seu bebê, e assim resolvesse ter e criar o bebê, e também com a expectativa de que ele fosse criado na família perfeita, sugerindo a possibilidade das diferentes modalidades familiares, incluindo aí a possibilidade de família monoparental. O filme desconstrói o mito do amor materno, e o mito da família perfeita.
O filme traz bastantes elementos para problematizamos a concepção de adolescente como problemática, uma vez que trata de um tema quase tabu, como a gravidez na adolescência, com sutileza e leveza.
Juno, diferente do que se espera, revela não querer saber o sexo do seu bebê. Este que é um momento que se prenuncia já o destino da pessoa, ligada intrinsecamente ao seu sexo, é também desconstruído no filme. O masculino e o feminino são criações culturais e, como tal, são comportamentos apreendidos através do processo de socialização que condiciona diferentemente os sexos para cumprirem funções sociais específicas. Baseados em conceitos teóricos esses discursos influenciam o modo como a realidade é percebida e como as situações são definidas. (FOUCAULT, 1969).
Outra distinção clássica entre os papéis de gênero é a do homem como o provedor responsável pelo sustento da família, e portanto aquele que circula pelos espaços públicos, e a mulher aquela que cuida do lar e dos filho. Há um desequilíbrio de responsabilidades no que diz respeito à separação conjugal onde quase sempre a mulher assume a guarda do filho. A sociedade delega a mulher ainda hoje, a responsabilidade dos filhos, e os homens se eximem da responsabilidade e/ou não prestam apoio financeiro nem afeto na criação dos filhos. O abandono paterno é comum na sociedade ocidental, enquanto o abandono materno gera muito mais espanto.
Como sugere Cruz (2014): “Os ideais contemporâneos de relação conjugal enfatizam mais a autonomia e a satisfação de cada cônjuge do que os laços de interdependência entre eles. A relação conjugal manter-se-á idealmente, enquanto prazerosa e proporcionar satisfação a ambos os parceiros. Desse modo, quando os objetivos não são atingidos, levando ao fracasso das relações conjugais, presenciam-se sucessivas uniões e recasamentos. Consequentemente, as relações filiais também são afetadas pela transitoriedade dos relacionamentos, cabendo à mulher, raras as exceções, permanecer com o filho após a dissolução do núcleo conjugal, apesar da igualdade de deveres e direitos no âmbito legal.”
Neil Postman discute em seu livro “O Desaparecimento da Infância” como surgiu e se desenvolveu o conceito de infância no decorrer dos tempos, e o porquê de seu rápido e contínuo desaparecimento na contemporaneidade. Segundo Postman a infância como estrutura social e como condição psicológica surgiu por volta do século XVI e desenvolveu-se intensamente durante 350 anos, de modo a chegar refinada e fortalecida aos nossos dias. A idéia de infância não surgiu plenamente desenvolvida, sendo importante destacar que cada nação tentou entendê-la e integrá-la à sua cultura. Nesse sentido, a infância assumiu aspecto singular, conforme o cenário econômico, religioso e intelectual em que apareceu.
O modo como a infância é concebida hoje e as diversas transformações do conceito desde seu surgimento como mostra Postman, revela que a infância, longe de ser um dado universal, atemporal, puro e inocente é uma produção social. Fazendo um paralelo do conceito de infância com o conceito de adolescente este último está mais sujeito a transformações na modernidade-líquida, termo cunhado por Bauman, onde os tempos são “líquidos” porque tudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido”. E é nessa modernidade líquida que vemos surgir um saber específico sobre a adolescência no qual a Psicologia muito tem contribuído. Qual a concepção de adolescência a Psicologia e a mídia ou mais especificamente o filme “Juno” tem ajudado a construir?
“A inter-relação entre poder e saber constitui os discursos sobre o sujeito moderno. E o poder se realiza por meio da rede complexa de tecnologias e sistemas disciplinares em que parte dessa trama se baseia, particularmente nos conhecimentos da medicina, da educação, do direito e da psicologia. As normas impostas pelas práticas disciplinares e disciplinantes constituem as subjetividades em cada tempo e contexto históricos”. (FOUCAULT, 1969, 1995, 2002a).
Entender a adolescência como uma fase da vida, natural e universal, regida pelos hormônios, desconstituída do seu caráter histórico, cultural, contextual, e dos seus marcadores como classe, raça, etnia, gênero, em nada acrescenta a Psicologia que apenas pode ser passiva diante dos processos inevitavelmente “naturais”.
A perspectiva naturalizante da adolescência impede a construção de uma política social adequada que busque inserir de modo ativo os jovens na sociedade como co-construturores e co-responsavéis também por essas políticas. Ao invés disso, os estudos especializados em adolescentes na perspectiva naturalizada apenas sugerem aceitação e a paciência.
Bock em seu artigo “A adolescência como construção social: estudo
sobre livros destinados a pais e educadores” traz as diversas concepções de adolescência. Ela aborda as definições de Levinsky, Erickson, Içami Tiba, Outeiral, Domingues e Alvarenga, Becker, Calligaris, Mellusi entre outros que tiveram um importante papel no estudo e construção do conceito de adolescência dentro e fora da psicologia.
A adolescência conceituada na Psicologia se fundamenta em um único tipo de jovem, branco, burguês, racional e ocidental, e os estudos feitos em sua maioria a partir desses jovens, não viam a necessidade de buscar outros grupos para complementar os estudos já que a adolescência nessa perspectiva psicológica é natural e universal. Independentemente da faixa etária, adolescentes com idades iguais vivenciam sua adolescência de modos desiguais de acordo com os recortes de classe, gênero, raça e moradia que vão marcar e moldar as oportunidades e os acessos às políticas públicas, a educação, ao trabalho, e inserção social como um todo.
Segundo Ana Bock: “Criticar a perspectiva naturalizante se torna uma necessidade, pois a Psicologia, ao desenvolver perspectivas naturalizantes, deixa de contribuir para leituras críticas da sociedade e para a construção de políticas adequadas para a juventude, responsabilizando, com sua leitura, o próprio adolescente e seus pais pelas questões sociais que envolvem jovens, como a violência e a drogadição”, e até mesmo a gravidez na adolescência, que pode ser entendida não apenas como um fator individual isolado, mas quando analisada a partir dos diversos marcadores citados, como uma questão social mais ampla, de acesso a informação, de educação, acesso a políticas públicas, e direitos negados, como por exemplo o aborto.
Portanto, o filme Juno, através da ótica de uma adolescente, possibilita a problematização de diversos conceitos caros à Psicologia que constrói toda uma rede de poder-saber sobre a adolescência, nos seus discursos e atuação, que gera efeitos nas diversas subjetividades implicadas.
Vera Cruz
3.8 35 Assista AgoraEsse sorriso psicopata do Burt <3
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraContém Spoilers.
Pode o subalterno falar?
Moonlight traz para o cinema aquelas vidas que não merecem ser contadas, cuja memória e representação são relegadas ao esquecimento e cujas mortes são constantemente desejadas.
O filme chama atenção por colocar em foco não a categoria hegemônica do cinema: o homem branco, cis, hetero, classe média alta, ao invés disso expõe a árdua construção de uma identidade marginal e a suas cicatrizes.
Por retratar infância adolescência e juventude o filme possibilitou de forma bem elaborada (tirando o último capítulo) acompanhar o desenvolvimento de Chiron. O filme se inicia com uma perseguição dos garotos a Chiron que assustado se escondeu em um casa abandonada. Essas perseguições são constantes nas duas primeiras partes do filme. Porque o perseguem?
Por ser diferente, por ser calado, na sua, por não ser um garoto firme, por usar calças coladas, por ter uma mãe usuária de drogas, por não revidar as violências etc.
A violência, física, simbólica, psicológica, cultural e institucional é uma constante na vida de pessoas periféricas, e é central na construção das masculinidades. É através dela que os garotos se expressão, aprendendo desde cedo que se apanhar na escola quando chegar em casa pode levar outra surra por ter apanhado ao invés de batido. A violência é o território que diferencia os meninos e meninas, os mais fortes dos mais fracos, os que merecem o título de homem (leia-se hetero) e os que não merecem. As brincadeiras masculinas estão envoltas em violência, talvez de modo a prepará-los para o violento mundo que os aguarda.
A mãe de Chiron é mãe solteira e usuária de crack, e também persegue Chrion por ele não ser um garoto comum, faggot*, e é Teresa e seu namorado Juan, que dão o suporte afetivo que Chiron precisa.
É interessante notar o quanto Juan influenciou Chiron, talvez como a única figura paterna que ele teve, na sua juventude, Chiron usa o mesmo turbante, a coroa no carro, o porte físico é bem parecido, os dentes, e até mesmo a profissão são idênticas.
Na adolescência, Chiron descobre-se atraído pelo seu amigo Kevin, e aqui o filme de maneira genial, aborda a sexualidade não de maneira central, fazendo disso o propósito do filme, mas apenas mais uma variante. Kevin é desafiado a bater em Chiron para provar sua masculinidade, é o que ele faz. Um tempo depois já com filhos e tudo mais, Kevin revela que sempre fez o que esperavam dele...
Chiron, se vê então em uma encruzilhada de estigmas, onde se cruzam raça, classe e sexualidade, variáveis que não se somam, mas talvez se multiplicam, uma interseccionalidade de opressões.
A terceira parte do filme, a juventude, mostra um Chiron que seu amigo Kevin nao reconhece. Provavelmente para superar todas as violências que sofreu, Chiron encontra meios de se adaptar, fisicamente não é mais aquele garoto franzino, não demonstra sua fragilidade, e performatiza uma identidade não mais oprimida, e sim opressora, caracterizada pela figura do traficante.
O filme nos dois primeiros capítulos dá a entender que Chiron, não entraria para o mundo do crime, e se entrasse, não daria certo, pela sua personalidade, mas isso é não levar em consideração todo o contexto em que ele foi criado desde sua mãe usuária de drogas, seu "padrasto" Juan traficante, e até sua passagem pela prisão, que não é detalhada no filme.
Save Me
3.3 43O filme retrata a realidade de diversos jovens que tem o direito a expressão da sua orientação sexual tolhida pela religião cristã e pela homofobia da sociedade.
Inicia contrastando a vida 'sagrada' professada pela religião e a vida 'profana', ou seja a vida sexual.
Historicamente a sexualidade tem uma importância crucial na constituição da subjetividade do sujeito. E a igreja sempre foi uma instituição que ordenou diversas formas de regular Controlar adestrar a manifestação pública de orientações não heterossexuais.
O filme mostra perfeitamente como essa caça as sexualidades dissidentes naturaliza uma unica orientação como legitima e institui o regime de heterossexualidade compulsória.
Desde a inquisição com a caça as bruxas, aos sodomitas aos hereges e aos não cristãos na atualidade a igreja contínua esse projeto de necropolitica.
O nome das categorias mudaram desde que novos dispositivos surgiram para regula'-la. De pecado á doença, surge a categoria homossexual, assim as ciências médicas e psi criaram formas de catalogar, descrever, corrigir e medicar as sexualidades dissidentes.
Mesmo com resoluções proibindo as chamadas terapias de reorientação sexual diversos psicólogos obviamente evangélicos fundamentalistas continuam oferecendo a famosa cura gay.
As igrejas evangélicas estão cheias de pastores que fazem essa cruzada antigay, uma das ressonâncias psíquicas causadas pela homofobia e pelo trabalho desses pastores é a homofobia internalizada quando o sujeito não só introjeta a homofobia como a reproduz. Dai o argumento de que homofóbicos são gays enrustidos que não suportam a ideia de tal desejo e para tentar nega-la tentam anular no outro esse desejo. Uma rápida procura no google mostra que muitos ofertantes desses cursos, depois de um tempo, resolvem aceitar a sua homossexualidade.
A dissonância entre o desejo e a pressão social causada pela homofobia e pela heterossexualidade compulsória pode levar muitas vezes a casos de suicídio bem retratado no filme.
O problema todos sabemos não são as sexualidades não heterossexuais e sim a lgbtfobia, que é a causa de diversos jovens serem expulsos de casa, como o filho da pastora que se envolveu com drogas e assumiu sua homossexualidade. E a lgbtfobia que faz os jovens gays suicidarem ou ate ter horror a sua própria orientação sexual visto que ela é tratada como pecado, crime ou doença. Desse modo cria-se uma demanda de pessoas que para ter o orgulho dos pais e se enquadrar na heteronorma procuram a ajuda oferecida pelas igrejas a fim de perfomarem uma identidade heterossexual.
O filme também retrata como a cura gay é uma perda de tempo pois não há discurso por mais sagrado que seja que consiga condenar uma manifestação de amor e carinho entre duas pessoas .
Se a sociedade precisa manter um controle sobre as sexualidade e as práticas, deveria focar então no consentimento, não há nenhum problema quando duas pessoas decidem fazer sexo, desde que haja consentimento. Uma sociedade machista patriarcalista e lgbtfobica, é Uma sociedade onde a cada 11 minutos Uma mulher é estuprada e uma pessoa lgbt e assassinada, simplesmente por não ser heterossexual. Isto é um reflexo de como enxergamos o consentimento e as sexualidades. E estes assassinatos, todos, tem o aval da igreja e não obstante a conivência do estado.
A igreja, que diz pregar o amor tem mais sangue de pesoas lgbt's nas mãos que qualquer outra instituição. E em vez de pedir perdão por isso, no alto sua arrogância, detêm o privilégio de perdoar o homossexual e sugerir a abstinência. Além de ser contra uso de preservativos, sexo sem fins reprodutivos contracepcao e aborto.
Vendem a salvação do pecado horrendo que é nao ser cis-heterossexual.
Levíticos condenam igualmente comer carne de porco, vestir dois tecidos, e milhoes de outras coisa mas somente a homossexualidade tornou se uma fonte de controle e de negócios da igreja.
Além de que as pessoas tem o livre direito de não acreditarem na mesma divindade que você, de não professarem a mesma fé e argumentos religiosos não podem ser fundamento para politicas públicas como fazem a bancada evangélica.
Uma sociedade laica e democrática deve proteger e resguardar o livre direito de manifestação sexual e religiosa do sujeito, coibindo as manifestações de intolerância religiosa e sexual.
Por fim o pedido de salvação que deu nome ao filme parece ser um pedido de salvação das amarras da religião, alguém nos salve das igrejas.
Amarelo Manga
3.8 542 Assista AgoraQUADRILHA
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Drummond.
Stalker
4.3 500 Assista AgoraMe senti um observador e em alguns momentos me senti observado. Que sensação poderosa. Me levou para a instabilidade de algo que só consigo justificar como um sonho. A zona para mim não passa de uma metáfora para o inconsciente, para um tipo de sonho. Freud dizia que os sonhos eram a realização dos nossos desejos mais intimos e profundos. Isso é representado pelo quartinho que se encontra na zona onde os desejos são realizados. Os elementos de castração do desejo estão presentes, não a toa a zona está isolada pelo exército, e apenas alguns poucos conseguem entrar nela, e voltar, assim são os sonhos, passamos por eles, e nunca retornamos deles, no máximo temos uns lampejos do que fizemos por la. Vemos através das janelas, das portas, como um espectador presente na obra ações em tempo real, ou então mais lentas ainda, em paisagens extremamente oníricas, cenários belíssimos, e diálogos e monólogos extremamente poéticos, existenciais.
Destaque para a trilha sonora hipnotizante
Viagens Alucinantes
3.7 186É por obras como essa que eu amo o cinema.
O filme conseguiu me transportar para uma mente psicótica e para umas trip cabulosas. Ao que me parece a ingestão de substâncias psicoativas usadas em rituais indígenas experimentadas em tanque de privação sensorial podem ter sido o estopim para
o "surto psicótico do Willian" que é um delírio bem estruturado sobre ter regredido para uma forma evolutivamente anteriora ao humano. Um selvagem. Diz ele que as alucinações se externalizaram, e o filme revela através da ótica de Willian a realidade de suas alucinações que são para ele incontestáveis, possuem o estatuto de verdade suprema, que era o que ele buscava encontrar nos experimentos de alteração de consciência. Sua visão da realidade é um ótimo exemplo de como nossa realidade é intermediada pela mente, não existindo a priori. Por exemplo nao ha duvidas da objetividade da realidade das alucinações. Isso fica evidente na psicossomatica. O maior problema e que no caso de Willian sua mente significou os acontecimentos para além de uma base reflexiva cmpartilhada socialmente, portanto sua verdade é suprema mas é única.
Porém, no final inesperadamente, sua esposa que duvidava da realidade das alucinações dele acaba adentrando nesse universo que até então era ininteligível para ela.
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