Foi um pouquinho difícil rever esse filme depois de tantos anos e acredito que só a profunda nostalgia que ele me traz, junto á algumas de suas deleitosas qualidades técnicas que fazem parte dela, tornaram possível eu avançar até o final. Não é um filme ruim, certamente. Ele se sustenta por si só. Mas são 2 horas bastante frustrantes pela pouca imaginação que ele demonstra em sua execução, principalmente diante da riqueza imensa do conteúdo que busca retratar tão fielmente - e tão incompetentemente. Os primeiras 70 minutos passam como meros slides para a apresentação do universo da saga, repetindo sempre seus planos abertos e pans e tornando tudo extremamente burocrático como adaptação, tamanha a falta de inventividade - ou vontade? - do diretor. Há sim momentos em que isso funciona, e a trilha de John Williams - que em certo ponto passa a soar invasiva em sua utilização - tem bastante parte nisso, mas em geral estes momentos acabam se emaranhando uns aos outros e gerando apenas apatia se voce não é uma criança impressionável de 9 anos como eu era quando os assisti pela primeira vez (certamente eles contavam com isso, então minha crítica é válida e não é). Já o resto do filme, depois de apresentado o universo, continua soando no mínimo tão desconexo quanto o seu início - entre suas partes e para nós, emocionalmente falando. Falta um clímax, falta um narrativa que soe menos episódica para conquistá-lo e tornar a obra mais intensa como um todo. Dessa ausencia de uma narrativa consistente eu nao consegui chegar a uma conclusão certa sobre sua causa: se ocorreu por causa da montagem bizarra, pelo roteiro imaturo, pela direção desinteressante de Columbus, ou mesmo pelos tres fatores juntos. Mas sejam qual forem as ancoras exatas do filme elas fizeram para mim, mesmo embalado pela nostalgia, o filme passar de maneira grosseira e um tanto insatisfatória. Uma experiencia maravilhosa de rememoração, mas não tanto quanto como cinema.
É... Pânico 3 é um filme ruim. O que não quer dizer que ele não se sustente, e se por alguns momentos ele realmente soa insustentável é porque a sombra dos primeiros dois filmes paira sobre ele. Dentro do gênero, porém, esse terceiro capítulo da franquia está certamente acima da média, o que é de se esperar de Wes Craven e sua mente perspicaz e irônica, que aqui acaba tendo seu potencial diluído em muita repetição, novos elementos que não funcionam e uma cota de erros, de todos os tipos, no roteiro que extrapola a de Scream 1 & 2 juntos. Maaas, ainda assim, o filme tem seus momentos de inspiração. Bastante escassos, infelizmente, mas que fizeram as quase duas horas valerem para mim. A subversão deliciosa da conclusão, a cena da segunda morte no estúdio ou mesmo os dois últimos frames tão sutis tomam lugar dentre as irreverentes memórias cinematográficas que Wes Craven e a a franquia me deixam. Ah, e sim, não tem como não declarar que Sydney Prescott é uma das minhas personagens preferidas de todos os tempos, e Scream 3 tem parte nisso.
É um filme para desarmar qualquer um. Closer ousa adentrar e deturbar a beleza das fotografias que "Alice" acusa, em uma das lúgubres cenas da obra, de serem falsas, ou seja, os arquétipos, metalinguísticos ou não, de relacionamentos e dos seres humanos participantes destes. E para isso o filme se baseia numa sinceridade tão gritante que chega a soar grotesca, patética e para alguns até mesmo absurda ou irreal. A minha experiência com o filme engloba primordialmente os três primeiros adjetivos, mas infelizmente deixa de fora o último. Cada cena do filme, desde a primeira até a última rima cênica, reverbera com uma realidade dolorosa e decepcionante, mas que sempre fascina em vista da oscilação, minha e da obra, sobre o que é absurdo e o que é realidade na tela - os dois conceitos se aproximam cada vez mais até o indiscernível e por isso aterrorizam profundamente. Dessa maneira, Closer se estabelece como uma sátira certeira dessas "fotos", excelo pelo fato de que não o é. De fato, como logo vamos percebendo, é o contrário que se sobressai: os ideais beiram ao satírico, enquanto o filme de Nichols acaba por permanecer firme e monstruoso em sua verdade. É então nesse vão híbrido e irônico em que o filme se insere, entre absurdo e razoável, que o mesmo consegue penetrar em camadas poucas vezes vista na ficção, quiçá na 7ª arte. Um dos trabalhos mais intensos de elenco e roteiro que eu já tive o prazer - ou no caso, o horror - de assistir. Obra-prima.
Confesso que esperava mais, bem mais. Mas ainda sim é um filme do War-Kai né, mesmo quando não acerta tanto ele consegue se sustentar, e quando acerta - principalmente no primeiro ato infelizmente tão curto - é maravilhoso e cativante. Aqui o diretor trata de temas centrais na sua filmografia em um tom mais leve, doce, mesmo que estabeleça os pontos mais melancólicos e complicados que já procurou estabelecer em seus outros filmes. A dificuldade de conhecer o outro, as mazelas do amor moderno e o peso do mundo à volta - com direito a referências e influência diretas da cultura americana sem nenhum julgamento, pelo contrário - formam a base do descompromissado Amores Expressos.
Pois bem, aqui em Millennium Mambo HHH nos convida, desde o começo, a embarcar no rememorar indecifrável e fascinante de Vicky, e nisso acho que poucas vezes fiquei tão imerso nas trivialidades de uma personagem. A abertura é icônica para o filme justamente porque nos insere em um contexto, apresenta a personagem, mas nos nega uma imagem completa sua - e é essa incompletude que nos leva adiante. Quantas vezes na rua não ficamos curiosos quanto à uma silhueta específica à frente? São tantas as possibilidades que surgem junto à essa potência de indefinição. Mas então ela se vai. O mistério permanece. E é exatamente essa indefinível permanência do que se foi que torna a experiência marcante. Mas, na tela, HHH faz desse desvanecer uma experiência de mais de 80 minutos! E consegue, habilidosamente, manter essa suspensão ao empregar seus planos longos, e geralmente fechados, que nos apresentam muito em pequenas doses ao mesmo tempo que imputem ao que é apresentado uma sensação de esmorecimento, de efemeridade. Exceto pelo shot final, nada é pleno em Millennium Mambo.
E isso faz muito sentido se a gente parar pra pensar que são recortes, quase memórias de Vicky que nos são entregues. Quase memórias pq estabelecem-se como meros - ainda que por vezes calamitosos - vislumbres, ímpetos de um ser que, mesmo os narrando em 3ª pessoa, faz presente sua ligação com o que é mostrado; Entretanto, o modo como Hsiao filma essas lembranças tão coloridas e cheias de personagens, deixa claro que ele também busca abrir uma fresta de cortina para nós, deformando o invólucro memorial. Ele esconde, provoca, faz uso até de desfoques grosseiros - recursos que mesclam a nossa experiência de observadores com a vida inconstante da personagem - e dessa forma nos permite participar daquilo tudo sem ter a pretensão de estar fazendo seus observadores conhecerem de fato alguma totalidade. É por isso que é impossível desviar os olhos de cada sequência depois de iniciada a obra: porque ela nos insere num constante estado de aporia, um intrigante impasse que faz fascinar e despertar.
Sim, o retrato de uma juventude hedonista e líquida, com as mazelas modernas a que todos podemos, num grau ou outro, nos identificar ou ao menos compreender, está ali. Mas é no ato de admitir a incapacidade de retratar a imagem disso de maneira completa, ao fazer da própria existência dessa incompletude um elemento a ser exposto em cada long shot do filme, que tornou Millennium Mambo uma experiência inesquecível e hipnótica para mim. E eu já quero outro piscar de olhos para apreciá-lo novamente.
Que homem! Além de entregar um dos melhores filmes da década passada - e pelo que dizem provavelmente também da de 90 - Edward Yang nos legou um filmaço desses logo no "começo" da carreira, na década de 80. Em Os Terroristas, ainda mais que em Yi Yi, Yang preza por um virtuosismo fascinante que deixa claro o total domínio do cara em cada cena, estas que incrivelmente soam sempre completamente orgânicas, mesmo em vista de tamanho controle. E isso permitiu eu me ligar aos personagens mesmo em seus contextos tão indiferentes e antipáticos: a "garota branca" é egoísta e fugidia, o médico ganancioso e autocentrado, e sua esposa, mesmo com sua fragilidade empática, é vaidosa e adúltera. Talvez só o fotógrafo seja um personagem de fato simpático, mesmo que demonstre uma certa misantropia às avessas. Mas, ainda assim, acabei me importando com o médico até seu último segundo, perguntava-me certas vezes quando e se veríamos a garota novamente, e me emocionei profundamente com as falhas e tormentos da esposa.
São todos personagens individualistas a seu modo, mas que em determinado momento do filme são afetados, ou percebem precisar desesperadamente, de outros. Yang explicita em doses cada vez mais alarmantes o quanto, no mundo em que vivemos, não somos mais responsáveis somente pelos nossos próprios mundinhos, e isso é alarmante justamente pelo contraste em relação ao individualismo que é cada vez mais crescente. O final se torna chocante pq tudo o que aconteceu ali era possível, e eu já tinha dado como certa aquela provável chacina no desfecho. Logo, os terroristas do filme não são nenhum arquétipo que temos em mente hoje no ocidente pós 2001, mas sim os viventes - verdadeiras bombas-relógio - de uma sociedade que não cultiva a empatia, o vínculo, a não ser por motivos próprios e idealizados - uma sociedade ou da eficiência rígida ou da anarquia indiferente. O fotógrafo, personagem que prefere viver em seu quarto escuro sem saber se é dia ou noite - nos dia de hoje temos nossos equivalentes -, tem como sua musa uma garota misteriosa e desvanecente, fragmentada no maravilhoso frame do filme como uma presença sem substância, frágil e passageira. É um presságio marcante, de uma sutileza incrível, mas uma porrada quando a gente para pra pensar em seu significado.
Maravilhoooso! O primeiro e o segundo ato tem cenas incríveis, que carregam o deboche e a identidade do original mas conseguem se diferenciar e trazer novos ares à metalinguagem do filme. Além disso, a direção do Craven entrega ainda mais sequencias interminavelmente divertidas e tensas, numa inventividade que tenho certeza que me agradara toda vez que eu assistir aos filme da série. Uma pena, porém, que do 2º ato em diante o filme não tenha mais muitas dessas cenas tão inspiradas e descambe para um final, de certa maneira, decepcionante tanto em roteiro quanto na direção. Mas, ainda sim, é inegavelmente um filmaço, que vou guardar no coração junto com o original. (E ainda vale mencionar que a cena de abertura é mais uma vez incrivelmente icônica! não tem como não amar )
Eu tô um tanto desnorteado, exaurido, depois de assistir essa produção do Netflix que entrou hoje no catálogo. Não sei quantas vezes eu chorei no decorrer dele, de ódio, de indignação, de tristeza ou de desilusão com a história da nossa sociedade. Ou porque, ainda que se tratando de outro país, outra trajetória histórica, os links com a nossa situação são inevitáveis e sentidos mesmo por mim, que não sofri um dia sequer das mazelas provindas do que o documentário expõe. Vai além da empatia, e essa é extremamente forte e chocante aqui. Ava DuVernay, a diretora, aproveita os quase 110 minutos de documentário para tocar no cerne de questões que interessam mais que nunca à sociedade americana, e foi um choque de realidade, mesmo eu não sendo tão ingênuo, ver alguns trechos envolvendo Hilary Clinton e Donald Trump, mas também a protagonista de tudo: a sociedade em si. É um documento tão inteligente e bem direcionado - tamanha a força de Ava e dos entrevistados - que o relato deixa de ser discernível e confortavelmente linear, entregando ao final uma fusão de antes e hoje tão esclarecedora e assustadoramente ampla, por conseguinte alarmante, que espero tremendamente que não passe batida pelos olhos que a assistirem. Uma esperança vã, talvez, mas que a falta de conforto e a constante presença de perguntas a serem respondidas na obra clamam por forçar a existir. As pessoas precisam ver esse filme.
(E eu queria saber se existe alguma produção audiovisual tão efetiva e ampla envolvendo a questão racial aqui no Brasil, se alguém souber me recomendar.)
Eu achei o desfecho simplesmente genial, e toda a construção da obra certamente a coloca no patamar de inegável monumento cinematográfico, mas não foi um filme que chegou a me empolgar muito não. Infelizmente, mesmo que sem todo o fascínio e virtuosismo que Welles entrega aqui, já vi essa história ser recontada incansavelmente e, por tal, não sobrou muito frescor para aproveitar integralmente o filme. Uma experiência bacana, mas não muito marcante.
Eletrizante do início ao fim, Elle é um thriller que nunca perde nosso interesse e se esforça, com sucesso, em inserir quantas camadas possível ao que acompanhamos na tela. Verhoeven desvenda e provoca magistralmente expectador - euzinho - e personagens em doses quase sádicas, mas inegavelmente geniais, de obscuridade, fazendo de seus 130 minutos uma experiência marcante. Ademais, com toda essa fascinante construção, Huppert ganha talvez a personagem mais interessante do ano, e faz jus a ela numa atuação que acompanha a intensidade madura do filme. Revelando e contraindo sua imensidão psicológica de maneira sutil, mas veemente, ela não nos deixa piscar um segundo sequer quando está em cena e acabou por me lançar num duvidar tenso e maravilhoso sobre se sua personagem tinha um absoluto controle e consciência do que fazia ou se, de fato, era o completo oposto. Devo dizer, ainda, que é uma obra que deve maturar bastante comigo - talvez até necessitada de uma revisão - e que de fato não sairá da minha cabeça tão cedo. Passada esta experiência, fiquei extremamente mais curioso - ou melhor, provocado - a buscar o resto da escandalosa filmografia de Verhoeven. Afinal, depois de tantos anos de carreira, o diretor entrega aqui o que deve ser um dos melhores filmes de 2016.
Mesmo com a chance de se manter apenas seguramente funcional através de um enfoque biográfico - ainda que fragmentário - no escritor David Foster Wallace, o filme vai além e entrega não só esse interessante fragmento, em que ator - Jason Segel - e "personagem" se unem de maneira honestamente cativante, mas também dá complexidade ao seu quase antagonista e entrevistador, David Lipsky, revelando camadas de um e outro em doses maduras e sinceras, e dando ao próprio filme algumas que me permitiram gravitar entre variadas reflexões sobre identidade e autoconhecimento tanto quanto o alheio, enquanto acompanhava o entrelaçamento entre as duas mentes na tela. O resultado, mesmo que marcantemente obscuro, é deveras belo, embarcando-nos numa mistura agridoce de homenagem e desafio como só uma grande obra poderia fazer.
Tudo Sobre Minha Mãe chegou até a mim como um filme completo, me fez rir, me emocionar e acompanhar a trajetória de suas várias personagens daquela deliciosa maneira em que o tempo passa fugidamente rápido. É um filme sobre ser mãe, quer seja esse laço de sangue ou não, uma temática bela, tratada sem condescendência por Almodóvar - afinal, nem tudo são flores - e representada por um elenco claramente entregue e em consonância com seus personagens. Uma obra praticamente irrepreensível e a primeira do diretor espanhol que me conquista
Acho que Hitchcock talvez não seja mesmo para mim, ou pelo menos não da maneira que o é para tantas outras pessoas. Pois bem, Vertigo, segunda obra que assisto do diretor, é um filme rígido e eficaz em suas concepções estéticas, não há nada aqui que não integre de maneira certeira a narrativa ambiciosa e divertida que o diretor molda a seu gosto, em busca de seus objetivos. Entretanto, esse virtuosismo, mesmo que descontraído e consciente, faz de Vertigo um filme frio: o extenso enfoque na construção de sua atmosfera e nas oscilações cirúrgicas de tensão deixam as possíveis facetas humanas da obra de lado, e eu, mesmo que por vezes aprecie filmes nesses moldes - hello, Fincher - acabei me distanciando demais da obra a partir desse esmero tão pouco apelativo para mim. Assim, mesmo quando a trilha sonora onipresente teve seu pico, as resoluções finalmente deram as caras e os sentimentos dos personagens foram extravasados no planejado clímax, eu não poderia me importar menos, e essa indiferença faz de Um Corpo que Cai mais uma falha tentativa de me deixar capturar pelo irrepreensível cinema do diretor britânico. Quem sabe na próxima.
A magia de se assistir um filme sem esperar nada dele. Esse último X-Men tem a sua cota de pieguices, momentos bregas, clichês e plots batidos dentro do próprio universo? Tem. Mas é um filme que funciona, e muito prazerosamente. Me empolgando bastante na sua longa duração, a impressão que tive é de uma obra que, sim, poderia ter sido melhor enxugada, acabando por soar como um reinício desajeitado, mais preocupado em colocar algumas peças em determinadas posições ou inserir novas para o que quer que venha a seguir, do que de criar uma trajetória original e integrante do universo. Mas o filme faz isso de maneira tão pouco burocrática como tanto vemos por aí - cof cof, Marvel - que toda vez que eu sentia que ele estava tendendo para a completa artificialidade de se assumir como uma mera sequência, o carinho que Singer sempre demonstra quanto ao universo dos X-Men me puxava de volta para um interesse curioso. É, mesmo com todos os seus defeitos, um filme belo, de um universo e personagens que sempre me cativaram e que foram reintroduzidos aqui de maneira competente, em grande parte por causa de seu incrível elenco, mas também pela visão do diretor por trás de todas as escolhas - aqui, principalmente estéticas - algumas acertadas e outras não, mas que se mostram sólidas na busca por inventividade. Apocalypse estabelece-se acima de tudo como um blockbuster eficaz, eu encarei como tal e saí satisfeito. Sua contribuição para o universo dos X-Men poder ser inegavelmente pouca, mas eu só o consideraria menor dentro dos filmes devido ao desgaste temático que os mesmo andam sofrendo desde Days of Future Past, ainda que admiravelmente consigam se reinventar - cada vez mais desajeitadamente - como foi comprovado aqui. É hora de tomar uma nova guinada, ou o próximo pode não conseguir mais se sustentar por si só. Eu não li as HQs, mas suponho que há muito o que se explorar e com essa nova geração - em especial Sophie Turner, perfeita no papel - eu tenho esperanças de que um sopro de frescor ainda venha a atingir os X-Men como aconteceu na grata supresa que foi First Class. Afinal, se surpreender é bem melhor do que poder elogiar apenas a distante eficácia de uma obra.
Uma das obras mais belas produzidas pela sétima arte, Hiroshima Mon Amour é a poesia definitiva de três artistas soberbos - Resnais, Duras e Riva em um ápice devastador. Micro e macro, amor, dor e esquecimento: é impossível esquecer Nevers ou Hiroshima depois de declamadas suas últimas palavras, e ainda assim o vazio de seu esquecimento se faz presente em cada uníssono frame.
Tem muita coisa recorrente, é claro, mas também interessante nesse novo filme de Woody Allen e, diferente do intolerável Homem Irracional, a maneira que o diretor e roteirista incorpora para contar sua história se sustenta, visual e narrativamente, mesmo que estes dois elementos se estabeleçam num perceptível desbalanço. A fotografia que ressalta a luminosidade de Los Angeles - por vezes verdadeira e profunda, outras superficial como os valores de sua sociedade - bem como seus contrastes em New York e na trajetória de seus personagens, junto à presença discreta mas hipnotizante de Kirsten Stewart no elenco, enriquecem a obra do diretor que sempre carrega, mesmo em seus maiores tropeços, uma digna elegância. Stewart funciona primordialmente como uma presença estética, e não no sentido mundano, mas narrativo, em que só o reflexo dourado em seus olhos nos últimos segundos do filme podem comprovar. Mas, por outro lado, ela também faz um trabalho em uníssono com a elegância e discrição da narrativa de Allen, sendo de longe o membro mais competente e funcional do elenco, este que tem seus altos e baixos por vezes devido ao seu próprio desempenho, mas também pela força - ou falta dela - do roteiro. Eisenberg, por exemplo, sofre por ambos, não conseguindo dar personalidade ao seu personagem e abraçando quase que por completamente a caricatura que o roteiro de Allen entrega. Carrel também, apesar de competente, soa deslocado durante todo o filme e a falta de qualquer química entre ele e Stewart é palpável e atrapalha no andamento da história. Café Society é um filme que funciona, e bem mais que alguns filmes do homem, mas é nas minúcias de sua narrativa que o filme tropeça, soando várias vezes preguiçoso, ou até mesmo ingênuo, afetando personagens e plots contando que nós, que o acompanhamos, aceitemos de bom grado esses tropeços. E eu aceitei, pois o conjunto que Allen constrói aqui faz valer a pena, mas fica àquela impressão crescente e frustrante de mais um filme do diretor que poderia ter sido bem mais do que foi, se ao menos ele tivesse lhe dedicado mais atenção e cuidado.
É uma Kar-Wai menor, sem dúvida nenhuma. Um filme lúgubre, que aposta em seu tom - e este sustentado pelo ótimo elenco - em lugar da trama, algo que Wong Kar-Wai fez frequentemente em sua filmografia. O resultado, porém, não é tão inspirado quanto em outros filmes do homem: a trama - mesmo que secundária - é tão perdida quanto seus personagens e chega ao ponto de ficar desinteressante depois de tanto dar suas voltas. Nem mesmo a estética do diretor, vale ressaltar que também menos inspirada em comparação aos seus outros filmes, me conseguiu trazer de volta um genuíno interesse em relação aos personagens depois de, um a um, eu os ter perdido. Dias Selvagens tem bons momentos sim, a inteligência visual e narrativa de Kar-Wai nunca me decepciona, e o trato que ele sempre dá ao tema do amor prisioneiro sem nunca se repetir propriamente - mesmo que aqui, por vezes, perca sua elegância e soe piegas - é um deleite e rende momentos interessantes, principalmente em algumas rimas visuais do 1º e 3º ato e na trajetória, infelizmente curta, da personagem da Maggie Cheung. Enfim, é um filme que vale a pena ser visto, mas que não consideraria essencial na filmografia do diretor chinês.
"I don't know why people kill themselves, and yet it's a small step to empathize. To say - because I think we all experience moments of despair - that it would just be so much easier not to do this anymore. But for most of us the sun comes out, and then 'Oh, well, tomorrow is another day.' Why he chose the bridge? I don't know. Maybe there is a certain amount of release... from pain by pain. Maybe he just wanted to fly one time."
A Ponte é o tipo de documentário que já se justifica e se sustenta por si só através de sua temática e das imagens a que tem - assustadoramente - acesso. Eu achei que o filme acertou no uso de comentários restritos aos parentes dos suicidas, fazendo com que o filme ficasse muito mais intimista e sincero, menos cético, do que se houvessem diversas entrevistas com psicólogos, estatísticas a rodo etc. Dessa maneira o filme ficou mais humano, e eu acho bastante importante esse tema ser humanizado no lugar das análises frias que tantos vemos por aí - que, claro, também têm sua importância. Mas a obra, infelizmente, acaba derrapando um pouco na sua estrutura: tentar colocar muitos casos diferentes em seus 94 minutos, caindo na superficialidade - e, portanto, banalizando - alguns destes suicídios e por conseguinte o tema do filme. Fica a impressão que de certas coisas poderiam ter sido muito melhor e amplamente exploradas ali do que outras que marcam presença, mas não acrescentam muito. Não é um documentário inspirado, entretanto é inegavelmente interessante, pertinente, e tem seus bons momentos, mesmo que não alcance todo o seu potencial. Eu considero admirável esse tipo de documento que não tenta trazer em sua estrutura uma mensagem pronta, deixando qualquer conclusão por parte do espectador e fazendo desta algo não uno, mas feita de múltiplos momentos - não foram poucos os que me emocionaram por identificação ou apenas simpatia. Suicídio é um assunto a ser mais discutido, e essa discussão naturalizada - The Bridge se apresenta como um passo significativo para isso.
Um filme no ponto, que esbarra num clichêzinho ou outro no caminho, mas não sem elegância, e mostra sempre se importar acima de tudo com seus personagens, entregando uma estrutura narrativa bastante funcional em sua primeira metade e completando a segunda com canções e desdobramentos cativantes e sinceros, mesmo que nunca cheguem a atingir um ápice.
Como um universo totalmente alheio à mim, o filme tinha ideias e detalhes bastante interessantes a apresentar. E os apresenta. Mas não tanto quando eu gostaria, ao ser engolido por um roteiro preguiçoso, e também não da maneira que merecia - ao ser transposto na tela por uma direção genérica e pouco entusiasmante. Ainda sim, a obra não tem grandes deslizes e a trilha sonora consegue nos carregar até o final, fazendo de We Are Your Friends (?) um bom - mas mero - passatempo.
E se, após a morte, nós tivéssemos que escolher uma lembrança de nossa vida que carregaríamos para sempre, seja qual ele fosse? Com essa premissa Koreeda constrói, aos seus moldes, uma obra que se passa dentro do parênteses do nosso ponto final, a morte, e com isso nos entrega quase duas horas que ressoam pura e singelamente à vida. O filme se passa numa espécie de purgatório discreto e burocrático, em que funcionários e clientes - todos questionados sobre a questão de qual memória salvar - apresentam suas singularidades, tomando parte em um mosaico de possibilidades que não grita, mas sussura - como é típico de Koreeda - sobre a riqueza da vida, sem negar suas dores ou soar condescendente. Há também, e não sem autoconsciência, histórias e situações que se assemelham, e nelas o filme estabelece a comunhão sutil e agridoce com que o diretor é sempre tão competente em lidar dentro de sua filmografia familiar - uma comunhão belamente humana entre as fragilidades dos indivíduos presentes ali. Koreeda não faz em Depois da Vida um de seus maiores filmes, mas certamente adiciona mais uma obra de extrema sensibilidade e pertinência ao cinema contemporâneo, um ensaio que acaba apontando para toda a sua obra e visão: pequenos momentos, partículas luminosas de vida, as sutilezas que nos marcam e fazem, pouco a pouco, nossa existência parecer grande.
É bem divertido num todo, mas o filme não me pareceu nada mais que apenas competente em sua construção. O final, sim, é incrível, emocionante e terno, como sempre acabo esperando de um filme da Pixar. Achei o final maior que o filme, e por ele dou a nota que dou.
Não é só a montagem soberba, o irônico e competente elenco ou a direção segura de Korine que fazem deste um dos grandes filmes da década, mas sim a junção destes fatores à um ideal - concretizado com perfeição - de representação da nossa geração que, se não é o mais acurado, é certamente o mais livre de julgamentos e moralismos que eu já assisti. Spring Breakers é amoral, é escatológico, mas também ousa em se mostrar belo, vibrante e, sim, dolorosamente empático. Um filme minuciosamente atmosférico, e também uma poesia visual das mais vazias já feitas na 7ª arte que, pela existência desse vazio, se torna extremamente pertinente e inesquecível nos tempos que vivemos. Primeiro Korine e já virei fã.
P.S: só a sequência que o James Franco canta Britney já vale o filme inteiro
A quantidade de sentimentos não ditos - mas intensamente sentidos - por mim e pelos personagens nesse encerramento, junto à íntima familiaridade que todo o filme traz de maneira graciosa e nada forçada, demonstra que Looking construiu, em triviais sutilezas, um universo sincero, empático e orgânico, alçando-se em seu encerramento como uma obra de pretensões simples, mas que ecoam longamente em que estiver disposto a admitir a profundidade dos pequenos detalhes em nossas vidas. Este é um encerramento mais que digno para a prematuramente cancelada série, fiquei extremamente satisfeito, e podemos dizer também que Looking: The Movie é mais uma grande obra do sensível e admirável diretor/roteirista que é Andrew Haigh.
Harry Potter e a Pedra Filosofal
4.1 1,7K Assista AgoraFoi um pouquinho difícil rever esse filme depois de tantos anos e acredito que só a profunda nostalgia que ele me traz, junto á algumas de suas deleitosas qualidades técnicas que fazem parte dela, tornaram possível eu avançar até o final. Não é um filme ruim, certamente. Ele se sustenta por si só. Mas são 2 horas bastante frustrantes pela pouca imaginação que ele demonstra em sua execução, principalmente diante da riqueza imensa do conteúdo que busca retratar tão fielmente - e tão incompetentemente.
Os primeiras 70 minutos passam como meros slides para a apresentação do universo da saga, repetindo sempre seus planos abertos e pans e tornando tudo extremamente burocrático como adaptação, tamanha a falta de inventividade - ou vontade? - do diretor. Há sim momentos em que isso funciona, e a trilha de John Williams - que em certo ponto passa a soar invasiva em sua utilização - tem bastante parte nisso, mas em geral estes momentos acabam se emaranhando uns aos outros e gerando apenas apatia se voce não é uma criança impressionável de 9 anos como eu era quando os assisti pela primeira vez (certamente eles contavam com isso, então minha crítica é válida e não é).
Já o resto do filme, depois de apresentado o universo, continua soando no mínimo tão desconexo quanto o seu início - entre suas partes e para nós, emocionalmente falando. Falta um clímax, falta um narrativa que soe menos episódica para conquistá-lo e tornar a obra mais intensa como um todo. Dessa ausencia de uma narrativa consistente eu nao consegui chegar a uma conclusão certa sobre sua causa: se ocorreu por causa da montagem bizarra, pelo roteiro imaturo, pela direção desinteressante de Columbus, ou mesmo pelos tres fatores juntos.
Mas sejam qual forem as ancoras exatas do filme elas fizeram para mim, mesmo embalado pela nostalgia, o filme passar de maneira grosseira e um tanto insatisfatória. Uma experiencia maravilhosa de rememoração, mas não tanto quanto como cinema.
Pânico 3
3.0 775 Assista AgoraÉ... Pânico 3 é um filme ruim. O que não quer dizer que ele não se sustente, e se por alguns momentos ele realmente soa insustentável é porque a sombra dos primeiros dois filmes paira sobre ele. Dentro do gênero, porém, esse terceiro capítulo da franquia está certamente acima da média, o que é de se esperar de Wes Craven e sua mente perspicaz e irônica, que aqui acaba tendo seu potencial diluído em muita repetição, novos elementos que não funcionam e uma cota de erros, de todos os tipos, no roteiro que extrapola a de Scream 1 & 2 juntos.
Maaas, ainda assim, o filme tem seus momentos de inspiração. Bastante escassos, infelizmente, mas que fizeram as quase duas horas valerem para mim. A subversão deliciosa da conclusão, a cena da segunda morte no estúdio ou mesmo os dois últimos frames tão sutis tomam lugar dentre as irreverentes memórias cinematográficas que Wes Craven e a a franquia me deixam. Ah, e sim, não tem como não declarar que Sydney Prescott é uma das minhas personagens preferidas de todos os tempos, e Scream 3 tem parte nisso.
Closer: Perto Demais
3.9 3,3K Assista AgoraÉ um filme para desarmar qualquer um. Closer ousa adentrar e deturbar a beleza das fotografias que "Alice" acusa, em uma das lúgubres cenas da obra, de serem falsas, ou seja, os arquétipos, metalinguísticos ou não, de relacionamentos e dos seres humanos participantes destes. E para isso o filme se baseia numa sinceridade tão gritante que chega a soar grotesca, patética e para alguns até mesmo absurda ou irreal. A minha experiência com o filme engloba primordialmente os três primeiros adjetivos, mas infelizmente deixa de fora o último. Cada cena do filme, desde a primeira até a última rima cênica, reverbera com uma realidade dolorosa e decepcionante, mas que sempre fascina em vista da oscilação, minha e da obra, sobre o que é absurdo e o que é realidade na tela - os dois conceitos se aproximam cada vez mais até o indiscernível e por isso aterrorizam profundamente.
Dessa maneira, Closer se estabelece como uma sátira certeira dessas "fotos", excelo pelo fato de que não o é. De fato, como logo vamos percebendo, é o contrário que se sobressai: os ideais beiram ao satírico, enquanto o filme de Nichols acaba por permanecer firme e monstruoso em sua verdade. É então nesse vão híbrido e irônico em que o filme se insere, entre absurdo e razoável, que o mesmo consegue penetrar em camadas poucas vezes vista na ficção, quiçá na 7ª arte. Um dos trabalhos mais intensos de elenco e roteiro que eu já tive o prazer - ou no caso, o horror - de assistir. Obra-prima.
Amores Expressos
4.2 355 Assista AgoraConfesso que esperava mais, bem mais. Mas ainda sim é um filme do War-Kai né, mesmo quando não acerta tanto ele consegue se sustentar, e quando acerta - principalmente no primeiro ato infelizmente tão curto - é maravilhoso e cativante. Aqui o diretor trata de temas centrais na sua filmografia em um tom mais leve, doce, mesmo que estabeleça os pontos mais melancólicos e complicados que já procurou estabelecer em seus outros filmes. A dificuldade de conhecer o outro, as mazelas do amor moderno e o peso do mundo à volta - com direito a referências e influência diretas da cultura americana sem nenhum julgamento, pelo contrário - formam a base do descompromissado Amores Expressos.
Millennium Mambo
4.0 44Pois bem, aqui em Millennium Mambo HHH nos convida, desde o começo, a embarcar no rememorar indecifrável e fascinante de Vicky, e nisso acho que poucas vezes fiquei tão imerso nas trivialidades de uma personagem. A abertura é icônica para o filme justamente porque nos insere em um contexto, apresenta a personagem, mas nos nega uma imagem completa sua - e é essa incompletude que nos leva adiante. Quantas vezes na rua não ficamos curiosos quanto à uma silhueta específica à frente? São tantas as possibilidades que surgem junto à essa potência de indefinição. Mas então ela se vai. O mistério permanece. E é exatamente essa indefinível permanência do que se foi que torna a experiência marcante. Mas, na tela, HHH faz desse desvanecer uma experiência de mais de 80 minutos! E consegue, habilidosamente, manter essa suspensão ao empregar seus planos longos, e geralmente fechados, que nos apresentam muito em pequenas doses ao mesmo tempo que imputem ao que é apresentado uma sensação de esmorecimento, de efemeridade. Exceto pelo shot final, nada é pleno em Millennium Mambo.
E isso faz muito sentido se a gente parar pra pensar que são recortes, quase memórias de Vicky que nos são entregues. Quase memórias pq estabelecem-se como meros - ainda que por vezes calamitosos - vislumbres, ímpetos de um ser que, mesmo os narrando em 3ª pessoa, faz presente sua ligação com o que é mostrado; Entretanto, o modo como Hsiao filma essas lembranças tão coloridas e cheias de personagens, deixa claro que ele também busca abrir uma fresta de cortina para nós, deformando o invólucro memorial. Ele esconde, provoca, faz uso até de desfoques grosseiros - recursos que mesclam a nossa experiência de observadores com a vida inconstante da personagem - e dessa forma nos permite participar daquilo tudo sem ter a pretensão de estar fazendo seus observadores conhecerem de fato alguma totalidade. É por isso que é impossível desviar os olhos de cada sequência depois de iniciada a obra: porque ela nos insere num constante estado de aporia, um intrigante impasse que faz fascinar e despertar.
Sim, o retrato de uma juventude hedonista e líquida, com as mazelas modernas a que todos podemos, num grau ou outro, nos identificar ou ao menos compreender, está ali. Mas é no ato de admitir a incapacidade de retratar a imagem disso de maneira completa, ao fazer da própria existência dessa incompletude um elemento a ser exposto em cada long shot do filme, que tornou Millennium Mambo uma experiência inesquecível e hipnótica para mim. E eu já quero outro piscar de olhos para apreciá-lo novamente.
Os Terroristas
4.1 24Que homem! Além de entregar um dos melhores filmes da década passada - e pelo que dizem provavelmente também da de 90 - Edward Yang nos legou um filmaço desses logo no "começo" da carreira, na década de 80. Em Os Terroristas, ainda mais que em Yi Yi, Yang preza por um virtuosismo fascinante que deixa claro o total domínio do cara em cada cena, estas que incrivelmente soam sempre completamente orgânicas, mesmo em vista de tamanho controle. E isso permitiu eu me ligar aos personagens mesmo em seus contextos tão indiferentes e antipáticos: a "garota branca" é egoísta e fugidia, o médico ganancioso e autocentrado, e sua esposa, mesmo com sua fragilidade empática, é vaidosa e adúltera. Talvez só o fotógrafo seja um personagem de fato simpático, mesmo que demonstre uma certa misantropia às avessas. Mas, ainda assim, acabei me importando com o médico até seu último segundo, perguntava-me certas vezes quando e se veríamos a garota novamente, e me emocionei profundamente com as falhas e tormentos da esposa.
São todos personagens individualistas a seu modo, mas que em determinado momento do filme são afetados, ou percebem precisar desesperadamente, de outros. Yang explicita em doses cada vez mais alarmantes o quanto, no mundo em que vivemos, não somos mais responsáveis somente pelos nossos próprios mundinhos, e isso é alarmante justamente pelo contraste em relação ao individualismo que é cada vez mais crescente. O final se torna chocante pq tudo o que aconteceu ali era possível, e eu já tinha dado como certa aquela provável chacina no desfecho.
Logo, os terroristas do filme não são nenhum arquétipo que temos em mente hoje no ocidente pós 2001, mas sim os viventes - verdadeiras bombas-relógio - de uma sociedade que não cultiva a empatia, o vínculo, a não ser por motivos próprios e idealizados - uma sociedade ou da eficiência rígida ou da anarquia indiferente. O fotógrafo, personagem que prefere viver em seu quarto escuro sem saber se é dia ou noite - nos dia de hoje temos nossos equivalentes -, tem como sua musa uma garota misteriosa e desvanecente, fragmentada no maravilhoso frame do filme como uma presença sem substância, frágil e passageira. É um presságio marcante, de uma sutileza incrível, mas uma porrada quando a gente para pra pensar em seu significado.
Pânico 2
3.2 818 Assista AgoraMaravilhoooso! O primeiro e o segundo ato tem cenas incríveis, que carregam o deboche e a identidade do original mas conseguem se diferenciar e trazer novos ares à metalinguagem do filme. Além disso, a direção do Craven entrega ainda mais sequencias interminavelmente divertidas e tensas, numa inventividade que tenho certeza que me agradara toda vez que eu assistir aos filme da série. Uma pena, porém, que do 2º ato em diante o filme não tenha mais muitas dessas cenas tão inspiradas e descambe para um final, de certa maneira, decepcionante tanto em roteiro quanto na direção. Mas, ainda sim, é inegavelmente um filmaço, que vou guardar no coração junto com o original.
(E ainda vale mencionar que a cena de abertura é mais uma vez incrivelmente icônica! não tem como não amar )
A 13ª Emenda
4.6 354 Assista AgoraEu tô um tanto desnorteado, exaurido, depois de assistir essa produção do Netflix que entrou hoje no catálogo. Não sei quantas vezes eu chorei no decorrer dele, de ódio, de indignação, de tristeza ou de desilusão com a história da nossa sociedade. Ou porque, ainda que se tratando de outro país, outra trajetória histórica, os links com a nossa situação são inevitáveis e sentidos mesmo por mim, que não sofri um dia sequer das mazelas provindas do que o documentário expõe. Vai além da empatia, e essa é extremamente forte e chocante aqui.
Ava DuVernay, a diretora, aproveita os quase 110 minutos de documentário para tocar no cerne de questões que interessam mais que nunca à sociedade americana, e foi um choque de realidade, mesmo eu não sendo tão ingênuo, ver alguns trechos envolvendo Hilary Clinton e Donald Trump, mas também a protagonista de tudo: a sociedade em si. É um documento tão inteligente e bem direcionado - tamanha a força de Ava e dos entrevistados - que o relato deixa de ser discernível e confortavelmente linear, entregando ao final uma fusão de antes e hoje tão esclarecedora e assustadoramente ampla, por conseguinte alarmante, que espero tremendamente que não passe batida pelos olhos que a assistirem. Uma esperança vã, talvez, mas que a falta de conforto e a constante presença de perguntas a serem respondidas na obra clamam por forçar a existir. As pessoas precisam ver esse filme.
(E eu queria saber se existe alguma produção audiovisual tão efetiva e ampla envolvendo a questão racial aqui no Brasil, se alguém souber me recomendar.)
Cidadão Kane
4.3 990 Assista AgoraEu achei o desfecho simplesmente genial, e toda a construção da obra certamente a coloca no patamar de inegável monumento cinematográfico, mas não foi um filme que chegou a me empolgar muito não. Infelizmente, mesmo que sem todo o fascínio e virtuosismo que Welles entrega aqui, já vi essa história ser recontada incansavelmente e, por tal, não sobrou muito frescor para aproveitar integralmente o filme. Uma experiência bacana, mas não muito marcante.
Elle
3.8 886Eletrizante do início ao fim, Elle é um thriller que nunca perde nosso interesse e se esforça, com sucesso, em inserir quantas camadas possível ao que acompanhamos na tela. Verhoeven desvenda e provoca magistralmente expectador - euzinho - e personagens em doses quase sádicas, mas inegavelmente geniais, de obscuridade, fazendo de seus 130 minutos uma experiência marcante. Ademais, com toda essa fascinante construção, Huppert ganha talvez a personagem mais interessante do ano, e faz jus a ela numa atuação que acompanha a intensidade madura do filme. Revelando e contraindo sua imensidão psicológica de maneira sutil, mas veemente, ela não nos deixa piscar um segundo sequer quando está em cena e acabou por me lançar num duvidar tenso e maravilhoso sobre se sua personagem tinha um absoluto controle e consciência do que fazia ou se, de fato, era o completo oposto.
Devo dizer, ainda, que é uma obra que deve maturar bastante comigo - talvez até necessitada de uma revisão - e que de fato não sairá da minha cabeça tão cedo. Passada esta experiência, fiquei extremamente mais curioso - ou melhor, provocado - a buscar o resto da escandalosa filmografia de Verhoeven. Afinal, depois de tantos anos de carreira, o diretor entrega aqui o que deve ser um dos melhores filmes de 2016.
O Fim da Turnê
3.7 77 Assista AgoraMesmo com a chance de se manter apenas seguramente funcional através de um enfoque biográfico - ainda que fragmentário - no escritor David Foster Wallace, o filme vai além e entrega não só esse interessante fragmento, em que ator - Jason Segel - e "personagem" se unem de maneira honestamente cativante, mas também dá complexidade ao seu quase antagonista e entrevistador, David Lipsky, revelando camadas de um e outro em doses maduras e sinceras, e dando ao próprio filme algumas que me permitiram gravitar entre variadas reflexões sobre identidade e autoconhecimento tanto quanto o alheio, enquanto acompanhava o entrelaçamento entre as duas mentes na tela. O resultado, mesmo que marcantemente obscuro, é deveras belo, embarcando-nos numa mistura agridoce de homenagem e desafio como só uma grande obra poderia fazer.
Tudo Sobre Minha Mãe
4.2 1,3K Assista AgoraTudo Sobre Minha Mãe chegou até a mim como um filme completo, me fez rir, me emocionar e acompanhar a trajetória de suas várias personagens daquela deliciosa maneira em que o tempo passa fugidamente rápido. É um filme sobre ser mãe, quer seja esse laço de sangue ou não, uma temática bela, tratada sem condescendência por Almodóvar - afinal, nem tudo são flores - e representada por um elenco claramente entregue e em consonância com seus personagens. Uma obra praticamente irrepreensível e a primeira do diretor espanhol que me conquista
Um Corpo que Cai
4.2 1,3K Assista AgoraAcho que Hitchcock talvez não seja mesmo para mim, ou pelo menos não da maneira que o é para tantas outras pessoas. Pois bem, Vertigo, segunda obra que assisto do diretor, é um filme rígido e eficaz em suas concepções estéticas, não há nada aqui que não integre de maneira certeira a narrativa ambiciosa e divertida que o diretor molda a seu gosto, em busca de seus objetivos. Entretanto, esse virtuosismo, mesmo que descontraído e consciente, faz de Vertigo um filme frio: o extenso enfoque na construção de sua atmosfera e nas oscilações cirúrgicas de tensão deixam as possíveis facetas humanas da obra de lado, e eu, mesmo que por vezes aprecie filmes nesses moldes - hello, Fincher - acabei me distanciando demais da obra a partir desse esmero tão pouco apelativo para mim. Assim, mesmo quando a trilha sonora onipresente teve seu pico, as resoluções finalmente deram as caras e os sentimentos dos personagens foram extravasados no planejado clímax, eu não poderia me importar menos, e essa indiferença faz de Um Corpo que Cai mais uma falha tentativa de me deixar capturar pelo irrepreensível cinema do diretor britânico. Quem sabe na próxima.
X-Men: Apocalipse
3.5 2,1K Assista AgoraA magia de se assistir um filme sem esperar nada dele. Esse último X-Men tem a sua cota de pieguices, momentos bregas, clichês e plots batidos dentro do próprio universo? Tem. Mas é um filme que funciona, e muito prazerosamente. Me empolgando bastante na sua longa duração, a impressão que tive é de uma obra que, sim, poderia ter sido melhor enxugada, acabando por soar como um reinício desajeitado, mais preocupado em colocar algumas peças em determinadas posições ou inserir novas para o que quer que venha a seguir, do que de criar uma trajetória original e integrante do universo. Mas o filme faz isso de maneira tão pouco burocrática como tanto vemos por aí - cof cof, Marvel - que toda vez que eu sentia que ele estava tendendo para a completa artificialidade de se assumir como uma mera sequência, o carinho que Singer sempre demonstra quanto ao universo dos X-Men me puxava de volta para um interesse curioso. É, mesmo com todos os seus defeitos, um filme belo, de um universo e personagens que sempre me cativaram e que foram reintroduzidos aqui de maneira competente, em grande parte por causa de seu incrível elenco, mas também pela visão do diretor por trás de todas as escolhas - aqui, principalmente estéticas - algumas acertadas e outras não, mas que se mostram sólidas na busca por inventividade.
Apocalypse estabelece-se acima de tudo como um blockbuster eficaz, eu encarei como tal e saí satisfeito. Sua contribuição para o universo dos X-Men poder ser inegavelmente pouca, mas eu só o consideraria menor dentro dos filmes devido ao desgaste temático que os mesmo andam sofrendo desde Days of Future Past, ainda que admiravelmente consigam se reinventar - cada vez mais desajeitadamente - como foi comprovado aqui. É hora de tomar uma nova guinada, ou o próximo pode não conseguir mais se sustentar por si só. Eu não li as HQs, mas suponho que há muito o que se explorar e com essa nova geração - em especial Sophie Turner, perfeita no papel - eu tenho esperanças de que um sopro de frescor ainda venha a atingir os X-Men como aconteceu na grata supresa que foi First Class. Afinal, se surpreender é bem melhor do que poder elogiar apenas a distante eficácia de uma obra.
Hiroshima, Meu Amor
4.2 315 Assista AgoraUma das obras mais belas produzidas pela sétima arte, Hiroshima Mon Amour é a poesia definitiva de três artistas soberbos - Resnais, Duras e Riva em um ápice devastador. Micro e macro, amor, dor e esquecimento: é impossível esquecer Nevers ou Hiroshima depois de declamadas suas últimas palavras, e ainda assim o vazio de seu esquecimento se faz presente em cada uníssono frame.
Café Society
3.3 530 Assista AgoraTem muita coisa recorrente, é claro, mas também interessante nesse novo filme de Woody Allen e, diferente do intolerável Homem Irracional, a maneira que o diretor e roteirista incorpora para contar sua história se sustenta, visual e narrativamente, mesmo que estes dois elementos se estabeleçam num perceptível desbalanço. A fotografia que ressalta a luminosidade de Los Angeles - por vezes verdadeira e profunda, outras superficial como os valores de sua sociedade - bem como seus contrastes em New York e na trajetória de seus personagens, junto à presença discreta mas hipnotizante de Kirsten Stewart no elenco, enriquecem a obra do diretor que sempre carrega, mesmo em seus maiores tropeços, uma digna elegância. Stewart funciona primordialmente como uma presença estética, e não no sentido mundano, mas narrativo, em que só o reflexo dourado em seus olhos nos últimos segundos do filme podem comprovar. Mas, por outro lado, ela também faz um trabalho em uníssono com a elegância e discrição da narrativa de Allen, sendo de longe o membro mais competente e funcional do elenco, este que tem seus altos e baixos por vezes devido ao seu próprio desempenho, mas também pela força - ou falta dela - do roteiro. Eisenberg, por exemplo, sofre por ambos, não conseguindo dar personalidade ao seu personagem e abraçando quase que por completamente a caricatura que o roteiro de Allen entrega. Carrel também, apesar de competente, soa deslocado durante todo o filme e a falta de qualquer química entre ele e Stewart é palpável e atrapalha no andamento da história. Café Society é um filme que funciona, e bem mais que alguns filmes do homem, mas é nas minúcias de sua narrativa que o filme tropeça, soando várias vezes preguiçoso, ou até mesmo ingênuo, afetando personagens e plots contando que nós, que o acompanhamos, aceitemos de bom grado esses tropeços. E eu aceitei, pois o conjunto que Allen constrói aqui faz valer a pena, mas fica àquela impressão crescente e frustrante de mais um filme do diretor que poderia ter sido bem mais do que foi, se ao menos ele tivesse lhe dedicado mais atenção e cuidado.
Dias Selvagens
3.8 72É uma Kar-Wai menor, sem dúvida nenhuma. Um filme lúgubre, que aposta em seu tom - e este sustentado pelo ótimo elenco - em lugar da trama, algo que Wong Kar-Wai fez frequentemente em sua filmografia. O resultado, porém, não é tão inspirado quanto em outros filmes do homem: a trama - mesmo que secundária - é tão perdida quanto seus personagens e chega ao ponto de ficar desinteressante depois de tanto dar suas voltas. Nem mesmo a estética do diretor, vale ressaltar que também menos inspirada em comparação aos seus outros filmes, me conseguiu trazer de volta um genuíno interesse em relação aos personagens depois de, um a um, eu os ter perdido. Dias Selvagens tem bons momentos sim, a inteligência visual e narrativa de Kar-Wai nunca me decepciona, e o trato que ele sempre dá ao tema do amor prisioneiro sem nunca se repetir propriamente - mesmo que aqui, por vezes, perca sua elegância e soe piegas - é um deleite e rende momentos interessantes, principalmente em algumas rimas visuais do 1º e 3º ato e na trajetória, infelizmente curta, da personagem da Maggie Cheung. Enfim, é um filme que vale a pena ser visto, mas que não consideraria essencial na filmografia do diretor chinês.
A Ponte
4.0 301 Assista Agora"I don't know why people kill themselves, and yet it's a small step to empathize. To say - because I think we all experience moments of despair - that it would just be so much easier not to do this anymore. But for most of us the sun comes out, and then 'Oh, well, tomorrow is another day.' Why he chose the bridge? I don't know. Maybe there is a certain amount of release... from pain by pain. Maybe he just wanted to fly one time."
A Ponte é o tipo de documentário que já se justifica e se sustenta por si só através de sua temática e das imagens a que tem - assustadoramente - acesso. Eu achei que o filme acertou no uso de comentários restritos aos parentes dos suicidas, fazendo com que o filme ficasse muito mais intimista e sincero, menos cético, do que se houvessem diversas entrevistas com psicólogos, estatísticas a rodo etc. Dessa maneira o filme ficou mais humano, e eu acho bastante importante esse tema ser humanizado no lugar das análises frias que tantos vemos por aí - que, claro, também têm sua importância. Mas a obra, infelizmente, acaba derrapando um pouco na sua estrutura: tentar colocar muitos casos diferentes em seus 94 minutos, caindo na superficialidade - e, portanto, banalizando - alguns destes suicídios e por conseguinte o tema do filme. Fica a impressão que de certas coisas poderiam ter sido muito melhor e amplamente exploradas ali do que outras que marcam presença, mas não acrescentam muito.
Não é um documentário inspirado, entretanto é inegavelmente interessante, pertinente, e tem seus bons momentos, mesmo que não alcance todo o seu potencial. Eu considero admirável esse tipo de documento que não tenta trazer em sua estrutura uma mensagem pronta, deixando qualquer conclusão por parte do espectador e fazendo desta algo não uno, mas feita de múltiplos momentos - não foram poucos os que me emocionaram por identificação ou apenas simpatia. Suicídio é um assunto a ser mais discutido, e essa discussão naturalizada - The Bridge se apresenta como um passo significativo para isso.
Mesmo se Nada der Certo
4.0 1,9K Assista AgoraUm filme no ponto, que esbarra num clichêzinho ou outro no caminho, mas não sem elegância, e mostra sempre se importar acima de tudo com seus personagens, entregando uma estrutura narrativa bastante funcional em sua primeira metade e completando a segunda com canções e desdobramentos cativantes e sinceros, mesmo que nunca cheguem a atingir um ápice.
Música, Amigos e Festa
3.3 256 Assista AgoraComo um universo totalmente alheio à mim, o filme tinha ideias e detalhes bastante interessantes a apresentar. E os apresenta. Mas não tanto quando eu gostaria, ao ser engolido por um roteiro preguiçoso, e também não da maneira que merecia - ao ser transposto na tela por uma direção genérica e pouco entusiasmante. Ainda sim, a obra não tem grandes deslizes e a trilha sonora consegue nos carregar até o final, fazendo de We Are Your Friends (?) um bom - mas mero - passatempo.
Depois da Vida
3.9 70E se, após a morte, nós tivéssemos que escolher uma lembrança de nossa vida que carregaríamos para sempre, seja qual ele fosse? Com essa premissa Koreeda constrói, aos seus moldes, uma obra que se passa dentro do parênteses do nosso ponto final, a morte, e com isso nos entrega quase duas horas que ressoam pura e singelamente à vida. O filme se passa numa espécie de purgatório discreto e burocrático, em que funcionários e clientes - todos questionados sobre a questão de qual memória salvar - apresentam suas singularidades, tomando parte em um mosaico de possibilidades que não grita, mas sussura - como é típico de Koreeda - sobre a riqueza da vida, sem negar suas dores ou soar condescendente. Há também, e não sem autoconsciência, histórias e situações que se assemelham, e nelas o filme estabelece a comunhão sutil e agridoce com que o diretor é sempre tão competente em lidar dentro de sua filmografia familiar - uma comunhão belamente humana entre as fragilidades dos indivíduos presentes ali. Koreeda não faz em Depois da Vida um de seus maiores filmes, mas certamente adiciona mais uma obra de extrema sensibilidade e pertinência ao cinema contemporâneo, um ensaio que acaba apontando para toda a sua obra e visão: pequenos momentos, partículas luminosas de vida, as sutilezas que nos marcam e fazem, pouco a pouco, nossa existência parecer grande.
Ratatouille
3.9 1,3K Assista AgoraÉ bem divertido num todo, mas o filme não me pareceu nada mais que apenas competente em sua construção. O final, sim, é incrível, emocionante e terno, como sempre acabo esperando de um filme da Pixar. Achei o final maior que o filme, e por ele dou a nota que dou.
Spring Breakers: Garotas Perigosas
2.4 2,0K Assista AgoraNão é só a montagem soberba, o irônico e competente elenco ou a direção segura de Korine que fazem deste um dos grandes filmes da década, mas sim a junção destes fatores à um ideal - concretizado com perfeição - de representação da nossa geração que, se não é o mais acurado, é certamente o mais livre de julgamentos e moralismos que eu já assisti. Spring Breakers é amoral, é escatológico, mas também ousa em se mostrar belo, vibrante e, sim, dolorosamente empático. Um filme minuciosamente atmosférico, e também uma poesia visual das mais vazias já feitas na 7ª arte que, pela existência desse vazio, se torna extremamente pertinente e inesquecível nos tempos que vivemos. Primeiro Korine e já virei fã.
P.S: só a sequência que o James Franco canta Britney já vale o filme inteiro
Looking: O Filme
4.0 250 Assista AgoraA quantidade de sentimentos não ditos - mas intensamente sentidos - por mim e pelos personagens nesse encerramento, junto à íntima familiaridade que todo o filme traz de maneira graciosa e nada forçada, demonstra que Looking construiu, em triviais sutilezas, um universo sincero, empático e orgânico, alçando-se em seu encerramento como uma obra de pretensões simples, mas que ecoam longamente em que estiver disposto a admitir a profundidade dos pequenos detalhes em nossas vidas. Este é um encerramento mais que digno para a prematuramente cancelada série, fiquei extremamente satisfeito, e podemos dizer também que Looking: The Movie é mais uma grande obra do sensível e admirável diretor/roteirista que é Andrew Haigh.