When we turn our heads to the left it means "I love you more than anything in the world" and when we turn our heads to the right it means "watch out, we're in danger". We had to be very careful in the beginning not to mix up "I love you more than anything in the world" with "watch out, we're in danger".
Lindíssimo, além de divertido e pertinente. O cinema independente vive e não poderia ser mais inspirador vê-lo através de Tangerine na tela. As escolhas estéticas - filmagem com um iphone, a fotografia que se alia ao cenário urbano de LA e a trilha energética - junto às atuações maravilhosas de Kiki Kitana e Mya Taylor e seus diálogos/situações tão tragicômicos são de uma sinceridade tocante, agridoce em seus mais variados sentidos e que fazem os poucos 90 minutos de filme passarem ainda mais rápido, como se fossem apenas 10. Não acho que o filme tem o cacife pra ser um dos melhores do ano, talvez até por sua consciente opção pela simplicidade, mas é certamente uma inesquecível surpresa, do tipo que a gente guarda para rever todo ano com o mesmo prazer e que cresce a cada revisita ou pensamento que depositamos nele.
H-O-R-R-O-R-O-S-O. Só J-Law salva nesse filme. O resto, da trilha sonora ao elenco, é usado de maneira inconstante, óbvia e até mesmo machista, indo na contramão do que uma história dessas poderia representar. E pior, isso tudo é executado dentro de toda aquela autoindulgência do diretor que acha estar filmando ouro em vez da merda que é. Superficial até o talo, Joy foi até uma surpresa bem grande para mim que esperava algo ruim e me deparei com um filme tenebroso. Dito isso, só resta esperar J-Law sair dessa cilada e, sim, dizer sdds American Hustle depois dessa atrocidade. FIM DE CARREIRA O RUSSEL, FIM DE CARREIRA pfvr.
É um filme bastante experimental, como já anunciava a sinopse e como se mostrou ao final da sessão, onde metade da sala estava dormindo e a outra metade já havia ido embora inconformada. Experimental, sim, entretanto não de todo abstrato. Formado por cenas aparentemente avulsas que desnudam, pouco a pouco e de modo inusitado - até mesmo tragicômico - o anticlímax cotidiano, foi preciso certa paciência para compreender para onde o diretor nos queria levar diante de tantos desfechos sem fecho algum e situações tão diferentes entre si. Qual a ligação entre elas? O que poderia uni-las e talvez construir um significado sequer? É por fazermos essas indagações durante o filme que o diretor deve tê-lo construído de tal modo, e certamente tido seu gozo como autor após sua confirmação. Pois o tão esperado espetáculo não existe, o clímax é debochadamente fugidio e o viver dos humanos na tela são literalmente o que anuncia o título: gente, em lugares, vivendo, confrontando-se, entendiando-se e por fim anestesiando-se em uma espécie de desaprendizado comum, algo sintomático na modernidade que faz com que assistir a uma obra que ousa imergir-nos na frustração cotidiana real seja um convite ao sono, pois, e aqui eu e meus olhos bastante acordados ousam discordar, através do espelho talvez as coisas nem sejam tão cabulosas assim...
Fantástico, surpreendente e deleitosamente singular, Miguel Gomes constrói aqui uma de suas mais inventivas e tresloucadas narrativas. Pondo ao chão, em seu hilário prólogo, suas pretensões como o exímio contador de histórias que é apenas para depois construir uma estrutura extremamente imersiva e pertinente, o diretor faz de contextos reais belas histórias e de belas histórias contextos inusuais e excêntricos mas também críticos e inteligentes, à sua própria maneira. Pois de risos nervosos, mas bem dados, foram feitas as sessões em que estive dos dois primeiros volumes e é assim que se dá a singularidade do cineasta português: uma irreverência poética e tragicômica que põe o espectador completamente fora do controle, e o deixa ali para nunca mais querer sair. (Ou pelo menos, nesse caso, até o terceiro volume).
Adorável em suas atuações e estética e empático em várias de suas divertidas situações, o filme acabando derrapando em seu roteiro que no geral se mostra bastante frágil - dado à saídas fáceis e até mesmo contraditórias - em relação aos outros filmes do singular diretor e roteirista que é Noah Baumbach. É certamente um dos filmes que mais me divertiu esse ano e que, pessoalmente, se destaca na filmografia do diretor, mas que no cru não é uma de suas obras mais interessantes.... Não é nenhum Frances Ha, Lula e a Baleia e nem mesmo um Margot At The Wedding :\ Mas, apesar disso, é um filme tão inconvencionalmente atraente quanto Greta Gerwig (ou por causa dela?) <3
Verborrágico a cada sequência, A Chinesa poderia facilmente ser confundido com um filme panfletário, se não carregasse toda uma ironia e crítica a cada frame filmado. Aqui Godard constrói - com um incômodo e imersivo esmero - um texto, todo um pensamento e seus desdobramentos, ao mesmo tempo que o vai expondo e desconstruindo somente (com exceção de uma cena) com a imagem, com o cinema - sua arte - na tela. Dessa maneira, a Chinesa se torna este choque deleitosamente irônico de linguagens e ideias, trazendo momentos de letargia típicos do diretor mas que no filme funcionam em prol de sua narrativa e culminam em sequências, para dizer o mínimo, bastante inspiradas e imageticamente fascinantes - consequências escassas, mas valiosas, de quando Godard decide largar o osso e realmente nos impor uma linguagem(ns) com objetivos definidos.
Depois de ganhar, merecidamente, seu Oscar com o estrondoso A Grande Beleza, Sorrentino nos entrega em Youth uma obra tão deslumbrante quanto, envolvendo-nos numa beleza surpreendente em cada quadro sem nunca soar gratuito e refinando seu apuro estético para um viés mais objetivo, fazendo de Youth um filme mais acessível e eficiente que seu antecessor. Assim, com esse novo esplendor, Sorrentino se estabelece como um dos cineastas mais fascinantes em atividade, e tem em Youth uma das melhores obras que tive o prazer de assistir esse ano até o momento
Um documento belo, pesado e extremamente competente em sua maturidade e objetividade. Por tal, eu não tô muito bem depois de assisti-lo :|
"lf she had lived, l would have said 'Slow down, you're too important. Life teaches you really how to live it, if you can live long enough.' " (Tony Bennet)
O Olmo e a Gaivota está longe de ser um filme ruim, mas me fez quase tomá-lo como tal tamanho o desinteresse gradual que a obra fez crescer em mim. Primeiro que, pelo menos para mim, o filme não traz nada de novo em sua temática, trazendo a desglamourizada gravidez de uma mulher e sua angústia quanto aos processos que passa em decorrência disso. Mas isso sem grande insights ou "novidades" (olha a ênfase nas aspas), repetindo algo que eu já havia visto (e lido), de maneira mais discreta, em Precisamos Falar Sobre Kevin, por exemplo. A "novidade" ficaria pela forma narrativa que o filme toma, ao intercalar e mesclar ficção e realidade para nos aproximar da personagem/atriz gestante. Mas o que disso resultou foi num distanciamento cada vez maior entre mim e os personagens no decorrer do filme, em grande parte por suas quebras na ficção ou na realidade, deixando sequencias soltas em ambos os domínios e eu, espectador, a deriva, tentando entender ou pelo menos sentir a angústia tão presente na tela, mas me vendo cada vez mais indiferente a ela.
É um filme que certamente tenho que rever e que ainda tem que matutar um pouco aqui na minha cabeça. São vários elementos - e bastantes inusuais - presentes, a impressão que tenho agora é de que sua junção não funcionou, mas dou a Petra Costa o benefício da dúvida, por apreço por seu primeiro trabalho, Elena, e por desconfiança da minha incapacidade de empatia neste caso em específico. A ser revisitado.
Não sei muito o que dizer no momento... acho que apenas sentir. O filme cumpriu exatamente o que eu esperava dele: uma elevação magnífica da obra literária, mal escrita mas deveras interessante em ideias. Mesmo que limitado por seu cunho comercial, tanto nos lugares comuns e exposições que são recorrentes nesse meio quanto com sua penosa classificação indicativa PG 13, Mockinjay não se deixa macular, em seu todo, por esse seu âmbito. Pelo contrário, aquela urgência pernóstica que surgiu no último filme, para prender a atenção da minha (e das próximas) desatenta geração acredito eu, aqui casa com perfeição por praticamente todo o filme, tornando duas (ou talvez três?) cenas magistrais da obra uma avalanche de emoções, digna do evento que a conclusão de uma franquia deve ser. E o filme ainda vai além de agradar apenas como espetáculo, papel primordial de uma arrasa quarteirão desses, sendo fiel às ideias que Collins tentou - tal mal - passar em seus livros e, portanto, inserindo ideias e desfechos políticos fora do comum para a epidemia de distopias por aí, atingindo não diria uma profundidade, mas um grau de inteligência e cinismo maior do que qualquer blockbuster nos últimos anos, algo que pode passar batido pela maior parte de seu público, mas que me faz bater palmas por sua rasa, mas bem construída, pertinência.
OBS: Pra ver e rever a cena do esgoto e a do bombardeio, duas das cenas que eu mais esperava e que não me decepcionaram nem um pouco. Das melhores do ano.
OBS²: A cena final infelizmente foi amenizada, danos colaterais de ser uma franquia milionária.
OBS³: no CLÍMAX do filme, na hora de uma explosão, cai um caixote contendo uma luz de emergência em cima da moça atrás de mim. Conclusão: as luzes acenderam, o filme continuou rolando e eu não sabia se assistia o filme ou verificava se a mulher estava viva. Foi um dia de escolhas difíceis.
É irônico que em meio a tantas construções, críticas e ideias sociais deveras marxistas, mas principalmente humanitárias, o filme falhe logo em desenvolver o lado humano de sua própria narrativa, sendo incapaz de criar qualquer empatia entre mim e os personagens que acompanhava na tela. E em decorrência disso veio o desinteresse, a indiferença quanto aos acontecimentos, reviravoltas, e cenas de ação que se seguiam num fluxo constante, e até mesmo um pouco repetitivo, até culminarem num final que acabou por validar ideologicamente tudo que eu havia visto até então e adicionar um quê de originalidade que faltava ao filme até seu terceiro ato, mas que não conseguem salvar a obra de suas falhas dramáticas, deixando-a - se não como um grande desperdício de potencial em sua direção, enredo e atores - exposta como um filme bastante esquecível.
Que filme! É incrível que, por mais que os torne difíceis de assistir, o estilo letárgico de Sofia Coppola soa sempre extremamente condizente com seus filmes quando os créditos descem. As Virgens Suicidas é um filme da construção de uma situação, um nebuloso e ingrato contexto em que somos levados a crer que estamos nos bastidores, o que não poderia estar mais errado. De quem é a culpa dos acontecimentos que dão título à obra? O que se passa na mente das virgens e o que foi perdido durante o decorrer do filme para chegar ao seu repentino e até mesmo irrelevante final? As hipóteses que surgem, as desconfianças e pretensiosas certezas são o objetivo de Coppola de mexer conosco, nos instigar a remexer uma questão que não tem resposta dentro deste contexto tão específico mas que guarda um universo de complexidades que nem mesmo a diretora ousa adentrar, moldando, em vez disso, um mero cenário, repleto de provocantes e perturbadores detalhes e deixando os atos desta tragédia se darem por si só, com a distância habitual de quem conhece a impenetrabilidade de um vazio. E a esperança de tentar retratá-lo sem se atrever a compreendê-lo. Primoroso debut.
Acredito que "Lebowski" tem um dos melhores roteiros já escritos para um filme, e o melhor é que sua execução o acompanha em suas pretensões, e mantêm sua inegável qualidade. Os Coen construíram aqui primeiramente uma grande farsa, todo o plot que move o filme é legado a segundo plano ou esticado e comprimido - completamente mirabolante - a bel prazer de seus personagens, tanto que a bola de neve que se forma até o final da película se resolve em questão de segundos, para mais uma vez voltarmos ao que importa realmente: The Dude, Marty e, não menos importante, Donnie. Personagens riquíssimos em suas idiossincrasias, que representam vertentes bastantes excêntricas, mas surpreendentemente críveis, de sua geração, do mundo de que se tornaram produto, e que agora devem lidar com a transformação do mesmo e os inevitáveis conflitos consequentes disso. Paranoias, regionalismos, deboísmo (Lebowski "inventou" isso há mais de uma década guys), grandes e pequenas questões, hipérboles mundiais e campeonatos de boliche, é tudo lapidado com perfeição e digníssima sutileza em torno deste três personagens e suas desimportantes aventuras, formando uma obra única, completamente inigualável em seu esmero e atmosfera e que é sempre um singular deleite revisitar para observar os pequenos detalhes que fazem de O Grande Lebowski a obra-prima dos Coen.
De uma elegância e inocência sem igual, o 1º ato de Aurora é um dos momentos mais sublimes que já tive com a 7ª arte e sem dúvida o mais emocionante que tive o prazer de apreciar na grande tela. Murnau toca aqui em temas que reverberam até hoje no cinema em suas várias vertentes e, apesar dos últimos atos um tanto repetitivos, constrói uma obra que acredito ser inigualável dado ao senso estético do diretor e um contexto muito menos cético que os de hoje no cinema e na psique das pessoas. Trazendo sensações tão primitivas quanto primordiais, Sunrise é um exemplo arrebatador do que o cinema já pôde fazer e que ainda o faz de tempos em tempos, renovando meu total rendimento pela arte e pelo fiapo de vida que ela emula.
Uma das tretas mais malignas da década, Jagten é de um primor perturbador e revoltante em nos inserir na fragilidade da moral e do que é permitido numa sociedade diante de diferentes contextos. "Sociedade de merda" numa foi tão pouco clichê quanto no término desta incrível obra de Vinterberg, mas ainda sim, quem pode julgá-la?
Se o filme tivesse tomado uma linha menos novelesca e dramática ao tratar de seu tema já tão dramático, talvez tivesse saído algo mais autentico e interessante em meio ao inevitável lugar comum que é lidar com dramas adolescentes. Entretanto a obra só reforça esse desgaste ao romantizar crescentemente sua simples mensagem e, com ocasionais tentativas de chocar, frequente didatismo sobre o que facilmente poderia ser percebido na tela posterior ou anteriormente. A presença constante do tema melancolicamente pueril em piano nas cenas mais dramáticas e a música brega tocada nos créditos escancaram a inconsciência do diretor em lidar com um enredo até bastante interessante e pertinente, mas que perde pouco a pouco seu potencial de reflexão em meio ao corrosivo e pegajoso melodrama.
Confesso que esperava mais, bem mais. O filme se mostra bastante interessante em sua primeira hora e é elevado pela atuação fascinante de Hardy, mas passado este tempo se torna repetitivo e logo um tanto desinteressante. É o filme que menos gostei de Refn.
O filme subiu bastante nessa revisão, já não o acho mais um vazio completo e consegui observar elementos interessantes que Refn conseguiu inserir e outros que ele apenas tentou mas não conseguiu edificar. A começar pela estética, irrepreensível, a obra insere seus personagens numa espécie de inferno, ou ora limbo, de neon, em que a balança moral e também mortífera está no antagonista do personagem de Gosling. Este último apresenta uma das piores atuações de sua carreira, interpretando um personagem que não necessitava da inexpressividade vulcânica que o ator apresentou no magnífico Drive, assim fazendo-o destoar dos conflitos em que ele é inserido, um conflito moral, espiritual e físico. Se Refn consegue cumprir com sua estética o embate carnal e maniqueísta entre seus personagens e situações, falha em supor que uma pretensa aura espiritual viria de bandeja por conseguinte, acabando por soar bastante pedante e até mesmo incompetente em algumas sequências em que nada funciona ou em diálogos não minimalistas, mas sim incomodamente pobres que seus personagens por vezes soltam. Este é um filme de dois extremos, sutil e escatológico, que nem sempre se apresentam da maneira mais coerente, mas que tornam a experiência de assisti-los se fundir uma das mais interessantes da filmografia de Refn.
Um drama seco, perturbador e certeiro em suas intenções, como é de praxe nos filmes deste assustador e genial velhinho. Sem dúvidas um dos filmes mais inteligentes da década passada, Haneke trabalhou aqui suas frias sutilezas de maneira mais clara que nos outros trabalhos que já assisti dele. O resultado foi o de uma crescente e incômoda consciência da crueldade do filme, seu diretor, enredo, afirmação e personagens. Mais um filme de Michael Haneke que não passa nem um pouco batido no meu psicológico.
De fato um filme belíssimo em sua mensagem e visual, apresentando uma estrutura narrativa empolgante assim como suas situações: embates épicos, sacrifícios honrados e uma melancolia oriental típica, adequada parava envolver estes eventos. Herói, porém, perde bastante de seu potencial dramático, um dos cernes de várias sequências do filme, ao sobrepô-lo com fetichismo visual em lugar de ambos se complementarem, tornando-se ao final uma obra desbalanceada entre suas pretensões estéticas e narrativas. Com certeza vale a assistida, mas fica o sentimento de que se Zhang Yimou tivesse pesado menos a mão nas explosivas situações da obra, teríamos um filme mais delicado em seu todo e duradouro em nossas mentes
Gigantesco, este continua sendo meu segundo filme favorito da década e ainda cheio de ideias a decifrar, moldar e conceber, o que pra mim é extremamente fascinante. Assistir Holy Motors é, em primeira instância, entrega, que na revisão foi mais consciente, para logo em seguida embarcar na melancolia, humor, escatologia, tristeza e beleza que o filme nos entrega através de uma viagem sobre o cinema e todas as suas formas e contextos em uma realidade em que aparentemente a realidade ruiu, a arte foi ignorada de vez e sobrevive apenas através de sua inimiga/amiga central: a ruída realidade. A partir daí temos diversas sequencias incríveis recheadas de ideias sutis, simples ou complexas, esboços e universos que constroem um filme indescritível que só pode ser detalhado através da experiência e absorvido, pouco a pouco, revisão a revisão, com os olhos fechados para os limites do real e a mente aberta para um suspiro saudosista, um clamor de orgulho, um pedido desesperado de ajuda ou uma resignação agridoce. Seja apenas um ou todos eles juntos, Holy Motors é sem dúvida um explosivo campo de batalha e, como um cineasta bem chatinho disse uma vez, assim também é o cinema, a realidade irreal do universo dessa obra de Carax e quem sabe de quantos outros?
Confuso e de uma beleza singular, Cinzas do Passado é um convite de Kar-Wai para adentrarmos o onirismo da memória e a tempestade de sentimentos que a envolve até chegarmos, enfim, no cerne do cinema deste fascinante diretor: o amor. Esteticamente irrepreensível, esta foi mais uma experiência interessante que Kar-Wai me proporcionou, especialmente em sua narrativa onde inseriu uma estrutura de fábula épica que me pareceu, mais que tudo, um western filosófico, para realçar nosso interesse pelo desfecho de cada "estação" da obra. A ser revisto, pra ver se entendo melhor toda essa nebulosidade que a memória - ou a falta dela - tão humana dos personagens inseriram à trama.
O Lagosta
3.8 1,5K Assista AgoraWhen we turn our heads to the left it means "I love you more than anything in the world" and when we turn our heads to the right it means "watch out, we're in danger". We had to be very careful in the beginning not to mix up "I love you more than anything in the world" with "watch out, we're in danger".
Tangerina
4.0 278 Assista AgoraLindíssimo, além de divertido e pertinente. O cinema independente vive e não poderia ser mais inspirador vê-lo através de Tangerine na tela. As escolhas estéticas - filmagem com um iphone, a fotografia que se alia ao cenário urbano de LA e a trilha energética - junto às atuações maravilhosas de Kiki Kitana e Mya Taylor e seus diálogos/situações tão tragicômicos são de uma sinceridade tocante, agridoce em seus mais variados sentidos e que fazem os poucos 90 minutos de filme passarem ainda mais rápido, como se fossem apenas 10. Não acho que o filme tem o cacife pra ser um dos melhores do ano, talvez até por sua consciente opção pela simplicidade, mas é certamente uma inesquecível surpresa, do tipo que a gente guarda para rever todo ano com o mesmo prazer e que cresce a cada revisita ou pensamento que depositamos nele.
Joy: O Nome do Sucesso
3.4 778 Assista AgoraH-O-R-R-O-R-O-S-O. Só J-Law salva nesse filme. O resto, da trilha sonora ao elenco, é usado de maneira inconstante, óbvia e até mesmo machista, indo na contramão do que uma história dessas poderia representar. E pior, isso tudo é executado dentro de toda aquela autoindulgência do diretor que acha estar filmando ouro em vez da merda que é. Superficial até o talo, Joy foi até uma surpresa bem grande para mim que esperava algo ruim e me deparei com um filme tenebroso.
Dito isso, só resta esperar J-Law sair dessa cilada e, sim, dizer sdds American Hustle depois dessa atrocidade. FIM DE CARREIRA O RUSSEL, FIM DE CARREIRA pfvr.
Pessoas em Lugares
2.6 1É um filme bastante experimental, como já anunciava a sinopse e como se mostrou ao final da sessão, onde metade da sala estava dormindo e a outra metade já havia ido embora inconformada. Experimental, sim, entretanto não de todo abstrato. Formado por cenas aparentemente avulsas que desnudam, pouco a pouco e de modo inusitado - até mesmo tragicômico - o anticlímax cotidiano, foi preciso certa paciência para compreender para onde o diretor nos queria levar diante de tantos desfechos sem fecho algum e situações tão diferentes entre si. Qual a ligação entre elas? O que poderia uni-las e talvez construir um significado sequer? É por fazermos essas indagações durante o filme que o diretor deve tê-lo construído de tal modo, e certamente tido seu gozo como autor após sua confirmação.
Pois o tão esperado espetáculo não existe, o clímax é debochadamente fugidio e o viver dos humanos na tela são literalmente o que anuncia o título: gente, em lugares, vivendo, confrontando-se, entendiando-se e por fim anestesiando-se em uma espécie de desaprendizado comum, algo sintomático na modernidade que faz com que assistir a uma obra que ousa imergir-nos na frustração cotidiana real seja um convite ao sono, pois, e aqui eu e meus olhos bastante acordados ousam discordar, através do espelho talvez as coisas nem sejam tão cabulosas assim...
As Mil e Uma Noites: Volume 1, O Inquieto
4.1 28 Assista AgoraFantástico, surpreendente e deleitosamente singular, Miguel Gomes constrói aqui uma de suas mais inventivas e tresloucadas narrativas. Pondo ao chão, em seu hilário prólogo, suas pretensões como o exímio contador de histórias que é apenas para depois construir uma estrutura extremamente imersiva e pertinente, o diretor faz de contextos reais belas histórias e de belas histórias contextos inusuais e excêntricos mas também críticos e inteligentes, à sua própria maneira. Pois de risos nervosos, mas bem dados, foram feitas as sessões em que estive dos dois primeiros volumes e é assim que se dá a singularidade do cineasta português: uma irreverência poética e tragicômica que põe o espectador completamente fora do controle, e o deixa ali para nunca mais querer sair.
(Ou pelo menos, nesse caso, até o terceiro volume).
Mistress America
3.5 210Adorável em suas atuações e estética e empático em várias de suas divertidas situações, o filme acabando derrapando em seu roteiro que no geral se mostra bastante frágil - dado à saídas fáceis e até mesmo contraditórias - em relação aos outros filmes do singular diretor e roteirista que é Noah Baumbach.
É certamente um dos filmes que mais me divertiu esse ano e que, pessoalmente, se destaca na filmografia do diretor, mas que no cru não é uma de suas obras mais interessantes.... Não é nenhum Frances Ha, Lula e a Baleia e nem mesmo um Margot At The Wedding :\ Mas, apesar disso, é um filme tão inconvencionalmente atraente quanto Greta Gerwig (ou por causa dela?) <3
A Chinesa
3.9 135Verborrágico a cada sequência, A Chinesa poderia facilmente ser confundido com um filme panfletário, se não carregasse toda uma ironia e crítica a cada frame filmado. Aqui Godard constrói - com um incômodo e imersivo esmero - um texto, todo um pensamento e seus desdobramentos, ao mesmo tempo que o vai expondo e desconstruindo somente (com exceção de uma cena) com a imagem, com o cinema - sua arte - na tela. Dessa maneira, a Chinesa se torna este choque deleitosamente irônico de linguagens e ideias, trazendo momentos de letargia típicos do diretor mas que no filme funcionam em prol de sua narrativa e culminam em sequências, para dizer o mínimo, bastante inspiradas e imageticamente fascinantes - consequências escassas, mas valiosas, de quando Godard decide largar o osso e realmente nos impor uma linguagem(ns) com objetivos definidos.
A Juventude
4.0 342Depois de ganhar, merecidamente, seu Oscar com o estrondoso A Grande Beleza, Sorrentino nos entrega em Youth uma obra tão deslumbrante quanto, envolvendo-nos numa beleza surpreendente em cada quadro sem nunca soar gratuito e refinando seu apuro estético para um viés mais objetivo, fazendo de Youth um filme mais acessível e eficiente que seu antecessor. Assim, com esse novo esplendor, Sorrentino se estabelece como um dos cineastas mais fascinantes em atividade, e tem em Youth uma das melhores obras que tive o prazer de assistir esse ano até o momento
Amy
4.4 1,0K Assista AgoraUm documento belo, pesado e extremamente competente em sua maturidade e objetividade. Por tal, eu não tô muito bem depois de assisti-lo :|
"lf she had lived, l would have said 'Slow down, you're too important. Life teaches you really how to live it, if you can live long enough.' "
(Tony Bennet)
Olmo e a Gaivota
3.9 149O Olmo e a Gaivota está longe de ser um filme ruim, mas me fez quase tomá-lo como tal tamanho o desinteresse gradual que a obra fez crescer em mim. Primeiro que, pelo menos para mim, o filme não traz nada de novo em sua temática, trazendo a desglamourizada gravidez de uma mulher e sua angústia quanto aos processos que passa em decorrência disso. Mas isso sem grande insights ou "novidades" (olha a ênfase nas aspas), repetindo algo que eu já havia visto (e lido), de maneira mais discreta, em Precisamos Falar Sobre Kevin, por exemplo. A "novidade" ficaria pela forma narrativa que o filme toma, ao intercalar e mesclar ficção e realidade para nos aproximar da personagem/atriz gestante. Mas o que disso resultou foi num distanciamento cada vez maior entre mim e os personagens no decorrer do filme, em grande parte por suas quebras na ficção ou na realidade, deixando sequencias soltas em ambos os domínios e eu, espectador, a deriva, tentando entender ou pelo menos sentir a angústia tão presente na tela, mas me vendo cada vez mais indiferente a ela.
É um filme que certamente tenho que rever e que ainda tem que matutar um pouco aqui na minha cabeça. São vários elementos - e bastantes inusuais - presentes, a impressão que tenho agora é de que sua junção não funcionou, mas dou a Petra Costa o benefício da dúvida, por apreço por seu primeiro trabalho, Elena, e por desconfiança da minha incapacidade de empatia neste caso em específico. A ser revisitado.
Jogos Vorazes: A Esperança - O Final
3.6 1,9K Assista AgoraNão sei muito o que dizer no momento... acho que apenas sentir. O filme cumpriu exatamente o que eu esperava dele: uma elevação magnífica da obra literária, mal escrita mas deveras interessante em ideias. Mesmo que limitado por seu cunho comercial, tanto nos lugares comuns e exposições que são recorrentes nesse meio quanto com sua penosa classificação indicativa PG 13, Mockinjay não se deixa macular, em seu todo, por esse seu âmbito. Pelo contrário, aquela urgência pernóstica que surgiu no último filme, para prender a atenção da minha (e das próximas) desatenta geração acredito eu, aqui casa com perfeição por praticamente todo o filme, tornando duas (ou talvez três?) cenas magistrais da obra uma avalanche de emoções, digna do evento que a conclusão de uma franquia deve ser. E o filme ainda vai além de agradar apenas como espetáculo, papel primordial de uma arrasa quarteirão desses, sendo fiel às ideias que Collins tentou - tal mal - passar em seus livros e, portanto, inserindo ideias e desfechos políticos fora do comum para a epidemia de distopias por aí, atingindo não diria uma profundidade, mas um grau de inteligência e cinismo maior do que qualquer blockbuster nos últimos anos, algo que pode passar batido pela maior parte de seu público, mas que me faz bater palmas por sua rasa, mas bem construída, pertinência.
OBS: Pra ver e rever a cena do esgoto e a do bombardeio, duas das cenas que eu mais esperava e que não me decepcionaram nem um pouco. Das melhores do ano.
OBS²: A cena final infelizmente foi amenizada, danos colaterais de ser uma franquia milionária.
OBS³: no CLÍMAX do filme, na hora de uma explosão, cai um caixote contendo uma luz de emergência em cima da moça atrás de mim. Conclusão: as luzes acenderam, o filme continuou rolando e eu não sabia se assistia o filme ou verificava se a mulher estava viva. Foi um dia de escolhas difíceis.
Expresso do Amanhã
3.5 1,3K Assista grátisÉ irônico que em meio a tantas construções, críticas e ideias sociais deveras marxistas, mas principalmente humanitárias, o filme falhe logo em desenvolver o lado humano de sua própria narrativa, sendo incapaz de criar qualquer empatia entre mim e os personagens que acompanhava na tela. E em decorrência disso veio o desinteresse, a indiferença quanto aos acontecimentos, reviravoltas, e cenas de ação que se seguiam num fluxo constante, e até mesmo um pouco repetitivo, até culminarem num final que acabou por validar ideologicamente tudo que eu havia visto até então e adicionar um quê de originalidade que faltava ao filme até seu terceiro ato, mas que não conseguem salvar a obra de suas falhas dramáticas, deixando-a - se não como um grande desperdício de potencial em sua direção, enredo e atores - exposta como um filme bastante esquecível.
As Virgens Suicidas
3.8 1,4K Assista AgoraQue filme! É incrível que, por mais que os torne difíceis de assistir, o estilo letárgico de Sofia Coppola soa sempre extremamente condizente com seus filmes quando os créditos descem. As Virgens Suicidas é um filme da construção de uma situação, um nebuloso e ingrato contexto em que somos levados a crer que estamos nos bastidores, o que não poderia estar mais errado.
De quem é a culpa dos acontecimentos que dão título à obra? O que se passa na mente das virgens e o que foi perdido durante o decorrer do filme para chegar ao seu repentino e até mesmo irrelevante final? As hipóteses que surgem, as desconfianças e pretensiosas certezas são o objetivo de Coppola de mexer conosco, nos instigar a remexer uma questão que não tem resposta dentro deste contexto tão específico mas que guarda um universo de complexidades que nem mesmo a diretora ousa adentrar, moldando, em vez disso, um mero cenário, repleto de provocantes e perturbadores detalhes e deixando os atos desta tragédia se darem por si só, com a distância habitual de quem conhece a impenetrabilidade de um vazio.
E a esperança de tentar retratá-lo sem se atrever a compreendê-lo. Primoroso debut.
O Grande Lebowski
3.9 1,1K Assista AgoraAcredito que "Lebowski" tem um dos melhores roteiros já escritos para um filme, e o melhor é que sua execução o acompanha em suas pretensões, e mantêm sua inegável qualidade. Os Coen construíram aqui primeiramente uma grande farsa, todo o plot que move o filme é legado a segundo plano ou esticado e comprimido - completamente mirabolante - a bel prazer de seus personagens, tanto que a bola de neve que se forma até o final da película se resolve em questão de segundos, para mais uma vez voltarmos ao que importa realmente: The Dude, Marty e, não menos importante, Donnie. Personagens riquíssimos em suas idiossincrasias, que representam vertentes bastantes excêntricas, mas surpreendentemente críveis, de sua geração, do mundo de que se tornaram produto, e que agora devem lidar com a transformação do mesmo e os inevitáveis conflitos consequentes disso.
Paranoias, regionalismos, deboísmo (Lebowski "inventou" isso há mais de uma década guys), grandes e pequenas questões, hipérboles mundiais e campeonatos de boliche, é tudo lapidado com perfeição e digníssima sutileza em torno deste três personagens e suas desimportantes aventuras, formando uma obra única, completamente inigualável em seu esmero e atmosfera e que é sempre um singular deleite revisitar para observar os pequenos detalhes que fazem de O Grande Lebowski a obra-prima dos Coen.
Aurora
4.4 205 Assista AgoraDe uma elegância e inocência sem igual, o 1º ato de Aurora é um dos momentos mais sublimes que já tive com a 7ª arte e sem dúvida o mais emocionante que tive o prazer de apreciar na grande tela. Murnau toca aqui em temas que reverberam até hoje no cinema em suas várias vertentes e, apesar dos últimos atos um tanto repetitivos, constrói uma obra que acredito ser inigualável dado ao senso estético do diretor e um contexto muito menos cético que os de hoje no cinema e na psique das pessoas. Trazendo sensações tão primitivas quanto primordiais, Sunrise é um exemplo arrebatador do que o cinema já pôde fazer e que ainda o faz de tempos em tempos, renovando meu total rendimento pela arte e pelo fiapo de vida que ela emula.
A Caça
4.2 2,0K Assista AgoraUma das tretas mais malignas da década, Jagten é de um primor perturbador e revoltante em nos inserir na fragilidade da moral e do que é permitido numa sociedade diante de diferentes contextos. "Sociedade de merda" numa foi tão pouco clichê quanto no término desta incrível obra de Vinterberg, mas ainda sim, quem pode julgá-la?
2h37: É Só Uma Questão de Tempo
3.8 245 Assista AgoraSe o filme tivesse tomado uma linha menos novelesca e dramática ao tratar de seu tema já tão dramático, talvez tivesse saído algo mais autentico e interessante em meio ao inevitável lugar comum que é lidar com dramas adolescentes. Entretanto a obra só reforça esse desgaste ao romantizar crescentemente sua simples mensagem e, com ocasionais tentativas de chocar, frequente didatismo sobre o que facilmente poderia ser percebido na tela posterior ou anteriormente. A presença constante do tema melancolicamente pueril em piano nas cenas mais dramáticas e a música brega tocada nos créditos escancaram a inconsciência do diretor em lidar com um enredo até bastante interessante e pertinente, mas que perde pouco a pouco seu potencial de reflexão em meio ao corrosivo e pegajoso melodrama.
Bronson
3.8 426Confesso que esperava mais, bem mais. O filme se mostra bastante interessante em sua primeira hora e é elevado pela atuação fascinante de Hardy, mas passado este tempo se torna repetitivo e logo um tanto desinteressante. É o filme que menos gostei de Refn.
Apenas Deus Perdoa
3.0 632 Assista AgoraO filme subiu bastante nessa revisão, já não o acho mais um vazio completo e consegui observar elementos interessantes que Refn conseguiu inserir e outros que ele apenas tentou mas não conseguiu edificar. A começar pela estética, irrepreensível, a obra insere seus personagens numa espécie de inferno, ou ora limbo, de neon, em que a balança moral e também mortífera está no antagonista do personagem de Gosling. Este último apresenta uma das piores atuações de sua carreira, interpretando um personagem que não necessitava da inexpressividade vulcânica que o ator apresentou no magnífico Drive, assim fazendo-o destoar dos conflitos em que ele é inserido, um conflito moral, espiritual e físico. Se Refn consegue cumprir com sua estética o embate carnal e maniqueísta entre seus personagens e situações, falha em supor que uma pretensa aura espiritual viria de bandeja por conseguinte, acabando por soar bastante pedante e até mesmo incompetente em algumas sequências em que nada funciona ou em diálogos não minimalistas, mas sim incomodamente pobres que seus personagens por vezes soltam.
Este é um filme de dois extremos, sutil e escatológico, que nem sempre se apresentam da maneira mais coerente, mas que tornam a experiência de assisti-los se fundir uma das mais interessantes da filmografia de Refn.
A Fita Branca
4.0 756 Assista AgoraUm drama seco, perturbador e certeiro em suas intenções, como é de praxe nos filmes deste assustador e genial velhinho. Sem dúvidas um dos filmes mais inteligentes da década passada, Haneke trabalhou aqui suas frias sutilezas de maneira mais clara que nos outros trabalhos que já assisti dele. O resultado foi o de uma crescente e incômoda consciência da crueldade do filme, seu diretor, enredo, afirmação e personagens. Mais um filme de Michael Haneke que não passa nem um pouco batido no meu psicológico.
Herói
3.9 334 Assista AgoraDe fato um filme belíssimo em sua mensagem e visual, apresentando uma estrutura narrativa empolgante assim como suas situações: embates épicos, sacrifícios honrados e uma melancolia oriental típica, adequada parava envolver estes eventos. Herói, porém, perde bastante de seu potencial dramático, um dos cernes de várias sequências do filme, ao sobrepô-lo com fetichismo visual em lugar de ambos se complementarem, tornando-se ao final uma obra desbalanceada entre suas pretensões estéticas e narrativas. Com certeza vale a assistida, mas fica o sentimento de que se Zhang Yimou tivesse pesado menos a mão nas explosivas situações da obra, teríamos um filme mais delicado em seu todo e duradouro em nossas mentes
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista AgoraDesde já meu filme favorito de 2015 até o momento, E-S-P-E-T-A-C-U-L-A-R.
Holy Motors
3.9 652Gigantesco, este continua sendo meu segundo filme favorito da década e ainda cheio de ideias a decifrar, moldar e conceber, o que pra mim é extremamente fascinante. Assistir Holy Motors é, em primeira instância, entrega, que na revisão foi mais consciente, para logo em seguida embarcar na melancolia, humor, escatologia, tristeza e beleza que o filme nos entrega através de uma viagem sobre o cinema e todas as suas formas e contextos em uma realidade em que aparentemente a realidade ruiu, a arte foi ignorada de vez e sobrevive apenas através de sua inimiga/amiga central: a ruída realidade. A partir daí temos diversas sequencias incríveis recheadas de ideias sutis, simples ou complexas, esboços e universos que constroem um filme indescritível que só pode ser detalhado através da experiência e absorvido, pouco a pouco, revisão a revisão, com os olhos fechados para os limites do real e a mente aberta para um suspiro saudosista, um clamor de orgulho, um pedido desesperado de ajuda ou uma resignação agridoce. Seja apenas um ou todos eles juntos, Holy Motors é sem dúvida um explosivo campo de batalha e, como um cineasta bem chatinho disse uma vez, assim também é o cinema, a realidade irreal do universo dessa obra de Carax e quem sabe de quantos outros?
Cinzas do Passado Redux
3.7 52 Assista AgoraConfuso e de uma beleza singular, Cinzas do Passado é um convite de Kar-Wai para adentrarmos o onirismo da memória e a tempestade de sentimentos que a envolve até chegarmos, enfim, no cerne do cinema deste fascinante diretor: o amor.
Esteticamente irrepreensível, esta foi mais uma experiência interessante que Kar-Wai me proporcionou, especialmente em sua narrativa onde inseriu uma estrutura de fábula épica que me pareceu, mais que tudo, um western filosófico, para realçar nosso interesse pelo desfecho de cada "estação" da obra.
A ser revisto, pra ver se entendo melhor toda essa nebulosidade que a memória - ou a falta dela - tão humana dos personagens inseriram à trama.