Mais um dos filmes que foram selecionados para a Palma de Ouro no Festival de Cannes que não ocorreu por conta da pandemia. O filme é muito bom, levanta várias questões interessantes e a maneira como tudo é mostrado também acaba dando uma carga para o filme que poderia muito bem ter ido por um caminho mais fácil. A relação entre a personagem e sua mãe tem várias camadas, o machismo e a misoginia transbordam e a falsidade da vida através de um celular acaba sendo o principal. A atriz está ótima no papel, merecedora de um prêmio de melhor atriz em Cannes caso o festival tivesse sido realizado. Um filme que parece raso se você assistir sem prestar atenção, mas muito profundo. Para uma discussão mais apurada seria necessário spoilers.
Indicado para melhor documentário do Festival de Sundance. Avassalador é a melhor palavra para descrever o sentimento de ver essas vidas passando pela nossa tela, tentar entender como é que é possível a humanidade chegar nesse ponto. Mesmo tendo cenas nitidamente ensaiadas (como quando o taxista vai comprar um café, por exemplo) a essência do que realmente importa está ali e não é nem um pouco parte de um script. O comércio local destruído pela falta de energia elétrica, a dificuldade de acesso a água e a condições dignas de sobrevivência. Há quem possa apontar o dedo para o sujeito pobre com 3 esposas e 40 filhos, mas é as mazelas da pobreza não tão diferente do Brasil. As cenas com o enfermeiro e os relatos dele são os melhores e achei os mais autênticos. Um filme necessário neste momento de genocídio que vivemos. Fico pensando quais personagens conseguiram permanecer vivos depois desse cerco de Israel.
Interessante o curta, e triste ao mesmo tempo. É possível ver as raízes conservadoras religiosas intrincadas na educação, assim como ocorre no Brasil hoje, e mostra muito bem alguns pontos importantes do cenário em que ocorreu a ascensão da República Islâmica naquele país com a Revolução de 79, apenas dois anos depois deste filme e que perdura até hoje. Também é possível comparar como a educação é colocada de escanteio em países de terceiro mundo, com má remuneração e a velha história de "ser professor é uma profissão honrada, não para ganhar dinheiro". Como é bom hoje conseguir ler farsi, a grafia do título original está toda errada no IMDB quanto no Filmow (faltando o "Ra" no final que quase não altera o significado).
Vencedor do Prêmio do Juri da competição Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Por mim podia ter dado a Palma de Ouro fácil para este aqui, confesso que o começo do filme não me prendeu muito, é o desenrolar e o desfecho que despedaça a gente por dentro que faz o filme ter a força que tem. Definitivamente não é um filme sobre um romance queer, é um filme sobre responsabilidade emocional (fator tão em falta na sociedade de hoje), como afetamos as pessoas a nossa volta, como as conexões se estendem entre as pessoas e a fronteira entre o egoísmo, responsabilidade e tantas outras coisas que fazem parte de pessoas e relacionamentos. Um filme complexo, que diz tanta coisa com uma história até que simples, o final martela na cabeça por muito tempo. Sarwat Gilani (a cunhada) é linda demais e dá um show. Ali Junejo e Alina Khan (o casal principal) dão um verdadeiro show, funcionam como tinham que funcionar, mas é Rasti Farooq (como Mumtaz) que rouba o filme inteiro. Diria que em um ano que teve muito, mas muito filme foda mesmo, este aqui talvez seja o melhor. (2022 foi uma surpresa de tanto filme bom).
É um curta metragem onde tem muita coisa que funciona e muita coisa que não. Achei o personagem meio creepy, o ator está muito bem no papel. A situação da festa de aniversário é muito boa, mesmo não fazendo o menor sentido um cara fantasiado de bichinho ir animar uma festa de um marmanjo (só faz sentido se o amigo dele for o maior filho da puta da história), mas todo o clímax do que poderia acontecer depois não acontece ou não é desenvolvido na história. A própria situação do personagem, quem é que vive em uma casa tipo a dele sozinho vestido de bicho fazendo propaganda na rua? Este tipo de trabalho é bico de quem faz outra coisa, eu já fiz e tive uma namorada que fazia (é triste demais). Acho que faltou um pé no realismo das condições de muita coisa, mas não é ruim de assistir por isso, cumpre o papel de maneira satisfatória, mas poderia ter sido bem melhor. Não entendi nada o título.
Indicado em uma seleção paralela no Festival de Berlim. O título original é uma palavra em iorubá que significa um indivíduo atencioso e amoroso que coloca a necessidade dos outros antes da sua, portanto o título nacional que acabou sendo traduzido direto do título em inglês acaba não tendo o mesmo sentido. A estreia dos irmãos gêmeos é bastante competente e fico no aguardo para futuros filmes deles, o elenco também dão um show. Me espanta um pouco a passividade do povo nigeriano, por mais que eles estejam na merda eles não perdem o controle, não se revoltam, não gritam, não explodem... e isso é um aspecto cultural que pude perceber nos últimos anos, trabalho com vários e dois deles são relativamente bem próximos de mim, sempre me espanto com isso e neste filme pude ver muito disso. Uma triste realidade que chega a ser até um pouco indigesta de assistir. Temiloluwa Ami-Williams que interpreta Rosa está deslumbrante.
Definitivamente é o filme mais sombrio que já assisti do Bergman, e talvez o mais sombrio que já assisti na vida. Não esperava. Me pegou desprevenido. Um soco direto no estômago. Liv e Max estão fantásticos, tudo vai desmoronando de uma maneira tão sombria e pesada que fica difícil digerir tudo no final. Filme rodado no final da década de sessenta e ainda assim tão atual, tão parecido com o presente com bombas turcas destruindo Rojava, bombas americanas nas mãos de Israel destruindo Gaza, Ucrânia e Rússia ainda se engalfinhando e sabe-se lá como anda o Sudão ou Myanmar. Bergman vislumbrou um futuro sombrio e ele não poderia ter sido mais certeiro. Mais uma obra de arte da conta do mestre.
Daqueles filmes que eu sempre quis assistir desde que lançou e foi ficando... acho que eu tinha até o VHS original. Resolvi finalmente ver e gostei, típico filme dos anos 90 (Assassinos por Natureza ou Amor a Queima Roupa), mesmo sendo inferior a estes o filme diverte e trás gratas surpresas. Peter Fonda fazendo uma homenagem ao seu personagem de Easy Rider, o querido Jack Nance que foi assassinado em uma briga de bar alguns anos depois e Jeffrey Combs divertidíssimo que só quem é fã de Star Trek vai saber quem é. Renée está linda, mas interpreta aquele papel clichê de americana burra. O filme entrega o que propõe entregar, não tenta ser mais do que é e é exatamente aí que ele acerta. Lógico que é um pouco datado, mas sinto falta dessa época onde não existiam celular enchendo o saco de quem não gosta desse mundo digital. Já ia esquecendo da música, o filme tem uma trilha sonora incrível, de responsabilidade de ninguém menos que do Tom Verlaine da banda Television que infelizmente nos deixou no começo deste ano de 2023.
Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. Confesso que tinha um pé atrás com o diretor porque nunca consegui me conectar muito bem com seu filme Sinônimos apesar de reconhecê-lo como um filme muito bom. Este porém acabou entrando na minha lista de melhores do ano, senão O melhor. Amei! Tipo de filme que eu gosto, com toda a metalinguagem e crítica ácida (ao estado terrorista de Israel, ao sistema capitalista, a cultura de guerra, a normalização de uma realidade orwelliana ou tantas outras coisas). Nadav Lapid se faz tão necessário e talvez um dos maiores diretores da atualidade. A parte técnica é simplesmente maravilhosa e toda a construção da história com a explosão verborrágica em uma das cenas mais emblemáticas dos últimos anos. Certo, confesso que não é um filme que vá agradar uma grande maioria, mas é daqueles filmes que me conquistam.
Um dos filmes que estava na seleção do Festival de Cannes para a Palma de Ouro do ano que não ocorreu devido a pandemia. Fui assistir sem saber quase nada do filme, sabia que se passava em uma ilha remota da Escócia e só, fui pego completamente de surpresa com um dos melhores filmes daquele ano. Ele é tão simples e ao mesmo tão complexo, tão sério e ao mesmo tempo tão leve, tão deliciosamente fantástico e ao mesmo tempo tão cruelmente real. Eu que moro no Reino Unido não pude deixar de rir com os personagens locais estereotipados, porque é exatamente assim. Tenho estudado árabe neste último ano com um exilado sírio e não pude deixar de me comover com a história. O ator Vikash Bhai, apesar de ser indiano e interpretar um afegão, consegue contagiar em todo momento que aparece em tela e está irreconhecível no papel. Tudo no filme funciona tão bem e acho que é daqueles que dá para indicar para todo mundo. ASSISTAM!
Vencedor de um prêmio fora da competição principal no Festival de Berlim e do prêmio da Federação Internacional dos Críticos de Cinema no Festival de Veneza. Filme importantíssimo que marca a renovação do cinema iraniano, com verba do governo do Xá Pahlavi que ficou horrorizado com o resultado por achar que mostrava um Irã muito atrasado, teve sua licença de exportação negada e só foi exibido no Festival de Veneza, onde fez muito sucesso, por conta de uma cópia contrabandeada. O filme ainda teve dificuldades de ser exibido no próprio país e foi amplamente defendido pelo (ora vejam só) Aiatolá Khomeini (O mundo não dá voltas, capota!). Gostei bastante e acho que o que segura bastante tudo é o elenco que se entrega bastante, toda a história tem tantas camadas que o torna digno na posição que carrega hoje. O que é um homem sem sua posição perante a sociedade se não uma vaca?
Outro curta feito para o Instituto para Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Jovens Adultos. Acaba sendo um pouco mais do mesmo que os outros curtas, sem trazer muito nada de novo, como sempre há imagens interessantes, mas foca um pouco mais nos dois irmãos e em técnicas sobre pintura, portanto há menos imagens aleatórias de um Irã pré revolução, que é o que acho que deixa os outros curtas mais interessantes pelo aspecto histórico como um todo. Portando achei este o menos interessante até aqui. Logicamente que há o brilhantismo da técnica narrativa do diretor, que nunca decepciona.
Quase fiz um curso de roteiro com a diretora deste filme uma vez, não deu certo por conta dos meus horários. Uma pena, pois é exatamente o roteiro que chama a atenção, ao mesmo tempo que ele critica essa onda evangélica que corrói o Brasil, em nenhum momento desumaniza as protagonistas que fazem parte de inúmeros absurdos e é isso que o filme tem de mais forte. As máscaras que todas vestem acabam caindo em determinado momento e o final é maravilhoso, das coisas mais ousadas que vi no cinema nacional nos últimos anos. Mari Oliveira dá um show, linda atriz e muito competente, não conhecia ela e espero que desponte em mais filmes. Lara Tremouroux também tem seus momentos como excelente coadjuvante. Não acho que seja um filme para o grande público, foge do comercial padrão, mas é necessário como reflexo desse Brasil hipócrita que conhecemos tão bem.
Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Ser mulher no patriarcado é uma merda. Um dos filmes mais difíceis que assisti na vida, exatamente por conseguir me colocar no lugar da protagonista com toda a ansiedade e angústia que a situação vai se desenvolvendo para o desfecho avassalador. Anamaria Vartolomei é outro espetáculo à parte, simplesmente um show na atuação. Apesar de ser um filme curto, ele parece se arrastar um pouco, talvez pelo começo que parece ir levando a lugar nenhum, porém o filme cresce e se torna mais dinâmico da metade para o final. Um filme extremamente necessário para se discutir o aborto, a situação de perigo que as mulheres se colocam quando este não é legalizado e a hipocrisia da sociedade machista e religiosa.
Vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Berlim. Que filme necessário e complexo, os diretores não poupam a verborragia e o lado tosco da cultura italiana para nos presentear com um dos maiores nós no estômago da atualidade. O filme retrata muito da sociedade contemporânea mundial, onde crianças estão expostas a um mundo completamente avesso ao universo infantil obrigando-as a perder suas infâncias em nome da sociedade digital da era da ode ao celular. Elio Germano é um monstro de atuação, cada vez que vejo ele em um filme meu respeito e admiração só cresce. As crianças roubam as cenas (todas elas). É um filme quase como se nos apresentasse contos, pequenas histórias que se ligam, todas acabam trazendo algo ruim, mesmo quando parece que não, de uma realidade crua da nossa sociedade que quase sempre nos recusamos a encarar. Perturbador, no mínimo.
Seguindo o seu longa anterior (Quando Duas Mulheres Pecam) Bergman segue com os dois pés no experimentalismo narrativo e realiza um de seus filmes mais angustiantes. As ligações com o filme anterior são extensas, considero um filme irmão, não é a toa que as personagens principais tem o mesmo nome, e muito menos ainda que em ambos as personagens focos de obsessão tem o mesmo sobrenome (Vogler). Máscaras permeiam tudo e a todos e praticamente todas elas acabam caindo. Praticamente todo o filme é de livre interpretação de cada espectador, única coisa que é de igual experiência para todos são as emoções conflitantes que permeiam toda a obra. Um filme complexo, que é preciso dar um salto de fé, cair de cabeça e mergulhar sem pensar demais. Bergman nunca decepciona.
Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Considero que o filme tem duas metades, a primeira que se trata do trágico acidente da sinopse é a melhor, tudo é muito bem arquitetado pelo diretor, os atores estão ótimos e apesar da frieza típica japonesa a cena em que Taeko encontra seu ex-marido é de entortar qualquer nervo de aço do espectador. A metade final eu achei que o filme perde um pouco a força e quase emula, de maneira inferior, o filme Asako I & II. Mas é um filme satisfatório e acima da média em muitos quesitos, mesmo achando que se perde em alguns momentos, podia ser um pouco mais curto para ir direto ao ponto.
Serve como nostalgia e só. Pelo menos é melhor que A Caveira de Cristal, mas muita coisa no filme não funciona. Phoebe Waller-Bridge tem uma personagem chata, o filme se estende demais e há cenas espatafurdias que podiam cortar pela metade. O filme podia ter no máximo 2 horas e estava bom. O legal é ver o Indy de novo. Podiam ter feito algo muito melhor, mas há franquias que Hollywood nunca souberam aproveitar muito bem (Indiana Jones e Alien foram algumas delas). A tentativa de Hollywood apagar a importância dos russos no final da Segunda Guerra é sempre patética de se assistir.
Um curta metragem cheio de qualidade técnica onde a diretora transborda suas percepções sobre a maternidade e sobre sua mãe, já falecida. O filme tem uma carga emocional muito grande para a diretora, mas ao meu ver é essa a dificuldade em se conectar com a proposta. Talvez por eu não ser mulher e consequentemente não ser mãe, mas acho que por ser mais um filme da diretora para ela mesma. O filme passou quase como um sonho para mim, há momentos que não consigo mais nem lembrar direito, ele parece encoberto em névoas oníricas, e isso é um ponto positivo. Na mesma linha, temos um curta metragem brasileiro (São Seus Olhos Tristes) dirigido pelo Antônio Rafael, que conseguiu me emocionar e me prender bem mais com um orçamento e consequentemente técnica bem inferior a este, mostrando que o que vale mais é o sentimento que cria no telespectador.
Vencedor do Prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Merecido prêmio e excelente filme. Confesso que demorei um pouco para entrar no filme, mas depois que eu estava dentro duto se desenvolve muito bem. Os personagens vão cativando, um vai dando lugar para o outro e sem que percebemos estamos dentro daquele mundo que é o retrato de uma Europa que muitos se recusam a mostrar. Uma sociedade falha com pessoas tão especiais, renegadas muitas vezes por seus semelhantes. Ao mesmo tempo revivi medos e anseios da minha adolescência tão claros ali no filme. A narrativa rápida e crua, que pareceu atrapalhar em um primeiro momento, no fim se mostra necessária e cai como uma luva. No fim queria acompanhar Lily e Ryan por todo o caminho que ainda lhes resta. Atores mirins excepcionais.
Vencedor de Melhor Curta Metragem na Competição Internacional no Festival de Locarno e de vários outros prêmios, tendo saído com cinco premiações no Festival de Gramado. O curta metragem é muito bom, tem uma visão mais apurada e diria até mais focada na experiência de entregadores de aplicativo em uma época de pandemia. Eu já tive essa experiência de ficar dois meses fazendo entrega de aplicativo com uma bicicleta, é um trabalho extremamente pesado, e o que mais me assustava (apesar de ter gostado bastante de alguns pontos) era o fato de não ter nenhuma garantia de direitos trabalhistas em caso de um acidente. A mistura de todo esse cenário com uma narrativa em parte musical casou muito bem. Achei toda a ideia bem ousada do diretor e vale muito a pena a assistida. Aquele papo de "bater a meta do dia" é muito real.
Nunca havia visto este e levei um choque tanto pelo salto que Bergman da no experimentalismo artístico quanto pela pior tradução de um título para o português na história deste país. Um filme profundo que quando percebi para onde ia desisti de tentar entender tudo e só aproveitei a viagem devorando as migalhas que eu conseguia digerir. Portanto é um filme para se ver mais vezes assim como Através de um Espelho (que é meu favorito do Bergman e já devo ter visto umas cinco vezes) para se construir uma ideia melhor da película. As atrizes estão perfeitas, dão um show e a parte técnica é das melhores de toda a cinegrafia do diretor. Não vou tentar analisar o filme, mesmo porque acho que a interpretação é de cada um, é exatamente esta a beleza do filme. Talvez seja um dos filmes mais difíceis do Bergman junto com A Hora do Lobo que assisti ontem, considero que é um filme que completa este e vice-versa com vários pontos que se cruzam. Vale cada minuto.
Considere todo o meu comentário suspeito, porque este é o meu filme favorito da vida, então obviamente eu não consigo ser imparcial. Assisti pela primeira vez com legenda em espanhol em uma sala de cinema da faculdade que eu fazia de Rádio e TV no ano 2000 e me atingiu que nem um raio. O mais bizarro foi que dois anos depois eu fui viver praticamente todo o filme na minha própria vida, fato este que me faz acreditar que vivemos em uma realidade simulada, pois o número de coincidências são impossíveis. Enfim, eu acho TUDO neste filme lindo, a simplicidade, os diálogos, a relação que vai se criando, o ritmo e como tudo junto funciona tão bem. Um road movie com uma fotografia de tirar o fôlego, com atores afinados ao papel que nos entrega personagens reais. Todo aquele clima de meados dos anos 70 está intrincado ao filme. Quando eu decidi que iria fazer arte de alguma forma, sabia que independente do que fosse, esse filme sempre seria um exemplo a seguir do que eu queria. Hoje, na literatura, espero um dia conseguir escrever um Alice nas Cidades de alguma forma.
Indicado no Festival de Berlim em uma das competições paralelas. É um filme muito mais sensorial do que narrativo, portanto pode não agradar muita gente pelo seu pé no experimentalismo. Eu achei bem legal de um modo geral, há cenas bem instigantes que nos passam sentimentos muito diferentes, o telespectador precisa estar aberto para a experiência que a película proporciona. Achei que teria sido muito melhor se o diretor tivesse aproveitado mais para desenvolver a relação entre o marinheiro e a mulher do apartamento. As cenas te instigam a prestar atenção no que está acontecendo em tela em alguns cenários meio lynchianos. O tradutor do título no Brasil comeu bola, pois "Chico Ventana" significa "Garoto na Janela" em espanhol e não é o nome do personagem: "Garoto na Janela" faria muito mais sentido no contexto do filme.
Suor
3.6 41 Assista AgoraMais um dos filmes que foram selecionados para a Palma de Ouro no Festival de Cannes que não ocorreu por conta da pandemia. O filme é muito bom, levanta várias questões interessantes e a maneira como tudo é mostrado também acaba dando uma carga para o filme que poderia muito bem ter ido por um caminho mais fácil. A relação entre a personagem e sua mãe tem várias camadas, o machismo e a misoginia transbordam e a falsidade da vida através de um celular acaba sendo o principal. A atriz está ótima no papel, merecedora de um prêmio de melhor atriz em Cannes caso o festival tivesse sido realizado. Um filme que parece raso se você assistir sem prestar atenção, mas muito profundo. Para uma discussão mais apurada seria necessário spoilers.
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Gaza
4.1 3 Assista AgoraIndicado para melhor documentário do Festival de Sundance. Avassalador é a melhor palavra para descrever o sentimento de ver essas vidas passando pela nossa tela, tentar entender como é que é possível a humanidade chegar nesse ponto. Mesmo tendo cenas nitidamente ensaiadas (como quando o taxista vai comprar um café, por exemplo) a essência do que realmente importa está ali e não é nem um pouco parte de um script. O comércio local destruído pela falta de energia elétrica, a dificuldade de acesso a água e a condições dignas de sobrevivência. Há quem possa apontar o dedo para o sujeito pobre com 3 esposas e 40 filhos, mas é as mazelas da pobreza não tão diferente do Brasil. As cenas com o enfermeiro e os relatos dele são os melhores e achei os mais autênticos. Um filme necessário neste momento de genocídio que vivemos. Fico pensando quais personagens conseguiram permanecer vivos depois desse cerco de Israel.
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Tributo aos Professores
3.3 1Interessante o curta, e triste ao mesmo tempo. É possível ver as raízes conservadoras religiosas intrincadas na educação, assim como ocorre no Brasil hoje, e mostra muito bem alguns pontos importantes do cenário em que ocorreu a ascensão da República Islâmica naquele país com a Revolução de 79, apenas dois anos depois deste filme e que perdura até hoje. Também é possível comparar como a educação é colocada de escanteio em países de terceiro mundo, com má remuneração e a velha história de "ser professor é uma profissão honrada, não para ganhar dinheiro". Como é bom hoje conseguir ler farsi, a grafia do título original está toda errada no IMDB quanto no Filmow (faltando o "Ra" no final que quase não altera o significado).
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Joyland
4.0 17Vencedor do Prêmio do Juri da competição Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Por mim podia ter dado a Palma de Ouro fácil para este aqui, confesso que o começo do filme não me prendeu muito, é o desenrolar e o desfecho que despedaça a gente por dentro que faz o filme ter a força que tem. Definitivamente não é um filme sobre um romance queer, é um filme sobre responsabilidade emocional (fator tão em falta na sociedade de hoje), como afetamos as pessoas a nossa volta, como as conexões se estendem entre as pessoas e a fronteira entre o egoísmo, responsabilidade e tantas outras coisas que fazem parte de pessoas e relacionamentos. Um filme complexo, que diz tanta coisa com uma história até que simples, o final martela na cabeça por muito tempo. Sarwat Gilani (a cunhada) é linda demais e dá um show. Ali Junejo e Alina Khan (o casal principal) dão um verdadeiro show, funcionam como tinham que funcionar, mas é Rasti Farooq (como Mumtaz) que rouba o filme inteiro. Diria que em um ano que teve muito, mas muito filme foda mesmo, este aqui talvez seja o melhor. (2022 foi uma surpresa de tanto filme bom).
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Nilson, filho do campeão
3.2 1É um curta metragem onde tem muita coisa que funciona e muita coisa que não. Achei o personagem meio creepy, o ator está muito bem no papel. A situação da festa de aniversário é muito boa, mesmo não fazendo o menor sentido um cara fantasiado de bichinho ir animar uma festa de um marmanjo (só faz sentido se o amigo dele for o maior filho da puta da história), mas todo o clímax do que poderia acontecer depois não acontece ou não é desenvolvido na história. A própria situação do personagem, quem é que vive em uma casa tipo a dele sozinho vestido de bicho fazendo propaganda na rua? Este tipo de trabalho é bico de quem faz outra coisa, eu já fiz e tive uma namorada que fazia (é triste demais). Acho que faltou um pé no realismo das condições de muita coisa, mas não é ruim de assistir por isso, cumpre o papel de maneira satisfatória, mas poderia ter sido bem melhor. Não entendi nada o título.
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Eyimofe (Este é o Meu Desejo)
3.8 3Indicado em uma seleção paralela no Festival de Berlim. O título original é uma palavra em iorubá que significa um indivíduo atencioso e amoroso que coloca a necessidade dos outros antes da sua, portanto o título nacional que acabou sendo traduzido direto do título em inglês acaba não tendo o mesmo sentido. A estreia dos irmãos gêmeos é bastante competente e fico no aguardo para futuros filmes deles, o elenco também dão um show. Me espanta um pouco a passividade do povo nigeriano, por mais que eles estejam na merda eles não perdem o controle, não se revoltam, não gritam, não explodem... e isso é um aspecto cultural que pude perceber nos últimos anos, trabalho com vários e dois deles são relativamente bem próximos de mim, sempre me espanto com isso e neste filme pude ver muito disso. Uma triste realidade que chega a ser até um pouco indigesta de assistir. Temiloluwa Ami-Williams que interpreta Rosa está deslumbrante.
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Vergonha
4.3 118Definitivamente é o filme mais sombrio que já assisti do Bergman, e talvez o mais sombrio que já assisti na vida. Não esperava. Me pegou desprevenido. Um soco direto no estômago. Liv e Max estão fantásticos, tudo vai desmoronando de uma maneira tão sombria e pesada que fica difícil digerir tudo no final. Filme rodado no final da década de sessenta e ainda assim tão atual, tão parecido com o presente com bombas turcas destruindo Rojava, bombas americanas nas mãos de Israel destruindo Gaza, Ucrânia e Rússia ainda se engalfinhando e sabe-se lá como anda o Sudão ou Myanmar. Bergman vislumbrou um futuro sombrio e ele não poderia ter sido mais certeiro. Mais uma obra de arte da conta do mestre.
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Um Amor e Uma 45
3.3 21Daqueles filmes que eu sempre quis assistir desde que lançou e foi ficando... acho que eu tinha até o VHS original. Resolvi finalmente ver e gostei, típico filme dos anos 90 (Assassinos por Natureza ou Amor a Queima Roupa), mesmo sendo inferior a estes o filme diverte e trás gratas surpresas. Peter Fonda fazendo uma homenagem ao seu personagem de Easy Rider, o querido Jack Nance que foi assassinado em uma briga de bar alguns anos depois e Jeffrey Combs divertidíssimo que só quem é fã de Star Trek vai saber quem é. Renée está linda, mas interpreta aquele papel clichê de americana burra. O filme entrega o que propõe entregar, não tenta ser mais do que é e é exatamente aí que ele acerta. Lógico que é um pouco datado, mas sinto falta dessa época onde não existiam celular enchendo o saco de quem não gosta desse mundo digital. Já ia esquecendo da música, o filme tem uma trilha sonora incrível, de responsabilidade de ninguém menos que do Tom Verlaine da banda Television que infelizmente nos deixou no começo deste ano de 2023.
O Joelho de Ahed
3.0 7Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. Confesso que tinha um pé atrás com o diretor porque nunca consegui me conectar muito bem com seu filme Sinônimos apesar de reconhecê-lo como um filme muito bom. Este porém acabou entrando na minha lista de melhores do ano, senão O melhor. Amei! Tipo de filme que eu gosto, com toda a metalinguagem e crítica ácida (ao estado terrorista de Israel, ao sistema capitalista, a cultura de guerra, a normalização de uma realidade orwelliana ou tantas outras coisas). Nadav Lapid se faz tão necessário e talvez um dos maiores diretores da atualidade. A parte técnica é simplesmente maravilhosa e toda a construção da história com a explosão verborrágica em uma das cenas mais emblemáticas dos últimos anos. Certo, confesso que não é um filme que vá agradar uma grande maioria, mas é daqueles filmes que me conquistam.
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Limbo
3.9 13 Assista AgoraUm dos filmes que estava na seleção do Festival de Cannes para a Palma de Ouro do ano que não ocorreu devido a pandemia. Fui assistir sem saber quase nada do filme, sabia que se passava em uma ilha remota da Escócia e só, fui pego completamente de surpresa com um dos melhores filmes daquele ano. Ele é tão simples e ao mesmo tão complexo, tão sério e ao mesmo tempo tão leve, tão deliciosamente fantástico e ao mesmo tempo tão cruelmente real. Eu que moro no Reino Unido não pude deixar de rir com os personagens locais estereotipados, porque é exatamente assim. Tenho estudado árabe neste último ano com um exilado sírio e não pude deixar de me comover com a história. O ator Vikash Bhai, apesar de ser indiano e interpretar um afegão, consegue contagiar em todo momento que aparece em tela e está irreconhecível no papel. Tudo no filme funciona tão bem e acho que é daqueles que dá para indicar para todo mundo. ASSISTAM!
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A Vaca
4.0 19Vencedor de um prêmio fora da competição principal no Festival de Berlim e do prêmio da Federação Internacional dos Críticos de Cinema no Festival de Veneza. Filme importantíssimo que marca a renovação do cinema iraniano, com verba do governo do Xá Pahlavi que ficou horrorizado com o resultado por achar que mostrava um Irã muito atrasado, teve sua licença de exportação negada e só foi exibido no Festival de Veneza, onde fez muito sucesso, por conta de uma cópia contrabandeada. O filme ainda teve dificuldades de ser exibido no próprio país e foi amplamente defendido pelo (ora vejam só) Aiatolá Khomeini (O mundo não dá voltas, capota!). Gostei bastante e acho que o que segura bastante tudo é o elenco que se entrega bastante, toda a história tem tantas camadas que o torna digno na posição que carrega hoje. O que é um homem sem sua posição perante a sociedade se não uma vaca?
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Como Aproveitar Nosso Tempo de Lazer?
3.5 1Outro curta feito para o Instituto para Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Jovens Adultos. Acaba sendo um pouco mais do mesmo que os outros curtas, sem trazer muito nada de novo, como sempre há imagens interessantes, mas foca um pouco mais nos dois irmãos e em técnicas sobre pintura, portanto há menos imagens aleatórias de um Irã pré revolução, que é o que acho que deixa os outros curtas mais interessantes pelo aspecto histórico como um todo. Portando achei este o menos interessante até aqui. Logicamente que há o brilhantismo da técnica narrativa do diretor, que nunca decepciona.
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Medusa
3.4 53 Assista AgoraQuase fiz um curso de roteiro com a diretora deste filme uma vez, não deu certo por conta dos meus horários. Uma pena, pois é exatamente o roteiro que chama a atenção, ao mesmo tempo que ele critica essa onda evangélica que corrói o Brasil, em nenhum momento desumaniza as protagonistas que fazem parte de inúmeros absurdos e é isso que o filme tem de mais forte. As máscaras que todas vestem acabam caindo em determinado momento e o final é maravilhoso, das coisas mais ousadas que vi no cinema nacional nos últimos anos. Mari Oliveira dá um show, linda atriz e muito competente, não conhecia ela e espero que desponte em mais filmes. Lara Tremouroux também tem seus momentos como excelente coadjuvante. Não acho que seja um filme para o grande público, foge do comercial padrão, mas é necessário como reflexo desse Brasil hipócrita que conhecemos tão bem.
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O Acontecimento
4.0 80 Assista AgoraVencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Ser mulher no patriarcado é uma merda. Um dos filmes mais difíceis que assisti na vida, exatamente por conseguir me colocar no lugar da protagonista com toda a ansiedade e angústia que a situação vai se desenvolvendo para o desfecho avassalador. Anamaria Vartolomei é outro espetáculo à parte, simplesmente um show na atuação. Apesar de ser um filme curto, ele parece se arrastar um pouco, talvez pelo começo que parece ir levando a lugar nenhum, porém o filme cresce e se torna mais dinâmico da metade para o final. Um filme extremamente necessário para se discutir o aborto, a situação de perigo que as mulheres se colocam quando este não é legalizado e a hipocrisia da sociedade machista e religiosa.
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Fábulas Ruins
3.5 15Vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Berlim. Que filme necessário e complexo, os diretores não poupam a verborragia e o lado tosco da cultura italiana para nos presentear com um dos maiores nós no estômago da atualidade. O filme retrata muito da sociedade contemporânea mundial, onde crianças estão expostas a um mundo completamente avesso ao universo infantil obrigando-as a perder suas infâncias em nome da sociedade digital da era da ode ao celular. Elio Germano é um monstro de atuação, cada vez que vejo ele em um filme meu respeito e admiração só cresce. As crianças roubam as cenas (todas elas). É um filme quase como se nos apresentasse contos, pequenas histórias que se ligam, todas acabam trazendo algo ruim, mesmo quando parece que não, de uma realidade crua da nossa sociedade que quase sempre nos recusamos a encarar. Perturbador, no mínimo.
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A Hora do Lobo
4.2 308Seguindo o seu longa anterior (Quando Duas Mulheres Pecam) Bergman segue com os dois pés no experimentalismo narrativo e realiza um de seus filmes mais angustiantes. As ligações com o filme anterior são extensas, considero um filme irmão, não é a toa que as personagens principais tem o mesmo nome, e muito menos ainda que em ambos as personagens focos de obsessão tem o mesmo sobrenome (Vogler). Máscaras permeiam tudo e a todos e praticamente todas elas acabam caindo. Praticamente todo o filme é de livre interpretação de cada espectador, única coisa que é de igual experiência para todos são as emoções conflitantes que permeiam toda a obra. Um filme complexo, que é preciso dar um salto de fé, cair de cabeça e mergulhar sem pensar demais. Bergman nunca decepciona.
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Love Life
3.8 1Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Considero que o filme tem duas metades, a primeira que se trata do trágico acidente da sinopse é a melhor, tudo é muito bem arquitetado pelo diretor, os atores estão ótimos e apesar da frieza típica japonesa a cena em que Taeko encontra seu ex-marido é de entortar qualquer nervo de aço do espectador. A metade final eu achei que o filme perde um pouco a força e quase emula, de maneira inferior, o filme Asako I & II. Mas é um filme satisfatório e acima da média em muitos quesitos, mesmo achando que se perde em alguns momentos, podia ser um pouco mais curto para ir direto ao ponto.
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Indiana Jones e a Relíquia do Destino
3.2 335 Assista AgoraServe como nostalgia e só. Pelo menos é melhor que A Caveira de Cristal, mas muita coisa no filme não funciona. Phoebe Waller-Bridge tem uma personagem chata, o filme se estende demais e há cenas espatafurdias que podiam cortar pela metade. O filme podia ter no máximo 2 horas e estava bom. O legal é ver o Indy de novo. Podiam ter feito algo muito melhor, mas há franquias que Hollywood nunca souberam aproveitar muito bem (Indiana Jones e Alien foram algumas delas). A tentativa de Hollywood apagar a importância dos russos no final da Segunda Guerra é sempre patética de se assistir.
Carta à Minha Mãe Para Meu Filho
3.2 5Um curta metragem cheio de qualidade técnica onde a diretora transborda suas percepções sobre a maternidade e sobre sua mãe, já falecida. O filme tem uma carga emocional muito grande para a diretora, mas ao meu ver é essa a dificuldade em se conectar com a proposta. Talvez por eu não ser mulher e consequentemente não ser mãe, mas acho que por ser mais um filme da diretora para ela mesma. O filme passou quase como um sonho para mim, há momentos que não consigo mais nem lembrar direito, ele parece encoberto em névoas oníricas, e isso é um ponto positivo. Na mesma linha, temos um curta metragem brasileiro (São Seus Olhos Tristes) dirigido pelo Antônio Rafael, que conseguiu me emocionar e me prender bem mais com um orçamento e consequentemente técnica bem inferior a este, mostrando que o que vale mais é o sentimento que cria no telespectador.
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Os Piores
3.9 1Vencedor do Prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Merecido prêmio e excelente filme. Confesso que demorei um pouco para entrar no filme, mas depois que eu estava dentro duto se desenvolve muito bem. Os personagens vão cativando, um vai dando lugar para o outro e sem que percebemos estamos dentro daquele mundo que é o retrato de uma Europa que muitos se recusam a mostrar. Uma sociedade falha com pessoas tão especiais, renegadas muitas vezes por seus semelhantes. Ao mesmo tempo revivi medos e anseios da minha adolescência tão claros ali no filme. A narrativa rápida e crua, que pareceu atrapalhar em um primeiro momento, no fim se mostra necessária e cai como uma luva. No fim queria acompanhar Lily e Ryan por todo o caminho que ainda lhes resta. Atores mirins excepcionais.
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Fantasma Neon
3.7 5Vencedor de Melhor Curta Metragem na Competição Internacional no Festival de Locarno e de vários outros prêmios, tendo saído com cinco premiações no Festival de Gramado. O curta metragem é muito bom, tem uma visão mais apurada e diria até mais focada na experiência de entregadores de aplicativo em uma época de pandemia. Eu já tive essa experiência de ficar dois meses fazendo entrega de aplicativo com uma bicicleta, é um trabalho extremamente pesado, e o que mais me assustava (apesar de ter gostado bastante de alguns pontos) era o fato de não ter nenhuma garantia de direitos trabalhistas em caso de um acidente. A mistura de todo esse cenário com uma narrativa em parte musical casou muito bem. Achei toda a ideia bem ousada do diretor e vale muito a pena a assistida. Aquele papo de "bater a meta do dia" é muito real.
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Quando Duas Mulheres Pecam
4.4 1,1K Assista AgoraNunca havia visto este e levei um choque tanto pelo salto que Bergman da no experimentalismo artístico quanto pela pior tradução de um título para o português na história deste país. Um filme profundo que quando percebi para onde ia desisti de tentar entender tudo e só aproveitei a viagem devorando as migalhas que eu conseguia digerir. Portanto é um filme para se ver mais vezes assim como Através de um Espelho (que é meu favorito do Bergman e já devo ter visto umas cinco vezes) para se construir uma ideia melhor da película. As atrizes estão perfeitas, dão um show e a parte técnica é das melhores de toda a cinegrafia do diretor. Não vou tentar analisar o filme, mesmo porque acho que a interpretação é de cada um, é exatamente esta a beleza do filme. Talvez seja um dos filmes mais difíceis do Bergman junto com A Hora do Lobo que assisti ontem, considero que é um filme que completa este e vice-versa com vários pontos que se cruzam. Vale cada minuto.
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Alice nas Cidades
4.3 95 Assista AgoraConsidere todo o meu comentário suspeito, porque este é o meu filme favorito da vida, então obviamente eu não consigo ser imparcial. Assisti pela primeira vez com legenda em espanhol em uma sala de cinema da faculdade que eu fazia de Rádio e TV no ano 2000 e me atingiu que nem um raio. O mais bizarro foi que dois anos depois eu fui viver praticamente todo o filme na minha própria vida, fato este que me faz acreditar que vivemos em uma realidade simulada, pois o número de coincidências são impossíveis. Enfim, eu acho TUDO neste filme lindo, a simplicidade, os diálogos, a relação que vai se criando, o ritmo e como tudo junto funciona tão bem. Um road movie com uma fotografia de tirar o fôlego, com atores afinados ao papel que nos entrega personagens reais. Todo aquele clima de meados dos anos 70 está intrincado ao filme. Quando eu decidi que iria fazer arte de alguma forma, sabia que independente do que fosse, esse filme sempre seria um exemplo a seguir do que eu queria. Hoje, na literatura, espero um dia conseguir escrever um Alice nas Cidades de alguma forma.
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Chico Ventana Também Queria Ter um Submarino
2.9 3 Assista AgoraIndicado no Festival de Berlim em uma das competições paralelas. É um filme muito mais sensorial do que narrativo, portanto pode não agradar muita gente pelo seu pé no experimentalismo. Eu achei bem legal de um modo geral, há cenas bem instigantes que nos passam sentimentos muito diferentes, o telespectador precisa estar aberto para a experiência que a película proporciona. Achei que teria sido muito melhor se o diretor tivesse aproveitado mais para desenvolver a relação entre o marinheiro e a mulher do apartamento. As cenas te instigam a prestar atenção no que está acontecendo em tela em alguns cenários meio lynchianos. O tradutor do título no Brasil comeu bola, pois "Chico Ventana" significa "Garoto na Janela" em espanhol e não é o nome do personagem: "Garoto na Janela" faria muito mais sentido no contexto do filme.
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