Um filme que explora as relações familiares de modo até demasiadamente orgânico, algo típico dos roteiros por vezes ligeiramente perturbadores de Noah Baumbach. Repleto de seres humanos imperfeitos, o que vemos em Margot e o Casamento é a interação imperfeita entre eles e consigo mesmos, sendo uma obra que funciona muito mais como um retrato, um estudo excêntrico de observação, do que qualquer outra coisa. As atuações de Jennifer Jason Leigh e de Nicole Kidman estão soberbas, capturando a fragilidade dissimulada da relação das duas irmãs, assim como todo o elenco, inclusive um contido Jack Black, que permitem a nós investir em seus personagens com a expectativa cumprida de se surpreender e até mesmo estranhar seus próximos passos. Quase tão bom quanto o similar A Lula e a Baleia do mesmo diretor, esse é mais um filme que gostei bastante dele, realmente não entendi tamanha rejeição.
O P&B já nos indica desde o começo, ao assistir Frances Ha estamos embarcando num pedaço de memória, num capítulo de nossa história, da personagem título ou de qualquer um que consiga se identificar com um sentimento tão comum quanto o deslocamento. É uma viagem um tanto ingrata, sincera, mas também agradavelmente esperançosa quando a acompanhamos pelos olhos de Frances. Assim, Frances Ha são 90 minutinhos de remédio para a alma, uma brisa de autenticidade e empatia deliciosamente divertida, apaixonante por fazer os percalços cotidianos e de a longo prazo da vida de repente parecerem apenas um capítulo, uma futura lembrança, um endereço ou um filme em que participaremos e guardaremos conosco com certa irreverente e agridoce melancolia, como Frances o faria, como o fez. Mais um filme de Noah Baumbach que evoca, boa ou má, uma sensibilidade orgânica em seus personagens. Se fosse um livro, Frances Ha sem dúvida estaria na minha cabeceira,
O filme começa até bacanudo, tosco, mas bacanudo. Com seu decorrer, porém, o fiapo que é o roteiro tenta ser mais que isso e acaba colapsando, se tornando um desastre narrativo e até mesmo estético. Lucy me fisgou ao começo, mas pouco depois apenas me rendeu boas risadas, entretanto não pelos motivos certos. Salva-se a inserção daquele documentário cosmológico do Discovery narrado pelo Morgan Freeman que eu me amarro e a boca da sempre estonteante Scarlett Johansson que aparece por quase todos os 90 minutos de filme.
Maravilhosamente subversivo, assim como os outros dois filmes do diretor. Mas parece que aqui McDonagh alcançou seu auge - ou quem sabe uma crescente - narrativo e estético, reunindo um ótimo elenco numa história cheia de humor negro, metalinguagem e acontecimentos inesperados. Mais um excelente filme para a filmografia de um diretor que nunca deixa de me surpreender.
Um excelente filme, que evoca os épicos de antigamente numa roupagem contemporânea um tanto curiosa, utilizando-se de um inteligente jogo de cores e de uma narrativa que vai nos fornecendo gradualmente uma compreensão do que acontece tela, prendendo a atenção e dando o espaço necessário para nos surpreendermos e refletirmos sobre o destino inevitável dos personagens tão "blue" - tristes - que acompanhamos na tela.
Pixar is back bitches! Depois de quase 1 década sem assistir uma animação no cinema, decidi fazer minha reestreia com este mais novo filme da Pixar, o primeiro em praticamente 3 anos. Depois da decepção completa que foi Valente, embarquei em Divertida Mente sem grandes expectativas, e o que encontrei teve aquele gostinho maravilhoso de nostalgia, da época em que assistia animações com uma história interessante e um tanto convencional - diga-se, rentável - para qualquer um se entreter, mas que por dentro trazia uma complexidade e beleza de tirar lágrimas dos olhos e trazer reflexões regadas a um otimismo singelamente infantil, mas efetivo, e extremamente necessário a nós, adultos, os céticos incorrigíveis. Com um universo muito bem pensado e belamente construído, esse novo filme da Pixar traz de volta à lembrança os tempos de ouro do estúdio, e abre portas para o que pode ser um promissor recomeço. A ideia de trazer nossos sentimentos literalmente a vida realmente não é novidade, mas o estúdio de Os Incríveis e Wall-E conseguiu fazer disso a aventura e descoberta necessárias para tornar Divertida Mente não necessariamente uma obra-prima, mas sem dúvida um filme imperdível e provavelmente o ganhador do Oscar de Melhor Animação deste ano.
Obs: não é suportável assistir nem mais animação com dublagem. Duas personagens, Tristeza e Riley, foram tao mal dubladas a ponto de se tornarem ininteligíveis e, claro, completamente irritantes. Dublagem em animações nunca mais.
Esse filme é a versão cinematográfica do meme "hello darkness my old friend". Que porrada Haneke, que porrada. Eu não precisava dessa bomba deprimente num dia que soube do cancelamento de uma de minhas série favoritas, ou talvez precisava, mas o que está feito, está feito. Quanta esterilidade, frieza e tédio filmados numa só obra, não há vida em O Sétimo Continente, a manifestação mais próxima à ela seriam os objetos, inanimados, que aparecem mais do que os personagens na tela. Mas mesmo eles refletem um vazio que chega a ser grotesco, que me faz perguntar porque tive tamanho horror ao observar a monotonia. Haneke filma aqui o que diretor nenhum filmaria, corta e omite quando nenhum outro o faria, e continua a filmar quando supomos ingenuamente que já é o bastante. O diretor leva a sério seu papel de nos fazer telespectadores do que filma e assume o compromisso de estruturar toda partícula do que ele quer mostrar, que no caso é uma combinação good vibe de sofrimento, vazio e insignificância. Do chiado inesquecível da TV nos últimos segundos de filme levarei uma lembrança amarga, mas também, vejam só, convidativa, de assistir um filme de um autor que não tem pudor de nos fazer sentir o que ele quer que sintamos. Abraço Haneke, estuprador psicológico filha da puta.
Tudo em V&F 7 é extremamente brega, da trilha sonora às atuações e roteiro, a pieguice e o artificialismo imperam, são estampados na tela com orgulho, e é desse orgulho, dessa autodepreciação assumida e honesta, que o filme consegue divertir. Basta comprar a ideia, mergulhar nesse universo estúpido, e se empolgar com cenas que não fazem o menor sentido no que provavelmente é o filme mais idiota do ano. Eu faço isso desde que comecei a assistir a franquia e a apreciá-la no 5º filme. Realmente os filmes me tiram mais risadas, satisfeitas, do que alguma empolgação com suas sequências de ação. Neste 7º filme, porém, depois de uma hora a obra se tornou cansativa e desinteressante, intercalando sequências bacanas com outras extremamente mal dirigidas, ou simplesmente genéricas, num roteiro que nuca foi grande coisa em nenhum dos filmes, mas que consegue se estruturar por completo neste em algo que já foi contado milhões de vezes. Divertido sim, mas só até certo ponto. Mesmo pondo o preconceito de lado, não consigo achar Velozes e Furiosos 7 um ótimo filme, talvez bom, mas muito mais perto de mediano do que algo minimamente satisfatório.
Em seu último filme, Malick, no microscosmos construído em A Árvore da Vida, louvou o amor como o caminho para a vida. Em Amor Pleno, como um complemento, ele o desconstrói.
"Você pensou que tínhamos a eternidade. Esse tempo não existe."
São muitos os casais na filmografia de Malick, exceto por A Árvore da Vida, todos os seus filmes são centrados na união entre dois indivíduos e seus desencantos, inclusive em relação ao laço que os une. Aqui, porém, diferente do filme de 2011, começamos o filme no auge de nossos personagens, o deleite do casal se dá no amor que os une, mais que um sentimento é uma percepção, de que estão seguros, salvos e pertencentes. E é dessa percepção que nasce o desencanto de To The Wonder, é sobre o amor prisioneiro - um subterfúgio tão sutil - que Malick divaga nesta incrível obra.
Seguindo a risca a estética extremamente solene que iniciou em Tree of Life, tanto visual quanto narrativa, o sentimento acaba novamente por sobrepor a percepção ou a lógica, sendo o diálogo conosco feito a partir de simples metáforas ou do uso da natureza, e dessa vez ainda mais intimamente, dada a ausência de diálogos na obra. A partir dessa via, acompanhamos a mulher vivida por Olga Kurylenko surrando para nós suas alegrias e tormentos em francês, o padre de Javier Bardem implorando por reconhecimento divino em espanhol e do homem de Ben Affleck recebemos apenas o silêncio de um humano incompreendido, que se vê preso a seu próprio ideal de felicidade. A presença de legendas e as diferenças de linguagem, ou a falta dela, de cada um, acentua o fato de que eles não compreendem-se, mas não deixam de tentar alcançar alívio mergulhando uns nos outros. As narrações em off imperam por todo o filme, sendo essa a obra do diretor em que o artifício é mais predominante. E são dessas divagações, do vazio cronológico e da imensidão imagética, que a obra se estende para próxima de nós, sugerindo mais do que afirmando, sussurrando no lugar de brandir exposição, permitindo que quem a assista possa ter parte na sua constituição, e que o inverso também aconteça. Assim, o amor pleno do título nacional, a "maravilha" do original e a eternidade efêmera da qual a personagem se lamenta, não se mostra una, mas sim individual, até mesmo solitária, feita das parcelas de nosso ser. E o filme e seus personagens são apenas uma peculiar e belíssima sugestão de Malick para o caminho que se deve trilhar até esta, seja humana ou divina, plena elevação.
Belíssimo, como todo filme de Mallick. Novamente utilizando a iluminação natural e dessa vez com outra mestre na fotografia, Lubezki, O Novo Mundo é realmente mais um deleite visual na filmografia do diretor. Sua primeira hora, repleta de beleza, poesia e expectativas quanto aos acontecimentos que sabemos que estão por vir na história desta não nomeada Pocahontas, dão lugar, porém, à repetição, narrativa e até mesmo poética, e logo ao cansaço, dada a longa duração da obra. Assim, momentos-chave que ocorrem até o final do filme perdem seu poder narrativo, engolfados pelo excesso de Malick, geralmente um ótimo "podador" de seus filmes. Ainda sim, O Novo Mundo é uma experiência gratificante, que merece e deve ser apreciada com a devida paciência. É o pior filme que assisto do diretor, e não é nem de longe um tropeço, aqui ele revisita mais uma vez suas temáticas envolvendo a natureza, o desencanto e a autoconsciência, mas numa escala épica, devidamente esmerada, que com um corte adequado seria mais um primor na ficha do diretor.
(Acabei sabendo que assisti à edição estendida de 171 minutos, e que há outras com 108 e 135 minutos. Com isso, talvez estejam explicados meus receios quanto ao filme que assisti. Não tenho dúvida de que a versão para o cinema será mais do meu agrado, talvez até uma obra-prima. Sem dúvida The New World, tem potencial para isso).
Uma das experiências mais gratificantes que tive com a 7ª arte, visualmente falando. A fotografia do filme, que nos provê momentos intensos e belos da "hora mágica" em uma iluminação aparentemente toda natural, é um deleite e certamente o auge visual de um diretor que só nos apresenta trabalhos primorosos nesse quesito. Aparte de cada quadro do filme poder ser emoldurado como uma obra de arte, a história que estes quadros contam também não fica muito atrás, aliada ao visual paradisíaco, o trio de protagonistas assistem, assim como em Terra de Ninguém, seus ideais de felicidade formarem-se, concretizarem-se e logo ruírem diante de suas escolhas, e Mallick usa da narração em off e de referências bíblicas em meios a seus deslumbrantes recursos visuais, para traçar essa trajetória no filme de maneira única, inserindo sua poesia tão característica e fazendo de Days of Heaven uma experiência inesquecível.
Há espaço para algum julgamento moral no que se refere à ideia de felicidade? Terrence Mallick certamente não o impõe à trajetória dos personagens de seu primeiro longa. A pureza inexperiente de Holly de encontro com a sórdida e cativante presença de Kit, resulta numa jornada em que ambos encontram a liberdade e paz que almejavam, um no outro. Mas, a medida que o casal percorre as estradas desertas em que transitam seus êxodos e fugas, desencantam-se, até que a única liberdade possível de ser buscada e alcançada é a de si próprios. Mallick, mostrando seu primor estético desde seu início de carreira, apresenta e mantêm o tom contrastantemente leve do filme por todo o seu decorrer, deleitando-nos com a poesia inconstante e despreocupada de Holly, ao mesmo tempo que nos aproxima cada vez mais do personagem de Martin Sheen, ambos engolfados pela natureza solene e constante que Mallick tanto preza e que captura na tela de maneira sempre, sempre fascinante. Mais um filmaço, na lista que só cresce, de filmes que assisti deste grande mestre.
Ótimas atuações num jogo de luz fascinante e nada discreto. Tudo soa deliciosamente artificial no filme, o que permite o diretor fazer o que quiser dele, das mais hilárias ou bizarras sequências. Bem interessante, uma obra de fato intrigante, como se deve ser quando trata de um duplo.
Este foi o segundo filme que assisti de Terrence Mallick e encontrei nada menos do que esperava: um primor técnico impecável e a poesia pura de Mallick amargando tanto quanto adoçando toda a obra e seus respectivos personagens. Além da Linha Vermelha é um filme que chega a incomodar, a doer, diante de sua capacidade de tocar, estendendo os devaneios e reflexões dos seres humanos que acompanhamos durante as quase 3 horas de filme, em sentimentos possivelmente comuns a nós: morte, natureza e laços. Aparte destes sentimentos que me foram passados, porém, já concluo que é um filme que será construído dentro de mim aos poucos, assim como aconteceu com A Árvore da Vida, e que, logo, com certeza irei revisitar. Mas uma coisa é certa, Mallick me capturou mais uma vez.
Coração Mudo é uma daquelas obras que faz com que, quando surgem os créditos e sua delicada música começa a tocar, nos encolhamos, com os olhos fitando o vazio enquanto se pensa, absorve e, principalmente, sente-se o que foi visto. Um drama familiar que não se expõe ao novelesco, graças a austeridade de sua direção e a sutileza madura de seu roteiro, deixando as explosões de sentimentos com que os personagens inevitavelmente passam - dada a situação que estabelece todo o filme - a serem percebidas através de pequenos detalhes, formando um intimismo e, consequentemente, uma empatia crescente com o que acontece na tela, que acabam provocando-nos, senão lágrimas, profundos e verdadeiros sentimentos, compartilhados com a família que acompanhamos na tela. Ao lidar com temáticas tão universais quanto complexas como tempo, morte e laços, três que inegavelmente entrelaçam-se, o filme de Bille August toma para si o desafio de trazer o espectador para próximo destas difíceis questões sem enegrecê-las demais ou simplificá-las. Para tal, Coração Mudo nos envolve por sua sinceridade, um senso de realidade que é, claro, agridoce por boa parte de sua duração, mas que mesmo assim, quando decide sair dessa mistura, não falha em nos prover momentos de pura alegria tanto quanto de devastadora tristeza, dando o tom ambiguamente contemplativo que é tão efetivo e recorrente nos filmes escandinavos. Sem quase nunca citá-las diretamente, Coração Mudo cumpre com suas temáticas com primor, dando ao seu desfecho um temeroso crepúsculo,que não deixar de ser tão belo quanto o tímido alvorecer que inicia está incrível e tocante obra.
Eu testemunhei essa insanidade. E me percebi retornando à um ritmo normal de respiração apenas quando os créditos surgiram.
Na simplicidade de seu enredo e de seus personagens reina, em Mad Max, a selvageria das sequências, a riqueza de seus detalhes e a pertinência dos assuntos que toca. Direto e alarmante até os ossos, este filme de George Miller - a mente por trás desse universo que chega a ser doentio de tão fascinante - nos desafia a percorrer sua estrada cheia de genuínas surpresas (a que blockbuster hoje em dia posso me permitir apontar esta característica?) e emoções, elevando os "arrasa-quarteirão" a outro nível de qualidade, poder, de insanidade.
(A ser revisto em 2D, provavelmente aumentarei a nota)
Extremamente genial. Ari Folman domina o drama de seus personagens assim como a força de suas animações como ninguém, nos envolvendo numa espiral de pensamentos e sentimentos que nos trazem de volta a suas obras mesmo quando seus tempos de tela já terminaram. Aqui, em seu segundo filme, ele edifica, com a parcimônia de um mestre, sua segunda obra-prima, um tratado filosófico sobre identidade, valores e, com um carinho ácido, sobre cinema, que transcende qualquer expectativa, e já se estabelece como inegavelmente atemporal. Um filme um tanto esnobado, mas que não deixa de ser uma das obras mais inventivas e efetivamente críticas de nosso tempo.
Não importa o quão mirabolante é o enredo, ou mesmo os furos que o roteiro comete ao executá-lo na tela, dentro de um bom Terror o que importa são os sentimentos gerados dentro de nós enquanto o assistimos, não uma lógica secundária em relação ao que acontece na tela ou um susto ocasional que poderia provocar nada menos que uma esporádica adrenalina entre torpores e desinteresse. It Follows se enquadra, de maneira magistral, no que considero um bom terror. Seja na trilha sonora apoteótica que me lembrou a extravagância de - recém-descoberto por mim - Goblin nos filmes de Dario Argento, ou a câmera que nunca para com seus incontáveis trackings, pans e closes, mas que sempre sabe para onde está indo e o que está fazendo, apresentando uma elegância abismal, e também assustadora, que constrói, fragmentadamente, uma inquietação, fulminante nos personagens, duradoura em quem os assiste. E por essa permanência, além do prazer de assistir uma obra interessante e extremamente bem executada apesar de alguns deslizes de roteiro, It Follows é o melhor filme do gênero que tive a oportunidade de assistir nessa década. Isso, infelizmente, não é dizer muito, porém, felizmente, soa como mais um suspiro de criatividade dentro do gênero, depois de não mais do que dois destaques nos anos passados.
Imagina a ironia leve mas efetiva de um Woody Allen aliada ao niilismo escrachado de Lars Von Trier, assim temos Happiness, um poço de miséria palatável, até divertida, mas ainda sim um poço fundo, sem saída e inevitávelmente tenebroso de desesperança.
Com um início belo, mas convencional, o filme vai crescendo cada vez mais, até se alçar ao status de transcendental experiência, nos entregando um conjunto cheio de emoção e beleza, realidade mas também esperança. Uma obra que nunca deixa de me emocionar.
Estendendo sua comédia ácida, irônica e existencial a um longa, depois de seu excelente curta de estreia, Six Shooter, McDonagh nos entrega em In Bruges a completude do que parece ser seu cinema: humor negro, personagens idiossincraticamente solitários e humanos, e tramas mirabolantes, mas que ao seu final sempre conseguem captar um resquício dolorido de nossa realidade.
Um roteiro que tenta fazer de seu personagem um interessante e problemático excêntrico (Será que Cumberbatch está interpretando o mesmo personagem há anos?), mas que falha totalmente, expondo o clichê que este arquétipo se transformou. Um clichê que consegue criar uma desculpa para o roteiro se encher de pura e destoante exposição, fazendo com que o filme perca seu poder dramático ao mesmo tempo que não consegue assumir com competência sua parte documental simplesmente por NÃO SER UM DOCUMENTÁRIO. Uma perda de tempo, confesso que nem terminei de assistir. Para saber mais sobre a pessoa que é Assange e seus feitos, verei o documentário.
Jarecki lança mão aqui, em seu primeiro e já estrondoso documentário, de um material espetacular e definitivamente único, em que diversos acontecidos - incluindo discussões ou mesmo momentos-chave da vida dessas pessoas - envolvendo a família do título foram gravados em vídeo. Com tal material, o filme estabelece uma estrutura em que nada é o que parece ser, sendo a resolução - a verdade - das situações e ditos apresentados no documentário, a cargo de nossos próprios julgamentos. E, mostrando desde o início o que parece ser sua temática e linha, o diretor humaniza seus "personagens" ao extremo, removendo qualquer distância que possa existir entre espectador e os indivíduos na tela, promovendo assim sentimentos contraditórios, maiores emoções e a sensação de que tudo que assistimos é perturbadora e grotescamente humano. O assassino, o pedófilo, o monstro, não é apenas mais uma manchete ou mesmo um personagem, é seu vizinho, alguém de sua família, é você. Jarecki faz um cinema de sinceridade até mesmo exacerbada em relação ao(s) objeto(s) sobre qual trata e, portanto, extremamente interessante, mesmo que a experiência não seja nada digesta. Um cineasta com que, depois de assistir e me impactar profundamente com The Jinx e Capturing the Friedmans, continuo a ter um grande e crescente respeito e curiosidade, apesar de um tanto temorosa.
Margot e o Casamento
2.9 231 Assista AgoraUm filme que explora as relações familiares de modo até demasiadamente orgânico, algo típico dos roteiros por vezes ligeiramente perturbadores de Noah Baumbach. Repleto de seres humanos imperfeitos, o que vemos em Margot e o Casamento é a interação imperfeita entre eles e consigo mesmos, sendo uma obra que funciona muito mais como um retrato, um estudo excêntrico de observação, do que qualquer outra coisa. As atuações de Jennifer Jason Leigh e de Nicole Kidman estão soberbas, capturando a fragilidade dissimulada da relação das duas irmãs, assim como todo o elenco, inclusive um contido Jack Black, que permitem a nós investir em seus personagens com a expectativa cumprida de se surpreender e até mesmo estranhar seus próximos passos.
Quase tão bom quanto o similar A Lula e a Baleia do mesmo diretor, esse é mais um filme que gostei bastante dele, realmente não entendi tamanha rejeição.
Frances Ha
4.1 1,5K Assista AgoraO P&B já nos indica desde o começo, ao assistir Frances Ha estamos embarcando num pedaço de memória, num capítulo de nossa história, da personagem título ou de qualquer um que consiga se identificar com um sentimento tão comum quanto o deslocamento. É uma viagem um tanto ingrata, sincera, mas também agradavelmente esperançosa quando a acompanhamos pelos olhos de Frances. Assim, Frances Ha são 90 minutinhos de remédio para a alma, uma brisa de autenticidade e empatia deliciosamente divertida, apaixonante por fazer os percalços cotidianos e de a longo prazo da vida de repente parecerem apenas um capítulo, uma futura lembrança, um endereço ou um filme em que participaremos e guardaremos conosco com certa irreverente e agridoce melancolia, como Frances o faria, como o fez.
Mais um filme de Noah Baumbach que evoca, boa ou má, uma sensibilidade orgânica em seus personagens. Se fosse um livro, Frances Ha sem dúvida estaria na minha cabeceira,
Lucy
3.3 3,4K Assista AgoraO filme começa até bacanudo, tosco, mas bacanudo. Com seu decorrer, porém, o fiapo que é o roteiro tenta ser mais que isso e acaba colapsando, se tornando um desastre narrativo e até mesmo estético. Lucy me fisgou ao começo, mas pouco depois apenas me rendeu boas risadas, entretanto não pelos motivos certos. Salva-se a inserção daquele documentário cosmológico do Discovery narrado pelo Morgan Freeman que eu me amarro e a boca da sempre estonteante Scarlett Johansson que aparece por quase todos os 90 minutos de filme.
Sete Psicopatas e um Shih Tzu
3.4 600Maravilhosamente subversivo, assim como os outros dois filmes do diretor. Mas parece que aqui McDonagh alcançou seu auge - ou quem sabe uma crescente - narrativo e estético, reunindo um ótimo elenco numa história cheia de humor negro, metalinguagem e acontecimentos inesperados. Mais um excelente filme para a filmografia de um diretor que nunca deixa de me surpreender.
Ruína Azul
3.5 130Um excelente filme, que evoca os épicos de antigamente numa roupagem contemporânea um tanto curiosa, utilizando-se de um inteligente jogo de cores e de uma narrativa que vai nos fornecendo gradualmente uma compreensão do que acontece tela, prendendo a atenção e dando o espaço necessário para nos surpreendermos e refletirmos sobre o destino inevitável dos personagens tão "blue" - tristes - que acompanhamos na tela.
Divertida Mente
4.3 3,2K Assista AgoraPixar is back bitches!
Depois de quase 1 década sem assistir uma animação no cinema, decidi fazer minha reestreia com este mais novo filme da Pixar, o primeiro em praticamente 3 anos. Depois da decepção completa que foi Valente, embarquei em Divertida Mente sem grandes expectativas, e o que encontrei teve aquele gostinho maravilhoso de nostalgia, da época em que assistia animações com uma história interessante e um tanto convencional - diga-se, rentável - para qualquer um se entreter, mas que por dentro trazia uma complexidade e beleza de tirar lágrimas dos olhos e trazer reflexões regadas a um otimismo singelamente infantil, mas efetivo, e extremamente necessário a nós, adultos, os céticos incorrigíveis.
Com um universo muito bem pensado e belamente construído, esse novo filme da Pixar traz de volta à lembrança os tempos de ouro do estúdio, e abre portas para o que pode ser um promissor recomeço. A ideia de trazer nossos sentimentos literalmente a vida realmente não é novidade, mas o estúdio de Os Incríveis e Wall-E conseguiu fazer disso a aventura e descoberta necessárias para tornar Divertida Mente não necessariamente uma obra-prima, mas sem dúvida um filme imperdível e provavelmente o ganhador do Oscar de Melhor Animação deste ano.
Obs: não é suportável assistir nem mais animação com dublagem. Duas personagens, Tristeza e Riley, foram tao mal dubladas a ponto de se tornarem ininteligíveis e, claro, completamente irritantes. Dublagem em animações nunca mais.
O Sétimo Continente
4.0 174 Assista AgoraEsse filme é a versão cinematográfica do meme "hello darkness my old friend". Que porrada Haneke, que porrada. Eu não precisava dessa bomba deprimente num dia que soube do cancelamento de uma de minhas série favoritas, ou talvez precisava, mas o que está feito, está feito. Quanta esterilidade, frieza e tédio filmados numa só obra, não há vida em O Sétimo Continente, a manifestação mais próxima à ela seriam os objetos, inanimados, que aparecem mais do que os personagens na tela. Mas mesmo eles refletem um vazio que chega a ser grotesco, que me faz perguntar porque tive tamanho horror ao observar a monotonia. Haneke filma aqui o que diretor nenhum filmaria, corta e omite quando nenhum outro o faria, e continua a filmar quando supomos ingenuamente que já é o bastante. O diretor leva a sério seu papel de nos fazer telespectadores do que filma e assume o compromisso de estruturar toda partícula do que ele quer mostrar, que no caso é uma combinação good vibe de sofrimento, vazio e insignificância.
Do chiado inesquecível da TV nos últimos segundos de filme levarei uma lembrança amarga, mas também, vejam só, convidativa, de assistir um filme de um autor que não tem pudor de nos fazer sentir o que ele quer que sintamos. Abraço Haneke, estuprador psicológico filha da puta.
Velozes e Furiosos 7
3.8 1,7K Assista AgoraTudo em V&F 7 é extremamente brega, da trilha sonora às atuações e roteiro, a pieguice e o artificialismo imperam, são estampados na tela com orgulho, e é desse orgulho, dessa autodepreciação assumida e honesta, que o filme consegue divertir. Basta comprar a ideia, mergulhar nesse universo estúpido, e se empolgar com cenas que não fazem o menor sentido no que provavelmente é o filme mais idiota do ano. Eu faço isso desde que comecei a assistir a franquia e a apreciá-la no 5º filme. Realmente os filmes me tiram mais risadas, satisfeitas, do que alguma empolgação com suas sequências de ação. Neste 7º filme, porém, depois de uma hora a obra se tornou cansativa e desinteressante, intercalando sequências bacanas com outras extremamente mal dirigidas, ou simplesmente genéricas, num roteiro que nuca foi grande coisa em nenhum dos filmes, mas que consegue se estruturar por completo neste em algo que já foi contado milhões de vezes. Divertido sim, mas só até certo ponto. Mesmo pondo o preconceito de lado, não consigo achar Velozes e Furiosos 7 um ótimo filme, talvez bom, mas muito mais perto de mediano do que algo minimamente satisfatório.
Obs: de homenagem não se faz filme. Abraços.
Amor Pleno
3.0 558Em seu último filme, Malick, no microscosmos construído em A Árvore da Vida, louvou o amor como o caminho para a vida. Em Amor Pleno, como um complemento, ele o desconstrói.
"Você pensou que tínhamos a eternidade. Esse tempo não existe."
São muitos os casais na filmografia de Malick, exceto por A Árvore da Vida, todos os seus filmes são centrados na união entre dois indivíduos e seus desencantos, inclusive em relação ao laço que os une. Aqui, porém, diferente do filme de 2011, começamos o filme no auge de nossos personagens, o deleite do casal se dá no amor que os une, mais que um sentimento é uma percepção, de que estão seguros, salvos e pertencentes. E é dessa percepção que nasce o desencanto de To The Wonder, é sobre o amor prisioneiro - um subterfúgio tão sutil - que Malick divaga nesta incrível obra.
Seguindo a risca a estética extremamente solene que iniciou em Tree of Life, tanto visual quanto narrativa, o sentimento acaba novamente por sobrepor a percepção ou a lógica, sendo o diálogo conosco feito a partir de simples metáforas ou do uso da natureza, e dessa vez ainda mais intimamente, dada a ausência de diálogos na obra. A partir dessa via, acompanhamos a mulher vivida por Olga Kurylenko surrando para nós suas alegrias e tormentos em francês, o padre de Javier Bardem implorando por reconhecimento divino em espanhol e do homem de Ben Affleck recebemos apenas o silêncio de um humano incompreendido, que se vê preso a seu próprio ideal de felicidade. A presença de legendas e as diferenças de linguagem, ou a falta dela, de cada um, acentua o fato de que eles não compreendem-se, mas não deixam de tentar alcançar alívio mergulhando uns nos outros.
As narrações em off imperam por todo o filme, sendo essa a obra do diretor em que o artifício é mais predominante. E são dessas divagações, do vazio cronológico e da imensidão imagética, que a obra se estende para próxima de nós, sugerindo mais do que afirmando, sussurrando no lugar de brandir exposição, permitindo que quem a assista possa ter parte na sua constituição, e que o inverso também aconteça.
Assim, o amor pleno do título nacional, a "maravilha" do original e a eternidade efêmera da qual a personagem se lamenta, não se mostra una, mas sim individual, até mesmo solitária, feita das parcelas de nosso ser. E o filme e seus personagens são apenas uma peculiar e belíssima sugestão de Malick para o caminho que se deve trilhar até esta, seja humana ou divina, plena elevação.
O Novo Mundo
3.2 240 Assista AgoraBelíssimo, como todo filme de Mallick. Novamente utilizando a iluminação natural e dessa vez com outra mestre na fotografia, Lubezki, O Novo Mundo é realmente mais um deleite visual na filmografia do diretor. Sua primeira hora, repleta de beleza, poesia e expectativas quanto aos acontecimentos que sabemos que estão por vir na história desta não nomeada Pocahontas, dão lugar, porém, à repetição, narrativa e até mesmo poética, e logo ao cansaço, dada a longa duração da obra. Assim, momentos-chave que ocorrem até o final do filme perdem seu poder narrativo, engolfados pelo excesso de Malick, geralmente um ótimo "podador" de seus filmes.
Ainda sim, O Novo Mundo é uma experiência gratificante, que merece e deve ser apreciada com a devida paciência. É o pior filme que assisto do diretor, e não é nem de longe um tropeço, aqui ele revisita mais uma vez suas temáticas envolvendo a natureza, o desencanto e a autoconsciência, mas numa escala épica, devidamente esmerada, que com um corte adequado seria mais um primor na ficha do diretor.
(Acabei sabendo que assisti à edição estendida de 171 minutos, e que há outras com 108 e 135 minutos. Com isso, talvez estejam explicados meus receios quanto ao filme que assisti. Não tenho dúvida de que a versão para o cinema será mais do meu agrado, talvez até uma obra-prima. Sem dúvida The New World, tem potencial para isso).
Cinzas no Paraíso
4.0 173 Assista AgoraUma das experiências mais gratificantes que tive com a 7ª arte, visualmente falando. A fotografia do filme, que nos provê momentos intensos e belos da "hora mágica" em uma iluminação aparentemente toda natural, é um deleite e certamente o auge visual de um diretor que só nos apresenta trabalhos primorosos nesse quesito. Aparte de cada quadro do filme poder ser emoldurado como uma obra de arte, a história que estes quadros contam também não fica muito atrás, aliada ao visual paradisíaco, o trio de protagonistas assistem, assim como em Terra de Ninguém, seus ideais de felicidade formarem-se, concretizarem-se e logo ruírem diante de suas escolhas, e Mallick usa da narração em off e de referências bíblicas em meios a seus deslumbrantes recursos visuais, para traçar essa trajetória no filme de maneira única, inserindo sua poesia tão característica e fazendo de Days of Heaven uma experiência inesquecível.
Terra de Ninguém
3.9 193Há espaço para algum julgamento moral no que se refere à ideia de felicidade? Terrence Mallick certamente não o impõe à trajetória dos personagens de seu primeiro longa. A pureza inexperiente de Holly de encontro com a sórdida e cativante presença de Kit, resulta numa jornada em que ambos encontram a liberdade e paz que almejavam, um no outro. Mas, a medida que o casal percorre as estradas desertas em que transitam seus êxodos e fugas, desencantam-se, até que a única liberdade possível de ser buscada e alcançada é a de si próprios. Mallick, mostrando seu primor estético desde seu início de carreira, apresenta e mantêm o tom contrastantemente leve do filme por todo o seu decorrer, deleitando-nos com a poesia inconstante e despreocupada de Holly, ao mesmo tempo que nos aproxima cada vez mais do personagem de Martin Sheen, ambos engolfados pela natureza solene e constante que Mallick tanto preza e que captura na tela de maneira sempre, sempre fascinante. Mais um filmaço, na lista que só cresce, de filmes que assisti deste grande mestre.
O Duplo
3.5 518 Assista AgoraÓtimas atuações num jogo de luz fascinante e nada discreto. Tudo soa deliciosamente artificial no filme, o que permite o diretor fazer o que quiser dele, das mais hilárias ou bizarras sequências. Bem interessante, uma obra de fato intrigante, como se deve ser quando trata de um duplo.
Além da Linha Vermelha
3.9 383 Assista AgoraEste foi o segundo filme que assisti de Terrence Mallick e encontrei nada menos do que esperava: um primor técnico impecável e a poesia pura de Mallick amargando tanto quanto adoçando toda a obra e seus respectivos personagens. Além da Linha Vermelha é um filme que chega a incomodar, a doer, diante de sua capacidade de tocar, estendendo os devaneios e reflexões dos seres humanos que acompanhamos durante as quase 3 horas de filme, em sentimentos possivelmente comuns a nós: morte, natureza e laços.
Aparte destes sentimentos que me foram passados, porém, já concluo que é um filme que será construído dentro de mim aos poucos, assim como aconteceu com A Árvore da Vida, e que, logo, com certeza irei revisitar. Mas uma coisa é certa, Mallick me capturou mais uma vez.
Coração Mudo
3.5 15 Assista AgoraCoração Mudo é uma daquelas obras que faz com que, quando surgem os créditos e sua delicada música começa a tocar, nos encolhamos, com os olhos fitando o vazio enquanto se pensa, absorve e, principalmente, sente-se o que foi visto.
Um drama familiar que não se expõe ao novelesco, graças a austeridade de sua direção e a sutileza madura de seu roteiro, deixando as explosões de sentimentos com que os personagens inevitavelmente passam - dada a situação que estabelece todo o filme - a serem percebidas através de pequenos detalhes, formando um intimismo e, consequentemente, uma empatia crescente com o que acontece na tela, que acabam provocando-nos, senão lágrimas, profundos e verdadeiros sentimentos, compartilhados com a família que acompanhamos na tela.
Ao lidar com temáticas tão universais quanto complexas como tempo, morte e laços, três que inegavelmente entrelaçam-se, o filme de Bille August toma para si o desafio de trazer o espectador para próximo destas difíceis questões sem enegrecê-las demais ou simplificá-las. Para tal, Coração Mudo nos envolve por sua sinceridade, um senso de realidade que é, claro, agridoce por boa parte de sua duração, mas que mesmo assim, quando decide sair dessa mistura, não falha em nos prover momentos de pura alegria tanto quanto de devastadora tristeza, dando o tom ambiguamente contemplativo que é tão efetivo e recorrente nos filmes escandinavos. Sem quase nunca citá-las diretamente, Coração Mudo cumpre com suas temáticas com primor, dando ao seu desfecho um temeroso crepúsculo,que não deixar de ser tão belo quanto o tímido alvorecer que inicia está incrível e tocante obra.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraWhat a lovely day.
Eu testemunhei essa insanidade. E me percebi retornando à um ritmo normal de respiração apenas quando os créditos surgiram.
Na simplicidade de seu enredo e de seus personagens reina, em Mad Max, a selvageria das sequências, a riqueza de seus detalhes e a pertinência dos assuntos que toca. Direto e alarmante até os ossos, este filme de George Miller - a mente por trás desse universo que chega a ser doentio de tão fascinante - nos desafia a percorrer sua estrada cheia de genuínas surpresas (a que blockbuster hoje em dia posso me permitir apontar esta característica?) e emoções, elevando os "arrasa-quarteirão" a outro nível de qualidade, poder, de insanidade.
(A ser revisto em 2D, provavelmente aumentarei a nota)
O Congresso Futurista
3.9 295 Assista AgoraExtremamente genial. Ari Folman domina o drama de seus personagens assim como a força de suas animações como ninguém, nos envolvendo numa espiral de pensamentos e sentimentos que nos trazem de volta a suas obras mesmo quando seus tempos de tela já terminaram. Aqui, em seu segundo filme, ele edifica, com a parcimônia de um mestre, sua segunda obra-prima, um tratado filosófico sobre identidade, valores e, com um carinho ácido, sobre cinema, que transcende qualquer expectativa, e já se estabelece como inegavelmente atemporal.
Um filme um tanto esnobado, mas que não deixa de ser uma das obras mais inventivas e efetivamente críticas de nosso tempo.
Corrente do Mal
3.2 1,8K Assista AgoraNão importa o quão mirabolante é o enredo, ou mesmo os furos que o roteiro comete ao executá-lo na tela, dentro de um bom Terror o que importa são os sentimentos gerados dentro de nós enquanto o assistimos, não uma lógica secundária em relação ao que acontece na tela ou um susto ocasional que poderia provocar nada menos que uma esporádica adrenalina entre torpores e desinteresse. It Follows se enquadra, de maneira magistral, no que considero um bom terror.
Seja na trilha sonora apoteótica que me lembrou a extravagância de - recém-descoberto por mim - Goblin nos filmes de Dario Argento, ou a câmera que nunca para com seus incontáveis trackings, pans e closes, mas que sempre sabe para onde está indo e o que está fazendo, apresentando uma elegância abismal, e também assustadora, que constrói, fragmentadamente, uma inquietação, fulminante nos personagens, duradoura em quem os assiste. E por essa permanência, além do prazer de assistir uma obra interessante e extremamente bem executada apesar de alguns deslizes de roteiro, It Follows é o melhor filme do gênero que tive a oportunidade de assistir nessa década. Isso, infelizmente, não é dizer muito, porém, felizmente, soa como mais um suspiro de criatividade dentro do gênero, depois de não mais do que dois destaques nos anos passados.
Bem-Vindo à Casa de Bonecas
3.9 228De fato uma hipérbole, carregada de ironia, mas que consegue captar vislumbres da realidade de modo inusitado, mas cativante.
Felicidade
4.1 377Imagina a ironia leve mas efetiva de um Woody Allen aliada ao niilismo escrachado de Lars Von Trier, assim temos Happiness, um poço de miséria palatável, até divertida, mas ainda sim um poço fundo, sem saída e inevitávelmente tenebroso de desesperança.
As Aventuras de Pi
3.9 4,4KCom um início belo, mas convencional, o filme vai crescendo cada vez mais, até se alçar ao status de transcendental experiência, nos entregando um conjunto cheio de emoção e beleza, realidade mas também esperança. Uma obra que nunca deixa de me emocionar.
Na Mira do Chefe
3.7 361Estendendo sua comédia ácida, irônica e existencial a um longa, depois de seu excelente curta de estreia, Six Shooter, McDonagh nos entrega em In Bruges a completude do que parece ser seu cinema: humor negro, personagens idiossincraticamente solitários e humanos, e tramas mirabolantes, mas que ao seu final sempre conseguem captar um resquício dolorido de nossa realidade.
O Quinto Poder
3.3 176 Assista AgoraUm roteiro que tenta fazer de seu personagem um interessante e problemático excêntrico (Será que Cumberbatch está interpretando o mesmo personagem há anos?), mas que falha totalmente, expondo o clichê que este arquétipo se transformou. Um clichê que consegue criar uma desculpa para o roteiro se encher de pura e destoante exposição, fazendo com que o filme perca seu poder dramático ao mesmo tempo que não consegue assumir com competência sua parte documental simplesmente por NÃO SER UM DOCUMENTÁRIO. Uma perda de tempo, confesso que nem terminei de assistir. Para saber mais sobre a pessoa que é Assange e seus feitos, verei o documentário.
Na Captura dos Friedmans
3.9 57 Assista AgoraJarecki lança mão aqui, em seu primeiro e já estrondoso documentário, de um material espetacular e definitivamente único, em que diversos acontecidos - incluindo discussões ou mesmo momentos-chave da vida dessas pessoas - envolvendo a família do título foram gravados em vídeo. Com tal material, o filme estabelece uma estrutura em que nada é o que parece ser, sendo a resolução - a verdade - das situações e ditos apresentados no documentário, a cargo de nossos próprios julgamentos. E, mostrando desde o início o que parece ser sua temática e linha, o diretor humaniza seus "personagens" ao extremo, removendo qualquer distância que possa existir entre espectador e os indivíduos na tela, promovendo assim sentimentos contraditórios, maiores emoções e a sensação de que tudo que assistimos é perturbadora e grotescamente humano. O assassino, o pedófilo, o monstro, não é apenas mais uma manchete ou mesmo um personagem, é seu vizinho, alguém de sua família, é você.
Jarecki faz um cinema de sinceridade até mesmo exacerbada em relação ao(s) objeto(s) sobre qual trata e, portanto, extremamente interessante, mesmo que a experiência não seja nada digesta. Um cineasta com que, depois de assistir e me impactar profundamente com The Jinx e Capturing the Friedmans, continuo a ter um grande e crescente respeito e curiosidade, apesar de um tanto temorosa.