Apesar da atmosfera erótica e misteriosa que prende na primeira parte (e a atuação maravilhosa da Charlotte Rampling), fiquei com a sensação de ser subestimado pelo filme. Ozon dá todas as chaves de leitura possíveis na virada final, cortando o trabalho do espectador, justamente em uma história que tem como tema central o poder da imaginação. Uma pena.
Sobre a mecanização da vida, do cotidiano, do trabalho, da arte e, sobretudo, da mulher. Godard compara o cinema a uma fábrica e a fábrica à casa da mulher - para ela, apenas casa, nunca um lar para onde ela retorna do trabalho -, sempre invadida pelo ruído tanto da paisagem quanto das máquinas, como se fossem a mesma coisa, talvez.
Fazer um terror todo à luz do dia não é coisa pouca... mas confesso que não me pegou tanto quanto Hereditário. Ainda assim, bastante bom. Ps.: gente branca é muito doida, não é mesmo?
Confesso que o filme só me interessou nos seus aspectos técnicos... realmente tem sequências de tirar o fôlego, mas a história em si é bastante confusa e não me pegou. Talvez numa segunda chance eu o aprecie mais.
A montagem com excertos de inúmeros filmes vistos pelo diretor reverbera seus pensamentos, angústias, enfim, sua vida. Bastante autobiográfico, mas indo além de puro egoísmo, Beauvais se apropria dos filmes que vê como se fossem espelhos quebrados, refletindo e recriando uma memória distorcida de si. Ótimo estudo sobre a experiência com a arte.
O terror aqui é como uma esperança: é nele que Thomasin vai ascender e se libertar. E que bom pra ela, viu? Às vezes o pacto com o diabo não é uma tentação, mas é a verdadeira solução! Feliz por ela.
Querelle tem muito sobre o que se falar. Os cenários artificiais, a iluminação quente, os falos... tudo neste filme grita desejo, fantasia, encenação. Talvez seja o primeiro filme verdadeiramente homoerótico que vejo - confesso que vi muito poucos. Interessa aqui a masculinidade tóxica que não separa ternura e violência, fragilidade e narcisismo. Mas tem muita poesia. Fiquei morrendo de vontade de ler o romance de Jean Genet, no qual o filme se baseia.
Você certamente conhece a música "je t'aime moi non plus", cujo compositor é também diretor deste filme. Assim como a canção, o filme é puro desejo, mas completamente sem glamour, sem romantização, o desejo aqui é mesmo sujo, antiético, imoral. Algumas cenas envelheceram mal e são passíveis de inúmeras problematizações. Ainda assim, é um filme muito interessante, mais ainda para sua época.
Não me prendeu nem um pouco. O filme traz uma problemática importante sobre a pedofilia, porém, apesar da crueza em que ambienta o caso e da crueldade da situação, tenta jogar com o espectador buscando criar uma empatia torta pelo abusador. Proposta ousada e perigosa, mas não faz isso de maneira consistente. Parece tentar forjar um clima à la Michael Haneke, mas, pelo menos pra mim, falhou.
Revisitando este aqui na pandemia, depois de muitos anos... Bergman é simples e visionário, da mesma forma como o ator de teatro mambembe deste filme. Situado no "apocalipse da Idade Média", mostra um jogo de xadrez com a Morte, que pode significar o momento de crise/crítica que são as transições entre as diversas "eras". É assustador reconhecer algo de contemporâneo nesse filme e se enxergar no "umbral" dos tempos.
Não conhecia este gênero "giallo", mas achei uma delícia. A cena de abertura desse filme é maravilhosamente psicodélica, com uma trilha sonora perfeita, o que já te prende de imediato! Depois, tudo acontece muito rápido e, de fato, o roteiro é meio atropelado e cheio de clichês. Mas a fotografia e a montagem são bastante ousadas (a cena com os morcegos é perfeita!), então, acabou sendo uma boa experiência!
A sacada aqui é a manipulação do relato em 1ª pessoa de Jack, capaz de surpreender até mesmo o imortal poeta Virgílio, ou melhor: nos faz crer que espanta o poeta dos poetas. Há também um jogo perigoso com a questão da autoria: Lars, persona non grata para muitos, deixa-se entrever em cada plano, e uma possível simpatia que sentimos por ele nos perturba e nos leva para o inferno em sua companhia. Polêmico do jeitinho que eu gosto.
Este é bem mais fraco que seu antecessor, mas ainda assim consegue prender. O problema pra mim é que aqui a ação prevalece em vez da tensão do primeiro. Também, a relação entre Lecter e Starling quase fica em segundo plano, privilegiando a entrada de outros personagens na trama que, a meu ver, são pobremente desenvolvidos.
Acho que vi este aqui pela primeira vez quando tinha uns 13 anos (completamente descompensado das ideias) e fiquei bastante impressionado. Realmente, é um filme incrível. Lecter é um personagem bastante intrigante (Hopkins é um monstro da atuação) e a cumplicidade perversa que ele tem com a personagem da Jodie Foster é muito bem construída. A trilha também é de tirar o fôlego. Foi bom revisitar!
Difícil engolir este aqui... Uma correria pra retratar um circo que percorre várias gerações com a ambição de um design de produção grandioso que não dá conta do recado. Único destaque possível vai pra performance do Jesuíta Barbosa, que é um show à parte.
Além do roteiro de tirar o fôlego, o filme conta com uma trilha sonora incrível e Alain Delon entrega uma atuação impecável como Tom Ripley. O filme também traz umas sutilezas que só o enriquecem, como a cena extremamente simbólica de Tom no mercado de peixes e a tensão homoerótica entre ele e Philippe. Ps: que homens, viu?! Haha!
Hoje seria a Parada do Orgulho LGBTQ+. Devido à pandemia, não podemos ir para a rua. Aproveitei pra aprender mais sobre por que podemos ter esse evento tão grandioso no mês de junho. Este documentário é uma aula para sabermos por que podemos nos manifestar e festejar nossas existências. E saber que isso é possível pela atuação de uma mulher trans negra é crucial para o momento que estamos vivendo. Assistam!
Um ensaio aberto que, abordando os limites da linguagem, se coloca nessa fronteira. Trata-se justamente desse recorte: 2 ou 3 coisas (talvez menos, talvez mais) que podemos conhecer de um mundo sufocado pelo consumo. Se a linguagem é a casa habitada pela humanidade, como diz Juliette, então essa casa só se realiza completa, habitável e confortável dentro da ilusão do capitalismo. Filme maravilhoso!
Sempre relutei a ver O Poderoso Chefão por preguiça. Nunca me interessei por filmes de gangsters, sem falar da longa duração deste. Mas preciso reconhecer que o filme é brilhante. As horas correm e a narrativa, embora bastante tradicional, é extremamente cativante. Uma aula sobre o que é um bom filme Hollywoodiano.
Tarkovsky é um poeta. Os planos longos, os sons abafados, os diálogos cheios de dúvidas e sobretudo os silêncios condensam tantas possibilidades, que parece que estamos diante de um poema, escrito com palavras e espaços entre palavras muito precisos. Os efeitos especiais desse “sci-fi” ficam por conta da imaginação do espectador. Muita coisa é apenas sugerida. Mas definitivamente tudo nesse filme é muito humano.
Aqui todos são estrangeiros de território e de alma. O filme joga com a sensação de não pertencimento dos personagens em diversos âmbitos da vida. O pano de fundo do governo Collor projeta a esperança pouca nas terras estrangeiras, esperança que vai se esvaziando, esgotando, mas que ingenuamente ainda resta (até hoje). O impacto da fotografia em preto e branco, quase expressionista, é forte. Belíssimo!
O roteiro e a direção da Fien trabalham muito bem as relações problemáticas e por vezes criminosas entre adolescentes e seus responsáveis. A sacada é o contraponto entre uma suposta adolescência inconsequente e adultos de classe média com discursos de responsabilidade e respeito, mas que ou não têm a menor noção do que estão fazendo ou são verdadeiros monstros. A trilha sonora se encaixa perfeitamente!
O diálogo prende, e o recorte de uma conversa tomando a maior parte do filme é pretensiosa, mas funciona bem. Mas apesar de toda filosofia, André, para mim, é só um branco chato metido a oriental que vai dar um sermão de vida no convidado em um jantar caro em NY. Ainda assim, algo me diz que Malle e Gregory sabem disso muito bem, ao colocar Wally como contraponto. Falar mais que isso vai ser spoiler. rs
A burguesia se repete - e precisa se repetir - incansavelmente, do contrário, está totalmente perdida. Este filme tem tantas camadas que você quase se sente impotente diante dele. O que eu perdi? O que não entendi? Mas é isto mesmo? Diante do espelho da tela, nos sentimos como os personagens presos sem saber o porquê. E isso é aterrorizante! É esse desconforto que faz com que o filme seja tão genial.
Swimming Pool - À Beira da Piscina
3.6 88Apesar da atmosfera erótica e misteriosa que prende na primeira parte (e a atuação maravilhosa da Charlotte Rampling), fiquei com a sensação de ser subestimado pelo filme. Ozon dá todas as chaves de leitura possíveis na virada final, cortando o trabalho do espectador, justamente em uma história que tem como tema central o poder da imaginação. Uma pena.
Número Dois
3.6 7Sobre a mecanização da vida, do cotidiano, do trabalho, da arte e, sobretudo, da mulher. Godard compara o cinema a uma fábrica e a fábrica à casa da mulher - para ela, apenas casa, nunca um lar para onde ela retorna do trabalho -, sempre invadida pelo ruído tanto da paisagem quanto das máquinas, como se fossem a mesma coisa, talvez.
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraFazer um terror todo à luz do dia não é coisa pouca... mas confesso que não me pegou tanto quanto Hereditário. Ainda assim, bastante bom. Ps.: gente branca é muito doida, não é mesmo?
Filhos da Esperança
3.9 940 Assista AgoraConfesso que o filme só me interessou nos seus aspectos técnicos... realmente tem sequências de tirar o fôlego, mas a história em si é bastante confusa e não me pegou. Talvez numa segunda chance eu o aprecie mais.
Não Pense que eu vou Gritar
3.9 13A montagem com excertos de inúmeros filmes vistos pelo diretor reverbera seus pensamentos, angústias, enfim, sua vida. Bastante autobiográfico, mas indo além de puro egoísmo, Beauvais se apropria dos filmes que vê como se fossem espelhos quebrados, refletindo e recriando uma memória distorcida de si. Ótimo estudo sobre a experiência com a arte.
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraAssisti mais uma vez porque simplesmente AMO este filme.
O terror aqui é como uma esperança: é nele que Thomasin vai ascender e se libertar. E que bom pra ela, viu? Às vezes o pacto com o diabo não é uma tentação, mas é a verdadeira solução! Feliz por ela.
Querelle
3.6 128Querelle tem muito sobre o que se falar. Os cenários artificiais, a iluminação quente, os falos... tudo neste filme grita desejo, fantasia, encenação. Talvez seja o primeiro filme verdadeiramente homoerótico que vejo - confesso que vi muito poucos. Interessa aqui a masculinidade tóxica que não separa ternura e violência, fragilidade e narcisismo. Mas tem muita poesia. Fiquei morrendo de vontade de ler o romance de Jean Genet, no qual o filme se baseia.
Paixão Selvagem
3.3 52Você certamente conhece a música "je t'aime moi non plus", cujo compositor é também diretor deste filme. Assim como a canção, o filme é puro desejo, mas completamente sem glamour, sem romantização, o desejo aqui é mesmo sujo, antiético, imoral. Algumas cenas envelheceram mal e são passíveis de inúmeras problematizações. Ainda assim, é um filme muito interessante, mais ainda para sua época.
Michael
3.5 194Não me prendeu nem um pouco. O filme traz uma problemática importante sobre a pedofilia, porém, apesar da crueza em que ambienta o caso e da crueldade da situação, tenta jogar com o espectador buscando criar uma empatia torta pelo abusador. Proposta ousada e perigosa, mas não faz isso de maneira consistente. Parece tentar forjar um clima à la Michael Haneke, mas, pelo menos pra mim, falhou.
O Sétimo Selo
4.4 1,0KRevisitando este aqui na pandemia, depois de muitos anos... Bergman é simples e visionário, da mesma forma como o ator de teatro mambembe deste filme. Situado no "apocalipse da Idade Média", mostra um jogo de xadrez com a Morte, que pode significar o momento de crise/crítica que são as transições entre as diversas "eras". É assustador reconhecer algo de contemporâneo nesse filme e se enxergar no "umbral" dos tempos.
Uma Lagartixa num Corpo de Mulher
3.6 43Não conhecia este gênero "giallo", mas achei uma delícia. A cena de abertura desse filme é maravilhosamente psicodélica, com uma trilha sonora perfeita, o que já te prende de imediato! Depois, tudo acontece muito rápido e, de fato, o roteiro é meio atropelado e cheio de clichês. Mas a fotografia e a montagem são bastante ousadas (a cena com os morcegos é perfeita!), então, acabou sendo uma boa experiência!
A Casa Que Jack Construiu
3.5 788 Assista AgoraA sacada aqui é a manipulação do relato em 1ª pessoa de Jack, capaz de surpreender até mesmo o imortal poeta Virgílio, ou melhor: nos faz crer que espanta o poeta dos poetas. Há também um jogo perigoso com a questão da autoria: Lars, persona non grata para muitos, deixa-se entrever em cada plano, e uma possível simpatia que sentimos por ele nos perturba e nos leva para o inferno em sua companhia. Polêmico do jeitinho que eu gosto.
Hannibal
4.0 1,1K Assista AgoraEste é bem mais fraco que seu antecessor, mas ainda assim consegue prender. O problema pra mim é que aqui a ação prevalece em vez da tensão do primeiro. Também, a relação entre Lecter e Starling quase fica em segundo plano, privilegiando a entrada de outros personagens na trama que, a meu ver, são pobremente desenvolvidos.
O Silêncio dos Inocentes
4.4 2,8K Assista AgoraAcho que vi este aqui pela primeira vez quando tinha uns 13 anos (completamente descompensado das ideias) e fiquei bastante impressionado. Realmente, é um filme incrível. Lecter é um personagem bastante intrigante (Hopkins é um monstro da atuação) e a cumplicidade perversa que ele tem com a personagem da Jodie Foster é muito bem construída. A trilha também é de tirar o fôlego. Foi bom revisitar!
O Grande Circo Místico
2.2 139Difícil engolir este aqui... Uma correria pra retratar um circo que percorre várias gerações com a ambição de um design de produção grandioso que não dá conta do recado. Único destaque possível vai pra performance do Jesuíta Barbosa, que é um show à parte.
O Sol Por Testemunha
4.2 92 Assista AgoraAlém do roteiro de tirar o fôlego, o filme conta com uma trilha sonora incrível e Alain Delon entrega uma atuação impecável como Tom Ripley. O filme também traz umas sutilezas que só o enriquecem, como a cena extremamente simbólica de Tom no mercado de peixes e a tensão homoerótica entre ele e Philippe. Ps: que homens, viu?! Haha!
A Morte e Vida de Marsha P. Johnson
4.2 68 Assista AgoraHoje seria a Parada do Orgulho LGBTQ+. Devido à pandemia, não podemos ir para a rua. Aproveitei pra aprender mais sobre por que podemos ter esse evento tão grandioso no mês de junho. Este documentário é uma aula para sabermos por que podemos nos manifestar e festejar nossas existências. E saber que isso é possível pela atuação de uma mulher trans negra é crucial para o momento que estamos vivendo. Assistam!
Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela
3.7 82 Assista AgoraUm ensaio aberto que, abordando os limites da linguagem, se coloca nessa fronteira. Trata-se justamente desse recorte: 2 ou 3 coisas (talvez menos, talvez mais) que podemos conhecer de um mundo sufocado pelo consumo. Se a linguagem é a casa habitada pela humanidade, como diz Juliette, então essa casa só se realiza completa, habitável e confortável dentro da ilusão do capitalismo. Filme maravilhoso!
O Poderoso Chefão
4.7 2,9K Assista AgoraSempre relutei a ver O Poderoso Chefão por preguiça. Nunca me interessei por filmes de gangsters, sem falar da longa duração deste. Mas preciso reconhecer que o filme é brilhante. As horas correm e a narrativa, embora bastante tradicional, é extremamente cativante. Uma aula sobre o que é um bom filme Hollywoodiano.
Solaris
4.2 368 Assista AgoraTarkovsky é um poeta. Os planos longos, os sons abafados, os diálogos cheios de dúvidas e sobretudo os silêncios condensam tantas possibilidades, que parece que estamos diante de um poema, escrito com palavras e espaços entre palavras muito precisos. Os efeitos especiais desse “sci-fi” ficam por conta da imaginação do espectador. Muita coisa é apenas sugerida. Mas definitivamente tudo nesse filme é muito humano.
Terra Estrangeira
4.1 182 Assista AgoraAqui todos são estrangeiros de território e de alma. O filme joga com a sensação de não pertencimento dos personagens em diversos âmbitos da vida. O pano de fundo do governo Collor projeta a esperança pouca nas terras estrangeiras, esperança que vai se esvaziando, esgotando, mas que ingenuamente ainda resta (até hoje). O impacto da fotografia em preto e branco, quase expressionista, é forte. Belíssimo!
Lar
3.6 11O roteiro e a direção da Fien trabalham muito bem as relações problemáticas e por vezes criminosas entre adolescentes e seus responsáveis. A sacada é o contraponto entre uma suposta adolescência inconsequente e adultos de classe média com discursos de responsabilidade e respeito, mas que ou não têm a menor noção do que estão fazendo ou são verdadeiros monstros. A trilha sonora se encaixa perfeitamente!
Meu Jantar com André
4.1 78O diálogo prende, e o recorte de uma conversa tomando a maior parte do filme é pretensiosa, mas funciona bem. Mas apesar de toda filosofia, André, para mim, é só um branco chato metido a oriental que vai dar um sermão de vida no convidado em um jantar caro em NY. Ainda assim, algo me diz que Malle e Gregory sabem disso muito bem, ao colocar Wally como contraponto. Falar mais que isso vai ser spoiler. rs
O Anjo Exterminador
4.3 376 Assista AgoraA burguesia se repete - e precisa se repetir - incansavelmente, do contrário, está totalmente perdida. Este filme tem tantas camadas que você quase se sente impotente diante dele. O que eu perdi? O que não entendi? Mas é isto mesmo? Diante do espelho da tela, nos sentimos como os personagens presos sem saber o porquê. E isso é aterrorizante! É esse desconforto que faz com que o filme seja tão genial.