Seria um alerta de tendência para o cinema essa mistura de esporte com homoerotismo, vide a estreia colada de "Rivais" e "Love Lies Bleeding"? Queria assistir (e escrever sobre) os dois juntos, mas "Rivais" foi melhor circulado na minha região.
O filme é episódico (no melhor sentido possível): uma partida de tênis em que os sets são costurados por flashbacks dos envolvidos, formando uma teia de conexões, amores frustrados e atração. O trio principal protagoniza quase tudo aqui e sustenta os dramas com primor.
O esporte é a culminância do desejo, da frustração, do ímpeto humano. Tudo que não se dá conta na vida pessoal (as faltas e os excessos) são articulados na linguagem do tênis: na força que se rebate a bola, nos grunhidos de cansaço, na posição em que ocupa na quadra. O tênis é uma dança de pares rivais.
Destaque para a câmera subjetiva, que assumia os personagens no dinamismo da partida de tênis. As bolas em direção à câmera adicionaram um nível de realismo muito impressionante.
Minha crítica maior fica na parte do homoerotismo, parece que o filme não decidiu bem a direção que iria levar a tensão entre o Patrick e o Art.
É preciso selecionar entre texto ou subtexto, o filme escolheu (corajosamente) montar uma cena erótica entre os dois, no início, para depois retrai-los de um jeito totalmente anticlimático. A cena que eles se reencontram na sauna poderia ser muito mais do que foi.
Na tentativa recorrente dos anos 90 e 2000 de emplacar a protagonista feminina de ação perfeita (Aeon Flux, Ultravioleta, Bayonetta, Resident Evil, etc), Barb Wire foi a grande mãe (ao lado da Tank Girl, discutivelmente).
Ainda que feita para o olhar masculino, Barb Wire foi ganhando novas significações com o passar dos anos. De uma sensualidade caricata que transmite poder, da silhueta perfeita intacta na distopia. É quase um paralelo poético com a carreira da atriz Pamela Anderson, que hoje em dia atrai simpatia pela postura bem resolvida para com as polêmicas de sua vida e das suas personagens.
Eu, como fã do gênero, aprecio Barb Wire pelo o que ele é: um trash divertido, que ajudou a transformar Pamela Anderson em uma potência midiática.
Um filme em que a premissa principal gira em torno do descobrimento sexual de uma mulher com o cérebro infantil é, de fato, controversa. Pode-se argumentar que, dentro do próprio material escrito, o diretor justifica um desenvolvimento excessivo desse cérebro. Eu já acredito que não há pretensão moral ao retratar os personagens dessa forma.
Por meio dessas reflexões, compreendo as pobres criaturas do título não apenas como as quimeras deformadas e vítimas do Dr. God. As pobres criaturas são os dominados pela ignorância, é o intelectualismo (que vive apenas como discurso) acima da pobreza de Alexandria. É a obsessão cientifíca que não se deixa fruir a vida e as emoções. É a fixação sexual que termina em frustração, por aí vai..
Todas essas criaturas não se deixam observar Bella como o que ela é: uma esponja do mundo, inocente e incapaz de exercer distinção.
É uma cena de crime muito simplória que seria solucionada facilmente na perícia policial. Para uma melhor imersão é necessário ignorar a parte forense e apreciar a discussão filosófica (que muito me encanta): tratando-se de justiça, não há verdade, há, sim, narrativas dominantes.
E, dito isso, entre Sandra e Samuel, Sandra se mostra uma exímia narradora, no inglês e até no francês arranhado. Tudo que Samuel deixou no pós-morte foi um quebra-cabeças nebuloso e conspiratório.
Bayonetta já está na categoria de ícone da cultura pop, a personagem por si só é um combinado muito bem sucedido de referências inusitadas. Uma espécie de "Barb Wire" ocultista, que protagoniza uma versão feminina e sexy da aventura de Dante em "Devil May Cry". O corpo de supermodelo, a atitude performática e os óculos de grau desenham a excêntrica (e grandiosa) Bayonetta. Nesse sentido, tudo que é derivado desse universo já me ganha gratuitamente.
O anime me surpreendeu em certos aspectos, algumas liberdades criativas frente ao material original me agradaram mais aqui do que no jogo. Por exemplo: o prólogo na catedral com o piano de fundo, uma sacada belíssima.
Fiquei com medo da animação ser muito estática e truncada, mas as cenas tiveram bom dinamismo. Narrativamente, é caótico (tal como o jogo), entretanto, aqui no anime o tempo curto da obra prejudica ainda mais, quem assistir esse material sem contato prévio com Bayonetta ficará confuso.
O saldo é positivo, mas com certeza deixou vontade de assistir uma produção melhor amarrada, mais longa e narrativamente controlada do universo de Bayonetta. Creio que isso ainda é possível, considerando a abrangência da franquia.
A mise-en-scène mais potente do cinema. Cada micro-expressão da personagem Erika é um mergulho em sua complexidade psicossexual. Esse filme merece ser estudado com uma lupa.
Quando o rosto da protagonista, de sofrimento fatalista, não está em foco, o que vemos é o corpo masculino de Walter invadindo Erika, ocupando o seu íntimo mais reprimido e dolorido. Esta cena, que poderia ser passional, confunde-se facilmente com o cenário de um ataque, agressão. A mesma excitação voyeur de Erika, que a faz urinar no cinema drive-in, repete-se na crueldade concretizada contra sua aluna de piano.
Não há prazer sem dor aqui, Erika é tão acostumada a se punir, que causar dor também lhe traz familiaridade, prazer.
Os tons sóbrios e modestos das primeiras cenas encontram, gradativamente, manchas de sangue e sujeira. A força erudita da música clássica transforma-se em horror materializado, o Haneke, acima de tudo, soube como pintar essa tela.
O que me impressionou mais em "Barbie" foi toda a pesquisa e referência que a Greta Gerwig investiu para criar a "artificialidade programada" do Barbieland, é muito divertido ver elementos da lógica dos brinquedos serem traduzidos em um pseudo realismo. As referências ao cinema antigo são várias e evidenciam a potência da diretora. E o figurino é minha parte preferida, destaque para a colaboração frequente com a Chanel.
No roteiro, o filme acabou caindo em alguns maniqueísmos da tal "guerra dos sexos", mas, ainda assim, a Barbie aqui é existencial, e, de certa forma, aberta a filtrar a dualidade de gênero que o filme traz. Aliás, os roteiristas tinham uma ótima tela em branco: imaginar que tipo de existencialidades teria uma boneca tão esteriotipada.
A presença da Mattel parece uma constante "mea-culpa" mascarada de autocrítica, não sei se foi de bom gosto. Mas certamente é engraçado, a Gerwig soube tirar sarro dessa situação com maestria.
É um retrato bem exagerado da insalubridade e da ignorância medieval, absolutamente todos os personagens caem no vale da estranheza. Por mais que a proposta seja chocar e causar desconforto, acredito que o design dos personagens poderia ter sido mais suavizado, é quase um desafio chegar no final do filme.
Não fui fisgado mas entendi o motivo disso aqui existir, só faltou cuidado na direção de arte, um roteiro menos escrachado ia bem também.
É daqueles filmes que sabem onde tem que ir com o (pouco) tempo que tem. Dá para sentir o roteiro tentando estabelecer toda hora algum elemento do universo Mario, mesmo que sem o desenvolvimento que merece. Ainda assim, o volume de referências é muito impressionante, inunda cada canto da tela a todo segundo. Uma carta de amor da Nintendo para a Nintendo.
Achei que haveriam comentários, até onde me lembro esse filme marcou muitas infâncias. Claro que a animação não se segura até hoje, mas até que é uma aventura bacana. Tem voz da Jamie Lee Curtis e música do Tony Bennett, vale a pena relembrar.
Assisti a pré-estreia na UFES, filme ótimo e fiel ao tom da obra de Hilda Hilst. Unicórnio é repleto de alegorias utilizadas para tratar aspectos acerca da psique da personagem Maria, que se mostra bem construída e interpretada, muitas de suas ações partem de situações sugestivas e imaginativas, abrindo os horizontes do filme para a reflexão e pensamento filosófico.
Os planos abertos (no campo) acompanhados da trilha sonora fantasiosa criam um ambiente vasto e fértil, e formam um contraste com a sobriedade da sala branca e a figura do unicórnio.
Na visão semântica, o colorido representa as construções criativas da mente de Maria, e os tons brancos (da sala, unicórnio e rato) sugerem a quebra e a fuga dessa ludicidade, ou seja, uma conexão mais palpável com o real.
A relação da mãe (Patrícia Pillar) com a filha é outro ponto alto, há traços de identificação e ao mesmo tempo, inveja, entre as duas. E a figura masculina aparece no filme como um aspecto de perturbação e indagação, na figura de Lee Taylor ou do pai de Maria, que despertam reações e questionamentos inconvencionais na protagonista.
A resolução do envenenamento é uma resposta lúdica de Maria aos acontecimentos incomuns dentro da sua fantasia. A aparição do unicórnio e do outro homem lhe faz questionar a união com sua mãe, ou seja, faz questionar si mesma, pois a mãe se tratava da projeção de sua própria personalidade, como é revelado no desfecho.
Filme incrível, os tons serenos e pouco saturados marcam uma abordagem nova e refrescante para a filmografia da Sofia Coppola. A sutileza do suspense e a câmera estática nos colocam em frames hipnotizantes, que trabalham a favor dos impecáveis figurino e cenografia.
Em termos narrativos, O Estranho que Nós Amamos é comedido, suas cenas se desenrolam de modo discreto e aguçam o sentido do espectador de forma gradativa. O clímax é morno mas prepara o território para a atmosfera dramática do último ato.
A forma que John se adapta as características de cada uma das garotas é certeira, Colin Farrell cria com êxito uma figura masculina que representa, acima de tudo, a liberdade que foi privada das personagens.
O desfecho é quase lúdico, o envenenamento foi arquitetado como um "acidente trágico", para reduzir a culpa cristã. O olhar frio de Martha ao presenciar a morte de John foi primoroso, simbolizou toda a ambiguidade da personagem de ter criado apreço pelo estranho mas prezar pela segurança e espiritualidade da casa.
Nicole Kidman está em um dos seus melhores momentos, me marcou.
Assisti na mostra da UFES e foi uma experiência agradável. Bergman aposta num road movie situado em um curto período de tempo (com retomadas temporais e imagens provindas de sonhos).
O filme funciona perfeitamente como estudo de personagem, Isak se vê encarando aspectos nostálgicos da sua vida, atribuindo significado aos acontecimentos marcantes. Estes que são retomados na mente do personagem de forma criativa e pontual e dizem muito a respeito da forma que o inconsciente processa questões passadas. Marianne opera como uma eficaz contrapartida ao comportamento habitual de Isak, e carrega um arco dramático independente, que convence, mas que se desenrola de forma contida.
Dito isso, apesar da simplicidade da forma, "Morangos Silvestres" é bem-sucedido em atribuir caráter aos seus personagens, que nos ajudam a pensar sobre questões palpáveis. Nunca é tarde para reorganizar a mente, rever atitudes e lidar com a vida por um viés mais receptivo, e tornar marcante momentos simples, livrando-se de arrependimentos.
Interessantíssimo, os trabalhos de figurinos e reconstrucão de época são sensacionais e imersivos. Porém, o grande atrativo está na Glenn Close e Janet McTeer, é incrível como consegui desvincular completamente a fisionomia das atrizes com a de seus personagens. Que entrega, que comprometimento, é tudo físico e real.
Aaron Taylor-Johson e Mia Wasikowska também estão competentes, retratando o típico casal de marido manipulador e parceira vulnerável. O que ajuda a pontuar algo bem crucial no decorrer do filme: as diferenças do tratamento social que cada um dos gêneros recebem.
Temos aqui um filme dramático, esperançoso e puro. Albert Nobbs foi uma figura nobre, e assisti-lo foi uma experiência gratificante e enriquecedora. Levarei para a vida.
Documentário de respeito, temos aqui a própria Courtney dissecando sua vida pessoal e profissional. Controversa e feroz, mas indiscutivelmente, uma mulher forte, emblemática e representativa.
Interessante ver todo o background musical dos anos 90 e a forma com que Love teve sua ligação com tal. Mulher, tentando a chance na indústria, mas com um diferencial: não se importar em ser a "vadia". Amou, amou, em seu próprio amor caiu, e em seu próprio amor ascendeu, impossível não se emocionar nos momentos dela com Kurt e Frances. Enfim, ficam aqui minhas impressões sobre o documentário, e minha homenagem a essa mulher gigantesca.
É incontestável o fato de que o "ponto alto" da carreira do Allen já se foi, a época em que protagonizava seus filmes e investia num humor áspero, sínico e existencial. Agora optou por ficar mais atrás das camêras, que na minha opinião, é mais do que satisfatório.
Falar que "Magia ao Luar" não tem profundidade não condiz pra mim, Woody traz a velha fórmula de promover uma reflexão pertinente de forma sutil e doce, que podemos constatar na estética delicada e colorida do filme, no sorriso e no otimismo contagioso de Emma Stone. O filme é simples, não é grandioso, mas tem um charme próprio, cativante, que te faz acreditar, amar e sentir a obra. Em plenos 79 anos de vida, Woody Allen traz um material espirituoso e especial. Que venham mais filmes do mestre!
Péssimo, comecei achando que finalmente a Coreia do Norte e Kim Jong-Un seriam retratados com sensatez, mas só consegui ver diversos estereótipos e ideias preestabelecidas sobre tal país, extremamente ofensivo. Dou uma estrela pelo promissor primeiro ato, que critica a superficial e rasa publicidade estadunidense, é uma pena o filme não ter prosseguido com a mesma coesão. Sobre a polêmica gerada, é compreensível que Jong-Un tenha reagido contra isso, por se tratar de uma comédia completamente apelativa e ofensiva ao mesmo, mas como sempre, ele foi tratado como o "malvadão" por tentar segurar o material.
Direção pouco ambiciosa, cenas de ação fracas e sem emoção, com nenhuma gota de sangue. Helena Bonham Carter protagonizou momentos interessantes mas, no geral, é bem desconexa da trama central. Mesmo se pendurando em clássicos do faroeste, o filme não conseguiu me agradar, foi difícil lutar contra o sono.
Só eu que achei que o filme poderia ter terminado exatamente na parte em que o Peeta parte pra cima da Katniss?
Seria um clímax perfeito, os dez minutos de "esclarecimento" que se sucederam quebraram qualquer curiosidade que eu poderia ter em assistir a segunda parte.
Não merece esse 2.1, é um filme mediano, que não sai da sua zona de conforto (talvez o seu maior erro). Mas dá pra soltar alguns sorrisinhos com o Kelly, personagem de Shia LaBeouf, que traz uma atuação bem divertida e condizente. Como "soft drama", é legal, como comédia já deixa a desejar um pouco.
Me surpreendi, não esperava muita coisa desse filme. É uma comédia romântica que foge do padrão, o elenco é lindo, e a história bem construida. Um ponto pra Ginnifer Goodwin (de Once Upon a Time) que se mostrou uma atriz muito carismática neste papel, roubou minha atenção.
Excelente filme, já começa trazendo uma bela cena, que nos introduz de forma selvagem aos apaixonantes e fatais protagonistas que ao desenrolar do filme nos cativam de forma inexplicável. A estética do filme é maravilhosa, nos levando a uma insana viagem. Roteiro muito bem aproveitado!
Depois de assisti-lo tomei uma grande vontade de me aprofundar mais no cinema iraniano, achei a obra de uma imensa sensibilidade, mostrando de forma esclarecedora os costumes e valores iranianos. Nos faz sentir e vivenciar a realidade de libertação e descoberta das gêmeas. Muito bom.
Rivais
4.0 101Seria um alerta de tendência para o cinema essa mistura de esporte com homoerotismo, vide a estreia colada de "Rivais" e "Love Lies Bleeding"? Queria assistir (e escrever sobre) os dois juntos, mas "Rivais" foi melhor circulado na minha região.
O filme é episódico (no melhor sentido possível): uma partida de tênis em que os sets são costurados por flashbacks dos envolvidos, formando uma teia de conexões, amores frustrados e atração. O trio principal protagoniza quase tudo aqui e sustenta os dramas com primor.
O esporte é a culminância do desejo, da frustração, do ímpeto humano. Tudo que não se dá conta na vida pessoal (as faltas e os excessos) são articulados na linguagem do tênis: na força que se rebate a bola, nos grunhidos de cansaço, na posição em que ocupa na quadra. O tênis é uma dança de pares rivais.
Destaque para a câmera subjetiva, que assumia os personagens no dinamismo da partida de tênis. As bolas em direção à câmera adicionaram um nível de realismo muito impressionante.
Minha crítica maior fica na parte do homoerotismo, parece que o filme não decidiu bem a direção que iria levar a tensão entre o Patrick e o Art.
É preciso selecionar entre texto ou subtexto, o filme escolheu (corajosamente) montar uma cena erótica entre os dois, no início, para depois retrai-los de um jeito totalmente anticlimático. A cena que eles se reencontram na sauna poderia ser muito mais do que foi.
Barb Wire: A Justiceira
2.1 26Na tentativa recorrente dos anos 90 e 2000 de emplacar a protagonista feminina de ação perfeita (Aeon Flux, Ultravioleta, Bayonetta, Resident Evil, etc), Barb Wire foi a grande mãe (ao lado da Tank Girl, discutivelmente).
Ainda que feita para o olhar masculino, Barb Wire foi ganhando novas significações com o passar dos anos. De uma sensualidade caricata que transmite poder, da silhueta perfeita intacta na distopia. É quase um paralelo poético com a carreira da atriz Pamela Anderson, que hoje em dia atrai simpatia pela postura bem resolvida para com as polêmicas de sua vida e das suas personagens.
Eu, como fã do gênero, aprecio Barb Wire pelo o que ele é: um trash divertido, que ajudou a transformar Pamela Anderson em uma potência midiática.
Pobres Criaturas
4.1 1,1K Assista AgoraUm filme em que a premissa principal gira em torno do descobrimento sexual de uma mulher com o cérebro infantil é, de fato, controversa. Pode-se argumentar que, dentro do próprio material escrito, o diretor justifica um desenvolvimento excessivo desse cérebro. Eu já acredito que não há pretensão moral ao retratar os personagens dessa forma.
Por meio dessas reflexões, compreendo as pobres criaturas do título não apenas como as quimeras deformadas e vítimas do Dr. God. As pobres criaturas são os dominados pela ignorância, é o intelectualismo (que vive apenas como discurso) acima da pobreza de Alexandria. É a obsessão cientifíca que não se deixa fruir a vida e as emoções. É a fixação sexual que termina em frustração, por aí vai..
Todas essas criaturas não se deixam observar Bella como o que ela é: uma esponja do mundo, inocente e incapaz de exercer distinção.
Exposta aos prazeres do outro, Bella se tornou uma figura próxima daquilo que mais a aprisionou: uma doutora sem escrúpulos.
Anatomia de uma Queda
4.0 799 Assista AgoraÉ uma cena de crime muito simplória que seria solucionada facilmente na perícia policial. Para uma melhor imersão é necessário ignorar a parte forense e apreciar a discussão filosófica (que muito me encanta): tratando-se de justiça, não há verdade, há, sim, narrativas dominantes.
E, dito isso, entre Sandra e Samuel, Sandra se mostra uma exímia narradora, no inglês e até no francês arranhado. Tudo que Samuel deixou no pós-morte foi um quebra-cabeças nebuloso e conspiratório.
Bayonetta: Destino Sangrento
3.2 56 Assista AgoraBayonetta já está na categoria de ícone da cultura pop, a personagem por si só é um combinado muito bem sucedido de referências inusitadas. Uma espécie de "Barb Wire" ocultista, que protagoniza uma versão feminina e sexy da aventura de Dante em "Devil May Cry". O corpo de supermodelo, a atitude performática e os óculos de grau desenham a excêntrica (e grandiosa) Bayonetta. Nesse sentido, tudo que é derivado desse universo já me ganha gratuitamente.
O anime me surpreendeu em certos aspectos, algumas liberdades criativas frente ao material original me agradaram mais aqui do que no jogo. Por exemplo: o prólogo na catedral com o piano de fundo, uma sacada belíssima.
Fiquei com medo da animação ser muito estática e truncada, mas as cenas tiveram bom dinamismo. Narrativamente, é caótico (tal como o jogo), entretanto, aqui no anime o tempo curto da obra prejudica ainda mais, quem assistir esse material sem contato prévio com Bayonetta ficará confuso.
O saldo é positivo, mas com certeza deixou vontade de assistir uma produção melhor amarrada, mais longa e narrativamente controlada do universo de Bayonetta. Creio que isso ainda é possível, considerando a abrangência da franquia.
A Professora de Piano
4.0 685 Assista AgoraA mise-en-scène mais potente do cinema. Cada micro-expressão da personagem Erika é um mergulho em sua complexidade psicossexual. Esse filme merece ser estudado com uma lupa.
Quando o rosto da protagonista, de sofrimento fatalista, não está em foco, o que vemos é o corpo masculino de Walter invadindo Erika, ocupando o seu íntimo mais reprimido e dolorido. Esta cena, que poderia ser passional, confunde-se facilmente com o cenário de um ataque, agressão. A mesma excitação voyeur de Erika, que a faz urinar no cinema drive-in, repete-se na crueldade concretizada contra sua aluna de piano.
Os tons sóbrios e modestos das primeiras cenas encontram, gradativamente, manchas de sangue e sujeira. A força erudita da música clássica transforma-se em horror materializado, o Haneke, acima de tudo, soube como pintar essa tela.
Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraO que me impressionou mais em "Barbie" foi toda a pesquisa e referência que a Greta Gerwig investiu para criar a "artificialidade programada" do Barbieland, é muito divertido ver elementos da lógica dos brinquedos serem traduzidos em um pseudo realismo. As referências ao cinema antigo são várias e evidenciam a potência da diretora. E o figurino é minha parte preferida, destaque para a colaboração frequente com a Chanel.
No roteiro, o filme acabou caindo em alguns maniqueísmos da tal "guerra dos sexos", mas, ainda assim, a Barbie aqui é existencial, e, de certa forma, aberta a filtrar a dualidade de gênero que o filme traz. Aliás, os roteiristas tinham uma ótima tela em branco: imaginar que tipo de existencialidades teria uma boneca tão esteriotipada.
A presença da Mattel parece uma constante "mea-culpa" mascarada de autocrítica, não sei se foi de bom gosto. Mas certamente é engraçado, a Gerwig soube tirar sarro dessa situação com maestria.
Uma Fazenda Maluca
2.2 41É um retrato bem exagerado da insalubridade e da ignorância medieval, absolutamente todos os personagens caem no vale da estranheza. Por mais que a proposta seja chocar e causar desconforto, acredito que o design dos personagens poderia ter sido mais suavizado, é quase um desafio chegar no final do filme.
Não fui fisgado mas entendi o motivo disso aqui existir, só faltou cuidado na direção de arte, um roteiro menos escrachado ia bem também.
Super Mario Bros.: O Filme
3.9 781É daqueles filmes que sabem onde tem que ir com o (pouco) tempo que tem. Dá para sentir o roteiro tentando estabelecer toda hora algum elemento do universo Mario, mesmo que sem o desenvolvimento que merece. Ainda assim, o volume de referências é muito impressionante, inunda cada canto da tela a todo segundo. Uma carta de amor da Nintendo para a Nintendo.
Obviamente senti falta do Yoshi, Toadette, Daisy e Koopalings.
Rudolph, A Rena do Nariz Vermelho - Na Ilha dos …
2.8 1Achei que haveriam comentários, até onde me lembro esse filme marcou muitas infâncias. Claro que a animação não se segura até hoje, mas até que é uma aventura bacana. Tem voz da Jamie Lee Curtis e música do Tony Bennett, vale a pena relembrar.
Unicórnio
3.0 50Assisti a pré-estreia na UFES, filme ótimo e fiel ao tom da obra de Hilda Hilst. Unicórnio é repleto de alegorias utilizadas para tratar aspectos acerca da psique da personagem Maria, que se mostra bem construída e interpretada, muitas de suas ações partem de situações sugestivas e imaginativas, abrindo os horizontes do filme para a reflexão e pensamento filosófico.
Os planos abertos (no campo) acompanhados da trilha sonora fantasiosa criam um ambiente vasto e fértil, e formam um contraste com a sobriedade da sala branca e a figura do unicórnio.
Na visão semântica, o colorido representa as construções criativas da mente de Maria, e os tons brancos (da sala, unicórnio e rato) sugerem a quebra e a fuga dessa ludicidade, ou seja, uma conexão mais palpável com o real.
A relação da mãe (Patrícia Pillar) com a filha é outro ponto alto, há traços de identificação e ao mesmo tempo, inveja, entre as duas. E a figura masculina aparece no filme como um aspecto de perturbação e indagação, na figura de Lee Taylor ou do pai de Maria, que despertam reações e questionamentos inconvencionais na protagonista.
A resolução do envenenamento é uma resposta lúdica de Maria aos acontecimentos incomuns dentro da sua fantasia. A aparição do unicórnio e do outro homem lhe faz questionar a união com sua mãe, ou seja, faz questionar si mesma, pois a mãe se tratava da projeção de sua própria personalidade, como é revelado no desfecho.
O Estranho que Nós Amamos
3.2 615 Assista AgoraFilme incrível, os tons serenos e pouco saturados marcam uma abordagem nova e refrescante para a filmografia da Sofia Coppola. A sutileza do suspense e a câmera estática nos colocam em frames hipnotizantes, que trabalham a favor dos impecáveis figurino e cenografia.
Em termos narrativos, O Estranho que Nós Amamos é comedido, suas cenas se desenrolam de modo discreto e aguçam o sentido do espectador de forma gradativa. O clímax é morno mas prepara o território para a atmosfera dramática do último ato.
A forma que John se adapta as características de cada uma das garotas é certeira, Colin Farrell cria com êxito uma figura masculina que representa, acima de tudo, a liberdade que foi privada das personagens.
O desfecho é quase lúdico, o envenenamento foi arquitetado como um "acidente trágico", para reduzir a culpa cristã. O olhar frio de Martha ao presenciar a morte de John foi primoroso, simbolizou toda a ambiguidade da personagem de ter criado apreço pelo estranho mas prezar pela segurança e espiritualidade da casa.
Morangos Silvestres
4.4 656Assisti na mostra da UFES e foi uma experiência agradável. Bergman aposta num road movie situado em um curto período de tempo (com retomadas temporais e imagens provindas de sonhos).
O filme funciona perfeitamente como estudo de personagem, Isak se vê encarando aspectos nostálgicos da sua vida, atribuindo significado aos acontecimentos marcantes. Estes que são retomados na mente do personagem de forma criativa e pontual e dizem muito a respeito da forma que o inconsciente processa questões passadas. Marianne opera como uma eficaz contrapartida ao comportamento habitual de Isak, e carrega um arco dramático independente, que convence, mas que se desenrola de forma contida.
Dito isso, apesar da simplicidade da forma, "Morangos Silvestres" é bem-sucedido em atribuir caráter aos seus personagens, que nos ajudam a pensar sobre questões palpáveis. Nunca é tarde para reorganizar a mente, rever atitudes e lidar com a vida por um viés mais receptivo, e tornar marcante momentos simples, livrando-se de arrependimentos.
Albert Nobbs
3.6 576 Assista AgoraInteressantíssimo, os trabalhos de figurinos e reconstrucão de época são sensacionais e imersivos. Porém, o grande atrativo está na Glenn Close e Janet McTeer, é incrível como consegui desvincular completamente a fisionomia das atrizes com a de seus personagens. Que entrega, que comprometimento, é tudo físico e real.
Aaron Taylor-Johson e Mia Wasikowska também estão competentes, retratando o típico casal de marido manipulador e parceira vulnerável. O que ajuda a pontuar algo bem crucial no decorrer do filme: as diferenças do tratamento social que cada um dos gêneros recebem.
Temos aqui um filme dramático, esperançoso e puro. Albert Nobbs foi uma figura nobre, e assisti-lo foi uma experiência gratificante e enriquecedora. Levarei para a vida.
Behind the Music: Courtney Love
4.5 11Documentário de respeito, temos aqui a própria Courtney dissecando sua vida pessoal e profissional. Controversa e feroz, mas indiscutivelmente, uma mulher forte, emblemática e representativa.
Interessante ver todo o background musical dos anos 90 e a forma com que Love teve sua ligação com tal. Mulher, tentando a chance na indústria, mas com um diferencial: não se importar em ser a "vadia". Amou, amou, em seu próprio amor caiu, e em seu próprio amor ascendeu, impossível não se emocionar nos momentos dela com Kurt e Frances. Enfim, ficam aqui minhas impressões sobre o documentário, e minha homenagem a essa mulher gigantesca.
Magia ao Luar
3.4 569 Assista AgoraÉ incontestável o fato de que o "ponto alto" da carreira do Allen já se foi, a época em que protagonizava seus filmes e investia num humor áspero, sínico e existencial. Agora optou por ficar mais atrás das camêras, que na minha opinião, é mais do que satisfatório.
Falar que "Magia ao Luar" não tem profundidade não condiz pra mim, Woody traz a velha fórmula de promover uma reflexão pertinente de forma sutil e doce, que podemos constatar na estética delicada e colorida do filme, no sorriso e no otimismo contagioso de Emma Stone. O filme é simples, não é grandioso, mas tem um charme próprio, cativante, que te faz acreditar, amar e sentir a obra. Em plenos 79 anos de vida, Woody Allen traz um material espirituoso e especial. Que venham mais filmes do mestre!
A Entrevista
3.1 1,0K Assista AgoraPéssimo, comecei achando que finalmente a Coreia do Norte e Kim Jong-Un seriam retratados com sensatez, mas só consegui ver diversos estereótipos e ideias preestabelecidas sobre tal país, extremamente ofensivo. Dou uma estrela pelo promissor primeiro ato, que critica a superficial e rasa publicidade estadunidense, é uma pena o filme não ter prosseguido com a mesma coesão.
Sobre a polêmica gerada, é compreensível que Jong-Un tenha reagido contra isso, por se tratar de uma comédia completamente apelativa e ofensiva ao mesmo, mas como sempre, ele foi tratado como o "malvadão" por tentar segurar o material.
O Cavaleiro Solitário
3.2 1,4K Assista AgoraDireção pouco ambiciosa, cenas de ação fracas e sem emoção, com nenhuma gota de sangue. Helena Bonham Carter protagonizou momentos interessantes mas, no geral, é bem desconexa da trama central. Mesmo se pendurando em clássicos do faroeste, o filme não conseguiu me agradar, foi difícil lutar contra o sono.
Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1
3.8 2,4K Assista AgoraSó eu que achei que o filme poderia ter terminado exatamente na parte em que o Peeta parte pra cima da Katniss?
O Nerd Vai à Guerra
2.4 16 Assista AgoraNão merece esse 2.1, é um filme mediano, que não sai da sua zona de conforto (talvez o seu maior erro). Mas dá pra soltar alguns sorrisinhos com o Kelly, personagem de Shia LaBeouf, que traz uma atuação bem divertida e condizente. Como "soft drama", é legal, como comédia já deixa a desejar um pouco.
Ele Não Está Tão a Fim de Você
3.3 1,6K Assista AgoraMe surpreendi, não esperava muita coisa desse filme. É uma comédia romântica que foge do padrão, o elenco é lindo, e a história bem construida. Um ponto pra Ginnifer Goodwin (de Once Upon a Time) que se mostrou uma atriz muito carismática neste papel, roubou minha atenção.
Assassinos por Natureza
4.0 1,1K Assista AgoraExcelente filme, já começa trazendo uma bela cena, que nos introduz de forma selvagem aos apaixonantes e fatais protagonistas que ao desenrolar do filme nos cativam de forma inexplicável. A estética do filme é maravilhosa, nos levando a uma insana viagem. Roteiro muito bem aproveitado!
A Maçã
3.9 101Depois de assisti-lo tomei uma grande vontade de me aprofundar mais no cinema iraniano, achei a obra de uma imensa sensibilidade, mostrando de forma esclarecedora os costumes e valores iranianos. Nos faz sentir e vivenciar a realidade de libertação e descoberta das gêmeas. Muito bom.
Possuídos
3.0 220Sem palavras pra dizer o quanto odiei este filme...